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Expressões da Violência Associada ao Corpo Gordo:

Uma Revisão Bibliográfica Qualitativa


Expressions of Violence Associated with the Fat Body:
A Qualitative Literature Review
Expresiones de Violência Asociadas al Cuerpo Graso:
Una Revisión Bibliográfica Cualitativa

Camila Aloisio Alves


Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP), Petrópolis, RJ, Brasil

Alexandre Anselmo Guilherme


Lara Vedovatto Batista dos Santos
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Porto Alegre, RS, Brasil

Resumo

Buscando entender quais são as contribuições dos estudos em ciências humanas e sociais
sobre violência associada à obesidade/sobrepeso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica de
cunho qualitativo nas bases de dados Scielo, PubMed, Lilacs, PepSic durante os meses de
dezembro de 2020 a janeiro de 2021, seguida de uma análise temática. Como resultados, tem-
se a identificação de seis temas – trabalho, educação, saúde, social, corpo e mídia – que
possuem núcleos de sentido que permitem compreender o fenômeno de estudo. Conclui-se
que a violência associada a obesidade sofre uma forte influência dos padrões estéticos
hegemonicamente aceitos, encontrando no discurso médico e de saúde pública argumentos
para que pessoas obesas ou com excesso de peso sintam-se marginalizadas e culpabilizadas
por suas condições. Entre crianças e jovens, o bullying foi identificado como uma marca nas
suas trajetórias de vida, que engendra uma relação intra e interpessoal atravessada por
sentimentos de raiva e medo. Entre adultos, a violência produz impactos nas esferas
profissionais, familiares e sociais.

Palavras-chave: Gordofobia; Violência; Obesidade; Sobrepeso; Revisão bibliográfica


qualitativa.

Abstract

Seeking to understand the contributions of studies in the humanities and social sciences on
violence associated with obesity/overweight, a qualitative bibliographic research was
conducted in the Scielo, PubMed, Lilacs, and PepSic databases between December 2020 and
January 2021, followed by a thematic analysis. As a result, six themes were identified - work,
education, health, social, body, and media - which have nuclei of meaning that allow us to
understand the phenomenon under study. The conclusion is that the violence associated with
obesity is strongly influenced by hegemonicallyaccepted aesthetic standards, finding in the
medical and public health discourse arguments so that obese or overweight people feel
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marginalized and blamed for their conditions. Among children and young people, bullying
was identified as a mark in their life trajectories, which engenders an intra and interpersonal
relationship crossed by feelings of anger and fear. Among adults, violence produces impacts
in the professional, family, and social spheres.

Keywords: Fatphobia; Violence; Obesity; Overweight; Qualitative bibliographic review.

Resumen

Buscando conocer las contribuciones de los estudios en ciencias humanas y sociales sobre la
violencia asociada a la obesidad/sobrepeso, se realizó una investigación bibliográfica
cualitativa en las bases de datos Scielo, PubMed, Lilacs y PepSic durante los meses de
diciembre de 2020 a enero de 2021, seguida de un análisis temático. Como resultado, se
identificaron seis temas -trabajo, educación, salud, social, cuerpo y medios de comunicación-
que tienen núcleos de significado que permiten comprender el fenómeno estudiado. Se
concluye que la violencia asociada a la obesidad está fuertemente influenciada por los
estándares estéticos hegemónicamente aceptados, encontrando en el discurso médico y de
salud pública argumentos para que las personas obesas o con sobrepeso se sientan marginadas
y culpabilizadas por sus condiciones. Entre los niños y jóvenes, el acoso se identificó como
una marca en sus trayectorias vitales, que engendra una relación intra e interpersonal
atravesada por sentimientos de ira y miedo. Entre los adultos, la violencia tiene repercusiones
en las esferas profesional, familiar y social.

Palabras clave: Gordofobia; Violencia; Obesidad; Sobrepeso; Revisión cualitativa de la


literatura.

Introdução obesidade, ao sobrepeso, reduzindo o


corpo gordo a um mal a ser extirpado da
A gordofobia ou a violência sociedade (Jimenez, 2020). É possível
associada ao corpo gordo é uma temática observar os sinais desse discurso nas
de estudo recente na comunidade expressões empregadas, por exemplo, no
acadêmica (Jimenez, 2020). O discurso relatório elaborado pela Organização das
biomédico, que patologiza o corpo gordo, Nações Unidas para a Alimentação e a
ainda é hegemônico nas pautas da saúde Agricultura (FAO) que apresenta o
pública no país e no mundo, sendo panorama da segurança alimentar e
responsável por erigir um olhar nutricional na América Latina e no Caribe,
comparativo, avaliativo e alarmista. Os no ano de 2019. Tal estudo aponta que
dados veiculados por grandes instituições para cada pessoa que sofre de fome na
de saúde dão especial ênfase ao combate à América Latina e no Caribe, mais de seis
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estão classificadas "acima do peso" ou forma equilibrada entre homens e mulheres


"obesas". A prevalência da categoria (Brasil, 2019).
"excesso de peso" em adultos é Considerando a supervalorização
apresentada como dado que, segundo as do discurso biomédico, a transformação
análises, evoluiu entre os anos de 1975 a dos termos "obesidade" e "excesso de
2015, superior aos dados de outras regiões peso" em dados epidemiológicos e o olhar
do mundo, especialmente entre adultos e restritivo para as repercussões na saúde e
crianças em idade escolar. No cenário comorbidades associadas, o corpo gordo
atual, alerta o relatório, quase um quarto da transformou-se em problemas de saúde
população adulta da região é classificada pública e vêm sendo alvo de constantes
como "obesa", enquanto a prevalência da ações de prevenção, promoção e de
categoria "excesso de peso" em crianças medicalização. Em 2008 o então Ministro
menores de 5 anos já atingiu 7,5%, acima da Saúde José Gomes Temporão instituiu o
da taxa global de 5,9% (FAO, 2019). Dia Nacional de Prevenção da Obesidade
Já no cenário brasileiro, a pesquisa (Brasil, 2008), com o objetivo de
Vigitel realizada pelo Ministério da Saúde conscientizar a população sobre a
em 2019 mostra que nas capitais do país, a importância das ações de prevenção contra
frequência da categoria "excesso de peso" a, então, doença. O revés da moeda do
foi de 55,4%, como uma pequena diferença discurso de prevenção e promoção da
entre homens (57,1%) e mulheres (53,9%). saúde está na associação entre o corpo
O aumento do "excesso de peso" entre magro como símbolo de saúde e
homens foi mais expressivo entre aqueles autocuidado e o corpo gordo como
com a idade até os 44 anos e pertencentes sinônimo de inadequação e desvio da
aos estratos extremos de escolaridade. Já norma. O olhar que se destina ao corpo
entre as mulheres, a frequência da gordo está, portanto, atravessado de forma
categoria "excesso de peso" aumentou com marcante pela ideia de combate e de luta
a idade até os 64 anos, mas diminuiu de contra um símbolo alçado ao patamar de
forma expressiva com o aumento da fator de risco e associado à diminuição da
escolaridade. Já em relação à categoria qualidade de vida. Tem-se então a
"obesidade", a prevalência global entre definição de um inimigo - o corpo gordo -
adultos foi de 20,3% e distribuiu-se de diante do qual uma batalha deve ser
travada.
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A hegemonia deste tipo de discurso Facebook e Instagram aumenta a chance de


obscurece a violência que os padrões tidos insatisfação corporal em 6,57 e 4,47 vezes,
como normais ou aceitáveis imputam sobre respectivamente, quando comparadas com
as pessoas gordas, tornando silenciosos os as meninas que acessam mensalmente
efeitos sobre as relações intra e (Lira et. al., 2017, p. 167). Nessa senda é
interpessoais em uma sociedade marcada importante citar Contreras (2020, p. 175-
pelo culto à magreza. O ideal da magreza 176) que nos traz importantes
passa a ser um fator importante que se questionamentos sobre a patologização de
interpõe entre o sujeito e seu corpo, corpos gordos e o impacto que isso pode
criando um referencial a ser perseguido, ter na psique e vida de indivíduos:
mesmo que no curso dessa trajetória, a
batalha contra o corpo gordo a saúde A partir do século XVIII, a
mental repercuta negativamente na saúde medicina administra toda a
física e mental (Arruda, 2019; Jimenez, existência humana a partir de uma
2020). posição normativa, que busca reger
Tal como mostra o ensaio de as relações físicas e morais do
Berger (2007), a veiculação e a construção indivíduo e da sociedade (Foucault
de estereótipos corporais via mídia 2008). Nesse contexto, o saber
impressa e digital afeta a percepção médico patologizou a gordura (Le
corporal e a autoestima. Em seu estudo Besco 2004) da mesma forma que o
(Berger, 2007), o foco nas mulheres fez com outras variações genéricas
revelou o peso que estas sofrem diante do do corpo ou do sexo, fechando a
culto ao corpo magro reiterado admissão da diversidade como
cotidianamente nas mídias, o que vai ao possível matriz de inteligibilidade
encontro do estudo de Lira et. al. (2017) dos corpos. Encarar a gordura como
que, mesmo realizado 10 anos após, um problema médico - ou seja,
conclui que a mídia e o uso de redes como “obesidade” - é a forma
sociais por meninas adolescentes dominante de abordá-la, mas não é
produzem um impacto significativo na o único quadro de problematização
imagem que as mesmas fazem de seus possível (Saguy 2013). Talvez
corpos. Segundo os autores, a frequência porque a própria definição de saúde
de acesso maior do que 10 vezes ao dia ao –ou do que constitui um corpo são–
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não seja unívoca, o atual gordofobia, machismo, transfobia,


dispositivo de corporalidade (Costa homofobia, lesbofobia, bifobia,
e Rodríguez 2010) e o discurso intolerância religiosa e bullying. Cada uma
anti-obesidade sustentam das expressões da violência contém
afirmações heterogêneas sobre o perguntas referentes à perspectiva de quem
corpo gordo, afirmações que podem sofreu, de quem cometeu e de quem
ser até contraditórias. um para o presenciou algum ato de violência em
outro. É um corpo culpado, algum momento na trajetória universitária.
defeituoso e abjeto (Murray 2008), A aplicação do questionário aconteceu no
doente e deformado (Braziel 2001). período de agosto a dezembro de 2019.
O corpo adiposo está destinado à Após a sua conclusão, foram geradas
aniquilação e funciona como um análises estatísticas das variáveis
lembrete de que todos os corpos estudadas.
estão sob risco de fracasso. Os primeiros resultados da pesquisa
(tradução nossa) geraram três rankings das formas de
violência, organizados segundo quem
Assim, o presente estudo tem como sofreu, quem praticou e quem presenciou.
objetivo entender como a gordofobia ou a Os resultados mostram que a expressão da
violência associada ao corpo gordo na gordofobia assume nuances bem
contemporaneidade é abordada por estudos particulares entre aqueles que a sofreram, a
qualitativos. A motivação em realizá-lo cometeram e a observaram. Entre os
nasceu dos primeiros resultados de uma primeiros, ela aparece como sendo uma
pesquisa interinstitucional cujo objetivo é das formas menos frequentes entre as
medir os níveis de violência vítimas, ficando em penúltimo lugar com
experienciados pela população 8,5%. Já entre quem cometeu, ela sobe de
universitária. Para tanto, foi utilizado um patamar e alcança a primeira posição, com
instrumento de coleta de dados junto a 14,9%, sendo, portanto, a violência que
referida população, contendo um total 216 mais foi praticada entre aqueles que
questões, através das quais tanto admitiram ter sido violentos no ano de
informações de perfil dos respondentes 2019. Esse resultado é próximo dos
foram coletadas, quanto os seguintes tipos achados relativos a quem a presenciou,
de violência foram abordados: racismo, fazendo com que ela ocupe a segunda
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posição no ranking com 42%, atrás período de publicação. A exclusão de


somente do machismo com 59,4%. A teses, dissertações, livros ou capítulos de
mudança da gordofobia entre as posições livro deve-se ao acesso mais facilitado que
no ranking permite levantar como hipótese os artigos permitem (Lopes e Gomes,
a influência dos discursos biomédicos no 2020). A busca foi efetuada nas seguintes
modo como são assimilados e como bases de dados: Scielo, PubMed, Lilacs,
reverberam nas atitudes violentas PepSic utilizando os descritores
direcionadas a pessoas gordas. Ou seja, "Gordofobia"/ “Fatphobia” e as
uma vez que um discurso oficial coloca o combinações de “Obesidade and
corpo gordo como um símbolo a ser violência” / Obesityandviolence;
combatido, admitir ter cometido ou “Obesidade andbullying” /
presenciado alguma violência desse gênero Obesityandbullying; “Obesidade and
tem um peso menor em relação às demais estigma” / Obesityandstigma; “Sobrepeso
formas de violência. and estigma” / Overweightandstigma;
Diante disso, interessamo-nos em “Sobrepeso andbullying” /
entender como os estudos qualitativos Overweightandbullying. As combinações
abordam a temática da gordofobia ou da mostraram-se necessárias tendo em vista
violência associada ao corpo gordo de que o termo “gordofobia” é mais recente
maneira a melhor apreender o fenômeno no campo das pesquisas em ciências
em si. A revisão bibliográfica foi então humanas e sociais e muitas das pesquisas
escolhida a fim de conferir a reflexão um que estudaram formas violência
panorama das produções científicas em relacionadas à obesidade ou ao sobrepeso
ciências humanas e sociais sobre o tema e não o empregaram.
apontar para algumas pistas que poderão, As buscas foram realizadas entre os
futuramente, ser exploradas no universo meses de dezembro de 2020 a janeiro de
dos estudantes universitários. 2021 e chegou-se a um conjunto de 73
artigos selecionados segundo as palavras-
Metodologia chave. Após leitura do título e do resumo,
foram excluídas quatro referências por
O estudo desenvolveu-se a partir de tratarem-se de resumos de livro, resenhas e
uma revisão bibliográfica delimitada em diretrizes sobre a temática, chegando a um
artigos científicos, sem especificação do total de 69 artigos. Como a pesquisa deu
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enfoque aos estudos qualitativos, uma de sentido segundo o conjunto dos


segunda seleção levou ao conjunto de 14 resultados.
artigos, considerando a metodologia Na próxima seção, uma
empregada nos mesmos. Todos aqueles caracterização da produção será
que adotaram uma metodologia apresentada em primeiro plano a fim de
quantitativa ou mista (estudos quali-quanti) colocar em relevo os primeiros aspectos
foram excluídos, assim como aqueles que que emergiram e, em seguida, serão
realizaram revisões bibliográficas. Após apresentadas sob a forma gráfica a análise
leitura completa dos artigos selecionados, temática realizada.
excluiu-se mais um devido a
inconsistências na apresentação do Resultados
método, carecendo ao mesmo uma Caracterização dos Estudos
fundamentação epistemológica e
metodológica. A partir do quadro 1, pode-se
A análise do acervo foi realizada observar que, com exceção do primeiro
em duas etapas. A primeira dedicada a estudo que realizou uma análise
caracterizá-los quanto ao ano de documental e lexical de gêneros textuais
publicação, país, sujeitos, período de publicados pelo jornal Folha de São Paulo,
realização da investigação e abordagem os demais estudos tiveram como sujeitos
metodológica. A segunda etapa focou-se participantes desde crianças a adultos.
nas contribuições que as abordagens Entretanto, entre os adultos a realização de
qualitativas adotadas nos estudos ofertam à estudos com mulheres ou a inclusão das
compreensão do fenômeno da gordofobia mesmas foi sensivelmente maior do que
ou da violência associada à obesidade ou com homens. Com relação a presença de
ao sobrepeso. Para a realização dessa algumas categorias profissionais, é
segunda etapa, foi realizada uma análise importante salientar que no caso das
temática inspirada nos estudos de Moreira, professoras, elas foram as entrevistadas
Gomes e Sá (2014) e de Lopes et Gomes para falar de suas percepções quanto a
(2020). O corpus do estudo foi então vivência de preconceito e discriminação
organizado em grandes temas que dos seus alunos e não de si mesmas. Já no
emergiram da caracterização dos estudos e caso das nutricionistas, o interesse dos
que, em seguida, se declinaram em núcleos estudos foi direcionado para a articulação
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entre obesidade, trabalho e estigma. elevada presença de estudos brasileiros


Observa-se também que nenhum estudo foi publicados em revistas do campo da Saúde
encontrado antes do ano de 2009, havendo Coletiva ou de campos da saúde abertos a
maior presença de estudos datados após os perspectiva interdisciplinar, pode-se supor
anos 2010, afirmando ser a gordofobia e a que a presença das ciências humanas e
violência associada ao corpo gordo saúde como uma área da Saúde Coletiva
temáticas contemporâneas e de crescente (Luz, 2009) influencia a abordagem do
interesse acadêmico. tema para além de um enfoque biomédico,
Considerando o número de estudos fazendo com que os pesquisadores se
excluídos devido às suas abordagens interessem pela temática a partir de um
quantitativas ou mistas (quanti-quali) e a olhar social e interdisciplinar.

Quadro 1 – Caracterização dos artigos analisados


Estudo Ano País/Origem Sujeitos Tema
Araújo L.S; Coutinho M. 2018 Brasil Mídia e gêneros Obesidade e
P. L.; Araújo-Morais textuais preconceito
L.C.; Simeão S. S. S.;
Macie S. C.
Bolzan D.; Roese G.; 2017 Brasil Adolescentes Obesidade e
Bolzan D.; Sidegum J. obesos bullying
Costa M. A. P.; Souza M. 2012 Brasil Professoras Obesidade infantil
A.; Oliveira V. M. e bullying
Mattos R. S.; Luz M. T. 2009 Brasil Adultos obesos, Obesidade, práticas
homens e mulheres corporais e estigma
Araújo K. L.; Pena P. G.; 2015 Brasil Nutricionistas Obesidade, estigma
Freitas M. C. obesas e trabalho
Palmeira C. S.; Santos L. 2020 Brasil Mulheres com Obesidade e
S.; Silva S. M. B.; Mussi excesso de peso discriminação
F. C.
Peregalli-Politi S. 2018 Suíça Adulto obeso Obesidade, estigma
e ética
Yufe S. J.; Taube-Schiff 2017 Canadá Jovens adultos, Cirurgia bariátrica
M.; Fergus K. D.; homens e mulheres e estigma

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Sockalingam S.
Menezes C. F. J.; Ferreira 2020 Brasil Mulheres de 18 a Gordofobia
R. L. P.; Melo R. S. 46 anos obesas ou
com excesso de
peso
Miziara A. M. B.; Vectore 2014 Brasil Crianças obesas Obesidade bullying
C. e estresse
Araújo K. L.; Pena P. G. 2015 Brasil Nutricionistas Obesidade, estigma
L.; Freitas M. C. S.; Diez- obesas e trabalho
Garcia R. W.
Srovera M. A. E.; 2017 Chile Adultos jovens, Obesidade e
Gonzales, E. A.; Grancelli homens e mulheres estigma
F. B.; Paredes M. H.
Pinto M. S.; Bosi M. L. 2010 Brasil Mulheres obesas Obesidade e
M. estigma

As bases epistemológicas que análise temática, análise descritiva, análise


sustentaram as metodologias foram: de conteúdo e análise lexical.
fenomenologia em quatro estudos,
GroundedTheory em dois, hermenêutica Temas e Seus Sentidos: O Que os Estudos
em um, representações socais em um, nos Mostram?
socioantropológico em um e três
denominaram-se apenas qualitativos, sendo A figura 1 apresenta os cinco temas
dois exploratórios e um descritivo. Já em identificados e seus respectivos núcleos de
relação aos métodos utilizados, tem-se sentido. O texto que se segue apresenta as
entrevistas semiestruturadas na maior parte temáticas e discute os núcleos de sentido,
dos casos, grupos de discussão, estudo de colocando em relevo as contribuições que
caso e observação participante. Já os os estudos trazem para a compreensão da
métodos de análise situam-se entre a relação entre obesidade e violência.

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Figura 1 – Temas e seus núcleos de sentido

Trabalho
Descrédito
Sentimento de
menos valia
Diminuição de
oportunidades
Mídia Educação
Discriminação Exclusão
Exclusão laboral Bullying
Medicalização Preconceito
Preconceito Baixa
Estudos autoestima
científicos
Questões de
Violênci Tristeza e raiva

gênero
Políticas de
ae
inclusão obesida
Corpo Saúde
Hostilidade de Impactos na
Cárcere saúde mental
Vergonha Limitações
Isolamento físicas
Ocultação Doença curável
Social Medicalização
Relações
íntimas e de
parentesco
comprometidas
Desigualdade de
classe
Marginalização

O tema Trabalho reagrupa estudos centrais da vivência da obesidade enquanto


que abordam os impactos da manifestação nutricionista a associação da aparência
no contexto laboral da violência associada física como símbolo de incompetência na
ao corpo gordo. Os sujeitos que mais profissão (Araújo et. al., 2009), o que
vivenciaram os núcleos de sentido desencadeia exclusão no trabalho e
correlacionados foram mulheres e, diminuição de oportunidades (Araújo,
sobretudo, nutricionistas. Para essas Pena & Freitas, 2015). A violência vem a
últimas, estudadas especialmente por ser, portanto, um produto do julgamento do
pesquisadores (Araújo et. al., 2009; indivíduo focado nos aspectos físicos e
Araújo, Pena & Freitas, 2015) que se clínicos em detrimento da formação e
ampararam do conceito de estigma de experiência profissional. A associação do
Goffman (1988), para discutir seus corpo à obesidade sobrepõe-se ao arsenal
achados. Emergem como elementos de competências intelectuais e
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experienciais, restringindo ou mesmo (Palmeira et. al., 2020). Nessa senda


excluindo dessas profissionais Jimenez (2020, p. 147) comenta que:
oportunidades de trabalho para a
continuidade de suas carreiras. Tal como Esse ódio e pavor é denominado de
apontado por Araújo et. al. (2015), as gordofobia. É uma discriminação
dificuldades e os desafios que essas que leva à exclusão social e,
profissionais enfrentam se tornam consequentemente, nega
paulatinamente visíveis no curso das suas acessibilidade às pessoas gordas.
trajetórias profissionais: a depender de Essa estigmatização é estrutural e
onde vão trabalhar, no público ou no cultural, transmitida em muitos e
privado, certos julgamentos ficam mais ou diversos espaços e contextos na
menos visíveis. Os desafios continuam na sociedade contemporânea. O
exploração do mundo do trabalho quando o prejulgamento acontece por meio
preconceito se reveste de barreiras que de desvalorização, humilhação,
impõem limites à atuação dessas inferiorização, ofensa e restrição
profissionais e as excluem de certos dos corpos gordos de modo geral.
espaços em função do corpo gordo.
No interior da temática encontram- O tema Educação emergiu dos
se também a vivência de mulheres gordas, estudos que deram enfoque à violência
avaliadas como obesas, (Palmeira et. al., sofrida por crianças e adolescentes gordos
2020) que relatam ter sofrido situações de em contextos de formação, sobretudo em
desigualdade de oportunidades por não escolas. No que diz respeito às crianças
corresponderem ao padrão estético gordas, as autoras (Miziara&Vectore,
esperado. A discriminação foi observada 2014) identificaram a vivência da violência
em diversos momentos, desde a entrevista sob a forma através de apelidos, de
de seleção até a permanência no emprego, provocações e xingamentos. Em contextos
onde viveram situações de violência mais específicos da escola, como as aulas
manifestas de formas diversas: insulto, de Educação Física, foram relatadas
exclusão, injustiça, preconceito. Como experiências de rejeição e exclusão e até
consequências deletérias secundárias das mesmo no seio da família, junto a irmãos e
experiências de violência, muitas desistem na forma como certos pais dirigem-se a
de suas inserções no mercado de trabalho elas. Esse conjunto de experiências
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negativas faz com que as crianças de violências relacionadas ao corpo, o que


vivenciem sentimentos de tristeza, raiva, faz com que eles avaliem que no momento
medo e mágoa, além de estabelecerem uma presente o enfrentamento da exclusão e das
relação ambígua com o próprio corpo, o agressões verbais é menos presente
que será abordado posteriormente na (Berlese et. al., 2017).
temática Corpo. Para Costa, Souza e Oliveira
Já entre os adolescentes, os (2012), o olhar para a violência associada
resultados do estudo de Berlese et. al. ao corpo gordo da criança segundo o ponto
(2017) mostram certas correspondências e de vista de professores revela aspectos que
divergências com as experiências vividas vão ao encontro dos achados dos dois
pelas crianças. No que diz respeito às estudos precedentes, como a exclusão, o
correspondências, tem-se a violência preconceito e os problemas relacionados à
perpetrada no contexto escolar, seja indo prática de atividades físicas. Os
ou vindo da escola, seja dentro da mesma professores relacionaram também que os
em seus diferentes espaços, mostrou-se alunos sofrem com problemas de
presente na vida desses jovens e vivido adequação ao mobiliário e ao vestuário.
com elevada frequência no cotidiano sob a Quanto ao aprendizado, os professores
forma de agressões verbais. A exclusão nas relataram perceber uma maior ocorrência
atividades físicas e o evitamento das de dificuldades nos alunos gordos em
mesmas mostrou-se também presente entre comparação com os demais. O estudo traz
os adolescentes, assim como as à luz avaliações negativas que os
provocações dentro de casa, em família. professores fazem em relação a estes
Esse conjunto de experiências de violência alunos, como sendo apáticos, desanimados,
desencadeia sofrimento, constrangimento e cansados, lentos, distraídos, preguiçosos,
a vivência do estigma pela exclusão indispostos, etc. Para os autores esses
engendrada. Contudo, as divergências dados revelam que o professor pode tanto
encontradas no paralelo entre os estudos estar na posição de espectador, quanto de
situam-se na comparação que os produtor em função do olhar que lança
adolescentes fizeram entre o que viveram sobre os mesmos (Costa, Souza &
na infância e o que vivem na adolescência. Oliveira, 2012). Assim, no tema
Para esse grupo de entrevistados, houve Educação, crianças e adolescentes gordos
uma progressão positiva em suas vivências são atravessados pela vivência do bullying,
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o que traz consigo uma forte carga de de algo patologizado: um tratamento, uma
sofrimento físico, psíquico e social, cura. Um aspecto central que se destaca do
apontando para a escola como espaço de conjunto de estudos é a vivência do
produção e reprodução da violência. estigma devido ao corpo gordo, causando
Outros estudos, de ordem quantitativa, prejuízos sociais e psíquicos (Araújo et.
também identificaram uma prevalência de al., 2009; Mattos & Luz, 2009; Pinto &
bullying e exclusão entre adolescentes Bosi, 2010; Yufe et. al., 2016; Peregalli-
gordos em escolas do ensino médio, Politi, 2018; Palmeira et. al.; 2020). Esta
sempre associadas com perspectivas vivência leva os participantes a
sociais e de saúde negativas (Puhl, submeterem-se a procedimentos cirúrgicos,
Luedicke&Heuer, 2011; de laHaye, et. al. tal como estudado por Yufe et. al. (2016)
2017). junto de adolescentes que tomaram a
Já a temática da Saúde reúne um decisão de submeterem-se a uma cirurgia
conjunto de estudos com homens, bariátrica tendo em vista o
mulheres e jovens gordos, a sua maioria comprometimento que a condição de
acompanhados por programas ou serviços obesos provocava em suas vidas: na forma
de saúde, com vistas a promover um como são vistos, nos espaços que ocupam
cuidado médico. Um primeiro aspecto a e nas relações íntimas que estabelecem.
ser destacado refere-se a maior presença de A procura por serviços de saúde
participantes mulheres do que homens. Se para um acompanhamento e tratamento da
considerarmos o peso do discurso condição de obesidade foi também
biomédico que recai sobre as mulheres e a motivada pelos impactos do preconceito,
cobrança sentida pelas mesmas na busca ainda que no estudo de Pinto e Bosi
por um enquadramento dos seus corpos no (2010), as mulheres tenham relatado não se
padrão de magreza aceito socialmente verem sob a classificação de obesas, mas
(Jimenez, 2020), pode-se compreender a como gordas. Entretanto, a percepção das
disparidade observada entre os sexos. mesmas evoluiu e tomou contornos
Dito isso, pode-se observar na diferentes quando os resultados de exames
figura 1 que a temática reúne núcleos de indicaram desequilíbrios clínicos
sentido que engendram um processo entre importantes. Esses resultados explicam, do
sentir os impactos do ser gordo sob a saúde ponto de vista médico, limitações físicas
física e mental e a busca por uma solução percebidas pelas participantes na
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Alves, C.A., Guilherme, A. A. & dos Santos, L. V. B.
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realização de atividades cotidianas (Pinto Os direitos reprodutivos deram à


& Bosi, 2010). Por outro lado, apontam mulher ocidental o domínio sobre o
para a força dos parâmetros biomédicos próprio corpo. Paralelamente, o
como balizadores da forma de conceber o peso das modelos despencou para
próprio corpo: de gordo à obeso, ou seja, 23% abaixo do peso das mulheres
que evolui para uma forma de normais, a incidência de transtornos
adoecimento. alimentares aumentou
Como formas de combate e de exponencialmente e foi promovida
resistência a essas situações, pode-se uma neurose em massa, que
encontrar um ponto de interseção entre os recorreu aos alimentos para privar
estudos de Pinto e Bosi (2010) e de Araújo as mulheres daquela sensação de
et. al. (2009). Apesar do primeiro focar em controle sobre o próprio corpo. As
mulheres usuárias de um serviço de saúde mulheres insistiram em dar um
e do segundo em nutricionistas, ambos caráter político à saúde. Novas
apontaram para um conjunto de estratégias tecnologias de cirurgias “estéticas”
empreendidas que vão desde a introdução invasivas e potencialmente fatais
de medicamentos para emagrecer foram desenvolvidas com o
prescritos por médicos e colegas de objetivo de voltar a exercer sobre as
profissão, no caso das nutricionistas, mulheres antigas formas de
passando por tratamentos controle médico.
multiprofissionais e chegando até a
tentativa de seguir dietas e produtos “da É neste ponto que as reflexões de
moda” veiculados pela mídia. Tais Peregalli-Politi (2018) sobre os dilemas
resultados mostram que a violência sentida éticos quanto às formas de tratamento da
no curso de suas trajetórias pode engendrar condição de obesidade devem considerar a
formas secundárias de violência questão em sua complexidade, o que
perpetradas pelo próprio indivíduo na demanda um olhar interdisciplinar. Para o
busca pela adequação do seu corpo e autor o sucesso do acompanhamento e do
aceitação social. Wolf (2018, p. 28) tratamento da pessoa com obesidade deve
corrobora: ir além da redução do peso como meta
final e ser trabalhado como um processo
contínuo que articule saúde física e mental.
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Complementando, o estudo de Mattos e para problematizar “as omissões das


Luz (2009) apontam para os benefícios de dimensões sociais da gordura e a
participar de um programa de responsabilização individual” (Sprovera
acompanhamento e tratamento no que et. al., 2017, p. 8). Considerando o
tange a criação e laços de pertencimento tratamento da condição de obesidade como
devido a partilha de situações difíceis com um problema de saúde pública revestido de
os demais usuários(as), como o estigma um discurso médico em grande parte
devido a obesidade, o que pode repercutir centrado em determinantes do
positivamente na saúde física e mental comportamento individual, a invisibilidade
dos(as) mesmos(as). Tal como salienta dada à pessoa gorda no plano social
Jimenez (2020, p. 160): escamoteia os processos da sua produção e
reprodução.
"É necessário e inadiável que O estudo de Palmeira et. al. (2020)
existam representantes políticos traz à luz os impactos nas relações íntimas
que se preocupem em criar centros e de parentesco de mulheres que se abalam
de referência para pessoas gordas, devido ao olhar que se lança para a
nos quais exista a oferta de obesidade. O retraimento dessas mulheres,
atendimento médico especializado, o sentimento de marginalização, o desejo
advogados, terapeutas, psicólogos, de ocultar o estigma levou essas mulheres
nutricionistas, assessorias para a diminuir suas interações sociais e a se
busca de emprego, cursos de sentirem apartadas da sociedade. Vivências
formação etc., com políticas que de discriminação em transportes públicos
reconstruam essas vidas e também foram relatadas, assim como em
demonstrem à sociedade que os lojas de roupas, evidenciando a
espaços também serão ocupados marginalização sofrida pela pessoa obesa.
por pessoas gordas, e isso é Ambas apontam para um isolamento social
constitucional". que é tanto produto, quanto produtor de
violência contra a pessoa gorda. Arruda e
A temática Social emergiu da Miklos (2020, p. 115) também cometam
reflexão que certos estudos trazem acerca esse aspecto:
dos impactos na inclusão das pessoas
gordas na vida em sociedade e sobretudo
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...a pessoa gorda não passa na considerado deformado segundo os


catraca do ônibus, não cabe na padrões e à exposição do mesmo em
poltrona do cinema e não encontra, situações sociais como, por exemplo, na
com a facilidade de simplesmente ir praia. No mais, o estudo aponta para uma
ao shopping, uma básica calça jeans dicotomia entre pessoas magras e gordas
para comprar. Ela é insultada por segundo classe social. A associação entre
sua forma física publicamente e, pessoas ricas e magras e pessoas pobres e
constantemente, é alvo de piadas. gordas aponta para a sobreposição de
Com o pretexto de “só fazer uma preconceitos e estigmas, uma interseção
brincadeira”, a sociedade importante de marcadores, tornando ainda
mediatizada leva quem sofre com a mais dolorosa, complexa e marginal a
gordofobia a se suprimir e se experiência de vida da pessoa gorda.
anular, já que essa pessoa, mesmo Contrapondo-se aos aspectos
que queira, de maneira geral, não salientados pelo social, a temática Corpo
veste roupas chamativas, com coloca em relevo a relação entre as pessoas
estampas ou com cores, têm gordas e seus corpos e revelam os efeitos
dificuldades para sair de casa e deletérios de ser alvo constante de
sérios problemas em se relacionar preconceitos, discriminação e
consigo mesma e com os outros. estigmatização. Retomando a investigação
de Miziara e Vectore (2017), foi possível
Já o estudo de Sprovera et. al. observar em algumas crianças estudadas o
(2017), realizado com jovens de Santiago, sentimento frequente de não aceitação do
capital do Chile, revela as múltiplas próprio corpo, manifesto por um
dimensões da gordura e enquanto gradiente descontentamento frente a sua condição
de valor, os participantes evocaram a física. Esse mesmo descontentamento foi
distinção entre pessoas gordas “aceitáveis” observado junto às mulheres estudadas por
e “inaceitáveis”. As primeiras Pinto e Bosi (2010), sobretudo no que se
caracterizam-se pela percepção de existir refere ao uso do corpo para o trabalho e
uma reversibilidade da gordura corporal e para o sustento da família. O que torna
pela vergonha manifesta em suas atitudes. esses achados ainda mais alarmantes é a
Já as segundas são assim vistas devido ao culpabilização do indivíduo e da sua
agravamento da obesidade, ao corpo relação com o seu corpo, que passa a ser
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visto como uma barreira para uma vida uma mulher gorda – “Imagina ela nua!” –
plena. O discurso patologizante que revela a construção de identidade das
sustenta a culpabilização e que marginaliza mulheres gordas estudadas e por um
a pessoa gorda não é considerado e nem conjunto de “sentenças” proferidas por
criticado com vistas a construir novas familiares e pessoas próximas, tal como
narrativas acerca do corpo gordo na dificuldade de relacionar-se afetivo
sociedade contemporânea. sexualmente. A responsabilização pela
Como consequência, a não própria condição física engendra culpa
aceitação de si repercute e provoca frente a um corpo não dócil às
isolamento, vergonha e desencadeia um intervenções e expectativas sociais e
processo de cobrança e vigília do próprio pessoais. O corpo, alvo de controle pessoal
corpo, revelando a introjeção do estigma e interpessoal passa por comparações, por
incutido socialmente (Palmeira et. al, julgamento e por exclusões. A evocação no
2017). O corpo passa a ser visto como uma campo da moda da categoria “plussize”,
prisão, um cárcere que encerra a vida da alçando o corpo em uma categoria
pessoa em uma condição indesejada e que vendável e, portanto, mais aceita, não
faz emergir um sentimento de culpa por minimiza, segundo as entrevistadas, os
um "erro" cometido, tal como apontado por efeitos deletérios de uma violência
Araújo, Pena e Freitas (2015) no estudo introjetada.
junto a nutricionistas. A violência é, Assim, chega-se a última temática
portanto, praticada pela própria pessoa na Mídia que foi criada especialmente para
reprodução através do seu olhar dos abarcar o estudo de Araújo et. al. (2018)
padrões aceitos socialmente e como por dois motivos. O primeiro diz respeito à
reflexo das violências sofridas através das natureza do estudo: qualitativo,
suas relações interpessoais. Ou seja, a documental, realizado com gêneros
violência toma contornos intrapessoais e se textuais publicados no jornal Folha de São
incrusta na forma como a pessoa se Paulo e que se distingue dos demais
relaciona subjetivamente com o próprio estudos. O segundo, e mais importante,
corpo. refere-se a reunião nos seus resultados de
O estudo de Menezes, Ferreira e aspectos abordados nas temáticas
Mélo (2020) que inclui no seu título parte anteriores e presentes direta ou
de uma fala de um homem que se referiu a indiretamente nos núcleos de sentido de
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cada uma. A definição pelos autores de espaço de comunicação e sua influência


sete classes - discriminação e gordura; sobre os sujeitos na sociedade, sejam eles
exclusão no contexto laboral; resultados de professores, pais, adolescentes, homens e
pesquisa; medicalização da obesidade; mulheres, obesos ou não. Arruda e Miklos
preconceito: diferenças de gênero e fatores (2020, p. 124) comentam a importante
econômicos; preconceito aberto; políticas contribuição da mídia para a perpetuação
de inclusão – que caracterizam as de estereótipos e preconceitos relacionados
representações sociais encontradas nas ao corpo gordo:
reportagens acerca do preconceito frente à
obesidade servem para o presente estudo É na mídia que os estereótipos das
de revisão bibliográfica como uma síntese pessoas gordas são explorados ao
dos aspectos abordados nas outras cinco extremo, reforçando e dando
temáticas. margem para novas formas de
As análises apontam também para a incidência desse preconceito. Ao
veiculação de informações que reiteram, entender a gordofobia como um
por um lado, o impacto do problema do preconceito que tem como alvo a
ponto de vista social e pessoal e, por outro imagem de um corpo – afinal, as
lado, o preconceito que emerge da ideias que se fazem acerca dos
reafirmação dos padrões esteticamente hábitos de vida e das práticas das
desejados e aceitos. Identificado nas pessoas gordas se dão apenas pelo
reportagens, o enfoque dado à mulher olhar que identifica se a pessoa é ou
associada ao apelo estético engendra uma não gorda –, percebe-se então sua
busca por um enquadramento corporal e íntima relação com os media, e em
social (Araújo et. al., 2018). Além disso, especial com a mídia visual e
observou-se a difusão da obesidade como eletrônica. Nesses meios, a
doença com forte predomínio do discurso representação das pessoas gordas,
médico, seja através de pesquisas, seja na especialmente das mulheres, é em
associação ao uso de medicamentos para suma maioria carregada de
tratamento. Considerando a mídia impressa características negativas, com
um forte veículo de disseminação de potencial reprodução desses
informação, mostra-se interessante refletir padrões no contexto social.
sobre o peso do que se dissemina nesse
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Conclusão Dialogando com os resultados da


pesquisa interinstitucional sobre a
A revisão bibliográfica realizada violência entre a população universitário,
possibilitou conhecer as contribuições de pode-se supor que o maior percentual de
estudos qualitativos para o entendimento universitários que confirmou ter cometido
da violência associada ao corpo gordo. gordofobia no ano de 2019 se explique
Através da análise empreendida foi pela tendência à culpabilização da vítima
possível compreender, segundo os temas pela condição de obesidade, o que
identificados e seus núcleos de sentido, apontaria para a importância de usar o
como as pessoas gordas manifestam o espaço universitário para debate, reflexão e
sofrimento oriundo das diferentes formas questionamento de certos padrões
de violência e como estas se dão, através corporais e estéticos. Enquanto limites da
de contextos diversos: de saúde, sociais, presente revisão dois aspectos destacam-
familiares, escolares e laborais. se: a não inclusão de outras formas de
Pode-se compreender que a publicação, como livros, teses e
violência associada a pessoas gordas dissertações; os critérios metodológicos
recebe uma forte influência, por um lado, que excluíram estudos de revisão e estudos
dos padrões estéticos hegemonicamente quantitativos.
aceitos, e por outro lado, encontra no
discurso médico e de saúde pública certos
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1º avaliação: 27/07/2021

Aceite: 10/10/2021

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