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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DA VIDA

CURSO DE PSICOLOGIA

INTERVENÇÃO FÍSICA NA TERCEIRA INFÂNCIA

DISCIPLINA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO – I Nível 

Nomes: João Victor, Nicolly Peter, Noelle Buffon, Renata Carmona, Renata Rietjens,
Vanessa Guedes e Talita Almeida.

1 OBESIDADE NA TERCEIRA INFÂNCIA

A terceira infância é o período que compreende a faixa etária entre 6 e 11 anos e o


desenvolvimento nesta etapa ocorre de forma mais lenta em relação à primeira e à segunda
infância. Esse período é permeado por diversos aspectos de desenvolvimento, entre os quais
se destacam o aumento e aperfeiçoamento da força e habilidades físicas, a diminuição do
egocentrismo e o desenvolvimento da auto-imagem, afetando a auto-estima da criança. Além
disso, nesse período as relações de amizade adquirem uma importância fundamental para o
emocional da criança (PAPALIA & FELDMAN, 2013).
Ao considerar-se como se dá a saúde e segurança nessa fase da vida, é relevante
destacar que a terceira infância possui a taxa de mortalidade mais baixa no tempo de vida, por
conta do desenvolvimento de vacinas para as principais doenças desse período. Todavia,
algumas sofrem de condições médicas crônicas, de ferimentos acidentais e de falta de acesso
a tratamento de saúde. O problema mais grave que afeta a saúde das crianças é a obesidade
(PAPALIA & FELDMAN, 2013).
A Organização Mundial da Saúde caracteriza a obesidade como o excesso de gordura
corporal em quantidade que determina prejuízos à saúde. Uma pessoa é considerada obesa
quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) é maior ou igual a 30 kg e a faixa de peso
normal varia entre 18,5 e 24,9 kg. Essa condição é considerada doença crônica por entidades
médicas, incluindo a OMS (Organização Mundial de Saúde), sendo uma doença denominada
como multifatorial, ou seja, aquela que envolve vários fatores, genéticos, sociais,
psicológicos e ambientais, não sendo somente questão de “querer perder peso”. Segundo
Salim & Bicalho (2004):
Parece ser consenso que o excesso de peso na infância ocorre por uma
infinidade de causas ou, como alguns autores acreditam, por uma
combinação de fatores. Os mais comuns indicados na literatura
incluem entre outros hábitos alimentares considerados inadequados,
propensão genética, estilo de vida familiar e condição
socioeconômica. (SALIM & BICALHO, 2004, P. 24)

Entre os fatores potencialmente ocasionadores da obesidade, pode-se citar a própria


cultura imediatista da sociedade contemporânea, cuja rotina intensa resulta na necessidade
emergente de consumo de alimentos que despendem menos tempo de preparo do que a
comida caseira, que é mais recomendada à saúde. Assim, há um consumo muitas vezes
excessivo de alimentos industrializados, contendo conservantes, e que não oferecem a
necessidade nutricional adequada nessa fase da infância (SALIM & BICALHO, 2004).
Ademais, a obesidade infantil frequentemente resulta de uma tendência hereditária –
crianças têm maior probabilidade de estar acima do peso se tiverem pais ou parentes acima
do peso – agravada não somente por alimentação em quantidade excessiva ou de qualidade
comprometida, mas também por pouco exercício físico. Há, dessa forma, uma tendência a
que essas crianças se tornem adultos obesos e com risco para diversos problemas no futuro,
como hipertensão, problemas ortopédicos, diabetes e outros. Golke (2016) aborda que:
O excesso de peso já é um problema que afeta 1/5 da população
infantil e pode resultar em uma geração futura de obesos, pois
crianças obesas se tornam adolescentes obesos e 80% destes chegam à
vida adulta também com obesidade. Portanto, aumentam-se as
chances desses pequenos obesos desenvolverem hipertensão, diabetes,
riscos renais, cardiovasculares e cerebrais aumentados. (GOLKE,
2016, p. 17)

Juntamente aos fatores externos potencialmente causadores da obesidade nessa faixa


etária, a terceira infância também é caracterizada por uma forte preocupação com a
auto-imagem, especialmente partindo das meninas, e essa autoconsciência no que diz respeito
ao corpo pode evoluir para transtornos da alimentação na adolescência. Há uma grande
influência da mídia, de séries, filmes e brinquedos que mostram figuras padronizadas, que
reforçam o ideal de magreza como o “normal”, sem nenhuma relação com a saúde. Desta
forma pode haver o desenvolvimento de baixa auto-estima, acarretando insegurança e vários
outros transtornos psicológicos. De acordo com Copetti e Quiroga (2018):
Há uma validação social diante a regra criada, em que se acredita que
o emagrecimento está diretamente ligado ao bem-estar emocional e
social. Essa validação a transforma em verdade na sociedade, fazendo
com que a magreza como padrão estético dominante seja um fator
responsável pelo desenvolvimento de TAs. (COPETTI & QUIROGA,
2018, P. 167).

Além disso, vale ressaltar como fator importante o contexto onde a criança cresce, e a
dinâmica familiar são muitas vezes fundamentais para o surgimento da ansiedade —
Situação socioeconômica, relacionamento com os pais e irmãos… —- O modo como os pais
lidam com o estabelecimento de limites com as crianças também influencia no
desenvolvimento da obesidade das mesmas. Pais permissivos, que têm dificuldade para
impor disciplina aos filhos, deixando-os fazer o que querem, incluindo em relação a sua
alimentação.
Por último destaca-se que a ansiedade é um fator que por vezes pode resultar na
obesidade, mas ela também pode ser a causadora. Em uma situação inversa, considerando
uma criança ja em estágio obeso, sua condição pode se agravar por já estar ansiosa, sendo os
julgamentos da familia um consolidador para essa situação. De acordo com Salim e Bicalho
(2004) os familiares relacionam o sobrepeso à falta de controle de impulsos, preguiça e
desleixo, por exemplo, o que é internalizado pela criança e torna-se uma fonte de sofrimento.

2 INTERVENÇÃO

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o excesso de gordura corporal em


crianças de até 12 anos caracteriza a obesidade infantil. Passa a ser considerado sobrepeso
quando o peso da criança ultrapassa os 15% de referência para a sua idade. O IMC (Índice de
Massa Corporal) também é um método utilizado para diagnosticá-la. A terceira infância, por
ser uma fase na qual a criança desenvolve mais características e possui maiores mudanças
físicas, pode gerar conflito consigo mesma e a ansiedade pode passar a ser um fator
determinante nessa fase do desenvolvimento infantil.
Pensando no contexto da obesidade no Brasil, é imprescindível focar em programas
de prevenção à obesidade que incluam os esforços de pais, escolas, médicos, comunidades e
da cultura mais ampla, causando mudanças no estilo de vida, não somente na perda de peso.
A exemplo disso, é possível considerar o ambiente escolar, onde as crianças começam a
passar grande parte do seu tempo, e consequentemente onde desenvolvem seus maiores
conflitos sobre si, acarretando em suas primeiras frustrações (PAPALIA & FELDMAN,
2013). A inclusão de nutricionistas nas escolas é de extrema importância, focalizando na
disciplina de educação física, juntando ao incentivo de uma boa alimentação com atividade
física para que os alunos possam gastar sua energia. Atuando assim, como prevenção da
obesidade.
Considerando que a ansiedade é um dos precursores que leva à obesidade infantil, é
importante haver presença de psicólogos nas escolas justamente para ajudar crianças a
compreenderem seus dilemas e a tratarem seus primeiros sinais ansiosos. Uma forma vital de
combater a obesidade infantil é partir do pressuposto que tal condição não é a doença
propriamente, mas um sintoma de um problema maior no desenvolvimento daquele
indivíduo. Assim, torna-se crucial buscar maneiras de controlar as potenciais causadoras
desse sintoma, entre as quais destaca-se a ansiedade. Uma alternativa que o psicólogo pode
implementar é a utilização de journaling, técnica que vem sendo utilizada como forma de
recobrar o senso de controle no paciente com ansiedade, depressão e outras patologias.
A técnica de journaling consiste em uma forma de escrita similar a de um diário,
apresentando como diferencial um distanciamento do foco em descrições factuais dos dias.
Ao invés disso, o foco dessa técnica está em descrever momentos de grande impacto e
registrar essas sensações, hábitos e preocupações (COELHO, 2021). No contexto da
psicologia clínica, essa técnica apresenta questões ou propostas norteadoras para que o
paciente reflita sobre si mesmo, percebendo comportamentos potencialmente sabotadores e
trabalhando a autoconsciência e autoestima.
Essa forma de intervenção permite que a criança canalize suas angústias em um
interesse alternativo a possíveis ânsias e vícios, como uma alimentação que apresenta
tendências compulsivas. Steve Colori, um paciente adulto com Transtorno Esquizoafetivo,
afirma que a escrita em journaling foi uma ferramenta no de importância primordial no
tratamento dos sintomas psicóticos de seu transtorno. Colori atribui a importância de tal
tratamento à característica de possibilitar a revisitação de experiências traumáticas passadas
que o afetaram no presente e que ele precisou analisar, além de possibilitar uma maior
reflexão a respeito de experiências corriqueiras do dia-a-dia (COLORI, 2018). Outrossim,
crianças e adolescentes podem desenvolver autoconsciência e uma relação mais pacífica
consigo mesmos.
Não obstante, a prática também pode ajudar o psicólogo a entender padrões de
comportamento e identificar a verdadeira origem do problema. Os resultados obtidos através
de um estudo clínico randomizado controlado em que foi aplicada a técnica de journaling
digital demonstraram que a utilização de journaling no contexto da terapia cognitiva
comportamental diminuiu significativamente os sintomas depressivos e aumentou o
bem-estar dos pacientes em relação ao coletado na linha de base. A partir desse estudo,
demonstrou-se que essa metodologia pode vir a auxiliar na diminuição do sofrimento, do
estresse psicológico, da ansiedade e da depressão na população que possui doenças crônicas,
como obesidade (SMYTH et al, 2018).
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Joana. Journaling. A psicóloga lá de casa, 2021. Disponível em:


https://psiqevo.com/apsicologaladecasa/2021/03/04/journaling/ .  Acesso em:  1 de novembro
de 2022.

COLORI, S. Journaling as Therapy. Schizophrenia Bulletin, Vol 44, P. 226-228, março de


2018.

COPETTI, A. V. S.; QUIROGA, C. V. A influência da mídia nos transtornos alimentares


e na autoimagem em adolescentes. Revista de Psicologia da IMED, v. 10, n. 2, p. 161–177,
2018.

GOLKE, Carin. Obesidade Infantil: Uma Revisão De Literatura. 2016. Centro de


Ciências da Saúde, Curso de Pós-graduação a Distância, especialização Lato-sensu em
Gestão de Organização Pública em Saúde – Santa Maria.Palmeira das Missões, RS, Brasil.

PAPALIA, Diane; FELDMAN, Ruth. Desenvolvimento humano. 12 Ed. São Paulo: AMGH
editora ltda. 2013.

SMYTH, J. et al. Online Positive Affect Journaling in the Improvement of Mental


Distress and Well-Being in General Medical Patients With Elevated Anxiety Symptoms:
A Preliminary Randomized Controlled Trial. JMIR Ment Health, 2018.

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