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Abstract Introdução
1 Instituto Materno Infantil The aim of this study was to analyze the growing Em virtude dos paradigmas habitualmente re-
Professor Fernando Figueira,
Recife, Brasil. prevalence of anemia and overweight/obesity as ferenciados, como o enfoque isolado das doen-
2 Centro de Pesquisas Aggeu contrasting trends in Brazil’s nutritional transi- ças em sua etiopatogenia, estabeleceu-se a ten-
Magalhães, Fundação
tion. Twenty-eight studies published on anemia dência praticamente normativa de se descrever
Oswaldo Cruz, Recife, Brasil.
3 Departamento de Nutrição, in children and childbearing-age women were e analisar os eventos do setor saúde e, particu-
Universidade Federal de selected, based on statistical representativeness, larmente, as doenças nutricionais como entida-
Pernambuco, Recife, Brasil.
standardization of laboratory methods, and des próprias, autônomas ou, no máximo, apro-
Correspondência World Health Organization criteria. Overweight/ ximadas por “analogias de natureza”. Em outras
M. Batista Filho obesity in adults was assessed by body mass in- palavras, as deficiências nutricionais formariam
Instituto Materno Infantil
dex: 25 to 29.9kg/m 2 (overweight) and ≥ 30kg/ agrupamentos de situações conceitualmente as-
Professor Fernando Figueira.
Rua dos Coelhos 300, m 2 (obesity). Three surveys were compared for sociadas, como desnutrição energético-protéica,
Recife, PE analysis of tendencies: 1974/1975 (36.4%), 1989 carências de sais minerais e hipovitaminoses.
50070-550, Brasil.
mbatista@imip.org.br
(53.5%), and 2002/2003 (51.9%) for overweight/ Ainda assim, a tendência dominante se estabe-
obesity prevalence. In the most representative lece no sentido de considerá-las separadamente,
study on anemia among children (< 11g/dL), the de forma autônoma, com sua identidade própria
prevalence increased from 22.0% (1974) to 46.9% e inconfundível.
(1995/1996). For pregnant woman (< 11g/dL), Dessa maneira, entre as quase trinta sinoní-
results ranged from 14.7 to 40.4%. Prevalence of mias utilizadas para designar formas graves de
anemia among children and overweight/obesity desnutrição energético-protéica, como o kwa-
among adults showed similar tendencies over shiokor, apenas uma, a “síndrome pluricarencial
time. Recent evidence of reduction in anemia infantil” ou “síndrome pluricarencial hidropi-
can be attributed to flour supplementation with gênica” 1, ressaltava o caráter multicarencial do
iron and folic acid. Anemia and overweight/obe- problema como entidade clínica. No pólo opos-
sity are associated with significant changes in to, a associação de problemas relacionados com
food intake as a substratum of the nutritional excessos alimentares e estilos de vida não saudá-
transition. veis seria bem mais aceitável e usual, como nos
casos da obesidade, sobrepeso, dislipidemias e
Nutritional Epidemiology; Anemia; Obesity; Nu- suas múltiplas complicações ou co-morbidades,
tritional Transition entre as quais se sobressaem o diabetes mellitus
e as doenças cardiovasculares 2,3,4.
Responsáveis atualmente por 80% da carga outra endemia de natureza oposta – o sobrepe-
de morbimortalidade dos países ricos e mais da so/obesidade.
metade nos povos em desenvolvimento 2,5, as Neste artigo, faz-se um exercício inicial de
chamadas doenças crônicas não transmissíveis consolidação de resultados que possam repre-
apresentam em comum seus principais fatores sentar a coexistência dos dois problemas e uma
biológicos e comportamentais de risco. Entre es- sistematização de possíveis evidências para a
ses fatores, destacam-se as variáveis nutricionais, compreensão do que poderia ser um paradoxo
representadas pela alimentação hipercalórica e epidemiológico.
seus desvios específicos: consumo excessivo de
açúcares simples, de gorduras animais, de ácidos
graxos saturados, de gorduras trans, ao lado do Procedimentos
sedentarismo crescente, tabagismo, uso imode-
rado de bebidas alcoólicas e outras práticas de Com esses objetivos, considera-se, de fato, qua-
vida não saudáveis 6,7. tro enfoques: (a) um resumo das mudanças nu-
De forma simplificada, são representações de tricionais ocorridas nas últimas três décadas,
dois modelos bem distintos e até antagônicos, no Brasil; (b) uma descrição mais detalhada
justificando a conduta de enfoques clínicos e da evolução comparativa do estado nutricio-
epidemiológicos diferenciados. Entre os dois ce- nal da população adulta (homens e mulheres),
nários (doenças carenciais, atingindo sobretudo com ênfase no binômio sobrepeso/obesidade,
as crianças, e as doenças crônicas não transmis- incluindo aspectos geográficos e sociais; (c) a
síveis, predominando amplamente entre adultos consolidação de resultados selecionados sobre
e idosos) se delineia o itinerário da transição nu- a ocorrência de anemia em crianças e mulhe-
tricional, um rápido processo de mudanças nos res brasileiras, por ordem temporal; em adição,
perfis demográficos e de morbimortalidade bem relacionam-se resultados preliminares de re-
evidenciado nos últimos cinqüenta anos 8,9,10. centes pesquisas nos estados de Pernambuco e
Em princípio, o processo de transição con- Paraíba; (d) finalmente, delineiam-se, nas con-
siste na substituição de um padrão de doenças e siderações finais, algumas críticas, hipóteses
mortes característico de um estágio histórico de e conclusões que possam ajudar a entender o
subdesenvolvimento econômico, social e de saú- aparente paradoxo.
de por um outro padrão, que resultaria no mode- Para a inclusão dos resultados referentes à
lo mais atual dos países de avançada economia anemia em crianças, foram adotados os seguin-
de mercado. Os mecanismos internos e externos tes critérios: (a) amostras de base populacional
desse processo e seus resultados, apresentando com um mínimo de 400 observações; (b) utiliza-
algumas variantes, teriam em comum esse salto ção das técnicas de dosagem da cianometahe-
quali e quantitativo no modelo de desenvolvi- moglobina ou uso do Hemocue, na determina-
mento econômico-social, implicando necessa- ção laboratorial da hemoglobina; (c) utilização
riamente a mudança de uma situação própria do dos pontos de corte recomendados pelo Comi-
passado para uma nova e radicalmente diferente tê de Especialistas da Organização Mundial da
situação no presente 11,12. Sobre esse aspecto, Saúde (OMS) para definição de anemia 14. Com
provavelmente, não existe nenhum dissenso. estes procedimentos, dos 45 estudos relatados
No entanto, a transição nutricional que se entre 1980 e 2007, apenas 16 foram incluídos, se-
desenvolve no Brasil apresenta uma singularida- gundo as fontes relacionadas na coluna Estudo
de notável: o agravamento simultâneo de duas de cada tabela. Em relação às mulheres no pe-
situações opostas por definição: uma carência ríodo reprodutivo, foram adotados os mesmos
nutricional (a anemia) e uma condição típica dos procedimentos, com uma exceção: aceitação
excessos alimentares, a obesidade 13. Como en- de avaliações de amostras obtidas no pré-natal,
tender esse antagonismo de natureza e de ten- tendo em vista a boa representatividade dessas
dências num mesmo contexto histórico, num informações em virtude da grande cobertura da
mesmo espaço geográfico e numa mesma popu- assistência obstétrica e o uso rotineiro de exa-
lação, de forma até independente de sua hetero- mes de sangue neste atendimento.
geneidade sócio-econômica? Considerando os propósitos do estudo, fun-
É possível que não se tenha uma explicação damentalmente direcionados na avaliação de
definitiva ou convincente sobre essa situação mudanças temporais, e levando em conta a se-
conflitante que, inclusive, põe em questiona- melhança das prevalências entre macrorregiões
mento o conceito mais literal de transição epi- geográficas, os resultados dos estudos seleciona-
demiológica no campo da nutrição, na medida dos foram apresentados por ordem cronológica
em que não ocorre a esperada substituição de (ano de coleta dos dados primários), de modo
uma endemia carencial para a elevação de uma a possibilitar uma leitura estatística seqüencial
da ocorrência de anemias no curso das últimas Uma vez que o sobrepeso e a obesidade não
três décadas. representariam, ainda, um problema epidemio-
Excepcionalmente, um dos estudos relata- logicamente significativo em crianças e adoles-
dos 15 refere-se ao ano de 1974/1975, fora, por- centes, os resultados referentes a essa condição
tanto, do bloco de informações consolidadas incluem somente os maiores de vinte anos, se-
a partir de 1980. Sua inclusão se justifica por gundo sexo. Utilizam-se os resultados de pesqui-
se tratar do único trabalho que possibilita uma sas de abrangência nacional e aplicam-se, para
série temporal de três décadas sucessivas, es- classificação do estado de nutrição, o índice de
tando, assim, dentro de uma perspectiva ple- massa corporal (IMC), assim calculado: IMC =
namente apropriada para os objetivos do artigo peso (kg)/altura (m2).
aqui apresentado. Tendo em conta o interesse O resultado dessa fórmula foi classificado em
especial de se dispor de dados produzidos dois quatro categorias: (a) baixo peso: IMC ≤ 18,5kg/
anos após a obrigatoriedade de enriquecimento m2; (b) peso normal: IMC > 1,85 < 25,0kg/m2; so-
de massas industrializadas com ferro e folato, e brepeso: IMC ≥ 25,0 < 30kg/m2; obesidade: IMC
não existindo dados publicados a partir de 2006, ≥ 30kg/m2.
à exceção do estudo de Pelotas, Rio Grande do Desde que as fontes dos dados publicados
Sul, Brasil 16, considerou-se a pertinência e opor- não incluem explicitamente a condição de peso
tunidade de antecipar neste artigo resultados normal (ou eutrofia), a prevalência dessa cate-
ainda não publicados em veículos de divulgação goria foi calculada em percentuais, como com-
científica. É o caso das pesquisas relatadas em plemento ou diferença percentual da soma das
notas explicativas nas Tabelas 1 e 2. categorias (a + c + d) - 100%, passando, assim, a
figurar na representação dos resultados que não
constam do artigo original 17.
Tabela 1
Prevalência de anemia por localidades e anos de coleta de dados de campo em crianças brasileiras, a partir dos anos 80.
Localidade Estudo Ano de coleta Grupo estudado Amostra (n) Anemia (%) *
Tabela 2
Prevalência de anemia em mulheres em idade reprodutiva, segundo alguns trabalhos selecionados e resultados preliminares de pesquisas mais recentes (1980
a 2006).
Localidade Estudo Ano de coleta Grupo estudado Amostra (n) Anemia (%) *
Figura 1
Tendências temporais das anemias, segundo estudos realizados nos mesmos espaços geográficos e grupos populacionais,
entre 1975 e 2006.
Fonte: Monteiro et al. 15, Oliveira et al. 33, Lemos 34, Batista Filho & Romani 35 e Situação Alimentar, Nutricional e de Saúde
no Estado de Pernambuco: contento sócio-econômico e de serviços (Relatório enviado ao Conselho Nacional de Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico).
Observa-se, com raras exceções (caso do Rio na última avaliação. Entre as mulheres, a preva-
de Janeiro, em 1990/1992, e de Pernambuco, a lência da normalidade antropométrica, segundo
partir de 2006), que as prevalências de anemia o IMC, declinou de 53,4% para 42,7%. Como se
em gestantes ou em mulheres em idade reprodu- observa, as grandes mudanças da situação nu-
tiva situavam-se acima de 20%. Os valores mais tricional da população adulta, acarretando mar-
elevados ocorreram no Recife (40,4%) em mulhe- cante diminuição da normalidade antropométri-
res examinadas no último trimestre da gravidez, ca, resultou, fundamentalmente, do aumento do
enquanto os mais baixos (15,2% e 16,7%) foram sobrepeso/obesidade.
encontrados, respectivamente, nos estados da Demonstra-se, na Tabela 3, o curso temporal
Paraíba e Pernambuco, em estudos mais recentes das prevalências de obesidade em mulheres do
de mulheres não gestantes. Brasil em três décadas, conforme a renda familiar
distribuída em quintis. Observa-se, nos estratos
A pandemia do sobrepeso/obesidade mais pobres (1o e 2o quintis), que o problema
mais do que duplicou sua freqüência no primei-
Descreve-se, na Figura 2, em homens e mulheres ro período (1975/1989) e aumentou significati-
adultas, a evolução do estado nutricional segun- vamente no segundo (1989/2003), ao passo que,
do o IMC, entre 1974/1975 e 2002/2003. Verifica- nas famílias de renda mais elevada (3o, 4o e 5o
se que o baixo peso declinou e praticamente se quintis), a prevalência da obesidade aumentou
estabilizou em níveis aceitáveis a partir de 1989, no primeiro período, tendendo a redução na se-
enquanto a obesidade triplicou em homens, ele- gunda fase da evolução temporal.
vando-se de 2,8% para 8,8%. Entre as mulheres,
a ocorrência de obesidade, que, inicialmente,
era três vezes maior que a encontrada nos ho- Considerações finais
mens, manteve-se praticamente estável em tor-
no de 13% nas avaliações efetuadas em 1989 e Parece surpreendente que, à medida que o de-
2002/2003. No mesmo período, a prevalência de senvolvimento econômico e social amplia con-
normalidade antropométrica, que era de 71,4% sideravelmente o acesso efetivo aos alimentos,
entre os homens em 1974/1975, caiu para 47,4% informações, serviços, ações de saúde e outros
Figura 2
Classificação antropométrica de homens e mulheres adultos no Brasil, segundo o índice de massa corporal, entre 1974/1975 e 2002/2003.
ENDEF: Estudo Nacional da Despesa Familiar; PNSN: Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição; POF: Pesquisa de Orçamentos Familiares.
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 17.
Tabela 3
Mudanças na prevalência de obesidade em mulheres adultas, segundo a renda familiar em quintis, no Brasil, em 1975, 1989
e 2003.
servação poderia justificar o pouco interesse pe- menos conclusivas. Ainda assim, os conjuntos de
la situação das anemias e de outros problemas, resultados das décadas de 80 e 90, comparados
como a deficiência de vitamina A, de forma que, entre si, são demonstrativos de um aumento de
ainda hoje, os estudos efetivamente confiáveis prevalência deste problema.
sobre estas carências específicas são escassos e Ao lado das evidentes limitações descritivas,
pouco consistentes, em termos de representa- os estudos sobre fatores causais das anemias têm
tividade amostral, padronização de métodos de sido pouco valorizados. Na realidade, apenas
avaliação e referencial crítico para assegurar sua dois estudos são demonstrativos do papel das
validade interna e externa. Muito provavelmente, mudanças alimentares no agravamento epide-
o aspecto imprevisto dos resultados agora expli- miológico do problema em crianças menores
citados se relaciona mais com a discordância dos de cinco anos, em São Paulo e em Pernambuco.
conceitos e atitudes referentes aos problemas O primeiro demonstrou o papel da elevação do
nutricionais do que com o paradoxo dos dados consumo de leite fluido no aumento das ane-
comparados. Logo, a questão seria fundamental- mias, por dois prováveis mecanismos: substitui-
mente epistemológica. ção de outras fontes alimentares mais ricas em
Em relação ao sobrepeso/obesidade, o en- ferro e bloqueio parcial da absorção intestinal
tendimento básico passa necessariamente por do ferro 30. O outro estudo, realizado com dados
um balanço energético excessivamente positivo, do inquérito alimentar/nutricional no Estado de
configurado no binômio consumo/gasto calóri- Pernambuco, chega a conclusões bem semelhan-
co. No caso do Brasil, os dois termos desta rela- tes 31. Seria um outro paradoxo, pois os conheci-
ção têm se alterado rapidamente 7,17,28, com o mentos até então estabelecidos consideravam o
comprovado aumento do consumo alimentar e leite um alimento insubstituível na alimentação
a redução progressiva dos gastos calóricos cau- das crianças, ao passo que, agora, configura-se
sada pelo crescente sedentarismo da população. como o principal causador do problema caren-
Conta-se, atualmente, uma disponibilidade ali- cial de maior magnitude na população brasileira:
mentar de mais de três mil calorias para uma ne- a anemia nas crianças.
cessidade estimada pela FAO em 2 mil calorias Em resumo, o avanço representado pela
per capita/dia 29. Há, assim, um excedente po- maior disponibilidade e acesso aos alimentos
tencial de cerca de 50% de calorias para cada bra- em nível familiar e, especificamente, o maior
sileiro, o que poderia justificar em grande parte a consumo do que seria um alimento nobre pa-
prevalência de mais de 50% de sobrepeso/obesi- ra as crianças, o leite, acabaram atuando como
dade na população adulta. fatores de risco para mudanças adversas de
Relatório recente do Instituto Brasileiro de grande magnitude no processo nutricional. Es-
Geografia e Estatística 17 demonstra as grandes sas mudanças se desenvolveram quase imper-
mudanças ocorridas no consumo alimentar das ceptivelmente, só sendo explicitadas quando o
famílias brasileiras em relação ao suprimento de sobrepeso/obesidade, por um lado, e a anemia,
proteínas e calorias e suas fontes. Evidencia-se, por outro, alcançaram mais da metade da po-
ademais, que a desigualdade de condições só- pulação de adultos e quase a metade da popu-
cio-econômicas entre regiões e entre estratos de lação de crianças. Com uma agravante peculiar:
renda não tem o mesmo papel do passado na o desinteresse por seu aspecto mais relevante,
distribuição geográfica e social da desnutrição/ o substrato alimentar do próprio processo de
obesidade, estabelecendo-se uma situação de transição nutricional.
homogeneidade e, inclusive, de tendência para Como questão final, os dados mais recentes
a diminuição do sobrepeso/obesidade nas faixas parecem indicar que, a partir de 2005, a ocorrên-
de renda familiar mais elevada. cia de anemias em crianças, escolares e adultos
Embora sem se dispor de dados efetiva- estaria declinando, segundo alguns resultados
mente consistentes em âmbito nacional, exis- apresentados neste artigo, mudando para menos
tem evidências convincentes de que o proble- as tendências temporais de aumento do proble-
ma das anemias em crianças brasileiras tenha ma. Em princípio, isso poderia ser atribuído ao
acompanhado o mesmo ritmo da pandemia do uso obrigatório de ferro e folato nas massas ali-
sobrepeso/obesidade em adultos 13. Os inqué- mentares de consumo mais generalizado, como
ritos nutricionais realizados em três décadas os derivados industriais do trigo e do milho 32.
sucessivas são bem indicativos de que o com- Trata-se, no entanto, de resultados ainda prelimi-
portamento temporal das anemias em crianças nares, necessitando-se de mais estudos para do-
tem acompanhado as tendências da ocorrência cumentar este possível efeito sobre as anemias,
de sobrepeso/obesidade em adultos; em relação em nível populacional.
às mulheres, as informações analisadas seriam
Resumo Colaboradores
Objetiva-se analisar a prevalência crescente das ane- M. Batista Filho contribuiu na concepção do artigo, co-
mias e do sobrepeso/obesidade, como tendências con- ordenação do grupo e redação do texto. A. I. Souza e
flitantes da transição nutricional do Brasil. Fez-se T. C. Miglioli contribuíram na pesquisa bibliográfica e
uma seleção de 28 trabalhos publicados sobre anemia revisão final do texto. M. C. Santos contribuiu na pes-
em crianças e mulheres em idade reprodutiva, consi- quisa bibliográfica.
derando representatividade estatística, padronização
de técnicas laboratoriais e critérios recomendados pe-
la Organização Mundial da Saúde. O sobrepeso/obe-
sidade em adultos foi avaliado pelo índice de massa
corporal (IMC): entre 25 e 29,9kg/m 2 (sobrepeso) e ≥
30kg/m2 (obesidade). Para análise das tendências, fo-
ram comparados três inquéritos, 1974/1975 (36,4%),
1989 (53,5%) e 2002-2003 (51,9%), para a prevalência
de sobrepeso/obesidade. No estudo mais representati-
vo sobre anemias em crianças (< 11g/dL), a prevalên-
cia elevou-se de 22% (1974) para 46,9% (1995-1996).
Nas gestantes (< 11g/dL), os resultados variaram entre
14,7% e 40,4%. Conclui-se que as prevalências de ane-
mia em crianças e sobrepeso/obesidade em adultos
apresentaram tendências semelhantes de evolução
temporal. Evidências mais recentes de redução das
anemias poderiam ser atribuídas ao enriquecimen-
to das massas alimentares com ferro e folato. As ane-
mias e o sobrepeso/obesidade estariam associados às
mudanças no consumo alimentar, como substrato da
transição nutricional.
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