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CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE ESCOLA DE NUTRIÇÃO

DISCIPLINA BIOESTATÍSTICA

CONSUMO DE ULTRAPROCESSADOS E SEUS PERIGOS

TAÍSSA DA SILVA QUEIROZ


LETÍCIA JÚLIA DE MELO LOPES
GUILHERME SOARES JESUS DA CONCEIÇÃO

Rio de Janeiro
2022
CONSUMO DE ULTRAPROCESSADOS E SEUS PERIGOS

Trabalho da disciplina Bioestatística do curso


de Nutrição da UNIRIO sobre o consumo de
Ultraprocessados buscando entender sua
relação com obesidade, hipertensão e diabetes
na fase adulta e como sendo problema de
saúde pública no território nacional.

Orientador: Prof. Bruno Teixeira Simões

Rio de Janeiro
2022
Resumo

Alimentos ricos em sódio, açúcares e aditivos que os tornam hiper palatáveis e


atrativos não só para o paladar, mas também para o bolso das mais diversas
classes, estes são os alimentos ultraprocessados.
Doenças que muitas vezes são vistas somente como “doenças de velho”, mas
que têm acometido grande parte da população jovem - adulto, e que possuem
uma relação estreita com o consumo desses alimentos. Boa parte da
população brasileira possui alguma dessas doenças devido ao consumo
excessivo de certos alimentos desde a infância, o que acarreta uma série de
complicações que posteriormente pode levá-la á óbito.

Introdução

Os Ultraprocessados

Por décadas o consumo de ultraprocessados por parte dos brasileiros nunca


esteve tão elevado. O aumento destes produtos foi acompanhado pela
expansão das empresas transnacionais que os produzem, numa sociedade
cada vez mais globalizada e capitalista a falta de dinheiro e de tempo para se
estar em contato com o alimento de forma direta, em seu preparo, e não
apenas na hora de comer, facilita a inserção de alimentos rápidos e pré-prontos
na rotina do Brasil. Porém quais impactos o elevado consumo destes alimentos
gera na saúde de uma população? (AFIUNE, 2020)

O Guia Alimentar para a População Brasileira (Brasil,2014), classifica os


alimentos por grau de processamento em: Alimentos in natura, que são obtidos
diretamente de plantas ou de animais e não sofrem qualquer alteração após
deixar a natureza; alimentos minimamente processados, que correspondem a
alimentos in natura que foram submetidos a pequenos processos como de
limpeza, remoção de partes não comestíveis ou processos similares que não
envolvam agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias ao
alimento original; alimentos processados, que são fabricados pela indústria
com a adição de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário a alimentos
in natura para torná-los duráveis e mais agradáveis ao paladar; e alimentos
ultraprocessados, que são formulações industriais feitas inteiramente ou
majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras,
açúcar, amido, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos e que
contenham mais de cinco ingredientes. Os alimentos ultraprocessados devem
ser evitados visto que contém elevado nível de ingredientes artificiais e maior
teor de carboidratos, sais, açúcares e gorduras saturadas, e menor valor em
fibras e nutrientes necessários para saúde do indivíduo (MARTINS 1987–
2009).

Obesidade

A Obesidade é uma Doença Crônica Não Transmissível (DCNT) de origem


multifatorial e complexa, sendo considerada um problema de saúde pública
devido às suas proporções epidêmicas. Por seu caráter multifatorial, requer o
conjunto de diversos conhecimentos na área da saúde para ser tratada e
superada por quem é acometido com tal condição. Observando os hábitos
alimentares da população brasileira conseguimos perceber claramente que nos
últimos anos o consumo de alimentos ultraprocessados tem aumentado de
forma preocupante, e com ele condições graves, como a obesidade,
acompanham a crescente.

Hipertensão

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), popularmente conhecida como


"pressão alta" é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da
pressão sanguínea nas artérias, normalmente, a hipertensão é definida como a
pressão arterial acima de 14/9 e é considerada grave quando a pressão está
acima de 18/12.
Estudos apontam que a doença possui como um de seus determinantes o
consumo excessivo de alimentos ultraprocessados - que possuem grande
densidade energética, adição de sódio, açúcares e aditivos para conservação -
trazendo risco à população que usualmente adiciona esses alimentos em sua
dieta, já que é uma doença considerada como silenciosa por muitas vezes não
apresentar sintomas.

O papel da mídia e da indústria

Desde muito novos somos expostos a diversas informações, e com o passar


das gerações e aumento da qualidade das tecnologias, essa exposição fica
cada vez mais evidente quando analisamos um quadro geral em como a
informação recebida afeta ou influencia nossos comportamentos.
A alimentação não foge a esse padrão, Muller, citado por Araújo et al. apontou
a propaganda como forma de influenciar a utilização de fórmulas infantis e leite
integral utilizado em fórmulas caseiras, alimentos complementares e cereais,
veiculados habitualmente por mamadeiras como forma substituta ao
aleitamento. Outro estudo que evidencia a influência da propaganda sobre o
público infantil relatou que crianças que passam muitas horas expostas à
televisão são mais vulneráveis ao anúncio de alimentos de alto valor calórico,
além do fato de não estarem praticando atividades físicas, situação está que
predispõe para o aumento do risco para obesidade e sobrepeso.
De acordo com a literatura consultada, os principais alvos da indústria de
propagandas e publicidades são mulheres (pela demanda de alimentos diet e
light e, no caso das mães, dos alimentos para o público infantil), jovens e
crianças, por serem mais suscetíveis a seus desejos e expectativas frente a
uma marca ou determinado produto.

Objetivos

O objetivo deste estudo é avaliar o comportamento da população brasileira


frente à indústria de ultraprocessados; algumas das doenças que a ingestão
desses produtos pode causar; qual o papel da mídia em atrair esses
consumidores e qual o papel dos profissionais da saúde frente a esse senário
de caos de saúde pública.
Metodologia

Os dados da análise foram coletados nas plataformas SISVAN (Sistema de


Vigilância Alimentar e Nutricional) e Vigitel, ambas do Ministério da Saúde. Os
dados são de adultos a partir dos 20 anos, considerando toda cobertura de
região, a base de dados foi dividida em masculino e feminino separadamente e
todos juntos para a análise das diferenças por sexo. Na plataforma SISVAN
foram retiradas informações sobre o consumo de ultraprocessados e estado
nutricional que consta: peso baixo, peso adequado, sobrepeso, obesidade I,
obesidade II e obesidade III. Já no site Vigitel foram retirados dados sobre
doenças, entre estas, diabetes e hipertensão. Ambas as pesquisas
compreenderam o território dos estados de Minas Gerais, Goiás, Pará, Rio de
Janeiro, Ceará e Rio Grande do Sul, com os anos de referência 2015-2021. A
leitura dos dados foi feita no Software R através de: teste de normalidade
(método Spearman), Matriz de dispersão e correlação, Boxplot resumos
numéricos e histograma.

Análise de Dados

1.4

A primeira parte da análise foi feito o teste de normalidade com o nível de


significância igual a 0,5.

No Ho: As variáveis seguem distribuição normal.


No H1: As variáveis não seguem distribuição normal.
Dado o nível de significância em 0,5 o p valor se mostra menor sendo 0,02735

P valor 0,02735< nível de significância 0,5, ou seja, rejeita-se a hipótese Ho,


mostrando que as variantes não seguem distribuição normal.
Optamos pelo método de Spearman pois as variáveis analisadas abaixo não
seguem dispersão normal (nestes casos a mediana se torna um fator melhor
estimador que a média), logo, este se faz mais adequado.
Nos dados acima, a partir da matriz de dispersão e de correlação, foram
analisadas as variáveis. Os dois recursos anteriormente citados mostram a
correlação entre consumo de ultra processados com o nível de obesidade grau
III, peso adequado e sobrepeso de adultos acima dos 20 anos.
Os dados mostram que obesidade peso adequado e sobrepeso se relacionam
com a correlação de nível forte > 0,7 ou -0,7 (na matriz de dispersão o grau de
dependência se demonstra pelas bolinhas mais próximas da reta) e são
inversamente proporcionais, na medida que o aumento de uma corresponde a
diminuição da outra.
Já a correlação do consumo de ultra processados e as demais variáveis se
mostra de nível fraco diretamente proporcional em peso adequado (0,1996101)
e sobrepeso (0,05489352) e inversamente proporcional em obesidade grau III
(-0,1296636), embora a literatura conteste este resultado afirmando que estão
fortemente relacionadas.
2.4

O Boxplot fornece informação sobre as seguintes características do conjunto


de dados: localização, dispersão, assimetria, comprimento da cauda e outliers.
Os outliers seriam valores atípicos que se encontram no gráfico, valores que
destoam da maioria.

Este acima correlaciona as variáveis consumo de ultraprocessados para


homens e para mulheres, na primeira caixa (consumo de ultra processados
feminino) observamos a presença da mediana próxima de Q1, indicando que
os dados desta são positivamente assimétricos, a variância do Consu. Ultra.
Fem. é um pouco menor que no Consu. Ultra. Masc., este, apresenta também
um consumo mais alto em comparação e amplitude elevada de valor máximo e
mínimo, sua mediana está mais próxima de Q3 o que indica dados
negativamente assimétricos. Ambos dados apresentam mais de um outliers.
Na medida de resumo acima mean é a média de consumo de ultra
processados diferenciados por masculino e feminino, o sd é o desvio padrão,
quanto maior for o desvio maior será a variabilidade, menos achatado o boxplot
será. O IQR é o intervalo interquartílico, ele corresponderá ao tamanho da
caixa do boxplot. 0% é o valor mínimo e 100% é o valor máximo. O 50 %
correspondem a mediana (linha que se encontra ao meio da caixa). 25%
correspondem ao Q1 e 75% correspondem ao Q2.
3.4

Nos dados acima, a partir da matriz de dispersão e de correlação, foram


analisadas as variáveis. Os dois recursos anteriormente citados mostram a
correlação entre consumo de ultraprocessados com a hipertensão e diabetes
de adultos a partir dos 20 anos.
Os dados mostram que diabetes e hipertensão se relacionam com a correlação
de nível moderado < 0,7 ou -0,7 (na matriz de dispersão o grau de
dependência se demonstra pelas bolinhas mais próximas da reta) e são
diretamente proporcionais, na medida que o aumento de uma corresponde ao
aumento da outra.
Já a correlação do consumo de ultraprocessados e as demais variáveis se
mostra de nível fraco diretamente proporcional em diabetes (0,01766414) e
hipertensão (0,03974388), embora a partir da literatura conclua-se que existe
sim correlação.

4.4
No gráfico acima, foi utilizado um gráfico de Boxplot, para analisar o consumo
de alimentos ultraprocessados entre os anos de 2015-2021. Mostrando que ao
passar dos anos, mostra-se um comportamento de queda nos anos de:
2016,2017,2018,2019, e um gradiente de aumento nos últimos dois anos
estudados.

É evidenciado através de diversos artigos e reportagens que uma das causas


do crescente consumo de alimentos ultraprocessados o distanciamento da
culinária tradicional, que se vale dos alimentos in natura (algo que tem se
tornado cada vez menos presente no dia a dia das pessoas e famílias). Que
pode ser explicado não somente por mudanças no estilo de vidas das famílias,
causadas pela urbanização e tecnologia, mas também pelo investimento da
indústria alimentícia ao longo dos anos no desenvolvimento das características
dos produtos ultraprocessados para torná-los atrativos, hiperpalatáveis, prontos
para o consumo, duráveis, práticos e disponíveis para todos os extratos sociais
da população (Consumo de alimentos ultraprocessados…).
Resultados

1.4

Os dados mostram que obesidade peso adequado e sobrepeso se relacionam


com a correlação de nível forte e são inversamente proporcionais, a correlação
do consumo de ultra processados e as demais variáveis se mostra de nível
fraco diretamente proporcional em peso adequado e inversamente proporcional
em obesidade grau III, embora artigos científicos mostrem resultados adversos,
indicando forte correlações entre estas variáveis.

2.4

O boxplot correlaciona as variáveis consumo de ultraprocessados para homens


e para mulheres, no primeiro indicando que os dados desta são positivamente
assimétricos, a variância do Consu. Ultra. Fem. é um pouco menor que no
Consu. Ultra. Masc., este apresenta também um consumo mais alto, na
segunda a mediana aproximada de Q3 indica dados negativos e assimétricos. .
Ambos dados apresentam mais de um outliers.

Conclusão

1.4

O combate à obesidade permanece sendo desafio global, a doença se agrava


de forma acumulativa e pode representar diminuição da expectativa de vida em
até 20 anos no individuo, cresce de forma silenciosa e é mortal. Existem
inúmeros fatores que podem levar o indivíduo a adoecer, dentre estes o fator
genético, o sedentarismo e utilização de drogas ilícitas (como álcool e cigarro),
entretanto o consumo alimentar é seu principal determinante. A ingestão de
alimentos ultra processados, com alto teor de sódio, carboidratos e poucas
fibras alimentares e valor nutricional mínimo contribui para a perpetuação desta
doença na sociedade (O CONSUMO..., 2021).

2.4

No estudo de 2019 trazido pelo censo do IBGE fala sobre as 57 mil mortes pelo
consumo de alimentos ultra processados no Brasil, destas 33.900 foram de
homens, são os mais afetados, o estudo analisou também o consumo de ultra
processados com a incidência de alguns tipos de câncer e doenças
cardiovasculares, enquanto isso cada vez mais e mais o arroz e feijão perdem
o lugar na mesa do brasileiro (CONSUMO..., 2022).
Bibliografia:

AFIUNE, Giulia. Como as gigantes de ultraprocessados avançaram sobre o estômago do


brasileiro. O Joio e o Trigo, [S. l.], p. 5, 6 abr. 2020. Disponível em:
https://ojoioeotrigo.com.br/2020/04/como-as-gigantes-de-ultraprocessados-dominaram-o-
estomago-do-brasileiro. Acesso em: 28 nov. 2022.

Brasil. Ministério da Saúde (MS). Guia alimentar para a população brasileira.


Brasília: MS; 2014;

Martins AP, Levy RB, Claro RM, Moubarac JC, Monteiro CA. Participação
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Pinheiro AR de O, Freitas SFT de, Corso ACT. Uma abordagem epidemiológica


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Pipitone MAP. Educação para o Consumo de Alimentos. Hig. aliment. 2005


19(132):18-23;

A propaganda de alimentos: orientação, ou apenas estímulo ao consumo?

Bianca Ramos MarinsI ; Inesita Soares de AraújoII; Silvana do Couto JacobIII

Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz;

O CONSUMO de alimentos ultraprocessados é determinante no


desenvolvimento da obesidade. Arquivos Brasileiros de Educação Física, [s. l.],
1 jan. 2021;
O consumo de alimentos ultraprocessados e fatores associados em adultos:
evidências do inquérito ISACamp 2008-2009.

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