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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIVINÓPOLIS

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA - DIVINÓPOLIS


GRADUAÇÃO NUTRIÇÃO

FLÁVIA MARÍLIA DE SOUSA PEREIRA

JÚLIA CRISTINA FARIA FREITAS

LUANA GONTIJO DUARTE

ALIMENTAÇÃO POR CONVENIÊNCIA:


IMPACTO NO GANHO DE PESO EM ADULTOS.

DIVINÓPOLIS, 2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIVINÓPOLIS

FLÁVIA MARÍLIA DE SOUSAPEREIRA

JÚLIA CRISTINA FARIA FREITAS

LUANA GONTIJO DUARTE

ALIMENTAÇÃO POR CONVENIÊNCIA:


IMPACTO NO GANHO DE PESO EM ADULTOS.

Trabalho de conclusão do curso, apresentado


para obtenção do grau de Bacharel em
Nutrição do Centro Universitário – UNA
Divinópolis.

Profa. Maria Amelia de Almeida Macedo

DIVINÓPOLIS, 2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIVINÓPOLIS

FLÁVIA MARÍLIA DE SOUSA PEREIRA

JÚLIA CRISTINA FARIA FREITAS

LUANA GONTIJO DUARTE

ALIMENTAÇÃO POR CONVENIÊNCIA:


IMPACTO NO GANHO DE PESO EM ADULTOS.

Trabalho de Conclusão deCurso, apresentado


para obtenção do grau de Bacharel em
Nutrição do Centro Universitário – UNA
Divinópolis.
Profa. Maria Amélia de Almeida Macedo

DIVINÓPOLIS, 2021

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIVINÓPOLIS

“A nossa sorte somos nós que fazemos, através de muito estudo, esforço e compromisso..”
Queremos dedicar primeiramente a Deus mais essa vitória em nossas vidas, foi ele que nos deu
sabedoria, inteligência e nos guiou para chegarmos até aqui. Aos nossos pais, nossas famílias,
amigos e todos aqueles que tiverem presente ao longo dessa caminhada. É com muito amor que
lhes dedicamos este trabalho.
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIVINÓPOLIS

RESUMO

Durante o passar dos tempos, ocorreram mudanças significativas no comportamento alimentar dos
indivíduos devido à evolução da sociedade. Pessoas que antes se alimentavam em casa, com
alimentos saudáveis e produzidos sem tanto agrotóxicos, passaram a se alimentar de uma forma
conveniente pelos compromissos e afazeres do dia a dia. A frequência dessa alimentação por
conveniência ficou cada vez maior e essa situação tem sido associada com o ganho de peso da
população. As escolhas alimentares ao comer por conveniência, geralmente são escolhas com um alto
teor de calorias, o que contribui para a ingestão excessiva de energia. É importante analisar a
associação entre alimentação por conveniência e o aumento do peso corporal em adultos maiores de
18 anos, pois as consequências são graves, como por exemplo a obesidade.Este trabalho analisou a
evolução da alimentação ao longo do tempo, bem como, os possíveis mecanismos da relação entre
consumo de alimentos convenientes e o ganho de peso da população. Constatou-se que os padrões
alimentares foram mudando ao longo dos tempos. O consumo invariável e excessivo de alimentos
industrializados, trouxeram como consequencia o aumento de forma alarmante do número de pessoas
com sobrepeso e obesas.

Palavras-chave: Nutrição; Dieta e Alimentação; Alimentos convenientes; Consumo de


alimentos;Obesidade.
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIVINÓPOLIS

ABSTRACT

Over time, there have been significant changes in the eating behavior of individuals due to the evolution
of society. People who used to eat at home, with healthy food and produced without so much pesticide,
started to eat in a convenient way due to their daily commitments and tasks. The frequency of this food
for convenience has been increasing and this situation has been associated with the population's weight
gain. Food choices when eating for convenience are often high-calorie choices, which contribute to
excessive energy intake. It is important to analyze the association between convenience food and
increased body weight in adults over 18 years of age, as the consequences are serious. This work
analyzed the evolution of diet over time, as well as the possible mechanisms of the relationship between
consumption of convenient foods and population weight gain. It was found that eating patterns changed
over time. The invariable and excessive consumption of processed foods brought as a consequence
the alarming increase in the number of overweight and obese people.

Keywords: Nutrition; Diet and Food; Convenient food; Food consumption; Obesity.
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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Crescimento food service x varejo (VAR % 2019/2009) ...................................................19

Gráfico 2 –Prevalência de excesso de peso e de obesidade na população adulta de 20 anos ou mais


de idade, por sexo – Brasil – 2002 – 2003 a 2019...............................................................................22
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................................8
2 JUSTIFICATIVA................................................................................................................................10
3 OBJETIVOS......................................................................................................................................11
3.1Objetivo geral...................................................................................................................................11
3.2 Objetivo específico......................................................................................................................... 11
4 MÉTODO...........................................................................................................................................12
5 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PADRÃO ALIMENTAR......................................................................13
5.1 Alimentos como elementos sociocultural e econômico....................................................................14
5.2Mudanças e tendências dos hábitos alimentares.............................................................................16
6A ALIMENTAÇÃO POR CONVENIÊNCIA.........................................................................................18
6.1 A escolha alimentar, alimentos convenientes e a conveniência na alimentação..............................20
6.2 A obesidade como consequência da alimentação por conveniência...............................................21
7CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................................24
8REFERÊNCIAS..................................................................................................................................25
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1 INTRODUÇÃO

As mudanças no estilo de vida da população ocasionaram modificações importantes nos


hábitos alimentares das pessoas, como o aumento na ingestão de alimentos prontos para consumo e
na realização de refeições fora do lar. Em países desenvolvidos a alimentação realizada fora do
domicílio contribui com uma parcela de até 39% das calorias consumidas diariamente. Nas áreas
urbanas do Brasil, 18% das calorias são provenientes de alimenos preparados e consumidos fora de
casa. (BATISTA FILHO, M.; SOUZA, A. I.; MIGLIOLO, T., SANTOS, M. C., 2020).
Tais mudanças têm aumentado a demanda por conveniência no consumo de alimentos. Os
consumidores que trabalham mais horas, gastam mais tempo no trânsito e desejam maximizar seu
tempo de lazer cada vez mais limitado, optam por produtos e serviços que facilitem e se adequem à
vida agitada (LEE; LIN, 2013; SIEKIERSKI et al., 2013).
Com o aumento dessa demanda, os estudos sobre a conveniência em alimentos vêm se
multiplicando nos últimos anos. Em geral, tais trabalhos versam sobre preferências e atitudes dos
consumidores frente aos diferentes papéis que a conveniência pode desempenhar. As temáticas mais
recorrentes incluem: (1) a conveniência em termos de disponibilidade e acessibilidade aos alimentos
(conveniet shopping) (BUCKLEY et al., 2007; DAVIES, 1997; SKALLERUD et al., 2011); (2) a
conveniência em termos de praticidade de preparo, contando com alimentos processados em
diferentes níveis (BECK, 2011; DANIELS; GLORIEUX, 2015; LEE; LIN, 2013; OKRENT; KUMCU,
2014; WINANDY et al., 2013); (3) o consumo de alimentos fora do domicílio (food away 14 from home)
ou daqueles comprados prontos (take-out meals) (OKRENT; ALSTON, 2012; REZENDE; AVELAR,
2012).
Os alimentos preparados e/ou consumidos de forma conveniente vêm sendo apontados como
uma influência negativa na qualidade da dieta. Nesse sentido, é um dos fatores associados à dieta que
parece ter uma contribuição considerável no aumento das prevalências de excesso de peso (SOUZA,
HARDT, 2018).
Essa possível relação entre comer por conveniência e o aumento no ganho de peso tornou-se
um problema de saúde pública e diversos estudos vem sugerindo um impacto negativo desse hábito
sobre o peso corporal. Alguns especialistas do assunto apontam possíveis explicações para a relação
da alimentação por conveniência e o aumento no excesso de peso, com a elevada densidade
energética de alimentos preparados em restaurantes, fast food, conveniências e até mesmo dentro de
casa, porém, ingerindo alimentos processados, enlatados e congelados. A discussão dos mecanismos
que relacionam o consumo desses alimentos com o aumento do peso corporal ainda é insuficiente e
pouco se sabe sobre a plausibilidade dessa relação (SOUZA, & HARDT, 2018).
Fenômenos mundiais como a globalização, industrialização e urbanização foram determinantes
na transformação do estilo de vida da população. As fronteiras rompidas pela cultura estrangeira, o
markentig intenso e apelativo das grandes indústrias, entre outros fatores, em conjunto com o ritmo de
9

trabalho das pessoas, com a exigência de bons resultados constantes, remodelaram estruturas
complexas, em especial a dos hábitos alimentares.Tornou-se mais conveniente consumir alimentos
ultraprocessados e de rápido preparo.
O número de pessoas com sobre peso teve um grande aumento nos últimos tempos e está
diretamente ligado ao hábito de ingestão de comidas mais práticas e rápidas no preparo, independente
da quantidade calórica do alimento.
A suposta ideia de facilidade em sair e comer em lugares mais rápidos, ou seja até mesmo em
casa, onde é mais “fácil”, pedir um sanduíche, acompanhado de batata fritas e refrigerante, do que
fazer uma comida de verdade, com verduras e legumes, tem inúmeras consequências.
10

2 JUSTIFICATIVA

O perfil alimentar dos indivídios passou por grandes modificações, devido a novos padrões de
consumo engendrados por transições nas relações econômicas globais, o que permeou o acesso e a
absorção de novas culturas e seus costumes, dentre eles o alimentar.
No entanto, mudanças nos padrões alimentares do consumidor advindos de fenômenos
econômicos e sociais mundiais, trouxe consigo um maior aumento de alimentos de mais facil preparo,
ou até mesmo de alimentos prontos para consumo. O que na maioria das vezes não é a melhor opção.
A vida corrida da maioria das pessoas, desencadeou o consumo de alimentos convenientes e devisso
esse consumo de forma desregrada, um aumento no peso da populção também está crescendo.
A realização de refeições por conveniência foi associada a uma menor qualidade da dieta,
incluindo baixo consumo de frutas, verduras e grãos integrais e um aumento de consumo de gorduras,
açúcares e sódio, o que favorece o ganho de peso da população. E não só aumento de peso, mas
também favoreceu a redução da saúde pela ingestão constante de alimentos não saudáveis.
Diante disso, uma analise se mostra importante para compreender o consumo de alimentos
convenientes e sua relação com o ganho de peso.
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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Delinear a evolução e mudanças dos hábitos alimentares e a relação da alimentação por


conveniência e o ganho de peso da população.

3.2 Objetivo específico

• Analisar as formas de alimentação conveniente;


• Apontar os principais determinantes das mudanças nos hábitos alimentares;
• Relacionar a alimentação por conveniência com o ganho de peso em adultos.
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4 MÉTODO

Foi realizada revisão narrativa e literatura por meio de pesquisa por artigos científicos nas bases
de dados eletrônicas Lilacs, Pubmed, Scielo.Foram utilizadas as palavras-chave Nutrição; Dieta e
Alimentação; Alimentos convenientes; Consumo de alimentos; Obesidade.
Foram usados também livros-textos recentes da área de nutrição relacionados ao tema,
informações técnicas oficiais e publicações governanamentais referentes a obesidade, que serão
obtidas na Coordenação de Nutrição no Ministério da Saúde, considerando a relevância e o valor
informativo do material e alguns artigos-chave selecionados a partir de citações em outros artigos.
Foram selecionados 125 artigos que apresentaram afinidade com o objetivo proposto. Em
seguida, foi feita uma leitura minuciosa e crítica dos manuscritos para identificação dos núcleos de
sentido de cada texto e subtemas, selecionados 46 artigos que sintetizam as produções.
Foram usadas as seguintes palavras-chave: Nutrição; Dieta e Alimentação; Alimentos
convenientes; Consumo de alimentos;Obesidade.
Foram encontrados como resultados da busca vários artigos em todas as bases de dados que
atendiam a necessidade da pesquisa. Foram lidos e analisados e seguem os seguintes critérios de
inclusão: são artigos experimentais, realizados com humanos.
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5 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PADRÃO ALIMENTAR

No Brasil, os hábitos alimentares formaram-se a partir da miscigenação das culinárias


indígenas, portuguesas e africanas e com o decorrer do tempo, foram adquirindo características e
peculiaridades. Cada região do país desenvolveu uma cultura popular rica e diversificada, onde figura
uma culinária própria, devido a influência das correntes migratórias e adaptações ao clima e
disponibilidade de alimentos. (PINHEIRO, 2019; BLEIL, 2017; ABREU et al, 2018).
Até o século XX, muitas descobertas técnico – científicas importantes levaram ao progresso e
também a modificação dos costumes alimentares: o aparecimento de novos produtos; a renovação de
técnicas agrícolas e industriais, as descobertas sobre fermentação, a produção do vinho, da cerveja e
do queijo em escala industrial, o beneficiamento do leite; os avanços na genética, que permitiram
aprimorar o cultivo de plantas e a criação de animais, a mecanização agrícola e ainda o
desenvolvimento dos processos técnicos para conservação de alimentos (PINHEIRO, 2019; ABREU
et al, 2018; MONDINI & MONTEURO, 2015).
Através da perpectiva histórica pode-se realizar a análise do consumo alimentar com base na
noção de “sistemas alimentares”. Esses seriam baseados em diferentes agentes sociais (produtores,
distribuidores, consumidores e Estado), estratégias e relações que se estabelecem entre eles, ao longo
do tempo, de modo que se possa compreender de que formar os hábitos alimentares se constroem e
evoluem (SOUZA, 2018). Além disso, é importante salientar que a formação e transformação de
hábitos alimentares com o passar dos tempos tem relação estreita com a cultura e com as crenças
(religiosas ou não) de um povo. (PINHEIRO, 2019; ABREU et al, 2018).
A história da alimentação é influenciada pela Revolução Industrial em vários aspectos,
sobretudo devido ao desenvolvimento das indústrias alimentares, pois os alimentos eram fabricados
artesanalmente e passaram a ser produzidos por poderosas fábricas, como revelam Flandrini &
Montanari (2017). A evolução das ciências e da tecnologia, ao longo dos anos, torna possível tomar
consciência da alimentação moderna, quer apreciando suas vantagens, quer apontando suas
inconveniências (ABREU et al, 2018; GARCIA, 2015).
O binômio urbanização/industrialização atua como fator determinante na modificação dos
hábitos alimentares, gerando transformações no estilo de vida de praticamente toda a população
mundial (GARCIA, 2015). Segundo Mezomo (2012), a alimentação de hoje é profundamente diferente
dos nossos antepassados, que viviam em contato com a natureza, alimentando-se de tudo que ela
lhes oferecia: animais abatidos (carne), frutas, gramíneas, folhas, raízes etc. Atualmente, diante da
variedade de facilidades que a indústria alimentícia provê, associada à falta de tempo e a praticidade
que é fornecida, é possível delinear e caracterizar os novos hábitos alimentares da população
brasileira.
14

Produto deste modus vivendi urbano, a comensalidade contemporânea se caracteriza


pela escassez de tempo para o preparo e consumo de alimentos; pela presença de
produtos gerados com novas técnicas de conservação e de preparo, que agregam
tempo e trabalho; pelo vasto leque de itens alimentares; pelo deslocamento das
refeições de casa para estabelecimentos que comercializam alimentos – restaurantes,
lanchonetes, vendedores ambulantes, padarias, entre outros; pela crescente oferta de
preparações e utensílios transportáveis; pela oferta de produtos provenientes de várias
partes do mundo; pelo arsenal publicitário associado aos alimentos; pela flexibilização
de horários para comer agregada à diversidade de alimentos; pela crescente
individualização dos rituais alimentares (GARCIA, 2015, p7).

De acordo com Garcia (2015), a globalização atinge a indústria de alimentos, o setor


agropecuário, a distribuição de alimentos em redes de mercados de grande superfície e em cadeias
de lanchonetes e restaurantes. Tem-se percebido a tendência dos brasileiros em adotarem novos
hábitos, criados pela indústria alimentar e marcados pelo consumo excessivo de produtos artificiais,
em detrimento de produtos regionais com tradição cultural (BLEIL, 2017; MONDINI, 2015; SOUZA,
2018).
A transição nutricional pode ser definida como o conjunto de mudanças nos padrões
nutricionais resultantes de modificações na estrutura da dieta dos indivíduos e que se correlacionam
com mudanças econômicas, sociais, demográficas e relacionadas à saúde(GARCIA,2015;
MONTEIRO & MONDINI, 2015; OLIVEIRA, 2017). Nesse ínterim, é indispensável evidenciar a
preocupação com a saúde da população, que tem sido seriamente afetada pelo turbilhão de mudanças
ocorridas nos hábitos alimentares, a partir da acelerada industrialização e das políticas estatais
vigentes (GARCIA, 2013; MONTEIRO & MONDINI, 2015; OLIVEIRA, 2017).

5.1 Alimentos como elementos sociocultural e econômico

A alimentação é necessidade básica e direito fundamental do ser humano, mas também é uma
prática que transcende o fator biológico, abrangendo elementos econômicos, como oferta e demanda,
abastecimento/disponibilidade, preços dos alimentos e renda das famílias.O fator social, onde existe
associações entre a alimentação e a organização social do trabalho, a diferenciação social do
consumo, os ritmos e estilos de vida. E também culturais, como os gostos, hábitos, tradições culinárias,
representações, práticas, preferências, repulsões, ritos e tabus (CANESQUI, 2017; OLIVEIRA, 2017).
O comportamento alimentar, segundo Jomori (apud POULIN, 2018), se desenvolve de acordo
com regras ditadas pelos grupos sociais. As regras citadas podem ser exemplificadas pelo modo que
um prato é preparado, pela sua montagem, pelos modos e posições das pessoas à mesa, divisão da
comida, assim como os horários das refeições – desse modo o indivíduo identifica-se com o que está
disposto à mesa através de uma representação simbólica. É fato também que à medida que se quer
dar a algum acontecimento significado emocional, o alimento está presente (ACKERMAN, 2019).
15

Claude Lévi-Strauss, importante antropólogo belga, em seu estudo sobre alimentação humana
observou que concepções sobre o que é bom ou ruim, comestível ou não, surgem do plano natural e
cultural e atuam como uma forma de comunicação, uma mensagem entre as pessoas, capaz de indicar
até mesmo saúde, bem-estar e doença (BRASIL, 2015). Como definido por João Chagas (apud
CASCUDO, 2011, p. 203), “Comer é revelar-se”.
Antes da ingestão de algum alimento é imprescindível seu reconhecimento e identificação, além
do entendimento do seu lugar na sociedade e sua classificação como apropriado. As diferentes
culturas relativas à “cozinha” são resultado do modo pelo qual as sociedades organizam seu universo
e atribuem valor e status aos alimentos (CASSOTTI et al.,2016 apud DOUGLAS, 2017).
A gastronomia, que incorpora os costumes e práticas alimentares de uma região, é um dos
principais vínculos com a sociedade, ela é um fator que age sobre o espírito de convivência,
aumentando-o. É ainda definida como sendo “conhecimento fundamental de tudo o que se refere ao
homem, na medida em que ele se alimenta” (SAVARIN, 2015).
O costume de se fazer refeições, no sentido em que essa palavra é entendida, começou quando
os homens pararam de se alimentar somente de frutos. Nesse momento iniciou-se a construção do
modelo de preparo e distribuição de alimentos, levando os membros da família a se reunirem. Tais
reuniões foram gradualmente estendidas às relações de vizinhança e amizade(SAVARIN, 2015).
Ao redor do mundo, amigos reúnem-se em refeições comemorativas; crianças festejam
aniversários com diversos tipos de comida; cerimônias religiosas oferecem alimentos por medo,
homenagem ou sacrifício e é conhecido que assuntos de alguma importância são tratados à mesa,
pois o homem alimentado não é o mesmo do que o homem em jejum; à mesa estes são mais
suscetíveis a acolher informações e submeter-se a influências (ACKERMAN, 2019; SAVARIN, 2015).
As pessoas rejeitam determinados alimentos por motivos variados, dentre eles o tabu. A
escolha do que será considerado “comida”, como, quando e porquê, está intrinsecamente relacionada
à cultura de um povo. Os judeus não comem porcos, os indianos, carne de vaca e muitos outros povos
não comem alimentos que são apreciados por outros (ACKERMAN, 2019; MACIEL, 2018).
Como já mencionado, o alimento trabalha com a emoção, mas também com a memória e com
os sentimentos. As expressões “comida da mãe” ou “comida caseira” ilustram este caso e evocam
infância, aconchego, segurança – ou seja, simplicidade. Também pode marcar um território,
conferindo-lhe uma identidade, caracterizando-o, indicando sistemas alimentares delimitados
(MACIEL, 2018).
As convenções socioculturais fazem parte da construção dos padrões e hábitos alimentares,
os quais iniciam-se na infância sendo realizados ao longo do tempo pelo processo de experiência e
aprendizagem que consiste na tentativa de imitação de outro indivíduo, assim como pela exposição
repetida aos alimentos, o que proporciona meios para as crianças estabelecerem um padrão de
aceitação alimentar (JOMORI, 2018).
Pode-se dizer que o consumo alimentar é determinado por um processo complexo, que
envolve, além dos elementos socioculturais já citados, também fatores econômicos, os quais são
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variáveis muito importantes na compreensão do porquê, o que e quando as pessoas compram


(AVELAR, 2017). Ainda que haja uma diversidade de hábitos alimentares entre os povos em diferentes
períodos históricos, a dieta sujeita-se às possibilidades econômicas dos indivíduos (SOUZA & HARDT,
2015 apud ARRUDA, 2017).
Neste contexto, a demanda e oferta de um determinado alimento dependem diretamente da
renda do consumidor e do preço do produto, sendo a restrição orçamentária um importante
determinante da escolha alimentar. No entanto, outros elementos como número de pessoas na família,
idade e escolaridade também atuam sobre o comportamento do consumidor. A influência desses
fatores pode levar o indivíduo a optar, por exemplo, por produtos com preços mais altos ou com uma
qualidade diferenciada (BATALHA, CHEUNG, SANTOS, 2015).
Outros aspectos a serem enfatizados em relação às práticas alimentares são a exploração dos
recursos disponíveis e a adaptação ao meio ambiente, onde tem-se como exemplos os alimentos
industrializados, técnicas de conservação (irradiação, congelamento, etc.), distribuição e venda em
grande escala. Ressalta-se aqui que as preferências e símbolos alimentares não são estáticos, sendo
possível estabilidade em alguns pontos da dieta, mas também inclinação a mudanças, as quais são
induzidas segundo interesses comerciais dos agentes do mercado (BATALHA, CHEUNG, SANTOS,
2015).

5.2 Mudanças e tendências dos hábitos alimentares

A transição nutricional ocorrida neste século resultou na chamada “dieta ocidental”


caracterizada pelos altos teores de gorduras, principalmente de origem animal, de açúcares e
alimentos refinados e baixos teores de carboidratos complexos e fibras (MONTEIRO et al, 2015). A
dieta ocidental e o aumento da obesidade estão amplamente associados com a alta prevalência de
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e a diminuição da qualidade de vida da população
(FERREIRA et al, 2015). Enquanto na Europa e nos países asiáticos a mudança de hábitos ocorreu
de forma gradual, o que se observa no ocidente é um acelerado ritmo de mudanças, tendo como
consequência doenças como diabetes, hipertensão e cardiopatias, que atingem todas as faixas etárias
e são configuradas como problemas de saúde pública. (BATISTA-FILHO & RISSIN, 2020;
FRANCISCHI).
O consumo de gorduras saturadas está fortemente associado à ocorrência de doença
coronariana, assim como estudos evidenciam que o consumo de gordura de origem animal está ligado
à ocorrência de câncer de cólon, próstata e mamas (SARTORELLI & FRANCO, 2015; QUEIROZ,
2018). Ainda envolvendo a composição lipídica da dieta, há evidências de que a obesidade possa se
relacionar à proporção de energia proveniente de gorduras, independentemente do total calórico da
dieta (MONTEIRO et al, 2015; OLIVEIRA & FISBERG, 2017; QUEIROZ, 2018).
Por outro lado, há igualmente evidências de que dietas ricas em legumes, verduras e frutas
cítricas encontram-se associadas à ocorrência menor de alguns tipos de câncer, como os de pulmão,
17

cólon, esôfago e estômago (KAG & VELASQUEZ-MENDELEZ, 2015). Embora os mecanismos


subjacentes à associação não estejam completamente esclarecidos, sabe-se que essas dietas são
usualmente pobres em gordura saturada e ricas em fibras e diversas vitaminas e minerais (KAG &
VELASQUEZ-MENDELEZ, 2015; BATISTA-FILHO et al, 2020).
Os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar - POF (2018) que analisam a disponibilidade
domiciliar de alimentos adquiridos pelas famílias brasileiras confirmam que as mudanças de padrão
alimentar no país têm sido, de modo geral, favoráveis do ponto de vista dos problemas associados à
subnutrição (devido ao aumento da participação de alimentos de origem animal na alimentação) e
desfavoráveis no que se refere às doenças carenciais como anemia e hipovitaminose A, a obesidade
e às demais DCNT (devido ao aumento da ingestão de gorduras em geral, gorduras de origem animal
e açúcar e diminuição com relação a cereais, leguminosas e frutas, verduras e legumes). Associadas
ao sedentarismo, essas tendências podem explicar as taxas de prevalência de excesso de peso e da
obesidade entre adultos (MONDINI & MONTEIRO, 2015; OLIVEIRA, 2014).
Segundo Oliveira (2017), as mudanças observadas nas pesquisas e estudos realizados
refletem, de um lado, as variações no preço relativo de gêneros alimentares levando a substituições,
como carnes, feijão e outros gêneros industrializados e, por outro lado, o aumento do interesse em
relação à nutrição e à saúde pelo fenômeno da transição epidemiológica que vem tomando lugar no
Brasil.
A cultura alimentar é, ainda, complementada por outros canais, sendo os supermercados os
mais significantes. A possibilidade de adquir alimentos em grandes redes de supermercados faz com
que o consumidor se deslumbre com as diversas opções, com a novidade das indústrias alimentícias
e com os preços cada vez mais atrativos de alguns gêneros (devido à competição entre várias marcas),
não agregando grande importância aos aspectos relacionados com o valor nutricional do alimento que
estão adquirindo. (ALMEIDA et al, 2018; GARCIA, 2015; OLIVEIRA, 2017).
Quando se diz que a ascensão econômica de um país se reflete no padrão de consumo
alimentar e conseqüentemente no perfil de morbimortalidade da população, deve-se buscar entender
como e porque a prosperidade econômica atinge as diferentes culturas em uma mesma direção. As
mudanças no padrão alimentar devem ser entendidas por seus aspectos objetivos e subjetivos,
levando-se em consideração a urbanidade como contexto da comensalidade
contemporânea(VASCONCELOS, 2016; BATISTA-FILHO & RISSIN, 2020).
Há, na produção e no consumo, um caráter cosmopolita. Quanto mais afluente se torna uma
sociedade, maiores necessidades vão sendo criadas pelo mesmo processo em que são satisfeitas. As
necessidades dependem da produção, podendo surgir antes mesmo dela, através da publicidade ou
do marketing. Além disso, a publicidade e a ideologia de consumo ganham importância, favorecendo
a formação de novos hábitos alimentares e influenciando as escolhas de consumo. (ALMEIDA et al,
2018; SANTOS, 2015).
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6 A ALIMENTAÇÃO POR CONVENIÊNCIA

Uma causa importante a ser analisada pela sociedade de um modo geral é o número de
pessoas que estão obesas e as consequências que são enfrentadas por essas pessoas, exemplo disso
é o aumento de doenças crônicas, especialmente em países de baixa renda. Um dos motivos desse
elevado número de pessoas obesas é o consumo de produtos 'rápidos' ou 'convenientes' prontamente
disponíveis. Alimentos e bebidas processados para comer ou prontos para aquecer
(Mozaffarian, 2011).
No Brasil, mesmo com o grande consumo de alimentos frescos, observa-se um crescimento de
6,9% na demanda por produtos convenientes. Com as mudanças nos hábitos alimentares, acarretadas
pela vida moderna, tais produtos ganham terreno. Nesse cenário, o setor alimentício vem passando
por um dinamismo sem precedentes nos anos recentes. Os processadores e distribuidores de
alimentos lidam com inovações intensas, as quais transformam a forma com que os indivíduos
consomem seus produtos (REZENDE; AVELAR, 2017).
Conforme pesquisa realizada “Brasil Food Trends 2020”, 34% dos consumidores entrevistados
pela pesquisa prezam mais a praticidade e a conveniência na hora de escolher os alimentos que vão
consumir. (Ibope, 2020).
O Ministério da Saúde (2014) aponta alguns fatores que favorecem o consumo de alimentos
convenientes no Brasil, tais como, o baixo número de fontes de informações confiáveis sobre saúde e
alimentação, a ampla oferta (fácil acessibilidade) e propaganda de alimentos processados, o custo de
alimentos in natura, por vezes mais altos que os dos alimentos processados (exemplo: carne versus
hambúrguer), o enfraquecimento da transmissão de habilidades culinárias, a disponibilidade cada vez
menor de tempo disponível para o provisionamento alimentar e a publicidade desses alimentos,
frequente em todas as mídias.
A comida por conveniência é considerada como um novo hábito alimentar gerado pela vida
moderna. A variedade de produtos disponíveis é imensa. Acabou o tempo em que as pessoas
conheciam os ingredientes e sabiam quais temperos e ervas ficam bem em determinados pratos.
Depois que a onda dos “fast food” tomou conta do mundo, está cada vez mais normal as pessoas se
alimentarem de forma mais cômoda (SOLIZ, 2019).
As tendências de “conveniência e praticidade” são motivadas, principalmente, pelo ritmo de
vida nos centros urbanos e pelas mudanças verificadas na estrutura tradicional das famílias, fatores
que estimulam a demanda por produtos que permitem a economia de tempo e esforço dos
consumidores. Por isso cresce a demanda por refeições prontas e semiprontas, alimentos de fácil
preparo, embalagens de fácil abertura, fechamento e descarte, com destaque para produtos para o
preparo em forno de micro-ondas, além de serviços e produtos de delivery. (SOLIZ, 2019).
A vida moderna está mudando os hábitos alimentares. Nas grandes cidades, é comum ver as
pessoas comendo na rua nos horários das refeições principais, hambúrger, pizza, döner kebab
(churrasquinho grego), batatas fritas com maionese ou ketchup, acomphados de refrigerantes e sucos
19

enlatados. Um número cada vez menor de pessoas cozinham como se fazia décadas atrás e muitos
nem sequer empregam mais os alimentos frescos básicos (SOLIZ, 2004).
Vejamos um gráfico que apresenta a porcentagem de distribuição do mercado de alimentos:
Gráfico 1: Distribuição do mercado de alimentos

De acordo com Vilas Boas (2012) citado por Dantas (2017), o mercado consumidor tem
clamado, já há muito tempo por produtos convenientes. Tal conveniência emergiu na década de 70,
na forma de embutidos e enlatados e com a evolução das cadeias de fast food, levando aos
consumidores alimentos processados, pobres em fibras, vitaminas e minerais e ricos em sal, gorduras
e açúcar. Um reflexo desta mudança equivocada nos hábitos alimentares do consumidor ficou
aparente no aumento da incidência da obesidade e de doenças cardiovasculares, dentre outros males.
Nesse cenário, a disponibilidade domiciliar de alimentos ultraprocessados no Brasil é
positivamente associada com uma alta prevalência de excesso de peso e obesidade, para todos os
grupos de idade.
No Brasil, cerca de 34% da população preza por uma alimentação mais prática, mais
conveniente. Essa necessidade de rapidez, muita das vezes é atendida por comidas congeladas,
produtos enlatados, frituras, entre várias outras (IBOPE, 2020).
Portanto, há razões para acreditar que o alto consumo de produtos alimentícios prontos para
20

consumo em geral é uma causa de ganho de peso, obesidade e distúrbios e doenças associadas
(MONTEIRO, 2010).

6.1 A escolha alimentar, alimentos convenientes e a conveniência na alimentação

A escolha alimentar consiste numa combinação de fatores biológicos, individuais, contextuais,


epidemiológicos e normativos que guiam os fatores cognitivos e motivacionais para a seleção de
alimentos (BONKE, 1992; BOTONAKI; MATTAS, 2010; CARDELLO, 1999; FURST et al. 1996;
MAHON et al., 2016; OLIVEIRA; THEBAUD-MONY, 1997; POULAIN; PROENÇA, 2013). Assim,
diversas disciplinas buscam responder ao porquê, como, quando e com quem os alimentos são
consumidos (KÖSTER, 2019).
Diferentes ciências contribuem para tal explicação: ciências sociais como a economia (teoria
microeconômica da demanda), a psicologia (motivos, atitudes, percepção, aprendizado), a sociologia
(socialização com consumidor, grupos de referência), a antropologia (cultura, tradição), a geografia
(fatores regionais), e as ciências da saúde (necessidades nutricionais, regulação fisiológica, fatores
sensoriais) (ALVENSLEBEN, 1997).
Assim, os padrões de consumo de alimentos são determinados não somente pelas
características intrínsecas ao alimento, mas também por uma série de características individuais,
sociais, espaciais (microambiente de compra) e ambientais (macroambiente de políticas e diretrizes)
(LARSON; STORY, 2019).
Tendo em vista essa vasta possibilidade de escolhas, o indivíduo pode escolher cozinhar seu
próprio alimento, a partir de produtos brutos, que vão consumir tempo e disposição, pois é necessário
comprar os alimentos, lavar, preparar, ou ainda, escolher fazer o uso de adquirir produtos totalmente
prontos para o consumo. Porém, é necessário levar em consideração que apesar da praticidade de
ingerir alimentos rápidos, o teor calórico de cada refeição é muito alto, podendo causar prejuízos às
pessoas que os consomem (POULAIN; PROENÇA, 2017).
Embora existam indivíduos que não têm tempo para cozinhar, há muitos que simplesmente não
estão inclinados a fazê-lo ou não têm as habilidades necessárias para tanto. (DE BOER et al., 2014).
No estudo de Beck (2017), por exemplo, os alimentos convenientes se mostraram proeminentes
mesmo em preparações que requeriam longos tempos de preparação, e o tempo médio que o
consumidor passou cozinhando não demonstrou afetar o consumo desses produtos, sendo que seu
uso se deu em diversas extensões por pessoas que cozinham, seja por cinco minutos, seja por três
horas.
O grau de uso dos alimentos convenientes varia entre indivíduos e entre domicílios. Grande
parte das práticas alimentares atuais incorpora alimentos convenientes ao cozinhar tradicional
(CARRIGAN et al., 2016), o que varia de acordo com a ocasião (ex., dia de semana, domingo), o humor
ou o ciclo de vida do indivíduo (DANIEL; GLORIEUX, 2015).
O contexto no qual um alimento é utilizado tem grande impacto sobre a interpretação do
21

consumidor acerca de sua capacidade de poupar tempos e esforços (DEGREEF, 2015), bem como da
adequabilidade do seu consumo. No estudo de Verlegh e Candel (1999), a aceitabilidade do consumo
de alimentos convenientes, principalmente na presença de outros, dependeu principalmente da
companhia para a qual a refeição era preparada (jantar com amigos, jantar com a família, jantar
sozinho, etc.). As entrevistadas na pesquisa não arriscariam oferecer alimentos de conveniência aos
convidados de um jantar, dado que, em ocasiões especiais, há uma expectativa de que a comida seja
especialmente boa (KHAN; HACKLER, 1981).
No estudo de Jaeger e Meiselman (2014), as percepções de tempo e esforço despendidos em
determinados pratos foram proporcionais entre si e inversamente proporcionais à percepção de
conveniência. Uma lasanha preparada em casa, por exemplo, foi vista como menos conveniente que
uma omelete de presunto e queijo, que, por sua vez, foi percebido como menos conveniente que a
encomenda de uma pizza. Ainda, por muitos dos entrevistados, a lasanha caseira foi apontada como
uma empreitada que somente seria possível num final de semana.
Se de um lado a percepção da conveniência num alimento influencia positivamente sua
avaliação (FURST et al., 1996; OLSEN et al., 2017), de outro, os consumidores podem observar
diversos prejuízos no seu consumo. Assim, o consumo de alimentos convenientes depende de um
contrabalanço individual de seus aspectos positivos e negativos percebidos (NÄRVÄNEN et al., 2013),
sendo que muitos consumidores mostram atitudes ambivalentes em relação a esses produtos.
Carrigan et al. (2016) afirmam que o paradoxo da conveniência é evidente: enquanto ela
permite que os consumidores amenizem a complexidade envolvida nas diferentes demandas
alimentares de cada membro da família, promove a fragmentação da refeição familiar, na qual todos
consomem os mesmos pratos. Enquanto os atributos dos alimentos de conveniência são
filosoficamente valorizados (economia de tempo, esforços e dispensa de tarefas desagradáveis),
psicologicamente ainda existem dúvidas sobre sua eficácia universal.
Existe uma norma cultural em favor do dispêndio de algum tempo e energia para o preparo de
um prato (COSTA et al., 2017). Além disso, ao se cozinhar a partir de ingredientes brutos, existe o
controle da qualidade e da origem dos ingredientes (CARRIGAN et al., 2016). Nesse contexto, Warde
(1999) ressalta a existência da oposição contextual entre “conveniência” e “cuidado” (no sentido de
afeição) no contexto do preparo de alimentos, insinuando que, de alguma maneira, as pessoas que
utilizam alimentos de conveniência estão falhando em seus deveres, como se uma certa desaprovação
moral acompanhasse esses produtos.

6.2 A obesidade como consequência da alimentação por conveniência

A obesidade pode ser qualificada de duas maneiras: obesidade exógena – aquela vinda de
fatos externos e socioambientais e a obesidade endógena, advinda de situações endócrina ou
genética. Observou-se que somente 5% dos casos de obesidade são por fatos endógenos. Todo o
restante, ou seja, 95% se referem à obesidade vinda de situações sociais, ou melhor, obesidade
22

exógena (BLEIL, 2017).


A obesidade exógena é uma situação nutricional de origem multifatorial, ou seja, é causada por
vários fatores. Dentre eles, cita- se: ter a condição de sobrepeso na família, ter os pais obesos,
sedentarismo, o nível socioeconômico baixo, a escolaridade e hábitos alimentares não saudáveis.
Além disso, as influencias sociais tem grande responsabilidade no hábito da família, não só pelos
meios de comunicação, mas também pelas redes sociais, pelo convívio e pela troca de informações
(MENDONÇA et al., 2017).
A transição nutricional é um processo de modificações sequenciais no padrão de nutrição e
consumo, que acompanha mudanças econômicas, sociais e demográficas e mudanças do perfil de
saúde das populações (PINHEIRO; FREITAS; CORSO, 2019).
Os autores Tavares, Nunes e Santos (2015), também reforçam que a obesidade é atualmente,
um dos principais problemas de saúde pública e que ela constitui-se uma epidemia mundial
responsável por aumento substancial da morbimortalidade. A alimentação em excesso e os distúrbios
alimentares, além da redução da prática de atividades físicas, são fatores comumente associados à
obesidade. É confirmada a importância do ambiente social, de se ter acesso à alimentação saudável
e a prática de exercícios físicos, quando o indivíduo possui a obesidade exógena, este fator se
sobrepõe a todos os demais (TAVARES et al., 2015).
Segundo dados do IBGE, a proporção de obesos na população com 20 anos ou mais de idade
mais que dobrou no país entre 2003 e 2019, passando de 12,2% para 26,8%. Nesse período, a
obesidade feminina subiu de 14,5% para 30,2%, enquanto a obesidade masculina passou de 9,6%
para 22,8%. (IBGE, 2019), como mostra o gráfico 2 abaixo:

Fonte: IBGE, Diretoria de pesquisa, Coornação do Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional de Saúde 2019
23

A intensa propaganda de alimentos que influencia nas escolhas alimentares das pessoas é
motivo de debates frequentes, esse é um dos motivos e causas dos problemas de má alimentação da
população. Esse fato levou o governo a buscar maneiras para disciplinar as propagandas de alimentos,
especialmente as destinadas ao público infantil e adolescente, por achar que induzem o aumento do
consumo de fast-food, ou alimentos ricos em gorduras, em açúcar, em sal e pobres em nutrientes e o
baixo consumo de leguminosas, verduras, vegetais e frutas (BLEIL, 2017).
É observado na maioria dos artigos selecionados,que a obesidade está relacionada
basicamente com as mudanças de hábitos de vida e a não disposição para mudança de atitudes, além
da falta de compreensão do obeso sobre os danos que uma alimetação conveniente pode lhe causar
(PINHEIRO et al., 2019).
24

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O consumo de alimentos convenientes, seja fora de casa, através de lanches com alta
quantidade de gordura e açúcar, ou até mesmo dentro de casa, consumindo alimentos enlatados,
congelados, ultraprocessados, entre outros, aumentou com frequencia nas últimas décadas e é um
fator potencial que contribuiu no aumento de peso na vida de muitas pessoas.
Com o passar do tempo e com as mudanças de hábitos que foram da sociedade,
transformações aconteceram no estilo de vida das pessoas, sobretudo no que diz respeito aos
costumes alimentares da população brasileira. É notória a mudança nos hábitos alimentares em todo
o mundo na tentativa de agregar tempo e praticidade ao estilo de vida moderno. A transição nutricional
pela qual a sociedade tem passado é caracterizada por uma dieta extremamente calórica, rica em
açúcares e gorduras e insatisfatória quanto ao aporte nutricional, revelando as conseqüências que
uma alimentação sem qualidade pode trazer do ponto de vista da saúde, como a obesidade,
hipertensão, diabetes, cardiopatias, dentre outras, além da diminuição qualidade de vida da população,
estão intimamente ligadas à alimentação do indivíduo.
Faz parte das atribuições do nutricionista enquanto profissional e formador de hábitos
alimentares, atentar para estas modificações no panorama da alimentação brasileira, atuando
diretamente na adoção de hábitos alimentares saudáveis e que visem a promoção da saúde e
qualidade de vida da população e não uma alimentação conveniente, que traz mais paticidade no
presente, mas que as consequencias virão no futuro.
25

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