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Por fora bela viola, por dentro pão bolorento. Esse ditado popular é mais antigo que o
aparecimento do fast-food, mas sintetiza os resultados das mais recentes pesquisas
científicas sobre ele. Delicioso para o paladar de boa parte da população mundial, o seu
consumo tem sido relacionado ao distanciamento de padrões alimentares tradicionais,
hábitos e culturas regionais, além de variadas enfermidades.
O termo fast-food [comida rápida] apareceu nos dicionários na década de 1950 para definir
alimentos que podem ser preparados e servidos rapidamente. Hoje, além dessas
características, ele representa um estilo de comer padronizado, com baixo valor nutricional
—resultado de uma produção em larga escala que atende às demandas de tempo e
produtividade.
E não pense que fast-food é apenas aquele produto fornecido em grandes redes de
restaurantes. Itens como pizza, hambúrguer, frango frito, sanduíches, salgadinhos e
bebidas gaseificadas disponíveis em máquinas expostas em lojas de conveniência ou
postos de gasolina, entre outros, são também exemplos.
•A alta foi impulsionada por compradores jovens (até 29 anos) das regiões metropolitanas.
•Nos EUA, ele está presente em pelo menos 1 das refeições de 37% da população, em 2
dias consecutivos.
•70% dos brasileiros jovens (9 a 18 anos) o consomem 4 ou mais vezes por semana.
A razão para isso é que eles oferecem pouca ou nenhuma opção de alimentos naturais ou
minimamente processados, e ainda são barulhentos e desconfortáveis. Esses fatores
propiciam o comer além da medida e de forma acelerada.
Soma-se a isso o fato de que os itens oferecidos em seus cardápios são alimentos
classificados como ultraprocessados: formulações industriais que exigem a inclusão de
aditivos cosméticos: corantes, aromatizantes, realçadores de sabor, emulsificantes, entre
outros.
Contendo pouca ou nenhuma proteína, vitaminas e minerais, esses produtos são ricos em
sódio, açúcar, gorduras trans e calorias.
Sal, açúcar e gorduras estão na lista de ingredientes com propriedades hiper palatáveis, ou
seja, eles causam prazer, satisfação, mas podem viciar.
O acesso é facilitado: os estabelecimentos que os vendem estão abertos 24 horas por dia e
7 dias da semana, situam-se perto de escolas e do trabalho, além de pontos de ônibus,
metrô e praças de alimentação.
Oferecem porções grandes por preço "vantajoso". Os refrigerantes têm refil. Possuem
marketing dirigido a crianças e jovens, e venda casada com brinquedos de personagens
infantis.
Geralmente eles são produzidos à base de carne processada, açúcar adicionado, e são
ricos em sódio, além de gorduras trans, ingredientes relacionados ao aumento do colesterol
e problemas no coração.
Só para se ter uma ideia, a OMS recomenda um consumo máximo de 2.000 mg (2g) de
sódio ao dia. Um cheeseburguer bacon contém a média de 1.500 mg de sódio, ou seja, um
excesso que, se for regular, pode ter consequências para o resto da vida.
•Em 2022, 9% dos deles, com idades entre 18 a 24 anos, tinham IMC (índice de massa
corporal) igual ou maior que 30 (o valor considerado normal está entre 18,6 a 24, 9). Em
2023 esse percentual aumentou para 17,1%.
As mais recentes pesquisas que investigam a relação entre o humor e a nutrição têm
concluído que o estado nutricional, a qualidade da dieta, e o consumo adequado de
vitaminas e nutrientes parecem estar conectados à sensação de vitalidade e à saúde
mental.
Dietas ricas em açúcar e carboidratos refinados elevam a taxa de glicemia no sangue, além
da maior produção de insulina. A sensação de cansaço e alterações de humor podem
aparecer.
Um padrão alimentar com baixo teor de sódio e rico em vegetais, legumes e frutas melhora
os estados de humor, enquanto padrões com maior consumo de alimentos processados e
ultraprocessados estão associados a sintomas psicológicos e depressão.
Um recente estudo feito com estudantes mostrou que dietas equilibradas, baseadas em
frutas, verduras, cereais integrais, etc., colaboram para a melhora de quadros como
depressão, ansiedade, estresse e percepção de bem-estar geral, quando comparadas a
dietas de baixa qualidade. Dados publicados pela revista científica Health Education
Research.
Já faz tempo que os cientistas suspeitam da relação entre o alto consumo de produtos fast-
food e o desenvolvimento de tumores. As evidências mais recentes mostram que focar no
consumo de alimentos e bebidas in natura, deixando de lado os ultraprocessados, pode
funcionar como um escudo contra alguns tipos de câncer.
Isso significa que estratégias que buscam prevenir o câncer devem estimular esse tipo de
transição alimentar. Todos os dados foram publicados pela revista "Lancet Planet Health".
A discussão deve ser sobre como estimular o consumo de alimentos in natura e torná-los
tão acessíveis quanto o fast-food.
Considere que outros fatores, como genética e estilo de vida, podem influenciar a resposta
do corpo a esse tipo de produto.
Fontes: Camila Borges, nutricionista, doutora em nutrição e saúde pública pela FSP
(Faculdade de Saúde Pública) da USP, pesquisadora do Nupens-USP (Núcleo de
Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde); Juliana Maria Faccioli Sicchieri,
nutricionista do HCFMRP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto) da USP e professora colaboradora do curso de nutrição e metabolismo e do
Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Metabolismo da FMRP-USP; Rodrigo Pimentel,
nutrólogo e chefe da Divisão da Gestão do Cuidado do Hupes-UFBA (Hospital Universitário
Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia), que integra a rede Ebserh
(Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Revisão técnica: Camila Borges.
Referências:
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