O documento discute o cenário do consumo alimentar no Brasil, destacando:
1) Há uma combinação de alimentos tradicionais e saudáveis com alimentos industrializados de alto teor calórico.
2) As dietas urbanas incluem mais alimentos processados e as rurais incluem mais grãos, raízes e frutas.
3) Os desafios para políticas públicas incluem promover uma alimentação saudável em meio ao crescimento do consumo e das opções alimentares.
O documento discute o cenário do consumo alimentar no Brasil, destacando:
1) Há uma combinação de alimentos tradicionais e saudáveis com alimentos industrializados de alto teor calórico.
2) As dietas urbanas incluem mais alimentos processados e as rurais incluem mais grãos, raízes e frutas.
3) Os desafios para políticas públicas incluem promover uma alimentação saudável em meio ao crescimento do consumo e das opções alimentares.
O documento discute o cenário do consumo alimentar no Brasil, destacando:
1) Há uma combinação de alimentos tradicionais e saudáveis com alimentos industrializados de alto teor calórico.
2) As dietas urbanas incluem mais alimentos processados e as rurais incluem mais grãos, raízes e frutas.
3) Os desafios para políticas públicas incluem promover uma alimentação saudável em meio ao crescimento do consumo e das opções alimentares.
O cenrio nacional em relao ao consumo alimentar um mosaico interessante que combina alimentos tradicionais caractersticos da dieta brasileira, considerados alimentos saudveis, como o arroz e o feijo, com alimentos industrializados de alto teor calrico e pouco valor nutritivo. A permanncia na alimentao do brasileiro de vrios itens alimentares como feijo, preparaes a base de feijo, milho e preparaes a base de milho, batata doce, abboras, car, quiabo, ricos em micronutrientes como vitaminas e que contm alto teor de fibra e baixo ndice glicmico, um aspecto muito positivo. As fibras e o baixo ndice glicmico, que indica o aumento da glicemia no sangue aps ingesto dos alimentos, so caractersticas muito favorveis de uma alimentao, pois reduzem o colesterol e protegem quanto ao aparecimento de diabetes. Interessante que esses alimentos so mais consumidos nas faixas de menor renda e nas populaes que vivem na rea rural. Os dados sobre consumo alimentar no Brasil so bem abrangentes, pois tm sido realizadas vrias pesquisas de mbito nacional que retratam a alimentao do brasileiro. O ltimo inqurito realizado pelo IBGE, em parceria com o Ministrio da Sade, em 2008-2009, avaliou mais de 30.000 indivduos de todas as regies do pas. Todos os indivduos com 10 anos ou mais dos domiclios sorteados para a pesquisa preencheram dois dias de registro de todos os itens alimentares consumidos em casa ou fora de casa. Os dados desse inqurito permitiram distinguir as diferenas urbanas e rurais, por sexo, por faixa de idade e por regies do Brasil. Nas reas rurais, as mdias de consumo per capita dirio foram muito maiores para arroz, feijo, batata-doce, mandioca, farinha de mandioca, manga, tangerina e peixes. Em contraste, nas reas urbanas, destacaram-se produtos processados e prontos para consumo como: po, biscoitos recheados, sanduches, salgados, pizzas, e tambm refrigerantes, sucos e cerveja, caracterizando uma dieta com alto teor energtico. Alimentos como doces, refrigerantes, pizzas e salgados fritos e assados so considerados menos saudveis, pois sua ingesto leva a um grande consumo calrico. Alm disso, esses alimentos apresentam baixo teor de vitaminas e minerais necessrios como clcio, ferro e outros. Destaca-se que o consumo desses alimentos cresce com o aumento da renda per capita da populao e mais expressivo entre os jovens. Por outro lado, o consumo de frutas e verduras, alimentos protetores para doenas como o cncer e as cardiopatias, se reduz muito nas faixas de menor renda e tambm entre os mais jovens. Um aspecto muito negativo da alimentao no Brasil o alto consumo de acar e alto consumo de sal. A pesquisa do IBGE mostrou que a proporo de indivduos com ingesto de sdio acima do nvel seguro foi de 89% entre os homens e de 70% entre as mulheres adultas. Os alimentos com a maior concentrao de sdio so as carnes salgadas e as processadas presuntos, salames, salsicha, mortadela etc. , os queijos e os biscoitos salgados. Entre os adolescentes destaca-se a alta frequncia de consumo de biscoitos, linguia, salsicha, mortadela, sanduches e salgados e os valores per capita indicam um menor consumo de feijo, saladas e verduras. Pelo lado doce, o Brasil o segundo maior consumidor per capita de acar, e as bebidas adoadas correspondem a quase metade do consumo total de acar. Refrigerantes e sucos adoados esto presentes em quase todas as refeies e lanches realizados no Brasil. Cabe salientar que no h nenhuma necessidade de se beber lquidos quando nos alimentamos e que seu consumo casado lquidos e slidos , por um lado, uma estratgia de mercado e, por outro, uma necessidade biolgica causada justamente pela alta concentrao de sal ou de acar ou os dois nos alimentos processados. Nos pases desenvolvidos, aes visando reduzir o consumo de refrigerantes, pelo menos entre os jovens, tm sido uma das principais estratgias para reduo da obesidade. Por outro lado, as redes de fast food internacionais utilizam cada vez mais gigantescas pores de refrigerantes que, alm do tamanho, so de consumo liberado. Os alimentos consumidos fora de casa no Brasil so menos saudveis do que os consumidos no domiclio, porm, ainda pequena a parcela de alimentao fora do domiclio no Brasil, correspondendo a 16% das calorias dirias per capita. Esse dado interessante, pois indica que na capacidade das famlias de comprar e preparar os alimentos que se organiza o consumo alimentar no Brasil. Em outros pases, como nos Estados Unidos, quase toda alimentao j comprada em pores individuais e o ambiente domstico pouco influencia na preparao dos mesmos. O Brasil caminha a passos rpidos para um maior consumo fora de casa, que aumenta muito com o aumento da renda. Deveriam ser pensadas polticas de alimentao inovadoras que auxiliassem as famlias a produzir refeies de melhor qualidade nutricional. O desafio para as polticas de sade pblica em relao a uma alimentao saudvel no Brasil enorme, dado que recm incorporamos grande parcela da populao ao mundo do consumo e que suas opes aumentam todo dia. A mobilizao efetiva da populao e das polticas pblicas, at muito recentemente, se dava no campo de promover qualquer consumo alimentar e mitigar a fome. Assim, as aes do sistema de sade em relao ao tema da alimentao so ainda muito restritas e quase no existe mobilizao social em prol da alimentao saudvel. Embora haja uma avidez por notcias sobre comida e alimentao, temas sempre em pauta na mdia, no conhecemos reivindicaes organizadas de sindicatos, partidos ou grupos populares para melhorar a alimentao, vista cada vez mais como uma questo de opo individual. Equipamentos pblicos, particularmente os de educao e sade, devem ser fomentadores de mudanas tanto do consumo familiar, quanto do papel que esse ncleo desempenha nessas mudanas. O consumo de protenas no Brasil, cuja produo costuma ser cara, adequado. Temos oferta de calorias mais do que suficiente para alimentar toda populao e alguns produtos baratos, j de ampla produo, poderiam tirar da faixa de inadequao em nutrientes amplas parcela da populao. Por exemplo, consumir um bife de fgado duas vezes por ms tem impacto muito grande na reduo de anemia, inadequao de vitamina A, vitamina B1, associada ao beribri, vitamina B12, associada anemia megaloblstica. Incluir na alimentao pequenas pores de oleaginosas como castanha do Par, amendoim e castanha de caju reduziria a alta inadequao de consumo de vitamina E. Incluir sardinhas e outros peixes no consumo semanal reduziria muitas carncias como a de vitamina D. Adicionar um copo de leite dieta dos brasileiros reduziria em muito a inadequao no consumo de clcio, fsforo e vitamina B2. Adicionar no consumo dirio frutas e verduras nos livraria da inadequao de vitamina C e melhoraria a adequao de clcio, ou seja, mudanas que no Brasil so muito factveis do ponto de vista do abastecimento. Medidas de mbito coletivo, como a poltica de enriquecimento das farinhas do Ministrio da Sade em relao ao cido flico e ferro, j mostraram impacto muito positivo com reduo das prevalncias de inadequao desses nutrientes. Por outro lado, mudanas na forma de produo da indstria de alimentos so fundamentais. Por exemplo, as oleaginosas so, na sua maioria, apresentadas com alto teor de sal, o que desnecessrio. Os alimentos industrializados so as principais fontes do consumo excessivo de sdio, grande parte proveniente do sal adicionado aos alimentos. Um ponto de conflito para as polticas pblicas a viso do consumo alimentar como um ato de escolha individual entre os vrios bens disponveis. Mesmo no Brasil j existem crticas cristalizadas sobre o papel interventor do Estado na definio do que se deve ou no fazer ou comer no Brasil. Essas crticas vo alm dos representantes da indstria de alimentos, o que j seria esperado, pela possvel perda de mercados, mas conta inclusive com cientistas respeitados em suas reas de atuao que acreditam que indivduos devem fazer suas escolhas, mesmo as alimentares, sem nenhuma interferncia. Essa parece ser uma pequena armadilha, dado que no h grandes opes de escolha de alimentos a preos similares e, mais grave, no h como optar sem conhecer os riscos associados ao grande consumo de sal, de gordura saturada, de acar e poucas fibras, que caracterizam grande parte dos alimentos industrializados e de alta circulao no Brasil. Qual seria ento o papel das polticas pblicas no enfrentamento da inadequao da alimentao de grande parte da populao? O que fazer quando menos de 10% da populao atinge as recomendaes de consumo de frutas, verduras e legumes, o consumo de fibras 68% abaixo do recomendado e o consumo de leite tambm est muito aqum do recomendado? Por outro lado, excessivo o consumo de acar foi referido por 61% da populao na pesquisa do IBGE , e a prevalncia do excesso de consumo de gordura saturada (maior do que 7% do consumo de energia) de 82%. Quando itens isolados so analisados observa-se que os indivduos que referem consumir, por exemplo, biscoitos recheados, salgadinhos industrializados e refrigerantes so os que tambm consomem mais energia, gordura saturada, menos fibras e mais sal. No seria possvel, portanto, falar em adequao da alimentao sem tentar eliminar itens que concorrem para as altas prevalncias de inadequao. Olhando para a obesidade hoje um problema importante de sade pblica no Brasil , se, por um lado, fato que ela o resultado de um consumo de energia, qualquer que seja ele, maior do que o gasto, por outro lado, alguns alimentos de ampla circulao contribuem com muitas calorias e pouqussimos nutrientes. Por exemplo, se retirssemos da alimentao somente as bebidas aucaradas, a inadequao em relao ao consumo de acar se reduziria muito e tambm as calorias chamadas vazias, que no se fazem acompanhar de outros nutrientes. Essas bebidas esto disponveis em larga escala, so muito baratas e a pergunta : consumir produtos como as bebidas aucaradas deve ser uma opo nica e exclusivamente do mbito individual? Populaes mais informadas, como ocorre, por exemplo, na Dinamarca, optam por exigir aes do poder pblico, relacionadas maior oferta de produtos saudveis, como frutas, verduras e legumes, maior disponibilidade de tempo para produzirem refeies nutricionalmente adequadas para suas famlias, ausncia de alimentos no saudveis em creches e escolas, assim como em hospitais, afastando-se da tendncia crescente de maior consumo de alimentos de convenincia. Os dados do Brasil indicam vrios caminhos para fomentar possibilidades de alimentao mais saudvel, resta saber quanto tempo ainda vamos levar para estimular gestores, mdia e a populao em geral a discutir e buscar aes pblicas visando uma adequada alimentao saudvel que possa prevenir vrias doenas crnicas no transmissveis e, particularmente, o aumento exagerado que se observa das prevalncias de obesidade, particularmente entre as crianas e os jovens brasileiros. Rosely Sichieri professora do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Disponvel em: <http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=85&id=1042>.