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Paradoxalmente, fome e obesidade são problemas interligados.

Ambos são
indicadores de desigualdade social e econômica, de disparidades raciais na saúde,
conflitos de interesse entre os tomadores de decisão do governo e as empresas e um
abandono geral do Estado em sua responsabilidade de cuidar dos mais vulneráveis.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020), atualmente mais da
metade dos adultos apresenta excesso de peso (60,3%, o que representa 96 milhões
de pessoas), com prevalência maior no público feminino (62,6%) do que no masculino
(57,5%).

Principais causas da obesidade no Brasil


 1 – Distúrbios emocionais. ...
 2 – Uso de medicamentos. ...
 3 – Falta de atividade física. ...
 4 – Alimentação desequilibrada. ...
 5 – Predisposição genética.

Em 2022, o Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da


Pandemia de Covid-19 no Brasil apontou que 33,1 milhões de pessoas não têm
garantido o que comer — o que representa 14 milhões de novos brasileiros em
situação de fome.
As causas para a fome no Brasil compreendem desde questões sociais e econômicas
até políticas, destacando-se as desigualdades sociais, a pobreza, as crises (política,
econômica, sanitária), má distribuição de alimentos e fatores naturais.
Considerando a parcela de 20% dos indivíduos mais pobres do Brasil, 53%
passavam fome em 2019, e em 2021, o índice chegou a 75%. A interrupção no
desenvolvimento de diversos setores econômicos e os impactos na economia nacional
proporcionaram o agravamento do cenário da fome no Brasil a partir do ano de 2020.
A fome é um problema que afeta 811 milhões de pessoas em todo o mundo. Os
fatores que causam a fome no mundo são vários, dentre os quais estão a
desigualdade social, a pobreza, os conflitos e guerras, as crises econômicas, a má
distribuição de alimentos e o manejo inadequado dos recursos naturais.
Além dos sintomas diretos, a desnutrição e fome extrema também estão relacionadas
com maiores riscos de doenças crônicas, como pressão alta, doenças cardíacas,
diabetes e maior predisposição para obesidade

As duas faces do mesmo problema

Normalmente, quando a imagem de deficiência alimentar vem à mente,


pensamos em um indivíduo com fome e excessivamente magro, parecido com o
primeiro homem da charge acima. Contudo, mesmo que graus agudos de
deficiência alimentar sejam sinônimos de fome, nem sempre a carência
alimentar expressa automaticamente tal fenômeno.

A troca da qualidade dos alimentos com o objetivo de otimizar os recursos


financeiros é muito comum nas famílias de baixa renda, e a consequência é a
obesidade. Essa carência alimentar é mais difícil de identificar, porém, é
potencialmente perigosa. A má alimentação gera uma cascata de
vulnerabilidades, que muitas vezes se traduz em doenças. Essa fome,
parcialmente saciada com uma dieta pobre em carboidratos complexos e rica
em açúcares simples e gorduras, compromete ainda mais a qualidade de vida de
pessoas já prejudicadas socialmente.

A questão da alimentação não se resume apenas a ter comida na mesa ou não,


ela também envolve a qualidade, procedência e elaboração dessa comida. Não se
trata apenas de comer, mas de comer bem. A privação de comida, fome severa e
a obesidade são a ponta de um iceberg muito maior do que temos noção. As
deficiências de micronutrientes como ferro, vitamina A e iodo são crescentes.
Bilhões de pessoas sofrem hoje as consequências do modelo de alimentação fast
food, que mina a saúde e aumenta os casos de diabetes, alergias, colesterol alto,
hiperatividade infantil, etc.

Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay


Cada vez mais pessoas são empurradas a comprar produtos baratos e menos
nutritivos. Embora a situação de insegurança alimentar no Brasil tenha
diminuído com o auxílio de programas federais, a falta de qualidade do alimento
é um problema exponencial, que gera muita preocupação. A Organização
Mundial da Saúde (OMS) aponta a obesidade como um dos maiores problemas
de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de
adultos estejam com sobrepeso, e mais de 700 milhões, obesos. No
Brasil, números da pesquisa Vigitel 2014 (Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) indicam que mais da
metade de população está acima do peso (52,5%) e, destes, 17,9% são obesos.

A fome e a obesidade são dois lados da mesma moeda: um sistema alimentar


que não funciona e condena milhões de pessoas à má nutrição. De acordo com o
relatório O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação 2013, publicado
pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO),
870 milhões de pessoas no mundo passam fome, enquanto 500 milhões têm
problemas de obesidade. Como afirma Raj Patel em seu livro Obesos e
famélicos (Los Libros de Lince, 2008): “A fome e o sobrepeso globais são
sintomas de um mesmo problema. (…) Os obesos e os famélicos estão
vinculados entre si pelas cadeias de produção que levam os alimentos do campo
à nossa mesa”.

A cadeia agroalimentar foi afastando progressivamente a produção do consumo.


Cada vez mais empresas agroindustriais apropriam as diferentes etapas da
cadeia, o que gera uma perda de autonomia tanto dos camponeses quanto dos
consumidores. O modelo agrobusiness busca o lucro econômico em detrimento
das necessidades alimentares das pessoas e do respeito ao meio ambiente.

Para transformar esse paradigma, é fundamental promover uma agricultura


local, diversa, camponesa e sustentável, que respeite o território, entendendo o
comércio internacional como um complemento à produção local. Atualmente,
grande parte dos grupos de consumo se encontra nos núcleos urbanos. A
distância e a dificuldade para contatar diretamente com os produtores são
maiores nessas condições. Contudo, obter informações sobre o conteúdo
nutricional e preços menores para os alimentos mais saudáveis, incluindo frutas
e legumes, é necessário. Estratégias inovadoras para tornar mais acessíveis os
produtos nutritivos são essenciais para transformar as escolhas alimentares
saudáveis em escolhas fáceis.

Escândalos alimentares, como a doença da vaca louca, os frangos com dioxinas,


a gripe suína e as carnes processadas e o câncer, demonstram a importância de
dedicarmos mais atenção à qualidade dos alimentos que consumimos e à sua
origem. A alimentação é uma questão de saúde pública. Devemos reivindicar
que o acesso a comida de qualidade seja mais justo. Comer importa, e comer
bem mais ainda.

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