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A desnutrição infantil persiste como um desafio global, apesar dos inúmeros compromissos
internacionais e declarações que afirmam o direito fundamental de toda pessoa à alimentação
adequada. Desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 até a Convenção
sobre os Direitos da Criança em 1989, a desnutrição continua a ser um grave problema de
saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca a desnutrição como um direito
humano, sublinhando a magnitude do problema e suas consequências desastrosas no
crescimento, desenvolvimento e sobrevivência das crianças.
Estatísticas alarmantes da OMS revelam que mais de 20 milhões de crianças nascem com baixo
peso anualmente, enquanto cerca de 150 milhões de crianças menores de 5 anos apresentam
baixo peso para sua idade. Além disso, 182 milhões dessas crianças (32,5%) têm baixa
estatura. Entretanto, a precisão desses dados pode ser comprometida, pois pequenas
alterações nos critérios utilizados para classificar o estado nutricional podem resultar em
variações significativas nos números relatados.
A desnutrição infantil, já reconhecida por médicos no século XIX, ganhou destaque no início do
século XX, quando diversos autores, incluindo México e Chile, descreveram os efeitos do
emagrecimento extremo e edema debilitante resultantes da baixa ingestão de alimentos. A
designação formal da doença como síndrome ocorreu nos anos 30 com a descrição do
Kwashiorkor por Williams.
No Brasil, o registro da doença remonta aos anos 50. Inicialmente, a desnutrição foi
considerada um problema médico que incluía deficiências vitamínicas como beribéri, pelagra,
xeroftalmia e escorbuto. Nos anos 50, a descoberta da cura da doença foi associada ao uso de
alimentos ricos em proteínas, marcando a "era da proteína".
Entretanto, nos anos 70, o "grande fiasco da proteína" revelou que, embora a dieta suprisse as
necessidades proteicas, a deficiência energética persistia. A desnutrição energético-protéica
(DEP) foi reconhecida como decorrente principalmente de deficiência energética, sendo a
distribuição e acesso dos pobres aos alimentos apontados como fatores cruciais. A pobreza
emergiu como a principal causa de desnutrição.
A complexidade da desnutrição, agora vista como um problema social, levou a uma transição
do domínio médico para abordagens sociais nos anos 70. A teoria do "planejamento
nutricional intersetorial" falhou nos anos 80, destacando as dificuldades na implementação de
políticas de nutrição e desmotivando os profissionais de saúde. O desafio de beneficiar os
pobres por meio do planejamento nutricional foi evidenciado por uma crítica anônima que
expressou desilusão com os esforços teóricos em comparação com a realidade.
No final dos anos 80, a participação do setor de saúde foi reintegrada no combate à
desnutrição infantil com a proposta de "Saúde para Todos até o Ano 2000", proveniente da
Conferência Internacional de Alma-Ata. Essa reintegração marca uma reflexão sobre as lições
aprendidas ao longo das décadas anteriores.
O desafio à boa nutrição inicia-se no útero e perdura ao longo do ciclo de vida. A desnutrição
tem origem intrauterina, afeta as crianças e, através das mulheres, influencia a vida adulta e as
próximas gerações. Bebês de baixo peso ao nascer, resultado do retardo de crescimento
intrauterino, enfrentam riscos elevados de mortalidade e desenvolvimento prejudicado. Além
disso, o baixo peso ao nascer está associado a um maior risco de doenças crônicas na idade
adulta.