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O problema da desnutrição carencial infantil

A desnutrição infantil persiste como um desafio global, apesar dos inúmeros compromissos
internacionais e declarações que afirmam o direito fundamental de toda pessoa à alimentação
adequada. Desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 até a Convenção
sobre os Direitos da Criança em 1989, a desnutrição continua a ser um grave problema de
saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca a desnutrição como um direito
humano, sublinhando a magnitude do problema e suas consequências desastrosas no
crescimento, desenvolvimento e sobrevivência das crianças.

Estatísticas alarmantes da OMS revelam que mais de 20 milhões de crianças nascem com baixo
peso anualmente, enquanto cerca de 150 milhões de crianças menores de 5 anos apresentam
baixo peso para sua idade. Além disso, 182 milhões dessas crianças (32,5%) têm baixa
estatura. Entretanto, a precisão desses dados pode ser comprometida, pois pequenas
alterações nos critérios utilizados para classificar o estado nutricional podem resultar em
variações significativas nos números relatados.

A desnutrição surge como a segunda principal causa de mortalidade em menores de 5 anos


nos países em desenvolvimento, contribuindo para 56% das mortes infantis, segundo Pelletier.
Surpreendentemente, cerca de 20 a 30% das crianças gravemente desnutridas falecem
durante o tratamento em serviços de saúde de países em desenvolvimento, destacando falhas
críticas no reconhecimento e abordagem da condição.

Desafios adicionais surgem da falta de atualização e conhecimento por parte de profissionais


de saúde, resultando em práticas inadequadas de tratamento. A reidratação deficiente, a falta
de reconhecimento de infecções e a ausência de compreensão da vulnerabilidade das crianças
gravemente desnutridas são algumas das lacunas identificadas. A insuficiência de recursos em
alguns centros de tratamento é um obstáculo adicional, embora em outros casos, melhorias
simples nas práticas possam ter impactos significativos.

Apesar de melhorias na situação nutricional em alguns países, incluindo o Brasil, a desnutrição


crônica persiste, principalmente expressa pelo déficit de altura por idade. A concentração
desigual nas regiões mais pobres destaca a necessidade contínua de abordagens eficazes e a
importância de entender que casos graves representam apenas a ponta do iceberg, com
muitos outros casos menos graves que podem passar despercebidos.

Este panorama reforça a urgência de ações coordenadas e estratégias inovadoras para


combater a desnutrição infantil, reconhecendo a complexidade do problema e a importância
de abordagens holísticas para alcançar resultados significativos.

Cinco tópicos resumidos para seus slides de apresentação:

1. **Introdução e Compromissos Internacionais**


- Direitos humanos e a persistência da desnutrição infantil.
- Compromissos internacionais ao longo das décadas. 4. **Desafios Regionais e Melhorias**
- Progressos na situação nutricional em alguns países em
2. **Estatísticas Impactantes e Desafios na Precisão** desenvolvimento, como o Brasil.
- Dados preocupantes da OMS sobre peso ao nascer e - Redução da prevalência global, mas persistência de
baixa estatura. desafios crônicos.
- Desafios na precisão das estatísticas devido a variações
nos critérios. 5. **Desnutrição Crônica, Desafios Residuais e Chamada
para Ação**
3. **Desnutrição como Causa de Mortalidade e Desafios - Enfoque na desnutrição crônica e déficit de altura por
na Abordagem** idade.
- Desnutrição como segunda principal causa de morte em - Persistência do problema em regiões mais pobres e a
crianças menores de 5 anos. necessidade de abordagens holísticas.
- Desafios na abordagem, incluindo mortalidade durante o - Conclusões e chamada para ação: a importância de
tratamento e práticas inadequadas. esforços coordenados e inovação.
Desafio Secular da Desnutrição

A desnutrição infantil, já reconhecida por médicos no século XIX, ganhou destaque no início do
século XX, quando diversos autores, incluindo México e Chile, descreveram os efeitos do
emagrecimento extremo e edema debilitante resultantes da baixa ingestão de alimentos. A
designação formal da doença como síndrome ocorreu nos anos 30 com a descrição do
Kwashiorkor por Williams.

No Brasil, o registro da doença remonta aos anos 50. Inicialmente, a desnutrição foi
considerada um problema médico que incluía deficiências vitamínicas como beribéri, pelagra,
xeroftalmia e escorbuto. Nos anos 50, a descoberta da cura da doença foi associada ao uso de
alimentos ricos em proteínas, marcando a "era da proteína".

Entretanto, nos anos 70, o "grande fiasco da proteína" revelou que, embora a dieta suprisse as
necessidades proteicas, a deficiência energética persistia. A desnutrição energético-protéica
(DEP) foi reconhecida como decorrente principalmente de deficiência energética, sendo a
distribuição e acesso dos pobres aos alimentos apontados como fatores cruciais. A pobreza
emergiu como a principal causa de desnutrição.

A complexidade da desnutrição, agora vista como um problema social, levou a uma transição
do domínio médico para abordagens sociais nos anos 70. A teoria do "planejamento
nutricional intersetorial" falhou nos anos 80, destacando as dificuldades na implementação de
políticas de nutrição e desmotivando os profissionais de saúde. O desafio de beneficiar os
pobres por meio do planejamento nutricional foi evidenciado por uma crítica anônima que
expressou desilusão com os esforços teóricos em comparação com a realidade.

No final dos anos 80, a participação do setor de saúde foi reintegrada no combate à
desnutrição infantil com a proposta de "Saúde para Todos até o Ano 2000", proveniente da
Conferência Internacional de Alma-Ata. Essa reintegração marca uma reflexão sobre as lições
aprendidas ao longo das décadas anteriores.

Tópicos resumidos para os slides:

1. **Origens Históricas da Desnutrição Infantil**


- Reconhecimento médico desde o século XIX.
- Denominação oficial nos anos 30, com destaque para o Kwashiorkor.

2. **Era da Proteína e Desafios nos Anos 50 e 70**


- Descoberta da relação entre proteína e desnutrição nos anos 50.
- O "grande fiasco da proteína" nos anos 70 revela desafios.

3. **Desnutrição como Problema Social e Pobreza como Causa**


- Transição da desnutrição de um problema médico para social.
- Identificação da pobreza como principal causa nos anos 70.

4. **Teoria do Planejamento Nutricional Intersetorial**


- Deslocamento do domínio médico para abordagens sociais.
- Fracasso da teoria nos anos 80 e suas implicações.

5. **Retorno do Setor de Saúde no Combate à Desnutrição nos Anos 80**


- Participação do setor de saúde na proposta "Saúde para Todos até o Ano 2000".
- Reflexão sobre as lições aprendidas nas décadas anteriores.
História Natural da Desnutrição Infantil

O desafio à boa nutrição inicia-se no útero e perdura ao longo do ciclo de vida. A desnutrição
tem origem intrauterina, afeta as crianças e, através das mulheres, influencia a vida adulta e as
próximas gerações. Bebês de baixo peso ao nascer, resultado do retardo de crescimento
intrauterino, enfrentam riscos elevados de mortalidade e desenvolvimento prejudicado. Além
disso, o baixo peso ao nascer está associado a um maior risco de doenças crônicas na idade
adulta.

Na infância, infecções frequentes e ingestão inadequada de nutrientes, especialmente energia,


proteína, vitamina A, zinco e ferro, agravam os efeitos do retardo de crescimento intrauterino.
A falha de crescimento ocorre rapidamente até os 2 anos de idade, resultando em baixo peso e
baixa estatura, predominantemente causada por deficiência alimentar e infecções em países
em desenvolvimento.

A história natural da desnutrição infantil envolve dois tipos de déficits de crescimento:


emagrecimento e baixa estatura. O emagrecimento, relacionado ao peso por estatura, atinge
seu pico no segundo ano de vida, influenciado pela introdução de alimentos complementares
e alta incidência de diarréia. A baixa estatura, medida pela altura por idade, tem uma
progressão diferente, iniciando-se por volta do terceiro mês de vida e persistindo por 2 a 3
anos. A velocidade de crescimento é restaurada por volta dos 5 anos, mas a altura deficitária
permanece.

O nanismo nutricional resulta da redução da frequência de eventos de crescimento ou da


redução da amplitude de crescimento quando um evento ocorre. A reversão do nanismo é
possível com a melhoria das condições de vida. A baixa estatura está relacionada ao
desenvolvimento de retardo mental em crianças pequenas, e seus efeitos sobre o
desenvolvimento mental são mais duradouros do que no emagrecimento isolado.

A infecção desempenha um papel crucial na evolução e sobrevivência da criança desnutrida. A


interação entre desnutrição e infecção, mesmo em formas moderadas e leves, é multiplicativa,
não aditiva. O papel da infecção é considerado vital na análise global, sem distinção entre
emagrecimento e nanismo.

**Tópicos para Slide - História Natural da Desnutrição Infantil:**

1. **Início e Impacto ao Longo do Ciclo de Vida**


- Desafio nutricional desde o útero até a vida adulta.
- Efeitos negativos aditivos sobre o baixo peso ao nascer e riscos para as próximas gerações.

2. **Desnutrição na Infância: Causas e Consequências**


- Origem intrauterina e influência das meninas nas próximas gerações.
- Infecções frequentes e ingestão inadequada de nutrientes exacerbam os efeitos do retardo de crescimento.

3. **Dois Tipos de Déficits de Crescimento: Emagrecimento e Baixa Estatura**


- Emagrecimento relacionado ao peso por estatura, atingindo o pico no segundo ano de vida.
- Baixa estatura com início no terceiro mês de vida, persistindo por 2 a 3 anos e influenciando o desenvolvimento mental.

4. **Nanismo Nutricional e Reversão com Melhoria das Condições de Vida**


- Nanismo resultante da redução da frequência de eventos de crescimento.
- Reversão possível com melhores condições de vida, indicando um indicador de privação multifacetada.

5. **Interseção Crítica de Desnutrição e Infecção na Evolução Infantil**


- O papel crucial da infecção na evolução e sobrevivência de crianças desnutridas.
- Interação multiplicativa entre desnutrição e infecção, evidenciando a complexidade do desafio.

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