Distúrbios alimentares e nutricionais da atualidade estamos vivendo uma transição nutricional, em que observamos o declínio no número de casos de desnutrição. Por outro lado, vemos também o crescimento progressivo e expressivo de outros problemas nutricionais, como excesso de peso (sobrepeso e obesidade) e doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) relacionadas à alimentação e ao excesso de peso, que é o caso da hipertensão e do diabetes, por exemplo Distúrbios alimentares e nutricionais da atualidade vivenciamos o aumento de doenças e agravos não transmissíveis, mas ainda há a presença de intensas desigualdades no Brasil e no mundo, que se manifestam de forma injusta em grupos vulneráveis, por isso vivemos na atualidade o paradoxo da coexistência entre desnutrição, carências nutricionais e obesidade, que provavelmente estão mais associadas à qualidade da alimentação do que à quantidade de alimentos ingeridos Distúrbios alimentares e nutricionais da atualidade Essa contradição entre escassez e excessos vem acontecendo ao mesmo tempo, sendo relativamente comum encontrarmos num mesmo indivíduo a obesidade, a anemia e outras carências nutricionais, independente das classes sociais. Essa condição nutricional parece se diferenciar pelo contexto sociocultural em que essas pessoas estão inseridas em virtude da condição de acesso à alimentação, conhecimento sobre alimentação e nutrição, além de outros fatores Essa transição nutricional tem relação direta com as mudanças nos padrões demográfico, socioeconômico, ambiental, agrícola e de saúde, envolvendo também fatores como urbanização, o que ocasionou redução de espaços públicos para atividades físicas e aumento da violência, gerando insegurança e contribuindo para o sedentarismo.
Além disso, fatores como o crescimento econômico; a
distribuição de renda; a incorporação de tecnologias e as mudanças culturais também influenciam nesse processo, bem como os sistemas alimentares que incluem os processos de produção, transformação, distribuição, marketing e consumo de alimentos A globalização também é indicada como um dos fatores que contribuíram para a mudança no perfil nutricional da população mundial, uma vez que ela contribuiu para mudanças no padrão alimentar, aumentando o consumo de alimentos ultraprocessados com elevados teores calóricos por conter grande quantidade de açúcar e gordura e baixo valor nutricional por ofertar poucos nutrientes, vitaminas, minerais e fibras. Outro fator bastante importante e influente nas escolhas alimentares da população diz respeito ao pouco tempo para as refeições ou o excesso de atividades ligadas à jornada de trabalho, resultando no aumento do consumo de alimentos pré-preparados, congelados e também os fast-food Na atualidade, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são importantes problemas de saúde pública.
Segundo dados da Organização Mundial da
Saúde (OMS) de 2014, as DCNT são responsáveis por 68% de um total de 38 milhões de mortes ocorridas no mundo em 2012 No Brasil, os dados são bastante semelhantes, conforme apontado pelo Ministério da Saúde, em 2011, as DCNT foram responsáveis por 68,3% do total de mortes, havendo destaque para as doenças cardiovasculares (30,4%), as neoplasias (16,4%), as doenças respiratórias (6,0%) e o diabetes (5,3%). Existe um conjunto de fatores de risco que podem ser responsáveis pelo aparecimento das DCNT e também por grande parte das mortes causadas em sua consequência, como o tabagismo, o consumo alimentar inadequado, a inatividade física e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas Além do problema com as DCNT e obesidade, é preciso lembrar que os dados sobre as deficiências nutricionais também são alarmantes, revelando-se um importante problema de saúde pública, especialmente, em países em desenvolvimento.
Cerca de um terço da população mundial tem
deficiência de micronutrientes, sendo as mais comuns no mundo e também no Brasil, a deficiência de vitamina A (hipovitaminose A), de ferro (anemia ferropriva) e de iodo (bócio endêmico). As consequências causadas pelas deficiências nutricionais podem ser várias, além de afetarem a saúde e o bem estar de diferentes grupos populacionais: crianças e adolescentes podem sofrer problemas relacionados ao crescimento, ao subdesenvolvimento físico e mental e ao aumento da mortalidade; já os adultos e idosos não conseguem repor a energia e os nutrientes necessários para lidar com suas atividades diárias, podendo sofrer com letargia (cansaço, diminuição da energia), diminuição da capacidade física e reprodutiva, declínio da função cognitiva e debilidade imunológica Nesse contexto, evidências mostram que milhares de crianças que residem em países em desenvolvimento não alcançam seu potencial de desenvolvimento, tendo maior probabilidade de baixo rendimento escolar e, quando adultos, menor produtividade, o que possivelmente contribui para a transmissão da pobreza de geração a geração. Diante de tanta importância, conhecer a magnitude da deficiência de determinados micronutrientes no Brasil é essencial para que medidas de intervenção e políticas públicas possam ser pensadas e repensadas de forma a buscar soluções e alternativas para tais problemas e que sejam apropriadas para as necessidades da população Fome oculta De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 2 bilhões de pessoas no mundo sofrem de fome oculta, que é a deficiência subclínica de micronutrientes, ou seja, sem sinais ou sintomas de carência, mas com alterações silenciosas que podem deixar sequelas e trazer problemas à saúde, como o aumento de risco de desenvolvimento de doenças como o câncer, osteoporose, diabetes e problemas cardiovasculares Fome oculta Para evitar a fome oculta o essencial é garantir uma alimentação variada em nutrientes, que inclua todos os grupos alimentares (frutas, verduras, legumes, alimentos fonte de proteínas e de carboidratos), consumindo-os de forma balanceada, sem exageros ou escassez. Frente à realidade apresentada em que convivemos com os excessos alimentares e ao mesmo tempo com as deficiências nutricionais, muitas intervenções vêm sendo propostas e pensadas em busca de mudanças. Fome oculta A OPAS/OMS no Brasil, preocupada em combater os males associados à má nutrição, desde a desnutrição até o excesso de peso, vem desenvolvendo ações no país, sendo as principais: • Apoia o Estado Brasileiro, nas três esferas de governo, no processo de planejamento e implementação das ações de alimentação e nutrição. • Apoia a qualificação dos profissionais de saúde para atuarem na área de alimentação e nutrição. • Promove a alimentação adequada e saudável no curso de vida. Fome oculta • Apoia a redução das carências nutricionais resultantes da má nutrição. • Incentiva a adoção de ações de promoção da saúde e combate à obesidade; • Promove, protege e apoia o aleitamento materno. • Incentiva a expansão da rede de Banco de Leite Humano. • Promove a alimentação complementar. • Implementa as recomendações da OMS relativas à estratégia da fortificação dos alimentos com micronutrientes. Fome oculta • Coopera na regulação da publicidade e das normas de rotulagem para alimentos. • Favorece o intercâmbio de experiências e divulgação de boas práticas, especialmente no âmbito da cooperação sul-sul. • Sistematiza, produz conhecimentos e dá visibilidade a experiências e boas práticas em nutrição. Acesso à água para consumo e produção de alimentos Na atualidade, apesar dos avanços já alcançados em nosso país, ainda vivemos em situação de risco, especialmente em locais de grandes 72 concentrações urbanas, em que as dificuldades de acesso à água potável, problemas com a qualidade da água que está sendo distribuída e à rede de saneamento básico são problemas reais e que podem se agravar no futuro se medidas não forem tomadas. Acesso à água para consumo e produção de alimentos A demanda por água, energia e alimentos está aumentando, principalmente pelo crescimento populacional no mundo todo, rápida urbanização, mudanças nas dietas e crescimento econômico. Na área urbana, esse tipo de problema se dá pelo crescimento desordenado, em especial das metrópoles associada à demora na realização e término das obras de infraestrutura. Acesso à água para consumo e produção de alimentos Diante de dados que nos deixam preocupados, a boa notícia é que o Brasil é um dos poucos países do mundo, se não o único, com capacidade de triplicar a sua área irrigada com sustentabilidade, podendo ainda contribuir com o meio ambiente, o desenvolvimento econômico e social do país ao gerar empregos e essa é uma realidade. Acesso à água para consumo e produção de alimentos Nos últimos cinquenta anos, a ciência, a tecnologia e a inovação juntamente com a disponibilidade de recursos naturais, com a elaboração de políticas públicas, organização das cadeias produtivas e a competência dos agricultores, fizeram com que o Brasil fosse um importante protagonista na produção e exportação de produtos agrícolas e isso contribui de forma significativa para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do País, por gerar empregos, proporcionar melhorias na renda e oferta de alimentos com preços mais acessíveis aos consumidores brasileiros