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TEMA:
NACALA-PORTO, 2023
TEMA:
ESTUDANTES:
JOAQUINA JOÃO
PIEDADE JOSÉ
RABIA JAMAL
SAMIRA ALBERTINO
RICARDINA MARIA
UARILA EMANUEL
VASSILISSA PEDRO
Trabalho de Pediatria a ser apresentado ao
VICTÓRIA FERNÃO
Instituto Politécnico Boa Esperança Delegação de
ZAINABO SULAIDINE Nacala como requisito parcial para realização de
avaliação.
NACALA-PORTO, 2023
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 4
CRESCIMENTO E NUTRIÇÃO: 1ª PARTE .............................................................................................. 5
1. EPIDEMIOLOGIA DA DESNUTRICÃO EM MOÇAMBIQUE ........................................................... 5
1.1. Causas da Desnutrição ...................................................................................................................... 5
1.2. Terminologia da Desnutrição ............................................................................................................ 6
2. INTERACÇÕES ENTRE CRESCIMENTO, NUTRIÇÃO E HIV .......................................................... 7
2.1. Crescimento, Nutrição e HIV ............................................................................................................. 7
3. TUBERCULOSE E DESNUTRIÇÃO ..................................................................................................... 8
4. MONITORIA DO CRESCIMENTO ........................................................................................................ 8
4.1. Técnicas para Medição ...................................................................................................................... 9
4.2. Gráficos/Curvas de Crescimento ..................................................................................................... 10
CRESCIMENTO E NUTRIÇÃO: 2ª PARTE ............................................................................................ 11
1. MONITORIA DO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR ................................................................ 11
2. AVALIACÃO NUTRICIONAL............................................................................................................. 14
2.1. Rotina da avaliação nutricional ...................................................................................................... 15
2.2. Diagnóstico das Causas de Desnutrição ......................................................................................... 16
2.3. Complicações da desnutrição aguda ............................................................................................... 17
2.4. Tratamento/suporte para pacientes com Desnutrição Aguda ......................................................... 17
3. OPÇÕES DE ALIMENTAÇÃO............................................................................................................. 19
3.1. Condições AVASS para o desmame ................................................................................................. 20
3.2. Alimentação infantil no contexto do HIV: Práticas de amamentação e a sua duração em mulheres
seropositivas ........................................................................................................................................... 20
3.3. Preparação segura de alimentação de substituição ........................................................................ 22
3.4. Recomendações do MISAU e amamentação .................................................................................... 23
4. NECESSIDADES NUTRICIONAIS DA CRIANÇA INFECTADA COM HIV .................................. 24
4.1. Estratégias para prevenir a desnutrição nas crianças seropositivas .............................................. 24
4.2. Gestão de Problemas de Alimentação nas Crianças Seropositivas................................................. 25
CONCLUSÃO ............................................................................................................................................ 27
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................ 28
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INTRODUÇÃO
De acordo com o inquérito demográfico e de saúde feito em 2003 em Moçambique, 41% das
crianças menores de 5 anos apresentam uma baixa altura para a sua idade, o que significa uma
alta prevalência de desnutrição crónica. Uma análise feita através dos perfis nutricionais em 2004
mostrou que, em Moçambique, 43% das mortes nos menores de 5 anos são atribuíveis à
desnutrição. A avaliação das curva de crescimento nas crianças é crucial. Esta é uma das
principais diferenças na assistência clínica entre crianças e adultos. Nos adultos, a perda de peso
é um importante indicador da doença, mas algumas crianças podem sofrer falhas severas no
crescimento que podem não ser em decorrência da perda de peso, mas por não ganharem peso
adequadamente. O processo de crescimento das crianças está directamente relacionado com o
desenvolvimento das habilidades motoras e cognitivas (linguagem, pensamento, habilidades
sociais). O atraso no desenvolvimento ou falta de cumprimento destes marcos pode ser o
primeiro sinal de infecção pelo HIV. Os pais são geralmente os primeiros a reconhecer
problemas na criança.
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CRESCIMENTO E NUTRIÇÃO: 1ª PARTE
As causas da desnutrição também são descritas sob o ponto de vista político, ideológico e
económico, podendo ser causas básicas, subjacentes e imediatas. As causas da desnutrição tanto
da mãe como da criança actuam em vários níveis:
Primeiro nível (causas básicas): verificam-se ao nível social e são também conhecidos como
factores de risco social (recursos humanos, económicos, organização social e política), exemplo:
a educação, as crenças tradicionais, os casamentos prematuros e a gravidez precoce.
Segundo nível (causas subjacentes): estão relacionadas com os serviços de saúde disponíveis, o
meio ambiente, cuidados inadequados prestados às crianças e à mulher, assim como a
insegurança alimentar.
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Terceiro nível (causas imediatas): ocorrem ao nível do indivíduo, isto é, factores de risco
biológicos, como as doenças e a ingestão inadequada de alimentos (calorias e micronutrientes).
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NOTA: Desvio Padrão (DP) ou “Z-score” em Inglês, é definido como sendo a diferença entre o
valor da estatura ou do peso de um individuo e o valor da mediana duma população de referência
da mesma idade, dividido pelo desvio padrão da população de referência.
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3. TUBERCULOSE E DESNUTRIÇÃO
A tuberculose (TB) é uma das doenças oportunistas mais frequentes em doentes infectados por
HIV. A desnutrição em crianças seropositivas possibilita a co-infecção pelo bacilo da TB. Cerca
de 60% de crianças com a infecção tuberculosa também sofrem de infecção por HIV.
Nota importante:
4. MONITORIA DO CRESCIMENTO
Os parâmetros que devem ser avaliados e inter-relacionados nos gráficos correspondentes são:
idade, peso, altura/comprimento, perímetro craniano e perímetro braquial. O ideal é tomar as
medidas de crescimento antes do exame físico. O peso é o primeiro a declinar, seguido da altura
e, depois, do perímetro craniano (o corpo protege o crescimento do cérebro), embora em caso
de declínio severo, todos esses parâmetros possam ocorrer em simultâneo.
O peso para idade deve ser avaliado mensalmente durante o primeiro ano ou de 2 em 2 meses em
crianças maiores de 1 ano. O perímetro craniano deve ser avaliado em cada consulta até aos dois
anos de idade, pois é até essa idade que a cabeça pára de crescer. As medições devem ser
documentadas no cartão de saúde da criança e no registo médico.
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4.1. Técnicas para Medição
a) Técnica para medição da altura para crianças maior ou igual ≥87cm
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Quando a circunferência da cabeça é de 38cm, significa que a criança apresenta-se abaixo do
percentil 5 e, nesse caso, considera-se que ela tem microcefalia.
Perímetro braquial é uma medida importante para avaliar a desnutrição na comunidade. Serve
para o despiste da desnutrição aguda severa (DAG) e também para DAM (Desnutrição Aguda
Moderada).
De referir que o suficiente não é a criança estar a aumentar de peso e de altura, mas ela tem que
crescer a uma velocidade apropriada. Devem ser feitas medições de crescimento para todas as
crianças expostas ou infectadas com o HIV, e estas medições devem ser colocadas em gráficos
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todos os meses até aos 60 meses de idade. Há gráficos específicos para os rapazes e para as
raparigas. As medições podem ser feitas quer na Unidade Sanitária, quer durante as actividades
de visitas comunitárias.
Métodos de arredondamento
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A avaliação do desenvolvimento da criança pode ser feita por observação durante o exame físico
e através de perguntas aos pais/cuidadores.
O técnico deve avaliar as seguintes áreas: Função motora principal; Função motora secundária;
Aptidões sociais; Linguagem; Cognição.
Parâmetros de desenvolvimento
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apoio 9-11
Anda apoiada pela mão e diz
tá-tá 12-17
Anda sozinha e usa 6 a 20
palavras 18-23
Corre e diz o primeiro nome 24-59
Veste-se sozinha e conta os 5
dedos da mão. A partir de 60
Sinais de alarme
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16° mês.
Perda de marcos previamente
Qualquer idade adquiridos.
2. AVALIACÃO NUTRICIONAL
A avaliação nutricional é o processo pelo qual o clínico recolhe dados relativos à criança no
que concerne a situação alimentar. No processo da avaliação nutricional, deve-se dar maior
ênfase à avaliação da alimentação da criança, assim como às condições socioeconómicas da
família. Deve-se também realizar um exame físico, apoiando-se nos meios auxiliares de
diagnósticos disponíveis. A avaliação nutricional deve ser feita em cada visita em todas as
crianças expostas ou infectadas pelo HIV. Nas crianças onde se verifica um crescimento normal
ou estável, a avaliação pode ser menos detalhada. Para as crianças que têm baixo peso ou mau
crescimento, a avaliação deve ser mais detalhada e mais frequente.
Melhorar a situação nutricional: manter o peso, evitar a perda de peso, preservar a massa
muscular;
Garantir o consumo adequado de nutrientes: melhorar os hábitos e a dieta alimentar,
refazer as reservas de nutrientes essenciais;
Prevenir as doenças de origem alimentar;
Melhorar a qualidade de vida: tratar infecções oportunistas, gerir os sintomas que afectam
o consumo de alimentos;
Dar assistência paliativa.
NOTA: É muito importante que a avaliação nutricional da criança seja feita antes do início do
TARV.
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2.1. Rotina da avaliação nutricional
Anamnese
Exame físico
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Doença cardíaca: Pode causar o aumento do consumo de calorias;
Neurologia: Encefalopatia que pode causar dificuldades na alimentação – sugar e engolir,
mastigar.
Investigações laboratoriais
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As diferentes formas de desnutrição podem aparecer isoladas ou de forma combinada e incluem:
Desnutrição aguda, que se manifesta através de perda recente de peso e/ou edema
bilateral;
Desnutrição crónica ou emagrecimento estável, que se manifesta através da perda não
recente de peso ou perda de peso de longa duração;
Deficiência de micronutrientes, que incluem mais comumente as deficiências de ferro,
vitamina A, iodo e das vitaminas do complexo B.
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DAG e sem complicações (edema bilateral, complicações médicas ou falta de apetite):
Tratar no ambulatório com ATPU (Plumpy` Nut) dose de acordo com peso. A prioridade
na distribuição do ATPU é sempre dada as crianças, os adultos apenas receberão ATPU,
se a Unidade Sanitária tiver estoque suficiente para as crianças;
Educação nutricional e aconselhamento.
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3. OPÇÕES DE ALIMENTAÇÃO
Existem basicamente três opções diferentes para alimentar as crianças nascidas de mães
seropositivas, a saber:
1. Alimentação com a fórmula: Significa alimentar a criança com substitutos do leite materno
(leite artificial), sendo a prevenção completa do leite do peito.
2. Alimentação mista: Significa alimentar a criança com ambos leite materno e um substituto do
leite materno, ou com outros alimentos sólidos.
3. Amamentação exclusiva: Significa que o bebé recebe apenas leite materno, a mãe não dá
outros líquidos (incluído a água) ou quaisquer sólidos.
Vantagens da amamentação:
Desvantagens da amamentação:
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A realidade de Moçambique faz com que o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses seja na
prática a opção mais segura e deverá fazer o desmame assim que houver condições.
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As mães devem ser orientadas a não interromper bruscamente a amamentação; o desmame deve
ser gradual, ao longo de um mês. As crianças que tenham sido submetidas a profilaxia anti-
retroviral durante a amamentação devem continuar com a profilaxia até uma semana após o
desmame completo.
Quando as mães infectadas pelo HIV decidem deixar de amamentar em qualquer momento, os
bebés devem receber alimentação de substituição segura e adequada para permitir o seu
crescimento e desenvolvimento normais.
Algumas das potenciais dificuldades que podem aparecer ao longo do processo são:
Em relação à mãe:
Mastite, abcessos no peito: o desmame é uma etapa de risco para a aparição de infecções,
por acumulação do leite.
Gravidez prematura: a amamentação dificulta uma nova gravidez.
Objecções da família e da comunidade.
Em relação ao bebé
Por conseguinte, as recomendações que o Técnico de Medicina deve dar à mãe para fazer a
transição com sucesso são as seguintes:
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Esclarecer que reconhece as dificuldades do processo.
Dizer que ela pode extrair leite materno e dar com uma chávena entre as mamadas.
Quando o bebé começar a aceitar a chávena, deve substituir a amamentação com
alimentação pela chávena – gradualmente.
Portanto, uma vez que o bebé aceitar o leite do peito através da chávena, poderá começar a
alimentar-se só com substitutos do leite do peito.
A alimentação com a fórmula (leite artificial) é a opção mais segura para evitar a infecção após
do parto. Deve ser recomendada a administrar numa chávena, pois os biberões são mais difíceis
de limpar e o risco de contrair diarreia poderá aumentar devido às condições precárias de
higiene.
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Vantagens:
Desvantagens:
Iniciar amamentação logo após o parto, sem exceder a primeira hora após o parto, dando
o colostro (o primeiro leite do peito da mãe). Isto inclui a promoção do contacto pele-a-
pele logo após o parto, não excedendo a meia hora após o parto, e durante pelo menos
uma hora.
Assegurar o aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses (não dar líquidos nem outros
alimentos a menos que prescrito por médicos).
Amamentação deve ser livre demanda, ou seja, amamentar a criança sempre que ela
quiser (de dia e de noite pelo menos 8 vezes por dia).
Se aleitamento artificial for AVASS, deve evitar o aleitamento materno.
Antes de a criança atingir os 6 meses de idade, todos os pais devem ser aconselhados
sobre quando e como introduzir alimentos complementares apropriados.
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Os alimentos complementares promovidos devem estar disponíveis localmente e devem
ser acessíveis para famílias de baixa renda, nutricionalmente balançados, e culturalmente
aceitáveis.
Amamentar a criança sempre que ela quiser (de dia e de noite pelo menos 8 vezes por
dia).
Introduzir alimentos complementares a partir dos 6 meses de idade.
A partir dos 12 meses, o aleitamento materno deve cessar, assegurando que uma dieta
adequada e segura sem o leite materno pode ser oferecida.
NB: Crianças de 6 aos 59 meses devem ser suplementadas com vitamina A de 6 em 6 meses e
desparasitadas também de 6 em 6 meses a partir dos 12 meses.
Nas crianças assintomáticas, o consumo é 10% mais elevado do que em crianças não
infectadas.
Nas crianças com sintomas e sem perda de peso, o consumo é 20-30% mais elevado.
Nas crianças sintomáticas e com perda de peso, o consumo é 50-100% mais elevado.
Portanto, as crianças infectadas devem receber um suporte superior de calorias. Com o aumento
do consumo de calorias, também se incrementa o suporte de proteínas. Com uma dieta
equilibrada, estas crianças também recebem o suporte de micronutrientes de que precisam.
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Nutrição complementar com alimentos localmente disponíveis com suficiente frequência,
densidade e quantidade.
Garantir um consumo adequado de nutrientes das crianças e da mãe ou encarregado de
educação.
Monitoria do crescimento em cada visita.
Fortalecer a comida e nutrição suplementar, quando for necessário.
Transferência imediata em casos de desnutrição aguda severa.
Tratamento imediato e gestão da nutrição para infecções, outras condições (vómitos,
diarreias, úlceras orais, candidíase).
Suplementação com vitaminas e apoio psicossocial.
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ricos em energia, deve-se tentar aumentar as actividades das crianças de modo que elas
aumentem o seu apetite e dê refeições pequenas com maior frequência.
Dores de barriga: neste caso, devemos aumentar o suporte de líquidos e de dieta fibrosa
(feijão, vegetais, ervilha e lentilhas), dependendo por vezes da causa das dores mas, no
geral, a dieta é a mesma.
Febre: os líquidos devem ser aumentados durante os episódios de febre para evitar a
desidratação, aumente o consumo de calorias, se possível. Dê refeições ricas em energia e
proteínas com muitos fluidos e sumo de frutas e líquidos, é importante incentivar que
continue com esta dieta durante o período de convalescença.
Problemas neurológicos: as crianças com uma infecção por HIV avançada podem
apresentar problemas de desenvolvimento neurológico que pode afectar funções básicas,
como a capacidade para mastigar e engolir, os alimentos precisam ser esmagados, estas
crianças devem ser encaminhadas para a avaliação no início do tratamento anti-retroviral.
A alimentação deve ser supervisionada e, se disponível, pode ser considerada a
alimentação parenteral ou por sonda mesogástrica.
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CONCLUSÃO
A desnutrição é uma das causas principais da mortalidade em crianças no país e no mundo, a sua
combinação entre a infecção pelo HIV afecta o sistema imunológico, tornando a criança
vulnerável às infecções oportunistas, contribuindo para o aumento da morbilidade e mortalidade.
O crescimento e o desenvolvimento psicomotor são indicadores importantes da progressão da
doença nas crianças e, por isso, devem ser monitorados em cada visita, a avaliação e educação
nutricional devem ser efectuadas por rotina em todas as visitas.
As crianças com desnutrição grave com complicações devem ser internadas e fazer a reabilitação
nutricional com leites terapêuticos (F75 ou F100), enquanto que as HIV (-) que não têm
complicações devem fazer tratamento ambulatório com ATPU.
Para o desmame, deve-se respeitar as condições AVASS e a alimentação complementar deve ser
introduzida a partir dos 6 meses de vida com alimentos nutritivos.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Tratado de PEDIATRIA, Nelson 18ª e/ou 19ª Edição.
Cuidados hospitalares para crianças: Normas para manejo da Doenças Frequentes com
Recursos limitados – OMS /2005.
Manual do manejo de HIV pediátrico – MISAU.
Manual de Referência Pediátrico- HIV-SIDA Técnicos de Medicina – Maio 2013.
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