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Universidade Cruzeiro do Sul

Pós-graduação em Saúde Coletiva

Disciplina: Políticas Públicas de Saúde da Criança


Docente: Cátia Rufino
Discentes:
1- Felipe Vinicius Moraes da Silva – RGM: 32756089
2- Isabelle Nogueira de Oliveira – RGM: 30154359
3- Stefanie Pereira Ramos da Cunha - RGM: 32242123
4- Manoel Francisco dos Santos filho – RGM: 3158209
5- Marley Pereira Martins - RGM: 31050832

Atividade em Grupo

A população indígena como grupo tradicional em nosso território, possui


diversas particularidades e singularidades que os garantem iguais a todos os demais
povos e reconhecendo ao mesmo tempo o direito de todos os povos a serem diferentes,
a se considerarem diferentes e a serem respeitados como tais. Contudo, anseia por
cuidados específicos para assim dar continuidade ao seu povo e sua história. Para tanto,
necessitam de atenção, manejo e ações as políticas públicas são os meios que possuem
para o acesso a tais garantias sociais. Emergente de interfaces múltiplas, a
vulnerabilidade presente neste povo, transformam suas características demandando mais
ações do poder público que visam minorar as mazelas acometidas em suas terras.

Mesmo com todo aparato legal direcionado a população indígena inseridas no


Estatuto do índio aprovado pela Lei Federal n° 6.001 de 1973, na carta magna de 1988,
na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (DDPI),
aprovada em 2007, hoje, o que se constata é a realidade esquecida pelos brasileiros ao
qual salienta a fragilidade dos indígenas frente às perspectivas dos direitos humanos, ou
seja, a ineficiência das políticas públicas de assistência aos povos tradicionais, que
evidencia a desigualdade étnico-racial como fator primário à desassistência ou a sua
precariedade durante a crise de saúde mundial, por exemplo.

Outro ponto importante está relacionado a gestão de tais políticas, onde atuam
com a centralização de decisões, desconsideram as dimensões territoriais e as
dificuldades de acesso dos povos indígenas em suas dimensões locais. Sendo assim,
Silva (2021) aponta que se foi possível observar que as políticas públicas adotadas
foram marcadas pela lentidão e inefetividade, tendo em vista a atuação padronizada do
governo federal que desconsiderou as condições e especificidades dos 305 povos
indígenas brasileiros neste caso em específico, e que suas medidas empregadas na
situação de pandemia, pecaram pela inobservância das necessidades locais, assim como
das dimensões territoriais, corroborando com a influência das desigualdades étnico-
raciais sobre a fragilidade e negação da pluralidade indígena na administração das suas
ações públicas.

Ainda nessa perspectiva, infere que os indígenas contam com o subsistema de


atenção a saúde dos povos indígenas, com a fundação nacional do índio (FUNAI),
responsáveis por promover a saúde indígena em todo o Brasil. O projeto de lei
convertido na lei nº 14.021/2021, contudo, ele sofreu 16 vetos que suprimiram medidas
indispensáveis á proteção de direitos humanos indígenas, como á saúde e segurança
alimentar.

Sob a ótica do direito a vida intrínseco a todo ser humano, a saúde dos indígenas
é uma ponto de atenção que necessita de estratégias específicas em sua função, pois
decorre historicamente que os indígenas sempre foram mais suscetíveis a doenças,
especialmente as crianças. Tendo que lidar diariamente com insegurança alimentar e
falta de acesso à água potável apresentam uma elevada taxa de mortalidade infantil,
marcando a sua existência por uma infância predominada pela desnutrição crônica, que
acomete cerca de 25% das crianças indígenas menores de cinco anos no país.

Nesse sentido, a desnutrição infantil conota um problema de saúde pública que


afeta milhões de crianças em todo o mundo, especialmente em países de baixa e média
renda. Essa condição pode ser definida como uma deficiência de nutrientes no corpo da
criança, que resulta em um crescimento inadequado e outras complicações de saúde.

Existem várias causas de desnutrição infantil, incluindo a falta de acesso a


alimentos saudáveis e nutritivos, infecções recorrentes, práticas alimentares
inadequadas, falta de higiene e saneamento, e pobreza extrema. Além disso, a
desnutrição infantil pode levar a problemas de saúde em longo prazo, como baixo
desempenho acadêmico, desenvolvimento físico e mental inadequado e maior risco de
doenças crônicas na vida adulta.

As comunidades indígenas atualmente vêm sofrendo gravemente, o que


influencia diretamente na organização social dessa população, trazendo à tona
problemas como a desnutrição e o alto índice de insegurança alimentar. Entretanto a
desigualdade social no Brasil é muito presente nessa população, por possuírem menor
acesso à renda, saúde e alimentação.

Analisando o contexto da desnutrição, uma nutrição inadequada pode influenciar


diretamente no desenvolvimento cognitivo e psicossocial do indivíduo, além de ser um
fator de risco para o desencadeamento de outras patologias. Todavia se faz importante, a
compreensão de tal vulnerabilidade social, esse fator é essencial para a formação de
políticas públicas de saúde, através delas, tornar-se facilitado o atendimento para essas
populações.

O atendimento nutricional deve ser compreendido como um conjunto de ações,


ligados diretamente a promoção, prevenção da saúde, essas ações de saúde estão
conectadas diretamente com o SUS e seus princípios organizacionais. O cenário
indígena, infelizmente não é tratado com políticas públicas dignas, que são de extrema
relevância, para fim de reduzir as diferenças sociais e o aprimoramento
das ações de saúde.

Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que 155 milhões de


crianças com menos de 5 anos estavam acometidas por déficit de altura. Cerca de 45%
dos óbitos entre crianças menores de 5 anos estavam ligados à desnutrição. No Brasil,
de acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), em
2006, 7% das crianças menores de cinco anos apresentavam déficit de altura. Dados do
Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), de 2019, mostram que a
prevalência de baixa altura para idade em crianças menores de 5 anos permanece em
7%.

A prevalência de déficit de altura para idade foi menor em crianças que


apresentavam melhores condições socioeconômicas. Os resultados apresentados no
ENANI retratam o estado nutricional de crianças menores de 5 anos em um momento
prévio a pandemia de Covid-19, o que deve ser considerado, pois após esse período
houve um aumento das desigualdades sociais no país.

Nota-se também alta prevalência de déficit de altura em grupos mais vulneráveis


da população, como indígenas e quilombolas. Em 2019 o Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF), fez um estudo com foco o Distrito Sanitário Especial
Indígena Yanomami, e evidenciou que 81,2% das crianças menores de 5 anos
pesquisadas têm déficit de altura (baixa estatura para a idade), 67,8% estão com anemia,
20% estão em risco de sobrepeso associado a algum tipo de desnutrição, como
deficiências em vitaminas e nutrientes essenciais.

O estudo, financiado e requisitado pelo UNICEF, foi realizado em parceria com


a Fundação Oswaldo Cruz, Secretaria Especial de Saúde Indígena, Coordenação Geral
de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde e Fundação Nacional do Índio.
Diante do quadro epidemiológico do país, ações preventivas e de tratamento da
desnutrição, das carências nutricionais específicas e de doenças crônicas não
transmissíveis relacionadas à alimentação e nutrição sejam prioridades da Política
Nacional de Alimentação e Nutrição.

Dados do ministério da saúde mostrou que em 2019, o estado de Roraima


apresentou redução nos registros de obesidade infantil, em comparação a média
nacional, ou seja, enquanto a média nacional aponta que crianças menores de 5 anos
apresentaram 6,33% . Já na faixa etária de 5 a 7 anos, o país teve o percentual de 7,1% e
Roraima chegou a 4,58% na faixa etária menor de 5 anos. A média nacional foi de
12,8% e ficou em Roraima 6,6%. Portanto, se faz necessário que haja uma análise
permanente da situação de saúde da população por meio da vigilância alimentar.

É a partir desses indicadores que poderão ser propostas medidas e ações mais
adequadas para o enfrentamento de tais demandas. Haja vista esse ponto em específico,
a portaria nº 894 de 2021 do Ministério da Saúde, será possível reforçar o trabalho de
prevenção e combate a obesidade e desnutrição infantil entre as famílias que integram o
Programa bolsa família, especialmente no combate a obesidade e desnutrição em
crianças com menos de sete anos e gestantes, com subsídios repassados aos 15
municípios do estado, recursos que somam o total de $1.089.057,00 para ampliação das
ações de melhoria desses indicadores.

Para o acompanhamento de tais indicadores, existe hoje o SISVAN - Sistema de


vigilância alimentar e nutricional, que tem em seus objetivos gerar informações em
relação às situações de um determinado grupo, para esclarecer a natureza e magnitude
dos problemas de nutrição. Os eixos que fazem parte desse sistema são: I - controlar as
Políticas Públicas, II - manipular os programas sociais relacionados á alimentação e
nutrição, III - avaliar a eficácia das ações governamental.
Criado em 1977, porém a população indígena não era inclusa neste sistema, havendo
uma carência de informações epidemiológicas.

Somente em 2005, a Fundação Nacional de Saúde/Funasa responsável nesta


época pelas ações de saúde dos povos indígenas realizou a implantação sendo idealizado
que as equipes multidisciplinares indígenas (EMSI), realizassem as ações por meio de
formulários específicos, e posteriormente por sistemas informativos.

O foco era inicialmente compreender o estado nutricional de crianças de zero a


cinco anos de idade, gestantes e o tipo de aleitamento materno, posteriormente ampliar a
avaliação em adolescentes, adultos e idosos. Cabe destacar que nos últimos tempos as
politicas e sistemas existentes para monitorar a população indígena foram abandonadas
e a falta deste acompanhamento estão colocando em risco do extermínio dos
Yanomamis. O exemplo disso é a realidade vivida por diversos grupos indígenas no
norte do país, que além falta de atuação do poder público, ainda sofre com outras
mazelas sociais acometidas ao longo dos anos.

A reportagem exibida no Fantástico em Janeiro de 2023, relata esse cotidiano e


expõe a situação que chegou o descaso com a população indígena, o abandono do
Estado, além das políticas desfavoráveis durante a pandemia. O garimpo devastando os
meios naturais de sobrevivência e contaminação dos rios deixaram os indígenas com a
saúde comprometida, necessitando completamente das políticas pública para sobreviver.
Importante destacar também que historicamente a ausência de dados e notificações em
relação à saúde indígenas também contribuiu para a realidade de hoje.

Por fim, embora o Brasil tenha feito progressos significativos em suas políticas
sociais, minimizando os efeitos da pobreza e falta de assistência de saúde para maior
parcela da população, e isso inclui a redução da desnutrição infantil nas últimas
décadas, ainda há muito a ser feito para garantir que todas as crianças tenham acesso à
nutrição adequada. É importante continuar a implementar e fortalecer políticas públicas
relacionadas à desnutrição infantil, bem como investir em pesquisa e monitoramento
para avaliar a eficácia dessas políticas.
REFERÊNCIAS

ASCOM/SESAU. Secretaria de estado da saúde. A realidade de indígenas brasileiros.


Disponível em: http://www.saude.rr.gov.br/index.php/component/content/20-
noticias/723-maissaude-combate-a-obesidade-e-desnutricao-infantil-sera-
reforcadoemroraima?itemid=101. Acesso em: Fev, 2023.

CALDAS, Rodrigues, Aline, Santos Ventura, Ricardo: Vigilância Alimentar e


Nutricional para os povos indígenas no Brasil: análise da construção de uma política
pública em saúde. (16/02/2012).

CORRÊA, Nadia Alinne Fernandes; SILVA, Hilton Pereira. Comida de quilombo e a


desnutrição infantil na Amazônia Paraense: uma análise com base no mapeamento da
Insegurança Alimentar e Nutricional. Segur. Aliment. Nutr., Campinas, v. 29, p. 1-16.
e022020. 2022.

MINISTÉRIO DA SAÚDE / ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE.


Recomendações para o Fortalecimento da Atenção Nutricional na Atenção Primária à
Saúde no Brasil. Departamento de Atenção Básica da Secretaria de Atenção Primária à
Saúde (SAPS). Brasília-DF 2022. ISBN: 978-92-75-72642-6.

SILVA, Luana Neves. A realidade indígena brasileira em tempos de pandemia:


vulnerabilidade e as políticas públicas sob a perspectiva dos direitos humanos. Anais de
Artigos Completos do VI CIDH Coimbra 2021 - Volume 7 / César Augusto R. Nunes
et. al. (orgs.) [et al.] – Campinas / Jundiaí: Editora Brasílica / Edições Brasil, 2022.

________________https://enani.nutricao.ufrj.br/wp-
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_________________https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_alim
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_________________https://www.gov.br/saude/pt-
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__________________https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/unicef-
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__________________https://docs.bvsalud.org/biblioref/2022/12/1401619/32_sre_depro
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