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CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

INSTRUMENTOS E PROCESSO DE
TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL

Isabelle Nogueira
Assistente Social
CRESS: 6857 – 14ª Região
O Serviço Social enquanto profissão tem sua trajetória voltada para
ações de caridade e filantropia, com perspectiva assistencialista, de
favor e troca. Em meados da década de 30, surge o processo de
urbanização e industrialização, ficando o Estado com o papel
regulador das questões sociais.

Porém, o Estado atuava com ações emergenciais que atendiam a


população somente em situações momentâneas e de necessidades
sociais básicas. Ficaram responsáveis, por atuar junto às demandas
sociais, entidades caritativas que desenvolviam o trabalho
voluntariamente para a população menos favorecida.
Fundamentalmente, a trajetória histórica do serviço social está
relacionada ao contexto macro societário do país. A profissão se
origina a partir das contradições entre capital e trabalho.
“No Brasil a origem da profissão está indissoluvelmente ligada a
ação da Igreja e a sua estratégia de adequação às mudanças
econômicas e práticas que alteravam a face do país naquele
período”.
(Castro, 1993: p.104)

Inicialmente a prática do serviço social foi orientada pela


influência conservadora da moral religiosa, pelas
tendências teóricas inspiradas em traços do positivismo-
funcionalismo.
“O Serviço Social surge como resposta á questão social e,
em particular à presença do movimento operário e popular,
estimulado por contingentes que desenvolviam uma ativa
prática de apostolado católico, provenientes das classes
dominantes.”(Castro, 1193:p.104)
O Serviço Social é uma profissão de caráter sociopolítico,
crítico e interventivo, que atua nos segmentos da esfera
pública, privada e terceiro setor, nas mais variadas áreas de
atuação.
“O assistente social tem a função de planejar, gerenciar,
administrar, executar e assessorar políticas, programas e
serviços sociais, o assistente social efetiva sua intervenção
nas relações entre os homens no cotidiano da vida social, por
meio de uma ação global de cunho socioeducativo e de
prestação de serviços”. (CRESS, 2009).
Iamamoto (2000) ao analisar os desafios postos ao Serviço
Social aponta três dimensões que devem ser de grande
importância na atuação do profissional assistente social:
QUESTÃO SOCIAL

• Questão social é o conjunto das expressões que definem as


desigualdades da sociedade.
• A questão social surgiu no século XIX, na Europa, com o
objetivo de exigir a formulação de políticas sociais em benefício
da classe operária, que estavam em pobreza crescente.

É a manifestação, no cotidiano
da vida social, da contradição
No período da gênese do entre o proletariado e a
Serviço Social como profissão, a burguesia, a qual passa a exigir
questão social esteve fortemente outros tipos de intervenção
vinculada à doutrina social da mais além da caridade e
Igreja inspirada nas encíclicas repressão.
papais Rerum Novarum de 1891
(CARVALHO; IAMAMOTO,
e Quadragésimo Ano de 1931
2006, p. 77).
(MESTRINER, 2005).
“Um dos maiores desafios que o Serviço Social vive no
presente é desenvolver sua capacidade de decifrar a
realidade e construir propostas de trabalho criativas e
capazes de preservar e efetivar direitos, a partir das
demandas emergentes no cotidiano” (Iamamoto, 2008).

Hoje, espera-se que o profissional de Serviço Social busque


apreender o movimento da realidade para detectar
tendências e possibilidades nela presentes passíveis de
serem impulsionadas pelo profissional, desenvolvê-las,
transformando-as em projetos e frentes de trabalho.
HISTORICIDADE DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

A construção do direito da Assistência Social é recente na


história do Brasil. Durante muitos anos a questão social
esteve ausente das formulações de políticas no país.

O grande marco é a Constituição de 1988, chamada de


Constituição Cidadã, que confere, pela primeira vez, a
condição de política pública à assistência social, constituindo,
no mesmo nível da saúde e previdência social, o tripé da
seguridade social que ainda se encontra em construção no
país.
A partir da Constituição, em 1993 temos a promulgação da Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS), no 8.742, que
regulamenta esse aspecto da Constituição e estabelece
normas e critérios para organização da assistência social, que
é um direito, e este exige definição de leis, normas e critérios
objetivos.
Esse arcabouço legal vem sendo aprimorado desde 2003, a partir
da definição do governo de estabelecer uma rede de proteção e
promoção social. Dentre as iniciativas, destacamos a
implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), em
2005, conforme determinações da LOAS e da Política Nacional de
Assistência Social.
Contudo, essa história é longa!
As primeiras iniciativas de atendimento aos necessitados
ocorreram no seio das igrejas, especialmente da Igreja Católica.
As ações sociais das ordens religiosas assumiam seu
compromisso com os pobres com base na caridade e
generosidade cristã desenvolvendo ações de benemerência que
ocorriam de forma individualizada – na concessão de esmolas ou
auxílio material, ou em atividades regulamentadas e organizadas.
A partir do século XVIII a igreja criou as estruturas de coleta de
doações, estabeleceu a oferta de serviços e construiu inúmeras
“obras pias”, localizadas ao lado das igrejas e dos conventos
religiosos.
Por volta dos anos 20, quando a assistência social começou a ser
assumida legalmente pelo Estado, esta manteve ainda uma
relação orgânica com a filantropia embora já se prenunciasse uma
crescente laicização e profissionalização da área.

Num processo contraditório, a assistência se instala como política


social de responsabilidade pública, mas se realiza sempre
mediada pela ação das organizações sem fins lucrativos, muitas
delas inspiradas nos ideais de benemerência ou filantropia dos
primeiros momentos da assistência social.

O modo de atuação da assistência social nas primeiras décadas


do século XX mantinha ainda um caráter paternalista: ofertava o
auxílio ou a ajuda material, mas mantinha o beneficiado na
condição de pobreza e subalternidade. A crítica aos trabalhos de
cunho assistencialista marcou o discurso das ciências sociais nos
anos 70 e 80.
Ao fim da década de 1980, com o advento da Constituição Federal
a assistência social ganhou o status de política social, compondo o
tripé da seguridade social com a política de saúde e a previdência
social.

A partir da Constituição ocorreram outras regulamentações como a


Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS e o Estatuto da Criança
e do Adolescente – ECA. Mais recentemente a aprovação do
Sistema Único da Assistência Social – SUAS e da NOB – Norma
Operacional Básica da Assistência Social, conferem um
novo patamar e mais um desafio a política pública de assistência
social.

Essas normas legais evidenciam que este é um campo ainda em


construção que transita do antigo modelo para um novo estatuto em
que a assistência se coloca como direito social, mesmo que ainda
esteja muito longe sua efetiva concretização.
MARCO LEGAL

1988 – Constituição
Federal Constituição cidadã.

1993 – Lei Orgânica da


Assistência Social- Política Pública.
LOAS
2004 - Política Nacional
de Assistência Materialidade da Assistência Social.
Social- PNAS

2005 - Norma Operacional


Básica- NOB/SUAS

2006 - Norma Operacional


Reestruturação e Requalificação Básica de Recursos
do setor Público no Brasil. Humanos- NOB/SUAS RH
2009 - Tipificação Nacional
Padronização em todo território de Serviços
Nacional. Socioassistenciais

2011 - LEI do SUAS


Altera a LOAS para Sistema Único
de Assistência Social Lei nº 12.435
LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

A Constituição Federal do Brasil, de 1988, inseriu em


seu contexto pela primeira vez a questão da
assistência social, como podemos ver no seu artigo a
seguir:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o
trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.

Regulamentada pela Lei nº 8.742/1993, a Lei Orgânica da Assistência


Social, traz novos conceitos e modelos de assistência social passaram a
vigorar no Brasil, sendo esta colocada como direito de cidadania, com
vistas a garantir o atendimento às necessidades básicas dos segmentos
populacionais vulnerabilizados pela pobreza e pela exclusão social.
A LOAS dispõe sobre a organização da assistência social. É o
instrumento legal que regulamenta os pressupostos constitucionais, ou
seja, aquilo que está escrito na Constituição Federal, nos Arts. 203 e 204,
que definem e garantem os direitos à assistência social.
CAPÍTULO I
Das Definições e dos Objetivos
Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de
Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada
através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade,
para garantir o atendimento às necessidades básicas.

Art. 2º A assistência social tem por objetivos:


I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família.

Parágrafo único. A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas


setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais,
ao provimento de condições para atender contingências sociais e à
universalização dos direitos sociais.
CAPÍTULO II
Dos Princípios e das Diretrizes
SEÇÃO I
Dos Princípios
Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios:

I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as


exigências de rentabilidade econômica;
II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da
ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;
III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a
benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e
comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de
necessidade;
IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação
de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas
e rurais;
V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos
assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e
dos critérios para sua concessão.
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

É uma política que junto com as políticas setoriais, considera as


desigualdades sócioterritoriais, visando seu enfrentamento, à garantia
dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender à
sociedade e à universalização dos direitos sociais.
O público dessa política são os cidadãos e grupos que se encontram em
situações de risco. Ela significa garantir a todos, que dela necessitam, e
sem contribuição prévia a provisão dessa proteção.
A Política de Assistência Social vai permitir a padronização, melhoria e
ampliação dos serviços de assistência no país, respeitando as diferenças
locais.
• Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção
social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos
que deles necessitarem;
OBJETIVOS:
• Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos
específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços
socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural;
• Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham
centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e
comunitária.
PRINCÍPIOS DA PNAS
Em consonância com o disposto na LOAS, capítulo II, seção I,
artigo 4º, a Política Nacional de Assistência Social rege-se pelos
seguintes princípios democráticos:

•I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as


exigências de rentabilidade econômica;
•II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o
destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas
públicas;
•III – Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu
direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à
convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer
comprovação vexatória de necessidade;
•IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem
discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às
populações urbanas e rurais;
•V – Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e
projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo
Poder Público e dos critérios para sua concessão.
SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

“A política de assistência social, que tem por


funções a proteção social, a vigilância
socioassistencial e a defesa de direitos,
organiza-se sob a forma de sistema público
não contributivo, descentralizado e
participativo, denominado Sistema Único de
Assistência Social - SUAS”.
Art. 1º da NOB SUAS/2012
[...] o SUAS é modelo de gestão descentralizado e participativo,
constitui-se na regularização e organização em todo território
nacional das ações sócio assistenciais.
Os serviços, programas, projetos e benefícios têm como foco
prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o
território como base de organização, que passam a ser definidos
pelas funções que desempenham, pelo número de pessoas que
deles necessitam e pela sua complexidade.
Pressupõe ainda, gestão compartilhada, cofinanciamento da política
pelas três esferas de governo e definição clara das competências
técnico-políticas da União, Estados e Distrito Federal e Municípios,
com a participação e mobilização da sociedade civil, e estes têm o
papel efetivo na sua implantação e implementação (BRASIL, PNAS,
2004).
ASSISTENCIALISMO x ASSISTÊNCIA SOCIAL
FUNÇÕES DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
CLASSIFICAÇÃO DO SUAS
Rede Socioassistencial
(Programas, Serviços, Projetos e Benefícios)

Unidades Unidades
Governamentais: Não Governamental:

CRAS
PORTA DE
ENTRADA DOS TODAS AS ENTIDADES E
USUÁRIOS CREAS ORGANIZAÇÕES DE
DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
ASSISTÊNCIA
SOCIAL CREAS REGIONAL

CENTO POP

UNIDADE DE ACOLHIMENTO 01 – Atendimento

CENTRO DE CONVIVÊNCIA 02 – Assessoramento

CENTRO DIA 03 - Defesa e garantia de direitos


INSTRUMENTOS DA VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL
Lei que incorpora o SUAS no corpo da LOAS – garantindo em
Lei os avanços conquistados na IV Conferência Nacional

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES:

01- Consolida o SUAS;

02- Fortalece a gestão, o controle social, o monitoramento e a avaliação da


Política de Assistência Social;

03- Aperfeiçoa o critério de acesso ao BPC;

04- Define entidades e organizações de assistência social;

05- Organização e gestão da Política de Assistência Social e vínculo com o


SUAS;

06- Inclusão do conceito de família para a Política de Assistência Social;

07- Financiamento e competência de cada esfera de governo;

08- Pagamento de pessoal com recursos dos Fundos de Assistência Social.


Obrigada e até a
próxima aula!

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