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CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBESIDADE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM


SAÚDE (APS)

Maurício Lopes da Silva

Este texto traz consigo suposições e, possíveis articulações prévias, sobre às


noções de obesidade e o cuidado na atenção primária em saúde (APS), a partir das
temáticas discutidas no modulo VI.
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) tomam destaque de grande
prioridade no senário cenário de saúde pública no Brasil. Dentre estas doenças,
encontram-se a prevalência de diabetes e hipertensão em sua relação com o ganho e
aumento ao excesso de peso. Essas mudanças tem uma relação intima com o as
mudanças no estilo de vida da população (SCHMIT, 2011).
Estas doenças e agravos apresentam uma maior incidência no cenário atual
sendo assim, representam principais causas de óbitos em adultos. A obesidade toma
destaque, sendo ela um dos fatores de maior risco para o adoecimento neste grupo.
(SCHMIT, 2011). De acordo com os dados do VIGETEL, um a cada quatro brasileiros,
maiores de dezoito anos, apresenta obesidade, totalizando, em média, 41,2 milhões de
brasileiros e brasileiras. Quando pensado a proporção para o sobrepeso, os mesmos
dados, apontam para 96 milhões de brasileiros com essa condição. Esta mesma pesquisa
também situa as principais doenças crônicas como diabetes e hipertensão, ao excesso de
peso e a obesidade (BRASIL, 2020), nos servindo de parâmetro para indagação: como
vem se constituindo o cuidado em saúde a essa população?
Primeiramente situa-se que a Organização Mundial da Saúde (OMS) define a
obesidade a partir da concepção de um acúmulo excessivo de gordura no corpo em
extensão, que venha a acarreta prejuízos à saúde da população. Dentre esses prejuízos,
destacam-se as condições respiratórias, os problemas dermatológicos e distúrbios do
aparelho locomotor, assim como viabiliza o surgimento de outras modalidades de
adoecimento como as doenças cardiovasculares, as diabetes (tipo I e II) e alguns tipos
de câncer (OMS, 1998; BRASIL, 2014).
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A obesidade é uma condição complexa que envolvem uma multifatorialidade de


causas. É reconhecida enquanto uma doença crônica e não transmissível (DCNT). É
considerada um problema de saúde pública, possuidora de uma proporção epidêmica,
preocupando as autoridades em saúde (PINHEIRO; FREITAS; CORSO, 2004).
Deste modo, a obesidade e o excesso de peso têm representado, na sociedade
brasileira, um desafio a ser elaborado, pois nele encontram-se os modos de viver em
sociedade, atrelados as contingências do trabalho, das condições econômicas e socais.
O seu status de patológico ocasiona uma série de consequências, que
influenciam desde a legislação até o modo como as pessoas são tratadas (SANTOLIN,
2021). Seixas e Birman (2012), argumentam que por mais que haja uma ampla
produção médico-científica a respeito da obesidade, são poucas as obras que viabilizam
identificar com clareza sua construção histórica enquanto uma categoria clínica.
Em relação ao cuidado a obesidade e o sobrepeso na atenção primária, entende-
se que é um grande desafio para as equipes de saúde. A abordagem, na busca por
alguma efetividade, carece das diversas categorias profissionais das equipes de
saúde, exigindo o protagonismo dos indivíduos, suas famílias e comunidade
(BRASIL, 2022).
Em estudos Lopes et al., (2021) sinalizam que as equipes de saúde enfrentam
diversas dificuldades no cuidado dessa parcela da população, dentre elas estão a alta
demanda por atendimento curativo e individual, a presença de comorbidades, ás as
ausências ou acesso insuficiente a materiais instrucionais, qualificação profissional e
falta de apoio.
De acordo com Seixas (2009), a abordagem em relação a obesidade está
sustentada no binômio saúde-doença, visando, por meio de práticas que tem como base
e foco o emagrecimento, restabelecer um estado inicial onde a saúde estaria vinculada
ao corpo magro. Este binômio é marcado pela ideia de que a doença principal é a
obesidade e que, de modo geral, ela é a responsável principal por a desencadeadora de
outras doenças associadas, ou seja, às comorbidades.
Partindo de uma perspectiva Ffaoucaultiana, pode-se pensar que o corpo estaria
aqui, a partir de um olhar adoecido, enquanto local de proliferação e incidência do
discurso científico, que sustentado por uma perspectiva biomédica, utilizaria do curso
da patologização para demarcar o êxito ou o fracasso tanto da saúde, como condição de
um dever do estado, quanto subjetiva colocando o sujeito a ser o responsável pelo seu
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padecimento. O corpo, nesse sentido, está articulado diretamente em um campo político,


onde as relações de poder dele se apoderam imediatamente (FOUCAULT, 1987).
Como bem aponta Seixas (2009), ao partir da história da sexualidade de
Foucault, torna-se possível associar a ideia de que, se no período do século XIX o
controle da vida e das condições populacionais ocorriam por meio das imposições ao
sexo, agora, a partir dessa perspectiva, entende-se que é pela via do corpo vinculado aos
ideais dominantes relacionados a magreza e a saúde, que ocorrem os modos de
regulação.
De acordo com Santolin e Rigo (2015) a concepção médica endereçada ao
sujeito com obesidade, situa-se desde o interior ao exterior do corpo, direcionando seu
olhar a partir da menor molécula à sua forma corpórea, inferindo àquilo que pode ou
não vir a ser natural. Situa-nos ao dizer que “percebe-se, enfim, de que maneira a
estética pode ser vinculada às ‘funções’ biológicas e inseridas num discurso
patologizante que a torna passível de medicalização” (Santolin e Rigo, 2015, p.88).
Em uma sociedade onde os valores estéticos estão no horizonte dos ideais que
ganham destaque, demarcando o imaginário cultural, e a crítica à tentativa de tratar
corpos obesos ou com sobrepeso, torna-se balizadora desta proposta de discussão.
Deste modo, pensar o cuidado na atenção primária em saúde, torna-se
fundamental e desafiador, compreendendo que seu lugar baliza as relações entre as
formas de pensar a saúde na articulação com o território. Nesse sentido, a obesidade e o
sobrepeso, ficam compreendidos enquanto uma ameaça a partir da lógica do visível, do
contorno ao corpo, das implicações e desimplicações dos sujeitos em relação aos seus
hábitos alimentares, por muito os culpabilizando.
Sendo assim, supõe-se que, o cuidado às pessoas com obesidade e sobrepeso na
atenção primária em saúde, se estabelece a partir da normalização dos ideais de saúde
pautada nos estereótipos e adoecimento dos corpos.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PINHEIRO, Anelise Rízzolo de Oliveira; FREITAS, Sérgio Fernando Torres de;


CORSO, Arlete Catarina Tittoni. Uma abordagem epidemiológica da obesidade.
Revista de nutrição, v. 17, p. 523-533, 2004.
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SCHMIDT, Maria Inês et al. Doenças crônicas não-transmissíveis no Brasil: carga e


desafios atuais. Lancet, v. 377, n. 9781, p. 1949-1961, 2011.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel
Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.
SANTOLIN, Cezar Barbosa; RIGO, Luiz Carlos. O nascimento do discurso
patologizante da obesidade. Movimento, v. 21, n. 1, p. 81-94, 2015.
SEIXAS, Cristiane Marques et al. Comer, demandar, desejar: considerações
psicanalíticas sobre o corpo e o objeto na obesidade. 2009.
Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel, Brasil 2019.
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DEVOLUTIVA DA RESENHA CRÍTICA


MÓDULO 6
NOTA GERAL:
Fundamentação
Teórica, Embasamento Relação com as Referencial
Utilização da Norma
e Articulação disciplinas do módulo Bibliográfico
Conceitual

5,8 2 1 1

CONSIDERAÇÕES:
O texto é coeso e coerente. Segue uma linha de raciocínio clara e compreensível.
Sua escrita é excelente e não deixa a desejar na articulação com os transtornos
alimentares. Isso costuma ser uma questão nas suas resenhas, mas não é aqui. É um
ótimo texto! Um dos seus melhores.
Não há grandes erros ortográficos e nem de formatação. Seu texto é coeso e
coerente. Faz bom uso da bibliografia escolhida. Lembre-se de verificar os comentários
feitos no corpo do texto.
É uma ótima resenha. Parabéns!

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