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As formas da psicose
Alexandre Simões
Transcrição (com adaptações) de vídeo disponível em
https://youtu.be/smsmWInkq98

Vamos falar sobre as psicoses. Inicialmente, vamos


abordar um pouco sobre as formas da psicose e um pouco sobre
histórico da psicose.
Em seguida, falaremos sobre as interrelações e
diferenças entre paranoia e esquizofrenia, que são modos, formas
de psicose.
Posteriormente, trataremos um pouco sobre as psicoses
não desencadeadas e sobre a clínica e o tratamento da psicose.
A psicoses são classicamente conhecidas e reconhecidas
sobretudo pela psiquiatria. Faz um bom tempo que as psicoses
são abordadas, catalogadas, cartografadas e tratadas por vários
psiquiatras, antes mesmo da psiquiatria se apresentar como saber
autônomo, um saber inerente ao discurso médico, fato este que
ocorreu ao final do século 18.
Antes desse momento, as psicoses já eram abordadas.
Claro que a partir desse momento, final do século 18 e início do
século 19 em diante, houve um grande impulso na abordagem e
no tratamento da questão das psicoses.
Percebemos que são muitos estudiosos, muitas escolas,
assim chamadas na psiquiatria, temos a escola alemã, a escola
italiana, a escola francesa, a escola inglesa, e um pouco mais
tardiamente, em relação a essas escolas, temos a chamada escola
norte-americana.
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Temos, então, várias escolas, várias perspectivas, várias


tradições no campo da psiquiatria, abordando a problemática das
psicoses. Isto vem se sedimentando, vem dando mais sustentação
a esse conjunto de saberes até que, sobretudo no século 20, nós
temos o desaguar desse conhecimento num campo mais amplo
ainda que o campo da psiquiatria, que é o campo da saúde
mental, onde encontramos a psiquiatria participando desse
campo. Mas encontramos também a psicanálise e alguns outros
saberes participando desse campo.
Hoje temos um conjunto de discursos, de saberes, que
tem muito o que dizer sobre as psicose, saberes esses que
participam do território da saúde mental e aqui vou basicamente
fazer alguns recortes sobre esse tema a partir da psicanálise.
A partir desse histórico, a primeira observação que eu
gostaria de salientar é que as psicoses, elas não são unívocas,
quando nós falamos em psicose, quando pensamos na psicose,
nós não devemos pensar em uma coisa só, somente um bloco.
Muito pelo contrário, a psicose é muito polimórfica, é
multifacetada. Então podemos dizer que as psicoses são
compostas por uma infinidade de fenômenos, de sinais
psicopatológicos e devemos ter muito cuidado quanto à visão, às
vezes, monolítica, muito simplificadora, das psicoses.
Por exemplo, devemos ter um certo cuidado quanto à
apresentação e representação cinematográfica das psicoses que
são abordadas por diversos filmes no cinema, na televisão, pois
nem sempre o que de fato está em jogo nas psicoses está
identicamente representado no cinema, na televisão.
Em alguns momentos há algo que é pertinente nessa
representação, mas às vezes, por conta dessas imagens,
acabamos tendo uma visão muito espetacular, muito
cinematográfica e, às vezes um tanto quanto simplificadora do
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que está em jogo. Então é preciso avaliar cuidadosamente alguns


desses elementos que compõem o amplo campo das formas de
psicose.
As psicoses variam bastante, podemos encontrar desde
o tipo clássico, que seria talvez um tipo puro, a demarcação pura,
aquela psicose em que vemos grandes sinais, grandes marcas
grandes fenômenos, que nos indicam com mais nitidez que eis
aqui, um modo de subjetivação, que nós chamamos de psicose,
mas também podemos ter aí um certo espectro, uma oscilação,
desde o tipo puro, até mesmo chegando a uma forma muito
discreta, aquela forma discreta que seria muito mesclada, muito
misturada com o cotidiano dos nossos laços sociais.
Então temos desde aquele sujeito psicótico que
nitidamente pode indicar, até para o não especialista da área, que
tem alguma coisa um tanto quanto fora, ao lado ou meio
estranha nele, com ele. Mas também temos outras manifestações
da psicose, em que esses sujeitos estão o tempo todo lidando
conosco, no trabalho, em casa, na família, nas mais diversas
relações sociais.
Por isso que não devemos pensar que quando falamos
em psicose estamos só falando daquela forma de psicose em que
o sujeito acaba caindo, por várias vias, numa situação de
segregação, de apartamentos, alheio ao convívio com as pessoas.
Muito pelo contrário, a psicose pode estar entre nós.
Também devemos notar que as manifestações das
formas da psicose se mostram de modos bem distintos. Quando
nós comparamos, por exemplo, as psicoses no adulto e as
psicoses na crianças, as psicoses infantis. As psicoses podem se
manifestar desde a infância, no entanto, o mais comum é que o
modo de manifestação das psicoses na infância não se dá de
maneira idêntica, não se dê com as mesmas cores, as mesmas
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características e os mesmos processos, do que quando a psicose


se manifesta num adulto.
Aqui por uma questão de recorte, vamos falar um pouco
mais das psicoses na adolescência e na vida adulta, excluindo
portanto, os detalhes das diferenças que se dão quando ela se
apresenta na infância.
Em se tratando de adolescentes e adultos, sem cair em
grandes simplificações, é só uma tentativa de organização dessa
problemática, nós podemos pensar que as psicoses vão se
manifestar em três grandes perspectivas e essas perspectivas,
por sua vez, são compostas por vários fenômenos, por vários
sinais.
Temos três grandes perspectivas em se tratando das
psicoses em adultos:
- temos aqueles tipos, aqueles modos de psicose que
tendem para a paranoia. Então a paranoia é um grande tipo de
psicose.
- temos uma outra perspectiva que tende para a
esquizofrenia com suas diversas manifestações de possibilidades;
- e temos um outro braço, por assim dizer, um outro
ramo das psicoses, em que o que nós vamos verificar em uma
escala mais evidente e que são as alterações severas do humor,
as alterações severas do afeto. Nesta terceira perspectiva,
encontramos aquelas psicoses que até um tempo atrás elas eram
nomeadas de melancolias ou de psicose maníaco depressiva e
que atualmente temos outras nomenclaturas, outras
designações, controversas ou não, para lidar com esse campo e
que mais à frente abordaremos.
Então temos estas três grandes categorias e vamos
pensar um pouco sobre cada um deles. Por exemplo, temos essa
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perspectiva da problemática da psicose que vai em direção e


desemboca na paranoia. A paranoia, o que é muito característico
dela, é a manifestação dos delírios.
A paranoia é uma psicose, que embora possa variar de
paciente para paciente, fortemente, o seu tom, é o delírio, a nota
da paranoia é o delírio. Por exemplo, nas classificações
contemporâneas da psicopatologia, a paranoia é chamada de
transtorno delirante.
A maior parte do que a psicanálise reconhece como
paranoia nessas classificações, como por exemplo, no DSM 5 e na
CID 11, não vamos encontrar propriamente a palavra paranoia. O
o quadro chamado paranoia, nós vamos encontrar no campo do
que é nomeado de transtornos delirantes.
Também algo da paranoia que pode ser encontrado no
transtorno de personalidade paranoica. São esses dois grandes
lugares na psicopatologia contemporânea, nessas classificações
contemporâneas, são esses dois grandes lugares, que absorvem a
problemática, que na psicanálise, nós reconhecemos como a
problemática da paranoia, que é, portanto, um tipo de psicose.
O interessante da paranoia, além da manifestação do
delírio, é que há, na paranoia, o delírio e ele é compatível em boa
medida, com uma certa preservação do laço social, do convívio
social. Nós podemos ter diversos delírios, os delírios de ciúmes,
de erotomania, delírios megalomaníacos, delírios místicos e
delírios de perseguição, por exemplo.
Esses nomes de delírios acabam designando a temática
central do delírio. Por exemplo, delírio de ciúmes. São várias
formulações que o sujeito se vê às voltas e o tom fundamental é a
certeza de que o outro me trai.
Então o sujeito se sente traído, por exemplo, se ele é
casado ou se ele vive com alguém, ele sente que aquela pessoa
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com quem ele tem uma parceria, essa pessoa o trai. Ele tem essa
certeza, tem ideias que dizem respeito a isso.
O delírio, por exemplo, de erotomania, diferentemente
deste, é o delírio em que o sujeito começa a ter certeza de que o
outro o ama. Então, por exemplo, um aluno pode ter certeza de
que o seu professor o ama, um paciente pode ter certeza de que
o seu médico o ama. São formações delirantes.
Nos delírios persecutórios, como o próprio nome já diz, o
sujeito se porta com a certeza de que ele está sendo vigiado,
visto, observado. É um olhar que está o tempo todo lançado para
ele.
Por mais que possa parecer estranho, por mais que isso
possa parecer meio fora do comum, nós devemos compreender
que na paranoia, é perfeitamente possível que o sujeito construa
uma malha delirante, uma rede delirante, e que ele continue
lidando com o seu cotidiano, dependendo da situação, claro que
isso pode passar por modificações, mas ele continua lidando com
o seu cotidiano.
Então, o delírio não é necessariamente desorganizador
da realidade. É isso que eu quero dizer. Muito pelo contrário, o
delírio para o sujeito paranoico, para esse psicótico, o delírio é um
modo de organizar a relação dele com a realidade.
Por mais que o delírio possa parecer estranho, que para
quem escuta possa parecer que esse sujeito esteja fora, esteja
out, ou seja esteja, numa situação de clandestinidade em relação
ao nosso cotidiano, em relação aos aparentes fatos que
compõem o nosso dia a dia, nossa realidade, o delírio, de um
outro ponto de vista, mais preciso, mais clínico, o delírio é uma
forma de organizar, uma forma do sujeito se posicionar num dado
campo de realidade.
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Então a gente tem que compreender, claro que existem


complexidades, mas o que eu quero dizer, é que delírio e
realidade não são necessariamente incompatíveis, existem
costuras sofisticadas de um com o outro.
A paranoia, além dessa característica maior que enfatizei
aqui, a paranoia também é uma psicose que usualmente as
manifestações alucinatórias são mais discretas. O delírio tende a
ser mais expressivo, ele é um juízo, é uma sentença ou um
conjunto de sentenças que é lançado sobre uma dada realidade:
existe tal coisa, tal coisa é assim, tal coisa é assado. São
afirmações, são sentenças e isso vai formando uma rede, uma
teia.
Alucinações são alterações do campo dos sentidos,
então é uma alteração relacionada à visão, uma alteração
relacionada a audição, uma alteração relacionada ao gosto, ao
paladar.
As alucinações são usualmente discretas na paranoia. O
que é preponderante, o que tende a ser preponderantes, são os
delírios. Então, nesse sentido é que o sujeito paranoico,
normalmente, ele tem uma preservação da sua orientação, uma
preservação da clareza da consciência.
O paranoico, por mais que ele seja delirante, não
necessariamente, ele é confuso, não necessariamente, delírio e
confusão mental estão associadas. É interessante que o
paranoico, propriamente dito, quando ele começa a delirar e
quando esse caminho da paranoia se apresenta, se abre para ele,
ele começa a dizer que, agora sim, está tendo mais clareza de
tudo.
Isso é muito interessante, agora ele está
compreendendo, como que o mundo é feito, qual que é a regra,
quais são as regras do universo, qual é a verdade por trás das
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coisas. Então, em alguns momentos, o paranoico se sente tocado


por uma verdade, por uma iluminação, agora eu entendo que o
mundo funciona de tal e tal maneira.
Então, nesse sentido, é que o delírio não é
necessariamente desorganizador na paranoia e, em algum
momento, ora mais ora menos, o que nós vamos verificar, é que
esse delírio, essa rede delirante, essa teia, esse sistema, ele é
acompanhado por uma forma de ser, de uma forma de certeza
delirante. Temos a certeza delirante. Essas são características
importantes da paranoia e mais à frente podemos abordar com
um pouco mais de detalhes a relação da paranoia com a
esquizofrenia.
Vamos agora analisar outra grande perspectiva das
psicoses, que vem a ser o plano das esquizofrenias.
Inicialmente, a esquizofrenia, o que nós podemos dizer,
é que ela é mais desestruturante do que a paranoia. Então a
esquizofrenia, ela é usualmente acompanhada de
despersonalização e de fenômenos invasivos, ou seja, o que que é
isso?
Dito de uma maneira mais sintética, a intimidade, aquilo
que é mais íntimo para você, sua relação com seus pensamentos,
a sua relação com você próprio, a sua relação com o seu corpo, a
certeza de que você é você, a sua identidade, a relação que você
tem com o seu nome, com a sua família, com o lugar em que você
nasceu, isso que é muito íntimo em cada um de nós, a dimensão
da intimidade.
Na esquizofrenia a intimidade ela tende a se tornar
estranha, então imaginem algo muito íntimo, aparentemente
duradouro, e que não dado momento, isto começa a se tornar
muito estranho, muito alheio, que significa outro e daí alienígena.
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Então tem uma estranheza com o que é muito próprio, é


como se de repente os dois se tornassem estrangeiros. Nesse
sentido, a esquizofrenia é composta por um conjunto enorme de
fenômenos, mas usualmente trazem essa marca da estranheza do
íntimo, que se torna estranho.
Exatamente por aí que os fenômenos chamados de
despersonalização podem ocorrer com esquizofrénico num dado
momento da sua trajetória. Ele olha para si próprio no espelho e,
por exemplo, ele não se reconhece, começa a achar que tem uma
coisa estranha no rosto, no corpo.
Então aquilo que é muito sossegado para o nosso corpo,
muito quieto, por exemplo, passa a apresentar manifestações
muito estranhas. A pessoa começa a sentir que está sendo
manipulado por forças ou seres estranhos.
A esquizofrenia, é claro que há mais detalhes
importantes, mas esquizofrenia, o que eu quero dizer nessa
comparação, é que enquanto na paranoia, o delírio faz com o
que a paranoia fique um tanto preservada, a esquizofrenia é mais
despersonalizadora.
Existem delírios na esquizofrenia e muitas alucinações,
mas o delírio na esquizofrenia, ele não faz uma costura que se
mantenha tanto quanto isto tende a ocorrer na paranoia.
A esquizofrenia pode ter mais alucinações, são coisas
mais dispersas, um bombardeio vindo de vários lugares ao
mesmo tempo e isso gera mais ruínas do que necessariamente
alguma coisa mais coesa.
Vamos agora analisar a terceira e última grande
perspectiva possível de manifestação das psicoses, que vem a ser
os transtornos severos do humor.
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Em larga medida, presenciamos nesse campo a


presença dos chamados fenômenos negativos, ou seja,
fenômenos tais como o mutismo, apatia, paralisia das ações,
empobrecimento afetivo muito forte, então, isso que são
fenômenos que nós chamamos na psicopatologia, de fenômenos
negativos.
Então a vida afetiva da pessoa vai se empobrecendo, é
como se fosse um crepúsculo. Pensemos no quanto nossa vida
afetiva, nossos envolvimentos com as ações, com as coisas do
nosso cotidiano são como um dia muito ensolarado, tudo
brilhando.
Nesses transtornos muito severos do humor, quando a
problemática posta é de fato relativo à psicose, o que nós
começamos a presenciar é um certo crepúsculo, a luz diminui,
então a energia diminui, a iniciativa diminui. A pessoa pode
inclusive ficar muito calada.
Temos, por exemplo, aqui dentro desse campo,
situações muito importantes, muito severas, como por exemplo,
a catatonia. Até os movimentos da pessoa se paralisam, os
movimentos são empobrecidos, a pessoa vai se paralisando. Ela é
deixada, por exemplo, num canto de uma sala do quarto, ela se
coloca ali e ali ela pode ficar durante horas, inerte, como se fosse
um objeto.
Essa dimensão objetal ou objeto que cai, como objeto
caído, o corpo pode se apresentar como se fosse isso, um objeto.
Temos, por exemplo, a Síndrome de Cotard, algo também muito
curioso, um tanto quanto raro, mas curioso, mas para a gente ver
a dimensão desses fenômenos negativos, a pessoa começa a
sentir um cheiro de putrefação, alucinações olfativas, ela olha
para ela e vê que já morreu, ela fica perplexa, e se pergunta:
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como que vocês não me enterraram ainda. Eu não estou aqui, o


meu corpo está em decomposição.
Esses fenômenos muito severos do humor tendem para
essa perspectiva também da ruína, da decomposição, para
desmontagem daquilo que anteriormente poderia se mostrar de
uma maneira com mais iniciativa, com mais versatilidade.
Agora há que se fazer um alerta. Nem tudo que parece é
psicose é psicose. É possível que em algum momento da vida,
algumas pessoas desenvolvam alguns desses fenômenos, mas
eles podem ser transitórios e podem estar associados a várias
outras circunstâncias. Por exemplo, podem ser desencadeados
pelo uso de várias substâncias psicoativas, pode estar associado
ao uso de medicamentos. Pode estar também somente localizado
em situações muito específicas da vida daquela pessoa.
A gente tem que tomar um certo cuidado quanto ao
diagnóstico, porque por outro lado, o que não parece psicose, a
uma primeira vista, pode ser uma psicose. Então, a gente tem que
tomar cuidado quanto ao que é muito evidente, mas, também,
não descartar a possibilidade de uma situação mais discreta ser
também, trazer com ela, uma problemática relativa ao campo da
psicose.
Então o diagnóstico, já que começamos a falar sobre
isso, o diagnóstico é uma tarefa a ser feita de maneira muito
cuidadosa. O diagnóstico funciona muito na psicopatologia, na
saúde mental, como uma tabela de cores. Imagine uma tabela de
cores, cheio de cores, não só as cores básicas, mas milhões de
cores.
Ali nós temos muita passagem de uma cor para outra e a
situação em as cores se confundem. Por exemplo, podemos ter o
azul esverdeado, mas também o verde azulado. O azul
esverdeado e o verde azulado são muito próximos, então nós
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temos tomar cuidado, não achar que construir diagnóstico é


simplesmente classificar coisas muito fixas, muito discerníveis.
Muito ao contrário, existe o azul que é muito distinto do
vermelho e estão em pontas opostas do espectro, da tabela de
cores, mas o fundamental numa tabela de cores é essa educação
do olhar, percebermos que existem sutilezas, existem
proximidades, existem fronteiras. As fronteiras não são feitas só
para que as coisas se separem, muito pelo contrário, as fronteiras
são feitas para que situações se articulem, se aproximem.
Então a construção do diagnóstico no campo da saúde
mental e, sobretudo, quando o que está em jogo é a psicose, há
de ser feito com muito cuidado. Isso não é uma tarefa a ser feita
de maneira rápida, nem em poucos minutos de atendimento de
um paciente.
Há casos que às vezes nós temos dúvidas diagnósticas
que nos acompanham o tratamento inteiro. Há situações que nós
fazemos uma aposta no diagnóstico nas primeiras sessões, nos
primeiros momentos que nós encontramos com paciente, mas há
situações que funcionam como espécie de ornitorrinco, é um
mamífero ou é uma ave? No raciocínio do classificador de
plantão, que acha que as coisas sempre cabem nas suas devidas
gavetas, onde que colocaria, por exemplo, o ornitorrinco?
Isso é semelhante a tabela de cores. Então, nesse
sentido, de que nós falamos das grandes perspectivas da psicose,
de certo cuidado quanto ao diagnóstico e de compreendê-lo
como uma tabela de cores, porque há um limite da classificação e
nem tudo se distingue de tudo.
Lidar com o diagnóstico é exatamente lidar com
fronteiras. Nesse sentido, é que nós podemos dizer que não
existe, se tratando de psicose, um fenômeno, um sinal, um
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sintoma patognomônico, uma palavra grande, mas o que é


patognomônico?
É aquilo que seria assinatura do quadro clínico, como se
fosse uma impressão digital. Não existe nenhum sintoma,
nenhum fenômeno, que por si só, em se tratando da Psicose,
funcione como uma impressão digital de uma pessoa. Você olha
para aquele quadro clínico, para aquele fenômeno e pode dizer
que certeiramente que o que está em jogo é uma psicose?
Muito pelo contrário os fenômenos da psicose se
apresentam em outros quadros que não são relativos à psicose e
nesse sentido. é que nós não temos, em se tratando da saúde
mental, voltando à analogia com as cores, nós não temos uma
única cor, que seja exclusiva da psicose. Muito pelo contrário, aí
sim nós temos que ter mais atenção e , abordar esse assunto de
maneira bem cautelosa.

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