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CASOS

Demências: O Psicólogo no Rastreio,


Avaliação e Intervenção
Casos

CASOS
CASO 1

A Sra. Manuela de 79 anos de idade, comparece à consulta a pedido das filhas e


acompanhada por estas, apresenta-se consciente, pouco colaborante e pouco
orientada. A sua aparência é cuidada e o comportamento adequado à situação. O seu
discurso demonstra alguma desorientação.
A Sra. Manuela atribui relevância às dificuldades de memória que descreve (e.g. não se
recordar de datas nem sempre dos nomes das pessoas), mas não considera que estas
interferem com o seu funcionamento diário. No seu entender esta consulta é
desnecessária, apenas vem por insistência das filhas. Ao longo da entrevista clínica foi
possível observar desorientação temporal e falhas na recordação da história pessoal
recente. Tem relativa autonomia nas atividades básicas e instrumentais de vida diárias,
cozinha para a família (embora nem sempre consiga finalizar alguns pratos por não se
recordar da sua execução), gosta de tratar da casa, no entanto foram-lhe sendo retiradas
essas tarefas por receio na sua execução devido à fragilidade física que vai apresentando
(manifesta muito desconforto em relação a este facto). Vive com o marido e com uma
das três filhas, sendo que todos manifestam preocupação e cuidado pela Sra. Manuela
e como tal tentam minimizar os riscos que a possam pôr em causa.
As filhas confirmam episódios que parecem evidenciar dificuldades cognitivas na mãe
(e.g. esquecimento dos nomes das próprias e das netas, esquecimento de datas e na
execução de pequenas tarefas como na preparação de refeições) referindo que estas
têm vindo a aumentar e também referenciam um aumento de desinteresse e apatia.

Foi realizada uma avaliação neuropsicológica em que foram aplicadas as seguintes


provas:
Montereal Cognitive Assessment (MoCA) – para avaliação do estado mental global
Provas da Bateria de Lisboa para Avaliação da Demencia - BLAD

Geriatric depression Scale (GDS) para fazer o despiste de sintomas depressivos

A D.CM apresentou resistência e vontade de parar ao longo das provas, questionando a


pertinência de continuidade das tarefas. Os resultados da avaliação sugerem declínio
cognitivo ligeiro a moderado e a presença de sintomas depressivos que merecem uma
maior atenção.

Perante o resultado da avaliação o psicólogo sugere o acompanhamento da Sra.

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Casos

Manuela em consulta individual de psicologia para averiguar se as dificuldades mnésicas


poderão estar relacionadas com as dificuldades interpessoais relatadas (desacordo com
as preocupações das filhas e marido; desconforto relativamente às restrições colocadas
em casa; recusa em sair de casa ou em interagir com outras pessoas, as quais, no seu
entender não apresentam qualquer interesse para si; “mau feitio”; “só faz o que quer”;
“autoritária”), trabalhando estratégias para lidar com estas dificuldades, assim como
atividades de estimulação cognitiva.

As atividades serão definidas em colaboração com a pessoa e de acordo com a avaliação


psicológica já realizada. A par disto, pretende-se o envolvimento dos familiares na
dinamização de outras atividades (atividades significativas) garantindo o envolvimento
e motivação da Sra. Manuela durante o intervalo de sessões (período de tempo entre
uma sessão e a seguinte) e ainda numa perspetiva de autonomização após a realização
da totalidade das sessões de estimulação, o que permitirá potenciar os efeitos das
sessões de estimulação.

O plano de intervenção é apresentado à Sra. Manuela, que recusa, mas as filhas insistem
em querer avançar.

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CASO 2

O Sr. Filipe tem 68 anos, casado, com 2 filhos, que tem sido acompanhado por uma
equipa multidisciplinar no Departamento de Psicogeriatria do HML durante os últimos 6
anos.
O motivo para o presente exame foi o pedido da mulher para internar o marido numa
unidade residencial.
O Sr. Filipe foi examinado pela primeira vez há 9 anos (59 anos), quando a mulher lhe
notou alterações da memória e do comportamento e lhe sugeriu que procurasse auxilio
médico. Nessa altura o Sr. Filipe trabalha como segurança. Durante a primeira consulta,
o Sr. Filipe referiu que vinha sentido crescentes problemas de memória desde há pelo
menos 2 anos. Disse que se esquecia frequentemente das chaves, ou que ia a casa
buscar qualquer coisa da qual se esquecia quase imediatamente. A mulher notou que
ele se modificara, deixando de ser uma pessoa agradável e que gostava de sair, passando
a evitar conversas. Disse também que ele por vezes parecia hostil, sem qualquer razão
aparente. O Sr. Filipe gozava de boa saúde em geral e não estava a tomar qualquer
medicação. O seu consumo de álcool limitava-se a 2 ou 3 cervejas por dia. Não tinha
qualquer historia medica ou psiquiátrica significativa, nem familiar, de perturbações
psiquiátricas ou cognitivas.
Três anos mais tarde (62 anos), a mulher contactou o serviço de psicogeriatria para
tratamento dos sintomas cognitivos e comportamentais do marido. O exame físico geral
realizado nessa consulta nada mostrou de notável. O Sr. Filipe mostrava-se hesitante e
manifestava dificuldade em manter a atenção. Não havia evidência de qualquer
perturbação do humor. O exame neuropsicológico permitiu verificar que o Sr. Filipe
estava desorientado em relação ao tempo e ao espaço. Contudo, pareceu compreender
quase todas as questões e estava ciente de que tinha dificuldades cognitivas.
O Sr. Filipe manifestou um défice moderado a grave da memória, da atenção, do
funcionamento espaciovisual, da mudança de contexto e das mudanças de julgamento
e planeamento.
Mais recentemente, a esposa do Sr. Filipe referiu que o marido tinha começado a exibir-
se nu aos vizinhos, especialmente à crianças que passavam à janela da sua casa.
Disse também que o marido tinha começado a ser sexualmente agressivo com ela.
Quando confrontado com estes fatos, referiu não se recordar deles. Começou a tomar
1mg de haloperidol à hora de deitar. No entanto o comportamento do Sr. Filipe não
melhorou nos 4 meses de medicação. A medicação foi suspensa a pedido da esposa.
Com as dificuldades de lidar com a situação, a esposa solicita apoio e possível
internamento.

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CASO 3

O Sr. Abílio era chefe de departamento de uma empresa no ramo da restauração, com
o 9º ano escolaridade. Aos 64 anos começou a apresentar alguns esquecimentos de
encomendas e visitas. Em casa, a sua família achava-o um pouco “estranho”: não tinha
o mesmo interesse pelas coisas que habitualmente fazia e estava muitas vezes irritável.

Cerca de 6 meses mais tarde, os esquecimentos no local de trabalho começaram a ser


mais frequentes e seu rendimento laboral diminuiu de forma acentuada. Começou então
a tomar notas e a delegar funções noutras pessoas. Havia dias em que não se
conseguia lembrar do nome dos últimos empregados que tinha contratado e às vezes
não encontrava a palavra adequada para o que precisava, optando por outras com
significado semelhante.

Mais tarde, o desinteresse do Sr. Abílio aumentou e começou a mostrar-se “distante” e


indiferente em relação às coisas do dia-a-dia: parecia estar a maior parte das vezes
“ausente”.
Perante as suas dificuldades reagia com desespero e chorava facilmente. A sua mulher
pensou que ele estava deprimido e insistiu para que fosse ao médico. Na consulta, após
uma entrevista aprofundada, o médico suspeitou da existência de uma demência, pelo
que solicitou que se fizesse uma serie de testes.
Estes incluíram MMSE e o Teste do relógio e os seus resultados foram 28 e 3
respetivamente.

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CASO 4

Sra. Clara tem 68 anos, viúva, reformada e reside numa região semi-urbana. Uma filha
solicita a consulta para o esquecimento e as falhas de memória, mais frequentes nos
últimos 2-3 anos.
A falta de memória afeta as suas atividades diárias. Começou a escrever notas para que
não esquecesse coisas, não sabe como lidar com dinheiro, está constantemente confusa
e tem problemas para expressar o que quer dizer.
A sua personalidade mudou, passou de ser amável e afetuosa a ter raiva por nenhum
motivo aparente. Tornou-se teimosa e queixosa. Ocasionalmente é agressiva sem
motivo aparente. Perdeu o interesse em passatempos, jornais e televisão. Tem
dificuldade em encontrar a palavra certa e às vezes forma frases sem sentido.
Sem história somática ou psiquiátrica relevante. Sua saúde geral é boa e não está a
tomar medicação.

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