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DOI: 10.1590/1413-812320222710.

08142022 3913

“Mas a categoria de exposição também tem que respeitar

ARTIGO ARTICLE
a identidade”: HSH, classificações e disputas na política de Aids

“But the category of exposure also has to respect identity”:


MSM, classifications and disputes in AIDS policy

Gabriela Calazans (https://orcid.org/0000-0003-2414-1281) 1


Regina Facchini (https://orcid.org/0000-0001-9347-3963) 2

Abstract This essay explores the relationship Resumo Este ensaio explora a relação entre
between diversity and public health by address- diversidade e saúde pública ao abordar tensões
ing tensions related to classifications and recog- que envolvem classificações e reconhecimento
nition in the field of HIV and AIDS policy. The no campo das políticas de HIV e Aids. Objetiva
objective is to reflect on how classificatory and refletir sobre como se articulam categorias clas-
operative categories are articulated within the sificatórias e operativas no âmbito das respostas
scope of programmatic responses towards the so- programáticas em relação à produção social de
cial production of differences and inequalities. To diferenças e desigualdades. Para tanto, parte do
do so it draws from the theoretical framework of referencial teórico dos estudos sobre vulnerabili-
studies on vulnerability and recognition and from dade e reconhecimento e de metodologia que in-
a methodology that includes a critical review of clui revisão crítica da literatura sobre a categoria
the literature on the category men who have sex HSH e material etnográfico oriundo de pesquisas
with men (MSM) and ethnographic material, de- das autoras e de revisão de literatura, relativo ao
rived from the authors’ research and a literature movimento social, pesquisas e políticas com foco
review related to social movements, and research em lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexu-
and policies focused on lesbians, gays, bisexuals, ais (LGBT). Recupera o processo de construção
transvestites and transsexuals (LGBT). It reviews da categoria HSH no campo das políticas de pre-
how the MSM category was constructed in the venção de HIV e Aids em âmbito internacional,
field of HIV and AIDS prevention policies at an situando atores políticos e tensões. Problematiza
1
Hospital das Clínicas, international level, situating political actors and essas tensões ao analisar processos de produção de
Faculdade de Medicina, tensions. It problematizes these tensions by ana- sujeitos políticos e mudanças nas relações socioes-
Universidade de São Paulo.
Av. Dr. Enéas Carvalho lyzing processes of production of political subjects tatais que envolvem LGBT. Enfatiza a importân-
de Aguiar 255, Cerqueira as well as changes in socio-state relations that in- cia de considerar como diferenças e desigualdades
César. 05403-000 São Paulo volve LGBT. It emphasizes the importance of con- emergem nos processos sociopolíticos e de destinar
SP Brasil. gajuca@usp.br
2
Núcleo de Estudos de sidering how differences and inequalities emerge estudos para aprimorar políticas, assegurando
Gênero Pagu, Programa in socio-political processes and of dedicating um cuidado efetivamente mais respeitoso.
de Pós-Graduação em studies to improve policies, ensuring an effectively Palavras-chave Homens que fazem sexo com ho-
Antropologia Social,
Programa de Pós- more respectful care. mens, Prevenção de doenças, HIV, Diversidade de
Graduação em Ciências Key words Men who have sex with men, Disease gênero, Bissexuais
Sociais, Universidade prevention, HIV, Gender diversity, Bisexuals
Estadual de Campinas.
Campinas SP Brasil.
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Calazans G, Facchini R

Introdução se articulam no âmbito das políticas de saúde.


Tomamos, assim, o campo do HIV/Aids como
A expressão que dá título a este ensaio emergiu lugar privilegiado para pensar questões que en-
em uma entrevista com um ativista em estudo1 volvem saúde coletiva e diversidade, diferença e
sobre políticas de prevenção do HIV e da Aids desigualdades.
voltadas a gays e outros homens que fazem sexo Para isso, metodologicamente, empreende-
com homens (HSH). A persistência da concen- mos uma investigação genealógica da categoria
tração da epidemia na categoria epidemiológica HSH com base em revisão crítica da literatura
dos HSH e o incremento na prevalência de infec- sobre sua construção no campo das políticas de
ção pelo HIV nesse grupo há mais de dez anos prevenção de HIV e Aids em âmbito internacio-
nos levam a questionar se as políticas e ações de nal, situando atores políticos e tensões entre a
prevenção desenvolvidas no Brasil têm sido su- produção de categorias operativas e a abordagem
ficientes para enfrentar os determinantes dessa da diversidade de práticas, subjetividades e con-
epidemia. textos. Problematizamos essas tensões ao analisar
O referencial da vulnerabilidade busca aten- material etnográfico, oriundo de pesquisas das
tar para os determinantes sociais e políticos dos autoras1,4-8 e de revisão de literatura, acerca de
processos e das relações multicausais que levam processos de produção de sujeitos políticos e mu-
a diferentes conformações da epidemia de HIV danças nas relações socioestatais que envolvem
e Aids em contextos particulares. Tem como lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais
marcas distintivas o entendimento de que as pró- (LGBT), bem como estudos sobre HIV/Aids em
prias práticas de saúde e o conjunto de saberes travestis, mulheres trans e homens bissexuais no
e conceitos se configuram como determinantes contexto brasileiro.
das condições de saúde que se busca conhecer e
transformar, bem como a inclusão da perspectiva A categoria HSH: origens e percurso
dos sujeitos afetados e seus contextos de inter- em um campo disputado
subjetividade2. É neste sentido que, mobilizadas
pelos incômodos expressos no campo, nos pro- Embora não haja uma produção definitiva
pomos a refletir sobre os sentidos da adoção da que tenha se dedicado à historicização da cate-
categoria HSH no âmbito das políticas de vigi- goria HSH, diversos estudiosos têm se dedicado
lância epidemiológica e de prevenção do HIV e à sua crítica9-13. Muitas hipóteses contraditórias
da Aids no Brasil. sobre sua origem foram aventadas10,14, até os pes-
Entendemos que, desde o início da epidemia quisadores Peter Aggleton e Richard Parker11
de HIV no Brasil, vem se estabelecendo um diá- relatarem que a categoria foi criada por ativistas
logo, que se efetiva na forma de políticas, ações comunitários ingleses ao refletirem sobre a re-
e serviços que pretendem oferecer medidas de cepção de estratégias de prevenção do HIV entre
prevenção e controle do HIV e da Aids. Tal diá- homens gays “relativamente autoconfiantes acer-
logo se dá em meio a uma disputa de horizontes ca de sua identidade sexual” e “‘outros’ homens
normativos acerca do que se entende como ne- mais fechados” (p. 1554, tradução livre).
cessário, em termos da saúde pública, e do que se Contrariamente à forma com que passou a
entende como desejável, ou ao menos aceitável, ser compreendida, não se tratava a princípio de
pelos destinatários dessas políticas. uma categoria inclusiva ou agregadora, mas de
Ao articularmos o referencial da vulnerabi- uma categoria de diferenciação. Inicialmente,
lidade e dos direitos humanos2 com a teoria do distinguia aqueles com identidade sexual mais
reconhecimento3, buscamos entender como pro- aberta e pública, daqueles mais fechados; aque-
cessos de (não)reconhecimento, ou desrespeito, les vinculados a comunidades gays organizadas
no cuidado público de saúde1,4, compreendido dos não ligados15. Posteriormente, chegou-se a
como conjunto de políticas, serviços e ações vol- uma diferenciação que se cristalizou no campo:
tadas à prevenção do HIV e da Aids, contribuem entre os homens que se identificavam como gays
para os processos de vulnerabilização de diferen- ou homossexuais e aqueles “homens que fazem
tes segmentos populacionais ao HIV e à Aids. sexo com homens, mas não se identificam como
Nosso objetivo é contribuir para pensar a re- gays”10 (p. 291, tradução livre).
lação entre diversidade e saúde pública por meio Apesar de sua origem comunitária, a am-
de uma reflexão a respeito de processos de cate- pla disseminação da categoria se deu por ór-
gorização e classificação, compreendidos como gãos multilaterais, como o Programa Global de
formas nas quais linguagem, poder e práticas Aids (PGA), da Organização Mundial da Saúde
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(OMS), e posteriormente o Programa Conjunto e Aids e daqueles segmentos sociais em maior
das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS)13, risco de exposição ao HIV16,19.
organizações internacionais financiadoras15 e É, provavelmente, pelas associações entre as
redes internacionais de pesquisa e ativismo10. categorias de “comportamentos de risco” e HSH,
Essa adoção por órgãos do porte da OMS e do que descreviam práticas em vez de identidades
UNAIDS fez com que fosse identificada, por al- reificadas, que comumente se apontou que a pro-
guns de seus críticos, como uma categoria cunha- posição da categoria HSH teria como objetivo re-
da no âmbito da ciência e da burocracia “para duzir o estigma contra homens gays e bissexuais,
significar comportamento sem identidade”10 (p. mulheres transexuais e homens heterossexuais
291, tradução livre). auto identificados que se envolviam em sexo com
Considerando o histórico de outras catego- outros homens14. Isso não se deu sem críticas.
rias operativas da prevenção, a proposição da Como questiona Boellstorff10, não se evidencia
categoria “homens que fazem sexo com homens” porque “HSH” seria considerado “menos estig-
coincidiu com o momento da virada de “grupos matizante” do que “gay”, dado que são a homofo-
de risco” para “comportamentos de risco”, ocor- bia e o heterossexismo que tornam indesejável a
rida na segunda metade da década de 198016,17. explicitação da categoria “gay”.
Assim, articulou-se a um esforço axiomático de Mas como se deu a ampla adoção e estabi-
afirmar que o risco da infecção pelo HIV não vi- lização da categoria HSH no campo global da
nha de “de quem você é”, mas “do que você faz”10 Aids? Para responder a essa questão, é preciso
(p. 291, tradução livre), deslocando o foco das considerar a estrutura institucional desse campo
identidades para as práticas. ao longo do tempo. Em 1986, foi estabelecido, no
A noção de “grupo de risco” partia do conhe- âmbito da OMS, o Programa Especial de Aids –
cimento epidemiológico e do estabelecimento posteriormente chamado de PGA, em 1987 –,
de categorias analíticas que buscavam identificar encarregado de implementar uma estratégia glo-
características associadas à maior chance de ex- bal de combate à epidemia. Em 1996, foi criado
posição à infecção pelo HIV, mas passou a confi- o UNAIDS, integrando, além da OMS, outras
gurar as identidades concretas daqueles afetados cinco agências do sistema das Nações Unidas, a
pelo HIV e pela Aids17. Assim, orientou ações de partir da compreensão da Aids como tema trans-
prevenção focadas na abstinência e no isolamen- versal19.
to das pessoas que integravam tais grupos, resul- Conforme estudos críticos10,11,13, no final dos
tando em processos intensos de estigmatização e anos 1980 e início dos anos 1990, o PGA, que ti-
discriminação17. Os homossexuais foram um dos nha como tarefa orientar estratégias de prevenção
grupos mais afetados por essa abordagem exclu- e controle da Aids e fornecer assistência técnica
dente, mas também estiveram entre aqueles que e financeira aos países, promoveu reuniões para
mais se envolveram em sua crítica e na defesa de discutir a prevenção do HIV entre gays, bissexu-
enfoques que valorizavam o suporte comunitário ais e outros HSH. Apesar de sua influência sig-
e uma perspectiva positiva do sexo e da homos- nificativa na resposta global à Aids, com ênfase
sexualidade18. aos direitos humanos de indivíduos e grupos afe-
O reconhecimento do impacto dos processos tados, incluindo homens gays, e às organizações
de estigmatização e discriminação relacionados e respostas da sociedade civil, o PGA direcionou
ao HIV e à Aids, que marcou fortemente a ex- atenção limitada aos homens homossexuais e bis-
periência com o conceito operativo de “grupos sexuais na prevenção e na política global de Aids.
de risco”, demandou inovações na prevenção. Os Com isso, a OMS, sob a sua liderança, não publi-
esforços mais convencionais envolviam iniciati- cou nenhuma diretriz para o desenvolvimento de
vas de informação e educação e de provisão de programas de vigilância ou prevenção voltados a
serviços sociais e de saúde (distribuição de cami- gays, bissexuais ou outros HSH13.
sinhas, testagem e aconselhamento, tratamento Segundo McKay13, que se dedicou a estudar
para outras infecções sexualmente transmissí- o papel de organizações internacionais no desen-
veis, troca de seringas, tratamento para usuários volvimento e disseminação dessa categoria, com
de drogas injetáveis e fornecimento de sangue e especial atenção ao PGA e ao UNAIDS, alguns fa-
hemoderivados seguros)16. Foi incorporado ain- tores contribuíram para isso. Um primeiro fator é
da um elemento inovador à prevenção do HIV e sua ênfase em um duplo padrão da epidemia glo-
da Aids por meio das iniciativas de enfrentamen- bal de Aids, que distinguia a transmissão sexual
to dos processos de estigmatização e discrimina- entre homens homossexuais e bissexuais, nos pa-
ção das pessoas vivendo e convivendo com HIV íses desenvolvidos, da transmissão sexual entre
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homens e mulheres heterossexuais em países em documentado significativa diversidade entre


desenvolvimento. Tal ênfase minimizou o reco- gays, bissexuais, outros HSH e pessoas trans, a
nhecimento da presença da diversidade sexual e adoção de categorias como HSH, compreendidas
de gênero em contextos em desenvolvimento e, como unificadoras em discursos epidemiológi-
convenientemente, poupou o PGA de defender a cos e programáticos, acabou por ter efeito opos-
extensão da vigilância e prevenção para abordar to, apagando as percepções de diversidade dentro
novas infecções entre homossexuais, bissexuais e dessas populações. É nesse sentido que Young et
outros HSH e de confrontar governos nacionais al.9 mencionam a adoção, a partir de 1994, do
intolerantes, mantendo o compromisso desses acrônimo “HSH”, e podemos indicar sua pro-
com outros programas da OMS13. gressiva “substantivização” no campo: deixa de se
Um segundo fator tem relação com a estru- constituir como uma categoria de diferenciação e
tura decisória do PGA, dependente de pequenos passa progressivamente a operar como uma cate-
grupos de especialistas mobilizados para dar res- goria agregadora e invisibilizadora da diversida-
postas rápidas diante de novas informações e de- de que pretendia carregar.
mandas. Tal estrutura foi apontada como proble- Em que pese reconhecer a validade de esfor-
mática por dificultar a construção de consensos, ços de deslocamento do foco das ações de pre-
em um contexto no qual faltavam informações venção dos chamados “grupos de risco” para os
embasadas em pesquisa e havia grandes polêmi- “comportamentos de risco”, ativistas homossexu-
cas e politização das discussões. Assim, as reco- ais envolvidos no campo da Aids já apontavam,
mendações de políticas de prevenção da OMS nos anos 1990, para a preocupação de que esse
adotaram uma linguagem vaga, que agrupava deslocamento pudesse implicar uma “desomos-
todas as formas de transmissão sexual do HIV, e sexualização”20 (tradução livre, p. 432) interna-
descartava referências abertas a comportamentos cional da Aids, ou ainda, de que se tratasse da
sexuais e grupos marginalizados13. adoção de uma linguagem eufemizante do sexo10
É nesse contexto que a adoção da expressão (p. 294, citando King, 1994).
“homens que fazem sexo com homens” apresen-
tou-se como um termo adequado – epidemiolo- Mudanças sociopolíticas e especificidades:
gicamente e politicamente – para as Nações Uni- desafios às políticas de saúde no Brasil
das, afastando-se de uma agenda gay e política,
como relatado por Gary Dowsett, presente a reu- No Brasil, em 2007, os antropólogos Sérgio
niões promovidas pelo PGA13. Carrara e Júlio Simões21 identificavam a propo-
Estiveram engajados nestes diálogos, como é sição do termo HSH como integrante de uma
característico do campo do HIV e da Aids, tra- estratégia que “se supunha contemplar a especifi-
balhadores da saúde pública, epidemiologistas, cidade do contingente de homens que se relacio-
pesquisadores e ativistas. Segundo Boellstorff10, navam sexualmente com pessoas do mesmo sexo
o conceito se originou de dois insights: primeiro, e não se reconheciam em categorias identitárias,
de que há homens que fazem sexo com homens e tais como ‘homossexuais’, ‘gays’, ‘entendidos’
não se veem como gays, podendo assim ser hos- etc.”21 (p. 94). Ainda segundo os autores:
tis ao termo; e, segundo, de que programas de Um problema com a categoria HSH é dissolver
prevenção direcionados a gays poderiam excluir a questão da não-correspondência entre desejos,
uma gama desses HSH que não se identificam práticas e identidades numa formulação que re-
como gays. cria a categoria universal “homem” com base na
Neste diálogo, os pesquisadores tinham como suposta estabilidade fundante do sexo biológico, ao
principais preocupações os limites de termos to- mesmo tempo em que permite evocar as bem co-
mados por sua origem biomédica (e psiquiátri- nhecidas representações da sexualidade masculina
ca) como homossexual e bissexual, com os quais como inerentemente desregrada e perturbadora21
poucos homens se identificavam naquele contex- (p. 94).
to, bem como apontar a grande diversidade de Essa reflexão crítica emergiu em meio a pro-
grupos de homens que fazem sexo com homens, cessos sociopolíticos de mudança que incluem
que poderiam estar associados a fatores situacio- tanto o fortalecimento e a ampliação de visibi-
nais e circunstanciais, interseccionados por raça, lidade dos movimentos sociais atualmente co-
gênero, classe e idade, nos mais diversos contex- nhecidos como LGBT quanto o reconhecimento,
tos sociais, multiplicidade de subjetividades e ainda que parcial e precário, de demandas des-
práticas11. Aggleton et al.11 apontam que, apesar sas populações. Tais processos tiveram início em
de pesquisas sociais nos anos 1990 e 2000 terem meados dos anos 1990, e tomaram corpo com a
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criação do Programa Brasil Sem Homofobia e demia e o crescimento da violência contra aque-
uma série de políticas públicas e normativas de- les que espalhavam a “peste gay”, que vitimizava
senvolvidas entre 2003 e 201122. de modo específico às travestis que exerciam a
O diálogo socioestatal demandava sujeitos prostituição de rua7.
políticos que pudessem explicitar claramente É como uma população marcada por grande
especificidades de determinadas populações, vulnerabilidade e visibilidade que travestis vêm
implicando transformações nas formas de au- se organizando politicamente e tomando par-
toidentificação, tanto de ativistas como da po- te do movimento social desde meados dos anos
pulação LGBT em geral. Tais transformações 1990. Foram incluídas no acrônimo utilizado
incluem o descentramento da categoria homos- para representar o movimento em 1995 e fun-
sexualidade, mas também a complexificação e daram sua primeira rede nacional de ativistas, a
diversificação do sujeito político do movimento, Associação Nacional de Travestis e Transexuais
com efeitos diversos nas formas de classificação (ANTRA), em 2000, o que se seguiu à emergên-
dessa população22. Na produção acadêmica das cia de transexuais como sujeitos políticos, no fi-
ciências sociais, isso se fez notar como uma “du- nal dos anos 199024.
pla fratura epistemológica” da categoria ampliada As condições de vida de pessoas travestis
“homossexualidade”: com a distinção entre gays e transexuais foram positivamente afetadas de
e lésbicas, ainda na passagem para os anos 1980; modo sensível a partir dos anos 2000, sobretudo
e a emergência das identidades trans (travestis e entre sujeitos situados em estratos sociais menos
transexuais), na virada do século23. desfavorecidos e/ou apoiados por suas famílias
Trabalhos mais recentes apontam um proces- de origem. Tais mudanças tiveram relação tanto
so em que o acionamento estratégico de identida- com a maior legitimidade social alcançada pelos
des – essencialismo estratégico –, típico das duas esforços dos movimentos LGBT e de travestis e
primeiras décadas de diálogo socioestatal, passou transexuais quanto a partir de políticas públicas.
a conviver com uma presença mais intensa de: Na área de saúde, destacam-se a instituição do
1) demandas pela representação da experiência processo transexualizador no SUS e as políticas
mais direta de variados sujeitos; e 2) difusão de de prevenção ao HIV e tratamento da Aids; no
uma perspectiva interseccional, que procura ar- campo dos direitos específicos, emergiram as
ticular múltiplas diferenças e desigualdades em normativas que possibilitaram o uso do nome
suas dimensões da experiência e das estruturas social em espaços como escolas, bancos e órgãos
sociais. Essa diversificação de perspectivas e de públicos e a posterior decisão do Supremo Tri-
repertórios ativistas tem lugar em meio ao aden- bunal Federal (STF) que autorizou a alteração de
samento de críticas à centralidade do diálogo prenome sem necessidade de laudo ou cirurgias8.
socioestatal e ao avanço de atores políticos refra- Tais transformações na organização políti-
tários à agenda dos direitos sexuais e dos direitos ca e no reconhecimento de demandas por entes
humanos, tal como vinham sendo concebidos e estatais relacionam-se à cidadanização25, mas
construídos nas últimas décadas6. também às críticas23 ao caráter diluidor e essen-
Trata-se de um cenário de mudanças intensas cializante da categoria HSH. Essas mudanças,
no campo das relações socioestatais e no cotidia- embora muito importantes, devem ser consi-
no e nos modos de classificação das populações deradas em termos de suas precariedades e das
LGBT. Ao longo desse processo, categorias visibi- tensões e constantes ameaças de refluxo em que
lizadas a partir dos efeitos ampliados da epidemia estão imersas. É preciso considerar o alcance de-
de HIV e Aids em sua primeira década, como sigual dos efeitos dessas políticas entre sujeitos
“travestis” e “bissexuais”, passaram aos poucos a de diferentes inserções regionais, geracionais, de
habitar o cenário político. Contudo, como vemos classe e de raça, bem como os impactos nocivos
a seguir, o fazem em diferentes condições e en- da ascensão política de setores que têm como
frentando estigmas arraigados, embora distintos. uma das principais pautas na agenda política o
A categoria travesti emergiu politicamente a bloqueio ao avanço de pautas e políticas favorá-
partir da organização coletiva para fazer frente à veis aos direitos de LGBT8.
epidemia, que avançava a passos largos, cercada Bissexuais também emergiram como cate-
por estigmas, sobre uma população já extrema- goria visível na primeira década da epidemia no
mente marginalizada e discriminada. Na passa- Brasil, a partir de pressuposições homogeneizan-
gem para os anos 1990, iniciativas como casas de tes de “vida dupla” e não assunção de identida-
apoio para travestis afetadas pela Aids conviviam des sociossexuais relativas às suas práticas e de
com a organização política para enfrentar a epi- sua associação com a ideia de uma “ponte” para
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o HIV entre populações homo e heterossexuais. tificados a partir de categorias que remetem às
Pesquisas sociocomportamentais realizadas em homossexualidades29-31. Entre essas pesquisas,
diferentes capitais ao longo dos anos 1990 indica- apenas algumas desagregaram por sexo os res-
vam um percentual entre 12% e 16% de bissexu- pondentes autoidentificados como bissexuais.
ais autoidentificados em coortes de homens que Seus resultados rebatem estigmas, indicando
fazem sexo com homens26. percentuais semelhantes de assunção de identi-
A categoria bissexual tem um percurso bas- dade sociossexual na vida social entre homens
tante atribulado de inserção e de organização po- autodeclarados homo ou bissexuais, bem como
lítica. No final dos anos 1990, após a emergência, de relato de situações de discriminação e/ou
o crescimento e a difusão das Paradas do Orgu- agressões motivadas pela sexualidade30,31.
lho, a partir de São Paulo, e de esforços de arti- No que diz respeito ao HIV/Aids, além dos
culação ao movimento internacional, adotou-se estudos não necessariamente desagregarem
a conformação internacional do acrônimo GLBT, homo e bissexuais, abordam predominantemen-
que incluía a letra B, relativa aos bissexuais. Resis- te condutas sexuais, e quando incluem identi-
tências internas ao movimento se fizeram sentir a dades, não o fazem de modo a correlacionar as
partir de medidas como a alocação do B ao final dimensões das condutas e das identidades aos
do acrônimo, até que, em 2003, um encontro na- resultados. Apesar disso, especificidades identifi-
cional do movimento deliberou por sua exclusão. cadas incluem trajetória não decrescente do risco
Essa medida extrema provocou a mobilização de relativo32 e situações de risco mais frequentes33
ativistas bissexuais antes dispersos7,27. entre homens com condutas bissexuais. Estudo
A primeira iniciativa de organização regional sociocomportamental com testagem sorológica
e nacional de coletivos e ativistas em torno da conduzido em São Paulo entre 2011 e 2012 en-
bissexualidade culminou na criação, em 2005, do controu 14,3% de autoidentificados bissexuais e
Coletivo Brasileiro de Bissexuais (CBB), descon- 38,9% com condutas dirigidas a mais de um sexo;
tinuado em 2007, em meio a conflitos que envol- a prevalência de HIV encontrada foi mais baixa
veram representação em espaços de diálogo so- entre autoidentificados bissexuais (9,4%), contra
cioestatal e dificuldades de reconhecimento por 17,6% entre gays/homossexuais, embora ambas
outros segmentos do movimento GLBT. Outra sejam muito maiores do que a prevalência na po-
iniciativa surgiu a partir de 2010, com a organi- pulação em geral34.
zação de coletivos amparados pela popularização Os estudos quantitativos de natureza aplicada
do acesso à internet e pelo uso de redes sociais27. entre pessoas trans ainda são escassos. Pesquisas
A organização em separado do movimento, que sobre HIV/Aids específicas com travestis e mu-
passara a denominar-se LGBT, possibilitou esta- lheres trans são recentes e indicam prevalências
bilidade ao ativismo de bissexuais, culminando, significativamente mais altas35 e comportamentos
em 2020, na criação da Frente Bissexual Brasilei- sexuais e preventivos suficientemente diversos
ra (FBB), que articula coletivos e indivíduos de para que sigam sendo realizados em separado.
todo o país, procurando dar visibilidade a ativi- O exposto nos permite afirmar que, atu-
dades e demandas e encaminhá-las. almente, a categoria HSH abriga não apenas
O conhecimento científico sobre ambas as homossexuais autoidentificados e homens que
populações (trans e bissexuais) no Brasil é pre- mantêm relações com outros homens mas não
cário, caracterizado por conjuntos pouco nume- derivam disso uma identidade. No próprio mo-
rosos de estudos e predominância de pesquisas mento em que a categoria HSH foi introduzida
qualitativas em contextos específicos. Pesquisas no país já havia, em coortes de estudos, sujeitos
aplicadas à produção de políticas públicas estão autoidentificados como bissexuais ou travestis26.
quase que exclusivamente restritas às pessoas Ao longo dos anos, foram se adensando especi-
trans, sendo, até bem pouco tempo, produzidas ficidades relativas tanto à trajetória de organiza-
predominantemente pelas próprias organizações ção política quanto à permeabilidade a agendas
ativistas28. no âmbito das políticas públicas, bem como os
Embora não haja dados sociodemográficos níveis de conhecimento existentes sobre as di-
nacionais que permitam estimar a população versas identidades agregadas na categoria HSH.
bissexual, pesquisas realizadas em paradas LGBT Do ponto de vista do conhecimento sobre o HIV,
no Rio de Janeiro, Recife e São Paulo entre 2004 hoje é conhecida a variação de prevalências e de
e 2006 encontraram, entre mulheres e homens comportamentos sexuais e preventivos entre as
participantes, percentuais de 8,8% a 12,9% au- diversas categorias de identidade. Contudo, as
todeclarados bissexuais e de 35,9% a 63% iden- respostas programáticas não têm se mostrado
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alinhadas a essas mudanças sociopolíticas e ao público em saúde ao nublar e homogeneizar di-
conhecimento que vem sendo produzido. ferentes segmentos sociais sob a pressuposição
Tal dissonância ficou evidente quando, em de se tratarem, genericamente, de gays e outros
2007, foram realizadas as negociações, coorde- HSH.
nadas pelo Programa Nacional de DST e Aids, No que diz respeito a bissexuais, embora se
para a elaboração dos planos de enfrentamento reconheça a diversidade de situações nas quais a
da epidemia. Naquele momento, as travestis or- categoria pode se referir a condutas ou à identi-
ganizadas em movimento optaram por integrar dade, verifica-se, em estudos e políticas, o apa-
o “Plano Nacional de Enfrentamento da Epide- gamento sistemático do uso da categoria como
mia de Aids e DST entre Gays, outros Homens relativa à identidade sociossexual, bem como
que fazem Sexo com Homens (HSH) e Travestis” homogeneização e dissolução de especificida-
e as mulheres transexuais por serem agregadas des. Isso se dá tanto pela via do uso da categoria
ao “Plano Integrado de Enfrentamento da Fe- HSH quanto da expressão “gays e bissexuais”, esta
minização da Epidemia de Aids e outras DST”. última sem indicação de especificidades a cada
Ao longo desse período, tensões entre travestis e uma das categorias, mas também por estudos e
transexuais se aprofundaram, com uma tendên- ações específicas que se remetem a “pessoas bis-
cia ao afastamento das transexuais tanto do mo- sexuais” sem desagregá-las por sexo. Assim, são
vimento LGBT quanto da categoria transexual. desrespeitadas as identidades sociossexuais dos
Ao mesmo tempo em que gays reivindicaram a sujeitos e obliteradas as possibilidades de produ-
saída da sigla HSH, bissexuais não puderam fa- ção de conhecimento científico, políticas e ações
zer o mesmo, e transexuais realizavam intensos programáticas adequadas e efetivas.
debates em torno de categorias como “mulhe- Mulheres trans e travestis, categorizadas
res que vivenciam a transexualidade”36 (p. 183). sistematicamente como casos masculinos nos
Nesse mesmo contexto, a categoria HSH, além dados epidemiológicos, são desrespeitadas em
de substantivada, começava a ser utilizada, com suas identidades de gênero e excluídas da pro-
conotação identitária ou acusatória, por homens dução de dados públicos sobre HIV e Aids. Tal
com condutas homo ou bissexuais. apagamento traz graves implicações à produção
Apesar de todo o embate em torno de visibi- de informações de saúde, que falham em orien-
lizar especificidades, os planos de enfrentamen- tar esforços de prevenção e cuidado, bem como
to à Aids parecem ter sido pouco incorporados em direcionar adequadamente recursos técnicos
pelas gestões locais – estaduais e municipais – e e financeiros. Informações pontuais têm sido
obscurecidos, no âmbito programático, pela ela- produzidas por pesquisas isoladas35,37,38, mas não
boração da Política Nacional de Saúde Integral de asseguram séries históricas e o acompanhamento
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexu- da evolução das condições de saúde das pesso-
ais (LGBT), lançada em 20111. A Política atendeu as trans, nem sua produção em todo o território
às demandas por visibilidade e reconhecimento, nacional, indicando que estratégias de vigilância
mas para isso enquadrou a população LGBT de epidemiológica contribuem para a vulnerabilida-
modo separado de outras populações, como a de de programática destes segmentos populacionais.
mulheres. Além disso, não chegou a contemplar Expressa, ainda, como a saúde segue tendo o sexo
plenamente o enfrentamento à Aids. As tensões e a genitália como categorias centrais na produ-
envolvendo o estigma que vincula gays e HIV/ ção das políticas, a despeito da crescente cidada-
Aids contribuíram para que o tema não fosse nização de pessoas dissidentes da cisgeneridade.
adequadamente inserido na Política1,4. Nesse Ao direcionar políticas de prevenção, a ado-
mesmo período, as políticas e a agenda de LGBT ção da categoria HSH dificulta a comunicação
passaram a sofrer duros ataques, com escândalos das mensagens preventivas, já que não explicita
em torno de materiais de educação e comunica- com quem estaria estabelecendo interlocução.
ção dirigidos a públicos específicos1. Os argumentos que sustentaram inicialmente sua
adoção – a diversidade de subjetividades, práticas
e contextos e a distinção entre identidades e prá-
Considerações finais ticas – se viram deslocados para uma referência
estrita ao sexo dos indivíduos e de seus parceiros
As análises empreendidas nos mostram que a sexuais (concebidos como pênis em relação com
manutenção da adoção da categoria HSH no vaginas e ânus) e à constituição e pressuposição
âmbito das políticas de HIV/Aids viola expecta- de uma identidade HSH de caráter universalizan-
tivas normativas de reconhecimento no cuidado te, englobante e homogeneizador de toda e qual-
3920
Calazans G, Facchini R

quer diversidade de desejos, práticas e identida- tas com foco em um suposto acolhimento e res-
des. Esse deslocamento, e a consequente tentativa peito aos indivíduos.
de universalização da categoria HSH, culminou O acolhimento e o respeito devem ser, sem
em limitações das políticas de saúde para lidar dúvidas, buscados no nível das políticas, no co-
com complexidades e diferenças no âmbito da tidiano da oferta e de cuidados em saúde e na
experiência, produzindo apagamentos que en- produção de informações. Mas talvez seja menos
gendram desigualdades no cuidado. uma questão de multiplicar categorias. É funda-
Atualmente, a partir de tais disjunções e em mental estarmos atentos ao que de fato faz dife-
um cenário político refratário ao reconhecimen- rença, considerando que a diferença não é algo
to de demandas LGBT, os sujeitos trans, muito dado ou estático, não tem um caráter essencial,
diversos, que se constituíram em um contexto mas produzido em relações sociais, que são re-
de atendimento das necessidades de mudan- lações de poder, nas quais diferenças potencial-
ças corporais e de adequação do registro civil à mente operam como desigualdades39. Nessa di-
identidade e à expressão de gênero, demandam reção, a dimensão da produção do conhecimento
a validação formal de suas parentalidades e do se torna fundamental para produzir respostas
registro dessa experiência por meio de alterações mais adequadas às necessidades de saúde.
na Declaração de Nascidos Vivos, o que abre pela A epidemia de HIV e Aids, assim como a pan-
primeira vez a oportunidade (ainda incerta) de demia de COVID-19 atualmente, têm se mostra-
registro de suas identidades de gênero dissiden- do lugares privilegiados para observar as relações
tes nos sistemas de informação do Ministério da entre diferenças, desigualdades e saúde. É o olhar
Saúde. Esse é um tema complexo e desafiador, para o modo como a diferença é recortada no so-
sobretudo no atual contexto, que transcende o cial em dado contexto, como se articula com ou-
nosso foco e demandaria tratamento cuidadoso tras diferenças e como produz desigualdades que
e específico. O mencionamos apenas para subli- pode nos orientar a produzir melhores respostas
nhar que, ao pensarmos na relação entre saúde no âmbito programático, assegurando um cuida-
coletiva e diversidade, talvez se trate menos de do efetivamente mais respeitoso no cotidiano da
produzir e sustentar categorias tidas como corre- atenção à saúde.

Colaboradores

G Calazans e R Facchini contribuíram igualmen-


te na concepção e no delineamento do artigo, na
redação, sua revisão crítica e na aprovação da
versão a ser publicada.
3921

Ciência & Saúde Coletiva, 27(10):3913-3922, 2022


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