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ENDOCRINOLOGIA MASTURBAÇÃO

E HOMOSSEXUALIDADE
FACULESTE

A história do Instituto Faculeste, inicia com a realização do sonho de um grupo


de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e
Pós-Graduação.Com isso foi criado a Faculeste, como entidade oferecendo serviços
educacionais em nível superior.
A Faculeste tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras
normas de comunicação.
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo
no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no
atendimento e valor do serviço oferecido.

2
SUMÁRIO

Ciência1 homossexualismo e endrocrinologia2, 3, * (Adaptado) ....................................... 4

INVERSÃO SEXUAL E GLÂNDULAS ENDÓCRINAS7 ............................................ 5

HOMOSSEXUAIS ESTUDADOS NO RIO DE JANEIRO11 ....................................... 10

TERAPÊUTICA DA HOMOSSEXUALIDADE16 ........................................................ 12

HOMOSSEXUALISMO E CRIME ............................................................................... 13

EM VEZ DE CASTIGO, TRATAMENTO ................................................................... 16

Referências ..................................................................................................................... 18

O MISTÉRIO DA HOMOSSEXUALIDADE1 (Adaptado) .......................................... 22

A DUALIDADE ATIVO-PASSIVO ............................................................................. 24

A CENSURA DO PAI ................................................................................................... 27

A REPRESSÃO DO FILHO .......................................................................................... 31

Referências ..................................................................................................................... 37

3
Ciência1 homossexualismo e endrocrinologia2, 3, * (Adaptado)

Leonídio Ribeiro
A inversão sexual, problema sem solução que acompanha o homem, desde os
tempos mais remotos, era assunto que não podia ser tratado, em público, por ser contrário
aos bons costumes e à moral.
Nos fins do século passado começou a questão a ser ventilada, à luz de argumentos
científicos, para que a humanidade pudesse, afinal, beneficiar-se desses estudos, tentando
corrigir defeitos e doenças tão tristes e tão deprimentes da natureza humana.
Tarnowsky, na Rússia; Havelock Ellis, na Inglaterra; Charcot, Magnan e Feré, na
França; Westphal, Kraft-Ebing, Moll e Hirschfeld, na Alemanha; Lombroso, na Itália;
Freud, na Áustria, foram os primeiros homens de ciência que tiveram a coragem de iniciar
um movimento científico nesse sentido,4 orientando tais estudos em novos rumos e
rompendo com os preconceitos de toda a sorte que impediam, até então, qualquer tentativa
séria nesse sentido. Steinach, Lipschütz e Marañón5vieram, afinal, demonstrar a
importância do fator endocrinológico na explicação das diversas alterações dos caracteres
sexuais do homem.
Enriquecida com tantos e tão importantes meios de trabalho, pôde constituir--se,
afinal, uma ciência nova, a Sexologia, que já possui, em várias línguas, uma verdadeira
biblioteca, e cujos estudos estão fadados a um desenvolvimento cada vez maior, em
benefício da humanidade.
O problema da sexualidade tinha relações apenas com as glândulas genitais,
variando com o seu maior ou menor desenvolvimento e dimensões, assim como em
relação à regularidade de seu funcionamento. Hoje sabe-se que há outras glândulas,
chamadas "parassexuais", em cuja dependência estão as funções do conjunto do sistema
glandular, isto é, da fórmula endocrínica individual.
O professor Pende,6 criador da endocrinologia, afirma que o desenvolvimento
sexual não é determinado pelas secreções das glândulas genitais isoladas, porque sofre a
influência e é estimulado ou inibido pelo complexo hormonal geral do organismo

4
humano. Existe uma verdadeira correlação entre as atividades de todos os órgãos de
secreção interna, sem a qual não pode haver o funcionamento normal de nosso organismo.
A constituição sexual, do ponto de vista morfológico, manifesta-se pelo
aparecimento de caracteres anatômicos distintos, que se dividem em primitivos e
secundários. Os primeiros são as gônadas sexuais e os órgãos genitais externos, de
proporções diferentes em cada indivíduo, variando com causas as mais diversas e
influindo na diminuição ou aumento de sua capacidade funcional, assim como no
desenvolvimento satisfatório ou insuficiente do desejo sexual.
Os caracteres sexuais secundários interessam mais de perto aos nossos estudos,
visto que é por meio deles que se pode individualizar mais facilmente os tipos humanos
de um e de outro sexo.
Em regra, todo o aparelho locomotor, esqueleto, articulações, tendões e músculos,
são mais fortes e bem desenvolvidos no homem do que na mulher. A distribuição da
gordura é também diversa nos dois sexos, do mesmo modo que os dentes, cabelos e pelos,
que têm, em cada um deles, aspectos característicos. O desenvolvimento maior ou menor
da laringe é que dá o timbre da voz, masculina ou feminina.

INVERSÃO SEXUAL E GLÂNDULAS ENDÓCRINAS7

Duas correntes opostas têm procurado explicar o problema da inversão sexual. A


primeira atribui o homossexualismo a fenômenos de natureza psíquica, adquiridos e
acidentais. Desilusões amorosas, provocadas ou agravadas por defeitos de educação, tudo
favorecido por ambientes escolares, onde há separação completa dos dois sexos, durante
a fase crítica da puberdade, e, mais especialmente, nos casos de filhos muito acariciados
pelas mães.
Para Freud, o homossexualismo repousa na ambivalência sexual do homem. A
instalação de tendências homossexuais, no decurso de seu desenvolvimento, representaria
uma fuga do indivíduo do complexo de Édipo, renunciando ao próprio sexo. O abandono
do ódio ao pai, determinando um reforço das aspirações femininas e passivas, seria
necessário à organização social, porque esta dessexualização, por sublimação, com

5
submissão ao pai, seria a base essencial da vida coletiva, da coesão familiar e da
solidariedade social.
Há que referir também como certas causas orgânicas, como a encefalite, sífilis,
meningite e traumatismos cranianos, podem provocar, em certos casos, o aparecimento
de tendências homossexuais. A epilepsia, paralisia geral, mania e demência senil, são
estados mórbidos que se acompanham de manifestações do mesmo gênero, sendo de notar
que, às vezes, esses sintomas se apresentam sob a forma de delírios, com alucinações de
formas as mais variadas, especialmente delírios de perseguição, em cuja gênese os
psicanalistas fazem intervir os sentimentos de natureza homossexual recalcados no
subconsciente.
A outra, mais recente, é a que afirma tratar-se de causas orgânicas, congênitas e
constitucionais, procurando demonstrar, à luz de documentos objetivos e autênticos, que
as glândulas endócrinas desempenham papel predominante na origem das modificações
patológicas da sexualidade humana.8
Esta última tem recebido confirmações eloquentes, sobretudo depois da moderna
concepção do interssexualismo, de Goldsmidt e Marañón, mostrando que cada indivíduo
é, ao mesmo tempo, portador de elementos dos dois sexos, caracterizando-se, na prática,
cada um deles, pela predominância de uns ou de outros, fazendo, afinal, pender a balança
para um ou para outro lado. Sendo assim, não poderá existir, como não existe, nem o
homem, nem a mulher ideal, com cem por cento de seu verdadeiro sexo. O que se
encontra, realmente, são indivíduos com percentagens maiores ou menores conforme o
afastamento seja mais acentuado para o extremo ou para o meio do tipo nitidamente
interssexual.
Afranio Peixoto, referindo-se aos "estados interssexuais", expressão que não
considera feliz, afirma: "O que há é mistura de mais ou menos, isto é, 'estados missexuais'.
O macho bem viril e a fêmea bem materna serão 90%, mas há relações bem menos
avultadas das quotas respectivas, até as aparências grosseiras do hermafroditismo ou da
chamada inversão sexual. Tal noção permite compreender até aquilo que parece
incongruência ou paradoxo da natureza. Por exemplo, um invertido que tem filhos e

6
amantes, uma lésbica que tem marido e filhos, estarão na zona média dos 'missexuais', as
imediações dos 50%. O gonocorismo ou diferenciação sexual, jamais será perfeito; será
sempre relativo, de 1 a 99%. Entre esses extremos estão todas as criaturas".
Laignel-Lavastine, prefaciando recentemente o volume de Stanislas-Higier,
declara que, em 1921, ao substituir Dupré na cátedra de doenças mentais da Faculdade de
Medicina de Paris, pôde ali notar que os indivíduos mais frequentemente por ele
observados estavam longe de ser do tipo masculino ou feminino total, tendo então
desenvolvido a sua concepção da polarização sexual relativa, muito diversa em cada
indivíduo.
Ninguém poderá mais, assim, duvidar hoje de que a homossexualidade seja um
fenômeno condicionado a um estado de bissexualidade do organismo, isto é, um
verdadeiro "estado interssexual".
Era noção corrente que os sexos se distinguiam um do outro por seus caracteres
distintos e nítidos, havendo uma oposição em cada indivíduo, entre o masculino e o
feminino, a ponto de se pensar na existência de um hormônio macho e outro fêmea,
dotados de propriedades opostas. Viu-se, depois, que os dois sexos podiam existir no
mesmo indivíduo, sendo que o próprio homem, que é neutro até o segundo mês de vida
intrauterina, no momento de transpor a adolescência para a idade adulta, passa por um
período de feminilidade mais ou menos acentuado. Do mesmo modo a mulher, no fim da
vida, depois da menopausa, adquire caracteres masculinos, o que prova exuberantemente
que os elementos dos dois sexos subsistem dentro de cada um de nós, em equilíbrio
instável, que pode ser rompido em diversas fases de seu desenvolvimento normal ou em
consequência de distúrbios mórbidos.
Marañón afirma que a homossexualidade tem uma base orgânica, ao contrário de
Kraft-Ebing, que lhe dá uma origem exclusivamente psicológica, do mesmo modo que
Freud, quando declara que, de modo algum, aceita a opinião de que os homossexuais
possam constituir um grupo de indivíduos com características diversas dos homens
normais. Afirma textualmente o endocrinologista espanhol: "Não admitimos a clássica
divisão dos homossexuais em congênitos ou adquiridos. Para nós, todos eles são, ao

7
mesmo tempo, congênitos e adquiridos. Nesta época, em que a medicina se orienta
decisivamente para o constitucionalismo, é inadmissível supor que uma alteração, assim
mergulhada na profundidade da psique e do instinto, como a homossexualidade, possa
manifestar-se sem uma predisposição congênita". E, mais adiante, o mesmo autor
acrescenta: "Podemos afirmar que dois terços, pelo menos, destes indivíduos apresentam
sinais físicos de interssexualidade".9
Os resultados dos estudos realizados recentemente no Rio de Janeiro, que serão
aqui pela primeira vez apresentados, confirmam integralmente, as observações do
eminente mestre de Madri, cuja obra está hoje consagrada, tendo sido já traduzida para
várias línguas, como um dos trabalhos clássicos que existem sobre o assunto.
O professor Pende, de Gênova, com a sua singular autoridade, afirma que não se
deve concluir que a síndrome somática e psíquica dos invertidos sexuais possa estar
subordinada exclusivamente a anomalias hormonais das glândulas genitais. E acrescenta:
"Não devemos esquecer a intervenção, agora bem demonstrada pela clínica, de distúrbios
funcionais de outras glândulas endócrinas, na gênese dos desvios sexuais. É bastante
recordar, no homem, o feminismo de alguns hipopituitários adolescentes assim como a
homossexualidade de jovens hipertímicos, e, na mulher, o masculinismo em casos de
hiperplasia e tumores do córtex suprarrenal e do lóbulo anterior da hipófise, que podem
chegar até ao verdadeiro pseudo-hermafroditismo externo. Na origem da
homossexualidade, dou grande importância à hiperfunção patológica do timo, depois da
puberdade, especialmente quando associada ao hipertireoidismo constitucional".
No gigantismo, nanismo e acromegalia, quando está em causa a hipófise, a
impotência é a regra. A insuficiência hipofisária do tipo adiposo-genital, em adolescentes,
provoca uma diminuição da capacidade genital, que é aumentada nos casos de
hiperfuncionamento dessas glândulas. É até possível tornar precoce o aparecimento da
puberdade por meio da injeção do lóbulo anterior da hipófise. A ação da tireóide sobre os
órgãos genitais é hoje incontestável, se bem que indireta. No mixedema, a aplasia de uma
se acompanha de atrofia da outra. Vidoni refere que o hipotireoidismo produz uma parada
no desenvolvimento genital, com hipoplasia não só dos grandes lábios, do útero e dos

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ovários, como ainda dos seios e do testículo. Na acromegalia, que tem por causa um
adenoma eosinófilo da hipófise, aumenta o volume do pênis e do clitóris, com atrofia dos
órgãos genitais internos. A insuficiência pituitária produz hipogenesia, tendo provocado
num adolescente, observado por Pende, sinais de caráter feminino. Nos casos de tumores
da glândula pineal, em adultos, foi verificada a atrofia testicular, com impotência
completa.
Outra glândula, cujos estudos modernos deram um papel primordial na explicação
dos distúrbios de natureza sexual, é a suprarrenal, cujas funções estão na dependência de
duas porções bem definidas, a medular e a cortical, cada qual com origens e funções
diferentes, a primeira atuando pelo seu sistema cromafino, especialmente por intermédio
da adrenalina, e a segunda com ação direta sobre o desenvolvimento dos órgãos genitais.
Um grande número de observações clínicas tem mostrado a influência da hiperplasia do
córtex suprarrenal sobre os caracteres viris do homem. Os autores imaginaram várias
hipóteses para explicar o mecanismo desta ação virilógena da substância cortical,
salientando Marañón a importância do fato da inversão sexual se manifestar somente nas
mulheres que tomam o tipo viriloide, enquanto, no homem, igual alteração glandular se
limita apenas a acelerar a puberdade, acentuando-se a virilidade, sem o menor sinal
homossexual. Daí se concluir que a substância elaborada pelo córtex suprarrenal tem uma
ação favorável sobre a virilidade, tanto num como noutro sexo. Alterações das funções
sexuais aparecem nos casos de aplasia do córtex suprarrenal, com aplasia testicular,
demonstrada já experimentalmente. Certos tumores da substância cortical, com
hiperplasia, provocam perturbações sexuais, havendo mesmo um caso em que o doente
foi levado ao homossexualismo depois do aparecimento da lesão.
Carrara e Marro mostraram que nos delinquentes contra os costumes, e nas
prostitutas, há sintomas evidentes de precocidade do aparecimento dos hormônios
sexuais, assim como de outros distúrbios glandulares. Landogna Cassona, em cerca de
500 criminosos das prisões da Sicília e Vidoni, em Gênova, em 400 indivíduos presos,
inclusive grande número de prostitutas, chegaram a conclusões idênticas, embora
trabalhando separadamente.

9
Dois autores argentinos, J.J. Beretervide e S. Rosenblat, num trabalho recente,
muito bem documentado, apresentam o resultado de suas observações em 110 prostitutas,
nas quais puderam apreciar, em maior ou menor grau, a participação hipergenital,
hipopituitária, hipossuprarrenal, hipoparatiróide e hiperpancriática e eutinoides. Nesse
volume, afirmam: "Una circonstancia que interesa recalcar es la que las prostitutas que
confesaran tendencia homosexual presentaban manifestaciones disendócrinas evidentes,
caracterisadas en algunas por la presencia de obesidad de tipo genital e hipofisário, por
transtornos menstruales, acusando alteraciones ovaricas en otras por bocio
oxoftalmico".10

HOMOSSEXUAIS ESTUDADOS NO RIO DE JANEIRO11

Foram 14312 os homossexuais por nós estudados, no Laboratório de Antropologia


Criminal do Instituto de Identificação do Rio de Janeiro, sob o ponto de vista
biotipológico, de colaboração com os drs. W. Berardinelli, M. Roiter, Coriolano Alves e
Moraes Coutinho. Esses indivíduos foram todos detidos em casas de prostituição,
algumas exclusivamente masculina, pelo Delegado dr. Dulcidio Gonçalves, a quem aqui
agradecemos o valioso concurso prestado às nossas verificações.
Dos casos examinados apenas oito negaram a prática de atos de pederastia passiva,
sendo 133 solteiros e 2 casados, ambos com filhos; 86 eram de cor branca, 50 mestiços e
7 pretos; 62 eram menores de 20 anos, 69 de 21 a 30, 10 de 31 a 40 e apenas 2 de mais
de 40 anos. As profissões frequentemente encontradas são: trabalhos domésticos, em
número de 63, sendo 25 do comércio, 10 operários, 13 alfaiates e 32 de ocupações as mais
diversas.
A alteração mais importante, por nós observada, foi a hipotensão arterial,
verificada em 85 indivíduos, isto é, em 60% dos casos. A distribuição dos pelos do púbis
foi encontrada de tipo nitidamente feminino em 32 casos, sendo do tipo intermediário em
36, num total de 71, isto é, mais de 60% fora do tipo masculino normal, sendo que em 6
deles estavam raspados. Em 52 casos não havia absolutamente pelos no tórax, sendo
apenas 3 os casos em que havia exagero dos mesmos nessa região. A bacia do tipo

10
feminino foi observada em 20 casos, e a cintura feminina igualmente em 20 indivíduos.
A ginecomastia franca só existia em 3 casos, mas era esboçada em 13 deles.
Donde se conclui que, em quase dois terços dos casos por nós estudados, havia
pelo menos um sinal de desvio da normalidade somática, sendo que em 60% ficou
apurada a hipotensão arterial nítida, havendo em mais de 50% uma distribuição anormal
dos pelos do púbis. Tais fatos revelam indiscutivelmente distúrbios acentuados da
fórmula endocrínica, especialmente em relação com as funções das glândulas
suprarrenais.
Dentro de alguns momentos projetaremos na tela vários desses casos, a fim de
ilustrar a nossa comunicação.13Temos encontrado os maiores obstáculos no estudo desses
indivíduos, não só pelas dificuldades materiais para retê-los por mais tempo para outras
observações em nossos laboratórios, como ainda pela insuficiência de pessoal técnico
para realizar tais pesquisas. Estamos, ainda assim, prosseguindo em nossas verificações
no ponto de vista psicológico e em relação com os seus antecedentes criminais, cujos
resultados figurarão em trabalho posterior mais completo que publicaremos sobre o
assunto.14
Já iniciamos15 também o estudo por outros meios de laboratório, a fim de apurar
mais intimamente os seus distúrbios endocrínicos. Assim utilizaremos a interferometria,
que está sendo agora aplicada com o maior êxito no estudo de várias doenças. Do
momento que se pode medir os fermentos correspondentes a cada glândula, é de supor
que seja também possível calcular a atividade das próprias glândulas. As expressões
hiperfunção e hipofunção seriam por esse modo fixadas em algarismos, realizando-se a
endocrinometria, de consequências as mais importantes no estudo das doenças dos órgãos
de secreção interna.
Zimmer, Lendel e Fehlow, depois de 1400 observações em indivíduos normais,
estabeleceram uma "curva interferométrica ideal". O diagnóstico do sexo tornou-se,
assim, possível no laboratório. Esses mesmos autores, em cem casos, estudando a ação
fermentativa de seus soros, puderam acertar com o diagnóstico do sexo em 85% dos
casos, sendo que dos 15 duvidosos, dois eram adiposos endocrínicos e um completamente

11
estéril. Em indivíduos de sexo pouco característico, Lutz, Siegfield e Plagk, chegaram a
conclusões positivas por meio desse recurso diagnóstico.
Rink cita dois casos de hermafroditismo, em que os sinais somáticos de um sexo
se acompanhavam de sinais psíquicos do sexo oposto, nos quais pude, pela
interferometria, chegar a um diagnóstico preciso. As conclusões desse autor são que o
valor da degradação da glândula do sexo oposto, pelo soro, representa uma força motora
exercendo-se sobre o desenvolvimento genital, no sentido do sexo oposto.

TERAPÊUTICA DA HOMOSSEXUALIDADE16

Provado que o homossexualismo é, em grande número de casos, uma


consequência de perturbações do funcionamento das glândulas de secreção interna, logo
surgiu a possibilidade do seu tratamento. Era mais um problema social a ser resolvido
pela medicina.
Ao pesquisador vienense Steinach coube o mérito de haver conseguido mudar o
sexo dos animais. A partir de 1910, depois de castrar cobaias machos e enxertar a glândula
do sexo oposto, provocou neles o aparecimento de caracteres femininos. As mesmas
experiências foram repetidas, no sentido inverso, com os mesmos resultados. A
masculinização ou feminilização nunca eram, porém, absolutas, porque permaneciam
vários caracteres do outro sexo. Sand, Pezard, Lipschütz confirmaram o fato em outros
animais.
Champy tirou dessa experiência a noção de "ambossexualidade", que definiu
como "fenômenos de desenvolvimento ou de comportamento, morfológicos ou
funcionais, ligados à presença das glândulas genitais ou à sua maturidade, e que são
comuns a um e a outro sexo".
Esta noção modificou radicalmente a ideia até então aceita sobre o assunto,
permitindo explicar certos fenômenos psicológicos, no mesmo sentido sexual que certos
fenômenos morfológicos.
Verificando-se, assim, que é possível, no laboratório, não só masculinizar fêmeas
e feminilizar machos, com transplantações ovarianas ou testiculares, como ainda obter,

12
no mesmo animal, o chamado "hermafroditismo experimental", estava indicado o
verdadeiro tratamento científico dos casos de inversão sexual no homem.
Lichtenstein, em 1916, operou um doente que havia perdido os dois testículos,
numa lesão de guerra, apresentando sinais de castração, isto é, acúmulo de gordura,
ausência de barba, assim como configuração eunucoide dos pelos pubianos, além de
incapacidade sexual. Aproveitando a glândula testicular de outro doente, de 40 anos,
operado de uma hérnia congênita dolorosa, com ectopia, esse cirurgião fez-lhe um
enxerto, para logo na segunda semana o paciente recobrar o desejo sexual, realizando até
a cópula, um mês mais tarde, e normalizando-se também o seu aspecto físico e psíquico,
nove meses depois da intervenção cirúrgica. Esse especialista, em 1918, fez outra
implantação do mesmo gênero, e com êxito, num homem castrado, anteriormente, em
consequência de uma tuberculose testicular. Há uma interessante observação de
Dartigues, de Paris, de um neuropata de 33 anos, cujas antigas tendências homossexuais
foram logo melhoradas, aparecendo mesmo o desejo sexual e a vontade de casar, de dois
meses depois da operação da transplantação testicular. Os enxertos ovarianos são hoje,
aliás, muito comuns na prática cirúrgica, com os melhores resultados.

HOMOSSEXUALISMO E CRIME

As práticas de inversão sexual foram em todos os tempos considerados, pelas leis,


um crime horrível e, por isso, punidas com as penas mais severas. Os autores do "pecado
nefando", nome pelo qual esse vício era conhecido na antiguidade, chegaram a ser
queimados vivos, quando não eram castrados.
A luta contra as perversões sexuais existiu durante a idade antiga e continuou nos
tempos medievais. Nas legislações penais modernas poucas foram as modificações
introduzidas em relação com esses indivíduos. Em alguns países civilizados, como a
Inglaterra, os preconceitos são tão rigorosos, nesse sentido, que ainda hoje eles são
punidos com trabalhos forçados. A primeira obra de Havelock Ellis, sobre a inversão
sexual, foi mandada confiscar, por um Juiz de Londres, e o processo e condenação de
Oscar Wilde constituiu, na época, um verdadeiro acontecimento na vida do povo inglês,

13
tamanha foi a repercussão que teve em todas as suas camadas sociais. E, ainda em nossos
dias, um espírito superior como o de Bernard Shaw proclama a violenta repugnância que
tem pelos homossexuais, o que prova que tudo mudou na Inglaterra, menos os
preconceitos contra esses pobres doentes.
Os Códigos da Suíça, da Áustria e da Alemanha ainda hoje punem a
homossexualidade como um delito, em qualquer condição que seja praticado. O projeto
de reforma da legislação penal da Itália, de 1927, em seu artigo 528, dizia: "aquele que,
fora dos casos previstos nos artigos de 519 a 521, pratica atos de libidinagem, com pessoas
do mesmo sexo, ou se presta à prática de tais atos, é punido, se do fato resultar escândalo
público, com seis meses a três anos de prisão. A pena será de um a cinco anos se o
culpado, sendo maior de vinte anos, praticar o ato com menor de vinte ou se o ato for
praticado habitualmente ou com fim de lucro". Felizmente esse artigo não figura no
Código Penal Italiano, de 1930.
No segundo Congresso Internacional de Sexologia e Reforma Sexual, reunido em
1928, em Copenhague, discutiu-se o assunto, propondo-se a suspensão desse delito, que
não figura no Novo Código da Rússia Soviética.
Se bem que na Espanha não sejam também mais punidos pelo Novo Código, os
homossexuais, Marañón afirma que "desgraçadamente os costumes policiais do seu país
não honram a elevação do pensamento da nova legislação, infligindo penas graves e
mortificações deprimentes aos homossexuais que caem nas mãos dos agentes de Polícia".
No Brasil o Código Penal, em seu artigo 266, faz referência "aos atentados contra
o pudor de um ou de outro sexo, por meio de violência ou ameaças, com o fim de saciar
paixões lascivas ou por depravação, com pena de um a oito anos".
O projeto recente da Comissão Legislativa é mais explícito sobre o assunto e tem
mesmo um capítulo especial, com o título de Homossexualismo, cujo artigo 258 diz: "Os
atos libidinosos, entre indivíduos do sexo masculino, serão reprimidos quando causarem
escândalo público, impondo-se a ambos os participantes detenção de até um ano. Punir-
se-á somente o sujeito ativo e a pena será a de prisão: (I) – por um a três anos, quando por
violência ou ameaça grave, tiver constrangido o outro participante a tolerar o ato, ou este,

14
por deficiência física, permanente ou transitória, acidental ou congênita, for incapaz de
resistir a esta situação; (II) – por dois a seis anos, quando a vítima for menor de 14 anos,
caso em que, para punição, se prescinde do escândalo público. Parágrafo único: Tratando-
se de anormais, por causa patológica ou degenerativa, poderá o Juiz, baseado em perícia
médica, substituir a pena por medida de segurança adequada às circunstâncias".
O Projeto constitui um passo à frente na solução do problema, pois prevê a
hipótese da perícia médica, a fim de permitir ao Juiz a substituição da prisão pela
internação, mostrando assim o grau de cultura de seus autores. Excluindo, porém, a
homossexualidade feminina que existe, se bem que mais rara, ficaria o problema encarado
por uma face unilateral. Distinguindo o indivíduo ativo do passivo, os termos propostos
para a questão não estariam de acordo com as ideias hoje dominantes, explicação
científica de tais anormalidades.
Kraft-Ebing, no fim do século passado, referia que a estatística criminal mostrava
o fato triste de, na civilização atual, os delitos sexuais crescerem progressivamente e, em
especial, os atos de deboche com menores de 14 anos. E acrescentava: "O moralista vê,
nestes fatos, uma decadência de costumes gerais, e chega à conclusão de que a grande
doçura dos legisladores modernos, na punição dos delitos sexuais, comparada ao rigor
dos séculos passados, é, em parte, a causa desse aumento". Explicando como as novas
causas de excitação da vida de hoje concorrem para forçar o aumento de tais perturbações
na esfera sexual, o psiquiatra alemão chamava, desde essa época, a atenção dos juízes e
legisladores para a importância da contribuição da ciência médica na explicação de atos
sexuais tidos como monstruosos e paradoxais. E concluía: "Uma justiça que só aprecia o
ato isolado e não o seu autor, arrisca de lesar interesses importantes não só da sociedade
como do próprio indivíduo. Em nenhum terreno criminal é mais necessário do que nos
delitos sexuais, que os estudos do magistrado e do médico legista se completem, porque
só o exame antropoclínico do paciente pode trazer a luz".
Estes conceitos, escritos há mais de cinquenta anos, precisam ser repetidos, ainda
hoje, perante os nossos mestres de Direito Penal. Eis por que de novo quero relembrá-lo
aqui, para que, uma vez ainda, nós, os criminalistas brasileiros, médicos e juízes,

15
possamos colaborar nessa obra de ciência e de humanidade, que é o estudo científico dos
homossexuais.
Um magistrado inglês, nessa mesma época, ao pronunciar a sentença que
condenou Oscar Wilde e Alfredo Douglas, disse, entre outras, estas palavras que ficarão
como uma eterna humilhação não só para a justiça daquele grande povo como para a
própria humanidade: "Nunca tive, até hoje, em toda a minha vida, que julgar uma causa
tão vil como a vossa. É preciso fazer uma violência para não traduzir, numa linguagem
que não quero empregar, os sentimentos que devem nascer na alma de todo homem
honrado, para quem a palavra pudor não é expressão vã, depois do conhecimento das
minúcias desse processo ignóbil. Eu não tenho a menor dúvida de que o Júri pronunciou
uma sentença justa. É inútil que eu vos faça uma lição de moral. Os que praticam atos
como os vossos perderam todo o sentimento de vergonha e nada se poderia, pois, esperar
de vós. A vossa causa é a mais vil que eu já tive de julgar. Nestas condições, devo tornar
a sentença a mais severa que me permite a lei que é ainda muito indulgente para os crimes
da natureza dos vossos. Eu vos condeno, pois, a 2 anos de prisão, com trabalhos forçados".

EM VEZ DE CASTIGO, TRATAMENTO

Quer se adote a teoria psicogenética do homossexualismo, quer se aceite a razão


endocrínica, em qualquer das hipóteses teremos que modificar a nossa atitude diante dessa
classe de indivíduos, cada vez mais numerosa em todos os países civilizados, de tal modo
que, na Alemanha, as estatísticas afirmam a existência de um invertido para cada trinta
indivíduos normais. Os partidários de Freud e seus discípulos afirmam: "O castigo das
perversões sexuais é injusto e não tem a menor razão de ser. É pela educação, e não pela
penalidade, que se deve lutar contra elas. Os perversos sexuais são, como os criminosos
neuróticos, entes hipermorais, pois suas perversões traduzem o horror ao incesto e o
desejo de escapar ao conflito do Édipo".
Marañón, defensor da explicação constitucional da inversão sexual, declara
textualmente: "Bloch diz que a Espanha foi das primeiras nações a suprimir dos Códigos
a selvageria de punir homossexuais. Devemos nos orgulhar disso, já que se sabe que

16
castigar um desses indivíduos não é somente uma insensatez, no campo científico, mas
sobretudo uma tática inútil, sob o ponto de vista social, porque, além de desumana, é
praticamente ineficaz dada a psicologia peculiar a esses infelizes. Haja vista a
extraordinária recrudescência da homossexualidade na Inglaterra, depois do escandaloso
processo movido contra Oscar Wilde. O invertido (acrescenta o mestre espanhol), é tão
responsável pela sua anormalidade quanto um diabético de sua glicosúria".
Tem razão, pois, Afranio Peixoto, quando aconselha: "Em vez de anatematizar e
fazer chover o enxofre e os raios sobre a Sodoma e a Gomorra dos vícios contra a
natureza, mais inteligente será, compreendendo esse erro, tratar de corrigi-lo. Em vez da
condenação, um diagnóstico e o devido tratamento".
Será mais justo e mais científico.

17
Referências

LEONIDIO RIBEIRO (1893-1976)


Foi médico – inicialmente cirurgião, posteriormente criminalista – professor de medicina
legal, diretor do Gabinete de Identificação da Policia Civil do então Distrito Federal
(década de 1930 – Rio de Janeiro) e criador, nesta mesma instituição, de um Laboratório
de Antropologia Criminal.

* Conferência realizada na Sociedade Brasileira de Criminologia.


Os artigos publicados com assinatura não são de responsabilidade da redação. Revista
Brasileira, como uma síntese do momento internacional, acolhe em suas páginas as mais
diversas manifestações do pensamento social-político moderno, sem que isto implique,
no entanto, com seu próprio ponto de vista.

1. Trata-se de uma das seções da Revista Brasileira: síntese do momento internacional,


uma publicação na qual se lê, em suas primeiras páginas, um texto que, bem ao sabor da
época, permite ao leitor de hoje a apreensão da linha editorial da revista, e também, pelo
estilo da redação, dos ilusórios ou verdadeiros êxitos, abrangência e importância de que
se vangloriam os editores. Note-se, também, as estratégias de marketing que, cremos,
registra algo da história da publicidade no Brasil:
"(Revista Brasileira) é única.

Pelo seu nível cultural. Pela sua independência. Pelo valor de seus colaboradores. Pelo
escolhido dos seus textos. Pelas suas descobertas nos arquivos. Pela sua perfeição
técnica. Pelo seu aspecto internacional. Pela brevidade e concisão de suas informações.

Seu êxito prova.

Que a existência de uma publicação resumindo as manifestações da atividade humana é


uma necessidade do momento que passa. A consagração que a Revista Brasileira recebeu
do público e da crítica nacional, atestam o seu valor.
É de vosso interesse.

Tornar-se assinante desde já da Revista Brasileira, pois que está provado que nossas
edições esgotam-se rapidamente.

Resumo claro, imparcial e detalhado.

Dos principais acontecimentos da vida contemporânea nacional e estrangeira.


Política estrangeira. Brasil. Economia. Finanças. História. Ciência. Variedades. Teatro.
Cinema. Arte. Letras. Sociologia.

Colaborações inéditas de grandes escritores, sociólogos, políticos etc." (Nota do revisor


técnico, Guilherme Gutman, doravante, NRT).

18
2. Fonte primária: "Homossexualismo e Endocrinologia" em Revista Brasileira – Síntese
do Momento Internacional, n. 9, p. 155-168, jul-ago de 1935b. (NRT

3. Como foi visto em nosso texto introdutório, Leonídio reapresentou este tema em muitas
de suas publicações. Vale citar aqui duas delas, próximas no tempo a "Homossexualismo
e Endocrinologia", que são: "O problema médico-legal do homossexualismo", publicado
na Revista Jurídica – Órgão Cultural da Faculdade de Direito da Universidade do Rio
de Janeiro, v. 3, p. 185-203, 1º semestre de 1935, e o livro Homossexualismo e
Endocrinologia, Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1938 – obra esta que supera em
atualização, abrangência e extensão as outras duas publicações (NRT).

4. Desta primeira geração, na perspectiva de Ribeiro, de investigadores científicos do


homossexualismo, o único que não é representado por alguma obra nas referências
bibliográficas do livro Homossexualismo e Endocrinologia (1938) é o russo Tarnowsky.
Alguns alemães são citados em traduções francesas e alguns autores, tal é o caso de
Cesare Lombroso, comparecem em uma certa abundância bibliográfica. Em seu Ensaios
e perfis (1954), Ribeiro presta homenagem a Lombroso, reconhecendo mais uma vez a
influência deste sobre o seu trabalho teórico e institucional. Escreve ele: "Graças à
influência das novas ideias lombrosianas foram criados, nas penitenciárias modernas,
laboratórios e clínicas especiais para o estudo da personalidade dos delinquentes (...).
Surgiram os anexos psiquiátricos das prisões e os manicômios judiciários, para observar
a vida íntima dos delinquentes e explicar as suas reações antissociais pelo estudo integral
da personalidade do indivíduo, do ponto de vista físico e psíquico (...). No Brasil, fui eu
um dos primeiros a realizar pesquisas científicas, nos domínios da Antropologia Criminal,
quando dirigi o Instituto de Identificação da Polícia Civil do Distrito Federal"; p. 153-
154. (NRT)

5. Esta segunda geração de autores é toda representada bibliograficamente


em Homossexualismo e Endocrinologia(1938), com evidente destaque para Gregório
Marañón, de quem constam oito obras e que, independentemente deste número de
referências bibliográfica, fez o prefácio do livro e, ao longo deste, recebe inúmeras
citações, nas quais Leonídio reconhece a sua filiação teórica (NRT). Novamente, em
seu Ensaios e perfis (1954), Ribeiro presta seu reconhecimento a Marañón, em especial
à sua "teoria da interssexualidade" (NRT).

6. Pende comparece com muitas obras em Homossexualismo e Endocrinologia (1938), e


ocupa, no corpo do livro, lugar e função similares a Marañón. Assim, e como se nota no
presente texto, Ribeiro se coloca na ponta contemporânea de uma sequência cronológica
de pesquisadores – feita, sobretudo, daqueles que apostam em causalidades fisicalistas
para o homossexualismo – ocupando, no Brasil, o lugar de relevância que cada um deles
ocupa em seus respectivos países. (NRT)

7. Esta secção do artigo é repetida ipsis litteris, assim como a introdução que o precede,
em "O problema médico-legal do homossexualismo" (1935), salvo pela omissão, aqui, de

19
duas citações – uma de Marañón e outra de Kretschmer – versando, respectivamente,
sobre a perspectiva de que todo sujeito carrega biologicamente características dos dois
sexos e, na segunda citação suprimida, sobre a indistinção entre "perversões" de natureza
endógena ou psicogênica. (NRT)

8. Após separar as "duas correntes opostas" (grosso modo, uma representando


causalidades de teor sociológico ou psicogênico, e a outra, etiologia de fundo organicista)
Leonídio deixa às claras a sua adesão à segunda delas. Melhor, talvez, seria notar que
Leonídio se conforma a um modelo etiológico tipo "estresse-diátese", no qual a "diátese
é representada principalmente pelos distúrbios de natureza endócrina e, o "estresse", por
fatores de vida tais como "filhos muito acariciados pelas mães" (sic). Leonídio, em
algumas obras, insiste na importância causal da atuação mãe em relação ao filho, em
especial ao filho único. Por exemplo, no contexto do que chama "tratamento médico-
pedagógico" do homossexualismo – capítulo de seu Homossexualismo e
Endocrinologia (1938) – pode-se ler: "Em muitos casos, sobretudo quando está em jogo
o filho único, em que é predominante a influência materna, a solução será o afastamento
do ambiente familiar (...). É preciso suprimir os carinhos e facilidades do ambiente
familiar quando se trata do 'enfant gaté' (...). Em tais casos, é inútil a internação em
colégios onde haja dormitórios coletivos, sem fiscalização rigorosa, na convivência
exclusiva com crianças do mesmo sexo", p. 177. (NRT)

9. L'evoluzioni della sessualita e gli intersessuali, Bologna, 1934, p. 158.

10. Glandulas endocrinas y prostitución. Buenos Aires, 1935, p. 55.

11. Nesta Secção do texto, mais uma vez, temos a repetição verbatim da seção de mesmo
nome em "O problema médico-legal do homossexualismo" (1935), salvo pela omissão de
uma outra passagem de Marañón, na qual este disserta sobre a importância das
suprarrenais na produção de um efeito "virilizante." Como se pode depreender a partir do
conteúdo deste artigo, esta subtração da citação de Marañón (bem como as outras
subtrações), não corresponde em absoluto a uma menor adesão de Leonídio às ideias
desses autores. (NRT)

12. Em "O problema médico-legal do homossexualismo" (1935), o número salta para 184
"homosexuais por nós estudados", e em Homossexualismo e Endocrinologia (1938) o
número chega a 195. Isto, naturalmente, modifica os números parciais que se seguem ao
total de sujeitos pesquisados; as conclusões, contudo, permanecem rigorosamente as
mesmas. (NRT)

13. Lembramos ao leitor que este texto é a versão escrita de uma conferência, a qual, tudo
indica, foi complementada por imagens dos pesquisados – talvez algumas das muitas
fotos que estão presentes em Homossexualismo e Endocrinologia (1938). (NRT)

20
14. Tudo indica tratar-se de uma referência ao que viria a ser o já citado Homossexualismo
e Endocrinologia(1938).

15. Em "O problema médico-legal do homossexualismo" (1935), este parágrafo começa


com um "Iniciaremos...", o que parece contraditório com o fato de que já haveria, então,
um número maior de indivíduos pesquisados do que no presente artigo. (NRT)

16. Esta seção do texto, assim como as duas outras que a sucedem, são exatamente iguais
às de "O problema médico-legal do homossexualismo" (1935). (NRT)

21
O MISTÉRIO DA HOMOSSEXUALIDADE1 (Adaptado)

Ken Corbett*
Psicólogo, psicanalista e professor assistente do Programa de Pós-doutorado em
Psicoterapia e Psicanálise da Universidade de Nova York
Editor do Studies in Gender and Sexuality
Editor associado do Psychoanalytic Dialogues

Após quinze anos de muitas reflexões acerca da homossexualidade, Freud


(1920/1962) foi induzido a caracterizar a relação entre a atitude de gênero do
homossexual e a forma de satisfação sexual (ativa ou passiva) como “o mistério da
homossexualidade” (p. 170). Para os homossexuais, a natureza da masculinidade3 não
correspondia necessariamente à atividade que Freud associava à masculinidade, e a
natureza da feminilidade não necessariamente correspondia à passividade ligada à
feminilidade. A experiência de gênero do homossexual foi vista por Freud como uma
espécie de crise de classificação: que gênero deve ser atribuído a esses indivíduos
misteriosos?
Em consonância com os atributos de um mistério, o gênero homossexual tem sido
considerado como ameaça a uma certeza conhecida &– o arranjo da dualidade
heterossexual de gênero (masculino-feminino). Por sua vez, as tentativas dos psicanalistas
para decifrar o mistério refletem a maneira pela qual as soluções dos mistérios são
frequentemente buscadas como tentativa de restaurar a certeza. Começando por Freud, os
analistas tem repetidamente tentado (des)locar os homossexuais em uma teoria de gênero
que repousa nas diferenças entre o que é feminino e o que é masculino.
A melhor ilustração dessa (des)locação é a maneira pela qual o homossexual
masculino tem sido considerado como feminino.
Essa convergência de gênero, homens homossexuais-mulheres heterossexuais,
tem sido fundamentalmente baseada no que os analistas consideraram uma similaridade
entre a forma passiva de satisfação sexual desejada tanto por homens homossexuais como

22
por mulheres heterossexuais. Esse tipo de teorização levou à seguinte equação:
homossexualidade masculina = passividade = feminilidade = trauma.4 Os homens
homossexuais são assim removidos do território da masculinidade e reformulados como
mulheres falsificadas. Como Freud (191/1957) afirmou ao descrever a homossexualidade
de da Vinci, “[Leonardo] foi roubado de parte da sua masculinidade” (p. 117) e deixado
“a desempenhar o papel de mulher” (p. 86).
Em vez de se apoiar na experiência do homossexual para desaferrolhar as
classificações de gênero, os analistas restringiram as possibilidades de gênero à dualidade
convencional heterossexual masculino-feminino. Por exemplo, Freud (1910/1957)
classificou da Vinci como feminino (ainda que feminino simulado), opondo-se a
considerar a experiência de gênero dele como vicissitude da masculinidade. Por meio
desse tipo de classificação, os analistas sustentam os gêneros heterossexuais como a
priori e naturais, além de apoiar a inevitabilidade de uma ordem cultural construída a
partir desse modo de pensar. Mas tal qual exemplifica a experiência do homossexual, essa
lógica resulta em uma ordem cultural sancionada, que não capta adequadamente a
natureza ou problematiza suficientemente a experiência de gênero. Denominar femininos
os homens gays não amplia muito a compreensão a respeito deles; simplesmente os
desloca. Transformar os homossexuais masculinos em mulheres falsificadas obscurece as
vicissitudes de gênero no lugar de abordar o modo pelo qual o gênero homossexual
desafia a dualidade convencional masculino-feminino.
Consequentemente, proponho voltar ao mistério da homossexualidade de modo
que possamos aprender mais não só acerca da homossexualidade, mas também acerca de
gênero. Concentro-me, especificamente, na experiência de gênero do homem gay.5
Afirmo que a homossexualidade masculina é uma masculinidade diferentemente
estruturada, não uma feminilidade simulada ou não masculinidade. Sugiro que embora
tanto os homens homossexuais quanto os heterossexuais identifiquem-se prontamente
como masculinos, a identidade de gênero do homem gay diferencia-se por sua experiência
de passividade em relação a outro homem. Seguindo Isay (1986, 1989, 1991), e Lewes
(1988), argumento que (na maioria das vezes) as dificuldades contratransferenciais do

23
analista heterossexual masculino com a passividade masculina promoveram dificuldades
de compreensão a respeito do desenvolvimento do homossexual masculino.
Acredito que na incapacidade de o analista tolerar a passividade masculina está
embutida a incapacidade de compreender e tolerar a experiência de masculinidade do
homem gay. Essa falta de compreensão, frequentemente acompanhada pela falta de uma
visão empática positiva, define o cenário para o que denominamos “censura do pai”. O
analista (como pai), por meio da exploração inconsciente de desejos transferenciais (o
desejo do filho de ser como o pai e negar anseios passivos), busca junto com o paciente
(como filho) subjugar e repudiar a experiência de gênero e de diferença sexual do
paciente.
Argumento que a censura do pai e a repressão do filho repousam em uma teoria
distorcida do desenvolvimento masculino, que ressalta a reprodução da paternidade, o
repúdio da passividade e a supressão da variação edípica &– em especial, o desejo edípico
do menino por seu pai. A reencenação transferencial do desejo do menino pelo pai foi
trazida recentemente à nossa atenção por Isay (1989). Gostaria de me basear nessas
observações ao abordar as dificuldades vividas pelo paciente gay masculino em permitir
o surgimento dessa reencenação transferencial. Afirmo que é vitalmente importante
reconhecer empaticamente, no tratamento de homens gays, tanto seu medo de vingança,
pela sua experiência de diferença de gênero, quanto lhes fornecer ajuda para o
esclarecimento de sua identidade diferente de gênero.

A DUALIDADE ATIVO-PASSIVO

Primeiramente, defino o que quero dizer com passividade. Como em todas as


dualidades convencionais, a passividade só pode existir em referência ao seu oposto
dialético, atividade. Dada a natureza dessa dialética, pode-se com razão se questionar se
passividade de fato existe. No entanto, opostos que se mantêm em tensão dialética não
são negados por intermédio dessa tensão. Podem, um ao outro se, contradizer. Podem se
desdobrar um para dentro do outro, como a passividade pode se desdobrar em atividade
e, dessa maneira, ser transformada. Mas contradição e transformação não neutralizam os

24
polos dialéticos; antes, os mantém em tensão condicional. Na medida em que se tenha
consciência da maneira pela qual atividade e passividade são condicionadas por meio
dessa tensão dialética, acredito que desejos passivos e ativos possam ser identificados.
Além disso, afirmo que identificar esses desejos é clinicamente relevante e significativo.6
Estou definindo a passividade homossexual masculina tal qual se manifesta por
meio de diversos desejos e comportamentos, que variam desde o desejo referente à
relação de objeto de receber cuidado de outro homem ao desejo sexual de ter as zonas
erógenas tocadas ou satisfeitas por outro homem. Por outro lado, estou definindo a
atividade homossexual masculina tal qual se manifesta por desejos e comportamentos,
que variam desde o desejo de cuidar de outro homem ao desejo de tocar ou satisfazer as
zonas erógenas de outro homem. Por exemplo, a passividade pode ser expressa por meio
do desejo de ser sustentado por outro homem. Um paciente gay masculino fala do seu
prazer de “dormir como namorados apaixonados”,7 aninhado nos braços do seu amado.
Ele gosta especialmente da sensação de ser o seu amado “maior e mais forte, e capaz de
envolvê-lo”.
O desejo passivo também se exprime por intermédio do prazer que os
homens gays experimentam no intercurso anal. Descrevendo uma fantasia de fusão
amorosa, um paciente gay declarou: “Quando Alex está dentro de mim, é como se eu
estivesse preenchido por ele. Como seu pinto chega até o meu, como se fôssemos um”.
Esses dois exemplos servem para ilustrar uma característica central da passividade: uma
temporária perda de vista do selfpor meio da rendição fusional ao outro. A fusão por meio
da atividade, por outro lado, significaria perder de vista temporariamente o self por meio
da inserção fusional no outro.
Os desejos passivos não negam a possibilidade de coexistência de desejos ativos.
A maioria dos homens gaysintercambia atividade e passividade nas relações sexuais.
Além disso, certas práticas sexuais, tais como felação mútua, sugerem que um indivíduo
pode experimentar simultaneamente atividade e passividade. Porém, é a fantasia que
subjaz à prática que nos deveria guiar a esse respeito (Arlow, 1969; Freud, 1905/1953).
Minhas afirmativas a respeito do papel da passividade na homossexualidade masculina

25
não têm o intuito de negar o fato de que muitos homens gays mantêm um papel
exclusivamente ativo na busca de objetos e nas relações sexuais.
A atividade homossexual fálica tem sido consistentemente ignorada ou
interpretada em toda a literatura analítica como intrusão sádica, falta de amor objetal. A
esfera do amor e a expressão de desejos de fusão amorosa por meio da atividade fálica
têm sido reservadas para homens heterossexuais por intermédio da constante idealização
da masculinidade heterossexual pelos analistas. Aguardo o reexame da atividade
homossexual masculina. Mesmo assim, argumento que há um aspecto evidentemente
passivo na homossexualidade masculina que, por sua vez, é relevante para a experiência
de gênero dos homens gays.
Em concordância com as afirmativas de Isay (1989) relativas ao desenvolvimento
homossexual masculino, descobri que os anseios passivos derivam do fato de que a
escolha de objeto amoroso de um menino homossexual tem como modelo seu pai,
levando ao desejo do menino de ter suas zonas erógenas tocadas ou satisfeitas pelo pai.
A fantasia de ser amado pelo pai é essencialmente expressão de anseio passivo. Porém,
como todo desejo sexual, esse anseio passivo é acoplado a um impulso ativo simultâneo
e aparentemente contraditório de se apossar e se identificar com o pai. Em outras palavras,
o menino, ao escolher seu pai como objeto, também se identifica com a atividade genital
do pai. Nisto se assenta o cerne do mistério: homens gays se movimentam entre objetivos
sexuais passivos e ativos que não refletem o tipo de tensão dual associada à atividade
heterossexual masculina e a passividade feminina. Ao contrário, a atividade e passividade
homossexuais derivam do desejo e identificação simultâneos com o pai. Além disso, a
masculinidade homossexual não é estruturada segundo diferenças entre os sexos, e a
experiência de gênero do homem gay não repousa na tensão dual que tem como modelo
a masculinidade e a feminilidade heterossexual.
Finalmente, escolhi focar os anseios passivos do homem gay não porque esses
anseios constituam exclusivamente o desejo homossexual. Antes, foco-me neles porque
descobri que a integração de tais anseios do homem gay e o impacto que eles têm em sua
experiência de gênero são fontes frequentes de muitos conflitos e defesas. Além disso,

26
ainda que eu acredite que o gênero seja descoberto juntamente com a identidade sexual,
a maioria dos homens gays relata uma percepção consciente inicial de diferença de gênero
antes da percepção consciente da sua homossexualidade. Consequentemente, um passo
decisivo no tratamento de qualquer homem gay é o reconhecimento dessa experiência
inicial de gênero e de como essa experiência é articulada na trama da sua identidade
sexual.

A CENSURA DO PAI

Em lugar de esclarecer o desafio enfrentado no desenvolvimento pelo menino


homossexual enquanto tenta integrar sua experiência de diferença de gênero, os analistas
nivelaram advertências, tais como a proferida por Chasseguet-Smirgel (1976, p. 349), de
que acesso excessivo à feminilidade pode levar o menino à “morte psíquica”. Na verdade,
todas as “curas” psicanalíticas da homossexualidade baseiam-se na crença de que se pode
ajudar o homem gay a recuperar sua masculinidade perdida e por esse meio devolvê-lo à
sua heterossexualidade natural (Socarides, 1978). A hipótese subjacente é que a
homossexualidade pode ser curada pela infusão de masculinidade normativa. Esse
método mostra semelhança notável com o pai que acredita que o filho é homossexual e o
leva ao quintal para jogar beisebol. O que o pai ansioso e os teóricos, como Socarides
(1978) e, mais recentemente, Nicolosi (1991) tiveram dificuldade de apreender é que
homossexualidade não é falta de masculinidade “é, antes, uma masculinidade estruturada
de modo diferente”.
Essa falta de empatia e de compreensão é ressaltada pela crença de que a
masculinidade se segue à reprodução da paternidade que, por sua vez, repousa no repúdio
da passividade. Deu-se voz a essa crença de diversas formas em todo o discurso
psicanalítico sobre masculinidade, mas talvez não esteja ela mais evidente, em qualquer
outro lugar, do que na descrição de Freud (1909/1955) sobre o desenvolvimento
masculino do pequeno Hans. Em todo o estudo do caso, Freud faz referências de
passagem ao “jeito agressivo, masculino e arrogante” de Hans (p. 16), ficando
especialmente deliciado quando, “apesar de seus acessos de homossexualidade, o

27
pequeno Hans portou-se como um verdadeiro homem” [itálicos meus] (p. 17). Essa
passagem capta a maneira pela qual um filho é visto e refletido por meio dos olhos do
pai. É bom lembrar que Freud empreendeu a “análise” de Hans falando por intermédio
do pai do menino. Freud, como orgulhoso pai-sombra, ilustra sua crença de que a tarefa
do filho, enquanto se empenha em direção à verdadeira masculinidade, é triunfar sobre a
passividade para a agressividade confiante.
A começar por Freud, os analistas têm sustentado que identidade de gênero e
sexualidade evoluem por meio da identificação com o genitor do mesmo sexo. O menino
se identifica com a atividade fálica do pai e, assim, começa sua luta para representar o
falo. A atividade deve ser conservada e a passividade repudiada. O desejo passivo por
outro homem deve ser especialmente negado. De fato, Freud (1937/1964) sugeriu que a
negação dos anseios passivos do homem por outro homem, que é parcialmente mantido
por intermédio do “protesto masculino”, representa o “alicerce”8 da masculinidade (p.
252). Igualando biologia a alicerce, Freud (1937/1964) chegou a ponto de conjeturar que
a biologia da masculinidade era expressa por meio desse protesto psicológico:
Temos frequentemente a impressão de que com (…) o protesto masculino
penetramos através de todos os estratos psicológicos e alcançamos o alicerce e que, assim,
nossas atividades chegam ao fim. Isso é provavelmente verdadeiro, já que, para o campo
psíquico, o campo biológico desempenha na verdade o papel de alicerce subjacente (p.
252).
Em última análise, biologia é destino. E, segundo Freud (1909/1955), o pequeno
Hans demonstrou seu destino masculino na medida em que triunfou sobre a passividade
por meio do seu protesto masculino arrogante e agressivo. Esse feito foi saudado com
muito prazer e reconhecimento pelo pai de Hans e por Freud. Hans juntou-se às fileiras
da classe (Freud, 1909/1955, p. 89): Pai de Hans: Você gostaria de ser Papai? Hans: Oh,
sim!
O objetivo final do desenvolvimento masculino é a sucessão ao papel de pai. O
apogeu da biologia masculina é a reprodução. A masculinidade repousa, afinal, na
reprodução pelo menino da paternidade heterossexual, revelando assim a confiança dos

28
analistas em uma teleologia da função reprodutiva. Os analistas têm proposto
consistentemente que o princípio da realidade coincide com o reconhecimento desse
paternalismo e suas leis complementares de diferença sexual e geracional (Chasseguet-
Smirgel, 1985; Erikson, 1950; Freud, 1911/1958; Winnicott, 1986). Por meio da sua
teoria do desenvolvimento sexual, Freud (1911/1958) esboçou a luta entre prazer e
realidade. Ao entretecer a “substituição do princípio do prazer pelo princípio da
realidade” (p. 222) à sua teoria do desenvolvimento psicossexual, Freud uniu desejo e
realidade. Ele e a maioria dos analistas que se seguiram supuseram uma correspondência
entre realidade e uma forma de sexualidade subordinada à função reprodutiva.9
Porém, tem consistência lógica equacionar realidade com subordinação ao desejo
de reprodução? Estruturar uma teoria do desenvolvimento humano ao redor do fenômeno
nodal de procriação apreende adequadamente a natureza? Ou faz o normativo cair sobre
o natural? Ligar o desenvolvimento sexual à procriação e chamá-lo realidade ignora outra
realidade: as vicissitudes da resolução edípica juntamente com as variações em gênero e
identidade sexual que evolvem dos diversos desejos e resultados edípicos.
Evidentemente, a sexualidade surge de percursos diversos e sobredeterminados. Ao não
levar em conta as vicissitudes naturais da resolução edípica, pensar acerca do
desenvolvimento sexual tornou-se simplificado e esquematizado. Em lugar algum isso é
mais evidente do que na literatura psicanalítica sobre a homossexualidade masculina. Por
exemplo, até o trabalho recente de Isay (1989), ignorava-se ou se marginalizava a
possibilidade de um menino tomar seu pai como objeto edípico. Como ressaltou Isay
(1989), o fato de os pais não figurarem de modo mais proeminente nas teorias do
desenvolvimento da homossexualidade masculina sublinha tanto o medo dos analistas de
examinar o desejo pelo mesmo sexo quanto a relutância deles em cogitar acerca da
variação e da ambiguidade inerentes na ontogenia da sexualidade masculina.
Os analistas têm demonstrado igual relutância em examinar a experiência
masculina de passividade ou, no que diz respeito a isso, até mesmo em examinar a
passividade. A passividade masculina tem sido considerada como um desvio do
destino/biologia masculino verdadeiro.10 A passividade masculina é vista como indicador

29
de uma identificação feminina e a renúncia correspondente à masculinidade. Presume-se,
além disso, que essa identificação feminina seja adquirida por meio da abdicação da
atividade fálica, a encenação da castração e a experiência fantasiada do ânus como vagina.
Durante minha experiência clínica e de pesquisa com mais de trinta homens gays, não
verifiquei que essas suposições pudessem ser acuradas (Corbett, 1989).
Ainda que muitos homens gays exprimam certa identificação feminina, não
encontrei qualquer paciente gay que fantasiasse que seu ânus fosse uma vagina ou que
fixamente se imaginasse mulher. Similarmente, não constatei que a experiência passiva
esteja ligada à encenação da castração. Na verdade, para a maioria dos homens gays a
experiência de ser penetrado analmente resulta em excitação fálica e ereção (se já não
tiver ocorrido nas preliminares). A ereção e o prazer fálico correspondente que levam ao
orgasmo são focais, acentuados pelo prazer da penetração. O homem simultaneamente
penetrado e em ereção, geralmente alcança o orgasmo depois da manipulação do seu pênis
pelo parceiro. Esse comportamento é sublinhado pelo desejo de que o parceiro veja e
manipule a ereção, não que a negue. Ainda que o orgasmo não seja atingido como
resultado de penetração ativa, a ereção e a experiência de excitação fálica passiva são
fundamentais tanto para o comportamento sexual quanto para a fantasia. Por meio da sua
relutância em imaginar um corpo masculino simultaneamente penetrado e em ereção, os
analistas misturaram excitação fálica passiva com castração.
Juntamente com as suposições relativas à fantasias e encenações de castração,
supõe-se que a masculinidade seja abandonada por meio do desejo de erotismo anal do
homem gay. Ser penetrado é abdicar da masculinidade e desistir da reprodução da
paternidade. Como Foucault (1985) observou, em referência à história da sexualidade, o
único comportamento sexual masculino “honroso” “consiste em ser ativo, em dominar,
em penetrar, e assim exercer autoridade” (p. 154). Ser penetrado é renunciar ao poder.
Desejar o prazer da passividade com outro homem é quebrar a patente e romper o
“alicerce”11 da masculinidade. Segue-se que esse desejo fica sob o ataque do “protesto
masculino.” Só é preciso observar a maneira pela qual os meninos atacam verbal e

30
fisicamente um menino homossexual para reconhecer a necessidade deles de deslocar e
subjugar sua própria passividade reprimida.
A passividade homossexual masculina subverte o absolutismo da atividade e
autoridade heterossexual masculina. Sem esse absolutismo, as suposições da cultura
acerca do gênero normativo são desestabilizadas. Como argumentou Bersani (1989), a
passividade tem o “apelo terrificante de perda do ego” e esse “perder o self de vista” serve
para confrontar não só noções normativas de gênero, mas também de teoria normativa do
desenvolvimento (p. 220). De fato, o argumento teleológico dos Três ensaios (Freud,
1905/1953) e as teorias do desenvolvimento da maior parte dos seus seguidores repousa
na necessidade da atividade para a exclusão das considerações de passividade no
desenvolvimento. Essa história de negação do valor da passividade no desenvolvimento
resultou em um cânone psicanalítico enviesado: o desenvolvimento dos homens
heterossexuais é superestimado e supervalorizado. O desenvolvimento das mulheres
heterossexuais e dos homens homossexuais é subestimado e subvalorizado, enquanto suas
supostas patologias são superestimadas. E o desenvolvimento das mulheres homossexuais
é notoriamente subestimado por meio da falta virtual de qualquer representação no cânone
psicanalítico.
Essa representação tendenciosa é defendida por meio de suposições normativas
acerca de biologia e psique, suposições que negam a grande variabilidade sexual da
espécie humana. A veracidade e o valor da passividade para o desenvolvimento,
especialmente a passividade homossexual masculina, continuarão a ser negados até os
psicanalistas começarem a reconsiderar de modo responsável os constructos
fundamentais em que basearam sua compreensão da biologia e da psique humanas.

A REPRESSÃO DO FILHO

Não só os psicanalistas ficam pouco à vontade com a homossexualidade


masculina. Homens gays também frequentemente abrigam a crença de que sua
experiência de masculinidade é imperfeita, especialmente em comparação com a

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masculinidade heterossexual normativa. Reconhecendo o dilema inerente em tal
experiência, um paciente meu, gay masculino, comentou: “Há esse senso de alteridade.
Sabe! Não ser a norma &– não ser um menino normal”. Cada vez mais frustrado com a
dificuldade de descrever sua experiência, a não ser em referência ao que ele não era,
exclamou: “Não sei! Sinto como se a civilização tivesse roubado de mim as palavras para
descrever isso”.
Essa experiência de ser simultaneamente localizado e roubado por meio da
masculinidade normativa foi ecoada por muitos pacientes gays masculinos meus.
Descobri, em particular, que meus pacientes gays masculinos sentem que seus pais não
compreenderam sua experiência inicial de gênero. Essa falta de compreensão é vivida
pelo filho como sinalizadora da decepção do pai. Sem exceção, meus
pacientes gays masculinos se apresentam como tivessem decepcionado seus genitores,
com a ênfase maior colocada geralmente na decepção dos pais: não foram eles os filhos
que os pais almejaram.
Em oposição ao tempestuoso orgulho partilhado pelo pequeno Hans e por seu pai,
muitos meninos homossexuais sentem humilhação e culpa em serem observados por seus
pais. Esse esfriamento das relações é composto, além disso, pela derrota que eles sentem
diante da condenação e/ou protesto masculino de seus pares. Descobri que uma dinâmica
similar de afastamento e retraimento pode colorir a transferência na fase inicial de terapia
com pacientes gays masculinos. Reconhecer a expectativa de repúdio dos pacientes gays,
à luz de sua experiência inicial, proporciona a oportunidade de começar examinando a
natureza defensiva do seu retraimento. O reconhecimento do repúdio, devido à
experiência inicial de gênero, faz voltar à evidência não só as adaptações defensivas, mas
também o desejo reprimido pelo pai e os anseios passivos ligados a esse desejo. O curso
do tratamento com um jovem gay ilustra como esse interjogo entre experiência inicial de
gênero e desejo pelo pai pode ser expresso na transferência.
Luke começou a terapia queixando-se de ansiedade difusa, acoplada a sentimentos
de solidão e desespero por não conseguir ter um relacionamento estável com outro
homem. Ainda que exprimisse bastante raiva do que sentia ser falta de desejo dos homens

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por ele, contribuía secretamente para o que sentia como avaliação desfavorável deles em
relação a ele. Ao dizer coisas como: “Tenho boas qualidades, mas não é suficiente”, ele
exprimia consistentemente sua crença de não ser o homem que eles buscavam. Luke
exprimia um intenso senso de isolamento, acreditando não poder ter a admiração dos
pares nem dos genitores. Similarmente, no tratamento, Luke desconfiava que eu pudesse
julgá-lo e considerá-lo deficitário. Ele especulava que eu fizesse parte de um grupo
exclusivo de homens gays, que eram mais bem-sucedidos e atraentes do que ele.
Observando, com inveja, ele imaginava que meus supostos amigos e eu não permitiríamos
que ele se juntasse a nós. Luke sentia que não só eu o acharia pouco atraente, mas que até
o humilharia &– especificamente, que eu o chamaria de “mocinha gorda.”12 A reflexão
transferencial levou a considerável material acerca das vivências de humilhação e de
rejeição de Luke por outros meninos, seus colegas, durante toda sua infância. Mas, talvez,
ainda mais importante: Luke exprimia dolorosos sentimentos de insuficiência por se
sentir pouco atraente para seu pai.
À medida que o tratamento progrediu e as defesas de Luke diminuíram, ele relatou
um sonho em que estava dando banho em um menino pequeno. Ele e o menino estavam
se divertindo muito, e Luke sentia muita ternura em relação à criança. Luke percebeu que
a porta do banheiro estava aberta e que havia adultos na sala contígua. Temendo que os
adultos pudessem pensar que ocorria algo ilícito entre ele e o menino, Luke fechou a
porta. A cena mudou então para o dormitório dos pais. Já como adolescente, ele estava
no dormitório com outro adolescente. O outro jovem começou a se despir, mas de repente
parou. O sonho terminou com Luke se sentindo decepcionado e raivoso. Nas associações
ao sonho, Luke falou de um paciente meu, criança, que ele vira uma vez na sala de espera.
Luke se perguntou o que eu fazia com um menino tão pequeno e exprimiu sua crença de
que eu teria que ser mais doador para uma criança, pois uma criança exige mais. Ele sentia
que, possivelmente, eu até chegasse a abraçar esse menino. Ele se lembrou de ter visto a
mesma criança com o pai, na rua, fora do meu consultório. Luke achou que o pai era bem-
apessoado, bonito, e dava muita atenção ao menino. Prestando atenção em suas
associações, Luke mencionou sentir que o menino pequeno, no sonho, era ele próprio, e

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que o sonho exprimia um desejo de ser cuidado, muito provavelmente por seu pai, mas
também por mim.
Luke prosseguiu dizendo que, enquanto a primeira metade do sonho era um
desejo, a segunda metade era o medo de que se me deixasse saber que seu desejo era
sexual e de proximidade, eu ficaria enojado e interromperia a terapia. Conforme fui
investigando mais, Luke revelou, ansioso, que se percebia abrigando a fantasia de que eu
o levaria para a sala de terapia de crianças, contígua à sala de adultos, e de que, ali,
faríamos sexo. Com grande dificuldade e repugnância, ele exprimiu seu interesse em ser
passivo &– seu desejo de que eu o segurasse, o desvestisse e chupasse seu pênis.13
Durante a sessão seguinte, Luke se lembrou de quando era pequeno e fora à festa
de aniversário de uma prima. Em certo momento, sua prima subiu no colo do pai. Luke
tentou se juntar a eles, mas foi empurrado para o lado por seu pai, que deu a entender que
aquele tipo de comportamento era inadequado para um menino. Comentei que
provavelmente Luke queria o que, segundo ele, só uma menina poderia ter. Ele exprimiu
desconforto com essa ideia, mas reconheceu que sua repugnância na sessão anterior fora
devida à sua associação com anseios passivos referente a “não ser suficientemente homem
e ser parecido demais com uma mulher”. Por diversas sessões, a partir dali, Luke voltou
ao tema da sua identificação com meninas na infância. Ele caracterizou suas amizades
com meninas como “lealdades tensas”. Ainda que se lembrasse de um senso sincero de
amizade, lembrou também o sentimento de estar distante delas. Deu risada enquanto
dizia: “Eu não pertencia a nenhum dos lados!”. Mas o tom mudou para tristeza quando
disse: “O mais estranho é como isso era sabido e nunca falado”.
O sentimento de Luke a esse respeito marca o que eu creio ser uma diferença bem
importante &– não esclarecida na literatura a respeito da infância dos meninos
homossexuais &– entre (a) a vivência de diferença de gênero nos meninos homossexuais
e (b) distúrbio de identidade de gênero. A identificação feminina para os meninos
homossexuais não é tanto a expressão de um desejo de ser menina, mas antes uma
oportunidade para experiência passiva e realização de desejo. Anseios passivos e
identificação feminina coexistem ao lado da identificação masculina, criando com

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frequência uma confusa experiência de gênero para o menino homossexual. Por exemplo,
um paciente afirmou: “Sei que meu pai queria que eu fosse homem, e eu sabia que não
estava sendo homem como ele. Eu não estava sendo mulher, mas não estava sendo
homem, segundo a definição dele”. Esse paciente expressou com muita competência o
paradoxo para a experiência de gênero do menino homossexual: ele não sentia que fosse
mulher e, ainda assim, não sentia que fosse homem, conforme definia o pai. Ele não queria
crescer para ser mulher nem negar seu corpo masculino. Ele tinha amigas e gostava de
participar de jogos e passatempos com meninas, mais do que a maioria dos meninos.
Porém, esse prazer não constituía uma preocupação com a feminilidade, e ele não tinha
apenas atividades femininas de maneira estereotipada. Na verdade, ao contrário da
caracterização de meninos homossexuais, que exibem feminilidade exacerbada, descobri
que muitos meninos homossexuais tentam reprimir sua experiência de diferença de
gênero. Depois dessa repressão, ocorre uma depressão na infância desses meninos,
caracterizada por um fechamento parcial da vida afetiva e marcado isolamento
interpessoal. Um paciente refletiu com competência esse retraimento como tentativa de
se “neutralizar”.14
O trabalho com pacientes gays masculinos, na tentativa de ajudá-los a falar a
respeito e esclarecer sua experiência de diferença de gênero, lhes proporciona um novo
ponto de vista a partir do qual reavaliam e revalorizam seu desenvolvimento. A
capacidade de Luke de ver seus desejos como masculinos, de um modo diferente, em
lugar de femininos, outorgou nova possibilidade à sua identidade sexual.15 Ele começou
a conectar seus desejos passivos com desejo erótico inicial por seu pai, e sua ansiedade
acerca da sua masculinidade homossexual diminuiu. Ele conseguiu ter um
relacionamento estável com outro jovem e começou a valorizar e resistir ao efeito da
discriminação no desenvolvimento homossexual. Com tolerância maior para sua própria
identidade, conseguiu restabelecer os laços com sua família e a trabalhar com eles para
entender sua diferença sexual.
Assim como a psicoterapia pode promover a ampliação das fronteiras do ego e,
desse modo, permitir ao paciente a estruturação de um sistema de valores e de ideais mais

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realisticamente modulados, nós, como psicólogos, precisamos também começar a
formular uma teoria de gênero e de desenvolvimento sexual que lance uma rede mais
ampla. Não estou propondo que necessitamos de uma teoria de gênero e de
desenvolvimento sexual irrestrita ou que se nos ofereçam meios de raciocinar acerca de
limites. Similarmente, seria ilusório ignorar a necessidade de uma ordem cultural dentro
da qual qualquer sujeito é gerado. Mas é nossa incumbência distinguir o normativo do
natural e começar a apresentar as vicissitudes de gênero. Igualmente, é nossa incumbência
desenvolver uma teoria que respeite a diversidade, no desenvolvimento humano, mais do
que o desejo de criar uma metafísica de gênero falsamente simétrica.

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