Você está na página 1de 9

Seria o sexo uma construção social?

Por Pär Ström

Muitas feministas alegam que as distinções que podem ser observadas entre
os homens e as mulheres são ensinadas. Segundo elas, são as expectativas
ambientais que pressionam os rapazes a agir como rapazes e as mulheres a
agir como mulheres. Estas diferenças, dizem-nos elas, permanecem por
toda a vida.

Não se nasce mulher; torna-se! (Simone de Beauvoir (1908-1986)

A teoria em torno do género como uma construção social chegou até a ser
aceite politicamente [na Suécia].

O governo social-democrata da altura colocou isso mesmo na sua


declaração governamental de 2002.

” Apesar da longa história em torno do trabalho ativo em prol da


igualdade, a nossa sociedade continua caracterizada por uma
estrutura de poder de gênero. No futuro, o nosso trabalho deve
possuir uma direção mais feminista. Isto significa que temos que
estar cientes da estrutura de poder de gênero – que as mulheres são
subordinadas e os homens superiores – e temos que estar
preparados para mudar esta situação. Isto significa também que o
governo tem que considerar o masculino e o feminino como
“construção social”, isto é, padrões de gênero criados
externamente após o nascimento através da nossa educação,
cultura, enquadramentos econômicos, estruturas de poder e a nossa
ideologia política”

Quem estuda as pesquisas e os dados científicos, em vez de documentos


políticos, encontrará diferenças significativas entre os sexos já na altura no
nascimento.

Estas diferenças genéticas controlam muitos dos traços que estão por trás
do nosso comportamento diário.

Quais são as diferenças entre os sexos?

Um dos grandes nomes desta área é Simon Baron-Cohen, professor na


Universidade de Cambridge na Grã-Bretanha. Cohen desenvolveu a assim
chamada ‘E-S Theory’ [daqui para a frente, referida apenas como
EST] onde ‘E’ significa empatia e S significa sistematização.

Ser empático implica que uma pessoa se conecta a outros seres humanos,
entende-os e comunica com eles. Sistematização significa que uma pessoa
analisa, entende e constrói sistemas – sistemas abstratos ou sistemas
técnicos.

Segundo a EST, e analisando a forma como o cérebro funciona, as pessoas


podem ser divididas em 3 grandes grupos. Os tipos de cérebro são:
 O cérebro E onde a aptidão empática supera em muito a sua
habilidade para sistematizar.
 O cérebro S onde a aptidão para sistematizar é maior que a sua
aptidão para a empatia.
 O cérebro B onde as duas capacidades se encontram igualmente
desenvolvidas.

Segundo o professor Baron-Cohen, o cérebro E é típico das mulheres e o
cérebro S é típico dos homens.  Existem variações individuais e exceções,
1

mas o padrão geral é forte.

Outra pesquisadora que também possui um interesse pelo tópico é Annica


Dahlström, professora emérita no departamento de química médica e
biologia celular na Universidade de Gotemburgo. Ela dedicou 15 anos da
sua vida a este assunto. No seu livro ‘Gender is in the
Brain’ [“O Gênero Encontra-se no Cérebro”] ela reporta a complexa
relação química entre os hormônios, o cérebro, e outros órgãos que, tanto
antes como depois do nascimento, transformam os seres humanos em
homens e mulheres.

Mesmo que existam discrepâncias individuais, Annica Dahlström afirma


que existem coisas como características “femininas típicas”, e
características “masculinas típicas”. 

Segundo Dahlström, em média as mulheres são: Mais empáticas e


preocupadas
 Melhores na comunicação verbal e linguagem
 Detectam mais nuances e detalhes com os seus olhos e ouvidos.
 São mais sensíveis ao estado de espírito dos outro bem como aos
sinais sutis
 Podem fazer associações mais rápidas com informação guardada
anteriormente
 São melhores no multitasking [várias tarefas ao mesmo tempo]
Com os homens, no entanto, segundo Dahlström, eles:

 Estão mais dispostos a correr riscos e a competir


 São melhores a concentrar a sua atenção a um tópico de cada vez
 São vastamente superiores no pensamento abstrato.
 Possuem melhor visão tridimensional
 São mais extremos (em ambas as direções) no que toca a
inteligência (embora a inteligência média entre os sexos seja a
mesma)

Um terceiro pesquisador a levar em conta é Germund Hesslow, professor


de neurociência na Universidade de Lund. 

Ele afirma que as diferenças entre homens e mulheres se encontram bem


documentadas. Por exemplo, diz Hesslow, os homens, no geral, possuem
uma habilidade superior para pensamento espacial e resolução de
problemas matemáticos. Para além disso, os homens são mais agressivos e
determinados no que toca a correr riscos.

As mulheres, diz Hesslow, são mais compassivas (especialmente com as


crianças) e mais cuidadosas na escolha dos parceiros. Quando comparadas
com os homens. as mulheres têm mais dificuldade em considerar relações
sexuais breves.

Tal como Dahlström, Hesslow também afirma que os homens exibem uma
maior distribuição de inteligência que as mulheres.2

Eu poderia continuar a citar outros pesquisadores que documentaram as


diferenças entre os sexos, mas em vez disso, vamos analisar o que as
pesquisas dizem em tornos das causas dessas distinções.

Comportamento aprendido ou diferenças genéticas?

Pode-se dizer, portanto, que há distinções entre os sexos. Mas serão essas
distinções aprendidas ou genéticas? Apesar do ambiente social ter
influência, existe uma lista enorme de estudos científicos que ressalvam a
enorme e significativa importância das diferenças biológicas entre os sexos.
A Scientific American sumarizou a questão muito bem num artigo em
torno do cérebro masculino e do cérebro feminino. Isto é que eles
escreveram:
Durante a década passada, os investigadores documentaram
uma surpreendente quantidade de variações [=diferenças] estruturais,
químicas e funcionais entre o cérebro masculino e o feminino. 3

Analisemos um certo número projetos de pesquisa que demonstram que a


genética se encontra por trás de muitas das diferenças entre os sexos que
podemos observar.

Podemos começar na Suécia com Arne Müntzing, geneticista e professor


de hereditariedade.

Ainda em 1976 ele estudou bebés com 12 semanas, que dificilmente


poderiam ter sido influenciados pelos papéis de gênero [inglês: “gender
roles”], e observou diferenças essenciais no comportamento dos rapazes e
das moças. Müntzing escreveu:

Os rapazes ganham muito cedo um melhor entendimento da espacialidade,


a posição dos corpos em relação aos outros. Esta é provavelmente a razão
que leva a que, mais tarde, os rapazes se interessem mais que as moças em
construções técnicas e problemas matemáticos.

As mulheres por outro lado, buscam os problemas segundo um ângulo


humano. Não é só o meio ambiente que leva a que as meninas coloquem os
soldados de chumbo numa cama de algodão de modo a que eles estejam
confortáveis e bem aquecidos. 4

No ano de 1999 a estudante de doutoramento Anna Servin – Instituto de


Psicologia da Universidade de Uppsala – levou a cabo um estudo em 300
crianças.

Este projeto foi feito em cooperação com pesquisadores e médicos do


Hospital Huddinge Hospital. Servin detectou claras diferenças
comportamentais presentes já aos 9 meses, diferenças essas que,
posteriormente, aumentaram com o passar do tempo.

Ela escreveu na sua tese que é a quantidade de andrógenos (hormonas


masculinos) que determina o comportamento da criança, incluindo coisas
como o tipo de brinquedos com os quais a criança quer brincar.5

Esta é a forma como Anna Servin sumarizou as diferenças


comportamentais entre os rapazes e as moças e a forma como estas
características influenciam a escolha de brinquedos:

De modo geral, os rapazes possuem uma aptidão espacial; eles veem e


entendem como os vários tipos de construção funcionam e ficam mais
satisfeitos com brinquedos de construção.
As meninas são melhor equipadas verbalmente e possuem um interesse
maior nos relacionamentos. Como tal, escolhem brinquedos que estão de
acordo com estas habilidades.

Fala a testosterona.

O professor Richard Udry – Universidade da Carolina do Norte –


comparou os níveis de testosterona nos fetos femininos com a atitude e
comportamento das mesmas pessoas 30 anos mais tarde.
Ele verificou que há uma conexão entre o nível de testosterona durante a
altura fetal e o nível de comportamento masculino/feminino nos seus 30
anos. O comportamento monitorizado nos adultos foi a sua atitude perante
as crianças, casamento, trabalho, carreira e a sua aparência.

Níveis elevados de testosterona durante a fase fetal correspondiam a


comportamentos menos femininos e atitudes menos femininas. 6

Os ftalatos são um grupo de compostos químicos que inibem os hormonas


sexuais. Oito pesquisadores da Universidade de Rochester descobriram que
os rapazes que são expostos aos ftalatos durante a fase fetal irão brincar de
uma forma menos masculina com outros rapazes. 7

Análogo a isto, sete pesquisadores da Universidade de Cambridge


concluíram que elevados níveis de hormona sexual masculino –
testosterona – durante a fase fetal resultará num comportamento mais
masculino durante as brincadeiras. 8

Um grupo de pesquisadores americanos e britânicos concluiu que o nível


de testosterona durante a fase fetal determinará o quão interessada em
sistematização a criança mais tarde ficará. Quanto maior for o nível de
testosterona, maior será o interesse em sistematização. 9

Uma quarta pesquisa determinou que meninas que sofrem de “Congenital


Adrenal Hyperplasia Disorder” – isto é, níveis anormais
do hormônio masculino testosterona – irão preferir brinquedos de
construção e brinquedos de transporte mais do que as outras meninas.
Para além disso, elas irão brincar de forma mais dura e agressiva. 10

Desde a mais tenra idade que os rapazes se encontram mais interessados


em objetos mecânicos enquanto as moças nutrem um interesse maior por
rostos.
Um projeto de pesquisa mostrou que as moças com um ano de
idade demoravam mais tempo que os rapazes a olhar para a cara da mãe.
Quando se mostravam filmes às crianças com 1 ano, as meninas
demoravam mais tempo que os rapazes a olhar para os filmes que exibiam
uma cara, enquanto que os rapazes demoravam mais tempo a observar
filmes que exibiam carros.11

Será possível que estas crianças de 1 ano tenham sido influenciadas


pelas expectativas do mundo à sua volta em torno dos papeis
de gênero? 

De modo a investigar esta crença, estes pesquisadores continuaram com o


trabalho e levaram a cabo um estudo similar em crianças com 1 dia de vida.
As crianças poderiam escolher entre olhar para a cara duma mulher ou
olhar para dispositivo móvel mecânico que, na sua cor, tamanho e forma,
lembrava a cara.

Os resultados demonstraram que os bebés masculinos dedicavam mais


tempo a olhar para o dispositivo móvel enquanto as bebés femininas
devotavam a maior parte do tempo a olhar para a cara.

O professor Simon Baron-Cohen da Universidade de Cambridge apurou


também que as meninas com 12 meses de idade possuem uma resposta
mais empática aos problemas alheios que os rapazes com a mesma idade. 12

Há algum tempo o hormônio feminino dietilestilbestrol foi usado para


tratar as mulheres que haviam tido abortos espontâneos consecutivos. Isto
viabilizou alguns interessantes projetos de pesquisa. Entre outras coisas,
ficou demonstrado que os rapazes que nasciam de mulheres que haviam
recebido o em cima mencionado tratamento – isto é, que haviam recebido
hormonas femininos – demonstravam comportamento mais “feminino” e
mais empático.

Por exemplo, quando comparados com outros rapazes, eles demonstravam


um maior interesse em brincar com bonecas. 13

Outra pesquisa foi levada a cabo nos rapazes nascidos com a deformação
IHH, significando que os seus testículos eram pequenos e, desde logo,
produtores de quantidades menores de testosterona. Os estudos mostraram
que estes rapazes eram piores que outros rapazes na sistematização de
formas espaciais.

Adicionalmente, existem rapazes que nascem com o AI Syndrome,


condição que deixa os rapazes não-receptivos aos andrógenos
(hormônio sexual masculino) Eles são piores na sistematização espacial.
Ao mesmo tempo, as moças nascidas com Congenital Adrenal Hyperplasia
Disorder, que, como dito em cima, resulta em níveis anormais de
andrógenos (masculinos), são mais inteligentes na sistematização espacial
que as outras raparigas.
14

Existe também um projeto de pesquisa que demonstra como o nível de


testosterona determina o nível de riscos económicos na idade adulta. Entre
outras coisas, os pesquisadores estabeleceram que as mulheres que
escolhem uma carreira na área das finanças possuem níveis de testosterona
superiores, quando comparadas com outras mulheres. 15

O periódico sueco Illustrerad Vetenskap (Ciência Ilustrada) escreveu


recentemente

Pesquisas recentes mostram que os homens possuem 6,5 vezes mais massa


encefálica cinzenta que as mulheres, enquanto elas possuem 10
vezes mais massa encefálica branca que os homens. Isto pode explicar o
porquê dos homens serem melhores, por exemplo, em matemática,
enquanto que as mulheres são melhores nas línguas.

Homo Sapiens é um animal.

Estudos em torno do mundo animal são interessantes uma vez que os


animais dificilmente podem ser influenciados pelas normas sociais e papéis
de gênero humanos.

Se a natureza criou [sic] os animais de modo a que os sexos sejam distintos


por motivos biológicos, por que é que os homo sapiens seriam uma
exceção? Seguem-se alguns projetos de pesquisa com os
animais interessantes.

Um estudo usou um certo número de macacos a quem foram dados um


certo número de brinquedos. Eles encontravam-se entre bonecas,
camiões e brinquedos genericamente neutros como livros com pinturas.

Os pesquisadores observaram como os machos passavam mais tempo a


brincar com os brinquedos “masculinos” enquanto as fêmeas passavam
mais tempo que os machos a brincar com os brinquedos “femininos”.
Ambos os sexos passaram o mesmo tempo em redor dos livros com
imagens e em redor de outro brinquedos genericamente neutros. 17

Outro projeto expôs os fetos fêmea dos macacos aos andrógenos (hormonas
sexuais masculinos). Mais tarde, e nas suas brincadeiras, estas fêmeas
exibiram um comportamento mais masculino que as demais fêmeas. 18 

Uma terceira pesquisa levada a cabo por um terceiro grupo de cientistas


ofereceu paus como brinquedos aos macacos e observou como as
fêmeas, de forma bem clara, brincavam com os paus como se os mesmos
fossem bonecas, algo que os machos fizeram em escala muito menor. 19

Num quarto projeto os pesquisadores deram dois tipos de brinquedos aos


macacos – veículos com rodas e brinquedos de pelúcia. Os machos
demonstraram um forte e persistente interesse nos veículos enquanto as
fêmeas não demonstraram qualquer tipo de interesse por nenhum dos
brinquedos. 20

Um quinto estudo em torno dos macacos demonstrou como, em larga


escala, os machos focaram-se nos carros enquanto as fêmeas preferiram as
bonecas.21

Experiências foram também levadas a cabo com ratos.

As fêmeas injetadas com testosterona à nascença aprenderam mais


rapidamente a navegar pelo labirinto que as fêmeas sem o hormonio. Elas
atingiram também uma proficiência final superior que as fêmeas que não
receberam o hormona masculino. O labirinto testava a localização
espacial.
22

Em jeito de conclusão podemos determinar que a alegação “o gênero é uma


construção social” é um mito. Peço desculpa se perturbamos a tua paz
celestial, cara Simone de Beauvoir, mas tu estavas errada. Tu nasceste para
ser uma mulher!

Referências:
1. ‘The Essential Difference: The Truth about the Male and Female
Brain’, Simon Baron-Cohen, 2003
2. Article ‘Omöjlig kamp för att uppnå likhet mellan könen’, DN.se op-
ed page (available online, date n/a)
3. Article ‘His Brain, Her Brain’, Scientific American, May 2005
4. ‘Varför är vi olika? kvinna and man, svart and vit, kropp and själ’,
Arne Müntzing, 1976
5. Article ‘Hormoner styr hur barn leker’, Aftonbladet. Available
online, date n/a
6. Article ‘Biological limits of gender construction’, American
Sociological Review, Vol 65, No 3, pp 443-457
7. Article ‘Prenatal phthalate exposure and reduced masculine play in
boys’, International Journal of andrology
8. Article ‘Fetal Testosterone Predicts Sexually Differentiated
Childhood Behavior in Girls and in Boys’, Psychological Science
9. Article ‘Foetal testosterone and the child systemizing quotient’,
European Journal of Endocrinology, vol 155
10.Handbook of social psychology, Volume 1, page 639, Susan T Fiske,
Daniel T Gilbert, Gardner Lindzey
11.Article ‘HisBrain, HerBrain’, ScientificAmerican, May 2005,
‘Human sex differences in social and non-social looking preferences
at 12 months of age’, Svetlana Lutchmaya, Simon Baron-Cohen
12.Paper ‘The Essential Difference: the male and female brain’, Phi
Kappa Phi Forum 2005 (Special issue on the Human Brain)
13.Paper ‘The Essential Difference: the male and female brain’, Phi
Kappa Phi Forum 2005 (Special issue on the Human Brain)
14.Paper ‘The Essential Difference: the male and female brain’, Phi
Kappa Phi Forum 2005 (Special issue on the Human Brain)
15.Article ‘Risky Business – Women Have Higher Testosterone In
Financial Careers’, Science 2.0, 24 August 2009
16.Article ‘Lär sig flickor and pojkar olika?’ Illustrerad Vetenskap, 16
March 2011
17.Article ‘His Brain, Her Brain’, Scientific American, May 2005
18.Handbook of social psychology, Volume 1, page 639, Susan T Fiske,
Daniel T Gilbert, Gardner Lindzey
19.Article ‘Young female chimpanzees appear to treat sticks as dolls’,
20 December 2010, PhysOrg.com
20.Williams CL and Pleil KE. 2008. ‘Toy story: Why do monkey and
human males prefer trucks? Comment on ‘Sex differences in rhesus
monkey toy preferences parallel those of children’, Hassett, Siebert
an Wallen
21.Alexander G and Hines M. 2002. ‘Sex differences in response to
children’s toys in nonhuman primates, Evolution and Human
Behavior’
22.Paper ‘The Essential Difference: the male and female brain’, Phi
Kappa Phi Forum 2005 (Special issue on the Human Brain)

Você também pode gostar