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Aprendizagem e Condicionamento – Bandura

VER AGRESSÃO…AGREDIR
Bandura, A., Ross, D., & Ross, S. A. (1961). Transmission of aggression through
imitation of aggressive models. Journal of Abnormal and Social Psychology, 63, 575-
582.
Albert Bandura, nascido no Canadá em 1925, é um
dos psicólogos mais influentes da atualidade. O
experimento tratado neste texto foi feito no início da
carreira dele. Ao longo do tempo ele foi
desenvolvimento uma teoria muito sofisticada e
complexa do comportamento humano, que se situa
entre o behaviorismo e o cognitivismo. Ele é o
psicólogo vivo mais citado em trabalhos científicos e o
4o mais citado de todos os tempos, depois de Skinner,
Freud e Piaget. Se você quiser saber mais sobre a
Teoria Social Cognitiva de Bandura, pode ver no
Youtube um excelente vídeo elaborado por
pesquisadores da UNICAMP:

https://www.youtube.com/watch?v=wsU9gs7r1
EM

Pode-se argumentar que a agressão, nas suas inúmeras formas, seja o grande
problema social com que se defronta nosso país1 e o mundo atual. Consequentemente,
ela também é um dos tópicos mais amplamente pesquisados na história da psicologia.
Ao longo dos anos, os cientistas comportamentais na linha de frente desta pesquisa
têm sido os psicólogos sociais, cujo foco é a interação humana. Uma meta dos
psicólogos sociais tem sido definir a agressão. Isto pode, à primeira vista, parecer
uma tarefa relativamente fácil, mas uma tal definição acaba por ser muito difícil de
encontrar. Por exemplo, quais dos seguintes comportamentos você definiria como
agressivos: Uma luta de boxe? Um gato matando um camundongo? Um soldado
atirando em um inimigo? Colocar ratoeiras no porão de sua casa? Uma tourada? A
lista de comportamentos que poderia ou não ser incluída em uma definição de
agressão é muito ampla. Como resultado, se você tivesse que consultar dez psicólogos
sociais diferentes, você obteria provavelmente dez definições diferentes de agressão.
Muitos pesquisadores têm ido além de tentar obter um acordo sobre uma
definição, para o processo mais importante de examinar as origens da agressão
humana. A questão que eles colocam é a seguinte: Por que as pessoas se engajam em
atos de agressão? Através da história da psicologia, muitas abordagens teóricas têm
sido propostas para explicar as causas da agressão. Algumas delas argumentam que
1
“Nosso país” neste texto refere-se aos Estados Unidos, país do autor do livro, Roger Hock. Mas o
autor considera que o problema se estende para o “mundo atual”. (Nota do Tradutor)

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você está pré-programado biologicamente para a agressão, de tal maneira que


necessidades de violência se acumulam em você ao longo do tempo até que forçam a
liberação. Outras teorias buscam, como determinantes principais das respostas
agressivas, fatores situacionais, tais como a frustração repetida. Uma terceira visão,
uma das mais amplamente aceitas, é a de que a agressão é aprendida.
Um dos mais famosos e influentes dentre todos os experimentos já conduzidos
na história da psicologia demonstrou como as crianças aprendem a ser agressivas.
Este estudo, de Albert Bandura e seus associados Dorothea Ross e Sheila Ross, foi
conduzido em 1961, na Stanford University. Bandura é considerado um dos
fundadores de uma escola de pensamento psicológico denominada “teoria da
aprendizagem social”. Os teóricos da aprendizagem social acreditam que a
aprendizagem é o fator primário no desenvolvimento da personalidade, e que esta
aprendizagem ocorre através de interações com outras pessoas. Por exemplo, à
medida que você cresce, pessoas importantes como seus pais e professores reforçam
certos comportamentos e ignoram ou punem outros. Mesmo além dos reforçadores e
punições diretos, contudo, Bandura acreditava que o comportamento pode ser
modelado de modos importantes através da simples observação e imitação (ou
modelação) do comportamento de outros.
Como você pode ver pelo título do estudo deste capítulo, Bandura, Ross e
Ross foram capazes de demonstrar este efeito de modelação para atos de agressão.
Esta pesquisa tornou-se conhecida no campo da psicologia como “o estudo do João
Bobo”, por razões que logo ficarão claras. O artigo começava com uma referência a
pesquisas anteriores demonstrando que crianças imitavam prontamente o
comportamento de modelos2 adultos quando estavam em presença do modelo. Uma
das coisas que Bandura queria verificar no novo estudo era se tal aprendizagem
imitativa se generalizaria para ambientes nos quais o modelo não estivesse com a
criança.

PROPOSIÇOES TEORICAS
Os pesquisadores propuseram expor crianças a modelos adultos que se comportassem
de maneiras agressivas ou não agressivas. As crianças seriam então testadas em uma
nova situação, com o modelo não mais presente3, para determinar em que medida as
crianças imitariam os atos agressivos que elas tinham observado nos adultos. Com

2
Nos estudos sobre imitação, o indivíduo que é imitado é geralmente designado como modelo. (Nota
do Tradutor)
3
No original do livro de Hock está escrito “com o modelo presente”, mas isto é certamente um erro,
pois nos testes feitos por Bandura, Ross e Ross, o modelo não estava presente. Foi feita a correção no
texto traduzido. (Nota do Tradutor)

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base nesta manipulação experimental, Bandura e seus associados fizeram quatro


previsões:

1. Sujeitos que observassem modelos adultos desempenhando atos agressivos


imitariam o adulto e se engajariam em comportamentos agressivos similares
mesmo que o modelo não estivesse mais presente.
2. Crianças que fossem expostas aos modelos não agressivos seriam não apenas
menos agressivas do que as que tivessem observado a agressão, mas também
significativamente menos agressivas do que um grupo controle de crianças que
não tivessem sido expostas a nenhum modelo. Em outras palavras, os modelos
não agressivos teriam um efeito de inibição da agressão.
3. Uma vez que as crianças tendem a se identificar com os pais e outros adultos do
mesmo sexo que elas, os sujeitos “imitariam o comportamento de modelos do
mesmo sexo em um grau maior do que modelos do sexo oposto” (p. 575).
4. “Uma vez que a agressão é um comportamento de tipo altamente masculino na
sociedade, meninos estariam mais predispostos do que meninas a imitar a
agressão, sendo a diferença mais pronunciada para sujeitos expostos ao modelo
masculino” (p. 576).\

MÉTODO
Este artigo delineou os métodos usados no experimento com grande organização e
clareza. Embora de forma algo sumarizada e simplificada, estes passos metodológicos
são focalizados aqui.

Sujeitos
Os pesquisadores obtiveram o auxílio do diretor e do professor-chefe da Escola
Maternal da Universidade Stanford, a fim de obter sujeitos para o estudo deles. Trinta
e seis meninos e 36 meninas, com idade variando de 3 anos a quase 6 anos,
participaram do estudo como sujeitos. A idade média das crianças foi de 4 anos e 4
meses.

Condições Experimentais
Vinte e quatro crianças foram colocadas no grupo de controle, o que significa que
elas não foram expostas a modelo nenhum. Os 48 sujeitos restantes foram divididos
primeiro em dois grupos: um deles foi exposto aos modelos agressivos e o outro foi
exposto a modelos não agressivos. Estes grupos foram divididos novamente em
meninos e meninas. Finalmente, cada um destes grupos foi dividido de tal modo que
metade dos sujeitos foi exposta a modelos do mesmo sexo e metade a modelos do

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sexo oposto. Isto criou um total de oito grupos experimentais e um grupo de controle.
A questão que você pode estar se fazendo é a seguinte: E se algumas crianças de
alguns grupos já fossem mais agressivas do que outras? Bandura preveniu-se contra
este problema potencial obtendo avaliações do nível de agressividade de cada sujeito.
As crianças foram avaliadas, por um experimentador e um professor (ambos
conheciam bem as crianças), quanto a seus níveis de agressividade física,
agressividade verbal e agressividade para com objetos. Estas avaliações permitiram
que os pesquisadores equiparassem todos os grupos em termos do nível médio de
agressão.

O Procedimento Experimental
Cada criança foi exposta individualmente aos vários procedimentos experimentais.
Primeiro, o experimentador trouxe a criança para a sala de brinquedo. No caminho,
eles encontraram o modelo adulto, que foi convidado pelo experimentador para vir
também e “participar do jogo”. A criança sentou-se em um canto da sala de
brinquedo, a uma mesa contendo atividades altamente interessantes. Estas eram:
carimbos de batata (isto foi em 1961, de modo que, para aqueles dentre vocês que
cresceram na era da high tech, um carimbo de batata era uma batata cortada ao meio e
esculpida de modo a, como um carimbo de borracha, reproduzir formas geométricas
quando fosse umedecida em uma almofada com tinta) e adesivos de animais e flores
com colorido brilhante que poderiam ser colados em um cartaz. Em seguida, o
modelo adulto foi levado para uma mesa em um canto diferente, contendo um
conjunto de brinquedos de armar, um malho, e um João Bobo inflável de 1 metro e 20
centímetros de altura. O experimentador explicou que estes brinquedos eram para que
o modelo brincasse com eles, e então deixou a sala.
Tanto para a condição agressiva quanto para a não agressiva, o modelo
começou montando os brinquedos de armar. Contudo, na condição agressiva, depois
de um minuto, o modelo atacou o João Bobo com violência. Para todos os sujeitos na
condição agressiva, a sequência de atos agressivos desempenhados pelo modelo foi
idêntica:

O modelo deitou o João Bobo a seu lado, sentou-se sobre ele, e deu socos
repetidamente no nariz dele. Então, o modelo levantou o João Bobo, pegou o
malho, e golpeou o João Bobo na cabeça. Seguindo-se à agressão com o
malho, o modelo jogou o boneco agressivamente para o ar e saiu chutando-o
pela sala. Esta sequência de atos fisicamente agressivos foi repetida três vezes,
entremeada com respostas verbalmente agressivas, tais como, “Soque o nariz
dele…”, “Derrube-o” , “Jogue-o para cima”, “Chute-o”, “Pá…”, e dois

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comentários não agressivos: “Ele continua voltando para apanhar mais” e “Ele
é mesmo um cara forte.” (p. 576).

Tudo isto levou cerca de 10 minutos, depois dos quais o experimentador voltou para a
sala, disse adeus ao modelo, e levou a criança para uma outra sala de brinquedo.
Na condição não agressiva, o modelo apenas brincou calmamente com os
brinquedos de armar por um período de 10 minutos e ignorou completamente o João
Bobo. Bandura e as colaboradoras dele foram muito cuidadosos em assegurar que
todos os fatores experimentais fossem idênticos para todos os sujeitos, com exceção
dos fatores que estavam sendo estudados: o modelo agressivo vs. não agressivo e o
sexo do modelo.

Despertar de raiva ou frustração


Seguindo-se ao período de brinquedo de 10 minutos, todos os sujeitos das várias
condições foram levados a uma outra sala que continha brinquedos muito atraentes,
tais como um carro de bombeiros, um avião de guerra a jato, um conjunto completo
de bonecas, incluíndo guarda-roupa completo, uma carruagem de bonecas e assim por
diante. Os pesquisadores acreditavam que, a fim de testar os sujeitos em relação às
respostas agressivas, as crianças deveriam ser, de algum modo, enraivecidas ou
frustradas, o que tornaria mais provável a ocorrência de tais comportamentos. Para
conseguir isto, eles permitiram que os sujeitos ficassem brincando com os brinquedos
atraentes mas, depois de um curto período de tempo, disseram a eles que os
brinquedos daquela sala estavam reservados para outras crianças. Eles disseram aos
sujeitos, porém, que eles poderiam brincar com outros brinquedos na sala ao lado.

Teste de Imitação da Agressão


A última sala experimental estava cheia de brinquedos, tanto agressivos quanto não
agressivos. Os brinquedos agressivos incluíam (como não poderia deixar de ser!) um
João Bobo, um malho, dois revolveres de dardos e uma bola presa em uma corrente,
que tinha uma face pintada nela. Os brinquedos não agressivos incluíam um conjunto
de chá, giz de cera e papel, uma bola, duas bonecas, carros e caminhões, além de
animais de fazenda feitos de plástico. Cada sujeito teve permissão para brincar nesta
sala por 20 minutos. Durante este período, juízes situados atrás de um espelho de
visão unidirecional avaliaram cada comportamento da criança com base em diversas
medidas de agressão.

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Medidas de Agressão
Um total de oito respostas diferentes foi medido no comportamento dos sujeitos. Por
razões de clareza, apenas quatro das medidas mais reveladoras serão sumariadas aqui.
Primeiro, foram registrados todos os atos que imitavam a agressão física
desempenhada pelo modelo. Estes incluíam sentar no João Bobo, dar-lhe socos no
nariz, golpeá-lo com o malho, chutá-lo e jogá-lo no ar. Em segundo lugar, foi medida
a imitação da agressão verbal desempenhada pelo modelo, através da contagem de
repetições, por parte dos sujeitos, das expressões “Soque o nariz dele…”, “Derrube-
o” , “Pá…”, etc. Terceiro, foram registradas outras agressões com o malho (ou seja,
golpear com o malho outros objetos que não o João Bobo). Quarto, foi documentada a
agressão não imitativa, através da tabulação de todos os atos de agressão física e
verbal por parte dos sujeitos e que não haviam sido desempenhados antes pelo
modelo adulto.

RESULTADOS
Os resultados destas observações estão sumariados na Tabela 1. Se você examinar
cuidadosamente estes resultados, descobrirá que eles apoiaram três das quatro
hipóteses apresentadas na introdução por Bandura, Ross e Ross.
As crianças que foram expostas a modelos violentos tenderam a imitar
exatamente os comportamentos violentos que eles observaram. Houve uma média de
38,2 ocorrências de agressão física imitativa para cada um dos sujeitos meninos, e
12,7 para os sujeitos meninas, que haviam sido expostos aos modelos agressivos.
Além disto, os comportamentos verbalmente agressivos do modelo foram imitados
em média 17 vezes pelos meninos e 15,7 vezes pelas meninas. Estes atos específicos
de agressão física e verbal virtualmente nunca foram observados nos sujeitos
expostos aos modelos não agressivos ou nos sujeitos controle, que não haviam sido
expostos a qualquer modelo.
Como você recorda, Bandura e colaboradores tinham feito a previsão de que
os modelos não agressivos teriam um efeito inibidor da violência nas crianças. Para
que esta hipótese fosse apoiada, os resultados deveriam mostrar que os sujeitos da
condição não agressiva tinham significativamente menos ocorrências de violência do
que os sujeitos do grupo controle sem modelo. Se você comparar, na Tabela 1, as
colunas correspondentes ao modelo não agressivo com aquelas correspondentes às
médias do grupo de controle, verá que os resultados foram mistos. Por exemplo,
meninos e meninas que observaram o homem não agressivo exibiram muito menos
agressão não imitativa com o malho do que os controles, mas os meninos que
observaram a mulher não agressiva agrediram muito mais com o malho do que os
meninos no grupo de controle. Como os autores admitem prontamente, estes

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resultados foram tão inconsistentes em relação ao efeito inibidor da agressividade dos


modelos não agressivos, que acabaram por ser inconclusivos.
As diferenças de gênero previstas, contudo, foram fortemente amparadas
pelos dados da Tabela 1. [Você encontrará a Tabela 1 na última página deste
arquivo.] Claramente, os comportamentos violentos dos meninos foram mais
influenciados pelo modelo agressivo homem do que pelo modelo agressivo mulher. O
número médio total de comportamentos agressivos por meninos foi 104 quando eles
observaram um modelo agressivo homem, comparado com 48,4 quando uma mulher
serviu como modelo agressivo. As meninas, por outro lado, embora tenham
apresentado escores menos consistentes, mostraram uma média de 57,7
comportamentos violentos na condição de modelo agressivo feminino, em
comparação a 36,3 quando observaram o modelo masculino. Os autores apontaram
que nas condições agressivas de mesmo-sexo, meninas tiveram maior probabilidade
de imitar a agressão verbal, enquanto meninos estiveram mais inclinados a imitar a
violência física.
Finalmente, os meninos foram significativamente mais agressivos fisicamente
do que as meninas em praticamente todas as condições. Se todas as ocorrências de
agressão da Tabela 1 forem computadas, houve 270 atos violentos por parte dos
meninos, em comparação com 128,3 por parte das meninas.

DISCUSSÃO
Bandura, Ross e Ross afirmam que demonstraram como comportamentos específicos,
no caso os violentos, podem ser aprendidos através do processo de observação e
imitação, sem qualqur reforçamento fornecido seja para modelos ou para
observadores. Eles concluíram que a observação, pelas crianças, dos adultos
engajando-se nestes comportamentos, envia uma mensagem à criança de que esta
forma de violência é permissível, enfraquecendo, deste modo, as inibições da criança
contra a agressão. Eles argumentaram que a consequência desta violência observada é
uma probabilidade aumentada de que a criança vá responder com comportamento
agressivo a frustrações futuras.
Os pesquisadores também abordaram a questão do porque a influência do
modelo agressivo masculino sobre os meninos foi tão mais forte do que a do modelo
agressivo feminino sobre as meninas. Eles explicaram que, na nossa cultura, como na
maioria das outras, a agressão é vista como mais típica dos homens do que das
mulheres. Em outras palavras, ela é um comportamento tipificado como masculino.
Assim, um homem servindo de modelo para um ato de agressão carrega com ele o
peso da aceitabilidade social, sendo, portanto, mais poderoso em sua capacidade de
influenciar o observador.

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PESQUISA SUBSEQUENTE
Os pesquisadores, na época em que este experimento foi conduzido, provavelmente
não tinham idéia do quanto ele viria a se tornar influente. No início dos anos 60, a
televisão havia se tornado uma poderosa força na cultura americana e os
consumidores começavam a ficar preocupados com o efeito sobre as crianças da
violência transmitida pela TV. Esta questão tem sido e continua a ser objeto de um
aceso debate. Nos últimos 30 anos, houve nada menos do que três investigações do
Congresso4 sobre a questão da violência na televisão e o trabalho de Bandura e outros
psicólogos foi incluído nestas investigações.
Estes mesmos três pesquisadores conduziram uma continuação deste estudo,
dois anos mais tarde, com a intenção de examinar o poder dos modelos agressivos em
filme, ou que nem mesmo sejam pessoas reais. Usando um método experimental
similar envolvendo a agressão a um João Bobo, Bandura, Ross e Ross planejaram um
experimento para comparar a influência de um modelo adulto ao vivo com o mesmo
modelo em filme, ou com uma versão em desenho animado da mesma modelação
agressiva. Os resultados demonstraram que o modelo ao vivo teve uma influência
maior do que o adulto filmado, sendo este, por sua vez, mais influente do que o
desenho animado. Contudo, todas as três formas de modelo agressivo produziram
significativamente mais comportamentos violentos nas crianças do que foi verificado
em crianças expostas a modelos não agressivos ou sujeitos de controle (Bandura,
Ross e Ross, 1963).
Em um tom otimista, Bandura verificou, em estudo posterior, que o efeito da
modelação da violência poderia ser alterado sob certas condiçõs. Você se lembra de
que, no estudo original, não houve recompensa dada para a agressão, tanto dos
modelos quanto dos sujeitos. Mas o que você supõe que aconteceria se o modelo se
comportasse violentamente e fosse então reforçado ou punido pelo comportamento,
enquanto a criança estivesse observando? Bandura (1965) testou esta idéia e
descobriu que as crianças imitavam mais a violência quando elas a viam reforçada,
mas significativamente menos quando o modelo era punido pelo comportamento
agressivo.
Críticos da pesquisa de Bandura acerca da agressão têm apontado que a
agressão dirigida a um boneco inflável não é a mesma coisa que atacar uma outra
pessoa, e que as crianças sabem a diferença. A partir dos fundamentos delineados por
Bandura e colegas, outros pesquisadores têm examinado o efeito da violência
modelada sobre a agressão real. Em um estudo usando o método do João Bobo,
introduzido por Bandura, crianças observaram um adulto violento como modelo e

4
Hock refere-se aqui ao Congresso dos EUA (nota do tradutor).

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3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura

foram então expostas a altos níveis de frustração (Hanratty, O’Neil, & Sulzer, 1972).
Quando isto ocorreu, elas frequentemente agrediram uma pessoa viva (vestida como
um palhaço), tenha ou não sido esta pessoa a fonte da frustração.

APLICAÇÕES RECENTES
A pesquisa de Bandura discutida neste capítulo, trouxe duas contribuições cruciais à
psicologia. Primeiro, ela demonstrou dramaticamente o quanto as crianças podem
adquirir novos comportamentos pela simples observação de adultos, mesmo quando
os adultos não estão fisicamente presentes. Os teóricos da aprendizagem social
acreditam que muito, se não a maior parte, dos comportamentos que constituem a
personalidade humana, são formados através deste processo de modelação. Segundo,
esta pesquisa estabeleceu as bases para centenas de estudos nos últimos 45 anos sobre
os efeitos que a visão da violência, em pessoa ou na mídia, tem sobre as crianças.
Para um sumário da vida de Bandura e suas contribuições à psicologia, veja Pajares,
2004). Menos de uma década atrás, o Congresso dos Estados Unidos conduziu novas
audiências sobre violência na mídia, focalizando os potenciais efeitos negativos da
exposição de crianças à violência na TV, em filmes, videogames, jogos de
computador e na internet. Empresas de comunicações e de multimídia, cada vez mais
pressionadas a responder a ataques do público e do legislativo, têm trabalhado para
reduzir a violência na mídia ou estabelecer sistemas de controle parental de conteúdos
particularmente violentos.
Talvez mais preocupante ainda seja a evidência científica demonstrando que
os efeitos da mídia violenta sobre as crianças podem continuar atá à idade adulta
(e.g., Huesmann et al., 2003). Um estudo descobriu que “a exposição de crianças à
violência na mídia prediz comportamentos agressivos para jovens adultos, tanto
homens como mulheres. A identificação com personagens agressivos da TV e o
realismo percebido na violência televisiva também predizem agressão futura. Estas
relações persistem mesmo quando os efeitos de status socioeconômico, habilidade
intelectual e uma variedade de fatores de parentagem são controlados” (p. 201).

CONCLUSÃO
À medida que as crianças têm acesso cada vez mais fácil a uma variedade crescente
de formatos de mídia, também aumenta a preocupação com a violência incorporada a
esta mídia. Provavelmente é impossível impedir o acesso das crianças a qualquer
mídia violenta, mas tem aumentado a pesquisa sobre estratégias para prevenir que a
violência na mídia se traduza em agressão na vida real pelas crianças. Estes esforços
têm aumentado consideravelmente na esteira dos mortíferos ataques a tiros por
estudantes em escolas em todos os Estados Unidos, e eles provavelmente continuarão

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3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura

em muitas frentes de pesquisa no futuro. Recentemente, o legislativo da California


aprovou uma lei banindo a venda de videogames “ultraviolentos” para crianças com
menos de 18 anos de idade sem permissão parental, e impondo uma multa de U$
1.000,00 para vendedores que não cumpram esta lei. Você perguntará: O que é
“ultraviolento”? De acordo com a lei, isto é definido como “mostrando ferimentos
sérios a seres humanos de maneiras que sejam especialmente horripilantes, atrozes ou
cruéis” (Going after video game violence, 2006). Se você achar que esta definição é
muito subjetiva, não estará sozinho. A indústria do videogame está abrindo processo
para derrubar a lei como inconstitucional, e você pode apostar que a pesquisa de
Bandura será parte desta batalha.

Bandura, A. (1965). Influence of models’ reinforcement contingencies on the


acquisition of imitative responses. Journal of Personality and Social Psychology, 1,
589-595.
Bandura, A., Ross, D., & Ross, S. (1963). Imitation of film mediated aggressive
models. Journal of Abnormal and Social Psychology, 66, 3-11.
Going after video game violence. (2006). State Legislatures, 32(1), 9.
Hanratty, M., O’Neil, E., & Sulzer, J. (1972). The effect of frustration on the
imitation of aggression. Journal of Personality and Social Psychology, 21, 30-34.
Huesman, L. R., Moise, J., Podolski, C. P., & Eron, L. D. (2003). Longitudinal
relations between childhood exposure to media violence and adult aggression and
violence: 1977-1992).
Pajares, F. (2004). Albert Bandura: Biographical sketch. Recuperado em 10 de março
de 2007 do site da Divisão de Estudos Educacionais da Emory University:
http://des.emory/edu/mfp/bandurabio.html.

Veja a Tabela 1 na página seguinte.

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3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura

TABELA 1 Número médio de respostas para as crianças nas várias condições de


tratamento

TIPO DE MODELO
Tipo De Masculino Masculino Feminino Feminino Não Grupo
Agressão Agressivo Não Agressivo Agressivo Agressivo Controle
Agressão Física
Imitativa
Meninos 25,8 1,5 12,4 0,2 1,2
Meninas 7,2 0,0 5,5 2,5 2,0
Agressão
Verbal Imitativa
Meninos 12,7 0,0 4,3 1,1 1,7
Meninas 2,0 0,0 13,7 0,3 0,7
Agressão com o
malho
Meninos 28,8 6,7 15,5 18,7 13,5
Meninas 18,7 0,5 17,2 0,5 13,1
Agressão Não
Imitativa
Meninos 36,7 22,3 16,2 26,2 24,6
Meninas 8,4 1,4 21,3 7,2 6,1

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3. Aprendizagem e Condicionamento – Bandura

QUESTÕES DE ESTUDO

1) Quais foram os objetivos do experimento de Bandura e colaboradoras?

2) Quais foram as quatro hipóteses ou previsões feitas por Bandura e colaboradoras?

3) Como foram constituídos os grupos do estudo de Bandura e como cada um deles foi
exposto a modelos agressivos ou não?

4) Por que as crianças foram expostas a uma condição de frustração? Como isto foi feito?

5) Como foram feitas as medidas de agressão no estudo e o que foi medido?

6 Explique a Tabela 1, mostrando quais os resultados significativos encontrados pelos


pesquisadores.

7) Das previsões teóricas dos pesquisadores, quais foram confirmadas pelos resultados e
quais não foram? Justifique.

8) Como os pesquisadores explicaram o fato da influência de modelos masculinos


agressivos sobre meninos ter sido tão mais forte do que a de modelos agressivos
femininos sobre as meninas?

9) Que resultados Bandura, Ross e Ross obtiveram quando, num estudo posterior,
compararam modelos ao vivo, em filme e em versão de desenho animado?

10) Em um estudo posterior, Bandura verificou a influência de reforço ou punição para


um modelo agressivo sobre o comportamento imitativo. Quais foram estes resultados?

11) As pesquisas posteriores têm confirmado que a exposição a cenas agressivas na mídia
influencia o comportamento de crianças? Resuma os resultados.

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