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O Universidade Aberta
Os psicólogos sociais desenvolveram muitas ideias diferentes sobre a vida
social. À questão "Que teoria deve ser utilizada para as investigações em
psicologia social”, não existe uma resposta simples, dado que nenhuma teoria
permite explicar de modo adequado todos os fenómenos sociais. O mesmo
acontece em todos os domínios científicos (por exemplo, a teoria da
relatividade de Einstein não pode explicar o fenómeno da aceleração dos
corpos em queda livre). Certas teorias são globais ou gerais, enquanto que
outras são mais particulares e restritas na sua aplicação e predições. Entre as
principais posições teóricas amplas em Psicologia Social figuram as teorias da
aprendizagem, as teorias cognitivas e as das regras e papéis. As teorias da
aprendizagem têm as suas origens nos princípios básicos do behaviourismo que
salientou o condicionamento clássico e a aprendizagem através de reforço ou
recompensa. As teorias cognitivas têm as suas origens na psicologia da gestalt.
Focalizam-se nos processos cognitivos que estão subjacentes às nossas
percepções e julgamentos acerca de nós próprios e dos outros em situações
sociais. A terceira orientação, mais com pendor sociológico, põe em evidência
a ideia de que os pensamentos e os comportamentos dos indivíduos são o
resultado de interacções que têm com outras pessoas e do significado que elas
dão às interacções e papéis.
Para ilustrar que tipo de questões podem ser colocadas, consoante a teoria por
que se enverede, recorreremos ao caso do Manuel e da Maria. Conheceram-se
e apaixonaram-se quando ambos frequentavam a Universidade. o Manuel
estudante de Economia e a Maria de Psicologia. O Manuel] era oriundo da
classe média e tentava melhorar a sua situação na vida através de um árduo
trabalho como estudante. A Maria é oriunda da classe alta e aspirava a ajudar
crianças com dificuldades. Mesmo se os pais de ambos não viam o noivado
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com muitos bons olhos, casaram-se após a conclusão dos respectivos cursos.
Com o decorrer do tempo, os pais do Manuel e da Maria foram-se entendendo
melhor com a nova família e o Manuel até assumiu a orientação da empresa
dos pais da Maria. Maria dedicou-se ao cuidado de três filhos e, quando
cresceram, pôde enfim concretizar um velho sonho. Abriu um consultório para
tratamento de crianças com dificuldades psicológicas. Trata-se de uma história
aparentemente banal. Ora factos inscritos no quotidiano das pessoas são
objecto de grande interesse por parte dos psicólogos sociais.
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regular o seu comportamento social porque, em parte, os pais reforçam de
modo selectivo comportamentos desejáveis, usando reforços tais como
sorrisos e rebuçados. Ao inverso, comportamentos emitidos pela criança que
não são desejáveis para os outros, como seja gritar ou bater, são seguidos por
reforços negativos, tais como olhares carrancudos ou reprimendas. Pouco a
pouco a criança aprende quais são os comportamentos aceitáveis e os que O
não são.
5.1.2 Contribuições
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pessoas a terem vontade de agir de determinado modo em detrimento de
outro.
As teorias da aprendizagem são muitas vezes criticadas por terem uma "caixa
negra” para o comportamento humano. É salientado o que entra na caixa
(estímulo) e o que sai da caixa (resposta), mas é prestada pouca atenção ao
que se passa dentro da caixa. Os elementos do interior - emoções e cognições
- são a principal preocupação das teorias cognitivas. A ideia principal das
teorias cognitivas para a Psicologia Social é que o comportamento de uma
pessoa depende do modo como percepciona a situação social.
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Os dois princípios, isto é, que agrupamos e categorizamos espontaneamente as
coisas que percepcionamos e que prestamos particular atenção aos estímulos
mais salientes, não são só centrais para a nossa percepção de objectos físicos.
São também centrais para a nossa percepção do mundo social. Estes princípios
cognitivos são importantes para o modo como interpretamos o que as pessoas
sentem, querem e que tipo de pessoas são. Essas interpretações concretizam-
se, por exemplo, através da expressão de intenções, motivações, atitudes,
traços e personalidade.
97
5.2.2 Contribuições
Muitos dos estudos a que se fará referência nos capítulos seguintes estão de
alguma forma ligados à orientação cognitiva. Por exemplo. uma aplicação
directa desta orientação tem sido a investigação sobre como é que as pessoas
formam impressões de outras pessoas. Os psicólogos sociais, seguindo a
tradição da gestalt, examinaram como é que o nosso conhecimento dos traços
individuais é combinado para formar impressões globais das pessoas
(Burnstein e Schul, 1982). Muitas teorias das mudanças de atitudes também
estão baseadas nos princípios cognitivos. As teorias da consistência cognitiva
postulam, por exemplo, que estamos motivados para conservar cognições de
acordo com outra cognição ou com um comportamento consistente.
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5.3 Teoria dos papéis
99
As pessoas realizam uma série de papéis todos os dias.
100
5.3.2 Contribuições
O conceito de doença mental pode ser revisto a partir da teoria dos papéis.
Acredita-se geralmente que o doente mental é o produto de uma personalidade
perturbada que tem problemas profundos e duradoiros, nada tendo a ver com a
situação. Todavia, segundo a teoria dos papéis, a doença mental é muitas
vezes aprendida quase como alguém aprende um papel numa peça de teatro.
Há doentes mentais que agem de modo a provocar efeitos particulares
correspondentes a regras institucionais (Szasz, 1960). A pessoa que dá entrada
num hospital psiquiátrico aprende a desempenhar o papel de um doente
mental. A não aprendizagem destas regras acarreta castigos institucionais. Isto
foi ilustrado por Braginsky, Braginsky e Ring (1969) que mostraram que os
doentes psiquiátricos são capazes de modificar o seu comportamento para
parecerem mais ou menos doentes.
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da Maria de filho e filha para marido e esposa. Quais são os comportamentos
do Manuel como marido, como dirigente da empresa e como pai? Haverá um
conflito para Maria entre os papéis de esposa, mãe e psicoterapeuta? Também
se poderiam abordar os autoconceitos do casal. Como se vê o Manuel
passando da classe média para a classe alta, de filho para pai? Dentro da teoria
dos papéis poder-se-ia abordar a relação do casal como um conjunto de
posições, de expectativas de papel.
As três teorias acabadas de apresentar diferem nas questões que tratam e nas
questões que ignoram. Também diferem em relação às variáveis que
consideram importantes e às que consideram irrelevantes. Efectivamente, cada
teoria faz diferentes suposições acerca do comportamento social.
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As três perspectivas teóricas diferem nas suas suposições acerca a natureza
humana. Ás teorias da aprendizagem vêem os actos das pessoas, o que
aprendem e como o fazem, como determinados fundamentalmente pelos
padrões de reforço. As teorias cognitivas acentuam que as pessoas
percepcionam, interpretam e tomam decisões acerca do mundo. As teorias do
papel supõem que as pessoas são enormemente conformistas. Vêem as pessoas
como agindo de acordo com as expectativas de papéis que têm os membros do
grupo.
As três teorias diferem também nas suas concepções do que provoca mudança
no comportamento. As teorias da aprendizagem defendem que a mudança no
comportamento resulta de mudanças no tipo, quantidade e frequência de
reforço recebido. As teorias cognitivas sustentam que a mudança no
comportamento resulta de mudanças nas crenças e atitudes, para além de
postular que mudanças nas crenças e atitudes são muitas vezes o resultado de
esforços para resolver inconsistência entre cognições. A teoria do papel
defende que para mudar o comportamento de alguém, é necessário mudar o
papel que a pessoa ocupa. Diferente comportamento resultará quando a pessoa
muda de papéis, porque o novo papel acarretará diferentes pedidos e
expectativas.
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Teoria
Factores que produzem | Mudança na quan- | Estado de inscon- | Mudança nas ex-
mudança no comporta- | tidade. tipo, ou | sistência cognitiva | pectativas de papéis
mento frequência de reforço
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6. A Psicologia Social comtemporânea
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O Universidade Aberta
Até aqui neste capítulo definiu-se a psicologia social, delineou-se um rápido
panorama histórico da disciplina e apresentaram-se as principais influências
teóricas no domínio. Nesta secção parece revestir-se de interesse abordar
aspectos da psicologia social tal como ela hoje em dia existe, para além da
diversidade de tópicos que já foi apresentada.
Journal of Personality
107
Journal of Social Issues
Social Cognition
108
Internationale de Psychologie Sociale) e duas em espanhol (Revista de
Psicologia Social e Revista de Psicologia Social y Personalidad). À
semelhança do que acontece em todos os domínios científicos, a língua inglesa
é a língua de eleição no domínio da psicologia social.
109
Nome Frequência de citações
E. Jones 153
H. Kelley 149
L. Festinger 135
E. Hatfield 115
E. Berscheid 109
J. Darley 108
B. Latané 100
S. Schachter 100
S. Milgram 98
E. Aronson 95
M. Snyder 2
R. Petty 88
L. Berkowitz 86
A. Eagly 78
R. Cialdini 75
S. E. Taylor 73
A. Bandura 72
J. Cacioppo 72
R. Nisbett 22
S. Asch 70
Ho
6.3 Empregos em Psicologia Social
O domínio da psicologia social representa um sector muito popular no âmbito
da psicologia, muito em particular nos Estados Unidos. Um estudo efectuado
junto dos membros da American Psychological Association (APA) mostra
que entre 1960 e 1976, 10% dos diplomados (doutoramento) em psicologia
nos Estados Unidos tinham a especialidade de psicologia social (Howard,
Blumstein e Schwartz, 1986). Dado ter havido um grande número de novos
sectores que recentemente se abriram à psicologia, esta percentagem diminuiu
um pouco no último decénio e situava-se à volta de 6% em 1984. Durante os
últimos 25 anos o número de diplomados em psicologia social situou-se na
terceira posição, atrás da psicologia clínica e da psicologia experimental. Por
conseguinte, a psicologia social constitui um domínio de estudo muito popular
em psicologia.
Parece provável que num futuro próximo novas áreas de investigação aplicada
em psicologia social suscitarão novos empregos para os psicólogos sociais.
Por exemplo, o recente aumento na investigação sobre psicologia da saúde,
psicologia ambiental, psicologia do sistema legal e factores psicossociais de
desordens clínicas, tais como depressão e solidão, suscitam promessas de
emprego para os psicólogos sociais, estudos sobre a saúde, estudos do meio,
estudos legais. e psicologia clínica.
1
indivitavelmente polarizada pelo assunto que os psicólogos sociais consideram
ser um dos mais fascinantes no mundo: o comportamento social humano,
Psicologia Psicologia
Social
O Universidade Aberta
Como nos pudemos já aperceber, se as raízes da psicologia social
emergiram na Europa, grande parte da sua história tem sido amplamente
dominada por investigadores dos Estados Unidos. Uma das razões
importantes para esta mudança foi o crescimento do fascismo na Europa
nos anos trinta. Efectivamente podemos ver os Estados Unidos como
constituindo o primeiro entre três "mundos" em que os psicólogos têm
Jevado a cabo investigação e prática (Moghaddam, 1987; 1990). Esse país
é o principal produtor do conhecimento psicológico. O segundo mundo é
constituido por outras nações industrializadas, como Canadá, Grã-
Bretanha, Austrália, França e Rússia. Em certos aspectos o segundo
mundo é tão produtivo como o primeiro, mas a sua influência é maior entre
os países que aí se inserem e no terceiro mundo. O terceiro mundo
compreende países em desenvolvimento, tais como Índia, Nigéria e Cuba.
Se o primeiro mundo exporta conhecimento psicológico para o segundo e
terceiro mundos, é por sua vez pouco influenciado pela psicologia dos
outros dois mundos. O terceiro mundo é sobretudo importador de
conhecimento psicológico.
Os psicólogos nos três “mundos” estão cada vez mais a ser sensíveis até
que ponto a psicologia do primeiro e segundo "mundos" é relevante para as
sociedades do terceiro mundo (Moghaddam, 1987). Vem-se assistindo
cada vez mais a investigações efectuadas em colaboração em que
experiências psico-sociais são levadas a cabo em diferentes culturas dos
diferentes “mundos”. A psicologia social do “segundo mundo”, que se vem
desenvolvendo na Europa, apresenta alguns traços que a distinguem. A
partir dos anos 60 a psicologia social europeia, tendo como chefes de
orquestra Henri Tajfel na Grã-Bretanha e Serge Moscovici em França,
enveredou por uma psicologia social diferente da dos Estados Unidos que
estava apegada ao sistema de valores individualistas desse país
(Moghaddam, 1987). A psicologia social europeia conseguiu desenvolver
áreas próprias de interesse.
Hs
são devido à herança humana partilhada. Tudo leva a crer que nos anos
vindouros surja uma ciência mais rica, fecundada por cruzamentos de ideias
e de dados de diversas culturas.
16
APLICAÇÕES: O ESTUDO DA CAVERNA DOS LADRÕES
197
mais destruidor à cabana das Serpentes. Mediante as interacções, o
exogrupo era visto cada vez de modo mais acentuado com estereótipos
negativos.
118
para os comportamentos foram procuradas nas relações estruturadas dos
grupos.
SUMÁRIO
9
medida em que fornece uma explicação para a integração de forças sociais,
biológicas e interpessoais, dentro de um só indivíduo. A moderna
psicologia social é uma síntese de teoria e de dados científicos. As
primeiras experiências em psicologia social foram efectuadas em finais do
século dezanove e desde então uma grande quantidade de investigação deu
à psicologia social uma sólida base científica. A disciplina, uma vez
lançada, desenvolveu-se a um ritmo fulgurante.
BERKOWITZ, L. (Ed.),
BICKMANN, L. (Ed.),
FESTINGER, L. e KATZ, D.
LÉVY, A.
1965 Psychologie sociale: Textes fondamentaux anglais
et américains. Paris: Dunod.
STOETZEL,J.
121
TAJFEL, H. (Ed.)
ZAJONC, R.
ALLPORT, G.
MOSCOVICI, S.
SHAW, M. e COSTANZO, P.
DEUTSCH, M. e KRAUSS, R.
ACTIVIDADES PROPOSTAS
123
2) Escolha um acontecimento importante na história da Psicologia Social e
desenvolva-o com o recurso a referências bibliográficas adequadas.