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DOENÇAS

NEUROLÓGICAS
Curso de Neuropsicologia aplicada 06-04-2019
Tayla Romão
Neurologista
Neuronatomia do encéfalo
O encéfalo é protegido (do
meio externo) por 3 barreiras:
◦ 1- crânio
◦ 2- Meninges ( dura máter,
aracnóide-máter e pia-
máter)
◦ 3- Líquido cerebroespinhal
Face Lateral do Encéfalo
Lobo Frontal

* Área de Broca
Lobo Temporal

* Área de Wernicke
Lobo parietal
Córtex de associação
◦ Raciocínio matemático e visual
◦ Está conectado com todas as
áreas corticais sensitivas
◦ Síndrome de Gerstman: agnosia,
acalculia, agrafia, afasia de
compreensão e expressão
◦ Lesão no hemisfério direito –
alteração da precepção da
imagem corpórea –
heminegligência
◦ O córtex de associação de
Einstein era 15 % maior do que
nos controles !
Lobo Occipital

*Córtex visual primário


Face Medial

Córtex visual
primário
Face Inferior
Giro Fusiforme ou Occipitotemporal
Situa-se na superfície basal dos lobos temporais e
G. Para- occipitais
hipocampal

• Importante para reconhecimento de faces


G. Fusiforme Reconhecimento de palavras (lado esquerdo)

G. Temporal
inferior
Ínsula

Participa de diversas funções


como:

• controle visceral
• Memória
• Afeto
• Impulsos
• Olfato
• Gustação
Diencéfalo
Tálamo

*O tálamo é o portão de
entrada para o córtex cerebral
Sistema Límbico

Limbus = borda
Lobo límbico – estruturas que formam uma borda ao redor do tronco encefálico Livro de Neurociências , Bear MF
Hipocampo

“hippo” = horse
“kampos” = sea
Hipocampo
Circuito de Papez

Livro de Neurociências , Bear MF


Amígdala
◦ Processa medo e agressividade
◦ Anatomia: situa=se no pólo temporal
logo abaixo do córtex, do lado medial.

Amígdala em grego = amêndoa


Síndrome de Kluver – Bucy
◦ Afeto embotado com apatia
◦ Cegueira psíquica ou agnosia visual
◦ Hiperoralidade – tende a colocar todos
objetos na boca
◦ Hipersexualidade
* as lesões da amígdala amortecem as
emoções, tornando o indivíduo incapaz de
reconhecer o medo e expressões faciais
Núcleos da base
*Os núcleos da base estão
envolvidos na facilitação
da iniciação de
movimento voluntários
Controle encefálico do movimento
Vias Piramidais
◦ Tracto córtico espinhal
◦ *Tracto córtico nuclear ( vai para
núcleos do tronco encefálico)
◦ Na junção do bulbo com a
medula, o tracto piramidal cruza,
ou decussa, na decussação das
pirâmides.

Isso significa que o córtex motor


direito comanda diretamente o
movimento do lado esquerdo do
corpo, e o córtex motor esquerdo
controla os músculos do lado direito.
Um AVE que lesiona o córtex motor
ou o tracto córtico-espinhal pode
levar a paralisia no lado contralateral
Vias extrapiramidais – não passam pelas pirâmides
bulbares
◦ Tracto Rubro-espinhal:
auxilia o trato cortico
espinhal no controle dos
movimentos finos

◦ Tractos vestíbulo-espinhal e
tecto-espinhal : controlam a
postura da cabeça e do
pescoço

◦ Tractos retículo-espinhais :
controlam a postura do
tronco e músculo
antigravitacionais
Cerebelo
Cerebelo = pequeno cérebro

Funções:
Movimento
Equilíbrio
Postura
Tônus muscular
Divisão funcional do encéfalo
O EXAME
NEUROLÓGICO
Exame neurológico
◦ Nível de consciência
◦ Exame do estado mental e funções corticais superiores
◦ Força muscular
◦ Sensibilidade
◦ Reflexos
◦ Provas cerebelares
◦ Marcha e equilíbrio
◦ Nervos cranianos
Exame do estado mental e funções
corticais superiores
◦ Principais questionários utilizados de rotina pelo neurologista
- Miniexame do Estado Mental (MEEM)
- MONTREAL COGNITIVE ASSESSMENT (MOCA)

◦ Nível de consciência
◦ Orientação temporal e espacial
◦ Atenção e concentração
◦ Afeto
◦ Julgamento
◦ Memória
◦ Linguagem e fala
◦ Gnosia
◦ Praxia
Apraxia
◦ É a incapacidade de realizar atos motores especializados,
familiares e intencionais apesar de estarem intactas importantes
estruturas neuronais motoras e sensitivas, a atenção e a
compreensão.
Apraxia ideomotora

◦ Incapacidade de
executar uma atividade
sob comando
( sem a presença de défict
motor, sensitivo ou de
compreensão)

Neuroanatomia functional;Adel K Afifi


Apraxia ideacional
◦ Dificuldade de realizar tarefas na ordem correta durante um ato motor
complexo
◦ Distúrbio evidente na seqüência dos atos necessários para a utilização de um
objeto

◦ Ex: enviar uma carta, dirigir um carro, escovar os dentes…..


Apraxia visuoconstrutiva

◦ Incapacidae em agrupar componentes


para formar uma figura, desenhar ou
ordenar blocos.
◦ * Mais frequente em lesões parietais do
hemisfério direito.
Dislexia
◦ Incapacidade de compreender a linguagem escrita

◦ Primária – de desenvolvimento

◦ Secundária – adquirida

Causas: lesão na área visual primária esquerda ou giro angular esquerdo (lobo
parietal)
Agnosia
◦ Incapacidade de reconhecer estímulos sensitivos

◦ Visuais: agnosia visual para objetos, para cores e para reconhecimento de faces ( prosopagnosia)...

◦ Auditivas: incapacidade de reconhecer linguagem falada; incapacidade para reconhecer sons


não verbais ( ex: sons de animais...), incapacidade de reconhecer músicas

◦ Tátil : incapacidade de reconhecer objetos pelo tato – lesões no lobo parietal contralateral
Estereognosia: perda da capacidade de determinar forma de um objeto pelo tato
Estereognosia
Áreas corticais da linguagem

Área acústica primária Área de Wernicke Fascículo arqueado Área de Broca


A palavra é ouvida ( percepção) a fala é compreendida expressão da linguagem

Área visual primária Giro angular Área de Wernicke


A palavra é lida a forma acústica da palavra é evocada e compreendida
Tipos de afasia
*De Broca – motora ou de expressão : a compreeensão é preservada
Há dificuldade em iniciar a fala. Utilização de gestos corporais e expressões faciais na tentativa de
comunicação.
*De Wernicke – sentiva ou de recepção : A fala é fluente. Substituições de sílabas, fonêmicas e
semânticas são frequentes. Ex: mato por gato; mulher por colher ; colher por garfo. Também há
produção de neologismos.

*Afasia de Condução : Paciente entende e tem fala fluente, porém apresenta deficiência para
nomear e repetir palavras em virtude da lesão no fascículo arqueado.

*Afasia global – todas as funções da linguagem estão prejudicadas. Deve ser diferenciado do
mutismo, já que na afasia global há tentativa de se comunicar, ao passo que no mutismo não.

*Afasia anômica – deficiência isolada de nomeação


Principais tipos de Afasia – representação
esquemática
Marcha
◦ Marcha parética
◦ Marcha em tesoura
◦ Marcha atáxica
◦ Andar miopático
◦ Marcha escarvante
◦ Marcha talonante
◦ Marcha Parkinsoniana
◦ Marcha em “ pequenos passos”
Marcha atáxica

Pode ter origem cerebelar ou sensitiva


Marcha parética (ceifante)

Ocasionado por comprometimento piramidal do sistema nervoso central contralateral ao déficit


motor, levando à espasticidade do membro inferior
Marcha Parkinsoniana
Nervos cranianos
1- N. Olfatório
2- N. Óptico
3- N. Oculomotor
4- N. Troclear
5- N. Trigêmio
6- N Abducente
7- N. Facial
8- N. Vestibulo-coclear
9- N. Glossofaríngeo
10- N. Vago
11- N. Acessório
12- N. Hipoglosso
Nervo Olfatório I NC
Responsável pelo olfato
Nervo Óptico II NC

*Acuidade visual

*Campos visuais
Método de confrontamento

*Reflexos pupilares
Fotomotor e consensual

Fundoscopia
Nervo Óptico II NC

A -Lesões N. Óptico – cegueira total do


olho ipsilateral

B-Lesões do quiasma óptico :


hemianopsia bitemporal heteronômica
( visão em túnel)

C- Alça de Meyer ( lobo temporal) :


Quadrantanopsia contralateral
homônima superior
Nervos cranianos relacionados ao
movimento ocular

II NC Oculomotor *

IV NC Troclear

VI NC Abducente

◦ Oculomotor * Controle parassimpático do tamanho da pupila


Nervo Trigêmio V NC

◦ Tato da face
◦ Movimento de mastigação
Nervo Facial VII NC
Movimento de expressão facial

Gustação dos 2/3 anteriores da


língua
Nervo vestibulo-coclear

Audição e equilíbrio
Nervo Glossofaríngeo IX NC

Movimemtos dos músculos


da orofaringe

Gustação do 1/3 posterior


da língua
Nervo Vago X NC

Movimento dos músculos da orofaringe

Controle parassimpático visceral

Reflexo do vômito
Nervo Acessório XI NC

Movimento da músculatura do pescoço


Nervo Hipoglosso XII NC

Movimentação da língua
Sistema motor
Avaliação da força
◦ Normal
◦ Paresia – perda de força
◦ Plegia – ausência de movimento
Avaliação do tônus muscular
◦ Normal
◦ Hipotonia
◦ Espasticidade “ em canivete “ - Comum nas lesões piramidais (tracto cortico espinhal )
como nos acidentes vasculares
◦ Rigidez em “ roda denteada”, em “ cano de chumbo” - comum na Síndromes
Parkinsonianas
◦ Paratonia
Avaliação dos reflexos

Reflexo Reflexo Reflexo Reflexo


Bicipital Tricipital Estilorradial Aquileu Reflexo
Patelar
Reflexos

Gradação:

0 ausente 1 Diminuído 2 Normal 3 Hiperativo 4 Hiperativo com clônus


Reflexos
◦ Presença de reflexos patológicos:
Babinski , Hoffmann...

◦ No adulto sugerem lesão piramidal **

Sinal de Babinski

**O reflexo de Babinsk em crianças < 2 anos não é patológico


Exame da sensibilidade

Níveis dos dermátomos principais:

– C5 → clavículas
– C6 → polegar
– C8 → 4o e 5o dedos
– T4 → mamilos
– T10 → umbigo
– T12 → virilha
– L4 → lado medial do 1o PDT
– S1 → margem lateral do pé

Dermátomos
Netter F.
Sensitivos
Avaliação da sensibilidade
◦ Exteroceptiva
-Dolorosa e Térmica (espátula, palito)
-Tátil (chumaço de algodão ou pincel)
- Palestesia ou sensibilidade vibratória (diapasão de 128 Hz)

◦ Proprioceptiva
- Artrestesia (ou postural)
- Cinestesia (movimentos passivos)

◦ Hiperestesias
◦ Hipoestesias
◦ Anestesias
◦ Parestesias : sensação anormal e desagradável sobre a pele que assume
diversas formas (p.ex., queimação, dormência, coceira)
Teste te Romberg
Provas cerebelares
◦ Manobra índex-nariz
◦ Manobra calcanhar-joelho
◦ Sinal do rechaço
◦ Disdiadococinesia
DOENÇA
DE
PARKINSON
Doença de Parkinson
◦ Perda de neurônios que utilizam dopamina na substância nigra
◦ Afeta 1 % da população acima dos 50 anos
◦ 5 % dos casos são herdados
Fisiopatologia

Livro de Neurociências , Bear M


Fisiopatologia

Substância nigra

++ excitatória - Dopamina

Putâmen + Caudado (Estriado)

inibitório - - -

Globo Pálido

inibitório - - -

Tálamo ativa o Córtex motor VL= núcleo ventrolateral do tálamo


AMS =Área motora suplementar Adaptado do Livro de Neurociências ,
Bear MF
Quadro clínico
• Lentidão de movimentos (bradicinesia)

◦ Dificuldade em iniciar movimentos voluntários (acinesia)

◦ Aumento do tônus muscular ( rigidez )

◦ Tremores, que são mais proeminentes durante o repouso

◦ Sintomas não motores: disautonomia, constipação, disfagia, insônia,

Com a progressão da doença há piora da cognição


◦ Rigidez e bradicinesia
Objetivo terapêutico:

◦ Aumentar os níveis de dopamina liberada para o Estriado.


◦ Isso é geralmente feito com a administração de um precursor da dopamina, nas
formulações de Levodopa BD ou HBS.
Anamnese

Paciente de 60 anos vem ao consultório com queixa de tremor em


Caso clínico 1
membro superior direito há cerca de um ano e dificuldade levantar
da cama pela manhã.

HPP: depressão crônica em uso de Fluoxetina 20 mg dia

H. Familiar: nega doenças neurológicas na família


Ao exame
Disautonomia: PA sentado por 1 minuto : 100 x 60 FC: 60
PA em pé: por 1 minuto 100x 60 FC: 65

Bradicinesia bilateral, pior à direita

Rididez em roda denteada em Membro superior direito

Marcha: passos curtos

Tremor em repouso de membro superior direito


Evolução
◦ RNM de crânio: atrofia esperada para idade com microagiopatia
inespecífica.
◦ Exames de sangue sem alterações significativas
◦ Teste com proloba BD no consultório positivo

◦ Diagnóstico: Doença de Parkinson


◦ Iniciado tratamento com Prolopa BD
◦ Encaminhado à fisioterapia e fonoaudiologia
DEMÊNCIAS
Critérios de demência (todas as causas)
1- Sintomas cognitivos ou comportamentais (neuropsiquiátricos) que:

◦ Interferem nas atividades de vida diária

◦ Representam declínio em relação aos níveis prévios de funcionamento

◦ Não são explicáveis por delirium ou doença psiquiátrica maior


Critérios de demência (todas as causas)
2- Comprometimento cognitivo é detectado e diagnosticado mediante combinação
de:

◦ Anamnese com o paciente e informante que tenha conhecimento da história

◦ Avaliação cognitiva objetiva, mediante exame breve do estado mental ou avaliação


neuropsicológica
Critérios de demência (todas as causas
3-Os comprometimentos cognitivos ou comportamentais afetam, no mínimo, 2 dos
seguintes domínios:
◦ Memória
◦ Funções executivas
◦ Habilidade visuoespaciais
◦ Linguagem
◦ Personalidade ou comportamento com sintomas que incluem alterações do humor,
apatia, desinteresse, compulsão, desinibição ....
Diagnóstico diferencial
Depressão:
Supostos déficits de memória são causados pela dificuldade em manter a atenção
Na avaliação , apresenta desempenho variável, isto é, em tarefas com dificuldade
semelhante, não há coerência na intensidade do comprometimento
Os déficits cognitivos melhoram com antidepressivos e terapia psicológica
Envelhecimento normal
Efeito colateral de medicação – ex.: Benzoadizepínicos como Rivotril ....
Doença sistêmica – ex.: hipertireiodismo, deficiência de vitamina B12, neurossífilis,
hepatites B e C no SNC ....
Déficit cognitivo leve
Déficit Cognitivo Leve (DCL)
◦ Declínio cognitivo pequeno a partir do nível anterior de desempenho em um ou mais domínios
cognitivos ( atenção complexa, função executiva, aprendizagem e memória, linguagem,
cognição social...) DSM V
◦ Déficit percebido pelo próprio paciente
◦ Déficit confirmado por informante
◦ Sem comprometimento da cognição geral
◦ Paciente mantém independência nas atividade diárias
◦ Não demenciado
◦ Déficit comprovado por avaliação objetiva – Testes neuropsicológicos

◦ Como muitos DCL podem evoluir para demência, eles devem ser acompanhados pela
neuropsicologia pra avaliar quais apresentam maior fator de risco.
◦ * Acometimento de mais de uma área da cognição indica risco aumentado de demência.
Doença de Alzheimer (DA)
◦ Forma mais frequente das síndromes demenciais – 50-70% das causas de demência
(isolada ou em associação)

◦ Anatomopatologia de pacientes com DA: atrofia difusa, mais acentuada em regiões


temporais, frontais, e parietais. O córtex límbico e de associação são os mais afetados.

◦ 90 % dos casos são esporádicos


◦ 10 % são genéticos ( mutações anormais)
DA – critérios centrais
Demência da DA provável
◦ Preeenche critérios para demência e têm adicionalmente as seguintes características:
◦ início insidioso ( meses ou anos)
◦ História clara ou observação de piora cognitiva
◦ Déficits cognitivos iniciais e mais proeminentes em uma das seguintes categorias:
memórias, linguagem, visuoespacial, funções executivas.
◦ Exame de imagem para exclusão de outras causas
◦ Evidência de declínio cognitivo progressivo, constatados em avaliações sucessivas.
Clinical Demetia Ratio (CDR)
Quadro clínico da DA
◦ Alterações cognitivas : amnésia, afasia, apraxia, agnosia

No início os pacientes perdem a memória recente.Com o tempo a memória remota é prejudicada.

Lei da Regressão Mnemônica de Ribot que estabelece que a perda de conteúdos de memória ocorra na
ordem inversa que se adquiriu, ou seja, perde-se primeiro os últimos acontecimentos, para só depois
esquecer dos acontecimentos mais antigos

Teste neuropsicológicos servem tanto para diagnóstico quanto para acompanhamento na evolução da DA

*Alterações comportamentais : paranóia, alucinações, agressividade, ansiedade, fobia, distúrbios de ritmo


(sono) diurno

*Comprometimento da realização de atividades de vida diária


Demência vascular
◦ Demência + Doença cardiovascular , podendo ter déficit neurológico
focal ao exame

◦ Início abrupto

◦ Perfil cognitivo é variado, pois depende da localização da lesão, assim


as baterias neuropsiclógicas devem ser planejadas de modo a
abrangerem o maior número de funções cognitivas e de memória,
dando ênfase em funções executivas, sistema de atenção e de
memória semântica.
Demência Frontotemporal
◦ 3ª causa mais comum de demência de origem
degenerativa
◦ Se caracteriza por destruição predominantemente
dos lobos frontais e temporais
◦ É frequentemente familial ( 25 – 50%)
◦ É comum início antes dos 65 anos de idade

◦ Exames de imagem : atrofia frontal ou temporal


Quadro clínico da demência
frontotemporal
◦ Alteração significativa da personalidade e do comportamento social
◦ Diminuição das funções executivas
◦ Paciente se torna mais apático ou desinibido
◦ Há uma relativa preservação da memória, linguagem, percepção e funções espaciais
◦ Transtornos cognitivos predominantemente acometidas: atenção, abstração, planejamento e
capacidade para resolução de problemas
Anamnese

◦ M.A, sexo feminino, 72 anos, veio trazida pela família com relato de Caso Clínico 2
que a paciente estava esquecida e apresentando comportamento
diferente do habitual. Família relata que tem esquecido o fogão
aceso, que esquece de tomar banho e repete várias vezes um
mesmo assunto num mesmo dia.
◦ Escolaridade: ensino superior completo
◦ HPP: HAS, DM.
◦ H. Familiar: irmã com demência
◦ Ao exame: Paciente vestida adequadamente, não se queixa de
problemas de memória
Ao exame
*Exame neurológico: ausência de déficits focais
*Teste do relógio : mostrou prejuízo da capacidae visuoespacial e da função executiva

*Fluência verbal : diminuida para o nível de escolaridade


*MEEM: 17 em 30 – perdeu pontos na atenção, cálculo, memória, visuoespacial e linguagem
Exames complementares
◦ Exames laboratoriais: sorologias
negativas para HIV, sífilis e hepatites
B e C, vitamina B12 normal

◦ RNM de crânio: redução


volumétrica dos hipocampos
Qual diagnóstico?
◦ Doença de Alzheimer
◦ Iniciado inibidores de acetilcolinesterase ( ex.: Rivastigmina, Galantamina, Donepezil) e
agonistas glutamatérgicas ( ex: Memantina )
◦ Encaminhada para reabilitação neuropsicológica

◦ Revisões sistemáticas apontam que a reabilitação cognitiva longitudinal individualizada


aumenta o efeito de anticolinesterásicos quando administradas em pessoas com DA.
MEMÓRIA
Memória é a retenção de informações aprendidas
Tipos de memórias

As memórias declarativas estão disponíveis para evocação consciente Livro de Neurociências , Bear
MF
Tipos de memórias
◦ De longo prazo – pode-se
recordar dias, meses ou anos
após terem sido armazenadas
◦ De curto prazo – duram
segundos ou horas
◦ Memória de trabalho –
armazenamento temporário
◦ Consolidação da memória

Livro de Neurociências , Bear MF


Amnésia
◦ Perda significativa da memória e/ou da capacidade de aprender

◦ Amnésia retrógrada - perda de memórias para eventos anteriores ao trauma

◦ Amnésia anterógrada – incapacidade de formar novas memórias após um trauma

◦ Amnésia global transitória – acesso repentino de amnésia anterógrada de minutos a dias,


acompanhada por amnésia retrógrada de fatos recentes que precederam o ataque – pode
ser decorrente de uma privação temporária de sangue nas estruturas essenciais para o
aprendizado e a memória.
Caso do paciente Henry Gustav
◦ Estudo de um caso humano H.M em 1953
◦ 27 anos, com diagnóstico de epilepsia desde os 10 anos de idade, apresentava crises
convulsivas diárias e refratárias ao tratamento medicamentoso.
Caso do paciente Henry Gustav

Foi submetido a uma lesão do córtex temporal medial bilateral – com retirada da amígdala e
dos 2/3 anteriores do hipocampo (setas vermelhas).

(1) Hipocampos
Caso do paciente Henry Gustav

◦ Ficou livre de crises


◦ Evoluiu com amnésia anterógrada
importante – ex: é incapaz de
lembrar de alguém que encontrou
há 5 minutos.
◦ Incapacidade importante de formar
novas memórias declarativas
Lobos temporais mediais e memória

Hipocampo
Áreas
Áreas corticais
corticais para-
de hipocampal Fórnix
associação e rinal

Hipotálamo
Tálamo

Importante para
consolidação da memória
declarativa

Livro de Neurociências , Bear MF


Córtex pré frontal e a memória de
trabalho
◦ A memória de trabalho representa informação
mantida em mente para alguma necessidade
imediata.

◦ Pacientes com lesões pré- frontais apresentam


dificuldades para realizar tarefas mais complexas
Diencéfalo e processamento da memória
◦ Núcleos anterior e dorsomedial
no tálamo
◦ Corpos mamilares no hipotálamo
◦ A maior parte dos feixes do fórnix
projeta-se para os corpos
mamilares, os quais projetam-se
para o n. anterior do tálamo.
◦ O n. Dorsomedial recebe
aferências da amígdala e do
néocortex inferotemporal

Livro de Neurociências , Bear MF


Anamnese

◦ R.O, masculino, 70 anos, com história de etilismo pesado


veio trazido pela família que relatam que ele está com
Caso Clínico 3
dificuldades de andar e está com muito esquecimento.
◦ Ensino fundamental completo

◦ HPP: etilista, HAS

◦ H. Familiar: sem antecedentes de doença neurológica


Ao exame
Paciente bastante emegrecido

◦ MEEM: 15 em 30 – memória executiva


prejudicada, memória retrógrada e
anterógrada prejudicadas
◦ Quando perguntado sobre o que ele
fez no dia anterior, paciente relata que
viajou para SP. Família relata que o fato
não ocorreu. Confabulação *
◦ Marcha atáxica
◦ Nevos cranianos: oftalmoplegia do olho
direito e nistagmo horizontal de fixação

Confabulação: é um erro de memória definido como a produção de memórias fantasiosas, distorcidas ou mal interpretadas
sobre si mesmo ou do mundo, sem a intenção consciente de enganar.
Exames complementares
◦ Exames laboratoriais:

◦ Anemia
◦ Sorologias para HIV, sífilis, Hepatites B e C negativos
◦ Dosagem sérica de vitamina B1 ( tiamina ) baixa
Exames complementares
◦ RNM de Crânio :
Corte axial na sequência FLAIR : hiperintensidade em região medial do tálamo bilateral
Quais as síndromes

◦ Demência
◦ Ataxia
◦ Oftalmoplegia

◦ Associado à história de alcoolismo e deficiência de tiamina e lesões em tálamo

◦ Diagnóstico: Síndrome de Wernicke - Korsakoff


Síndrome de Wernicke-Korsakoff
◦ Resulta do alcoolismo crônico – deficiência de tiamina ( vitmina B1)

◦ Usualmente encontramos lesões no tálamo dorsomedial e nos


corpos mamilares

◦ Geralmente amnésia anterógrada, mas também pode haver


acometimento retrógrada

◦ Tríade: Oftalmoplegia + confusão mental + marcha atáxica

◦ Tratamento: Reposição venosa de tiamina no início


ACIDENTE
VASCULAR
ENCEFÁLICO
Quando pensar em AVE?

◦ Déficit focal agudo – parestesia, paresia/plegia, disartria, amaurose, afasia ….


Ataque isquêmico transitório (AIT)
◦ Ocorrência de sinais e sintomas neurológicos focais transitórios de origem vascular sem
que ocorra lesão tecidual detectável por meio de exames de imagem, independente
do tempo de duração dos sintomas.
Acidente vascular isquêmico (AVCi)
Ocorre lesão neuronal por falta aguda de oxigênio e nutrientes

Causas:
1-Aterosclerose de grandes artérias
2- Lacuna ou infarto de pequenas artérias
3- Cardioembolia
4-Origem indeterminada

◦ Principais fatores de risco: HAS, DM, alterações cardíacas


como fibrilação atrial
Critério de trombólise
◦ Escala do National Institutes of health ( NIHSS)
◦ Varia de 0- 42 pontos
◦ Tempo de início dos sintomas – até 4h e meia com NISS > 2 , sem contraindicações
Acidente vascular hemorrágico
◦ Hemorragia intraparenquimatosa

Causa principal é a hipertensão arterial

◦ Hemorragia subaracnoidea (HSA)


80 % por rompimento de aneurisma cerebral
Exames complementares
◦ Exames de sangue: glicemia, eletrólitos ...

◦ Tomografia de crânio: para avaliar se há hemorragia

◦ Angio - Tomografia de crânio e cervical – importante para


avaliar presença de obstrução de grandes vasos ou
extravasamento de sangue

◦ RNM de crânio – mais sensível para avaliação de áreas


isquêmicas
Anamnese

◦ Paciente E. S, sexo feminino, 90 anos, veio trazida por Caso clínico 4


familiares com plegia fasciobraquicrural à direita e afasia ao
acordar- delta T ( início dos sintomas ) de tempo
indeterminado.

◦ HPP: Fibrilação atrial


Ao exame
◦ Parestesia em dimídio direito
◦ Afasia de expressão
◦ Levemente disártrica

◦ National Intitute of Health Stroke Scale ( NIHSS): 14


Exames complementares
◦ Tomografia de crânio sem sangramento
◦ Angio tomografia de crânio: presença de obstrução em artéria cerebral média à esquerda

Acidente vascular encefálico isquêmico de provável origem cardioembólica


Evolução

◦ Foi submetida à trombólise intrevenosa


e mecânica
◦ NIHSS final: 3

◦ Afasia de Broca de espressão


◦ Função executiva normal

◦ Iniciada anticoagulante em virtude da


fibrilação atrial para prevenção de
novos eventos isquêmicos
Anamnese

◦ Paciente de 65 anos, foi levado à emergência por familiares


com história de início súbito de hipoestesia em dimídio Caso Clínico 5
esquerdo.

◦ HPP: HAS de difícil controle, DM


Ao exame

◦ Ao exame: apresentava heminegligência à esquerda (2) e não reagia ao estímulo


álgico em dimídio direito (2)

◦ NISSH : 2 + 2 = 4
Exames complementares

Corte axial – RNM de crânio na sequência difusão: Lesão isquêmica aguda em região parietal à direita
Evolução:
◦ Trombólise não foi indicada em virtude do longo período do início dos sintomas.

◦ Após um mês do evento, esposa relata que o paciente não penteia o cabelo do
lado esquerdo, que geralmente não come a comida que se encontra no lado
esquerdo do prato e que por diversas vezes esquece de colocar o sapato no pé
esquerdo.

◦ Encaminhado para reabilitação neuropsicológica


Avaliação neuropsicológica
Síndrome de Negligência
◦ Déficit unilateral da atenção

◦ O paciente pode se barbear só de um lado da face, escovar os dentes só de um lado


da boca, comer a comida que está apenas de um lado do prato.

◦ Lesões no córtex parietal direito


Atenção entre os hemisférios
Síndrome de
Negligência

Melhora progressiva nos detalhes


do lado esquerdo da pintura de
auto-retrato de um artista que
sofreu um acidente vascular
encefálico no córtex parietal do
lado direito.

Posner e Raichie, 1994 p.152


CEFALÉIA
Migrânea
◦ A migrânea está relacionada a alterações funcionais do
córtex cerebral e ativação do sistema trigeminovascular

◦ 20% dos pacientes apresentam aura


◦ Tipos de auras:
◦ 1- sintomas visuais completamente reversíveis como
características positivas ( luzes, manchas...) ou negativas
( perda da visão...)
◦ 2- sintomas sensitivos completamente reversíveis como
formigamente e dormência
◦ 3-Disfasia completamente reversível
Quadro clínico da Migrânea
◦ Cefaléia com pelo menos 2 das seguintes características:
1-localização unilateral
2-Caráter pulsátil
3- Intensidade moderada ou forte ( incapacitante)
4- Piora com atividades físicas rotineiras
◦ Durante a cefaléia, pelo menos um dos seguintes:
◦ 1- Náusea e/vômitos
◦ 2- Fotofobia e fonofobia
Fisiopatogênia da Migrânea
◦ Inflamação neurogênica no sistema trigêmino-vascular
◦ Teoria da Depressão Alastrante Cortical – onda de despolarização que se alastra pelo
córtex cerebral, seguida por um longo período de supressão da atividade neuronal
Cuidados do paciente com migrânea
◦ Diário de cefaléia
◦ Tratamento farmacológico
medicações abortivas – para ser usada no momento da crise – antiinflamatórios e ou triptanos
Medicações profiláticas – usadas quando o paciente tem mais de 3 dias de crises/mês

◦ Evitar fatores potencialmente causadores da crise como privação de sono , estresse...

◦ Alertar sobre o uso excessivo de medicação como dipirona e paracetamol , pode levar a
cefaléia por uso excessivo da medicação sintomática – Cefaléia por abuso de analgésicos

◦ Terapia cognitivo comportamental par acasos indicados


Cefaléia do Tipo Tensional (CTT)
◦ A dor da da CTT é tipicamente bilateral, com caráter em pressão ou aperto, de intensidade fraca
ou moderada, e não piora com a atividade física.

◦ Foto ou fonofobia ( apenas uma delas pode estar presente)


Tratamento de CTT
◦ O uso de analgésicos comuns é contraindicado e pode induzir a cefaléia por abuso
de analgésicos.
◦ Tratamento preventivo se necessário
- Antidepressivos inibidores de recaptação seletiva de serotonina
- Antidepressivos DUAIS - inibidores inibidores de recaptação seletiva de serotonina e
noradrenalina

- Terapia cognitivo comportamental


Cefaléias em salvas
◦ Acomete mais homens
◦ Dor unilateral extremamente intensa
( excruciante)
◦ Localização periorbital associadas a sintomas
autonômicos ipsilaterais e agitação

◦ * Sinais autonômicos: hiperemia conjuntival,


lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, sudorese
facial, miose, ptose e edema palpebral
◦ Tratamento: inalação de oxigênio durante as crises
Anamnese
◦ Paciente de 22 anos com relato de cefaléia desde os 14 anos de
idade do tipo pulsátil que as vezes é à direita e outras vezes à
esquerda, de moderada intensidade ( 8 em 10 na escala de dor),
com náuseas e fotofobia, que melhora um pouco com Caso Clínico 6
analgésicos comuns. Relata que a intensidade e a frequência
aumentou nos últimos meses desde que iniciou a faculdade de
Direito. Relata que tem dormido pouco pra conseguir ter mais
tempo para estudar.

◦ HPP: trasntorno de ansiedade


◦ Exame físico clínico e neurológico : normal
Qual diagnóstico?
◦ Cefaléia migranosa

◦ Foi indicado medicação profilática e abortiva


◦ Orientada a alterar hábitos de estilo de vida como:
◦ Evitar privação de sono, realizar atividade física, evitar ficar longos períodos em jejum,
evitar uso de analgésicos como dipirona e paracetamol.
◦ Como a paciente teve dificuldade em alterar hábitos, foi encaminhada à terapia
cognitivo comportamental.
TRAUMATISMO
CRANIOENFÁLICO
(TCE)
Traumatismo cranioencefálico (TCE)

◦ TCE é qualquer agressão que acarrete em lesão anatômica ou funcional do crânio,


das meninges ou do encéfalo.
Tipos de TCE
◦ Concussão: Lesão traumática não penetrante. Alterações da consciência incluem
confusão, amnésia ou perda da consciência por poucos minutos.
Tipos de TCE
◦ Contusão: Presença de edema ou
hemorragia. Ocorre principalmente
nas áreas em que a desaceleração
súbita da cabeça faz o tecido
cerebral se deslocar e ir contra
algumas proeminências ósseas.

◦ Lesão por contragolpe


Tipos de TCE
◦ Lesão axonal difusa : lesão primária do TCE
causada por aceleração/desaceleração.

◦ Em sua forma grave, ocorrem focos


hemorrágicos mo corpo caloso e no
tronco encefálico.
Avaliação inicial no paciente com TCE
Avaliação inicial no paciente com TCE
◦ Cuidados emergenciais
◦ Escala de coma de
Glasgow
◦ Tomografia de crânio e
cervical
◦ Avaliar necessidade de
cirurgia
Tipos de hematomas
Anamnese
◦ Paciente de 40 anos, sem comorbidades. Profissão:
pedreiro. Foi levado ao hospital acordado com um Caso Clínico 7
vergalhão atravessado no crânio.
Evolução inicial
◦ Trauma penetrante em região do
córtex pré-frontal
◦ Paciente foi submetido à cirurgia para
retirada do vergalhão
◦ Evoluiu sem déficits motores ou
sentitivos
Seguimento pós alta hospitalar
◦ A família relatou mudança importante de comportamento. Relatam que ele conversa
pouco, passou a não se importar com a forma de se vestir, não sai mais com os amigos,
tem dificuldade em tomar decisões, e passa horas do dia em sites pornográficos.

Avaliação neuropsicológica:
◦ Preservação da capacidade cognitiva global. Fluência verbal normal
◦ A avaliação da memória evidenciou déficit quanto à aquisição de novas informações
◦ Atenção comprometida em mais de uma ocasião, tanto na avaliação formal quanto na
informal, sendo o déficit bastante acentuado quando a tarefa exigia esforço ativo mantido
por período de tempo mais prolongado
◦ Dificuldade significativa em tarefas que envolviam destreza visuomotora e velocidade
O Curioso Caso de Phineas Gage e a barra de
ferro que atravessou sua cabeça ( 1948 )

Amigos relatavam que ele “não era mais o Gage”


Áreas do córtex pré-frontal

◦ Dorsolateral -memória de
trabalho, atenção e velocidade
de processamento
◦ Ventromedial – tomada de
decisão e emoção
◦ Medial superior – iniciação de
comportamento, motivação e
emoção
Lesões do córtex pré-frontal
- alteração da personalidade
- Deficiência das funções executivas
como tomada de decisões,
atribuições de prioridades e
planejamento
- Alterações da emoção e do
comportamento social
Importante papel no julgamento
e no comportamento afetivo
Lobotomia Frontal
◦ Cirurgia utilizada no passado para tratar
pacientes com esquizofrenia e dores
intratáveis. Foram realizadas dezenas de
milhares de lobotomia frontal após a segunda
guerra mundial.

◦ Destruição de estruturas límbicas,


principalmente de conexões com os córtex
frontais e o giro cingulado.

◦ Os pacientes continuavam a sentir dor, mas


tornavam-se indiferentes a ela

◦ Relatos de que muitos pacientes evoluiam


para comportamentos inadequados e
dificuldade de planejamento
EPILEPSIA
Epilepsia
◦ Epilepsia é uma predisposição persistente do cérebro para gerar
crises epilépticas recorrentes. É definida pela ocorrência de duas
crises epilépticas não provocadas por um intervalo de mais de 24h.

◦ Etiologia: estrutural, genética, metabólica, infecciosa, autoimune


ou desconhecida.

◦ Classificação pela semiologia: Focal x Generalizada


Crises generalizadas

Se originam de algum ponto de


uma rede neuronal e rapidamente
envolvem redes neuronais bilaterais
Crises generalizadas
Ex.: A Síndrome de West é
caracterizada pelo início de
espasmos epilépticos no
primeiro ano de vida, além de
atraso no desenvolvimento
global. É considerada uma
encefalopatia epiléptica.
Encefalopatia epiléptica
◦ Compreende a noção de que a atividade epileptiforme pode
interferir nas redes cerebrais, provocando comprometimento
cognitivo e alteração de comportamento significativos.

◦ Crianças em desenvolvimento com epilepsia não controlada


podem evoluir com déficit cognitivo importante.
Crises generalizadas
◦ Epilepsia Mioclônica Juvenil ( EMJ)

◦ Inicia-se ao redor da puberdade


◦ Abalos mioclônicos bilaterais, únicos ou
repetitivos, predominando nos
membros superiores
◦ Não há perda da consciência
◦ As crises costumam ocorrer com o
despertar e são precipitadas pela
privação de sono
◦ Frequentemente é fotossensível

◦ EEG: presença de polipontas


generalizadas
Crises generalizadas
Crises focais
◦ Se originam em redes neuronais limitadas
a um hemisfério cerebral, e podem ser
restritas ou se propagarem.

◦ Toda crise focal pode se propagar para


redes bilaterais, sendo chamada de
secundariamente generalizado (evolução
tônico – clônica bilateral)
Crises focais com comprometimento da
consciência - Disperceptiva
Crises focais sem comprometimento da consciência
- Perceptiva
Crises focais de início motor
Crise focais de início não motor
Podem ser:
◦ Cognitivas – com
alucinações, deja vu /
jamais vu, afasia …
◦ Sensoriais
◦ Autonômicas
◦ Emocionais – riso, choro,
pânico, ansiedade...
Anamnese
◦ Paciente P. A, feminina, 30 anos, com história de primeira crise ao 4
anos de idade após quadro febril. Voltou a ter crises com 22 anos. Caso Clínico 8
Familiares relatam que a crise mais frequentes é aquela em que ela
“sai fora do ar” e não responde. Apresenta movimentos com a
boca como se estivesse mastigando, além de movimentos com as
mãos. Já teve 3 crises tônico clônicas.
HPP: sem comorbidades
H familiar: sem doença neurológica na família
H. Desenvolvimento: normal
H. Parto; gestação: sem intercorrências
Anamnese
Paciente relata que antes de ter crise sente um mal estar na região do estômago.
A frequência de crises aumentam com o estresse.
Frequência de crises: 3 crises por semana

Está em uso de : Oxicarbazepina, Frisium, lamotrigina. Já fez uso de Valproato, Fenobarbital e


Levatiracetam.
Semiologia da crise

Focal disperceptiva com automatismo motores


Exames de imagem

Cortes coronal– atrofia e hiperintensidade em hipocampo esquerdo (seta)


Exames de imagem

FDG- PET TC de crânio interictal


revelou hipometabolismo em
regiao hipocampal esquerdo
Eletroencefalograma interictal

Presença de atividade epileptiforme em forma de ondas agudas na região temporal esquerda


Exames complementares
Vídeo - EEG concordante com a região da lesão

Teste neuropsicológico :
◦ Memória episódica visuoespacial normal
◦ Percepção normal
◦ Inteligência normal
◦ Atenção normal
◦ Nomeação oral normal
Evolução

Apesar dos riscos de déficit de memória com a


cirurgia, a paciente optou por realizar a cirurgia.
Ficou livre de crises em uso de
anticonvulsivantes. Apresenta leve déficit no
campo periférico à direita (as fibras que
carregam impulsos dos campos visuais superiores
e laterais viajam pelo lobo temporal através da
Alça de Meyer)
Esclerose mesial do lobo temporal
◦ Presença de evento precipitante ( ex: febre..) inicial em 50 % dos casos

◦ Intervalo sem crises ( latente)

◦ Início de crises focais disperceptivas geralmente na 2 ª década de vida


que são refratárias ao tratamento medicamentoso.

◦ Pode coexistir déficit de memória específico e transtornos psiquiátricos


como depressão

Lowe AJ, David E, Kilpatrick CJ, Matkovic Z, Cook MJ, Kaye A, et al. Epilepsy surgery for pathologically proven hippocampal sclerosis provides long-term seizure control and improved quality of life.
Epilepsia 2004;45:237-42. Wiebe S, Blume W, Girvin J, Eliasziw M. Effectiveness and efficiency of surgery for temporal lobe epilepsy study group: a randomized controlled trial of surgery for temporal
lobe epilepsy. New Engl J Med 2001;345:311-8.
Esclerose mesial do lobo temporal

◦ A cirurgia pode ser uma alternativa para esses pacientes. Estima-


se que 60 a 85% dos pacientes ficam livres de crise após a
cirurgia, pelo menos a curto prazo.

◦ Pacientes candidatos à cirurgia devem ser submetidos a testes


neuropsicológicos antes e depois da cirurgia.
Anamnese
◦ Paciente G.S., sexo femino, 7 anos, veio trazida pelos pais que relatam
que a filha que sempre foi boa aluna passou a tirar notas baixas na
escola. Está em investigação para Transtorno de déficit de atenção.
Caso Clínico 9
◦ HPP: sem comorbidades
◦ H. Familiar: sem doença neurológica na família
◦ Está cursando a segunda série do ensino fundamental
◦ Ao exame:
◦ Neurológico normal
◦ Cognição normal
◦ Ausência de déficit funcional
Caso clínico
◦ Durante a consulta foi solicitado que soprasse uma folha de papel por 1 minuto

https://www.youtube.com/watch?v=aR68rIqphJA
EEG
Complexos ponta-onda
generalizados de 3 Hz durante
manobra de hiperventilação

Diagnóstico:

Epilepsia Ausência na
infância
Epilepsia ausência da infância
Ocorre me crianças normais na idade
escolar ( entre 6 e 7 anos) e apresenta
forte predisposição genética.

Mais frequente em meninas.

EEG revela complexos ponta-onda


generalizados de 3 Hz

Costumam remitir com o passar do


tempo

Tratamento: Valproato
* Bloqueadores de canais de Na+ como
carbamazepina não são indicados
Anamnese
◦ Paciente F.M, 8 anos, com diagnóstico de epilepsia há cerca de um
Caso Clínico
ano que ocorre principalmente durante a noite e que não está 10
controlada. Pais relatam que o filho tem tido dificuldade de estudar.

◦ HPP: asma
◦ H. Familiar: sem doenças neurológicas na família
◦ H. gestação, parto: sem intercorrências
◦ H. Desenvolvimento: normal
◦ Está na terceira ano do ensino fundamental
Semiologia da crise

Crise focal de início motor do tipo tônica à esquerda


Exame de imagem
RNM de crânio: displasia cortical no lobo frontel
esquerdo (seta)

Diagnóstico: Epilespia focal secundária à


displasia cortical focal
Evolução
◦ Paciente foi encaminhado para
neuropsicologia : sem déficits funcionais

◦ Solicitado RNM funcional com BOLD (Blood


Oxygen Level-Dependent) – para avaliar se a
área da lesão vizualizada na ressonância está
próxima de região eloquente (ex.: área motora)

◦ Está em investigação cirúrgica para avaliar se


os benefícios superam os possíveis déficits com
a ressecção da área displásica.
Displasia cortical Focal
◦ A semiologia da crise depende da região displásica
◦ 2/3 dos pacientes apresentam início das crises aos 5 anos de idade
◦ 80 % apresentam crises refratárias ao tratamento medicamentoso

◦ A cognição de crianças em estágios iniciais do desenvolvimento pode piorar sem o


controle das crises, assim se o tratamento medicamentoso não for efetivo, sempre deve-se
avalaliar a possibilidade de cirurgia, ecaminhando esses pacientes para centros de
Epilepsia.
Anamnese
◦ Paciente R.S., 35 anos, apresenta crises convulsivas há 2 anos desde
Caso Clínico
que perdeu emprego . Frequência de crises é de 3 vezes na semana. 11
Paciente já fez uso de diversas medicações, sem controle das crises.

HPP: história de abuso sexual aos 7 anos de idade, transtorno de


ansiedade
H. Desenvolvimento: normal
H. familiar: sem doença neurológica
H. Gestação, parto: sem intercorrências

Ensino médio completo


Exame neurológico normal
Semiologia da crise
◦ A família mostra o seguinte vídeo

◦ Que tipo de crise é essa ?


Evolução
◦ Vídeo – EEG : crises convulsivas clinicamente atípicas e
sem alteração da atividade cerebral

◦ Diagnóstico: Crise não epiléptica de origem psicogênica


CNEP – Crise não epiléptica
psicogênica
◦ São eventos paroxísticos que simulam crises epilépticas
◦ Geralmente associadas a desordens psiquiátricas como
conversão, dissociação...
◦ Durante o período ictal não há atividades epilépticas visíveis no
EEG
CNEP – Crise não epiléptica psicogênica
CNEP – Crise não epiléptica psicogênica
80% ocorrem entre 15- 35 anos

80% são mulheres

5-10 % também apresentam epilepsia

Até 50 % podem apresentar fator de risco para epilepsia como


trauma

70% apresentam algum diagnóstico psiquiátrico


CNEP – Crise não epiléptica psicogênica
Fatores de risco:
História de abuso na infância
História de trauma
História familiar de transtorno psiquiátrico
Família disfuncional
Presença de doença psiquiátrica

Fatores precipitantes:
Eventos traumáticos ( morte de ente querido, doença, divórcio, perda do trabalho, dificuldades
financeiras, estresse emocional….)
CNEP – Crise não epiléptica psicogênica
Pistas com análise da semiologia

Lembrar que o padrão ouro para diagnóstico é o Vídeo - EEG


De Paola et. Al, Epilepsy en Behavior 2016
CNEP – Crise não epiléptica psicogênica
Informar ao paciente e sua família que o tipo de crise não é epiléptica, mas de
causa emocional .

Acompanhamento multidiciplinas: psicologia e psiquiatria

Anticonvulsivantes devem ser suspensos


Transtorno psiquiátricos devem ser tratatos com medicações adequadas
Realização de terapia comportamental
CNEP – Crise não epiléptica psicogênica

Resultados:

*O uso de terapia cognitivo comportamental (TCC) mostrou 51 % de melhora de


depressão, ansiedade, funcionamento global e qualidade de vida

*TCC associado ao uso do antidepressivo Sertralina revelou reduziu o número de


crises em 59 %

*O uso isolado da medicação não mostrou melhora na redução das crises.


TRASNTORNOS DA
INFÂNCIA
Déficit Intelectual (DI)
◦ Limitações significativas no desempenho intelectual ( raciocínio, aprendizagem e
solução de problemas) e no comportamento adaptativo ( conceitual, social e
habilidades práticas )que se iniciam antes dos 18 anos.
◦ Antigo Retardo Mental
◦ Etiologia: Fatores ambientais e ou genéticos

◦ Nos DSM V a gravidade não é mais determinada pelo QI, mas pela função
adaptativa
Déficit Intelectual (DI)
◦ Critério de classificação :

◦ Desempenho intelectual abaixo da média ( QI ≤70 ou dois desvios padrão abaixo


da media)
◦ Comprometimento do comportamento adaptativo
◦ Antes dos 18 anos
Déficit Intelectual (DI)
◦ A maior parte dos casos são leves ( QI entre 50 – 70 ): comunicação, cuidados
pessoais, habilidades sociais, trabalho, lazer e compreensão de segurança.
◦ Moderada (QI de 35-50) : Não conseguem atingir maior grau de escolaridade,
dificuldade de socialização, execução de tarefas semiqualificadas com supervisão
◦ Grave (QI 20-35): contagem numérica e reconhecimento de palavras importantes para
o desempenho estão geralmente preservados. Adaptação e trabalho supervisionados.
◦ Profunda (QI < 20): Com treinamento podem expressar suas necessidades

Livro Compêndio de Psiquiatria, Kaplan e Sadock


Livro Compêndio de Psiquiatria, Kaplan e Sadock
Déficit Intelectual (DI)
◦ O desempenho adaptativo pode ser medido por meio de escalas padronizadas
(Vineland Adaptive Behavior Scale)

A maior dos diagnóstico se dá no início da vida escolar com aumento da demanda


acadêmica.

◦ Diagnóstico diferencial: maus tratos infantis, abuso infantil, negligência, surdez,


cegueira, transtornos na fala, paralisia cerebral, epilepsia, alexia, agrafia, afasia,
trasntorno de aprendizagem, coexistência com transtorno do espectro autista (TEA).
Déficit Intelectual (DI)
Tratamento:

◦ Intervenções educacionais, cognitivos e comportamentais.


◦ Educação familiar
◦ Intervenção social
◦ Em caso de alterações do comportamento pode ser necessário medicações ex.:
Risperidona
Transtorno do espectro autista (TEA)

◦ Antigo transtorno global do desenvolvimento


◦ Grupo heterogênio de síndromes neuroevolutivas

Antes do DMS-5 o TEA envolvia 5 transtornos :


◦ Autismo
◦ Asperger
◦ Desentegrativo da infância
◦ Síndrome de Rett
◦ Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação
Transtorno do espectro autista
Domínios comprometidos :

◦ Deficiência na comunicação social


◦ Comportamentos restritos e repetitivos
◦ Embora problemas na linguagem possam ser uma queixa frequente, não são mais
primordias para o diagnóstico.

◦ O diagnóstico se dá normalmente no segundo ano de vida, onde há declínio na


interação social.
Fatores de risco para TEA
◦ genética
◦ Fatores imunológicos
◦ Fatores pré natais ( idade materna e paterna avançada, Diabetes gestacional,
hemorragia gestacional ...)
◦ Fatores Perinatais ( complicações com cordão umbilical, trauma ao nascimento, PIG,
baixo peso ao nascer, baixo APGAR no quinto minuto, malformação congênita,
hiperbilirrubinemia...)
◦ Transtorno neurológicos comórbidos como crises convulsivas
Diagnósticos diferenciais
◦ Esquizofrenia com início na infância
◦ Trasntorno da comunicação social (pragmática)
◦ DI com sintomas comportamentais
◦ Transtorno da linguagem
◦ Surdez congênita com deficiência auditiva
◦ Privação psicossocial
Tratamento
◦ Intervenções psicossociais
◦ Abordagem das habilidades sociais
◦ Intervenções evolutivas e comportamentais precoces
◦ Intervenções comportamentais e TCC para compartamentos repetitivos e sintomas
associados
◦ Intervenções para sintomas comórbidos
◦ Intervenções educacionais
◦ Intervenções psicofarmacológicas

◦ Pode ser necessário medicações em caso alteração de comportamento e


hiperatividade.
Transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH)
◦ Apresentação combinada predominantemente desatenta ou predominantemente
hiperativa/impulsiva.

◦ Comportamento que interfere no funcionamento e desenvolvimento apresentando 6 ou mais


sintomas de desatenção ou de hiperatividade/impulsividade.

◦ Ex: Não presta atenção em detalhes, não escuta quando alguém lhe dirige a palavra, não termina
os trabahos; levanta quando deveria permanecer sentado, corre ou sobe em coisas quando isso é
inapropriado, dificuldade em esperar sua vez......

◦ Mais prevalente em meninos


Etiologia
◦ Fatores genéticos
◦ Fatores neuroquímicos (dopamina)
◦ Fatores neurofisiológicos ( aumento das frequências teta nas áreas frontais)
◦ Alterações neuroanatômicas
◦ Fatores pré e perinatais
◦ Fatores psicossociais
SNAP* – Questionário que auxilia no
diagnóstico de TDAH

SNAP* é preenchido pela escola


Diagnóstico diferencial
◦ Testes neuropsicológicos auxiliam a avaliação da inteligência, cognição ....

◦ DI leve
◦ Transtornos ansiosos
◦ Trasntornos depressivos
◦ Trasntorno bipolar
◦ Transtorno opositivo desafiador
◦ Trasntorno de conduta
◦ Trasntorno de aprendizagem
Tratamento

◦ Psicoestimulantes ex: Ritalina


◦ Medicações não estimulantes ex: brupopiona
◦ Intervenções psicossociais
Trasntornos específicos da aprendizagem
NEURO QUIZ
Qual o tipo de crise?
Qual o tipo de crise?
Qual o tipo de crise?
Qual o tipo de crise?
Que marcha é essa?
Que marcha é essa?
A paciente tem afasia de que tipo?
CONECTOMA
Futuro: Desenvolvimento do Projeto
Conectoma Humano
Tentativa de descobrir o mapa das redes
cerebrais, o que será de grande utilidade para
compreeensão de comportamentos
neuronobiológicos que envolvam processo de
memória, aprendizado e desenvolvimento de
doenças neuropsiquiátricas.
OBRIGADA!!!

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