Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PERSONALIDADE
A personalidade
em Bandura
Bruno Stramandinoli Moreno
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Nas ciências psicológicas, a personalidade humana é entendida de diferentes
formas a depender da corrente teórica que a investiga. Assim, diante do amplo
panorama de teorias contemporâneas sobre a personalidade, talvez a ação mais
adequada não seja escolher qual delas é a melhor, mas compreender como cada
uma se posiciona diante do que pretende explicar. Dentre essas diversas teorias
existentes, merece destaque uma que se alicerça entre diferentes domínios do
conhecimento (como a psicologia, a educação e a economia) e que serve de amparo
a teorias mais atuais. Trata-se da teoria da aprendizagem social, formulada pelo
psicólogo canadense Albert Bandura, cujas investigações buscaram, de modo
geral, compreender como as variáveis cognitivas internas mediavam as interações
entre estímulos e respostas.
Neste capítulo, serão apresentados os fundamentos da teoria de Albert
Bandura, expoente do movimento comportamentalista, bem como informações
relevantes sobre sua vida e sua obra. Em seguida, vamos relacionar sua teoria à
de Skinner, outro expoente do mesmo movimento, buscando estabelecer apro-
2 A personalidade em Bandura
Ainda, Feist, Feist e Robert (2015, p. 130) apontam que Bandura foi pre-
miado com:
Bandura também foi eleito para a American Academy of Arts and Scien-
ces e para o Institute of Medicine da National Academy of Sciences, e, em
2004, tornou-se nome de prêmio — Albert Bandura Graduate Research Award
(Prêmio de Pesquisa de Pós-Graduação Albert Bandura). Até 2021, ano de seu
falecimento, Bandura detinha a cátedra David Starr Jordan de Ciência Social
em Psicologia na Universidade Stanford (FEIST; FEIST; ROBERT, 2015).
Como veremos nas próximas seções, Bandura buscou enfatizar a capaci-
dade do ser humano de aprender comportamentos a partir da observação,
em uma abordagem que se distanciava das existentes à época, como, por
exemplo, a de Skinner, expoente do behaviorismo (SCHULTZ; SCHULTZ, 2015).
Skinner Bandura
(Continuação)
Skinner Bandura
A personalidade em Bandura
Para compreendermos qual é a concepção de ser humano que guia Bandura
em suas análises, devemos recuperar o que ele denominou “agência humana”.
Para o autor, só é possível sustentar uma teoria cognitiva social se, antes
disso, pressupormos “[...] uma visão agêntica da personalidade, significando
que os humanos têm a capacidade de exercer controle sobre a própria vida”
(FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015, p. 334). Isso significa que, como agente, o próprio
ser humano atua se autorregulando, de modo autorreflexivo, proativo e
auto-organizado. Sua capacidade de influenciar, guiar e até mesmo produzir
comportamentos encontra-se nas próprias ações, que operam produzindo
consequências desejadas.
Importa salientar que, para Bandura, a agência humana não é uma entidade
psicológica autônoma e independente do contexto. Pelo contrário, a capaci-
dade do indivíduo de tomar decisões esbarra nos elementos ambientais que o
circunscrevem. O indivíduo, então, explora, manipula e influencia ativamente
o meio em que se encontra, que, por sua vez, também o influencia. Essa visão
se diferencia da de Skinner, que defende que a automação comportamental
sujeita o indivíduo ao momento e ao ambiente (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015).
Para a teoria sociocognitiva de Bandura, são elementos constituintes
da personalidade humana o autodesenvolvimento (em que se concebe um
indivíduo com muitas atitudes voluntárias para exercer um grau de controle
sobre si e sobre as circunstâncias de sua vida) e a mudança comportamental
(referente à condição de que há muito acaso nos rumos que as vidas tomam).
8 A personalidade em Bandura
Intencionalidade
Agência
Autorreflexão Antecipação
humana
Autorreatividade
Intencionalidade
Entre as características da agência humana, a intencionalidade talvez seja
a mais evidente, uma vez que está relacionada com os atos realizados pro-
positadamente. Ou seja, ao se intencionar algo, há um planejamento prévio,
que, então, produz algum tipo de ação. Portanto, não se trata apenas de
expectativa de algo futuro (de uma ação futura); pelo contrário, é a certeza
de que um comportamento vai ocorrer. Cabe salientar que, evidentemente,
nem todo plano intencionado vai se materializar, até porque o próprio plano
A personalidade em Bandura 9
pode ser revisto a todo tempo, o que pode modificar tanto a consequência
da ação quanto a própria ação (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015).
Antecipação
Para Bandura, o ser humano é capaz de se antecipar para estabelecer obje-
tivos, isto é, ele pode antecipar os prováveis resultados de suas ações e as
escolhas comportamentais a serem adotadas a fim de produzir determinados
resultados desejados — assim como atuar antecipadamente para evitar os
resultados considerados indesejados. Com a antecipação, o indivíduo pode
se libertar de determinadas restrições colocadas pelo ambiente (FEIST; FEIST;
ROBERTS, 2015).
Aqui cabe destacar um ponto de contraposição entre a visão behaviorista
de determinação do comportamento e a posição defendida por Bandura.
Para este, se o comportamento fosse completamente fruto do ambiente,
ele se apresentaria mais variável e menos consistente, pois o indivíduo seria
apenas um ente reativo à ampla variedade de estímulos ambientais. Assim,
na perspectiva sociocognitiva de Bandura, o comportamento humano não é
determinado apenas pelo ambiente, uma vez que há um caráter antecipatório
que dota o ser humano de constância e de uma certa padronização no que
se refere ao comportamento por ele emitido (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015).
Autorreatividade
A autorreatividade é um tipo de intervenção autogerida para atuar com a
própria motivação e regulação do comportamento. Isso significa que o ser
humano não apenas escolhe, mas também monitora o próprio progresso,
tendo em vista as escolhas adotadas anteriormente. Ou seja, não se trata
apenas de estabelecer um determinado objetivo, pois é necessário que esse
objetivo seja específico e esteja no escopo de atuação prévia do sujeito, que
deve ser capaz de operar ações suficientes para empreender resultados.
Em outras palavras, deve haver um elemento capaz de mobilizar uma ação
a fim de cumprir essa meta (FEIST; FEIST; ROBERTS, 2015). Além de decidir e
planejar uma ação, a personalidade agêntica humana atua configurando o
foco do comportamento, de maneira a torná-lo apropriado. Isso tem o poder
de motivar o sujeito e regular a efetivação do resultado que ele almeja (LIMA;
NASSIF; GARÇON, 2020).
10 A personalidade em Bandura
Autorreflexão
A autorreflexão diz respeito à capacidade humana de avaliar as próprias
ações, ponderando sobre suas motivações, seus valores e os significados que
amparam seus comportamentos. Nesse processo, julgam-se a pertinência,
a relevância e o sentido dos próprios pensamentos, que são postos à prova
para se avaliar o efeito que as próprias ações têm sobre o ambiente e sobre
si mesmo. A autorreflexão é a base de outros mecanismos cognitivos iden-
tificados por Bandura, como a autoeficácia e a autorregulação (FEIST; FEIST;
ROBERTS, 2015).
Neste capítulo, você conheceu um pouco da vida e das ideias de Albert
Bandura, um dos mais influentes pensadores das ciências psicológicas. Como
vimos, esse pensador entende a personalidade humana a partir da premissa
de que o sujeito é protagonista em sua relação com o ambiente em que está
inserido, impactando-o ao mesmo tempo que é por ele influenciado. Para
Bandura, a personalidade humana é dotada de características que dinamizam
a condição dos indivíduos, uma vez que os impele a crer em sua capacidade
de empreender ações que buscam produzir efeitos desejados e que são
planejadas devido ao seu poder de antecipação (que permite às pessoas
antever consequências e orientar seu comportamento).
Referências
AZZI, R. G. et al. Citações de obras de Bandura em artigos de periódicos de psicolo-
gia brasileiros: uma análise preliminar. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 39, 2019.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/ky7YWhgczJX9CtJmmt8hrpM/?lang=pt.
Acesso em: 27 abr. 2022.
FEIST, J.; FEIST, G. J.; ROBERTS, T. A. Teoria das personalidades. 8. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2015.
HALL, C. S.; LINDZEY, G.; CAMPBELL, J. B. Teorias da personalidade. Porto Alegre: Artmed,
2007.
LIMA, L. G.; NASSIF, V. M. J.; GARÇON, M. M. O poder do capital psicológico: a força das
crenças no comportamento empreendedor. Revista de Administração Contemporânea,
v. 24, n. 4, p. 317-334, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/DJFzK4q3pgm
95Q3p6FwcyKd/?lang=pt. Acesso em: 27 abr. 2022.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. Teorias da personalidade. 3. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2015.
A personalidade em Bandura 11
Leituras recomendadas
BANDURA, A. Aggression: a social learning analysis. New York: Prentice-Hall, 1973.
BANDURA, A. Principles of behavior modification. New York: Holt, Rinehart & Winston,
1969.
BANDURA, A. Self-efficacy: the exercise of control. New York: Worth Publishers, 1997.
BANDURA, A. Social foundations of thought and action: a social cognitive theory. New
York: Prentice-Hall, 1986.
BANDURA, A. Social learning theory. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1977.
BANDURA, A.; WALTERS, R. H. Social learning and personality development. New York:
Holt Rinehart and Winston, 1963.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 4. ed. São Paulo: Cen-
gage, 2019.