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Psicologia Social e das Organizações

Curso de Mestrado em Formação, Trabalho e Recursos


Humanos

Evolução do campo da Psicologia


Social, das Organizações e do Trabalho
Antonio dos Santos joao, PhD

Eixos de discussão

▪ Evolução histórica da Psicologia social

▪ Campo de investigação, níveis de análise da Psicologia


Social e das Organizações.
Psicologia Social
Evolução histórica da Psicologia Social (PS)

A noção de que qualquer forma de compreensão da


verdadeira natureza de uma ciência exige que tenhamos
em consideração o contexto histórico em que a mesma
aparece e se desenvolve.

A psicologia é usualmente definida como ciência do


comportamento humano (e não humano), da cognição, da
emoção e da motivação podendo ser dividida em
diferentes especializações.
A psicologia social como aquele ramo dessa ciência que
lida com a interacção humana.
Evolução histórica da Psicologia Social (PS)

A psicologia social realizou vários percursos ao longo do seu


caminhar em direcção a sua definição pistemológica:
caminhos e descaminhos.

Na medida em que se nos deparam caminhos e


descaminhos, o tecido da abordagem patenteia malhas que
se ligam entre si, umas de forma mais rigorosa,e algumas
sem ligação.
A PS social é geralmente considerada uma ciência
americana, onde tornou-se uma disciplina científica
autónoma, na primeira metade do séc. XX.

maior desenvolvimento inicial e adquiriu maior relevância em


termos científicos e em termos do seu impacto social e
cultural.
A emergência do paradigma americano

A orientação funcionalista e a aplicação, foram os dois


aspectos que melhor explicam que a América reunisse as
melhores condições para que, aí, a PS se autonomizasse.
Principais figuras que vieram destacar-se no fundo
americano e a fornecer os impulsos fundamentais:

➢Bartlett(através de sua obra sempre republicada, desde


1932, Remembering), Sherif, Lewin, Heider e Asch.

Esses psicólogos demosntraram que a interdependência do


comportamento podia ser estudada e, mais do que isso,
podia fornecer explicações práticas, novas e revelantes, o
que contribuiu para que um objecto, singular e
independente, se tornasse o foco da PS.
A emergência do paradigma americano

F. C. Bartlett: o individual e o colectivo


No Reino Unido, Bartlett, em 1932, no livro que mais o
celebrizou, Remembering, considerou a PS como sendo “o
estudo sistemático das modificações da experiência e
respostas individuais directamente devidas à pertença e um
grupo”
e avança a ideia de que um grupo, como tal, como “unidade
organizada”, deve ser considerado como a “verdadeira
condição da reacção humana”.

M. Sherif
Demosntrou que os quadros de referência culturais eram
determinantes do modo como os indivíduos interpretavam
os acontecimentos.
A emergência do paradigma americano

Kurt Lewin

Publica em 1920, um artigo sobre o taylorismo, no qual


defende que as pessoas produzem para viver e não vivem
para produzir.

Por isso mesmo, o bem-estar do trabalhador e a sua


satisfação não resultam só de diminuição das horas de
trabalho e da organização da tarefa, mas,
fundamentalmente, da sua postura psicológica, do
aumento do “valor intrínseco” do próprio trabalho.
A emergência do paradigma americano

A interdependência do comportamento nas relações grupais


(F. Heider e S. Asch)

Fritz Heider

Heider desenvolveu uma teoria configuracional das relações


interpesssoais, que elabora em A Psicologia das Relações
Interpessoais (1958).
Para Heider, uma relação entre duas pessoas é uma
configuração (Gestalt), uma vez que qualquer pessoa
“reage ao que ela pensa que a outra pessoa está a perceber,
sentir ou pensar, para além do que ela está a fazer”.

Por isso, uma pessoa desenvolve “atitutes relativamente às


outras pessoas” que são reguladas por um princípio de
equilíbrio.
A emergência do paradigma americano

A interdependência do comportamento nas relações


grupais (F. Heider e S. Asch)
Asch usou princípios da Gestalt para o estudo experimental
de pressão em grupos.

Asch entende que:


Para percebermos uma pessoa devemos encará-la no
contexto da sua situação e do problema que defronta” e
devemos exercer cautela no modo como observamos, uma
vez que, quando o fenómeno observado tem ordem
e estrutura, é perigoso concentrarmo-nos nas pessoas e
perdermos de vista as suas relações.

Asch levou estes princípios e lei pregnância (boa forma),


nos estudos sobre conformismo.
A PS europeia

É verdade que se quisermos encontrar as raizes mais


profundas da PS temos de recuar para a segunda metade
do séc XIX, concretamente no mundo europeu.

O interesse pelo estudo dos factores sociais


e psicossociais do comportamento humano nasceu
efectivamente na Europra na última metade do séc. XIX e
princípios do séc. XX. Mesmo assim o conceito de
PS europeia é controverso.
A PS europeia

Poque PS europeia (PSE)?

▪ A PSE é corrente na literatura europeia de especialidade.

▪ Corresponde a um movimento institucionalizado –


Associação Europoeia de Psicologia Social Experimental.

A actividade institucional tem contribuido significativamente


para a formação dum espírito em grupo e para a definição
duma identidade social.
A identidade é formada mediante mecanismos de
diferenciação relativamente a outros grupos (e.g.
norteamericanos).
Orientações da PS na Europa e nos EUA

Estudo de Scherer (1990):

Questões: diferenças entre PSE e PS americana (PSA) e


em que medida os inquiritos reconheciam um papel
especial paraa PSE, no passado, presente e futuro.

Achados:
▪ Metade dos psicológos norte-americanos não reconheciam
a existência ou a necessidade de um papel especial
para a PSE, enquanto praticamente os europeus
concordavam com a sua existência e necessidade.

▪ Quanto a natureza das práticas verificou-se acordo


que a PSE adoptava uma orientação menos individualista,
mais filosófica e mais consciente da história, e que se
revelava particularmente forte no domínio das relações
intergrupo.
Orientações da PS na Europa e nos EUA

Tópicos fortes da PSE: influência social, associada a


Moscovici; processos intergrupo, associados ao nome de
Tajfel.
A contribuição de Moscovici foi amplamente reconhecida
pela PSA (única voz europeia reconhecida) na terceira
edição do Handbook of Social Psychology, no capítulo
sobre influência social e conformidade.

A emergência tardia da PSE faz com que haja temas que


mobilizam atenção dos Psicologos americanos e europeus:
atracção interpessoal e autoconsciência, processos
cognitivos, influência social.
Orientações da PS na Europa e nos EUA

As duas psicologias sociais são mais interdependentes do

que antagónicas.
Isso põe novamente em causa a inovação duma PSE
enquanto orientação epistemológica e concorrente com a
psicologia social normal, praticada por psicologos que
adoptam exclusiva ou predominantemete o método
experimental.
Essa dificuldade tem as suas raizes numa ambiguidade da
PSE (tendência de concilar o método experimental com
uma psicologia social mais social) que percorre desde o
seu inicio.
Os pontos de debate

▪ Velho paradigma, baseado na PS como ciência natural


Orientação hipótético – dedutiva e a crença nos
mecanismos causais internos que podem ser detectados
através duma investigação empírica rigorosa.
▪ Novo paradigma, em rejeição do modelo hipotético –
dedutivo, a crença nos mecanismos causais internos e a
ideia de que as leis da psicologia social tenham de ser
descobertas através de uma investigação rigorosa.

Típico de ambos (paradigmas): adesão à experimentação


e a investigação de campo.
Os pontos de debate

Moscovi e Doise são dois nomes do que consagrados e,


juntamente com Tajfel, constituem os pais fundadores da
PSE.
Posição por eles sustentada no recente debate sobre a
crise da psicologia social: superação das duas posições
antagónicas através duma síntese conciliando as
vantagens epistemológicas de ambas as orientações.

Um exame dos projectos desenvolvidos por Moscovi e


Doise no âmbito da PSE mostra que entre objecto e
método existiria uma solidariedade e uma determinação
recíprocas, difíceis de contornar.
Psicologia Organizacional
O que é a PO?

O campo da Psicologia organizacional envolve o estudo


científico do lado humano na organizações e a aplicação
dos principios e descobertas na área.

Duas principais divisões da PO:

i) Lado industrial (do pessoal): origina-se do campo da


psicologia industrial (tradição antiga da PO) e tende a
assumir uma perspectiva administrativa da eficiência
organizacional por meio da utilização apropriada de
recursos humanos.
O que é a PO?

Preocupa-se com questões relativas à eficiência no


planejamento do trabalho, selecção, treinamento e
avaliação de desempenho.
Duas principais divisões da PO:

Lado organizacional: se desenvolveu a partir do movimento


de relações humanas nas organizações, voltando-se a
compreensão do comportamento dos funcionários e à
melhoria de seu bem-estar no ambiente de trabalho.
O que é a PO?

Os tópicos organizacionais incluem: atitutes e


comportamento do funcionário, stress no trabalho e
práticas de supervisão.

Duas principais divisões da PO:

Os principais tópicos da PO não podem ser facilmente


caracterizados como estritamente industriais ou
organizacional, havendo tópicos para as duas áreas (e.g.,
motivação).
O que é a PO?

As duas áreas nem sempre são claramente distinguíveis,


juntas sugerem a ampla natureza da psicologia
organizacional.

Duas principais divisões da PO:

Os principais tópicos da PO não podem ser facilmente


caracterizados como estritamente industriais ou
organizacional, havendo tópicos para as duas áreas (e.g.,
motivação)
O que é a PO?

As duas áreas nem sempre são claramente distinguíveis,


juntas sugerem a ampla natureza da psicologia
organizacional.
A Historia da PO

A PO é uma invenção do séc. XX, com raizes no fim do


séc XIX, e existe praticamente desde o início do campo da
psicologia.

Os principais psicólogos a se envolverem na psicologia


organizacional forma psicologos experimentais
interessados na aplicação de novos princípios da
psicologia a problemas nas organizações.

Os primeiros trabalhos nos Estados Unidos se


concentraram em questões de desempenho no trabalho e
eficiência organizacional.
A Historia da PO

No Reino Unido, os primeiros trabalhos se preocuparam


comquestões relativas á fadiga e à saúde dos funcionários.
Dois psicologos são considerados os principais fundadores
do campo da PO nos Estados Unidos:

Hugo Münsterberg: interessou-se particularmente pela


selecção de funcionários e a utilização de novos testes
psicológicos. Escreveu o 1º livro no campo da PO em
contexto americano: Psychology and Industrial Efficiency
(1913).
A Historia da PO

Walter Dill Scott: tinha muitos interesses em comum com


Münsterberg bem como a aplicação da psicologia na
publicidade. Obra: The Theory of Advertising (1903).
A obra de Frederick Winslow Tayler, um engenheiro que
passou a carreira estudando a produtividade de
funcionários no final do séc XIX e inicio do séc XX,
desenvolveu a chamada administração científica
(abordagem para gerir trabalhadores de manufatura em
fábricas).
A Historia da PO

A Primeira Guerra Mundial marcou o inicio da utilização da


PO para ajudar nos esforços da guerra no Reino Unido e
nos Estados Unidos.
Reino Unido: Estabelecimento do Health of Munitions
Commmittee (HMC), comite de saúde dos trabalhadores de
fábrica de munições e equipamentos de guerra em 1915,
para lidar com questões relativas à saúde, segurança e
eficiência dos funcionários.

Estados Unidos: vários psicologos liderados por Robert


Yerkes desenvolveram testes de capacidade mental para
alocar pessoas em trabalhos.
A Historia da PO
Estudos de Hawthorne, conduzidos ao longo de mais de
dez anos:

Antes dos estudos de psicologos americanos se


concentraram quase exclusivamente em questões de
produtividade do funcionário e eficiência organizacional, a
avaliação das aptidões dos funcionários e o design eficiente
do trabalho.
Apesar de os pesquisadores de Harthorne estudarem tais
tópicos, descobriram que seus colegas britânicos já sabiam
que é dificil separar a produtividade do funcionário de
aspectos sociais da vida organizacional.
O estudo de supervisão de grupos de trabalho ajudou a
chamar a atenção ao aspecto organizacional de trabalho –
emposição ao aspecto humano.
A Historia da PO

O mais conhecido estudo de Hawthorne foi a investigação


os efeitos do nível de iluminação, com o objectivo de
identificar o nível de iluminação capaz de otimizar o
desempenho em uma tarefa de manufatura.
Descoberta surpreendente: durante o experimento a
produtividade aumentava e parecia ter pouca relação com
os níveis de iluminação.

Possiveis explicações: O próprio facto de saber que se


está participando de um experimento, o que passou a ser
chamado de efeito Hawthorne; os factores sociais podem
ser mais importantes do que os factores físicos no
desempenho das pessoas no trabalho.
A Historia da PO

II Guerra mundial: estimulou enormemente o campo da PO


em paises de ambos os lados de conflito, com destaque
para os Estados Unidos e o Reino Unido.

Os psicologos se ocupavam de probemas que cobriam o


lado das pessoas quanto o lado organizacional, inclusive a
seleção derecrutas, alocação dos mesmos em diferentes
funções, treinamento, moral, avaliação de desempenho,
desenvolvimento de equipes e design de equipamento.
Nos Estados Unidos foi aprovada a Lei dos Direitos Civis
de 1964, que acionou forças que tiveram um enorme
impacto na maneira como as organizações contratam os
funcionários.
A Historia da PO

A promulgação da Lei dos Americanos Portadores de


Deficiências, em 1990, estendeu a protecção dos
funcionários contra a discriminação a pessoas com
deficiência.

A PO além dos Estados Unidos e do Reino Unido


A PO é praticada e estudada no mundo todo e muitas de
suas descobertas e princípios são provenientes de outros
paises.

Existe um número crescente de programas de


pósgraduação fora desses dois paises.

Outra tendência é pesquisadores de diferentes paises


conduzirem pesquisas interculturais em parceria.
Bibliografia Básica
Spector, P. (2014). Psicologia nas Organizações. São Paulo:
editora Saraiva.
Vala, J. & Monteiro, M. B. (Orgs). (2004). Psicologia social. (6ª
ed.). Lisboa: Gulbenkian.

Zanelli, J. C.; Andrade-Borges, J. E. & Bastos, A. V. B. (Orgs).


(2014). Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil.
PortoAlegre: Artmed.

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