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TEORIAS E

SISTEMAS EM
PSICOLOGIA
Prof.ª Nathalia Lattanzio Martins
EMENTA – 1º BIMESTRE
 Aula 01 - Os Behaviorismos

CARRARA, K.; ZILIO, D. (Orgs) Reflexões históricas e conceituais. Vol


1. 1ª ed. São Paulo: Editora Paradigma, 2016. (Capítulos 1 e 6).
CARRARA, K.; ZILIO, D. (Orgs) Reflexões históricas e conceituais. Vol
2. 1ª ed. São Paulo: Editora Paradigma, 2017. (capítulo 5).

Aula 02 - O Funcionalismo Europeu


SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 9ª ed.
São Paulo: Thomson Learning, 2011. (Capítulo 12).
EMENTA – 1º BIMESTRE
 Aulas 03 e 04 - A Psicanálise

LOUREIRO, I. Luzes e sombras. Freud e o advento da psicanálise. In: JACÓVILELA,


A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs.) História da Psicologia: Rumos e
Percursos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2013. (Capítulo 23).
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 9ª ed. São Paulo:
Thomson Learning, 2011. (Capítulo 14).
DUNKER, C. I. L. Aspectos históricos da psicanálise pós-freudiana. In: JACÓVILELA,
A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs.) História da Psicologia: Rumos e
Percursos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2013. (Capítulo 24).

Aula 05 - A Psicologia Analítica de C. G. Jung


KAYANO, D. Y. Psicologia Analítica ou Junguiana: contexto histórico e conceitos
básicos. In: KAHHALE, E. M. P. (org.) A Diversidade da Psicologia: Uma Construção
Teórica. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2011. (Capítulo 5).
DUNKER, C. I. L. Aspectos históricos da psicanálise pós-freudiana. In: JACÓVILELA,
A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs.) História da Psicologia: Rumos e
1º BIMESTRE
 Aula 01 - Os Behaviorismos
 Apresentar o Behaviorismo Metodológico de Watson e o
Behaviorismo Radical de Skinner.
 Apresentar as bases teóricas e filosóficas das abordagens cognitivo-
comportamentais e o surgimento e evolução destas abordagens.

 Aula 02 - O Funcionalismo Europeu


 Caracterizar a proposta da Psicologia da Gestalt em contraposição
ao pensamento elementarista e associacionista.
 Apresentar os fundadores da Psicologia da Gestalt.
 Caracterizar a natureza da revolta da Gestalt.
1º BIMESTRE
 Aulas 03 e 04 - A Psicanálise
 Caracterizar a proposta freudiana, em termos de seus pressupostos,
concepção de Homem, objeto e método de estudo. - Caracterizar os
desdobramentos da teoria psicanalítica, destacando as escolas de
Anna Freud, Melanie Klein e de D. W. Winnicott.

 Aula 05 - A Psicologia Analítica de C. G. Jung


 Contexto histórico e diferenciação da Psicanálise.
 Conceitos básicos: Inconsciente Coletivo, Arquétipos, o Processo de
Individuação e os Tipos Psicológicos.
BEHAVIORISMO RADICAL DE
SKINNER
 CARRARA, K.; ZILIO, D. (Orgs) Reflexões históricas e conceituais. Vol
1. 1ª ed. São Paulo: Editora Paradigma, 2016. (capítulo 1)
B. F. SKINNER

 Psicólogo behaviorista, inventor e filósofo norte-americano.


 Burrhus Frederic Skinner nasceu em Susquehanna, Pensilvânia, Estados Unidos,
no dia 20 de março de 1904.
 Filho de um advogado e de uma dona de casa desde cedo despertou o interesse
sobre o comportamento dos animais.
 Ingressou no Hamilton College em Nova Iorque, com o objetivo de se tornar
escritor. Em 1926 concluiu o bacharelado em Literatura Inglesa e Línguas
Românicas.
 Durante dois anos se dedicou a escrever, mas concluiu que lhe faltava
habilidades literárias.
 Em 1928, Skinner inscreveu-se no curso de pós-graduação em Psicologia pela
Universidade de Harvard, embora nunca tenha estudado psicologia antes.
Concluiu o mestrado em 1930 e o doutorado em 1931, permanecendo na
Universidade, como pesquisador, até 1936.
B. F. SKINNER
 Nesse mesmo ano, casou-se com Yvonne Blue, com quem teve dois filhos.
 Ainda em 1936 começou a lecionar na Universidade de Minnesota, onde
permaneceu durante nove anos.
 Entre 1945 e 1947 lecionou na Universidade de Indiana, onde se tornou
presidente do Departamento de Psicologia.
 Em 1948 retornou para Harvard como professor titular.
 Burrhus Frederic Skinner escreveu vários livros e centenas de artigos sobre
teoria do comportamento, reforço e teoria da aprendizagem.
 Seu radicalismo ao rejeitar a maioria das teorias no campo da psicologia
levantou diversas polêmicas em seu país. Sua maior crítica foi contra o
pensamento de Sigmund Freud. Skinner acreditava que examinar os motivos
inconscientes de seres humanos era uma perda de tempo, pois a única coisa
que vale investigar é o comportamento. As ideias de impulsos internos com Id,
Ego e Superego, eram vistas como absurdas.
 Burrhus Frederiic Skinner faleceu em Cambridge, Massachusetts, no dia 18
de agosto de 1990.
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS

 Skinner fez contato, durante toda a extensão de sua formação, com amplo

(mas, a um só tempo, seletivo) grupo de autores. Listar as influências


intelectuais que recebeu passaria pela inclusão de Francis Bacon, David Hume,
Ivan Pavlov, William James, Ernst Mach e inúmeros outros, sem que o rol
pudesse algum dia ser considerado completo, já que seus textos revelam um
domínio importante de História, Antropologia, Filosofia, Psicologia, Biologia e
Literatura, passando pelos gregos e por nomes e interesses intelectuais tão
variados quanto os representados por Bronisfaw Malinowski, Ludwig
Wittgenstein, John B. Watson, Charles Darwin e mesmo Johann W. Gõethe e
William Shakespeare. Entretanto, tome-se em conta que sua leitura seletiva é,
aqui, instrumentalmente orientada pela finalidade de construção de uma
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS

 Já nessa época, as objeções de Skinner sinalizam sua segurança em relação à

possibilidade de consolidar sua proposta conceitual em bases que não aceitavam


o apelo a estruturas hipotéticas destinadas à explicação das atividades dos
organismos em suas interações com o ambiente.

 O liame entre filosofia de ciência e ciência é claro o suficiente para garantir

consistência interna entre o que explicar e como fazê-lo. O que explicar não é o
comportamento (no sentido rigoroso de que não propõe uma ciência do
comportamento, mas uma ciência interessada nas relações entre organismo e
ambiente). Todavia, explicar necessita uma sistematização que, embora orientada
filosófica e teoricamente, só pode ser construída e testada empiricamente. Para
tal, o experimento é a escolha típica da Análise do Comportamento skinneriana.
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS

 Consolidar a lógica e as estratégias de desenvolvimento que lhe seriam

correspondentes não constituiu, certamente, uma história linear, razão pela qual
Skinner é recorrente, em toda a sua obra, na discussão de vários conceitos que segue
formulando, incluindo o de comportamento (1938, p. 6 e ss.). Isso se dá não somente
porque o escopo temático é complexo, mas porque a comunidade de analistas se
amplia e há uma crescente retroação discursivo-explicativa sobre os conceitos
emitidos por Skinner. Além disso, e sobretudo, porque ciência não consiste em mero
acúmulo indiscriminado de achados, mas em acúmulo que ora descarta, ora incorpora
novos princípios e resultados empíricos.

 Assim, não há drástica ou grave incoerência, por exemplo, quando nosso autor

pontua inicialmente os conceitos de drive e força do reflexo e, mais tarde,


praticamente os abandone. (p. 24)
OBRA SKINNERIANA – ALGUNS
PRINCÍPIOS:
 (...) a Análise do Comportamento não se constitui pautada pela finalidade de estudar o

comportamento em si (seja como evento, atributo ou, ainda menos, objeto físico que
se aloja nas entranhas de um sistema nervoso complexo), mas o comportamento no
âmbito das relações entre o organismo e seu ambiente.

 Sob esses pressupostos, talvez a pedra angular de sua obra se constitua no processo

de seleção pelas consequências, que para alguns é limitadamente descrito em seu


artigo de 1981. No entanto, ali, com um texto telegráfico, mas correto, Skinner
explicita a essência dos conceitos de contingências de reforçamento (em metáfora
que inclui as quatro operações fundamentais da consequenciação) e de sobrevivência.
(p. 27)
OBRA SKINNERIANA – ALGUNS
PRINCÍPIOS:
 Experimentação é cabalmente a vida científica de Skinner nesse momento

(...) (p.29)

 Sob condições antecedentes (contextuais) específicas, uma resposta é

seguida por alguma consequência. A mudança que suas similares futuras


eventualmente exibem sinaliza o tipo de consequência recebida, dentre
aquelas tipicamente possíveis no quadrante dos procedimentos de
reforçamento positivo e negativo e punição por apresentação de reforço
negativo ou retirada de reforço positivo. (p. 30)
TEORIA DE E. L. THORNDIKE
 CARRARA, K.; ZILIO, D. (Orgs) Reflexões históricas e conceituais. Vol
1. 1ª ed. São Paulo: Editora Paradigma, 2016. (capítulo 5)
E. L. THORNDIKE
 Psicólogo norte-americano.
 Edward Lee Thorndike nasceu em 31 de agosto de 1874, em
Williamsburg, Massachusetts, filho de pastor metodista.
 Inicialmente não gostou do seu primeiro curso de psicologia. Seu
interesse em psicologia cresceu depois de ler o livro
clássico Princípios da Psicologia de William James.
 Um dos aspectos da psicologia que particularmente o fascinava, era
o estudo do aprendizado dos animais.
 Se formou na Universidade Wesleyan em 1895 com um título de
bacharel, Thorndike, em seguida, matriculou-se na Universidade de
Harvard para estudar Inglês e literatura francesa.
E. L. THORNDIKE
 Durante seu primeiro semestre, no entanto, ele fez um curso de
psicologia ministrado por William James e pelo seu segundo trimestre
tinha decidido mudar sua concentração no estudo sobre a psicologia.
Mais tarde, ele se mudou para a Universidade de Columbia, onde
estudou sob a orientação do psicólogo James McKeen Cattell.
 Ganhou seu doutorado em 1898 e assumiu o cargo de Professor
Assistente de Pedagogia na Case Western Reserve University.
 No ano de 1900, Thorndike se casou com Elizabeth Moulton.
 Ingressa como professor de psicologia da Teachers College da
Columbia University, onde ele iria continuar a ensinar para o resto de
sua carreira.
 Faleceu no dia 09 de agosto de 1949.
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS
 Edward Lee Thorndike (1874-1949) mudou radicalmente a visão dos psicólogos

experimentais sobre o estudo do comportamento animal. Por esse motivo é


considerado um psicólogo inovador e até mesmo revolucionário (Chance, 1999;
Dewsbury, 1998; Galef, 1998).

 Os defensores da tese da continuidade (esta teoria afirma que mesmo o corpo passando por mudanças drásticas,
deixando de ser irreconhecível ao que era antes, a identidade permanece através da continuidade do cérebro da pessoa, pois mesmo o corpo

sofrendo mudanças, o cérebro continua o mesmo ) não só travaram um debate com os defensores da tese
da descontinuidade como também se envolveram internamente com duas
estratégias distintas de investigação: a de brutalizar os humanos e a de humanizar
os animais (Bolles, 1979). De um lado, os humanos passaram a ser vistos como
máquinas biológicas, e de outro, os animais passaram a ser dotados de atributos
humanos, como inteligência e senso moral. (p. 115, 116)
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS

 (...) Referindo-se a livros de psicologia animal, Thorndike comentou

que a maioria deles "não nos dá uma psicologia do animal, mas um


panegírico (...) todos têm sido sobre inteligência animal, nunca sobre
estupidez animal" (pp. 1125-1126).Thorndike exemplificou: “Cães
perdem-se centenas de vezes e ninguém percebe ou envia uma
apreciação para uma revista cientifica. Mas suponha que ele
encontre seu caminho do Brooklyn a Yonkers e o fato torna-se
imediatamente uma anedota circulante" (p. 1126).
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS
É chegada a hora de descrever brevemente o estudo experimental dos processos associativos realizado por

Thorndike (1898/1998). Seguimos aqui a descrição que ele chamou de seu método geral e que consistia em

colocar animais privados de alimento - gatos, por exemplo - em uma caixa de onde eles podiam ver o

alimento colocado do lado de fora, e o qual podiam acessar com um ato simples como puxar um laço de

corda, pisar em uma plataforma, pressionar uma alavanca, abrir uma porta e escapar da caixa. Thorndike

registrava o tempo que o animal ficava na caixa até realizar o ato bem sucedido. Esse procedimento era

repetido: o animal era recolocado na caixa após cada ato bem sucedido até que "tivesse formado uma

associação perfeita (...) quando a associação era assim perfeita, o tempo tomado para escapar era,

naturalmente, praticamente constante e muito curto" (p. 1127).

A associação perfeita à qual Thorndike (1898/1998) se referia ocorre "entre a impressão sensorial do interior

da caixa e o impulso que conduz ao movimento bem- sucedido" (p. 1127). Thorndike (1898/1971) esclareceu:

O ponto de partida para a formação de qualquer associação é, nesses casos, o conjunto de atividades instintivas
que são provocadas quando um gato não se sente bem na caixa, seja por causa do aprisionamento, seja por
causa de um desejo de alimento. Esse mal estar, mais a impressão dos sentidos de uma parede circundante e
limitadora, se exprime, antes de qualquer experiência, por gritos, patadas, mordidas. Entre esses movimentos, um
é escolhido pelo seu êxito. (p. 667) (p. 120)
LEI DO EFEITO:
 Thorndike (1911/1971) definiu um estado satisfatório e um estado de desconforto em

termos de comportamento, o primeiro como um estado de coisas que o animal não


só nada faz para evitar, como também tenta alcançar e preservar; o segundo como
um estado de coisas que o animal tenta não só evitar, como também abandonar.
Thorndike comentou que, embora estados satisfatórios e estados de desconforto
sejam, respectivamente, favoráveis e desfavoráveis à vida das espécies e das
pessoas, não são sinônimos. De fato, condições que não favorecem a vida podem ser
satisfatórias (por exemplo, drogas, álcool, cigarro, sedentarismo, açúcar, excessos
alimentares etc) e condições que favorecem a vida podem não ser satisfatórias (por
exemplo, uma vida dedicada exclusivamente à aquisição de bens materiais). (p. 122)
 Thorndike (1898/1998) recusou a estratégia de humanizar os animais e

acolheu a de brutalizar os humanos. Aceitou que os humanos são máquinas


biológicas; que "a consciência humana com suas ciências, artes e religiões
surgiu dos processos associativos" (p. 1125); que desses processos surgiram
a "imaginação, a memória, a abstração, a generalização, julgamento, a
inferência"(p. 1125); que "a consciência tem se modificado não somente em
quantidade, mas também em qualidade" (p. 1125). (p. 122)
THORNDIKE E A EUGENIA
 A filosofia social de Thorndike (1914) tem fundamento na eugenia. Em sua contribuição para

uma coletânea de textos sobre o assunto, Thorndike afirmou que os seres humanos diferem
por natureza. Ele reconheceu que as circunstâncias ambientais, bem como a maturidade,
desempenhavam algum papel no campo das diferenças individuais, mas atribuiu-lhes pouca
importância. Boa parte de sua argumentação baseou-se em evidências experimentais,
mostrando que os efeitos da equalização de oportunidade, bem como de treinamento, são
insignificantes no sentido de atenuar as diferenças individuais.

 Ele não só estimulou a reprodução dos "mais talentosos", como também desestimulou a

reprodução dos "intelectualmente inferiores". Thorndike com a palavra:

Pela seleção de linhagens em ambientes adequados podemos ter um mundo em que todos os
homens alcançarão igualmente o topo em vez dos dez por cento atuais. Um serviço seguro do
capaz e bom é procriar e cuidar da prole e outro serviço seguro (quase o único) que o inferior e
vicioso pode realizar é impedir que seus genes sobrevivam. (Tomlinson, 1997, p. 370) (P.
BEHAVIORISMO
METODOLÓGICO DE WATSON
 CARRARA, K.; ZILIO, D. (Orgs) Reflexões históricas e conceituais. Vol 1. 1ª ed. São Paulo:
Editora Paradigma, 2016. (Capítulo 6)
J. B. WATSON
 Psicólogo norte-americano.
 John Broadus Watson nasceu em Greenville, Carolina do Sul, Estados
Unidos, no dia 9 de janeiro de 1878.
 Cresceu em uma família religiosa, mas na idade adulta se opôs
abertamente à religião.
 Com 16 anos ingressou na Furman University e depois de cinco anos
recebeu o grau de mestre em filosofia.
 Em seguida, Watson matriculou-se na Universidade de Chicago, onde
estudou Psicologia e começou a desenvolver suas teorias baseadas
no “Behaviorismo”.
 Em 1903 apresentou sua tese sobre a relação entre o
comportamento dos ratos de laboratório e o sistema nervoso central.
Recebeu o PhD em Neuropsicologia, permanecendo na universidade
de Chicago como pesquisador.
J. B. WATSON
 Em 1908 passou a lecionar Psicologia Experimental e Comparada na
John Hopkins, de Baltimore, onde instalou um laboratório de Psicologia
Animal.
 Em 1913, John Watson publicou um artigo sobre o “Behaviorismo”,
intitulado “A Psicologia Como o Behaviorista a Vê”, conquistando grande
notoriedade. (As bases da nova corrente da Psicologia, eram contrárias à
linha de pensamento de Freud, que ele considerava fantasiosa. Watson
desprezou também a hereditariedade como a responsável pelos diversos
tipos de personalidade, que atribuía exclusivamente à experiência e ao
condicionamento do comportamento.)
 Em 1914, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, Watson interrompeu
suas atividades profissionais e ingressou no exército, quando participou
de uma campanha militar na França.
 Em 1915 foi nomeado presidente da Associação Psicológica Americana
(APA). Em 1918, retornou às suas investigações, estudando a primeira
infância.
J. B. WATSON
 Em 1920, foi convidado a deixar a Universidade após vir a público o
seu relacionamento com sua assistente Rosalie Rayner, enquanto
estava casado com sua primeira esposa.
 Após sua demissão, John Watson ingressou em uma agência de
publicidade, chegando ao cargo de presidente da J. Walter
Thompson, uma das maiores empresas de publicidade dos Estados
Unidos.
 Após sua aposentadoria, em 1945, John Watson passou a levar uma
vida reclusa em uma fazenda em Connecticut.
 Pouco antes de sua morte ele queimou grande parte de seus
documentos e escritos inéditos.
 John Watson faleceu em Nova Iorque, Estados Unidos, no dia 25 de
setembro de 1958.
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS

 Korn, Davis e Davis (1991), entrevistando historiadores da psicologia e

chefes de departamento de universidades estadunidenses, encontraram


indicações de que Watson estaria entre os cinco psicólogos mais
importantes de toda a história da psicologia e, a partir de uma revisão de
citações em periódicos acadêmicos, citações em livros texto de psicologia e
mais de 1700 entrevistas com psicólogos, Haggblom et al. (2002) elencaram
Watson na 17ª posição entre os psicólogos mais importantes de todo o
século 20 (ver também Tortosa, Pérez-Delgado, Carbonell, & López-Latorre,
1991). Hoje, dificilmente alguém conseguirá encontrar um livro de história da
psicologia mundial que não dedique algumas páginas a apresentar o
behaviorismo clássico de Watson. (p.133)
 (...) Em 1903, Watson defende sua tese de doutorado na qual avalia a relação entre o
desenvolvimento neurológico de ratos brancos e a aprendizagem associativa
(Watson, 1903).
 (...) Durante os anos como professor assistente em Chicago, Watson estuda
exclusivamente O comportamento animal
 Estudando animais, Watson encontrou respostas cientificamente consistentes para
perguntas similares àquelas que alguns dos psicólogos introspeccionistas faziam,
mas sem precisar recorrer à introspecção ou ao subjetivismo. Em sua autobiografia,
ele descreve o efeito desses estudos sobre ele: "cada vez mais eu me perguntava
'será que, observando seu comportamento [dos animais], não posso descobrir tudo
aquilo que meus colegas estão descobrindo quando usam [sujeitos humanos]?”
 Sua confiança na possibilidade de se produzir uma ciência objetiva do
comportamento (Buckley, 1989) e seu conhecimento de diversas críticas publicadas
a respeito da psicologia introspeccionista, incentivaram Watson (1913) a publicar o
artigo Psychology as the Behaviorist Views It, que ficou conhecido como o manifesto
behaviorista (Woodworth, 1959). O manifesto foi, na verdade, a transcrição editada
da primeira de uma série de conferências ministrada na Columbia University poucos
meses antes da sua publicação. Nele, Watson defendeu uma psicologia objetiva,
empiricista (todo conhecimento provém unicamente da experiência), antimentalista, que negava a
introspecção como método confiável para produção de conhecimento e que seria
parte das ciências naturais. A publicação do manifesto, em 1913, tem sido indicada
como o marco histórico do surgimento do behaviorismo (2). Com ele Watson tornou
públicas as bases de sua proposta para uma psicologia científica. (p. 135, 136)
 As proposições apresentadas no artigo de 1913 eram, entretanto,
essencialmente especulativas, de modo que ainda era necessária a
demonstração de que elas eram viáveis na produção de uma psicologia
científica. À época, Watson já havia desenvolvido com êxito pesquisas
comportamentais com animais não humanos, demonstrando que descrições
objetivas de preparações experimentais poderiam explicar aspectos complexos
do comportamento animal.
 Na tentativa de validar sua teoria, Watson se engaja em uma série de estudos
envolvendo o comportamento humano. (...) Watson iniciou também uma série de
estudos sobre desenvolvimento infantil na Phipps Clinic da Johns Hopkins (e.g.,
Watson & Morgan, 1917) que culminou na publicação do famoso estudo do
"pequeno Albert" sobre condicionamento de emoções (Watson & Rayner, 1920).
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mais especificamente entre
1917 e 1918, Watson trabalhou como major na divisão de inteligência do U.5.
Army Signal Corps, onde desenvolveu atividades de recrutamento de pessoas e
treinamento de pessoal (Buckley, 1989; Woodworth, 1959). (...) Esse conjunto de
pesquisas não foi suficiente para fundamentar inequivocamente seu projeto
científico, mas Watson não teve a oportunidade de desenvolver melhor o suporte
empírico de sua teoria em razão de problemas pessoais. (p. 136, 137)
 No ano de 1920, a então esposa de Watson, Mary Ickes, descobre que sue marido
está tendo um caso com uma de suas alunas, Rosalie Rayner (1898-1935). Rayner,
além de uma aluna da universidade, era neta de um dos maiores benfeitores da
Johns Hopkins University, e a esposa de Watson era irmã de um advogado e
político conhecido, que viria a ser secretário do interior no governo Roosevelt. O
potencial escândalo que decorreria da publicização do caso levou Frank Goodnow
(1859- 1939), o então presidente da Johns Hopkins University, a pedir, em meados
de 1920, que Watson se demitisse (Buckley, 1989, 1994). Watson deixa então a
Johns Hopkins University, e em novembro de 1920, o caso de seu divórcio (e
traição) tornam-se públicos, de modo que Watson não consegue novas posições
para trabalho integral no meio acadêmico. (p. 137)
 Watson recorre, então, a um antigo conhecido, William I. Thomas (1863-1947), que
conseguiu contatos na J. Walter Thompson, uma das maiores multinacionais
americanas da área do marketing, o que garantiu sua nova carreira profissional.
Watson trabalhou em diversos setores da J. Walter Thompson e tornou-se vice-
presidente da empresa em 1924.
 Em 1935, após a morte de Rayner, Watson deixa a J. Walter Thompson e ingressa
na William Esty Company, outra empresa de publicidade, de onde saiu apenas
para se aposentar em 1945.
 Apesar do distanciamento da academia e, em especial, a despeito de não ter
produzido novos dados que sustentassem suas proposições teóricas, foi
depois de sair da Johns Hopkins University que Watson escreveu a maior
parte dos seus textos sobre behaviorismo.
 As publicações de Watson após 1920 tornaram-se, entretanto, cada vez mais
polêmicas e menos baseadas em dados, especialmente aquelas
direcionadas ao público leigo (Logue, 1994). Watson defendeu, por exemplo,
que os pais não deveriam mimar seus filhos para não criar adultos manhosos
e dependentes, que o contato físico entre mãe e criança deveria se resumir
a procedimentos de higiene, apertos de mão, tapinhas nas costas e, em
casos extremos, um beijo na testa antes de dormir (Watson & Watson, 1928).
Afirmou também que a vida no mundo dos negócios tornaria a mulher inapta
para o casamento, que seria tolo por parte dela gastar seus melhores anos
no escritório "afiando" seu cérebro quando essas habilidades seriam pouco
úteis em sua vida emocional (Watson, 1927); e que antes da década de 1940,
"homens e mulheres perceberão que (...) o casamento é obsoleto e
desperdiça nossos poucos anos de felicidade" (Watson, 1929b, p. 106).
Alegações como essas foram frequentemente apresentadas por Watson
 Em sua autobiografia, Watson admitiu que sua escrita foi programada para impactar seus

leitores, e afirmou se arrepender de escrever seu livro sobre criação de filhos porque
"não sabia o suficiente para escrever o livro que eu queria escrever" (Watson, 1936, p.
280).

 O estilo provocativo de Watson, a falta de fundamentação empírica para muitas de suas

proposições (especialmente aquelas feitas no período pós 1920) e o radicalismo com que
foram propostos seus compromissos teóricos acabaram produzindo mais críticas do que
acolhimento na comunidade acadêmica (Samelson, 1981). O'Donnell (1985) sugere que
"na década de 1920, Watson manteve apenas um punhado de seguidores (...) “

 Ainda que o behaviorismo clássico de Watson não tenha se consolidado como forma de

behaviorismo, sua influência na psicologia americana é inquestionável (...) (p. 139)


O BEHAVIRISMO CLASSICO E O ESTUDO DO
COMPORTAMENTO
 O behaviorismo clássico, portanto, é uma proposta de psicologia fisicalista,
antimentalista, que assume o comportamento como objeto legítimo de
estudo e a previsão e o controle desse comportamento como objetivos. Para
este behaviorismo tornar-se completo, deveríamos compreender como os
organismos se adaptam ao seu ambiente - como formam reflexos e hábitos -
e só conseguiríamos fazer isso cientificamente adotando métodos objetivos
de estudo, que permitissem acordo entre observadores.

Características mais marcantes:


 Psicologia objetiva

 Abandono da introspecção como método

 Comportamento é essencialmente reflexo

 Previsão e controle de objetivos práticos (P. 150)


O BEHAVIRISMO CLASSICO E O ESTUDO DO
COMPORTAMENTO
 Como não poderia deixar de ser, em uma ciência behaviorista, o objeto de
estudo que Watson propõe é o comportamento. Em Behoviorism (Watson,
1930) ele afirma que "o objeto de estudo da psicologia humana é o
comportamento do ser humano" (p. 2, itálico do original), e uma ciência que
tem o comportamento como objeto tem como tarefa principal identificar as
leis que determinam o funcionamento desse objeto: "como uma ciência, a
psicologia coloca diante de si a tarefa de revelar os fatores envolvidos no
desenvolvimento e regulação do comportamento humano, desde sua infância
até a velhice" (Watson, 1917, p. 336).

 Watson incluiu na noção de comportamento também os eventos internos e


privados:

 Por que não fazemos do que podemos observar o real campo da psicologia? Vamos nos
limitar às coisas que podemos observar, e formular leis sobre apenas essas coisas.
Agora, o que podemos observar? Bem, podemos observar comportamento - aquilo que
o organismo faz ou fala. E permita-me propor o ponto fundamental de uma só vez: que
falar é fazer - isso é, comportar-se. Falar abertamente ou para nós mesmos
(pensamento) é apenas um tipo de comportamento tão objetivo quanto beisebol.
(Watson, 1930, p. 6) (P. 140)
A METAFÍSICA DO BEHAVIORISMO
CLÁSSICO
O antimentalismo watsoniano, que consistia na negação da mente e da
consciência como objetos de estudo, é uma das características mais
ressaltadas do seu sistema teórico (e.g., Bergmann, 1956). Skinner (1959)
sugere que uma das principais contribuições de Watson foi aplicar a
psicologia humana as noções de que somos animais, e que nossos
processos mentais podem ser explicados sem recorrer à mente enquanto
entidade. No manifesto, Watson apresenta sua crítica: "parece ter chegado a
hora em que a psicologia deve descartar toda referência à consciência; de
deixar de se iludir pensando que está fazendo dos estados mentais o objeto
de observação" (Watson, 1913, p. 163) e em The Battleof Behaviorism ele
complementa:

Nunca houve uma descoberta na psicologia subjetiva; houve


apenas especulação medieval. O behaviorista inicia sua
formulação do problema da psicologia varrendo de lado toda
concepção medieval. O behaviorista retira do seu vocabulário
científico todos os temos subjetivos como sensação,
percepção, imagem, desejo, propósito, e mesmo pensamento e
É importante notar, entretanto, que "descartar" ou "abandonar" termos

subjetivos não significa que os processos aos quais tais palavras se referem
foram ignorados. É o caráter mental e cientificamente inacessível deles que
é questionado. Watson inclui em seus textos explicações sobre as emoções,
o pensamento, a imaginação, o "planejamento mental", ideação suicida,
desejos sexuais e outros. (p. 142)
O FUNCIONALISMO EUROPEU
 SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 9ª ed.
São Paulo: Thomson Learning, 2011. (Capítulo 12).
A REVOLTA DA GESTALT
 Mais ou menos na mesma época em que a revolução behaviorista aglutinava forças nos Estados Unidos, a

revolução da Gestalt tomava conta da psicologia na Alemanha. Essa revolução consistia em mais um
protesto contra a psicologia wundtiana e viria mais tarde a se tornar um testemunho das ideias de Wundt,
como fonte de inspiração para o surgimento de novas visões, e como base para o lançamento de novos
sistemas de psicologia.

 A psicanálise de Freud já completava uma década. Embora o movimento dos psicólogos da Gestalt contra

a posição de Wundt ocorresse concomitantemente ao surgimento do behaviorismo nos Estados Unidos,


os dois movimentos foram totalmente independentes.

 Os psicólogos da Gestalt também contestavam o fato de os behavioristas não aceitarem a validade da

introspecção e descartarem qualquer reconhecimento da consciência. Koffka acusava de insensato o


desenvolvimento de uma psicologia sem o conceito de consciência, como faziam os behavioristas, porque
significava que a psicologia era pouco mais do que uma coleção de pesquisas com animais. ( p. 276)

 As diferenças entre a psicologia da Gestalt e o behaviorismo logo ficaram evidentes. Os psicólogos da

Gestalt admitiam o valor da consciência, embora criticassem a tentativa de reduzi-la a elementos ou


átomos. Os psicólogos behavioristas recusavam-se a reconhecer o valor do conceito de consciência na
psicologia científica. (p. 260, 261)
MAX WERTHEIMER (1880-1943)

 Max Wertheimer nasceu em Praga (Republica Checa) e frequentou as escolas

locais até completar 18 anos. Estudou direito na University of Prague, mudou sua
graduação para filosofia, participou das aulas de Ehrenfels e, então, seguiu para
University of Berlin para prosseguir o estudo de filosofia e psicologia. Obteve o
doutorado, em 1904, pela University of Würzburg, sob a orientação de Oswald
Külpe. Seguiu para a University of Frankfurt para lecionar e realizar pesquisas,
obtendo uma posição acadêmica em 1929. Durante a Primeira Guerra Mundial,
realizou pesquisas militares com os aparelhos de escuta dos submarinos e dos
fortes localizados nas regiões portuárias.

 Na década de 1920, na University of Berlin, Wertheimer desempenhou alguns de

seus trabalhos mais produtivos para o desenvolvimento da psicologia da Gestalt.


MAX WERTHEIMER (1880-1943)
Em 1921 Wertheimer, Koffka e Kohler, assistidos por Kurt Goldstein e

Hans Gruhle, fundaram o periódico Psychological Research, que se tornou a


publicação oficial da escola de pensamento da Gestalt. O governo nazista
suspendeu sua publicação em 1938, mas ela foi retomada após a guerra, em
1949.

Wertheimer fazia parte do primeiro grupo de estudiosos a fugir da

Alemanha nazista para os Estados Unidos, chegando a Nova York em 1933.


Associou-se à New School for Social Research, onde permaneceu até sua
morte, 10 anos mais tarde. Embora os anos que passou nos ESTADOS Unidos
tivessem sido produtivos, teve dificuldade em se adaptar a uma nova língua
e cultura.
KURT KOFFKA (1886-1941)
 Kurt Koffka, nascido em Berlim, foi o mais criativo entre os fundadores da psicologia
da Gestalt. Interessado em ciência e filosofia, frequentou a University of Berlin.
Estudou psicologia com Carl Stumpf, obtendo o Ph.D. em 1909. No ano seguinte,
começou a longa e frutífera relação com Wertheimer e Kohler, na University of
Frankfurt.
 Depois da guerra, percebendo que os psicólogos norte-americanos estavam tomando
conhecimento dos desenvolvimentos da psicologia da Gestalt, na Alemanha, Koffka
escreveu um artigo para a revista norte-americana Psychological Bulletin intitulado
"Percepção: uma introdução à teoria da Gestalt" ["Perception: an introduction to the
Gestalt-Theorie"] (Koffka, 1922). Apresentou os conceitos básicos da psicologia da
Gestalt, acompanhados dos resultados e das consequências de várias pesquisas.
 Em 1921, Koffka publicou O desenvolvimento da mente [Thegrowth efthe mind], um
livro a respeito da psicologia do desenvolvimento infantil, que teve sucesso na
Alemanha e nos Estados Unidos. Koffka lecionou como professor visitante na
Cornell University e na University of Wisconsin, e, em 1927, foi indicado para
lecionar na Smith College, em Northampton, Massachusetts, onde permaneceu até a
morte, em 1941. Em 1935, publicou Princípios da psicologia Gestalt [Principies ef
Gestalt psychology] , obra de difícil leitura que, portanto, não se tornou a abordagem
definitiva da psicologia da Gestalt, contrariando as expectativas do autor. (p.265)
WOLFGANG KÕHLER (1887-1967)
 Wolfgang Kohler foi considerado o mais prolífico promotor do movimento da Gestalt (ver
Mandler, 2007). Seus livros, escritos com cuidado e precisão, tornaram-se trabalhos-
padrão na psicologia da Gestalt. Os estudos de física realizados com Max Planck
convenceram Kohler de que a psicologia devia aliar-se à física e que as Gestalten
(formas ou padrões) ocorriam não apenas na física, mas também na psicologia.
 Nascido na Estônia, Kõhler estava com 5 anos quando a família se mudou para o norte
da Alemanha. Estudou em universidades em Tübingen, Bonn e Berlim, e doutorou-se
orientado por Stumpf, na University of Berlin, em 1909. Seguiu para a University of
Frankfurt, chegando pouco tempo antes de Wertheimer.
 Em 1913, a convite da Academia de Ciência da Prússia, viajou para o Tenerife, nas ilhas
Canárias, próximo à costa noroeste da África, para estudar os chimpanzés. Seis meses
depois da sua chegada, começou a Primeira Guerra Mundial, e Kõhler informou à
Alemanha não ter condições de retornar (outros cidadãos alemães conseguiram voltar
ao país durante a guerra).
 Um psicólogo chegou a insinuar com base na sua interpretação idiossincrática dos
dados históricos que Kõhler talvez fosse um espião alemão e que o local de pesquisa
dele não passava de um disfarce para as atividades de espionagem (Ley, 1990).
Acusaram-no também de transmitir informações sobre os movimentos das frotas aliadas
por meio de um potente rádio transmissor escondido no andar de cima de sua casa. Em
2006, um psicólogo norte-americano visitou a casa que estava "situada em uma colina
com vista para o oceano [e] realmente tinha uma boa visibilidade de uma importante
porção do Atlântico. Se Kõhler estava operando um transmissor secreto, este teria sido
um local ideal para fazê-lo"
WOLFGANG KÕHLER (1887-1967)
 Seja como espião ou como um cientista desamparado por causa da guerra, Kõhler passou os
sete anos seguintes estudando o comportamento dos chimpanzés. Registrou o trabalho no
clássico volume A mentalidade dos macacos [The mentality efthe apes] (1917), lançado em
segunda edição em 1924 e traduzido para o inglês e o francês. Embora no começo
considerasse interessante a pesquisa com os chimpanzés, logo se cansou de trabalhar com
os animais, e declarou: "Dois anos observando macacos todos os dias; qualquer um acaba se
transformando em um 'chimpanzoide' e não consegue mais perceber facilmente qualquer
característica do animal“.
 No ano letivo de 1925-1926, Kõhler lecionou na Harvard University e na Clark University, onde
também ensinou os estudantes de pós-graduação a dançarem o tango. Em 1929, publicou
Psicologia da Gestalt [Gestalt psychology], uma descrição completa do movimento da
Gestalt.
 Deixou a Alemanha nazista em 1935 por causa de divergências com o governo. Depois de
criticar o regime em suas aulas, uma gangue de assassinos nazistas invadiu a classe. As
ameaças não o impediram de continuar correndo riscos que facilmente o teriam-no levado à
sentença de morte. Motivado pela demissão dos professores judeus das universidades
alemãs, escreveu uma carta corajosa criticando o nazismo, e enviou-a para um jornal de
Berlim. À tarde, a carta foi publicada, e ele e alguns amigos permaneceram em casa,
aguardando a Gestapo para prendê-lo; mas a temida batida na porta jamais ocorreu.
 Um historiador contemporâneo comentou que Kõhler foi o único psicólogo não judeu na
Alemanha a protestar publicamente contra as demissões dos intelectuais judeus. (...)
 Em 1956, recebeu o Prêmio de Destaque pela Contribuição Científica da APA, órgão que, em
OS ESTUDOS DA GESTALT SOBRE A APRENDIZAGEM:
INSIGHT E A MENTALIDADE DOS MACACOS
 Para Kõhler, esses estudos e outros similares proporcionavam evidências do

insight, a espontânea e aparente apreensão ou compreensão das relações.


Sultão finalmente obteve o insight do problema depois de várias tentativas,
assimilando as relações entre as caixas e a banana pendurada sobre a sua
cabeça. A palavra em alemão que Kõhler usou para descrever esse
fenômeno foi Einsicht, traduzida para o inglês como insight ou compreensão.
"Não tem nenhum condicionamento acontecendo", ele escreveu; ao
contrário, depois de determinado ponto, o animal entende o que está
ocorrendo, e então, o comportamento resultante é, logicamente, perfeito
(apud Ley, 1990, p. 182). (p. 273)
Certa vez, Sultão de algum modo encorajou Claus a subir em uma árvore
até o topo e o menino se recusava a descer, apesar das ordens severas de
seu pai. Quando Claus finalmente desceu, Kõhler o agarrou, abaixou seus
shorts, e bateu nele. Logo depois disso, Sultão agarrou Kõhler e abaixou
suas calças. Cerca de 70 anos depois, Claus contou essa história para um
entrevistador, com os olhos brilhando de prazer.

Kõhler acreditava que o insight e as habilidades para resolver problemas


demonstrados pelos chimpanzés eram diferentes da aprendizagem por
ensaio-e-erro descrita por Thorndike. Kõhler criticava o trabalho de
Thorndike, alegando que as condições experimentais eram artificiais e que
permitiam a demonstração apenas de comportamentos aleatórios dos
animais. E afirmou que os gatos das caixas-problema de Thorndike não
exploravam todo o mecanismo que os libertava (...)

Do mesmo modo, um animal no labirinto não pode ver todo o padrão ou o
formato, mas apenas o corredor que encontra. Portanto, os animais não têm
muita opção a não ser arriscar um caminho por vez. (p. 273)
GESTALT TERAPIA

 Abre mão do método interpretativo


 Está interessada no que o sujeito sente no aqui-agora
 Seus pressupostos filosóficos: humanismo, existencialismo,
fenomenologia
 Predominantemente trabalha com o aqui-agora, mas retoma o
passado quando se encontra “situações inacabadas” que se repetem
no presente
 Método fenomenológico: não trabalha com o porque, mas com o
como. Elimina a explicação ou qualquer tipo de interpretação. Como
é esse processo, como o cliente se sente, o que é e como é aquela
situação.
PSICANÁLISE
 LOUREIRO, I. Luzes e sombras. Freud e o advento da psicanálise. (capítulo 23)
SIGMUND SCHLOMO FREUD
 Nasceu em Freiberg, na Morávia, então pertencente ao Império Austríaco, no dia
6 de maio de 1856.
 Filho de Jacob Freud, pequeno comerciante, e de Amalie Nathanson, de origem
judaica, foi o primogênito de sete irmãos.
 Aos quatro anos de idade, sua família mudou-se para Viena, onde os judeus
tinham melhor aceitação social e melhores perspectivas econômicas.
 Desde pequeno, Freud mostrou-se brilhante aluno.
 Aos 17 anos ingressou na Universidade de Viena no curso de Medicina.
 Concluiu o curso em 1881, e resolveu tornar-se um clínico especializado em
neurologia.
 Em abril de 1882, Freud conheceu Martha Bernays. Em 17 de junho do mesmo
ano, eles ficaram noivos.
 Em 1884, entrou em contato com o médico Josef Breuer que havia curado
sintomas graves de histeria através do sono hipnótico, quando o paciente
conseguia se recordar das circunstâncias que deram origem à sua moléstia.
Chamado de “método catártico” constituiu o ponto de partida da psicanálise.
SIGMUND SCHLOMO FREUD
 Em 1885, ganhou uma bolsa para um período de especialização em Paris com o
neurologista francês J. M. Charcot.
 De volta a Viena, continuou suas experiências com Breuer. Publicou, junto com
Breuer, Estudos sobre a Histeria (1895), que marcou o início de suas investigações
psicanalíticas.
 Em pouco tempo, Freud conseguiu dar um passo decisivo e original que abriu
perspectivas para o desenvolvimento da psicanálise ao abandonar a hipnose,
substituindo-a pelo método das livres associações.
 Após quatro anos de noivado, no dia 14 de setembro de 1886, Freud e Martha se
casaram. Eles tiveram seis filhos: Mathilde, Jean-Martins, Oliver, Ernest, Sophfie e
Anna.
 Em 1906, a ele juntou-se Adler, Jung, Jones e Stekel, que em 1908 se reuniram no
primeiro Congresso Internacional de Psicanálise, em Salzburg.
 O primeiro sinal de aceitação da Psicanálise, no meio acadêmico, surgiu em 1909,
quando foi convidado a dar conferências nos EUA, na Clark University, em Worcester.
 Em 1910, por ocasião do segundo congresso internacional de psicanálise realizado
em Nuremberg, o grupo fundou a Associação Psicanalítica Internacional que
SIGMUND SCHLOMO FREUD
 Em 1838, quando a Áustria foi anexada à Alemanha nazista, Freud se
refugiou na Inglaterra, onde já se encontrava parte de sua família.
 Em 1923, já doente, Freud passou pela primeira cirurgia para retirar
um tumor no palato. Passou a ter dificuldades para falar, sentia dores
e desconforto. Seus últimos anos de vida coincidiram com a
expansão do nazismo na Europa.
 Inicialmente, porém, ele rejeitou o convite para instalar-se no Reino
Unido e continuou em Viena. Em 1938, quando os nazistas tomaram
Viena, Freud, de origem judia, teve seus bens confiscados e sua
biblioteca queimada. Com o agravamento da pressão nazista, porém,
e graças à ajuda financeira de Maria Bonaparte, Freud mudou-se para
Londres, onde foi obrigado a se refugiar.
 Sigmund Freud morreu em Londres, Inglaterra, no dia 23 de setembro
de 1939.
O INÍCIO DE TUDO…
CHARCOT (1825- 1893)

André Brouillet (1887) - Universidade Descartes de


HISTERIA
 Em resumo, a demonstração funcionava mais ou menos da seguinte forma:

• Charcot selecionava um paciente histérico sintomático;

• Ele colocava o paciente em transe/estado hipnótico;

• Enviava comandos para remover o sintoma;

• O sintoma era removido;

• O paciente era retirado do transe e não apresentava mais o sintoma de quando chegou.

 Freud viu na hipnose um grande meio para se estudar e acessar o inconsciente humano, além de uma
poderosa técnica de cura. Sobre este período de sua carreira, Ana Bock e outros (1999) apontam:
 “Começou, então, a clinicar, atendendo pessoas acometidas de ‘problemas nervosos’. Obteve, ao final
da residência médica, uma bolsa de estudo para Paris, onde trabalhou com Jean Charcot, psiquiatra
francês que tratava as histerias com hipnose. Em 1886, retornou a Viena e voltou a clinicar, e seu
principal instrumento de trabalho na eliminação dos sintomas dos distúrbios nervosos passou a ser a
sugestão hipnótica”
 (BOCK et al., 1999, pp. 70-71)
 É importante dizer que o próprio Freud vai abandonar o método hipnótico com o avanço de
seus trabalhos, ao passo em que começa a notar que nem todas as pessoas conseguiam ser
hipnotizadas, que os sintomas removidos reapareciam depois de um tempo e também por
conhecer Joseph Breuer.
BREUER (1842-1925)
 Anna O – Paciente 0 da Psicanálise

 Foi pelo tratamento dela que Breuer começou a fazer alguns experimentos
terapêuticos que futuramente fizeram construir aquilo que chamamos de
psicanálise/inconsciente.
 Anna, 21 anos, manifesta perturbações físicas e comportamentais:
paralesias de braços e pernas, alteração na visão, dificuldade de manter
cabeça erguida, tosse nervosa intensa, repugnância por alimentos (hoje
chamada de anorexia), hidrofobia - impossibilidade de beber agua por
semanas, redução da fala (havia épocas que parava de falar sua língua
materna e só conseguia falar e se expressar em inglês), perda parcial da
conscs, alucinações, alteração total da personalidade (uma pessoa q era de
um jeito e passou a se expressar de um jeito completamente diferente).
 Nessa doença a pessoa experimenta vários sintomas físicos, mas esses
sintomas não possuem uma causalidade orgânica.
 Hipnose

 Cura pela fala

 “Os histéricos sofrem de reminiscências” Freud

 Associação livre,

 Sonhos,

 Chistes,

 Atos falhos.
LUZES E SOMBRAS. FREUD E O ADVENTO DA
PSICANÁLISE
 (...) Freud observa tais fenômenos em seus pacientes, amigos e familiares,
mas também, e talvez primeiramente, em si mesmo. Basta ler sua
correspondência com WILHELM FLIESS (1858-1928) para atestar o cuidado
com que Freud se dedicava à observação e investigação dos próprios
processos psíquicos; com abundância de detalhes, ele descreve seus
sonhos, atos falhos e lembranças infantis, além das indisposições físicas,
variações de humor e inibições intelectuais. Longe de um simples deleite em
registrar as oscilações de sua “meteorologia interna”, pode-se ver na auto-
análise de Freud a tentativa de investigação sistemática (freqüentemente
dolorosa) de sua própria vida psíquica, com o intuito de extrair indícios que,
somados a outros, pudessem contribuir para fazer avançar OU consolidar
alguma formulação teórica em vias de elaboração.
 Tomemos, por exemplo, o caso dos sonhos. É sobretudo com base na
investigação de seus próprios sonhos - analisados sistematicamente a partir
de 1895 - que Freud escreve A interpretação dos sonhos (1900), um dos
principais livros de sua extensa obra, no qual traz a público pela primeira vez
um amplo modelo sobre a estrutura e o funcionamento da psique humana em
geral. (p. 372)
OS PRIMÓRDIOS DA TEORIA E DA TÉCNICA
PSICANALÍTICAS

 Assim, na última década do século XIX, Freud é um homem já maduro quando propõe
as noções que constituirão os alicerces fundamentais da psicanálise; inconsciente,
repressão, sexualidade infantil, relação entre sintomas neuróticos e fenômenos da vida
psíquica "normal", diretrizes básicas do tratamento psicanalítico - tudo isso se encontra
razoavelmente esboçado por volta de 1900.
 Os Estudos sobre a histeria (1895), publicação em co-autoria com o JOSEPH
BREVER, trazem relatos sobre vários tratamentos conduzidos pelos autores, em geral
com pacientes histéricas atormentadas por múltiplos sintomas, inclusive corporais
(como paralisias). Deduz-se que tais sintomas são formados a partir da repressão de
certas lembranças que, não podendo ser integradas na história dessas mulheres,
"retornam" no corpo, simbolizadas nos e pelos sintomas. (p. 376)
 Freud, porém, tinha algumas ressalvas em relação ao uso da hipnose: nem todos os
pacientes eram hipnotizáveis e a eliminação dos sintomas revelara-se apenas provisória
ou parcial. Mas o principal motivo que o leva a abandonar definitivamente esse método é
o fato de considerá-lo um meio artificial de neutralizar a resistência. Ou seja, a hipnose
encobre a existência de uma força/barreira que ativamente impede o acesso aos
conteúdos reprimidos. Para Freud, é preciso encontrar um meio que permita a dissolução
gradual das resistências, de maneira a que o conteúdo reprimido possa ir se tornando
consciente sem suscitar o mesmo desprazer ou angústia que motivou sua repressão.
(p.377)
PRIMEIRA TÓPICA
 Esse primeiro grande modelo de aparelho psíquico (ou "primeira tópica")
vinha sendo delineado ao longo dos anos 1890, mas só no capítulo VII de A
interpretação dos sonhos foi oficialmente formalizado. É composto por dois
grandes sistemas - inconsciente e pré-consciente/consciente -, separados
por uma barreira (censura) que exerce ativamente uma força (repressão) no
sentido de expulsar certas representações (idéias, lembranças, fantasias) do
sistema pré-consciente/consciente e mantê-las no sistema inconsciente.
Como vimos a propósito de Anna O., essa operação se faz necessária porque
tais representações causam angústia e dor quando disponíveis na
consciência do sujeito. Porém, a repressão não destrói a representação
dolorosa: mesmo mantida em estado inconsciente, ela permanece ativa,
tentando retornar ao sistema consciente. O resultado desse conflito, que
envolve um verdadeiro jogo de forças, é a produção das chamadas
formações do inconsciente: os sintomas, sonhos, lapsos (ou atos falhos) e
chistes (piadas e ditos de espírito) que seriam frutos de uma espécie de
"negociação" entre os sistemas. (p. 378)
 Uma das contribuições mais importantes de Freud está na descrição dos
estágios de evolução da libido que ocorrem ao longo da infância de acordo
com a predominância de uma zona erógena e de um modo característico de
relação com o objeto. No estágio oral, por exemplo, o prazer sexual está
ligado à boca e aos lábios, à atividade de sucção (dos seios ou do polegar), e
o bebê está às voltas com a incorporação dos objetos.
 A teoria das fases do desenvolvimento psicossexual sofreu várias
transformações, mas pode-se dizer que a partir de 1923 ela adquire sua
formulação mais clássica: fases oral, anal, fálica, latência e genital. (p. 380,
381)
COMPLEXO DE ÉDIPO
 Por volta dos 3 aos 5 anos, a criança viveria um período de intensos desejos
amorosos e hostis em relação aos pais. Ao longo de sua obra, Freud vai se
dando conta de que a trajetória edipica de meninos e meninas tem
características bastante diversas. Não obstante essas diferenças, o
complexo de Édipo tende a declinar ou dissolver-se com a renúncia da
criança ao seu objeto de amor e a conseqüente identificação com os valores
da cultura representados pelos pais. É o momento em que a criança passa a
integrar a ordem social, pois se submete às normas culturais das quais a
interdição do incesto pode ser tomada como paradigma, já que vigora em
todas as sociedades. A estrutura triangular do Édipo, à qual Freud atribui
caráter universal, é vivida de modo absolutamente singular por cada sujeito,
de acordo com as vicissitudes de sua história libidinal infantil. Tal
singularidade estará em jogo na própria estruturação da personalidade do
sujeito (...) (p. 381)
ALGUNS DESDOBRAMENTOS POSTERIORES

 Os problemas e desafios enfrentados na clínica psicanalítica nunca


deixaram de requerer um considerável esforço de teorização por parte de
Freud, embora - felizmente - ele tenha resistido à tentação de sistematizar
as indicações relativas a esse campo e evitado reduzi-las a seus aspectos
técnicos. Nessa vertente, merece destaque a noção de transferência, que
aponta para a importância crucial do vínculo afetivo entre paciente-
psicanalista como cenário e ingrediente decisivo para o desenrolar do
tratamento analítico. Dos vários textos sobre clínica que pontilham toda a
obra freudiana, sobressaem os assim chamados "escritos técnicos" da
década de 1910, além de ensaios como Análise terminável e interminável
(1937), no qual são discutidos, sem grandes ilusões, os alcances e limites de
um processo psicanalítico.
 Não poderíamos deixar de mencionar alguns escritos de um conjunto que
seria possível circunscrever como os "textos sociais" de Freud. Desde o
início de sua obra, é evidente sua preocupação em articular a vida psíquica
individual com a vida social e os limites que esta impõe ao indivíduo (...)
(p.382)
 Dentre as obras em que Freud se debruça sobre as complexas e conflituosas
relações entre individuo/cultura destacam-se:
 Moral sexual civilizada e doença nervosa moderna (1908),
 Totem e tabu (1913),
 Psicologia das massas e análise do ego (1921),
 O futuro de uma ilusão (1927),
 O mal-estar na cultura (1929)
 SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna (cap. 14)
ANNA FREUD
ANNA FREUD (1895-1982)

 A filha de Freud, Anna, foi a líder da psicologia do ego neofreudiana. Caçula entre os
seis filhos, Anna Freud afirmou que não teria nascido se na época existissem
métodos contraceptivos mais seguros. Em uma carta que escrevera a um amigo,
Freud anunciara o nascimento da filha com um tom de resignação e não de
entusiasmo, comentando que, se fosse um menino, teria mandado um telegrama
para contar a novidade (Young-Bruehl, 1988). No entanto, o ano do nascimento de
Anna (1895) foi simbólico, talvez até profético, já que coincide com o surgimento da
psicanálise. Anna seria a única entre os filhos de Freud a seguir a carreira do pai,
tornando-se analista.
 Sendo a menos favorecida das meninas da família, Anna teve uma infância infeliz.
Ela se lembrava de ter sido uma criança triste e solitária, muitas vezes excluída das
brincadeiras pelos irmãos mais velhos. Sentia ciúmes da irmã Sophie, claramente a
favorita da mãe. Anna tornou-se a predileta do pai; ele "ficou viciado na caçula tanto
quanto era viciado nos charutos" (Appignanesi e Forrester, 1992, p. 277).
 Aos 14 anos, interessou-se pelo trabalho de Freud. Ficava sentada discretamente em
um canto, nas reuniões da Vienna Psychoanalytic Societ [Sociedade Psicanalítica de
Viena], absorvendo tudo o que ouvia. Aos 22, por causa da ligação emocional com
Freud e da preocupação com a sua sexualidade, Anna começou a fazer análise com
o pai. (p. 319)
ANNA FREUD

Freud era ambivalente a respeito de Anna tornar-se psicóloga, e ela


passou por uma crise de identidade por causa dessa situação que durou
cerca de seis anos. Aos 30 anos de idade, tendo rejeitado propostas de
casamento de diversos discípulos de seu pai - mais jovens que ela -, e de
amigos da família, ela, finalmente, tomou a de- cisão de se tornar analista.
Também iniciou uma longa amizade com uma herdeira norte-americana,
Dorothy Tiffany Burlingham, e passou a ser como uma segunda mãe para os
filhos dela.

Sabe-se que Freud ficou "perturbado quando soube que Anna havia
finalmente decidido não se casar e não ter filhos, além de desenvolver uma
relação emocional intensa com uma mulher" (Elms, 2001, p. 88). O biógrafo
de Anna Freud, entretanto, sempre insistiu no fato de que o relacionamento
era estritamente emocional, e não sexual (ver Young-Bruehl, 1988). (p. 320)
ANNA FREUD

 Em 1927, Anna Freud publicou o livro Introdução à técnica da análise infantil


[Introduction to the technique of child analysis], um prenúncio dos rumos dos seus
interesses. Ela desenvolveu uma abordagem para a aplicação da terapia
psicanalítica em crianças, levando em conta a relativa imaturidade e o nível da
capacidade verbal infantil. Embora Sigmund Freud não houvesse trabalhado com
crianças, sentiu-se orgulhoso com o trabalho de Anna. Ele disse: "As visões de Anna
sobre análise infantil são independentes das minhas; compartilho das suas opiniões,
mas ela as desenvolveu a partir de experiências próprias e independentes" (apud
Viner, 1996, p. 9).

 Entre as inovações introduzidas estavam a utilização de brincadeiras e a


observação da criança no ambiente da família. Grande parte dessas observações foi
realizada em Londres, onde a família de Freud se instalara em 1938, depois de fugir
de Viena por causa dos nazistas. Ela abriu uma clínica ao lado da casa do pai e ali
estabeleceu um centro de tratamento e um instituto de treinamento em psicanálise
que atraía psicólogos clínicos do mundo inteiro. O Anna Freud Centre de Londres dá
continuidade a seu trabalho até hoje. Seus estudos constaram dos volumes anuais
da publicação Estudo psicoanalítico da criança [The psychoanalytic study efthe
child], lançada inicialmente em 1945. A coletânea dos seus trabalhos compreende
oito volumes, publicados entre 1965 e 1981. (p. 320, 321)
MELANIE KLEIN
M. KLEIN
 Nasceu em Viena em 1882, quarta e última filha de origem hebraica.
Seu pai era medico e dentista, a mãe dona de casa e proprietária de
um comércio.
 Dois de seus irmãos morreram precocemente. Um aos 7 anos e outro
quando Melanie tinha 20.
 Aos 21 anos se casa com Arthur Klein
 Tinha o sonho de ser médica, mas foi interrompido com o advento do
casamento e a vinda de três filhos.
 Em meios de 1910, após mudanças pelo trabalho do esposo, Klein
começa a se deprimir, tem episódios de desanimo e deixa os filhos
aos cuidados de sua mãe.
 Com 32 anos começa sua primeira análise com Ferenczi para tratar
sua grave depressão e tem pela primeira vez contato com os textos
de Freud
M. KLEIN
 Klein começa a intervir em casa com seus filhos guiada por seu
analista
 Em 1919, escreve seu primeiro texto e o apresenta falando sobre o
trabalho com o filho (o qual não revela a identidade)
 Se torna membro da Sociedade de Budapeste
 Se divorcia em 1927
 Em 1924, seu filho Hans morre escalando uma montanha
 Escreve Nessa época de elaboração do luto seu Famoso texto “Uma
contribuição para a psicogenese dos estados maniaco-depressivo”
 Sua filha Melita se forma em medicina. Se casa com um analista
supervisando de Freud e se torna uma forte opositora publica da mãe.
Klein nunca revidou seus ataques.
MELANIE KLEIN (1882-1960)

 Melanie Klein sabia da importância das relações entre pais e filhos por
causa da própria experiência como criança e como mãe. Filha não desejada,
sofreu a vida toda de depressão por causa do sentimento que tinha de que
seus pais a rejeitavam. Ela própria acabou se afastando da filha adulta (que
mais tarde tornou-se analista). A filha acusava Klein de interferir na vida
dela e afirmava que o irmão, morto durante uma escalada a uma montanha,
na verdade cometera suicídio por causa da péssima relação que tinha com a
mãe.
 A teoria dos objetos de Klein concentrava-se na ligação emocional intensa
entre mãe e filho, principalmente durante os seis primeiros meses de vida do
bebê.
 A interação social inicial entre a mãe e o bebê é generalizada a todos os
objetos (pessoas) da vida da criança e, assim, a formação da personalidade
do adulto baseia-se na natureza da relação dos primeiros seis meses de
vida. (p. 321, 322)
M. KLEIN
 “… brincar e atividades variadas, são meios de expressar o que o
adulto expressa predominantemente através de palavras.” M. Klein
 Brincar -> Associação Livre

 Freud pensava de forma evolutiva (fase oral, anal, fálica, etc..),


enquanto Klein compreende que os bebês começam a sentir as
coisas de forma bem mais precoce daquilo proposto por Freud. A
autora propõe que o édipo ocorre precocemente, bem como, o
superego.
ALGUMAS CRÍTICAS DE
KLEIN A ANNA:
 Anna contra indica uma análise mais profunda nas crianças. Analisar
a situação edipiana pode liberar impulsos que a criança não teria
condições de lidar.
 O Super ego da criança é fraco
 Analista assume uma postura mais pedagógica para que a criança
contenha os seus impulsos
 Analistas só usam a transferência positive. A negativa ficava ao
cargo dos pais, educadores, etc.
 Para Anna, analistas devem analisar e educar. Para Klein, impossível
ser os dois.
 Após 20 anos Anna reedita seu livro se aproximando um pouco mais
das ideias de M. Klein.
DONALD WOODS WINNICOTT (1896-1971)
CARL JUNG
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. HISTÓRIA DA
PSICOLOGIA MODERNA. 9ª ED. SÃO PAULO: THOMSON
LEARNING, 2011. (CAPÍTULO 14)
 Ele mesmo foi o responsável por sua infância solitária, isolada e infeliz (Jung, 1961). O
pai, religioso que aparentemente havia perdido a fé, era irascível e rabugento. A mãe
sofria de distúrbios emocionais, exibindo um comportamento excêntrico, "todo o lado da
família materna parecia apresentar traços de insanidade" (Ellenberger, 1978. p. 149). (p.
322)
 Jung frequentou a University of Basel, na Suíça, formando-se em medicina, em 1900.
Estava interessado em psiquiatria e a primeira indicação profissional dele foi para
trabalhar em um hospital de doentes mentais em Zurique. O diretor do hospital era
Eugen Bleuler, um psiquiatra famoso pelo trabalho sobre a esquizofrenia. Em 1905,Jung
foi indicado para ser professor de psiquiatria na University of Zurich. Muitos anos mais
tarde, depois de se casar com a segunda herdeira mais rica de toda a Suíça, ele pôde se
afastar da universidade para se dedicar à escrita, à pesquisa e ao atendimento a
pacientes particulares.
 No atendimento aos pacientes, diferentemente de Freud, Jung não pedia que se
deitassem no divã; dizendo que não era o seu desejo colocá-los na cama. Jung e o
paciente sentavam-se em confortáveis poltronas, um de frente para o outro.
 Em 1911, por insistência de Freud, e apesar da oposição dos membros vienenses, Jung
tornou-se o primeiro presidente da International Psychoanalytic Association (Associação
Psicanalítica Internacional). Freud acreditava que o antissemitismo impediria o
crescimento da psicanálise se o presidente do grupo fosse judeu. (p. 323)
 Aos 38 anos, Jung foi acometido de problemas emocionais profundos que
persistiram por três anos; Freud passara por um período de turbulência
semelhante mais ou menos na mesma etapa da vida. Acreditando que estava
ficando louco, Jung sentia-se incapaz de realizar qualquer tipo de trabalho
intelectual ou até mesmo de ler um livro científico. Pensou em suicídio e
mantinha uma arma ao lado da cama "caso sentisse que havia chegado ao
ponto sem retorno" (Noll, 1994, p. 207).
 Resolveu o seu dilema basicamente da mesma maneira que Freud,
confrontando a sua mente inconsciente. Embora não analisasse
constantemente os seus sonhos, como fazia Freud, Jung seguiu os impulsos
inconscientes neles revelados, bem como nas suas fantasias. Assim como
ocorreu com Freud, esse período foi de intensa criatividade para Jung,
levando-o a formular a sua teoria da personalidade. Ele escreveu que "Os
anos em que estava voltado às suas imagens interiores foram os mais
importantes de sua vida - nesses anos foi decidido tudo o que é essencial"
(Jung, 1961, p. 199). Concluiu, com base em sua experiência, que a fase mais
importante do desenvolvimento da personalidade não era a infância, como
Freud queria, mas a meia-idade, período de sua própria crise. (p. 324)
KAYANO, D. Y. PSICOLOGIA ANALÍTICA OU
JUNGUIANA: CONTEXTO HISTÓRICO E
CONCEITOS BÁSICOS
 Jung torna-se no ano de 1905 conferencista em psiquiatria na Universidade de
Zurique e chefe da clínica de Bürgholzli, adquirindo fama, sobretudo devido aos
trabalhos realizados com o teste de Associação de Palavras. A partir deste teste,
Jung chega ao conceito de complexo, enviando a Sigmund Freud, em 1906, os
estudos que publicou sobre o assunto; inicia-se assim o ciclo de correspondências
entre eles. Em março de 1907, foi visitar Freud em Viena, pela primeira vez. Esse
encontro durou treze horas, conversaram com grande animação e ficaram muito
impressionados um com o outro. Jung acompanhou Freud, em 1909, aos Estados
Unidos, ambos convidados pela Universidade de Clark, Worcester, no Estado de
Massachusetts, para proferirem palestras; Freud discorreu cinco conferências
sobre psicanálise e Jung apresentou seus trabalhos sobre Associação de Palavras.
 Quando entrou no movimento psicanalítico, Jung já tinha uma impressionante
reputação. Com a publicação do seu livro, sob o título de Psicologia do
inconsciente (atualmente com o título de Símbolos da transformação), dá-se o fim
do relacionamento entre os dois, que se tornou definitivo em 1914 com a renúncia
e o afastamento de Jung da Associação Psicanalítica.
 No ano de 1913, Jung demitiu-se do cargo de professor da Universidade de Zurique
e decidiu dedicar-se à pesquisa, escrever e manter uma clínica particular. É neste
ano que Jung dá à sua psicologia o nome de Psicologia Analítica. (p. 159)
 "Jung desenvolveu o teste de associar palavras como instrumento de
diagnóstico e terapia para descobrir complexos da personalidade em seus
pacientes. Ele iniciou essa pesquisa sobre a associação de palavras depois
que um colega lhe falou do experimento de associação de Wilhelm Wundt. No
procedimento de associação de palavras de Jung, o analista lê para o
paciente uma lista de palavras, dizendo uma de cada vez. O paciente
responde a cada palavra com a primeira palavra que lhe vier à mente. Jung
media o tempo que o paciente levava para reagir à palavra, bem como as
alterações da respiração e da condutividade elétrica da pele, consideradas
evidências de reações emocionais. Se uma palavra específica produzisse um
longo tempo de resposta, irregularidades na respiração e uma mudança na
condutividade da pele, Jung deduzia a existência de um problema emocional
inconsciente vinculado com a palavra-estímulo ou com a réplica." (Schultz &
Schultz, 1994:365) (p. 165)
 A análise dos sonhos, inicialmente proposta por Freud, é, segundo Jung, uma
das formas de se ter acesso aos conteúdos inconscientes. O sonho foi
considerado como uma das maneiras através das quais o inconsciente se
comunica com o consciente, podendo ser visto "como um mensageiro do
inconsciente, que deve revelar-nos os segredos escondidos pela
consciência, o que ele realiza com surpreendente eficiência. Através da
pesquisa analítica do sonho verificou-se que este último, tal como se
apresenta, é apenas a fachada que oculta o interior da casa" (Jung,
1971:127). Jung considerou que a interpretação dos sonhos tornou-se a
pedra angular para se ter acesso ao inconsciente. (p. 166)
FREUD E JUNG
 Seria impossível falar da obra de Jung sem mencionar a estreita relação com
Freud e a influência de sua obra. Contudo, vale lembrar que, muito antes de
conhecer Freud, Jung já se interessava pelas questões do inconsciente.
 De acordo com Clarke (1992), quando os dois se conheceram, Freud já era
muito respeitado e estava com 50 anos de idade, e Jung era vinte anos mais
novo. Entretanto, durante o período em que mantiveram relações pessoais
(1906-1913), nunca se estabeleceu uma qualidade de professor e aluno entre
eles.
 Uma das principais divergências entre os dois está na questão da
centralidade da sexualidade para Freud, Jung coloca esta noção de forma
mais abrangente; para este, a sexualidade desempenha um papel
importante, contudo, não é a única causa de conflito e nem a única forma de
expressão da totalidade psíquica.
 Suas concepções de libido e de interpretação dos sonhos são mais amplas
do que as sugeridas por Freud.
PSICOLOGIA ANALÍTICA
 Para Jung, seria incorreto definir o inconsciente apenas como um depósito de
acontecimentos infantis reprimidos que, mediante a análise, seriam trazidos para a
consciência e, dessa forma, tais repressões seriam abolidas. Na concepção de Jung
o inconsciente não só contém as tendências infantis reprimidas como também
todos os componentes que ainda não alcancaram a consciência. Tais componentes
são sementes de futuros conteúdos conscientes. Assim, ao mesmo tempo que
estamos conscientes de algo, estamos inconscientes de todo o resto. (p. 170)
 Jung reconhece que, embora os conteúdos do inconsciente não sejam
diretamente observáveis, existem no inconsciente dois produtos, um de caráter
pessoal e outro de caráter coletivo. O inconsciente pessoal contém aquisições e
elementos pessoais adquiridos durante a vida do indivíduo, tais como: desejos,
lembranças, planos, tendências etc. Essa camada contém elementos de natureza
pessoal e, portanto, partes integrantes da personalidade individual.
 O caráter coletivo do inconsciente diz respeito a componentes de ordem
impessoal, coletiva e universal; categorias herdadas da espécie humana, que
possuem como particularidade o caráter mítico. Tais padrões coletivos foram
denominados por Jung como os arquétipos (patrimônios da humanidade), que seriam
imagens primordiais, arcaicas e presentes nos níveis mais profundos do
inconsciente coletivo.
OS ARQUÉTIPOS (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E.
HISTÓRIA DA PSICOLOGIA MODERNA)

 ARQUÉTIPOS: tendências herdadas contidas no inconsciente coletivo, que levam o indivíduo a comportar-
se de forma semelhante aos ancestrais que passaram por situações similares.
 Quando Jung investigou as criações artísticas e místicas das civilizações antigas, descobriu símbolos de
arquétipos comuns, mesmo entre culturas bem distantes no tempo e no espaço, sem nenhum indício de
influência direta. Também descobriu o que pensou serem traços desses símbolos nos sonhos relatados
pelos pacientes. Todo esse material confirmava o seu conceito de inconsciente coletivo. Os arquétipos
que ocorrem com mais frequência são a persona, a anima e o animus, a sombra e o self.

PERSONA: A persona seria a máscara que o indivíduo usa quando está em contato com outra pessoa para
representá-lo na forma como ele deseja parecer aos olhos da sociedade. Assim, a persona pode não
corresponder à verdadeira personalidade do indivíduo. A noção de persona é semelhante ao conceito
sociológico do desempenho de papel [role-playing], em que a pessoa atua da forma como crê que as
outras esperam que ela atue nas diferentes situações. (p. 325)

 ANIMA / ANIMUS: Os arquétipos da anima e do animus refletem a noção de que cada indivíduo exibe
algumas características do sexo oposto. A anima refere-se às características femininas presentes no
homem, e o animus denota as características masculinas observadas na mulher. Assim como os demais
arquétipos, anima e animus surgem do passado primitivo das espécies humanas, quando o homem e a
mulher adotavam as tendências emocionais e comportamentais do sexo oposto.
 SOMBRA: O arquétipo da sombra, o nosso self mais sombrio, consiste na parte animalesca
da personalidade. Para Jung, esse arquétipo é herdado das formas inferiores de vida. A
sombra contém as atividades e os desejos imorais, violentos e inaceitáveis. Ela nos incita a
nos comportarmos de uma forma que ordinariamente não nos permitiríamos. Quando isso
ocorre, geralmente o indivíduo insiste em afirmar que foi acometido por algo. Esse "algo"
seria a sombra, a parte primitiva da natureza do indivíduo. No entanto, a sombra possui
também um lado positivo, responsável pela espontaneidade, pela criatividade, pelo insight
e pela emoção profunda, características necessárias para o total desenvolvimento humano.
 SELF: Na opinião de Jung, o principal arquétipo é o self. Integrando e equilibrando todos os
aspectos do inconsciente, o self proporciona unidade e estabilidade à personalidade. Jung
o comparava a um impulso para a autorrealização, para a harmonização, a completitude e o
total desenvolvimento das habilidades individuais. Entretanto, acreditava que a
autorrealização plena seria atingida somente na meia-idade (30 a 40 anos), período crucial
para o desenvolvimento da personalidade. Esse seria o período natural para a transição,
quando a personalidade passa por várias mudanças necessárias e benéficas. Observa-se
aqui outro exemplo de elemento auto- biográfico na teoria de Jung. Na meia-idade ele
próprio havia atingido a autointegração resultante da solução de sua crise neurótica. Dessa
forma, para Jung, o estágio mais importante no desenvolvimento da personalidade não
seria a infância (como foi no sistema e na vida de Freud), mas o período da vida adulta,
entre os 30 e os 40 anos, quando ocorreram as mudanças na sua personalidade. (p. 326)
“Até você se tornar consciente, o inconsciente irá
dirigir sua vida e você vai chama-lo de destino.”
C. G. JUNG
EMENTA - 2º BIMESTRE
 O Humanismo Americano
 BUYS, R. C. A psicologia humanista. In: JACÓ-VILELA, A. M.;
FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs.) História da Psicologia:
Rumos e Percursos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2013.
(Capítulo 20).
 AMATUZZI, M. Humanismo e Psicologia. Cap 1
 AMATUZZI, M. Rogers. Ética Humanista e Psicoterapia

 O Existencialismo Europeu
 SAPIENZA, B. T. Do desabrigo à confiança.
EMENTA - 2º BIMESTRE
 Seminários a serem entregues e apresentados em aula, valendo de 0
a 10 pontos com peso 2, realizados em grupo (até no máximo 5
alunos) que deve consistir em uma pesquisa bibliográfica elaborada
em conformidade com as normas da ABNT de uma das teorias
psicológicas estudadas no 1º bimestre.
 Qual (as possíveis/possível) atuação do psicólogo nesse saber
psicológico?

 Estrutura do trabalho:

Capa, conteúdo e referência bibliográfica. Máximo: 8 páginas.


Datas das apresentações: 31/10 e 07/11

 NP2: 14/11
O HUMANISMO AMERICANO

 BUYS, R. C. A psicologia humanista.


A PSICOLOGIA HUMANISTA
 O termo “humanismo” surgiu no Renascimento entre o final do século XIV e o
início do século XV, e denominava tanto um aspecto literário, os escritores
clássicos, quanto um viés filosófico, preocupando-se com o valor do homem
e a tentativa de compreendê-lo em seu mundo.
 Sartre, por exemplo, define o “humanismo” como qualquer doutrina que
pense o homem tomando como critério aquilo que o diferencia de qualquer
outro ser (...) (p. 339)
 (...) – eu quero dizer que o que constitui a modernidade é a maneira
como o homem vai se pensar como fonte de suas representações e
de seus atos, como seu fundamento (sujeito) ou ainda como seu
autor”. Esta concepção determinou uma série de movimentos nos
séculos XIX e XX, dentre os quais o mais importante foi o Declaração
dos Direitos Humanos, que veremos a seguir.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO
HOMEM
 Valorização do ser humano – de cada ser humano, não somente de alguns,

 Promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948,

 direitos iguais para todos (a desigualdade, inversamente, permite e autoriza


a diferenciação de direitos),
 não há, entre as características especificamente humanas, nenhuma
diferença essencial, o que significa que o ser humano não está determinado
por nenhuma condição – seja cultural, geográfica, histórica ou biológica,
 HUMANISMO JURÍDICO: trata-se do direito que toma o homem como é
pensado no humanismo: como ser autônomo e consciente de si – o que, do
ponto de vista jurídico, o responsabiliza plenamente por seus atos.
(p. 342)
O MOVIMENTO DA PSICOLOGIA HUMANISTA

 A psicologia humanista foi gestada durante a década de 1930 nos EUA e teve
seus primeiros trabalhos publicados a partir dos anos 1940. Entretanto, foi
na década seguinte que esse movimento obteve seu reconhecimento. Os
autores que podem ser apontados como iniciadores do movimento
humanista em psicologia são ABRAHAM MASLOW, GARDNER MURPHY,
GORDON W. ALLPORT e CARL ROGERS. Estes foram os autores que
começaram um movimento que veio a ser conhecido como “terceira força
em psicologia”, pois se postulava como uma alternativa a dois outros
movimentos muito fortes nos Estados Unidos da época, o behaviorismo de
John Watson e a psicanálise de Sigmund Freud.
 No Brasil, a psicologia humanista foi introduzida predominantemente pelas
obras de Carl Rogers, que começaram a ser traduzidas nos anos 1970.
 Não pode deixar de ser mencionada a vinda ao Brasil de Carl Rogers e sua
equipe em 1977, que facilitou um workshop de três semanas em Arcozelo
(RJ).
 AMATUZZI, M. Humanismo e Psicologia.
HUMANISMO E PSICOLOGIA
 Uma das coisas que subjaz a essas proposições é que a consideração do sentido é
fundamental. Para compreender o ser humano, tenho que lidar com questões de
sentido. A consideração do ser humano em termos de causa e efeito, antecedente e
consequente, parte e todo, por mais cabível, correta ou verdadeira que possa ser, não
dá conta do que seja o ser humano como totalidade em movimento. Em outras palavras:
posso explicar certas ocorrências humanas ou comportamentos a partir de "causas"
internas ou externas (motivações inconscientes ou configurações de estimulo, por
exemplo), posso analisar relações de antecedente-conseqüente (como por exemplo o
efeito de uma recompensa), ou posso explicar certas coisas em função das relações
parte-todo (como por exemplo quando digo que o modo de ser de uma pessoa é a
repercussão individual de problemas ou situações coletivas bem caracterizáveis).
 Posso ainda descrever como é que tudo isso se articula numa espécie de história geral
de conflitos e fantasias, e que se aplicaria a todas as pessoas ou à maioria (psicologia
do desenvolvimento). Cada uma dessas coisas é válida e possível, e de fato é feita, com
muitas pesquisas, certamente. Mas nenhuma delas em separado, e nem todas
somadas, dão conta do ser humano como totalidade em movimento. Algo fica faltando,
e não é algo que possa ser cumprido dentro de cada um daqueles enfoques. Não é tanto
que essas explicações estejam incompletas. Sim, até estão, e haverá sempre mais a
(p. 10)
HUMANISMO E PSICOLOGIA

 pesquisar nessa linha. Mas a incompletude a que me refiro é de outra ordem.


Talvez "explicações" dessa natureza não bastem, e por mais que somemos
explicações não estaremos entendendo ainda o principal desafio que se
coloca para nós face ao nosso viver: o que vamos fazer com nossa vida? Que
sentido vamos dar a ela, de tal forma que não nos isole de um sentido mais
global?
 Dizer que o homem é um "bicho que fala" (o que equivale a dizer que é um
"animal racional"*) é ficar no âmbito das explicações, e portanto, do homem
como resultado. Mas isso não é ainda o homem atual. Só poderemos chegar
a ele mudando o ponto de vista e assumindo as questões de sentido que
definem sua atualidade. O que ele fala?
 A fala sobre falas é ainda um discurso se for vivencial, experiencial, uma
vivência do próprio sentido criando novos sentidos. É enfrentando os
desafios que vou decifrando os sentidos e criando novos sentidos. A
decifração dos sentidos que permanece no atual identifica-se com o
enfrentamento dos desafios, e não é apenas um estudo deles.
(p. 11, 12)
HUMANISMO E PSICOLOGIA

 Voltemo-nos agora para o Humanismo, e vejamos o que essa palavra nos


sugere:
 No sentido estrito o Humanismo é um movimento cultural. europeu, tendo
seus primórdios já no século XIV, e que esteve intimamente ligado à
Renascença. Mas é talvez dai que o termo tenha se generalizado,
podendo ser aplicado a qualquer filosofia que coloque o homem no
centro de suas preocupações, ou como um adjetivo aplicável a outros
movimentos, como é o caso da "psicologia humanista" (ou do humanismo
na psicologia).
 O movimento cultural da Renascença precisa ser entendido em função de
seu contexto. De algum modo ele aparece como uma espécie de reação
contra um sobrenaturalismo medieval que naquela época significava um
desprezo pelo que é humano: nada das coisas desta vida é importante a
não ser aquilo que aqui é uma aquisição de méritos para a vida futura,
eterna, após a morte (...)
(p. 13)
HUMANISMO E PSICOLOGIA

 O homem é corpo tanto quanto alma, e é como um todo que ele tem que ser
cuidado (...)
 Para alguns isso representou uma rejeição da visão teológica das coisas (...)

 Para outros essa revalorização do humano, do mundo, do tempo não se


define por um posicionamento anti-religioso ou ateu (...)
 De qualquer forma essa revalorização do homem, das coisas do homem, da
história humana, daquilo que aqui efetivamente se faz, da atualidade do
humano, não se relaciona necessariamente com uma posição religiosa ou
anti-religiosa (...)
(p. 14)
HUMANISMO E PSICOLOGIA

 Esta psicologia humanista surgiu como uma reação, a partir da


insatisfação sentida face aos dois conjuntos teóricos mais importantes em
psicologia: o behaviorismo e a psicanálise: bem como face a uma
descrença nas possibilidades da filosofia. Não se tratava de negar as
descobertas feitas no behaviorismo e na psicanálise, mas de um
sentimento de que eles, permanecendo em suas perspectivas originais, não
traziam as respostas de que se precisava: o ser humano com seus
questionamentos atuais não estava lá, por mais válidas que fossem as
explicações aí dadas. Poderíamos dizer que essa psicologia,
permanecendo nos quadros de sua ortodoxia, podia nos dizer como treinar
um soldado, ou porque um soldado ficava perturbado quando voltava da
guerra, mas não era esse o problema do povo americano. O problema era
qual o sentido da guerra, e qual o sentido da vida e da morte (ou da minha
vida e morte, ou de meu filho ou de meu marido). E aqui a psicologia
tradicional não ajudava muito. E tudo isso era urgente: os jovens estavam
morrendo, e o holocausto já estava no horizonte. Quanto à filosofia, para
Maslow pelo menos, ela aparecia como um conjunto de palavras apenas,
sem nada de mais concreto.
(p. 17)
HUMANISMO E PSICOLOGIA

 Husserl foi um dos que iniciou um questionamento da aplicação do método


científico à realidade humana. Não se nega a validade das conclusões. Mas
se discute o alcance delas. Aquilo que elas afirmam caracteriza o ser
humano? (...) A atitude científica define um tipo de relação (a relação
objetificante) que não capta a pessoa atual mas apenas o ser humano como
resultado. Para Buber, o centro da pessoa só se revela no ato da relação. As
afirmações científicas podem ser verdadeiras mas não caracterizam aquilo
que é especificamente humano.
(p. 18, 19)
HUMANISMO E PSICOLOGIA

 (...) a atitude fenomenológica vai além da crítica, e eu a formularia assim: é


só na interação que teremos o verdadeiro conhecimento. O conhecimento
compõe a interação humana com o mundo, é um aspecto dela. Uma
interação sem conhecimento é pobre e de um nível inferior, e ilude se não
nos dermos conta disso. O humanismo em psicologia aponta para uma
atitude fenomenológica.
(p. 20)
AMATUZZI, M. ROGERS. ÉTICA HUMANISTA E
PSICOTERAPIA
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
 ACP, então, não é sinônimo de psicoterapia. É algo mais geral,
um modo de ser, uma atitude diante da vida ou diante das
relações que construímos. Psicoterapia é um dos tipos de
relação de ajuda psicológica, na prática do qual podemos ser
orientados pelos princípios da ACP. Existem outros tipos:
plantão psicológico, orientação de casais, ajuda no campo da
comunicação pessoal, orientação de pais etc. E, extrapolando
o campo clínico da psicologia, a ACP pode ser aplicada
também em muitos outros campos de atividade humana:
trabalhos em educação, desenvolvimento organizacional,
projetos comunitários etc., qualquer atividade, enfim, que
envolva o ser humano relacionando-se.
(p. 62)
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
 Mas o que é psicoterapia?
Como psicólogo, não se faz terapia em alguém. Quem faz isso é a
própria pessoa, e ela o faz, às vezes, com nossa ajuda. Não raro,
nossa função se limita a ser testemunha do esforço da pessoa. E
isso não é pouco porque diante de uma testemunha qualificada, ela
se compromete mais e melhor com aquilo a que se propõe.

Contudo, nossa ajuda pode ir mais longe (se bem que isso
poderia, a rigor, caber ainda na função de testemunha). Estando com
a atenção voltada sobretudo para os sentimentos e intenções
daquele que nos procura (e que se manifestam de diferentes modos e
em diferentes graus de profundidade), automaticamente,
facilitaremos seu processo de encontro consigo próprio. Para uma
pessoa se pentear, um espelho ajuda; para uma pessoa se conhecer
melhor, um espelho humano é a melhor ajuda.
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
 Costumo explicar isso a meus alunos, falando do tripé da
psicoterapia, e nisso me inspiro em Schmidt (1987),
transformando, a meu modo, o que ela diz. O tripé, do ponto de
vista do profissional que ajuda, tal como o vejo, é o seguinte:
• Acolher com simpatia;
• Compreender com empatia;
• Eventualmente, dizer uma palavra que faça pensar.
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
 Acolher - em português, essa palavra quase que já inclui simpatia. Sem
dúvida, é possível acolher de má vontade. Mas acolher bem é fazer isso
de boa vontade, isto é, com simpatia, interesse, afeto; interessando-se
pela pessoa, pelo bem da pessoa.
 Compreender - ela implica numa saída da atitude cotidiana, pois nesta, o
que fazemos é encaixar o que o outro diz nos esquemas de pensamento
que já temos. Na verdadeira compreensão, ao contrário, é preciso estar
aberto ao novo, ao diferente, ao que não se encaixa em nossos
esquemas.
 Em resumo, a compreensão é um contato muito profundo de alma para
alma. Cabe ao terapeuta compreender profundamente e dizer sua
compreensão à pessoa que o procura, passo a passo, em todo decorrer
do encontro. Quem faz muitas perguntas não quer compreender passo a
passo, mas matar sua própria curiosidade (o que já distancia da
compreensão), ou encaixar a pessoa em um esquema prévio (c, assim,
centralizar o poder, o que também se afasta da intenção de facilitar um
processo autodirigido).
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
 Dizer uma palavra que faça pensar - nem sempre é preciso dizer uma
palavra que faça pensar. Por essa razão, está dito no tripé:
eventualmente. Se existe acolhimento e compreensão, praticamente
todo trabalho está feito. Isso pode bastar para desencadear o
movimento terapêutico de encontro consigo próprio. Contudo, às
vezes, pode ser oportuno dizer uma palavra que faça pensar.
Normalmente, o terapeuta principiante, de início, tem essa vontade,
sente que precisa fazer alguma coisa tocante e se esquece que é
basicamente com o acolhimento e a compreensão que ele ajuda a
desencadear o movimento autônomo da pessoa em direção ao seu
crescimento.
(p. 64, 65, 66)
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA

 Temos, então, gestos e palavras que acolhem, gestos e palavras que expressam a
compreensão; gestos e palavras que suscitam um questionamento ou um
pensamento diferente no cliente. O que Rogers tem a ver com isso?
 Correndo o risco de ser mal entendido, diríamos que, segundo o pensamento de
Rogers, não importa o que o terapeuta faça, o que importa são suas reais
disposições. E certamente poderíamos estender isso aos dois sentidos de
terapeuta: o profissional que acompanha e o cliente que está cuidando de si
próprio. Rogers chamava essas disposições de "atitudes". Essa palavra não tem
aqui o significado que tem em português corrente. Em nossa linguagem comum,
"tomar uma atitude" significa tomar uma decisão, agir. Não é nesse sentido que
Rogers fala de atitudes, mas no sentido técnico que essa palavra tem em
psicologia. "Atitude" refere-se a uma predisposição. Por exemplo, quando digo
"tenho uma atitude favorável ao esporte", isso significa que penso
frequentemente em esporte, gosto do esporte e tenho uma tendência a praticar
algum esporte. Coisa semelhante acontece com uma atitude desfavorável. Por
exemplo: quem não gosta de dançar, não entende de dança e, efetivamente, não
faz isso nunca ou quase nunca, é uma pessoa que tem uma atitude desfavorável à
dança. A atitude está em um plano mais recuado que o ato.
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
 Transpondo a discussão para as atitudes, Rogers estava dizendo que
a qualidade humana do terapeuta (no caso, do profissional psicólogo)
é mais importante que seus atos específicos. Isso livra o terapeuta
de atos padronizados, mas lhe traz uma responsabilidade muito
grande.
(p. 69)
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
Isso que dissemos vale para a psicoterapia. Valeria, também, para o
plantão psicológico, a ludoterapia, os trabalhos em grupo e na comunidade?
Vamos por partes.
 O plantão psicológico é uma modalidade de atendimento diferente da
psicoterapia. O que o caracteriza é o fato de ele ser um encontro único
(excepcionalmente com um ou dois retornos) e que acontece no mesmo
momento em que a pessoa procura ajuda. Quando ela chega procurando
ajuda, já é atendida. Não há agendamento. A diferença está, pois, no
enquadre externo que procura tirar proveito do momento motivacional da
pessoa. Contudo, no que diz respeito às disposições do terapeuta, não há
mudança alguma. Talvez esse enquadre diferenciado crie situações próprias.
Mas a reação do terapeuta, levando em conta a especificidade dessa
situação, será boa justamente quando ele estiver enraizado naquelas
mesmas predisposições. O que muda, portanto, é a situação externa e não
as disposições e os valores do terapeuta. O fato de ambos (profissional que
atende e pessoa que procura) saberem que se trata de um encontro único,
de "uma" conversa, muda muito até no uso de aquele tempo. Mas os valores
e atitudes que dão suporte ao encontro não mudam.
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA

 Com a ludoterapia infantil, há um fator novo em jogo. A comunicação entre


criança e terapeuta não pode seguir pelos caminhos que segue uma
conversa de adultos, simplesmente por não ser assim o modo de
comunicação de uma criança. Ela não sabe ter uma conversa de adultos
porque não domina o instrumental linguístico da mesma forma. A interação
puramente verbal e abstrata não vai longe. O meio de comunicação mais
viável, no caso, é o lúdico, isto é, o brincar. Isso também cria situações
externamente muito específicas. Podem dar ao terapeuta a impressão de
que nada de terapêutico está acontecendo ali. Só brincar? Mas é dessa
forma que a criança se expressa, e se essa expressão for aceita e
compreendida, instaura-se um diálogo lúdico terapêutico, que é propiciador
de uma aproximação dos sentimentos, do mundo vivido. E é nesse mundo
vivido que estão as fontes de desenvolvimento.
(p. 72)
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
 Essas considerações que fizemos, valendo-nos da ludoterapia, podem, sem
dúvida, se estender a outras formas de terapia, até mesmo com adultos. Há
espaço para se pensar, inspirando-se na ACP, em uma terapia pela arte, pela
expressão corporal, com a utilização de cenas (dramatização), de
movimentos, de música, de brinquedos, até mesmo com adultos. Mas, é
claro, é necessário que o profissional tenha um domínio dessas formas
expressivas. Por outro lado, mesmo em uma terapia exclusivamente verbal
com adultos, há limites (como, por exemplo, o respeito aos horários
estabelecidos etc.) e eles podem ter uma importância terapêutica.
 Gostaria de terminar esse capítulo refletindo sobre as oficinas e os
trabalhos comunitários. Podemos entender por "oficina" um grupo de
trabalho cujo objetivo imediato não é necessariamente o desenvolvimento
psicológico ou a psicoterapia, embora possa ter efeitos terapêuticos. Seriam
exemplos: oficina de criatividade em arte ou em artesanato (oficina de
dança, de bordado, de expressão artística plástica, de culinária etc.), oficina
de comunidade (experimento comunitário intensivo), oficina de produção de
renda etc.

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