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SISTEMAS EM
PSICOLOGIA
Prof.ª Nathalia Lattanzio Martins
EMENTA – 1º BIMESTRE
Aula 01 - Os Behaviorismos
Skinner fez contato, durante toda a extensão de sua formação, com amplo
consistência interna entre o que explicar e como fazê-lo. O que explicar não é o
comportamento (no sentido rigoroso de que não propõe uma ciência do
comportamento, mas uma ciência interessada nas relações entre organismo e
ambiente). Todavia, explicar necessita uma sistematização que, embora orientada
filosófica e teoricamente, só pode ser construída e testada empiricamente. Para
tal, o experimento é a escolha típica da Análise do Comportamento skinneriana.
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS
correspondentes não constituiu, certamente, uma história linear, razão pela qual
Skinner é recorrente, em toda a sua obra, na discussão de vários conceitos que segue
formulando, incluindo o de comportamento (1938, p. 6 e ss.). Isso se dá não somente
porque o escopo temático é complexo, mas porque a comunidade de analistas se
amplia e há uma crescente retroação discursivo-explicativa sobre os conceitos
emitidos por Skinner. Além disso, e sobretudo, porque ciência não consiste em mero
acúmulo indiscriminado de achados, mas em acúmulo que ora descarta, ora incorpora
novos princípios e resultados empíricos.
Assim, não há drástica ou grave incoerência, por exemplo, quando nosso autor
comportamento em si (seja como evento, atributo ou, ainda menos, objeto físico que
se aloja nas entranhas de um sistema nervoso complexo), mas o comportamento no
âmbito das relações entre o organismo e seu ambiente.
Sob esses pressupostos, talvez a pedra angular de sua obra se constitua no processo
(...) (p.29)
Os defensores da tese da continuidade (esta teoria afirma que mesmo o corpo passando por mudanças drásticas,
deixando de ser irreconhecível ao que era antes, a identidade permanece através da continuidade do cérebro da pessoa, pois mesmo o corpo
sofrendo mudanças, o cérebro continua o mesmo ) não só travaram um debate com os defensores da tese
da descontinuidade como também se envolveram internamente com duas
estratégias distintas de investigação: a de brutalizar os humanos e a de humanizar
os animais (Bolles, 1979). De um lado, os humanos passaram a ser vistos como
máquinas biológicas, e de outro, os animais passaram a ser dotados de atributos
humanos, como inteligência e senso moral. (p. 115, 116)
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS
Thorndike (1898/1998). Seguimos aqui a descrição que ele chamou de seu método geral e que consistia em
colocar animais privados de alimento - gatos, por exemplo - em uma caixa de onde eles podiam ver o
alimento colocado do lado de fora, e o qual podiam acessar com um ato simples como puxar um laço de
corda, pisar em uma plataforma, pressionar uma alavanca, abrir uma porta e escapar da caixa. Thorndike
registrava o tempo que o animal ficava na caixa até realizar o ato bem sucedido. Esse procedimento era
repetido: o animal era recolocado na caixa após cada ato bem sucedido até que "tivesse formado uma
associação perfeita (...) quando a associação era assim perfeita, o tempo tomado para escapar era,
A associação perfeita à qual Thorndike (1898/1998) se referia ocorre "entre a impressão sensorial do interior
da caixa e o impulso que conduz ao movimento bem- sucedido" (p. 1127). Thorndike (1898/1971) esclareceu:
O ponto de partida para a formação de qualquer associação é, nesses casos, o conjunto de atividades instintivas
que são provocadas quando um gato não se sente bem na caixa, seja por causa do aprisionamento, seja por
causa de um desejo de alimento. Esse mal estar, mais a impressão dos sentidos de uma parede circundante e
limitadora, se exprime, antes de qualquer experiência, por gritos, patadas, mordidas. Entre esses movimentos, um
é escolhido pelo seu êxito. (p. 667) (p. 120)
LEI DO EFEITO:
Thorndike (1911/1971) definiu um estado satisfatório e um estado de desconforto em
uma coletânea de textos sobre o assunto, Thorndike afirmou que os seres humanos diferem
por natureza. Ele reconheceu que as circunstâncias ambientais, bem como a maturidade,
desempenhavam algum papel no campo das diferenças individuais, mas atribuiu-lhes pouca
importância. Boa parte de sua argumentação baseou-se em evidências experimentais,
mostrando que os efeitos da equalização de oportunidade, bem como de treinamento, são
insignificantes no sentido de atenuar as diferenças individuais.
Ele não só estimulou a reprodução dos "mais talentosos", como também desestimulou a
Pela seleção de linhagens em ambientes adequados podemos ter um mundo em que todos os
homens alcançarão igualmente o topo em vez dos dez por cento atuais. Um serviço seguro do
capaz e bom é procriar e cuidar da prole e outro serviço seguro (quase o único) que o inferior e
vicioso pode realizar é impedir que seus genes sobrevivam. (Tomlinson, 1997, p. 370) (P.
BEHAVIORISMO
METODOLÓGICO DE WATSON
CARRARA, K.; ZILIO, D. (Orgs) Reflexões históricas e conceituais. Vol 1. 1ª ed. São Paulo:
Editora Paradigma, 2016. (Capítulo 6)
J. B. WATSON
Psicólogo norte-americano.
John Broadus Watson nasceu em Greenville, Carolina do Sul, Estados
Unidos, no dia 9 de janeiro de 1878.
Cresceu em uma família religiosa, mas na idade adulta se opôs
abertamente à religião.
Com 16 anos ingressou na Furman University e depois de cinco anos
recebeu o grau de mestre em filosofia.
Em seguida, Watson matriculou-se na Universidade de Chicago, onde
estudou Psicologia e começou a desenvolver suas teorias baseadas
no “Behaviorismo”.
Em 1903 apresentou sua tese sobre a relação entre o
comportamento dos ratos de laboratório e o sistema nervoso central.
Recebeu o PhD em Neuropsicologia, permanecendo na universidade
de Chicago como pesquisador.
J. B. WATSON
Em 1908 passou a lecionar Psicologia Experimental e Comparada na
John Hopkins, de Baltimore, onde instalou um laboratório de Psicologia
Animal.
Em 1913, John Watson publicou um artigo sobre o “Behaviorismo”,
intitulado “A Psicologia Como o Behaviorista a Vê”, conquistando grande
notoriedade. (As bases da nova corrente da Psicologia, eram contrárias à
linha de pensamento de Freud, que ele considerava fantasiosa. Watson
desprezou também a hereditariedade como a responsável pelos diversos
tipos de personalidade, que atribuía exclusivamente à experiência e ao
condicionamento do comportamento.)
Em 1914, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, Watson interrompeu
suas atividades profissionais e ingressou no exército, quando participou
de uma campanha militar na França.
Em 1915 foi nomeado presidente da Associação Psicológica Americana
(APA). Em 1918, retornou às suas investigações, estudando a primeira
infância.
J. B. WATSON
Em 1920, foi convidado a deixar a Universidade após vir a público o
seu relacionamento com sua assistente Rosalie Rayner, enquanto
estava casado com sua primeira esposa.
Após sua demissão, John Watson ingressou em uma agência de
publicidade, chegando ao cargo de presidente da J. Walter
Thompson, uma das maiores empresas de publicidade dos Estados
Unidos.
Após sua aposentadoria, em 1945, John Watson passou a levar uma
vida reclusa em uma fazenda em Connecticut.
Pouco antes de sua morte ele queimou grande parte de seus
documentos e escritos inéditos.
John Watson faleceu em Nova Iorque, Estados Unidos, no dia 25 de
setembro de 1958.
CARRARA, K.; ZILIO, D. (ORGS) REFLEXÕES
HISTÓRICAS E CONCEITUAIS
leitores, e afirmou se arrepender de escrever seu livro sobre criação de filhos porque
"não sabia o suficiente para escrever o livro que eu queria escrever" (Watson, 1936, p.
280).
proposições (especialmente aquelas feitas no período pós 1920) e o radicalismo com que
foram propostos seus compromissos teóricos acabaram produzindo mais críticas do que
acolhimento na comunidade acadêmica (Samelson, 1981). O'Donnell (1985) sugere que
"na década de 1920, Watson manteve apenas um punhado de seguidores (...) “
Ainda que o behaviorismo clássico de Watson não tenha se consolidado como forma de
Por que não fazemos do que podemos observar o real campo da psicologia? Vamos nos
limitar às coisas que podemos observar, e formular leis sobre apenas essas coisas.
Agora, o que podemos observar? Bem, podemos observar comportamento - aquilo que
o organismo faz ou fala. E permita-me propor o ponto fundamental de uma só vez: que
falar é fazer - isso é, comportar-se. Falar abertamente ou para nós mesmos
(pensamento) é apenas um tipo de comportamento tão objetivo quanto beisebol.
(Watson, 1930, p. 6) (P. 140)
A METAFÍSICA DO BEHAVIORISMO
CLÁSSICO
O antimentalismo watsoniano, que consistia na negação da mente e da
consciência como objetos de estudo, é uma das características mais
ressaltadas do seu sistema teórico (e.g., Bergmann, 1956). Skinner (1959)
sugere que uma das principais contribuições de Watson foi aplicar a
psicologia humana as noções de que somos animais, e que nossos
processos mentais podem ser explicados sem recorrer à mente enquanto
entidade. No manifesto, Watson apresenta sua crítica: "parece ter chegado a
hora em que a psicologia deve descartar toda referência à consciência; de
deixar de se iludir pensando que está fazendo dos estados mentais o objeto
de observação" (Watson, 1913, p. 163) e em The Battleof Behaviorism ele
complementa:
subjetivos não significa que os processos aos quais tais palavras se referem
foram ignorados. É o caráter mental e cientificamente inacessível deles que
é questionado. Watson inclui em seus textos explicações sobre as emoções,
o pensamento, a imaginação, o "planejamento mental", ideação suicida,
desejos sexuais e outros. (p. 142)
O FUNCIONALISMO EUROPEU
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 9ª ed.
São Paulo: Thomson Learning, 2011. (Capítulo 12).
A REVOLTA DA GESTALT
Mais ou menos na mesma época em que a revolução behaviorista aglutinava forças nos Estados Unidos, a
revolução da Gestalt tomava conta da psicologia na Alemanha. Essa revolução consistia em mais um
protesto contra a psicologia wundtiana e viria mais tarde a se tornar um testemunho das ideias de Wundt,
como fonte de inspiração para o surgimento de novas visões, e como base para o lançamento de novos
sistemas de psicologia.
A psicanálise de Freud já completava uma década. Embora o movimento dos psicólogos da Gestalt contra
locais até completar 18 anos. Estudou direito na University of Prague, mudou sua
graduação para filosofia, participou das aulas de Ehrenfels e, então, seguiu para
University of Berlin para prosseguir o estudo de filosofia e psicologia. Obteve o
doutorado, em 1904, pela University of Würzburg, sob a orientação de Oswald
Külpe. Seguiu para a University of Frankfurt para lecionar e realizar pesquisas,
obtendo uma posição acadêmica em 1929. Durante a Primeira Guerra Mundial,
realizou pesquisas militares com os aparelhos de escuta dos submarinos e dos
fortes localizados nas regiões portuárias.
Do mesmo modo, um animal no labirinto não pode ver todo o padrão ou o
formato, mas apenas o corredor que encontra. Portanto, os animais não têm
muita opção a não ser arriscar um caminho por vez. (p. 273)
GESTALT TERAPIA
• O paciente era retirado do transe e não apresentava mais o sintoma de quando chegou.
Freud viu na hipnose um grande meio para se estudar e acessar o inconsciente humano, além de uma
poderosa técnica de cura. Sobre este período de sua carreira, Ana Bock e outros (1999) apontam:
“Começou, então, a clinicar, atendendo pessoas acometidas de ‘problemas nervosos’. Obteve, ao final
da residência médica, uma bolsa de estudo para Paris, onde trabalhou com Jean Charcot, psiquiatra
francês que tratava as histerias com hipnose. Em 1886, retornou a Viena e voltou a clinicar, e seu
principal instrumento de trabalho na eliminação dos sintomas dos distúrbios nervosos passou a ser a
sugestão hipnótica”
(BOCK et al., 1999, pp. 70-71)
É importante dizer que o próprio Freud vai abandonar o método hipnótico com o avanço de
seus trabalhos, ao passo em que começa a notar que nem todas as pessoas conseguiam ser
hipnotizadas, que os sintomas removidos reapareciam depois de um tempo e também por
conhecer Joseph Breuer.
BREUER (1842-1925)
Anna O – Paciente 0 da Psicanálise
Foi pelo tratamento dela que Breuer começou a fazer alguns experimentos
terapêuticos que futuramente fizeram construir aquilo que chamamos de
psicanálise/inconsciente.
Anna, 21 anos, manifesta perturbações físicas e comportamentais:
paralesias de braços e pernas, alteração na visão, dificuldade de manter
cabeça erguida, tosse nervosa intensa, repugnância por alimentos (hoje
chamada de anorexia), hidrofobia - impossibilidade de beber agua por
semanas, redução da fala (havia épocas que parava de falar sua língua
materna e só conseguia falar e se expressar em inglês), perda parcial da
conscs, alucinações, alteração total da personalidade (uma pessoa q era de
um jeito e passou a se expressar de um jeito completamente diferente).
Nessa doença a pessoa experimenta vários sintomas físicos, mas esses
sintomas não possuem uma causalidade orgânica.
Hipnose
Associação livre,
Sonhos,
Chistes,
Atos falhos.
LUZES E SOMBRAS. FREUD E O ADVENTO DA
PSICANÁLISE
(...) Freud observa tais fenômenos em seus pacientes, amigos e familiares,
mas também, e talvez primeiramente, em si mesmo. Basta ler sua
correspondência com WILHELM FLIESS (1858-1928) para atestar o cuidado
com que Freud se dedicava à observação e investigação dos próprios
processos psíquicos; com abundância de detalhes, ele descreve seus
sonhos, atos falhos e lembranças infantis, além das indisposições físicas,
variações de humor e inibições intelectuais. Longe de um simples deleite em
registrar as oscilações de sua “meteorologia interna”, pode-se ver na auto-
análise de Freud a tentativa de investigação sistemática (freqüentemente
dolorosa) de sua própria vida psíquica, com o intuito de extrair indícios que,
somados a outros, pudessem contribuir para fazer avançar OU consolidar
alguma formulação teórica em vias de elaboração.
Tomemos, por exemplo, o caso dos sonhos. É sobretudo com base na
investigação de seus próprios sonhos - analisados sistematicamente a partir
de 1895 - que Freud escreve A interpretação dos sonhos (1900), um dos
principais livros de sua extensa obra, no qual traz a público pela primeira vez
um amplo modelo sobre a estrutura e o funcionamento da psique humana em
geral. (p. 372)
OS PRIMÓRDIOS DA TEORIA E DA TÉCNICA
PSICANALÍTICAS
Assim, na última década do século XIX, Freud é um homem já maduro quando propõe
as noções que constituirão os alicerces fundamentais da psicanálise; inconsciente,
repressão, sexualidade infantil, relação entre sintomas neuróticos e fenômenos da vida
psíquica "normal", diretrizes básicas do tratamento psicanalítico - tudo isso se encontra
razoavelmente esboçado por volta de 1900.
Os Estudos sobre a histeria (1895), publicação em co-autoria com o JOSEPH
BREVER, trazem relatos sobre vários tratamentos conduzidos pelos autores, em geral
com pacientes histéricas atormentadas por múltiplos sintomas, inclusive corporais
(como paralisias). Deduz-se que tais sintomas são formados a partir da repressão de
certas lembranças que, não podendo ser integradas na história dessas mulheres,
"retornam" no corpo, simbolizadas nos e pelos sintomas. (p. 376)
Freud, porém, tinha algumas ressalvas em relação ao uso da hipnose: nem todos os
pacientes eram hipnotizáveis e a eliminação dos sintomas revelara-se apenas provisória
ou parcial. Mas o principal motivo que o leva a abandonar definitivamente esse método é
o fato de considerá-lo um meio artificial de neutralizar a resistência. Ou seja, a hipnose
encobre a existência de uma força/barreira que ativamente impede o acesso aos
conteúdos reprimidos. Para Freud, é preciso encontrar um meio que permita a dissolução
gradual das resistências, de maneira a que o conteúdo reprimido possa ir se tornando
consciente sem suscitar o mesmo desprazer ou angústia que motivou sua repressão.
(p.377)
PRIMEIRA TÓPICA
Esse primeiro grande modelo de aparelho psíquico (ou "primeira tópica")
vinha sendo delineado ao longo dos anos 1890, mas só no capítulo VII de A
interpretação dos sonhos foi oficialmente formalizado. É composto por dois
grandes sistemas - inconsciente e pré-consciente/consciente -, separados
por uma barreira (censura) que exerce ativamente uma força (repressão) no
sentido de expulsar certas representações (idéias, lembranças, fantasias) do
sistema pré-consciente/consciente e mantê-las no sistema inconsciente.
Como vimos a propósito de Anna O., essa operação se faz necessária porque
tais representações causam angústia e dor quando disponíveis na
consciência do sujeito. Porém, a repressão não destrói a representação
dolorosa: mesmo mantida em estado inconsciente, ela permanece ativa,
tentando retornar ao sistema consciente. O resultado desse conflito, que
envolve um verdadeiro jogo de forças, é a produção das chamadas
formações do inconsciente: os sintomas, sonhos, lapsos (ou atos falhos) e
chistes (piadas e ditos de espírito) que seriam frutos de uma espécie de
"negociação" entre os sistemas. (p. 378)
Uma das contribuições mais importantes de Freud está na descrição dos
estágios de evolução da libido que ocorrem ao longo da infância de acordo
com a predominância de uma zona erógena e de um modo característico de
relação com o objeto. No estágio oral, por exemplo, o prazer sexual está
ligado à boca e aos lábios, à atividade de sucção (dos seios ou do polegar), e
o bebê está às voltas com a incorporação dos objetos.
A teoria das fases do desenvolvimento psicossexual sofreu várias
transformações, mas pode-se dizer que a partir de 1923 ela adquire sua
formulação mais clássica: fases oral, anal, fálica, latência e genital. (p. 380,
381)
COMPLEXO DE ÉDIPO
Por volta dos 3 aos 5 anos, a criança viveria um período de intensos desejos
amorosos e hostis em relação aos pais. Ao longo de sua obra, Freud vai se
dando conta de que a trajetória edipica de meninos e meninas tem
características bastante diversas. Não obstante essas diferenças, o
complexo de Édipo tende a declinar ou dissolver-se com a renúncia da
criança ao seu objeto de amor e a conseqüente identificação com os valores
da cultura representados pelos pais. É o momento em que a criança passa a
integrar a ordem social, pois se submete às normas culturais das quais a
interdição do incesto pode ser tomada como paradigma, já que vigora em
todas as sociedades. A estrutura triangular do Édipo, à qual Freud atribui
caráter universal, é vivida de modo absolutamente singular por cada sujeito,
de acordo com as vicissitudes de sua história libidinal infantil. Tal
singularidade estará em jogo na própria estruturação da personalidade do
sujeito (...) (p. 381)
ALGUNS DESDOBRAMENTOS POSTERIORES
A filha de Freud, Anna, foi a líder da psicologia do ego neofreudiana. Caçula entre os
seis filhos, Anna Freud afirmou que não teria nascido se na época existissem
métodos contraceptivos mais seguros. Em uma carta que escrevera a um amigo,
Freud anunciara o nascimento da filha com um tom de resignação e não de
entusiasmo, comentando que, se fosse um menino, teria mandado um telegrama
para contar a novidade (Young-Bruehl, 1988). No entanto, o ano do nascimento de
Anna (1895) foi simbólico, talvez até profético, já que coincide com o surgimento da
psicanálise. Anna seria a única entre os filhos de Freud a seguir a carreira do pai,
tornando-se analista.
Sendo a menos favorecida das meninas da família, Anna teve uma infância infeliz.
Ela se lembrava de ter sido uma criança triste e solitária, muitas vezes excluída das
brincadeiras pelos irmãos mais velhos. Sentia ciúmes da irmã Sophie, claramente a
favorita da mãe. Anna tornou-se a predileta do pai; ele "ficou viciado na caçula tanto
quanto era viciado nos charutos" (Appignanesi e Forrester, 1992, p. 277).
Aos 14 anos, interessou-se pelo trabalho de Freud. Ficava sentada discretamente em
um canto, nas reuniões da Vienna Psychoanalytic Societ [Sociedade Psicanalítica de
Viena], absorvendo tudo o que ouvia. Aos 22, por causa da ligação emocional com
Freud e da preocupação com a sua sexualidade, Anna começou a fazer análise com
o pai. (p. 319)
ANNA FREUD
Sabe-se que Freud ficou "perturbado quando soube que Anna havia
finalmente decidido não se casar e não ter filhos, além de desenvolver uma
relação emocional intensa com uma mulher" (Elms, 2001, p. 88). O biógrafo
de Anna Freud, entretanto, sempre insistiu no fato de que o relacionamento
era estritamente emocional, e não sexual (ver Young-Bruehl, 1988). (p. 320)
ANNA FREUD
Melanie Klein sabia da importância das relações entre pais e filhos por
causa da própria experiência como criança e como mãe. Filha não desejada,
sofreu a vida toda de depressão por causa do sentimento que tinha de que
seus pais a rejeitavam. Ela própria acabou se afastando da filha adulta (que
mais tarde tornou-se analista). A filha acusava Klein de interferir na vida
dela e afirmava que o irmão, morto durante uma escalada a uma montanha,
na verdade cometera suicídio por causa da péssima relação que tinha com a
mãe.
A teoria dos objetos de Klein concentrava-se na ligação emocional intensa
entre mãe e filho, principalmente durante os seis primeiros meses de vida do
bebê.
A interação social inicial entre a mãe e o bebê é generalizada a todos os
objetos (pessoas) da vida da criança e, assim, a formação da personalidade
do adulto baseia-se na natureza da relação dos primeiros seis meses de
vida. (p. 321, 322)
M. KLEIN
“… brincar e atividades variadas, são meios de expressar o que o
adulto expressa predominantemente através de palavras.” M. Klein
Brincar -> Associação Livre
ARQUÉTIPOS: tendências herdadas contidas no inconsciente coletivo, que levam o indivíduo a comportar-
se de forma semelhante aos ancestrais que passaram por situações similares.
Quando Jung investigou as criações artísticas e místicas das civilizações antigas, descobriu símbolos de
arquétipos comuns, mesmo entre culturas bem distantes no tempo e no espaço, sem nenhum indício de
influência direta. Também descobriu o que pensou serem traços desses símbolos nos sonhos relatados
pelos pacientes. Todo esse material confirmava o seu conceito de inconsciente coletivo. Os arquétipos
que ocorrem com mais frequência são a persona, a anima e o animus, a sombra e o self.
PERSONA: A persona seria a máscara que o indivíduo usa quando está em contato com outra pessoa para
representá-lo na forma como ele deseja parecer aos olhos da sociedade. Assim, a persona pode não
corresponder à verdadeira personalidade do indivíduo. A noção de persona é semelhante ao conceito
sociológico do desempenho de papel [role-playing], em que a pessoa atua da forma como crê que as
outras esperam que ela atue nas diferentes situações. (p. 325)
ANIMA / ANIMUS: Os arquétipos da anima e do animus refletem a noção de que cada indivíduo exibe
algumas características do sexo oposto. A anima refere-se às características femininas presentes no
homem, e o animus denota as características masculinas observadas na mulher. Assim como os demais
arquétipos, anima e animus surgem do passado primitivo das espécies humanas, quando o homem e a
mulher adotavam as tendências emocionais e comportamentais do sexo oposto.
SOMBRA: O arquétipo da sombra, o nosso self mais sombrio, consiste na parte animalesca
da personalidade. Para Jung, esse arquétipo é herdado das formas inferiores de vida. A
sombra contém as atividades e os desejos imorais, violentos e inaceitáveis. Ela nos incita a
nos comportarmos de uma forma que ordinariamente não nos permitiríamos. Quando isso
ocorre, geralmente o indivíduo insiste em afirmar que foi acometido por algo. Esse "algo"
seria a sombra, a parte primitiva da natureza do indivíduo. No entanto, a sombra possui
também um lado positivo, responsável pela espontaneidade, pela criatividade, pelo insight
e pela emoção profunda, características necessárias para o total desenvolvimento humano.
SELF: Na opinião de Jung, o principal arquétipo é o self. Integrando e equilibrando todos os
aspectos do inconsciente, o self proporciona unidade e estabilidade à personalidade. Jung
o comparava a um impulso para a autorrealização, para a harmonização, a completitude e o
total desenvolvimento das habilidades individuais. Entretanto, acreditava que a
autorrealização plena seria atingida somente na meia-idade (30 a 40 anos), período crucial
para o desenvolvimento da personalidade. Esse seria o período natural para a transição,
quando a personalidade passa por várias mudanças necessárias e benéficas. Observa-se
aqui outro exemplo de elemento auto- biográfico na teoria de Jung. Na meia-idade ele
próprio havia atingido a autointegração resultante da solução de sua crise neurótica. Dessa
forma, para Jung, o estágio mais importante no desenvolvimento da personalidade não
seria a infância (como foi no sistema e na vida de Freud), mas o período da vida adulta,
entre os 30 e os 40 anos, quando ocorreram as mudanças na sua personalidade. (p. 326)
“Até você se tornar consciente, o inconsciente irá
dirigir sua vida e você vai chama-lo de destino.”
C. G. JUNG
EMENTA - 2º BIMESTRE
O Humanismo Americano
BUYS, R. C. A psicologia humanista. In: JACÓ-VILELA, A. M.;
FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs.) História da Psicologia:
Rumos e Percursos. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2013.
(Capítulo 20).
AMATUZZI, M. Humanismo e Psicologia. Cap 1
AMATUZZI, M. Rogers. Ética Humanista e Psicoterapia
O Existencialismo Europeu
SAPIENZA, B. T. Do desabrigo à confiança.
EMENTA - 2º BIMESTRE
Seminários a serem entregues e apresentados em aula, valendo de 0
a 10 pontos com peso 2, realizados em grupo (até no máximo 5
alunos) que deve consistir em uma pesquisa bibliográfica elaborada
em conformidade com as normas da ABNT de uma das teorias
psicológicas estudadas no 1º bimestre.
Qual (as possíveis/possível) atuação do psicólogo nesse saber
psicológico?
Estrutura do trabalho:
NP2: 14/11
O HUMANISMO AMERICANO
A psicologia humanista foi gestada durante a década de 1930 nos EUA e teve
seus primeiros trabalhos publicados a partir dos anos 1940. Entretanto, foi
na década seguinte que esse movimento obteve seu reconhecimento. Os
autores que podem ser apontados como iniciadores do movimento
humanista em psicologia são ABRAHAM MASLOW, GARDNER MURPHY,
GORDON W. ALLPORT e CARL ROGERS. Estes foram os autores que
começaram um movimento que veio a ser conhecido como “terceira força
em psicologia”, pois se postulava como uma alternativa a dois outros
movimentos muito fortes nos Estados Unidos da época, o behaviorismo de
John Watson e a psicanálise de Sigmund Freud.
No Brasil, a psicologia humanista foi introduzida predominantemente pelas
obras de Carl Rogers, que começaram a ser traduzidas nos anos 1970.
Não pode deixar de ser mencionada a vinda ao Brasil de Carl Rogers e sua
equipe em 1977, que facilitou um workshop de três semanas em Arcozelo
(RJ).
AMATUZZI, M. Humanismo e Psicologia.
HUMANISMO E PSICOLOGIA
Uma das coisas que subjaz a essas proposições é que a consideração do sentido é
fundamental. Para compreender o ser humano, tenho que lidar com questões de
sentido. A consideração do ser humano em termos de causa e efeito, antecedente e
consequente, parte e todo, por mais cabível, correta ou verdadeira que possa ser, não
dá conta do que seja o ser humano como totalidade em movimento. Em outras palavras:
posso explicar certas ocorrências humanas ou comportamentos a partir de "causas"
internas ou externas (motivações inconscientes ou configurações de estimulo, por
exemplo), posso analisar relações de antecedente-conseqüente (como por exemplo o
efeito de uma recompensa), ou posso explicar certas coisas em função das relações
parte-todo (como por exemplo quando digo que o modo de ser de uma pessoa é a
repercussão individual de problemas ou situações coletivas bem caracterizáveis).
Posso ainda descrever como é que tudo isso se articula numa espécie de história geral
de conflitos e fantasias, e que se aplicaria a todas as pessoas ou à maioria (psicologia
do desenvolvimento). Cada uma dessas coisas é válida e possível, e de fato é feita, com
muitas pesquisas, certamente. Mas nenhuma delas em separado, e nem todas
somadas, dão conta do ser humano como totalidade em movimento. Algo fica faltando,
e não é algo que possa ser cumprido dentro de cada um daqueles enfoques. Não é tanto
que essas explicações estejam incompletas. Sim, até estão, e haverá sempre mais a
(p. 10)
HUMANISMO E PSICOLOGIA
O homem é corpo tanto quanto alma, e é como um todo que ele tem que ser
cuidado (...)
Para alguns isso representou uma rejeição da visão teológica das coisas (...)
Contudo, nossa ajuda pode ir mais longe (se bem que isso
poderia, a rigor, caber ainda na função de testemunha). Estando com
a atenção voltada sobretudo para os sentimentos e intenções
daquele que nos procura (e que se manifestam de diferentes modos e
em diferentes graus de profundidade), automaticamente,
facilitaremos seu processo de encontro consigo próprio. Para uma
pessoa se pentear, um espelho ajuda; para uma pessoa se conhecer
melhor, um espelho humano é a melhor ajuda.
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
Costumo explicar isso a meus alunos, falando do tripé da
psicoterapia, e nisso me inspiro em Schmidt (1987),
transformando, a meu modo, o que ela diz. O tripé, do ponto de
vista do profissional que ajuda, tal como o vejo, é o seguinte:
• Acolher com simpatia;
• Compreender com empatia;
• Eventualmente, dizer uma palavra que faça pensar.
ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA E
PSICOTERAPIA
Acolher - em português, essa palavra quase que já inclui simpatia. Sem
dúvida, é possível acolher de má vontade. Mas acolher bem é fazer isso
de boa vontade, isto é, com simpatia, interesse, afeto; interessando-se
pela pessoa, pelo bem da pessoa.
Compreender - ela implica numa saída da atitude cotidiana, pois nesta, o
que fazemos é encaixar o que o outro diz nos esquemas de pensamento
que já temos. Na verdadeira compreensão, ao contrário, é preciso estar
aberto ao novo, ao diferente, ao que não se encaixa em nossos
esquemas.
Em resumo, a compreensão é um contato muito profundo de alma para
alma. Cabe ao terapeuta compreender profundamente e dizer sua
compreensão à pessoa que o procura, passo a passo, em todo decorrer
do encontro. Quem faz muitas perguntas não quer compreender passo a
passo, mas matar sua própria curiosidade (o que já distancia da
compreensão), ou encaixar a pessoa em um esquema prévio (c, assim,
centralizar o poder, o que também se afasta da intenção de facilitar um
processo autodirigido).
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Dizer uma palavra que faça pensar - nem sempre é preciso dizer uma
palavra que faça pensar. Por essa razão, está dito no tripé:
eventualmente. Se existe acolhimento e compreensão, praticamente
todo trabalho está feito. Isso pode bastar para desencadear o
movimento terapêutico de encontro consigo próprio. Contudo, às
vezes, pode ser oportuno dizer uma palavra que faça pensar.
Normalmente, o terapeuta principiante, de início, tem essa vontade,
sente que precisa fazer alguma coisa tocante e se esquece que é
basicamente com o acolhimento e a compreensão que ele ajuda a
desencadear o movimento autônomo da pessoa em direção ao seu
crescimento.
(p. 64, 65, 66)
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Temos, então, gestos e palavras que acolhem, gestos e palavras que expressam a
compreensão; gestos e palavras que suscitam um questionamento ou um
pensamento diferente no cliente. O que Rogers tem a ver com isso?
Correndo o risco de ser mal entendido, diríamos que, segundo o pensamento de
Rogers, não importa o que o terapeuta faça, o que importa são suas reais
disposições. E certamente poderíamos estender isso aos dois sentidos de
terapeuta: o profissional que acompanha e o cliente que está cuidando de si
próprio. Rogers chamava essas disposições de "atitudes". Essa palavra não tem
aqui o significado que tem em português corrente. Em nossa linguagem comum,
"tomar uma atitude" significa tomar uma decisão, agir. Não é nesse sentido que
Rogers fala de atitudes, mas no sentido técnico que essa palavra tem em
psicologia. "Atitude" refere-se a uma predisposição. Por exemplo, quando digo
"tenho uma atitude favorável ao esporte", isso significa que penso
frequentemente em esporte, gosto do esporte e tenho uma tendência a praticar
algum esporte. Coisa semelhante acontece com uma atitude desfavorável. Por
exemplo: quem não gosta de dançar, não entende de dança e, efetivamente, não
faz isso nunca ou quase nunca, é uma pessoa que tem uma atitude desfavorável à
dança. A atitude está em um plano mais recuado que o ato.
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Transpondo a discussão para as atitudes, Rogers estava dizendo que
a qualidade humana do terapeuta (no caso, do profissional psicólogo)
é mais importante que seus atos específicos. Isso livra o terapeuta
de atos padronizados, mas lhe traz uma responsabilidade muito
grande.
(p. 69)
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Isso que dissemos vale para a psicoterapia. Valeria, também, para o
plantão psicológico, a ludoterapia, os trabalhos em grupo e na comunidade?
Vamos por partes.
O plantão psicológico é uma modalidade de atendimento diferente da
psicoterapia. O que o caracteriza é o fato de ele ser um encontro único
(excepcionalmente com um ou dois retornos) e que acontece no mesmo
momento em que a pessoa procura ajuda. Quando ela chega procurando
ajuda, já é atendida. Não há agendamento. A diferença está, pois, no
enquadre externo que procura tirar proveito do momento motivacional da
pessoa. Contudo, no que diz respeito às disposições do terapeuta, não há
mudança alguma. Talvez esse enquadre diferenciado crie situações próprias.
Mas a reação do terapeuta, levando em conta a especificidade dessa
situação, será boa justamente quando ele estiver enraizado naquelas
mesmas predisposições. O que muda, portanto, é a situação externa e não
as disposições e os valores do terapeuta. O fato de ambos (profissional que
atende e pessoa que procura) saberem que se trata de um encontro único,
de "uma" conversa, muda muito até no uso de aquele tempo. Mas os valores
e atitudes que dão suporte ao encontro não mudam.
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