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CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL

Aula 1 - 10/08/2020
Thaiane Barros
Zaffaroni, no Livro “A questão criminal”, cita na introdução dois problemas:
-1º  há uma alienação no sistema penal e a primeira ligação que ele menciona é
sobre os estudantes de Direito que não entendem como funciona a realidade brasileira,
que dão as suas opiniões sem base concreta, por isso o professor disse que entende quando
muitos policiais criticam a visão encantada da academia. Ele disse que quando foi em um
debate sobre legalização de droga, as pessoas acreditavam que a mera legalização da
droga acabaria com a violência, mas para ele na verdade o tráfico de drogas não é o foco
da criminalidade, na verdade a criminalidade quer lucro como qualquer empresa, então
haverá tráfico de todo jeito, se vai ser maior ou menor ainda não se tem certeza, mas a
criminalidade migra, como por exemplo, a máfia russa, que sempre foi voltada para a
ideia de arma e que hoje atua na invasão de sistemas informáticos, ou seja, na contratação
de hackers, ou melhor, de crackers, que são os que prejudicam o outro para fazer extorsão.
Então, a criminalidade migra e se adapta como qualquer outra empresa, por isso mesmo
com a legalização vai haver a criminalidade, inclusive o cigarro mais vendido no Brasil
é o cigarro ilegal do Paraguai, mas o cigarro é legalizado; os cds mais vendidos são os
piratas; a criminalidade pode envolver a legalização, mas não se resume somente nisso,
envolve vários fatores.
- 2º  é a alienação que envolve àqueles que já saíram da instituição acadêmica,
que vão trabalhar e acreditam que tudo que viram somente serviu como teoria para passar
mesmo, que a vida profissional é outra, começa-se a viver uma prática alienada das
teorias. Ex: quando a lava-jato utilizou a teoria da cegueira deliberada, uma teoria
americana utilizada no Brasil de forma equivocada.
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Teoria de quando o indivíduo se embriaga voluntariamente é a: “Actio libera in
causa”. No Brasil a jurisprudência trata tudo do mesmo jeito de forma errônea, mas são
duas situações diferentes, já que tem uma hierarquia na vontade de beber:
 se embriagar sem vontade de cometer crimes;
 ter uma embriaguez visando o cometimento de crimes, para tirar os freios morais.
Nessa lógica, quem se embriaga, dirige e causa um acidente estaria cometendo
dolo automaticamente, já que assumiu o risco, seria o dolo eventual, há uma
previsibilidade de resultado. Porque os tribunais recentes começaram a decidir que
poderia ser culpa consciente? Se for utilizar o critério classe social pode-se verificar que
nas decisões, se o acusado for da classe C e D a tendência é que se considere dolo
eventual, mas se for da classe social A e B, irá se considerar a ideia de culpa consciente.
Como a lei pode ser aplicada de forma diferente para pessoas sobre situações iguais? E o
princípio da igualdade no Direito Penal? O judiciário é preconceituoso ou a sociedade
que é preconceituosa? A polícia é corrupta ou a sociedade é corrupta?
Documentário recomendado: “Notícias de uma guerra particular”. Que retrata o
tráfico de drogas, na visão da sociedade, do morador da favela, do policial, do traficante,
de pessoas que trabalham com segurança pública.
Essa ideia de alienação, quer seja de quem trabalha com a teoria da prática, quer
seja dos práticos da teoria, é um grande dilema no Brasil.
“A criminologia já é usada no combate à criminalidade de forma efetiva, não tem como
combater a criminalidade do que não se conhece”.
Para combater a criminalidade é preciso conhecer o crime.
Relação da criminalidade com as relações de consumo:
As sociedades de consumo se voltam para a criminalidade que dá dinheiro, ex:
quem tem carro, precisa realizar o seguro do veículo, logo o perigo de perder o carro gera
o gasto com o seguro. Então, as sociedades vivem nesses gastos por causa da
criminalidade, assim a criminalidade dá dinheiro a alguém e não é só ao criminoso, há
uma cadeia de consumo envolta da criminalidade, que a gente financia de forma indireta.
A criminalidade é um problema entre metas e meios, em algumas sociedades a
meta é ser feliz, ter uma família, ter dignidade. O Brasil e os EUA são sociedades de
consumo, a meta do nosso país é ter objetos caros. O consumo transmite a ideia de que se
a pessoa tiver determinado bem será diferenciado.
A criminalidade nada mais é no Brasil do que uma forma de incentivo ao consumo,
só que tem pessoas que não tem ou não quer utilizar os meios que a sociedade legitima,
que é estudar, o que é mais difícil, o que ninguém quer e nem sempre dá um resultado
rápido. Existe todo tipo de criminoso, alguns cometem delitos com base nas suas
necessidades, já outros porque são incentivados pelo consumo. Há uma retroalimentação.
As pessoas se tornam mercadoria.
Não é só um problema social, nem só um problema de vontade, então não pode se
ter uma visão dualista, maniqueísta, são vários fatores que levam alguém à criminalidade,
existem várias vertentes. É preciso criar novos conceitos, a partir de dados, não se pode
ter um pré-conceito. A criminalidade existe com fins diversos; uma coisa é quem rouba
celular para obter dados, outra coisa é quem rouba celular para vender; uma coisa é quem
rouba carro para depenar, ou outra coisa é quem rouba carro sob encomenda. Assim, são
distintas as formas de surgimento da criminalidade, então se deve combater de formas
distintas também. Se não entender o que gera, as causas, não terá como combater. O
Direito Penal não se preocupa com as causas do crime, apenas se resume a verificar se
houve crime ou não, e qual pena será aplicada.
Existem bolhas sociais, que favorecem com que as pessoas se mantenham em suas
realidades sociais, em suas realidades de mundo, o que dificulta os debates acerca da
criminalidade, que envolve a realidade da sociedade.
Aula 2 – 17/08/2020
Texto de Apoio 01 - Nilo Batista
Conceito
Começamos nossa aula com uma simples indagação: “É possível estabelecer um
único conceito para a criminologia? ” e a resposta é: “não, um conceito único é
impossível”. Cada autor irá ter seu próprio conceito. O conceito moderno da criminologia
nasce com a cientificidade do próprio direito. A criminologia e o direito, enquanto
ciência, ao contrário do que os autores dizem estão em "pau a pau".
Toada via há quem diga que o direito é uma ciência mais antiga de 1700 e tantos
anos. Podemos perceber que, como ciência, o direito começa a se estruturar no século 19,
a partir das ideias dos pensadores como Savigny, que se começa a pensar na forma
sistemática do direito como conhecemos hoje. Até então o direito era mais ligado a
filosofia e a política.
Para comprovar tal afirmativa basta dizer que o direito era atrelado a justiça na
Grécia Antiga; Roma, por sua vez, trabalha com a esfera política e moral; Idade Média
traz uma característica religiosa; no liberalismo, voltamos a ter uma ideia política, com o
contrato social. E a criminologia nasce de onde? Nasce do óbvio, o direito não vai resolver
todos os problemas do mundo.

Exemplo:
Quando o professor estudou o adultério ainda era crime, e ele levanta a hipótese
de que, e se tal crime ainda existisse nos dias de hoje? Como seria? Teria muita gente
presa? Com a existência de aplicativos como o Tinder, um "ifood de pessoas"

Esse é o ponto, as pessoas acham que com a simples elaboração de uma lei
vamos poder solucionar todos os problemas do mundo como por exemplo o chifre a
Gaia o adultério quando na realidade não há lei que vai impedir as pessoas de realmente
trair seus cônjuges.

A noção de o direito será capaz de resolver todos os problemas sociais do mundo


é absurda, o direito está para resolver questões de cunho jurídico, não necessariamente
todas os de cunho social. O direito afinal é um conjunto de normas coercitivas que busca
a justiça e o bem comum.
Diante do exposto devemos ter em mente que a criminologia vem carregada de
uma noção de CIÊNCIA. Oriunda da criminalidade moderna na Europa, melhor dizendo,
do Estudo dessa criminalidade. Temos duas formas de perceber a criminologia uma a
partir de Zafaroni e outra de Rafael Garofalo. Entretanto, a maioria, hoje, se utilizando de
livros esquematizados visando concurso público, diz que surge a criminologia ira surgir
da escola positiva italiana de um sujeito chamado Cesare Lombroso. Já outros vão dizer,
baseados em Zafaroni, a tese de que nasce, na realidade, na Idade Média com o Manual
dos Pernitentes e o Martelos das bruxas, afinal a inquisição foi o primeiro estudo da
pessoa tida como indesejável.
Trata-se de uma ciência. O conceito, o termo CRIMINOLOGIA começa com Paul
Topinard, trabalha com a ideia do estudo do crime e do criminoso, mudando o foco do
direito, que possui uma ótica normativista, para estudar as relações envolta do crime,
partindo da zona em comum, o direito penal. Em outras palavras, a ciência do direito se
une com a da criminologia pelo conceito de crime, que é fornecido do direito penal.
Por isso é muito complexo ingressar no estudo da criminologia sem o
conhecimento prévio de direito penal, é necessário um conhecimento da dogmática penal,
para que se possa entender a criminologia. É preciso ter um conceito de crime delimitado,
para que a partir disso se possa estudar o crime em sim, bem como as relações em volta
do crime. Um dos grandes criminologos brasileiros, professor da USP, o Prof. Dr. Sérgio
Salomão Shecaira, diz:
A maior parte dos autores define a criminologia como urna ciência. Ainda que
tal premissa não seja absoluta na doutrina, não há como negar que, em sua grande
maioria, esta vê um método próprio, um objeto e urna função atribuíveis a criminologia.
Mesmo entendendo a ciência como uma forma de procurar o conhecimento, diversa
daquela que pode existir a partir do senso comum, não se tem dúvidas em afirmar que
a criminologia e uma ciência. Também não se ignora a discussão segundo a qual as
ciências humanas ou sociais na o são realmente ciências, porque não trazem teorias de
validade universal, nem dispõem de métodos unitários ou específicos

Ainda temos o ilustre Jorge de Figueiredo Dias, que trabalha com a ideia de que a
definição é uma construção histórica:
Por outro lado, ainda, a visão histórica permite ainda considerar melhor a
projeção das teorias criminológicas na política criminal e nos quadros ideológicos em
geral. A relação entre a criminologia e a ideologia não tem apenas um sentido, também
a ideologia sofre a influência das concepções criminológicas

Portanto percebemos que podemos definir a criminologia a partir dos movimentos


da própria criminologia, bem como, podemos definir da construção histórica. Mas em
qualquer ponto de partida, chegamos a conclusão que a criminologia busca o estudo do
fenômeno crime, fenômeno este que é social, jurídico, devendo ser compreendido de
forma multilateral. Afranio Peixoto já dizia: “a Criminologia é uma ciência que estuda os
crimes, os criminosos, isto é, a criminalidade.”
Essa visão multilateral torna a criminologia empírica, o que é o seu grande
diferencial do direito, visto que este é dedutivo, utilizando o silogismo logico. O dirieto
penal só interessa saber se há crime e se vai haver pena, o porque, quando, o agente se
torna criminoso. O direito apenas olha para o agente como pessoa, na primeira fase da
aplicação da pena, segundo o art. 59, CP.
CAPÍTULO III
DA APLICAÇÃO DA PENA
Fixação da pena
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos
antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente,
aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime,
bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá,
conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos
limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena
privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade
aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

Tal artigo é, nitidamente, oriundo do pensamento criminológico. A Culpabilidade


é um critério notoriamente jurídico, mas os critérios de: ANTECEDENTES básico da
escola positiva italiana, provinda da tese de defesa social; já a CONDUTA SOCIAL e
todos os outros critérios deste artigo, são elementos circundantes ao crime em sim, os
fatores que levaram o agente a cometer o crime.
O conceito do perigo, a periculosidade do agente é de base criminológica. O
direito penal tenta afunilar em dois momentos: a conduta com violência ou grave ameaça;
e a reincidência. A princípio só tínhamos esses dois fatores de indicativo de
periculosidade, entretanto, com o advento do pacote anticrime, foi introduzido novos
indicadores, como a participação em organização criminosa.
A criminologia estuda o fato, o real, diferente do direito que é uma questão
abstrata. Por exemplo, o art. 33 da lei de drogas, a Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006,
imputa uma pena altíssima, de 5 a 15 anos, entretanto em seu caput nada menciona as
duas teses básicas de periculosidade já vistas: conduta com violência ou grave ameaça; e
a reincidência. A fundamentação do perigo do tráfico de drogas, todo o seu fenômeno
criminológico, é percebido na criminologia
CAPÍTULO II
DOS CRIMES
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir,
fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e
pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa.

Não podemos compreender a periculosidade desse crime, sem a criminologia, mas


devemos sempre nos atentar que o direito é o ponto de partida, visto que este detém o
monopólio de dizer o que é crime. Criminologia se utiliza de outras ciências para se
basear, trata-se de uma característica de interdisciplinaridade, como a sociologia,
psicologia, medicina legal, antropologia, entre tantas outras, de uma forma Empírica.
Manual Esquemático de Criminologia – Nestor Sampaio Penteado Filho
1.1 Conceito de criminologia. Características
Etimologicamente, criminologia vem do latim crimino (crime) e do grego logos
(estudo, tratado), significando o “estudo do crime”. Para Afrânio Peixoto (1953, p. 11), a
criminologia “é a ciência que estuda os crimes e os criminosos, isto é, a criminalidade”.
Entretanto, a criminologia não estuda apenas o crime, mas também as
circunstâncias sociais, a vítima, o criminoso, o prognóstico delitivo etc. A palavra
“criminologia” foi pela primeira vez usada em 1883 por Paul Topinard e aplicada
internacionalmente por Raffaele Garófalo, em seu livro Criminologia, no ano de 1885.
Pode-se conceituar criminologia como a ciência empírica (baseada na
observação e na experiência) e interdisciplinar que tem por objeto de análise o
crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, da vítima e o controle
social das condutas criminosas.
A criminologia é uma ciência do “ser”, empírica, na medida em que seu objeto
(crime, criminoso, vítima e controle social) é visível no mundo real e não no mundo dos
valores, como ocorre com o direito, que é uma ciência do “dever ser”, portanto normativa
e valorativa.
A interdisciplinaridade da criminologia decorre de sua própria consolidação
histórica como ciência dotada de autonomia, à vista da influência profunda de diversas
outras ciências, tais como a sociologia, a psicologia, o direito, a medicina legal etc.
Embora exista um consenso entre os criminólogos de que a criminologia ocupe
uma instância superior, esta não se dá de forma piramidal, pois não existe preferência por
nenhum saber parcial, conforme se vê no esquema a seguir:

Objeto
Quando vamos determinar o objeto de estudo da criminologia, estudamos uma
gama muito maior do que o que é apresentado pelo direito, sendo este apenas mais um
objeto de estudo. Na criminologia, estuda-se desde o controle social, passando pelo
direito, a pena, o criminoso em si, bem como os fatores externos ao sistema jurídico.
Controle social
O controle social pode ser definido como a reunião de mecanismos e sanções
sociais imbuídos do propósito de submeter os componentes do grupo social às regras
estabelecidas para a comunidade. Pode ser formal (órgãos de Estado, juízes, promotores,
escola, faculdade) ou informal (família, amigos, opinião pública, etc.). A principal forma
de controle, todavia, é a informal, que se aplica em todos os momentos da vivência em
comunidade. Constatada a sua insuficiência, o controle informal cede lugar aos
mecanismos de controle formal.
Crime
A criminologia vai estudar o crime pelas suas mais diversas vertentes, como
fenômeno jurídico, social, econômico, psicológico, cultural, antropológico... Se
utilizando da criminologia como ferramenta, poderia se estudar o mesmo crime para
sempre.
Criminoso
Trata-se de outra perspectiva de estudo, buscando entender quem é o criminoso?
Quais são os fatores que o levam a tal condição? Qual é o modus operandi? Seu perfil
psicológico?
No Brasil temos a mania de achar que apenas o pobre é o criminoso em potencial,
ignorando que cada classe econômica tem sua criminalidade própria, como apontoa
Suddenly, não se trata da classe em que se encontra, trata-se de um desvio, cada um com
suas peculiaridades próprias que precisão ser estudadas a partir destas.
Fatores externos ao sistema jurídico
Tais fatores seriam referentes a vítima, ao clima, temos como exemplo a teoria
das janelas quebras, tese feita nos EUA, que indica que uma simples janela quebrada afeta
a criminalidade do bairro, pois a ideia de uma casa arrumada, significa que tem gente
morando, as casas desocupadas são invadidas por pessoas que vendem drogas, cometem
crimes, desvalorizando economicamente os imóveis da região e forçando os vizinhos de
bem a se mudarem. Por isso tem uma pressão social, bem como pressão Estatal, para que
as casas estejam sempre pintadas, com grama verde e aparada, se a janela quebra em um
dia, no outro já estão trocando.
A desordem e a teoria das janelas quebradas
https://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/121937294/a-desordem-e-a-teoria-das-
janelas-quebradas

Antes de adentrar propriamente este breve ensaio sobre a Teoria das Janelas
Quebradas, é fundamental a situarmos, enquanto estudo criminológico, no ramo da
Criminologia.
Numa primeira tentativa de análise conceitual do termo, parte-se para o
significado etimológico do vocábulo criminologia, que é oriundo do latim crimino
(crime) e do grego logos (tratado ou estudo). Extrai-se dessa análise inicial que a
Criminologia nada mais é do que o estudo do fenômeno criminal.
Existem diversos conceitos doutrinários de Criminologia, porém, opto por citar
a definição de Newton Fernandes e Valter Fernandes: “Criminologia é a ciência que
estuda o fenômeno criminal, a vítima, as determinantes endógenas e exógenas, que
isolada ou cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do delinquente, e os
meios labor-terapêuticos ou pedagógicos de reintegrá-lo ao grupamento social” (1995
p.24).
Neste momento é muito importante estabelecer a diferença entre a Ciência
Criminologia e Política Criminal. Para alguns política criminal seria também uma
ciência, porém esse posicionamento não se sustenta. Na visão de Guilherme Nucci, a
política criminal nada mais é que uma técnica de observação e análise do Direito Penal,
de modo crítico, expondo seus defeitos, sugerindo reformas e aperfeiçoamentos,
colocando critérios orientadores da legislação, bem como projetos e programas
tendentes à mais ampla prevenção do crime e controle da criminalidade. Reafirmando
seu posicionamento, Nucci cita em sua obra Sérgio Salomão Shecaira: “a política
criminal, pois, não pode ser considerada uma ciência igual à criminologia e ao direito
penal. É uma disciplina que não tem método próprio e que está disseminada pelos
diversos poderes da União, bem como pelas diferentes esferas de atuação do p (róprio
Estado” (2008, p. 42).
Na verdade, o crime, o criminoso e a sanção penal são os objetos de estudo de
diversas ciências, conhecidas como enciclopédia de ciências penais ou síntese
criminológica, entre elas destacam-se: a antropologia criminal, biologia criminal,
sociologia criminal, psicologia criminal, psicanálise criminal, o direito penal, direito
processual penal etc. Contudo, a criminologia é considerada uma ciência que abrange
praticamente todas as demais disciplinas criminais, daí também ser chamada de
“ciência de síntese”, pois utiliza do campo de trabalho de outras ciências criminais.
O Direito Penal dedica-se ao estudo das consequências jurídicas do delito, ao
passo que a Criminologia cuida dos aspectos sintomáticos individuais e sociais do
crime e da criminalidade, fornecendo informações sobre o delinquente, delito vítima e
o controle social (objetos do estudo criminológico), contribuindo para o estudo das
causas do crime. O Direito Penal é uma disciplina normativa, declara “o que deve ser”,
por outro lado, a Criminologia é uma ciência empírica que estuda “o que é”.
Enquanto ciência, a Criminologia tem o seu método apoiado em bases
científicas, sistematizadas por experiências comparadas e repetidas, visando buscar a
realidade que se quer alcançar. É ciência empírica e experimental, logo, sua
metodologia não poderia ser outra se não a experimental, naturalística e indutiva,
buscando auxílio dos métodos estatísticos, históricos e sociológicos, além do biológico.
Os fins básicos desta ciência são informar a sociedade e os poderes constituídos
acerca do crime, do criminoso, da vítima e dos mecanismos de controle social, além
disso, sobretudo a luta contra a criminalidade, o controle e a prevenção.
Na visão de Nestor Sampaio Penteado Filho, as teorias criminológicas
contemporâneas não se limitam à análise do delito segundo uma visão do indivíduo ou
de pequenos grupos, mas sim da sociedade como um todo. O moderno pensamento
criminológico se influencia por duas visões distintas: as teorias de consenso, de cunho
funcionalista, denominada teoria de integração; e as teorias de conflito, de cunho
argumentativo (2010, p. 50).
As teorias do consenso entendem que os objetivos da sociedade são atingidos
quando se opera o funcionamento perfeito das instituições, com os indivíduos
convivendo e concordando com as regras sociais de convívio. Por outro lado, temos as
chamadas teorias do conflito, para as quais a harmonia social decorre da força e da
coerção, é neste contexto que surge a teoria das janelas quebradas.
A Teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows Theory) surge nos Estados
Unidos em 1982, quando a revista The Atlantic Monthly publicou os estudos de James
Wilson e George Kelling, os quais buscavam demonstrar a relação entre desordem e
criminalidade.
A publicação tomou por base um experimento realizado por Philip Zimbardo,
psicólogo da Universidade Stanford, que consistiu em deixar um automóvel no bairro
de classe alta Palo Alto, na Califórnia, e outro no violento bairro nova-iorquino Bronx.
Observou-se que o carro deixado no Bronx foi totalmente “depenado” em 30 minutos,
enquanto o carro de Palo Alto permaneceu intacto por uma semana. Porém, o
pesquisador quebrou uma das janelas do veículo do bairro de classe alta, com isso, o
carro foi saqueado e destruído em poucas horas.
Concluiu-se, então, se uma janela é quebrada, e não é imediatamente
consertada, a população passará a pensar que não existe autoridade responsável pela
ordem ali, com isso, em instantes todas as outras janelas estariam destruídas, levando
à decadência daquele espaço urbano, criando terreno propício para a criminalidade.
Todavia, os americanos não se limitaram ao campo experimental e teórico, ela
foi aplicada em Nova York, quando Rudolph Giuliani era prefeito, através da Operação
Tolerância Zero, a qual levou a considerável redução nos índices de criminalidade na
cidade que anteriormente era conhecida como a “Capital do Crime”, hoje uma das mais
seguras dos Estados Unidos – os índices de criminalidade caíram 57% em geral e os
casos de homicídios caíram 65%.
Implantou-se a Teoria da Lei e Ordem, pregando a necessidade de uma
intervenção rigorosa do direito penal, adotando-se um direito penal máximo, remédio
para todos os males sociais através da sanção penal.
Na visão de Rogério Greco, a mídia no final do século passado e início do atual
foi a grande propagadora e divulgadora deste movimento de Lei e Ordem:
“profissionais não habilitados chamaram para si a responsabilidade de criticar as leis
penais, fazendo a sociedade acreditar que, mediante o recrudescimento das penas, a
criação de novos tipos penais incriminadores e o afastamento de determinadas garantias
processuais, a sociedade ficaria livre daquela parcela de indivíduos não adaptados”
(2009, p. 12).
Os críticos dessa teoria apontam que a operação “tolerância zero” (zero
tolerance) levou ao encarceramento em massa dos menos favorecidos, salientam ainda
que a prisão não é o único meio de coerção estatal, não sendo nem de longe o mais
efetivo meio de prevenção criminal.
Para os membros do departamento de antropologia do John Jay College of
Criminal Justice, Travis Wendel e Ric Curtis, o programa nova-iorquino é
extremamente agressivo. Contudo, as taxas de criminalidade são as mais baixas em 30
anos, porém para entender o real impacto da ação é necessário fazer mais do que
comparar números de prisões geradas pelas estratégias empregadas.
Segundo tais pesquisadores, o sucesso de tal medida parece ser coincidente com
outros aspectos sociais e econômicos. Por exemplo, não existe evidência para sugerir
que o mercado de drogas tenha sido eliminado ou reduzido, sugere-se que houve uma
reconfiguração do comércio para driblar as táticas hostis de policiamento. Outro fator
apontado como determinante na redução dos números da mancha criminal foi uma
mudança no caráter socioeconômico de alguns bairros. O crescimento do mercado de
serviços derivado da restauração da economia trouxe esperanças para os jovens de
ganhar a vida fora das fileiras do crime.
O próprio ex-prefeito Giuliani afirmou que “uma das principais razões do
declínio da criminalidade tão drasticamente em Nova Iorque é que não permitimos mais
que os traficantes controlem as ruas da cidade”. Para Wendel e Curtis, essa afirmação
não suporta uma análise mais profunda, tendo em vista que os índices de criminalidade
naquela cidade começaram a diminuir antes mesmo do primeiro mandato de Giuliani,
portanto, antes da “tolerância zero”.
De acordo com a visão destes estudiosos, as mudanças econômicas causaram
maior diferença do que o policiamento agressivo e da política da “zero tolerance”. As
áreas onde o crime dominava foram repovoadas por residentes com interesse na
participação dos assuntos locais, serviços básicos e patrulhamento foram retomados
(WENDEL, CURTIS, 2012).
Contudo, em 1990, Wesley Skogan realizou pesquisas em inúmeras cidades dos
EUA, confirmando os fundamentos da teoria das Janelas Quebradas. A relação de
causalidade entre a desordem e criminalidade é muito maior do que a relação entre
criminalidade e pobreza, desemprego e falta de moradia. (SKOGAN, 2012).
Quando a desordem se instala no seio da sociedade pela falta de punição, a
impunidade faz surgir no cidadão o sentimento de abandono estatal, a sensação de que
as transgressões não serão punidas, passando a agir sem os freios morais inibidores.
Por outro lado, o cidadão observa de dentro da sua casa que ele está acuado pela
criminalidade, enquanto os transgressores estão nas ruas.
Aula 3 – 24/08/2020
Texto de Apoio 01 - Nilo Batista
Método
Como já visto, o direito penal não tem capacidade de fornecer informações
suficientes acerca dos crimes, apenas sobre a questão jurídica. Já a criminologia, ela busca
explicativas, logicas, partindo dessa visão jurídica do direito penal, para um contexto
muito mais dinâmico e empírico, e essa conclusão seria a política criminal, como as
instituições refletem sobre aquilo, recomendando alterações na aplicação da norma,
retornando ao direito penal. O que torna um ciclo.
O método da criminologia é EMPÍRICO, para o direito, e outras ciências também,
é considerado extremamente EXPERIMENTAL. Isso porque a criminologia quebra um
paradigma, se apropriando de outras ciências, outros conhecimentos, lógicas, para se
tornar um sistema hermenêutico.
Como assim hermenêutica? Ao mesmo tempo que a criminologia utiliza a
biologia, ela pode utilizar a sociologia, antropologia, ciências que, a priori, não tem
conexões, mas que para desvendar o crime é necessário. Trata-se de uma situação muito
naturalística, causa e efeito, ao se ler criminologia, se entende a lógica de como aquele
fenômeno se dá.
Um dos maiores erros da criminologia é fazer a universalização, não há como se
comparar as teses criadas e aplicadas nos EUA, a todo o Brasil, quanto mais ao nordeste
brasileiro. É preciso se observar a que país foi feito aquele estudo, em que situação
histórica, demográfica, geográfica... eles se encontravam? A noção naturalística, de
realidade, deve ser aplicada aquela realidade, se pressupõe os dados da vida real, e ao ser
aplicado em outra realidade precisa ser analisado dados com dados, e se necessário
adaptar a tese.
Exemplo:
A Suécia resolveu um grande problema de alcoolismo com uma política
massiva de educação, descobriram que os adolescentes estavam com altíssimo nível de
vicio no álcool, e ao invés de proibir o consumo, eles investiram em uma política de
educação através dos meios de comunicação, meios acessíveis aos jovens, utilizando
as escolas, e conseguiram um êxito excelente.
Mas será que se fosse aplicar isso no Brasil teríamos os mesmos resultados? O
jovem brasileiro entenderia os efeitos do álcool e diminuiria seu consumo ou esses
jovens serão eternos dependentes do open bar? A simples política de educação faria o
brasileiro mediano, entre 15 e 22 anos, para de beber? Não sabemos, mas podemos nos
basear em projetos já realizados, como o de embriaguez e direção, que tivemos uma
diminuição, mas não obteve um sucesso tão grande assim.
Conclusão:
Precisamos aplicar, utilizar o método empírico.

Disciplinas relacionadas à REALIDADE CRIMINAL:


1) Fenomenologia criminal: trabalha-se com a análise das formas de surgimento do
crime através do tempo ou do espaço;
2) Etiologia criminal: ocupa-se das causas que levaram ao comportamento desviante,
ou seja, quer esclarecer as casas do crime e da criminalidade;
3) Biologia criminal: entende o crime como produto da personalidade delinquente;
4) Geografia criminal: identifica o crime nas várias regiões geográficas; Busca
delimitar os índices de crimes em determinadas regiões, o estudo da criminalidade
dentro daquela área geográfica;
5) Ecologia criminal: tem por objeto estudar a influência dos lugares nos crimes.
Busca saber se o clima, o relevo, a ecologia influencia no crime.
EX: países com clima mais quente tem mais índices de violência maior, por sua
vez, países de clima mais frios tem maiores índices de suicídio.

Disciplinas relacionadas com a INVESTIGAÇÃO:


1) Criminalística (ciência policial): é a arte que estuda e aplica técnicas de
investigação, com o fim de identificar os crimes e seus suspeitos. Se divide em
tática criminal, relacionada com o método de investigação e, técnica criminal, que
se ocupa com as provas e suas formas de obtenção.

Sistemas relacionados com a PREVENÇÃO e REPRESSÃO AO DELITO:


1) Penologia: compreende o estudo das formas de penalidade e sua execução, é o
estudo da aplicação da pena;
2) Profilaxia: estuda formas de prevenção do delito.

Manual Esquemático de Criminologia – Nestor Sampaio Penteado Filho


Método e finalidade
Método é o meio pelo qual o raciocínio humano procura desvendar um fato,
referente à natureza, à sociedade e ao próprio homem. No campo da criminologia, essa
reflexão humana deve estar apoiada em bases científicas, sistematizadas por experiências,
comparadas e repetidas, visando buscar a realidade que se quer alcançar.
A criminologia se utiliza dos métodos biológico e sociológico. Como ciência
empírica e experimental que é, a criminologia utiliza-se da metodologia experimental,
naturalística e indutiva para estudar o delinquente, não sendo suficiente, no entanto, para
delimitar as causas da criminalidade. Por consequência disso, busca auxílio dos métodos
estatísticos, históricos e sociológicos, além do biológico.
Observando em minúcias o delito, a criminologia usa, portanto, métodos
científicos em seus estudos. Os fins básicos (por vezes confundidos com suas funções) da
criminologia são informar a sociedade e os poderes constituídos acerca do crime, do
criminoso, da vítima e dos mecanismos de controle social. Ainda: a luta contra a
criminalidade (controle e prevenção criminal).
A criminologia tem enfoque multidisciplinar, porque se relaciona com o direito
penal, com a biologia, a psiquiatria, a psicologia, a sociologia etc.
Funções
Desponta como função primordial da criminologia a junção de múltiplos
conhecimentos mais seguros e estáveis relacionados ao crime, ao criminoso, à vítima e
ao controle social. Esse núcleo de saber permite compreender cientificamente o problema
criminal, visando sua prevenção e interferência no homem delinquente.
Porém, registre-se que esse núcleo de conhecimentos não é um amontoa do de
dados acumulados, porque se trata de conhecimento científico adquirido mediante
técnicas de investigação rigorosas e confiáveis, decorrentes de análises empíricas iniciais.
Pode-se dizer com acerto que é função da criminologia desenhar um diagnóstico
qualificado e conjuntural sobre o delito, entretanto convém esclarecer que ela não é uma
ciência exata, capaz de traçar regras precisas e indiscutíveis sobre as causas e efeitos do
ilícito criminal.
Assim, a pesquisa criminológica científica, ao usar dados empíricos de maneira
criteriosa, afasta a possibilidade de emprego da intuição ou de subjetivismos.

Direito Penal Criminologia Política Criminal


O direito penal é Tratas-se de uma É oriunda do
uma ciência normativa, seu ciência empírica, com conhecimento obtido pela
método é o silogístico, método, via de regra, aplicação da lei penal pelos
melhor dizer que o direito indutivo, ou seja, para que órgãos de controle estatal,
penal está preocupado com se possa entender a os órgãos de controle
a aplicação da norma. Traz criminologia é necessário direito da sociedade. Tais
a noção do controle que se entenda o fenômeno órgãos, aplicam a lei e
normativo, controle social. real, estuda-lo para então obtem dados, esses dados
dar uma solução. Não se são necessários aos órgãos
Mas o direito penal
pode presumir, não é algo de controle estatal, para
traz algo de fundamental
silogístico, não pertence à descobrir como funciona, a
para a criminologia, como
ótica do dever ser. eficácia...
já vimos, ele detém o
monopólio do conceito do Assim como o A uma grande
crime. direito penal, a divergência se pode ou não
criminologia também é considerar a política
O direito penal é
casualista, tem uma causa e criminal uma ciência.
casualista, tem uma causa e
um efeito, entretanto a Alguns pensadores da
um efeito, SE e ENTÃO: se
criminologia é muito mais sociologia dizem que sim,
ocorre tal fato, então
naturalística, busca saber há uma ciência.
imputa-se tal pena.
porque que ocorreu o
Já outros, como
crime? Ou ainda, se a pena
Nilo Batista, vão negar tal
é eficiente? Ou mesmo,
noção. Afirmando que a
quem é o criminoso? Ou
política criminal tem uma
vítima?
finalidade, que seria a
arrecadação de dados, não
querendo dizer,
necessariamente, ser uma
ciência, visto que seria
parte integrante da
chamada política de
combate à criminalidade,
ou mesmo política social.
Há uma grande
confusão entre política de
segurança pública e a
política criminal. Sendo
que a política de segurança
pública é uma das políticas
que dão conhecimento,
dados a política criminal

Nilo Batista
§ 1º - Direito penal
[...]
O direito penal vem ao mundo (ou seja, e legislado) para cumprir funções
concretas dentro de e para uma sociedade que concretamente se organizou de determinada
maneira.
O estudo aprofundado das funções que o direito cumpre dentro de uma sociedade
pertence a sociologia jurídica, mas o jurista iniciante deve ser advertido da importância
de tal estudo para a compreensão do próprio direito.
[...]
A função do direito de estruturar e garantir determinada ordem econômica e
social, a qual estamos nos referindo, e habitualmente chamada de função "conservadora"
ou de "controle social". O controle social, como assinala Lola Aniyar de Castro, "não
passa da predisposição de táticas, estratégias e forças para a construção da hegemonia, ou
seja, para a busca da legitimação ou para assegurar o consenso; em sua falta, para a
submissão forçada daqueles que não se integram a ideologia dominante". É fácil perceber
o importante papel que o direito penal desempenha no controle social. Sob certas
condições, pode o direito desempenhar outras funções (como, por exemplo, a "educativa"
e mesmo a "transformadora" - esta, oposta a "conservadora"). A preponderância da função
de controle social e, contudo, inquestionável.
Determinadas, assim, pela necessidade do poder que confere garantia e
continuidade as relações materiais de produção prevalecentes numa dada sociedade,
estariam as normas jurídico-penais alijadas de qualquer influência ativa sobre essa mesma
sociedade? A resposta de Aníbal Bruno merece transcrição: "sabemos como as sociedades
humanas se encontram ligadas ao Direito, fazendo-o nascer de suas necessidades
fundamentais e, em seguida, deixando-se disciplinar por ele, dele recebendo a
estabilidade e a própria possibilidade de sobrevivência". Ou seja, embora o direito penal
seja modelado pela sociedade - e, em última instancia, hão de prevalecer sempre as
variáveis econômicas que determinam suas linhas fundamentais - ele também interage
com essa mesma sociedade. Como ensina Miranda Rosa, "se o direito e condicionado
pelas realidades do meio em que se manifesta, entretanto, age também como elemento
condicionante ".
Ha marcante congruência entre os fins do estado e os fins do direito penal, de tal
sorte que o conhecimento dos primeiros, não através de formulas vagas e ilusórias, como
sói figurar nos livros jurídicos, mas através do exame de suas reais e concretas funções
históricas, econômicas as e sócias, é fundamental para a compreensão dos últimos.
Conhecer as finalidades do direito penal, que e conhecer os objetivos da
criminalização de determinadas condutas praticadas por determinadas pessoas, e os
objetivos das penas e outras medidas jurídicas de reação ao crime, não é tarefa que
ultrapasse a área do jurista, como as vezes se insinua. Com toda razão, assinala Cirino
dos Santos que "a definição dos objetivos do Direito Penal permite clarificar o seu
significado político, como técnica de controle social"". Aliás, a indagação sobre fins, que
comparece em vários momentos particulares (na interpretação da lei, na teoria do bem
jurídico, no debate sobre a pena, etc), não poderia deixar de dirigir-se ao direito penal
como um todo.
§ 3º - Criminologia
Criminologia, segundo Lola Aniyar de Castro, "e a atividade intelectual que
estuda os processos de criação das normas penais e das normais sociais que estão
relacionadas com o comportamento desviante; os processos de infração e de desvio destas
normas; e a reação social, formalizada ou não, que aquelas infrações ou desvios tenham
provocado: o seu processo de criação, a sua forma e conteúdo e os seus efeitos”.
Nossos textos de iniciação ao direito penal oferecem geralmente conceito bem
diferente da criminologia, neles apresentada como um conjunto de conhecimentos, ao
qual se atribui ou não caráter científico', cujo objetivo seria o exame causal-explicativo
do crime e dos criminosos', de utilidade questionada'. Aníbal Bruno menciona a
"prevenção de alguns juristas para com os trabalhos da criminologia"
Tal prevenção, infelizmente, não derivava da percepção do impasse metodológico
e dos equívocos positivistas, presentes na consideração da criminologia como simples
exame causal-explicativo do crime e do criminoso, nem das funções de legitimação de
ordens sociais injustas desempenhadas por tal criminologia. Tal prevenção estava ligada
a prática esquizofrênica, haurida de uma vertente neokantista que influenciou
extraordinariamente o pensamento jurídico, não de distinguir entre o ser e o dever-ser,
mas sim de literal mente criar dois mundos epistemologicamente incomunicáveis. Tal
influencia, surgida, como lembra Zaffaroni, "numa época em que se evidenciou a
necessidade de isolar cuidadosamente o ser e o dever-ser, pois o segundo nao guardava
harmonia com o primeiro e o positivismo organicista burguês não lograva compatibilizá-
los", atingiu profundamente o direito penal brasileiro", levando-o a um desprezo olímpico
pela realidade, a um intencional isolamento'. Na verdade, ser e dever-ser relacionam-se
como fato e valor, numa relação de totalidade dialética, como registra Poulantzas, e por
essa perspectiva o saber criminológico e o saber jurídico-penal se comunicam
permanentemente.
[...]
§ 4 - Política criminal
Do incessante processo de mudança social, dos resultados que apresentem novas
ou antigas propostas do direito penal, das revelações empíricas propiciadas pelo
desempenho das instituições que integram o sistema penal, dos avanços e descobertas da
criminologia, surgem princípios e recomendações para a reforma ou transformação da
legislação criminal e dos órgãos encarregados de sua aplicação. A esse conjunto de
princípios e recomendações denomina-se política crimina. Segundo a atenção se
concentre em cada etapa do sistema penal, poderemos falar em política de segurança
pública (ênfase na instituição policial), política judiciaria (ênfase na instituição judicial)
e política penitenciaria (ênfase na instituição prisional), todas integrantes da política
criminal. Como anota com precisão Pulitano, há entre a criminologia e a política criminal
a distinção - e ao mesmo tempo um relacionamento - intercorrente entre a capacidade de
interpretar e aquela de transformar certa realidade'. Convém igualmente advertir que a
acepção que se confere aqui política criminal nada tem a ver com compromissos teóricos
de um certo movimento, liderado por von Liszt no final do século XIX, que chegou a ser
chamado de "escola da política criminal"
O campo da política criminal tem hoje uma amplitude enorme. Não cabe mais
reduzi-la ao papel de "conselheira da sanção penal", que se limitaria a indicar ao
legislador onde e quando criminalizar condutas'. Nem se pode aceitar a primitiva fórmula
Lisztiana de sua relação com a política social: está se ocuparia de suprimir ou limitar as
condições sociais do crime, enquanto a política criminal só teria por objeto o delinquente
individualmente considerado.
Aula 4 – 31/08/2020
História da criminologia
Para podermos trabalhar a história da criminologia devemos iniciar com a história
da vingança, devemos dividi-la em 3 momento: vingança privada, vingança divina e
vingança estatal. Cada método, cada escola criminologia, cada forma de entender a
criminologia se dar com o avanço de duas coisas: sociedade e ciência. Sem isso não
teríamos uma criminologia lógica.
Ora, quando não existia sociedade não existia vingança. Visto que é algo
inerente do ser humano, a primeira forma de punição é a vingança, trata-se de um direito
natural que, em tese, abdicamos para viver em sociedade.
OBSERVAÇÃO:
Não devemos confundir a vingança privada com a autotutela, visto que a
autotutela é quando o ESTADO já existe e permite que o indivíduo execute a justiça,
como por exemplo os apedrejamentos ainda existentes no Estado Islâmico.

Vingança Privada
Ocorre em sociedades sem Estado, portanto não existia um limite real para a
punição. O que buscavam era a satisfação pessoal. Logo, trata-se de uma vingança
ilimitada e pessoal, impulsionada pelo sentimento.
Vingança Divina
A primeira forma real de limitação da vingança é a ideia da vingança divina. O
que nos faz unir em Estado, sociedade, tribo, clã inicialmente é o fenômeno do
desconhecido, sem poder explicar de forma precisa e cientifica o que era aqueles
fenômenos da natureza.
E é justamente se aproveitando desses fenômenos inexplicáveis que as religiões
crenças, criam uma forma de Estado inicial. Essas crenças dão um caráter social a
vingança, a punição. No sentido que transforma tal punição, em TABU, isto é, aquilo que
é divino, e que ao ser afrontado atrai para a sociedade a fúria, a ira, dos Deuses,
condenando toda a sociedade a punição dos Deuses.
A noção da vingança divina se embasa em que a religião deve ser aplicada para
evitar a ira dos Deuses, utilizando-se de sacrifícios humanos, quer tenha cometido crimes
ou não.
Vingança Estatal
Logo o Estado percebeu que a punição poderia ser uma forma útil de controle
social. Obviamente não se utilizavam do termo de controle social.
Quando os estados começam a surgir, e tornam-se mais complexos, temos uma
aplicação de uma punição severíssima, visto que o Estado passa a utilizar a punição como
uma forma de controle. Que punição seria essa? Estamos diante o suplício, muito bem
retratado no livro Vigiar e Punir de Michel Foucault.
Também podemos aprofundar no Tratado de Direito Penal do renomado Cezar
Roberto Bitencourt, que explica que essa fase é chamada de Terror Penal, não interessava
punir todos que cometesse crime, era impossível, nem tinham como monitorar, bastava
concentrar suas forças nas capitais. Entretanto quando o estado punisse, tinha que ser
severa ao ponto de servir como exemplo para os demais. A lógica do inconsciente coletivo
nos permeia até hoje.
Podemos considerar isso como Criminologia? NÃO
Vingança
Privada Divina Estatal
Sociedades sem Estado; Primeira forma real de Punição como uma forma
limitação da vingança; útil de controle social;
Buscavam era a satisfação
pessoal; As crenças dão um caráter Suplício
social a vingança, a
Vingança ilimitada e punição; Fase é chamada de Terror
pessoal, impulsionada pelo Penal
sentimento Transforma em Tabu, o
afronte implica na ira dos Não punia todos os crimes,
Deuses; mas aquele que fosse
punido deveria
A religião deve ser extremamente severo
aplicada para evitar a ira
dos Deuses, utilizando-se Punição de um como
de sacrifícios humanos exemplo

Razão Inadequada – O Suplicio de Foucault

https://razaoinadequada.com/2018/10/08/foucault-o-
suplicio/#:~:text=At%C3%A9%20o%20fim%20do%20s%C3%A9culo,existia.&text
=Em%20primeiro%20lugar%2C%20o%20supl%C3%ADcio,inef%C3%A1vel%2C%
20pior%20que%20a%20morte.

Em primeiro lugar, o suplício é a arte de causar dor: uma dor inexprimível,


indescritível, inefável, pior que a morte. Se possível, uma dor que seja comparável a
mil mortes. A medida desse sofrimento é designada de acordo com a gravidade do
delito. Em segundo lugar, deve ser marcante, deve deixar uma marca no corpo, algo do
qual o supliciado, caso sobreviva, nunca mais se esqueça: a perda de um membro ou
uma cicatriz profunda. E terceiro, deve impressionar aqueles que o veem, os
espectadores devem se lembrar para sempre o que os espera caso sejam condenados
também.
O corpo do supliciado é um corpo que se curva à justiça, ou melhor, trata-se de
uma justiça que faz o corpo se curvar à força! Ele será alvo da fúria da lei e da ordem.
O julgamento acontecerá longe dos olhos curiosos, através de acusações e provas. Já a
punição incidirá sobre seu corpo na forma de um espetáculo:
 Ele caminhará pelas ruas, ostentando um carta, indicando seu crime, ou com a
arma de seu delito na mão, ou lendo a acusação e confessando sua culpa na
esquinas e nas praças;
 A cena deve fazer, mais do que qualquer outra coisa, brilhar a verdade. O réu
deve confessar e carregar a culpa pelo seu ato até o último segundo. Cada
movimento, cada palavra, deve dar prova disso;
 O supliciado deve estar preso ao seu próprio crime, caso seja condenado à
morte, morrerá perto de onde cometeu seu delito, ou seu corpo será mutilado e
colocado à mostra, deixando óbvia a sua ligação com o ato criminoso;
 A lentidão é necessária, caso o condenado queria confessar algum último
segredo, uma verdade escondida, algo que ainda não disse.
Através do suplício o réu faz brilhar toda a verdade de um acontecimento.
Através da dor, ele se confessa, se purga, se salva. Da acusação até o grito final é um
caminho delito-verdade-justiça-pena que se completa.
A grande questão aqui é que um crime não ataca apenas a vítima, mas ataca o
Rei, o Soberano, aquele dos quais todos são súditos. Ou seja, cometer um crime é
ofender ao próprio Rei! Eis o problema. Todo criminoso se torna automaticamente um
inimigo do Rei, afinal, sua soberania foi desafiada e lesada pelo ato infrator. Logo, é
dever do monarca restabelecer sua força e mostrar toda sua glória.
A função do suplício, como podemos ver, é mais que uma questão jurídica, é
também política: através do cerimonial de dor e sofrimento o Rei restabelece seu poder
lesado por alguns instantes e restaura seu brilho momentaneamente maculado pelo
desafio infeliz de um de seus súditos.

Sistema Medieval - fase pré cientifica


Entretanto podemos perceber o início de algo, o sistema medieval, que é
considerado por alguns, como algo indispensável para na história da humanidade, trata-
se da Fase Não Cientifica da Criminologia.
Não tínhamos uma ciência propriamente dita, apesar de termos Aristoteles, parte
da cultura grega muito forte, e outros filósofos como Thomas de Aquino e Agostinho,
não havia uma abordagem cientifica, um método.
Idade Média se acreditava que o pecado era herdado, desde o momento de seu
nascimento, já estava contaminado com o pecado original de Adão e Eva. Toda via, veio
Agostinho, declarando que não era bem assim, é preciso conhecer a lei de Deus para
pecar, é por isso que a criança, o índio... não pecam, a partir do momento em que se
conhece a palavra de Deus, e se tem a consciência do pecado e escolhe pecar, isto é,
Agostinho acreditava que tinha duas fases, a consciência e a escolha.
Essa lógica utilizada por Agostinho já foi trabalhada pela máxima Romana, entre
os romanos, a história da culpabilidade, que é o primeiro elemento do crime, ao contrário
do que se imagina, pois na história do direito há uma inversão: Fato típico, antijurídico e
culpável).
Logo, temos algo que os romanos chamavam de Imputacio, que é a capacidade
de sofre a punição, pressupunha não apenas a capacidade biológica, nesse ponto tinha
punições a maiores de 14 anos (infates) e tinha a ideia do Dolus Malus, a Má Fé, no
império romano a noção de responsabilidade penal e cível era igual.
Esse desenvolvimento de culpabilidade, dolo e culpa, no futuro teram dois
elementos que sempre permanecerão, o primeiro POTENCIAL CONSCIÊNCIA DE
ANTIJURICIDADE, a ideia de: “eu devo, para ser culpável, ter consciência que meu
ato é proibido”, não significa conhecer o texto da lei, mas sim saber que aquilo que estou
fazendo é proibido. Já o segundo elemento, trata-se de que pela escolha de conduta ser
consciente, é por lógica, exigível, de minha pessoa, uma conduta diversa da proibida.
Ora quando se age consciente de que aquilo é proibido, escolhendo entre condutas, isto
é, escolhendo entre praticar o delito ou não. E caso, ainda assim escolha pela pratica, é
reprovável minha conduta, porque se poderia escolher uma conduta adversa, daí o nome
EXIGIBILIDADE DE CONDUTA ADVERSA.
Tudo isso que foi retratado, já estava descrito no Tratado do Livre Arbítrio de
Santo Agostinho, o professor recomenda dois livros desse autor para o estudante de
direito, como já dito o Tratado do Livre Arbítrio e o outro chamado de Confissões. Visto
que a estruturação de uma dogmática religiosa é fundamental, entretanto não temos tempo
para aprofundar como a igreja católica influencia a Europa no sentido de limitações
canônicas do poder de punir na Idade Média, no sentido eclesiástico e a origem da noção
da Legalidade.
Nessa fase criminológica, e para quem gosta do feminismo, tem um livro que
Zafaronni aponta como o livro chefe, para quem trabalha criminologia, chamado de: O
Martelo das Bruxas (ou o Martelos das Feiticeiras, Malleus Maleficarum). Trata-se de um
clássico da história medieval e como a igreja católica catalogou, construíram um manual
para que a população conseguisse perceber o que era Bruxa, Feiticeiras e o que não era.
A igreja deixa de discutir apenas o que seria o pecado, e se volta para a figura do
pecador, aquele que pratica a conduta errada, e começa a descrever isso, de forma que,
em 1484 DC e vemos que toda a estrutura do conhecimento da igreja começa a migrar da
Demonologia, que era a ideia de que o demônio se apossava as pessoas, o mau vinha dele,
era responsabilizado por tudo de ruim, para a noção do estabelecimento da Fisionomia
das bruxas.
As lendas do folclore como vampiros e lobisomens na realidade nada mais é do
que a incapacidade do ser humanos conceber que outros seres humanos possam cometer
atos tão absurdos quanto comer animais crus e até mesmo canibalismo, sobretudo de
crianças e bebes, devemos entender que a fome desperta, em qualquer animal, atitudes
extremas, e que na época que tais lendas surgem não havia amplo acesso a aparatos
depilatórios e utensílios de higiene, portanto o homem se deparava com uma figura
humanoide, coberta de pelos, e uma fome insaciável ao ponto de se alimentar da forma
que fosse, e do que estivesse em sua frente. E, por obvio, o ser perfeito criado por Deus a
sua imagem e semelhança não cometeria tais atos, se não fosse por influência de uma
maldição, obra de demônios.
Da perspectiva feminista, percebemos que o intuito da igreja ao conceber um
manual de identificação de bruxas, era devido à forte influência do matriarcado na
Europa, que pela expansão romano, que é nitidamente uma sociedade patriarcal, bem
como da igreja católica, surge a necessidade de pôr fim a sistemas sociais de matriarcado.
Portanto cria-se a lógica da inquisição, da queima as bruxas, vistos que estas nada mais
são do que benzedeira de hoje em dia. A ideia era de deter o monopólio da ciência e das
mulheres.
O Martelo das Feiticeiras (Malleus Maleficarum)
CAPÍTULO I
Dos Métodos pelos quais os Demônios, por intermédio das Bruxas, Aliciam Inocentes
para Engrossar as Fileiras de Suas Hostes abomináveis.
[...]
QUESTÃO VII
Se as Bruxas são capazes de Desviar o Intelecto dos Homens para o Amor ou para o ódio.
Indaga-se se os demônios, por intermédio das bruxas, são capazes de incitar a
mente dos homens para o amor ou para o ódio desmedidos; segundo as conclusões
prévias, argumenta-se não serem disso capazes. Pois que no homem existem três coisas:
a vontade, o entendimento e o corpo. A primeira é governada pelo Próprio Deus (pois o
coração do rei está nas mãos do Senhor); a segunda é iluminada por um Anjo; e a terceira,
o corpo, é governada pelo movimento dos astros. Mas como os demônios não são capazes
de causar mudanças no corpo, muito menos são capazes de incitarem o amor ou o ódio
na alma. O corolário é evidente; apesar de terem maior poder sobre as coisas corpóreas
do que sobre as espirituais, não são nem ao menos capazes de modificar o corpo,
conforme se tem provado muitas vezes. Já que são incapazes de criar formas substanciais
ou acidentais, exceto através do auxílio de algum outro agente, que agiria como seu
artífice. Faz-se a citação, a propósito, do enunciado já antes mencionado: o que acredita
na possibilidade de uma criatura ser transformada noutra, pior ou melhor, ou de ser
transmutada em outra, de outra espécie ou aspecto, salvo por determinação do Criador, é
pior que um pagão e que um herege.
[...]

A ideia que podemos extrair do sistema medieval, é que há sim um pensamento


criminológico, rudimentar, mas que tem por característica a responsabilidade do
demônio, então o inimigo, as pessoas a serem expurgadas, são aqueles que fazem pacto
com o demônio, as bruxas, as feiticeiras. Há uma guinada no pensamento canônico, quais
sejam: de pensar no pecado e apenas empossar o mau ao demônio para dizer que a pessoa
por sua livre vontade, escolheu realizar o pacto com o demônio, tornando-o cumplice.
Recomendação do professor de filme:
 O Nome da Rosa. – Deve-se atentar a duas coisas: 1. Como a ciência é tida como
algo mau, pois era monopolizada pelo Estado. E a 2 ele não falou.
 Sombras de Goya – Também retrata a inquisição.
Escola Clássica
De 1764, surge do clássico livro de Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria,
intitulado Dos Crimes e das Penas. Toda lógica da escola clássica, do pensamento de
Beccaria se remete a alguns pontos primordiais, o primeiro chamado de LEGALIDADE,
ele cria o princípio da legalidade política. Devemos nos atentar que ele não fez uma
estruturação jurídica, mas sim alegava que deveria existir uma legalidade, isto é, a lei que
limita a existência do crime e da pena. Algo que na época era impensado, pois os
legisladores criavam as proibições mas não era limitadas linguisticamente, quem fazia
esse papel era os juízes, que possuíam liberdade para dizer qual era a pena, qual era o
crime, como ele se configurava, tudo.
Essa definição legal do crime e da pena serve como base para o segundo ponto,
isto é, para que se possa fazer uma LIMITAÇÃO DA DECISÃO JURÍDICA, retirando
do magistrado o arbítrio, tornando um simples aplicador do direito, visto que Beccaria é
um contratualista.
O terceiro ponto primordial da escola clássica é a HUMANIZAÇÃO DAS
PENAS, Baccaria acha que não há lógica alguma em existir as penas do jeito que se tem
visto que as penas de suplicio não funciona, não intimidam a população, caso funcionasse
não existiria mais crimes. Não porque é uma pessoa boa ou ruim sendo sentenciada, mas
porque não há logica em se aplicar uma sentença de morte por si só.
Ainda podemos afirmar que Baccaria tinha um PENSAMENTO LIBERAL. O
direito penal clássico nasce aqui, é construído em cima do pilar no liberalismo, podemos
observar isso quando observamos os bens jurídicos mais importantes do código penal:
Vida; Liberdade; Integridade Física e Patrimônio. Isto é, Igualdade, Fraternidade e
Liberdade, lema da revolução francesa, que é o ápice do movimento liberal.
Outro ponto primordial, quem sabe o mais importante seria a
RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL/PESSOAL, acabado a noção de que existe
demônios e bruxas possam retirar o poder de escolha de alguém, trata-se do livre arbítrio.
Tal noção, livre arbítrio, é fundamental para que se possa entender o direito penal
moderno, uma responsabilidade individual que justifica a pena com base na escolha feita.
Até então a responsabilidade era ou social ou religiosa, dependendo de uma entidade
mística que fazia as coisas acontecerem, bem como a punição deveria se limitar as pessoas
que cometeram os atos, diferentemente do que ocorria na Idade Média, onde os
descendentes continuavam a responder.
Não por acaso Thomas de Aquino via níveis de direito: Direito de Deus, Lei
natural e a lei dos homens. Sendo incomcebivel que a lei dos homens criasse uma norma
que contrariasse a Lei de Deus ou mesmo a Lei natural, que por sua vez nunca poderia
contrariar a Lei de deus.
Sem querer, Baccaria cria toda uma estrutura, porque se é preciso que haja uma
lei para se punir alguém, vai exsistir o que chamamos hoje de Anterioridade, não se pode
punir alguém por uma lei que retroagem, nem punir alguém que não cometeu o ato.
Portanto sua ideia era impor uma legalidade, para limita e humanizar as penas, com
responsabilidade individual pessoal. Partindo dessa ideia que teríamos toda a
estruturação do conceito de delito.
Entretanto, devemos ter atenção a outra pessoa: Paul Johann Anselm von
Feuerbach, em 1801, que realizou a concretização do pensamento de Baccaria, no tratado
de direito penal alemão, trazendo o pensamento jurídico do princípio da legalidade, então
a ciência, nesse ponto, é uma ciência normativa, preocupando-se com o conceito
normativo de crime, não o real, com método do direito, isto é, como se concretiza.
Outra pessoa interessante para nós é Jeremy Bentham, pois ele idealizou como
seria as penitenciarias com base no Panoptismo, indicava que a penitenciaria ideal seria
uma construção quadrada ou circular, quem os presos ficariam em celas separadas no
perímetro desta construção, com uma torre ao centro onde os vigilantes poderiam
observar a todos a todo o tempo, portanto o preso não poderia saber quando estava sendo
vigiado, e por ter medo da punição se comportava bem.
O Panóptico

Pan-óptico é um termo utilizado para designar uma penitenciária ideal,


concebida pelo filósofo utilitarista e jurista inglês Jeremy Bentham em 1785, que
permite a um único vigilante observar todos os prisioneiros, sem que estes possam
saber se estão ou não sendo observados. Bentham idealizou um projeto de construção
carcerária, consistente em um edifício circular, em que os prisioneiros ocupavam as
celas, todas devidamente separadas, sem qualquer comunicação entre elas, sendo que
os agentes de segurança ocupavam um espaço no centro, com perfeita visão de cada
alojamento. Segundo seu projeto descrito no livro “O Panóptico”, os presos teriam bom
comportamento, justamente por se sentirem continuadamente observados, pela
aplicação do princípio da inspeção.
Por sua vez, o filósofo francês Michel Foucault utilizar o termo pan-óptico em
sua obra Vigiar e Punir (1975), para tratar da sociedade disciplinar. Ao tratar das
sociedades disciplinares que tem seu apogeu no século XX e origens nos séculos XVIII
e XIX, Foucault ressalta que o indivíduo continua a mover-se de um "meio de
confinamento" para outro: a família, a escola, o exército, a fábrica, o hospital, a prisão.
Todas essas instituições, das quais a prisão e a fábrica seriam modelos privilegiados,
são igualmente dispositivos propícios à vigilância, ao esquadrinhamento, ao controle
dos indivíduos.

Panoptismo: reflexões atuais sobre vigilância e controle


O panóptico não é um simples modelo arquitetônico, capaz de suprir as
necessidades específicas de instituições de controle como prisões, hospitais, escolas e
outras.
Nas palavras de Foucault (2011:194), o panóptico “deve ser compreendido
como um modelo generalizável de funcionamento; uma maneira de definir as relações
de poder com a vida cotidiana dos homens”.
Ele se insere em uma nova proposta de tecnologia política e representa um
marco nas técnicas de vigilância que pretendem substituir o exercício pesado, custoso
e inútil de poder que sustentou a soberania monárquica.
Dessa forma, o panoptismo não deve ser avaliado, quanto à sua implementação
e reforço, a partir da existência ou inexistência de prédios que guardem proximidade
ao que foi delineado por Bentham.
O panoptismo deve servir como categoria de análise, como ferramenta de
compreensão de uma forma específica de “economia política”, de tecnologia e
economia do controle e da punição.
O objetivo derradeiro do modelo panóptico não é a imposição de um castigo
como fim em si, mas a promoção de “um grande experimento: a transformação do
homem” (PAVARINI, 2006:214).
O homem vigiado, docilizado, submisso é o que se pretende obter com o sistema
de vigilância permanente e difuso que o panóptico propõe. As disciplinas próprias deste
sistema de controle “funcionam como técnicas que fabricam indivíduos úteis”
(FOUCAULT, 2011: 199).
Para atingir seu objetivo, o panóptico não depende da vigilância concreta, mas
da certeza de que ela está presente sem intermitências. “É, ao mesmo tempo excessivo
e muito pouco que o prisioneiro seja observado sem cessar por um vigia: muito pouco,
pois o essencial é que ele se saiba vigiado; excessivo, porque ele não tem necessidade
de sê-lo efetivamente”. (FOUCAULT, 2011:191).
Essa forma de controle disciplinar se estabelece na passagem do séc. XVII para o séc.
XIX: A forma jurídica geral que garantia um sistema de direitos em princípio
igualitários era sustentada por esses mecanismos miúdos, cotidianos e físicos, por
todos esses sistemas de micropoder essencialmente inigualitários e assimétricos que
constituem as disciplinas. (...) as “luzes” que descobriram as liberdades inventaram
também as disciplinas.
A conclusão a que chega Foucault e uma série de outros estudiosos (até antes,
mas principalmente depois dele) é a de que o sistema disciplinar se instala com a
tendência própria de sempre se alargar, nunca o contrário.
O poder disciplinar não desaparece depois da consolidação da burguesia no
poder, mas também não tenta substituir por completo outras formas de exercício do
poder. Ele se expande, se diferencia, se complexibiliza e ocupa espaços inacessíveis
anteriormente.
O que se quer destacar é que esse processo, ao mesmo tempo em que não pode
ser importado como categoria de análise “pura” e suficiente para a compreensão do
sistema de repressão contemporâneo, sem que alguns ajustes metodológicos sejam
feitos, não deve ser descartado como se fosse apenas apto a descrever um momento
específico da história do controle social europeu.
Entre esses extremos há algo que parece subsistir como critério de análise útil.
Pretende-se aqui apontar novas modalidades em que a vigilância desempenha, no
modelo de controle atual, papel primordial.
Diferentemente do que se intentava anteriormente, porém, o objetivo não parece
ser mais a formação de indivíduos dóceis ou úteis, mas a mera antecipação da barreira
punitiva, com fins mais simbólicos do que reais; mais neutralizantes do que produtivos.
Um primeiro exemplo que merece ser citado são os mecanismos de prova
fortemente referenciados nas operações de combate à corrupção. Na Lei 12.850/13,
considerada um grande paradigma no comprometimento brasileiro com modelos de
combate à corrupção internacional, o art. 3º estabelece os meios de obtenção da prova,
como segue:
Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros
já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:
I - colaboração premiada;
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;
III - ação controlada;
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais
constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou
comerciais;
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação
específica;
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação
específica;
VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais
na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução
criminal.
Em que pese o fato de que algumas destas medidas já eram conhecidas da
legislação processual penal que a antecede, fica clara a preferência legislativa por
mecanismos de vigilância e controle fortemente insidiosos.
As afamadas “ações controladas” e “infiltração de agentes” são institutos hoje
considerados imprescindíveis para a investigação de organizações criminosas, mas não
se pode descartar o fato de que orbitam bem de perto medidas policiais próprias de um
modelo de guerra, onde a suspensão de determinadas liberdades é justificada em prol
da efetiva eliminação de inimigos públicos.
Muitas destas medidas não precisam de aprovação judicial para serem
implantadas. A questão de obtenção de dados (não conteúdo) bancários e telefônicos
já foi enfrentada por nossa jurisprudência e ficou pacificada a possibilidade de
requisição pelo delegado ou pelo MP.
Não se pode atribuir à mera coincidência o fato de que, no mesmo ano em que
a Lei 12.850/13 veio a lúmen, foi também aprovada a Lei 12.830/13, dispondo sobre
as prerrogativas da polícia judiciária e do delegado no inquérito policial. A referida lei
determina:
Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas
pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da
investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto
em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da
autoria das infrações penais.
§ 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de
perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos. (...)
Duas conclusões emergem desta breve análise: a uma, que os elementos de
prova hoje considerados pela jurisdição como suficientes para o oferecimento da
denúncia, em especial em crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e formação de
organização criminosa podem ser obtidos quase sem interferência jurisdicional.
A duas, que os mecanismos de vigilância passam a ganhar o status de técnica policial
por excelência, o que os predispõe a receberem continuamente ofertas de ampliação.
Os meios pelos quais estes mecanismos de vigilância são efetivados não surgem no
momento em que um cidadão se torna suspeito de um delito.
Existem hoje, literalmente, centenas de bancos de dados que se interligam a partir de
nosso CPF. Crianças nascidas depois de 2015 podem receber automaticamente o
registro no cadastro nacional de pessoas físicas sem custo em muitas comarcas.
As maneiras pelas quais é possível saber onde uma pessoa esteve e com quem
esteve são praticamente ilimitadas. Através da obtenção de dados gerados pela antena
interna dos aparelhos de telefone se consegue com grande precisão algumas destas
informações.
O “CPF na nota”, obtido em praticamente qualquer comércio, é outro “aliado”
na pesquisa sobre hábitos e movimentos. O uso de tecnologias de pagamento eletrônico
do pedágio, como o “Sem Parar” (marca registrada), se somam a esse arsenal. Muitos
outros dispositivos poderiam ser mencionados.
Não se trata de fazer um juízo de valor, neste momento, sobre a obtenção de
indícios a partir destes mecanismos, para formação dos pressupostos mínimos para
ação penal.
Antes, objetiva-se perceber o desenvolvimento crescente destas tecnologias,
vendidas como grandes avanços em prol do conforto e comodidade de vida prática, em
sua intrincada relação com sistemas de controle social.
Também não se trata de uma teoria da conspiração ou algo semelhante. Não se
está aqui a afirmar que as empresas que lançam no mercado estas tecnologias o fazem
com o fim de atender a demanda de um poder central que visa exercer vigilância sobre
a comunidade.
Seria, no entanto, ingênuo ignorar que os grandes avanços tecnológicos que
assistimos no século XX vieram fortemente alimentados por interesses bélicos.
Seria também ingênuo acreditar que esse interesse se desvaneceu por completo e que o
panoptismo não passa de uma caricatura arquitetônica desenhada por Bentham e
analisada por Foucault nos anos 70.
Vale lembrar que o combate à corrupção certamente não é o primeiro substrato
a partir do qual medidas de vigilância incisivas colonizaram o cotidiano ocidental em
tempos recentes. Vejamos o exemplo do terrorismo.
Em 26 de outubro de 2001, pouco tempo depois dos atentados, o Congresso
norte-americano aprovou o USA Patriotic Act, autorizando interceptações de
comunicações orais e eletrônicas, além de outros meios de vigilância, controle sobre
transferência de recursos, restrições à imigração, reforço dos poderes da CIA, etc.
Em 13 de novembro de 2001 George W. Bush, então presidente, assinou uma
outra norma reforçando o Patrioct Act. Trata-se do decreto Military Order, que
autorizou o Secretário de Justiça prender estrangeiros sob mera suposição de risco,
suspendendo a presunção de inocência, podendo as “provas” que embasaram a suspeita
serem mantidas em secreto.
O acusado não teria direito a escolha de seu defensor. Para os detidos foram
estabelecidos tribunais militares de exceção, sob o pretexto de estarem os EUA em
guerra.
Ainda assim, os preceitos da Convenção de Genébra (direito de guerra) não
foram aplicados aos estrangeiros presos porque estes não foram considerados pelo
governo prisioneiros de guerra, numa lógica difícil de ser compreendida.
Sob a forte pressão de diversas organizações de direitos humanos, o presidente
Bush acabou por aplicar a alguns presos o protocolo de Genébra, enviando outros para
prisão cubana de Guantánamo. O critério para seleção nunca ficou muito claro.
Há, no momento, intenso debate nos EUA afim de que sejam proibidas as
interceptações de comunicação de milhões de pessoas sem autorização legal, que
continuam acontecendo, passados mais de quinze anos dos atentados.
Uma questão sensível precisará ser sempre levada em conta por todos aqueles
que desejam viver sob um regime democrático de direitos: não há verdadeira liberdade
onde seja possível, sob pretextos conjunturais, suspender as garantias que foram
assentadas através de um processo árduo de consenso (como é uma constituinte).
Abrir mão dessas garantias, na confiança cega de que isso permitirá aos que
exercem o poder perseguir os “vilões”, exige uma fé nos detentores do poder de
profundidade abismal. Existem fortes motivos para crer que esta fé conduzirá a sério
desapontamento.

Leia mais: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/o-panoptico/

Portanto, podemos perceber que toda a construção, que atualmente chamamos de


penologia, começa a partir desse pensamento da escola clássica da criminologia.
Devemos nos atentar que tal escola não tem interesse de pensar na vítima nem no
criminoso. O seu interesse é no crime e na pena! Ela foca todo seu conhecimento no
conceito de crime, que não mais a uma vontade do juiz, mas sim uma vontade popular,
por meio de seus representantes.
CONSIDERAÇÕES DO PROFESSOR:
 Acredito que essa fase é importante porque você tem a consolidação do direito
quanto a lógica normativa.
 A ideia de bem jurídico nasce na escola clássica.
 Foi dessa escola que se passou a chamar direito PENAL e não mais direito
criminal
 A escola clássica forjou tudo o que vemos hoje no direito penal clássico
DIRETO PENAL CLÁSSICO DIREITO PENAL MODERNO

Bem jurídicos DETERMINADOS Bem jurídicos INDETERMINADOS

Vida, liberdade, patrimônio Meio ambiente; sistema informático,


sistema financeiro

LEI PENAL NORMA PENAL TIPO PENAL

Texto que está no código Intenção da norma, isto é, É a limitação lógica do


quando temos na norma alcance normativo do
“matar alguém, pena de 6 a crime, isto é, até onde se
20 anos” pode ir para dizer que uma
pessoa cometeu crime ou
A real intenção da norma é: não.
NÃO MATE ALGUÉM.
Trata-se de um alcance
Trata-se de uma proibição, linguístico, alguns autores
tal proibição é social, ou chamavam de moldura
ainda uma ordem. retora, forma mínima para
dizer que o crime foi
Nos crimes omissivos, o cometido.
que justifica a punição? A
teoria normativa explica Daí o termo de que: quando
que algumas normas penais todos os elementos
tem como regra não uma objetivos estão presentes +
proibição, mas sim uma os subjetivos
ordem.
Tipo penal = núcleo do tipo
Por exemplo o art. 135, CP (verbo) + elementos
a omissão de socorro, a objetivos (limitadores do
norma penal tem a intenção verbo) + Elementos
de dizer: PRESTE subjetivos (dolo ou culpa
SOCORRO. O indivíduo ou preterdolo)
será punido pelo
descumprimento da ordem, É preciso extrair do texto
da lei. da lei esses elementos para
saber se o crime existiu,
Não é necessário saber a portanto, o tipo penal é
Lei penal, usualmente, a uma construção LOGICO
norma penal deriva de CIENTIFICA.
proibições sociais passadas
por forma de tradição.

A pena é o resultado da
escolha de ir contrário a
norma penal, o indivíduo
escolhe violar a proibição,
ou ainda, escolheu não
cumprir o que a ordem
penal manda.
Aula 05 – 14/09/2020
Retrospectiva:
Beccaria é o pai da escola clássica, apesar de trazer para o direito uma logica
estranha para nos, mas é a base do direito oenal, a ideia de LEGALIDADE, vimos
também que a escola clássica, que nasce em 1764 e vai até meados de 1820.
A Escola clássica se volta a basicamente duas coisas: a lei, o texto legal e a pena.
Tinha um apego a linguagem, visto os legisladores criavam as proibições, mas não eram
limitadas linguisticamente, quem fazia esse papel era os juízes, que possuíam liberdade
para dizer qual era a pena, qual era o crime, como ele se configurava, tudo.
Baccaria também indicava que a responsabilidade tinha que ser pessoal, e já trazia
a noção da limitação das penas, para se buscar um humanismo penal, visto que alegava
que o suplício não funcionava. Na época tal tese não foi bem aceita.
Obs: em sua maioria a escola clássica via a pena como uma retribuição, é o que estudamos
na Teoria Absoluta da Pena, por kant e hagel
FASE PRÉ CIENTIFICA ESCOLA CLÁSSICA

Punição como uma forma útil de controle Foco em: Texto Legal e na Pena
social;
Cria o Princípio da Legalidade Política
Suplício Apego a linguagem

Fase é chamada de Terror Penal Responsabilidade Pessoal coma ideia de


Livre arbítrio
Não punia todos os crimes, mas aquele
que fosse punido deveria extremamente Humanismo Penal – penas limitadas,
severo humanizadas.

Punição de um como exemplo Método dedutivo

Escola Positiva Italiana


Criada por Lombroso, trata-se de umas escolas mais importantes para o estudo da
criminologia, pois a ciência da criminologia afirma que seu nascedouro é aqui, visto que
Cesare Lombroso era médico, cientista, cirurgião, e com base nos estudos já existentes
na idade média do tamanho craniano, da questão corporal, ele cria uma hipótese: E se o
crime for uma doença? Pensava que poderia perceber que o criminoso tinha aquela doença
ele conseguiria trata-la? Tratando-o conseguiria evitar o crime!
É a partir desta escola que se cria a teoria prevenção especial, tornando o foco
da observação o delinquente, o criminoso, divergindo da escola clássica que teria como
foco a lei e a pena. Lombroso passa a visitar presídios e observar os traços físicos, as
características dos presidiários e chega na Tese do Criminoso Nato, que seria uma pessoa
que não teve desenvolvimento biológico, seu estudo foi baseado no Darwinismo, crê no
determinismo biológico. Chamava isso de atavismo, ou seja, que o criminoso nato era
alguém propenso ao delito por determinismo fisiológico.
Lombroso tinha uma característica fisiológica de análise do delito, e a partir dessa
lógica ele traça o perfil criminológico. Para ele, haveria um determinismo de caráter
fisiológico, um determinismo, as feições seriam de pessoas que não se desenvolveram e
era fruto do atavismo. Lombroso desenvolve essa tese com base nas suas observações
realizadas em presídios, como já dito, ele nota que os indivíduos ali possuíam
características físicas muito próxima dos neandertais, pessoas que não evoluíram e,
portanto, propensas ao delito.

Qual seria a base que teria para dar força a sua tese? Estatística Criminal, ele
começa a fazer uma análise fisiológica dos presos. O professor alega que tal tese da
antropologia é utilizada até hoje, visto que tal noção deu origem a chamada antropologia
forense, isto é, se traça um perfil fisiológico, que é utilizado pela polícia para sua pratica
de abordagem, se percebe no código de processo penal: “a autoridade policial poderá, sob
fundadas suspeitas, fazer a busca e apreensão das pessoas” .
Cesare Lombroso e a teoria do criminoso nato

Cesare Lombroso, médico psiquiatra, foi o principal fundador da Escola


Positiva, ao lado de Enrico Ferri e Raffaele Garofalo, responsáveis por inaugurar a
etapa científica da criminologia no final do século XX. Essa Escola surge como uma
crítica à Escola Clássica, oportunizando uma mudança radical na análise do delito.
Lombroso marcou esse período devido às suas ideias a respeito da relação entre
o delito e o criminoso. Preocupou-se em estudar o homem delinquente conferindo-lhe
características morfológicas, influenciando uma série de estudiosos a realizarem
pesquisas mais profundas acerca do coeficiente humano existente na ação delituosa.

Cesare Lombroso e o homem delinquente

Sua principal contribuição para à Criminologia foi a sua teoria sobre o “homem
delinquente”. Em síntese, a teoria contou com a análise de mais de 25 mil reclusos de
prisões europeias. Além disso, seis mil delinquentes vivos e resultados de pelo menos
quatrocentas autópsias (PABLOS DE MOLINA , 2013, p. 188).
A partir do estudo realizado, Lombroso constatou que entre esses homens e
cadáveres existiam características em comum, físicas e psicológicas, que o fizeram crer
que eram os estigmas da criminalidade.
Nesse sentido, para ele, o crime era um fenômeno biológico. E não um ente
jurídico, como afirmavam os clássicos. Sendo assim, o criminoso era um ser atávico,
um selvagem que já nasce delinquente.
Utilizando-se do método empírico-indutivo ou indutivo-experimental, o
positivismo criminal de Lombroso buscava através da análise dos fatos, explicar o
crime sob um viés científico. Em suma, concebia o criminoso como um indivíduo
distinto dos demais, um subtipo humano.
Dessa forma, fundamentava o direito de castigar, não como meio e finalidade
de punir o agente que praticou o ato delituoso, mas sim, com o propósito de conservar
a sociedade, combatendo assim a criminalidade.

O período da Criminologia Científica

Com a publicação da obra “Tratado Antropológico Experimental do Homem


Delinquente”, em 1876, de Cesare Lombroso, a criminologia passa para o período
denominado “científico”. Tal mobilização resultou na criação da Antropologia
Criminal, que teve o referido médico por fundador.
Embora seja inquestionável a importância de Lombroso para a instituição da
Antropologia Criminal, tais estudos sobre o homem já haviam sido abordados, de forma
esparsa e não tão aprofundada, por outros pesquisadores. No entanto, apenas ele teve a
capacidade de codificar todos esses pensamentos fragmentados e forma formular a sua
teoria.
As pesquisas no âmbito da Frenologia corroboraram e muito para a teoria
Lombrosiana. No século XIX já eram observados estudos que relacionavam a
personalidade do indivíduo com a natureza do delito praticado por ele, sendo o
anatomista, Johan Frans Gall, o primeiro a fazer tal relação. Gall, em sua teoria dos
“vultos cranianos”, procurou estabelecer a base dos defeitos e qualidade do indivíduo
(DRAPKIN , 1978, p.22-23).
Em síntese, descobriu-se com os resultados de suas pesquisas que determinadas
tendências comportamentais do homem se originavam em determinadas áreas do
cérebro e que algumas dessas tendências eram mais preponderantes que outras.
Médicos psiquiatras daquela época, que realizavam suas pesquisas junto às
prisões e também cuidavam dos presos, podem ser considerados igualmente,
percursores de Lombroso.
Felipe Pinel, que desmistificou a concepção de que o louco era um possuído
pelo demônio, atribuindo a ele a condição de doente e Esquirol, que procedeu nos
primeiros estudos relacionando a loucura como motivo para o cometimento de um
crime, podem ser considerados alguns desses percussores.

O homem delinquente e a criminalidade nata

Lombroso relacionava o delinquente nato ao atavismo. Logo, características


físicas e morais poderiam ser observadas nesse indivíduo. De acordo com essa
atribuição, o delinquente nato possuía uma série de estigmas degenerativos
comportamentais, psicológicos e sociais que o reportavam ao comportamento
semelhante de certos animais, plantas e a tribos primitivas selvagens (LOMBROSO,
2010, p. 43-44).
Inter-relacionava o atavismo à loucura moral e à epilepsia, afirmando que o
criminoso nato, que não logrou êxito em sua evolução, tal qual uma criança ou a um
louco moral, que ainda necessita de uma abertura ao mundo dos valores. (PABLOS DE
MOLINA , 2013, p. 188). Mencionava, ainda, que a hereditariedade é uma das grandes
causas da criminalidade, realçando a importância de seu conhecimento e relevância.
Além do criminoso “nato” (atávico), Lombroso ainda distinguia mais cinco
grupos de delinquentes. Em resumo:
 O delinquente moral;
 O epilético;
 O louco;
 O ocasional; e
 O passional.
Entretanto, dentre as seis classificações, deu atenção especial ao delinquente
nato e o delinquente moral. Utilizou, inclusive, um capítulo específico em sua obra para
fazer tais apontamentos. Desse modo, indicou distinções e correlações em relação a
determinadas características apresentadas por estes.
No que tangia à fisionomia do homem criminoso, afirmava que tais indivíduos
apresentavam mandíbulas volumosas, assimetria facial, orelhas desiguais, falta de
barba nos homens, pele, olhos e cabelos escuros.
Sendo assim, relacionou a figura determinada à criminalidade com o seu peso,
medidas do crânio, insensibilidade à dor, que poderia ser observada no fato da adoração
dos delinquentes pela tatuagem, a falta de senso moral, o ódio em demasia, a vaidade
excessiva, entre outras características.

Criminosos natos

Cesare Lombroso nunca afirmou que todos os criminosos eram natos, mas que
o “verdadeiro” delinquente, era nato. Sustentava que, tendo em vista a sua natureza, a
aplicação de uma pena era ineficaz. Em síntese, o delinquente nato era considerado um
doente. Isso porque nascia assim, razão pela qual não deveria o mesmo ser encarcerado.
Desse modo, sustentava que o criminoso deveria ser segregado da sociedade,
antes mesmo de se ter cometido o delito, tendo em vista a sua característica de
criminalidade imutável.
No campo da política criminal, a recomendação de segregação deste indivíduo
do meio social, antes mesmo do cometimento de um crime, funcionaria como meio de
defesa social.
Enfim, a teoria sobre a criminalidade nata, encabeçada por Lombroso, vigorou
por muito tempo na Europa. Entretanto, perdeu força ao longo do tempo. Dessa forma,
perdendo força no continente europeu, ganhou grande acolhida na América Latina,
inclusive no Brasil.
Entretanto, ainda que a teoria da criminalidade nata tenha sido amplamente
rebatida e tenha caído em desuso, por ser considerada tendenciosa e preconceituosa,
seria possível afirmar que ainda não é aplicada nos dias de hoje?

https://canalcienciascriminais.com.br/cesare-lombroso-criminoso-
nato/#:~:text=Lombroso%20relacionava%20o%20delinquente%20nato%20ao%20ata
vismo.&text=Inter%2Drelacionava%20o%20atavismo%20%C3%A0,188).

Logo podemos estabelecer a primeira base do pensamento da escola positiva


italiana: O DETERMINISMO. A ideia de que não há livre arbítrio, o crime é
determinado por fatores fisiológicos. Lombroso alega que o criminoso nato seria
determinado por uma cabeça estranha, assimetria craniana, fronte baixa, orelhas em forma
de asa, lóbulos e arcadas grandes, maxilar proeminente face longa e alargada, cabelos
abundantes, barba escassa, rosto pálido. Por óbvio, tal logica não prospera, mas ainda
percebemos resquícios na nossa sociedade.
Entretanto devemos nos atentar que ALGUMAS questões fisiológicas devem ser
levadas, de fato, em consideração. Atualmente fala-se na questão genéticas, “será que
haveria falhas genéticas que pudessem trazer uma condição mais propícia a
criminalidade?”
Recomendação do professor: Minority Report - A Nova Lei, filme com Tom Cruise: “No
ano de 2054, há um sistema que permite que crimes sejam previstos com precisão, o que
faz com que a taxa de assassinatos caia para zero. O problema começa a acontecer quando
o detetive John Anderton, um dos principais agentes no combate ao crime, descobre que
foi previsto um assassinato que ele mesmo irá cometer, colocando em dúvida sua
reputação ou a confiabilidade do sistema.”
O que nos leva a divagação: “E se fosse possível prender a pessoa antes do delito?
Será que isso seria bom?” A partir do mapeamento de pessoas tidas como perigosas
teríamos o direito penal do autor, e não maiso direito penal do fato, na escola clássica se
consolida a ideia de que o direito penal só pode punir quem pratica o ato, quando
chegamos na escola positiva italiana a ideia é que existem pessoas perigosas, e para evitar
o delito devemos prender elas antes.
Percebemos várias influencias de lombroso na nossa sociedade, o racismo
estrutural, o modus operante da polícia, a forma preconceituosa que temos de ver o
criminoso. Por outro lado, as pesquisas no campo da genética ajudam a gente avaliar se
fato há alguma interferência fisiológica na pratica de crimes, como é o caso do super-
macho e outras características fisiológicas.
Síndrome 47,XYY – Sindrome do super-macho

Apesar da constituição cromossômica 47,XYY não estar associada a nenhum


fenótipo obviamente anormal, ela despertou grande interesse médico e científico após
observar-se que a proporção de homens XYY era bem maior entre os detentos de uma
prisão de segurança máxima, sobretudo entre os mais altos, do que na população em
geral (JACOBS et al., 1968). Cerca de 3% dos homens em penitenciárias e hospitais de
doentes mentais possuem cariótipo 47,XYY; no grupo com altura acima de 1,80 m, a
incidência é bem maior (mais de 20%). Dentre os meninos nativivos, a freqüência do
cariótipo 47,XYY é de cerca de 1 em 1.000.
A origem do erro que leva ao cariótipo XYY deve ser a não-disjunção paterna
na meiose II, produzindo espermatozóides YY. As variates XXYY e XXXYY menos
comuns, que compartilham as manifestações das síndromes XYY e de Klinefelter,
provavelmente também se originam do pai, numa seqüência de eventos não-
disjuncionais nas meiose I e II.
Os meninos XYY identificados em programas de triagem neonatal sem vício de
averiguação são altos e têm um risco aumentado de problemas do comportamento, em
comparação com meninos cromossomicamente normais. Possuem inteligência normal
e não são dismórficos. A fertilidade é regular e parece não haver nenhum risco
aumentado de que um homem 47,XYY tenha um filho com cromossomos anormais.
Muitos pais de crianças identificadas, antes ou após o nascimento, com XYY,
tornam-se extremamente preocupados com as implicações comportamentais. Alguns
médicos acreditam que a informação deve ser omitida quando a identificação e feita
após o nascimento. A incapacidade de avaliar o prognóstico em cada caso torna a
identificação de um feto XYY um dos problemas de informação mais sérios
enfrentados em programas de diagnóstico pré-natal.

Características dos Portadores

Apresentam altura media de 1,8m; QI (Coeficiente de Inteligência) de 80-118;


grande número de acne facial durante a adolescência; anomalias nas genitálias;
distúrbios motores e na fala; taxa de testoterona aumentada, o que pode ser um fator
contribuinte para a inclinação anti-social e aumento de agressividade; imaturidade no
desenvolvimento emocional e menor inteligência verbal, fatos que podem dificultar seu
relacionamento interpessoal; ocorrência de 0,69:1000.

Existe também o estudo da neurociência e o direito penal, a ideia de que existiria


um subconsciente e este subconsciente determinaria a nossa conduta. Se não temos um
livre abirtrio temos o que então? Para os adeptos da neurociência temos um subconsciente
que manda no consciente, então teríamos a conduta determinada por ele, logo não se tem
a escolha. Trata-se do mesmo determinismo que tínhamos em Lombroso. Os penalistas
estão revoltados com essa tese, pois se não temos livre arbítrio não temos culpabilidade,
então, temos o que? Não se sabe.
Neurociência e Direito Penal: repensando o ‘livre arbítrio’ e a capacidade
de culpabilidade

Neurociência é uma ciência interdisciplinar encarregada do estudo da estrutura


e de todas as funções, normais ou patológicas, do sistema nervoso. A revolução que
essa relativamente nova área causou nos últimos anos diz respeito a uma melhor
compreensão da própria “natureza” humana.
As novas descobertas científicas sobre a forma de funcionamento do cérebro
rapidamente conduziram a novos questionamentos em diversos outros ramos do
conhecimento, dentre eles o Direito, e mais especificamente o Direito Penal, que lida
diretamente com comportamentos humanos.
Uma nova compreensão sobre as formas como decidimos nossas ações tem o
potencial de influenciar como selecionamos a quem impor ou não castigos como
resposta a comportamentos socialmente indesejados. Isso pode ter consequências
diretas nas próprias bases teóricas sobre as quais o Direito Penal foi historicamente
edificado.
Se no séc. XIX as ciências sociais tiveram um papel-chave na evolução do
pensamento penal, há quem argumente que, no séc. XXI, este papel poderá ser
ocupado pelas ciências do cérebro.
As neurociências já são capazes de identificar causas naturais de mudanças
comportamentais importantes que levam pessoas a praticarem determinadas condutas.
Situações que até 40 anos atrás seriam tratadas como fatos culpáveis, hoje, graças aos
recursos da neuroimagem, são encaradas como patologias das quais a pessoa não pode
ser responsabilizada.
Isso levanta um sério questionamento para o Direito Penal: nossos
desconhecimentos do passado não teriam, então, sido responsáveis por
condenações injustas?
O professor Bernardo Feijoo SÁNCHEZ (2012), catedrático da Universidade
Autónoma de Madri, fornece uma resposta que retira dos juristas o peso que tal
ignorância pode representar.
Entende que aqueles que foram condenados em função de não dispormos de
conhecimentos para encontrar uma alternativa à sua responsabilidade não teriam sido
tratados injustamente pela sociedade.
Isso porque o ordenamento jurídico, como uma obra humana, só pode garantir
aos cidadãos que a sua culpabilidade será valorada de acordo com os melhores
conhecimentos disponíveis naquele momento.
Sánchez é crítico da transposição de concepções sobre liberdade e
responsabilidade da Neurociência de forma automática ao Direito Penal.
Para os neurocientistas, na medida em que não existe uma divisão clara entre
mente e cérebro e que a nossa atuação consciente representa uma ínfima parte de nossa
atividade cerebral, todos estaríamos determinados em nossos comportamentos por
processos que não poderíamos de fato controlar. A seguir-se à risca esse pensamento,
portanto, ninguém poderia ser responsabilizado por seus atos. Seria o ocaso do Direito
Penal.
Os novos estudos cerebrais nos demonstram hoje que, quando nos tornamos
conscientes de que tomamos uma determinada decisão, o cérebro já induziu esse
processo.
Isso traz à tona a dúvida sobre se as decisões humanas escapam de nosso
controle e, consequentemente, se devemos ou não abandonar o conceito de
responsabilidade pessoal.
Neurocientistas como Gerhard Roth, Wolfgang Prinz, Wolf Singer, Francisco
Rubia e Benjamin Libet passaram a questionar a liberdade de escolha do indivíduo,
pois ela seria pré-condicionada pelo cérebro.
Esses estudiosos vêm demonstrando que muitas das bases filosóficas que
historicamente construíram o sistema de imputação jurídico-penal talvez estejam
erradas.
Com a negação da liberdade, não se pode conceber nem imputabilidade nem
culpabilidade, de maneira que não se poderia castigar aqueles membros da sociedade
que transgridem as leis que nós mesmos criamos para permitir uma convivência
pacífica.
LIBET (1999) trabalha com a tese de que uma decisão consciente (“arranque
da vontade”) seria precedida por um “potencial de disposição”, que não pode ser
percebido ou influenciado pela pessoa, razão pela qual essa decisão consciente se
encontra predeterminada pelo potencial de disposição.
O cérebro inicia processos inconscientes antes que a pessoa seja consciente de
sua vontade e trabalha com uma ficção de uma autonomia da decisão de vontade. Na
fase consciente, o que ocorre é uma espécie de “possibilidade de veto” que, no máximo,
poderia frear as ações já postas em marcha inconscientemente. Desta maneira, essa
possibilidade de veto garantiria apenas uma possibilidade residual de controle pelo
indivíduo.
Os neurocientistas não discutem que as pessoas tomam decisões (ou, em termos
dogmáticos, que atuam com dolo ou culpa), mas sim que essas decisões não seriam
totalmente livres, porém determinadas por uma série de condições que não podem ser
controladas conscientemente.
O que colocam em questão não é se nós, seres humanos, temos capacidade para
controlar instrumentalmente nossas ações, mas que todo processo mental seria, em
última instância, reconduzível a uma explicação científica e, portanto, causal.
Em termos dogmáticos, essas críticas não afetam tanto a teoria do injusto
(capacidade de ação), mas fundamentalmente a teoria da culpabilidade. Não se trata de
estudar se as pessoas fazem o que decidiram fazer, mas porque decidiram em um
determinado sentido.
A Neurociência não afirma que seria impossível constatar no caso concreto se
o sujeito poderia atuar de outro modo ou não; sugere que talvez o sujeito nunca pudesse
ter atuado de outro modo, isto é, que não existiriam alternativas de atuação que se
possam eleger voluntariamente.
É o velho tema do “livre arbítrio”, posto em xeque por novas descobertas e
concepções, tema que passaremos a abordar em nossas próximas colunas.

REFERÊNCIAS
LIBET, Benjamin. Do we have free will?. Journal of consciousness studies, v. 6, n. 8-
9, p. 47-57, 1999.
SÁNCHEZ, Bernardo José Feijoo. Derecho penal de la culpabilidad y neurociencias.
Thomson Reuters Aranzadi, 2012.

https://canalcienciascriminais.com.br/neurociencia-direito-penal/

Se o determinismo biológico determina o conduta do agente, então temos um


problema, visto que o direito penal, historicamente, diz que a responsabilidade penal é
baseada no livre arbítrio e na escolha. Mas se não temos escolha, então em que seria
baseada a responsabilidade penal? Lombroso parou sua tese aqui, depois dele vieram dois
outros pensadores: Rafael Garófalo e o Enrico Ferri.
Atualmente o Enrico Ferri é conhecido como o maior representante da escola
positiva italiana, pois foi ele quem trouxe, de forma detalhada, a ideia de
PERICULOSIDADE. Ferri era jurista, escreveu um livro chamado sociologia criminal,
então ele diz que o indivíduo tem duas influencias: influencia fisiológica e a influência
social, divergindo de seus colegas que apenas falavam no determinismo fisiológico.
Sua ideia seria a de periculosidade, a tradução correta seria perigosidade, os
indivíduos que são perigosos por sua natureza. Alega ainda que existia um chamado
organismo social, e que seria necessário que a sociedade se defenda dessas pessoas, daí
surge a chamada TESE DE DEFESA SOCIAL, o direito penal teria como função a
defesa da sociedade contra o indivíduo perigoso. Então a responsabilidade deixa de ser
pessoal se tornando em uma responsabilidade social pautada no determinismo.
Percebe-se a forte influência dessa tese quando vemos que no brasil temos a chamada
Secretaria de Defesa Social – SDS. Ferri vai falar de diversos fatores, desde a questão
antropológica, que seria a constituição física, orgânica, psíquica, a raça (aqui começa o
estudo das raças)... e ele não terminou o raciocínio.
Por sua vez, a importância de Garófalo é que ele foi o autor do primeiro livro de
criminologia propriamente dito na história da humanidade, portanto todos o citam. Em
sua obra ele pega a tese da periculosidade e vai destrinchando.
Essa fase tem um ponto primordial, muito bom, eles acreditavam na noção de
tratar o preso, e que a pena deveria ser um mecanismo de tratamento do proso, atribuindo
uma função a pena, a de corrigir, tratar, melhorar o preso. E também a uma separação
evidente entre pena e medida de segurança, portanto não se tem que estar, em nome de
Jesus, punindo o doido, não havia sentido em pôr um insano na cadeia. Quer seja para a
defesa social quanto para o tratamento do preso.
Não é toa que surge daí surge a noção de prevenção especial, como função da
pena. Seria a ideia de que a pena serve no sentido de profilaxia, de tratamento, de higiene
social, o remédio do criminoso é a pena. A prevenção especial é a ideia de tratar,
segundo a teoria da pena pode ser positiva ou negativa:
 Positiva: quando for com foco na reinserção do preso, quando o objetivo é
reinseri-lo na sociedade, antigamente chamada ressocialização, atualmente
chamamos de reinserção;
 Negativa: seria a ideia de que uma vez preso a pessoa perde a capacidade de ser
perigoso.
Pergunta do professor: Qual a relação entre a escola positiva italiana e a busca e apreensão
pessoal no sistema penal brasileiro?
Aula 06 – 21/09/2020
Começa na Alemanha, iniciada por Franz Von Liszt, e deu início a penologia,
que seria o estudo da pena, e tinha uma visão muito utilitarista do direito, foi o primeiro
a dizer que existia uma coisa chamada política criminal.
 Considera o crime como um fato humano-social e fato jurídico ao mesmo
tempo; separação de inimputáveis e imputáveis;
 Duplo - binário = transforma-se a pena em medida preventiva;
 Da ineficácia da pena de curta duração, dando origem a penas restritivas de
direitos;
 Função e estudo das penas;

FALHA: confunde o que é d. penal com política criminal!


a) Adoção método lógico-abstrato e indutivo-experimental — o primeiro para o
Direito Penal e o segundo para as demais ciências criminais. Prega a necessidade
de distinguir o Direito Penal das demais ciências criminais, tais como
Criminologia, Sociologia, Antropologia etc.;
b) Distinção entre imputáveis e inimputáveis — o fundamento dessa distinção,
contudo, não é o livre arbítrio, mas a normalidade de determinação do indivíduo.
Para o imputável a resposta penal é a pena, e para o perigoso, a medida de
segurança, consagrando o chamado duplo-binário;
c) O crime é concebido como fenômeno humanosocial e fato jurídico — embora
considere o crime um fato jurídico, não desconhece que, ao mesmo tempo, é um
fenômeno humano e social, constituindo uma realidade fenomênica;
d) Função finalística da pena — a sanção retributiva dos clássicos é substituída
pela pena finalística, devendo ajustar-se à própria natureza do delinquente.
Mesmo sem perder o caráter retributivo, prioriza a finalidade preventiva,
particularmente a prevenção especial;
e) Eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta duração —
representa o início da busca incessante de alternativas às penas privativas de
liberdade de curta duração, começando efetivamente a desenvolver uma
verdadeira política criminal liberal

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