109

Aula 1º

*eograȴa Cultural e os (studos

Culturais

Prezados(as) alunos(as),
Nesta aula sobre o tema Geografia Cultural e os Estudos Culturais, o
foco da aula será o paradigma da Nova Geografia, e das novas tendências,
que se configuraram a partir da década de 1970, vinculados à Geografia
Crítica, e à Geografia Humanística e Cultural. Vamos lá!
Boa aula!
Bons estudos!

2EMetiYosGeaprendizagem

Ao término desta aula, vocês serão capazes de:

• identificar os marcos históricos da Geografia Cultural, e a trajetória de influência dos Estudos Culturais;
• problematizar questões envolventes aos Estudos Culturais;
• reconhecer o conceito de cultura para os Estudos Culturais e a Geografia Cultural.
110 *eograȴa Cultural
Seç·esGeestudo
1. Considerações sobre a Geografia Cultural e os
Estudos Culturais
2. Reflexões historiográficas
1 - Considerações sobre a *eograȴa
Cultural e os Estudos Culturais
Iniciamos os estudos, tendo em vista a premissa de que
“um conhecimento científico é o resultado, em um
determinado momento do tempo, da relação entre o estágio
de desenvolvimento teórico sobre o objeto, e o grau de
conhecimento sobre esse objeto” (BEZZI, 2004, p. 104).
As discussões aqui apresentadas servem como ponto de
apoio as análises sobre a Geografia Cultural e suas múltiplas
temáticas, não obstante caracterizam-se por estudos,
leituras, textos, levantamento e análises bibliográficas,
concepções que estão longe de serem conclusivas, mas
servem como argumentos e estudo científico, na medida em
que possibilitam ampliar as discussões acerca da temática
em questão.
O levantamento e análise bibliográfica apontam para
o fato de que, a tradição das Ciências Sociais, nos seus
diversos ramos disciplinares, confinava a esfera da cultura
a certos gêneros específicos de estudo, como na Literatura,
a discussão estética; na Antropologia, a compreensão das
sociedades indígenas, do folclore e da cultura popular; na
História, a reflexão sobre as civilizações, hoje, recentemente
a emergência dos processos de globalização.
Vários temas apresentavam prestígio, sobretudo nas
áreas da Literatura e das Artes e da Comunicação, o que
condicionava os estudos dos fenômenos culturais um
estatuto menor no campo intelectual. Tanto na Europa
como nos Estados Unidos, a Sociologia, quando se ocupava
com o tema, praticamente o restringia à esfera da Kultur e a
sua discussão no âmbito da civilização.
O conceito de Kultur é apresentado nas obras de
Norbert Elias (1990), em aproximação a ideia de folclore. As
ideias de Norbert Elias (1990), pautavam-se num conceito
que englobava valores e comportamentos, - em análise, -
puramente alemães e considerados muito melhores para
a formação de uma sociedade ou uma nação do que o
conceito de civilização francês.
Segundo Norbert Elias, “o conceito de Kultur reflete a
consciência de si mesma de uma nação que teve de buscar
e constituir incessante e novamente suas fronteiras, tanto
no sentido político como espiritual” (ELIAS, 1990, p.25).
Portanto, o conceito de cultura neste pesquisador, surgiu
em contraponto ao conceito de civilização, pretendendo
negá-lo.
Associamos Kultur ao conceito de cultura,
diferentemente, ao conceito de civilização, embora ambos
apresentem circunstâncias parecidas, concordamos que
seus conceitos, significados e contextos são diferentes.
Tomemos como base o que Renato Ortiz (2004), nos
propõe com relação aos Estudos Culturais, como “fruto de
uma conjuntura específica”, onde, por exemplo, o debate
6
sobre o surgimento da cultura de massa nos Estados
Unidos, - teve início nas décadas de 1940 e 1950, - tomou
o universo das Artes, como referência obrigatória, para
daí somente mais tarde buscar sua ampliação, seja naquele
momento para criticá-la, ou ainda para valorizá-la (ORTIZ,
2004, p.01).
Esse mesmo autor, investiga que na América Latina,
esse movimento se reproduzia, em específico voltado
ao dilema da identidade nacional, que era preocupação
dos estudiosos intelectuais da época. Ou seja, as análises
empreendidas transbordavam aos limites e perspectivas
estabelecidas pelas Ciências Sociais europeia e norte-
americana.
No entanto, conforme apontam, Caetano e Bezzi
(2011), nas décadas de 1960 e 1970, a Geografia como
ciência acadêmica e escolar, passa por várias mudanças,
dadas as diferenciações e especificidades geográficas, o que
se caracterizou devido ao processo de institucionalização
das disciplinas.
Por esse motivo, temas como desenvolvimento,
modernização, transição democrática, dependência, e
diversas outras temáticas que incluíam os Estudos Culturais,
passaram gradativamente a ganhar prestígio entre cientistas
sociais, e diversos pesquisadores. Esta ampliação de temáticas
de pesquisa, está relacionada, segundo estes estudiosos, com
a tradição marxista, que talvez de forma inconsciente, tenha
também desempenhado papel importante nesta evolução
científica, pois a “superestrutura”, - como reflexo ou não da
“infraestrutura”, - designava novas atenções a outros temas,
e às manifestações culturais (CAETANO e BEZZI, 2011).
Por estas leituras, observamos que a Geografia Cultural,
assim como a inserção de “um novo olhar” geográfico,
histórico e social para os espaços, e sujeitos sociais que
habitam esses lugares, possibilitaram novas reflexões sobre
as temáticas culturais, na medida em que o diálogo e os
campos de estudos se ampliaram.
Incluíram-se as investigações recentes sobre as
paisagens culturais, que ganharam expressão, ao passo
que as paisagens anteriormente intocadas pelos homens,
passaram agora, a receber possibilidades de leituras diversas,
dadas as impressões, humanas, mudanças, transformações
e significados atribuídos pelos grupos sociais. Na aula
07, aprofundaremos os estudos referentes as paisagens
culturais.
Por conseguinte, diversas categorias se ampliaram,
ao passo que, as décadas de 70 e 80, é o momento de
institucionalização e consolidação das Ciências Sociais, mas
também de influências significativas advindas de outros
contextos e lugares, como da Geografia Cultural Francesa,
dos estudos norte-americanos, e europeus.
De fato, a historiografia demonstra que passaram
a ser valorizadas as transformações frente ao avanço
dos estudos, na medida em que ocorreu a superação da
Geografia Clássica. Geógrafos culturais passaram a destacar
o “olhar social” para os espaços, tempos e lugares da
geografia física, e foram ampliando-se as investigações, o
papel da intertextualidade e textualidade, os significados e
significações dos lugares (DUNCAN, 2004).
Conforme verificamos pelo levantamento bibliográfico
 7 111
realizado, as investigações no âmbito da Geografia Cultural,
permitiram assim, o caráter humanístico da ciência, ao
conferir maior subjetividade aos conceitos, e uma interação
entre materialidade e imaterialidade, numa perspectiva
de valorização dos espaços, lugares, formas e sentidos da
geografia (CAETANO e BEZZI, 2011).
Nessa perspectiva, reformularam-se conceitos,
estudiosos incluíram em suas análises estudos referentes aos
códigos, sistemas e manifestações simbólicas, construíram-
se diferentes abordagens, o que, possibilitou ampliar fontes
de uso e de estudo, como a análise iconográfica, ao enfatizar
à “interpretação em profundidade” (COSGROVE, 2007).
Tudo isso, aliados à crítica, a compreensão das
vivências nos espaços, e a impressão das identidades dos
grupos sociais nos lugares habitados, efetivou formas e
leituras possíveis no âmbito dos Estudos Culturais.
Por conseguinte, os Estudos Culturais, integram o
campo de estudo da Geografia Cultural, ao contribuir para
a compreensão dos aspectos sociais, simbólicos e suas
diferentes manifestações, ao permitir discutir questões
importantes e fornecer elementos para ações e políticas
que promovam inclusão, diversidade e reconhecimento das
potencialidades culturais e dos espaços, lugares e territórios
multiculturais.
O campo teórico dos Estudos Culturais com o qual
dialogamos neste estudo tem como foco análises sobre
culturas e identidades, e parte de uma perspectiva e leitura
interdisciplinar, e plural.
Para saber!
A Lei N. 5..921, de 11 de agosto de 1971, estabeleceu as diretrizes e
bases para o ensino de primeiro e segundo graus, conforme a nova
terminologia para os antigos cursos primário, ginasial e colegial. A
implementação da lei abrangia os currículos e as disciplina, neste
caso, a disciplinar escolar que nos interessa, Estudos Sociais. A
Resolução n|  do Conselho Federal de Educação, de 1| de dezembro
de 1971, derivada do Parecer 5/71, instituía os Estudos Sociais,
constituída de uma matéria especíȴca, e a História e a *eograȴa
eram as disciplinas que a compunham como obrigatória. O uso
do termo “matériaȇ abrangia as atividades, as áreas de estudo e as
disciplinas, de acordo com o nível de aprendizagem para o qual
seria trabalhada. (Artigo 4| dessa Resolução n| ).
O Parecer 5/71 aȴrma: “Os Estudos Sociais constituem um elo a
ligar as Ciências e as diversas formas de Comunicação e Expressão”
“(...) têm uma abordagem mais cientíȴca” “(...) e sobretudo colocam
no centro do processo a preocupação do Humano”. (BRASIL,
1971b, p.75)
Sua dimensão de análise integra a multidisciplinariedade,
ou seja, apresenta um valor relacional e específico,
estabelecendo críticas em relação às temáticas por muito
tempo consideras “verdades” absolutas, pois ampliou-se
a compreensão em relação ao objeto/problema/método
na Geografia, ao passo, que se estabeleceu interfaces com
outras ciências. Portanto, a dimensão multidisciplinar,
rompe com fronteiras e visões determinantes e estabelecidas
tradicionalmente pelas sociedades.
Outro ponto interessante dos Estudos Culturais
é sua característica de transdisciplinaridade. Nesse
caso, as temáticas dos Estudos Culturais surgem como
ponto de partida para reflexões entre saberes diferentes
e compartimentados. A interpretação do espaço
geográfico supõe, portanto, relacionar os fenômenos
às múltiplas escalas, local, regional, global, integrando a
interdisciplinaridade na investigação.
Muito recentemente, o surgimento de novos temas nas
disciplinas de ecologia cultural, ecologia política e história
ambiental e a aceitação de novos paradigmas e metodologias
nas Ciências Humanas e Sociais, resultaram em uma nova
agenda interdisciplinar de pesquisa, que também trata de
questões que na atualidade, envolvem outras paisagens,
como saberes locais, gênero, conflitos e discursos políticos,
e movimentos sociais, ampliando a abordagem histórico-
cultural.
2 - Reȵexões historiográȴcas
Compreendemos o espaço geográfico como resultado
de uma construção histórico-social, em que as relações
sociais constituem um importante instrumento de análise
para a abordagem social e espacial, pois estas se concretizam
sobre os territórios, lugares e espaços ocupados pelos
sujeitos em sociedade.
Esses lugares, espaços, territórios, são entendidos
na dinamicidade de sua organização, e são produzidos,
reproduzidos, reformulados e ressignificados pelas
sociedades. Fato esse, que nos leva a compreender que
o espaço organizado geograficamente, remete-nos não
somente à sua definição física, mas aos lugares de existência
social, histórica e cultural dos indivíduos.
Conforme vimos pelo levantamento bibliográfico, a
Geografia Cultural, é esse campo de estudo das Ciências
Humanas e Sociais, que prioriza a investigação sobre a
organização espacial, geográfica, e física, no que tange, à
concretização das relações sociais que os indivíduos tecem
entre si, e que estabelecem com os demais grupos sociais,
de modo que, a Geografia Cultural, integra em suas análises
diversas dimensões, que envolvem a vida social, política,
econômica e cultural dos indivíduos.
Sua perspectiva integra a multidisciplinariedade,
investiga as representações construídas pelos indivíduos
sobre os espaços que esses ocupam, envolvem os
simbolismos dos lugares, e as perspectivas contemporâneas,
na medida em que sistematiza à compreensão das culturas,
formas e modos de vida, de organização e atuação social.
Caetano e Bezzi (2011), Ortiz (2004), dentre outros
pesquisadores, afirmam que a sistematização dos Estudos
Culturais, e ampliação das investigações no âmbito da
Geografia Cultural, possibilitaram um importante avanço à
esse campo de pesquisa, - especialmente, à partir do século
XIX, - ao deslocarem-se os estudos à compreensão de
diferentes culturas existentes, bem como ao reconhecerem-
se a heterogeneidade presente nas crenças e tradições
populares, nos processos identitários, e nas relações
construídas pelos indivíduos nos espaços que ocupam.
Paulatinamente, o reconhecimento deste campo,
possibilitou reflexões com relação ao meio ambiente,
as relações de poder, e a desconstrução de discursos e
112 *eograȴa Cultural
ideologias dominantes. Caetano e Bezzi (2011), e Ortiz
(2004), apontam que essas transformações teóricas pelas
quais passou o campo de estudo da Geografia Cultural, estão
relacionadas ao surgimento das correntes epistemológicas
positivistas, e às ideias aliadas ao movimento do Iluminismo.
(GLOSSÁRIO ILUMINISMO).
Nesse contexto, no âmbito do estudo geográfico,
emergiram novas necessidades de análises, ao passo
que, surgiram alguns questionamentos, relacionados aos
aspectos teórico-metodológicos da Geografia Tradicional,
especialmente, com relação aos conceitos até então
definidos e delimitados, como a noção de região. Transitava-
se pelas novas perspectivas, visava-se uma revisão analítica
não somente dos conceitos, mas, sobretudo dos campos de
pesquisa, o que incentivava as mudanças de cunho teórico
e metodológico, na redefinição dos métodos e dos objetos
investigativos.
Essas mudanças no campo teórico e metodológico dos
Estudos Culturais e da Geografia Cultural, está relacionada
também, as transformações ocorridas no espaço geográfico,
devido a expansão do capitalismo, e as transformações
cada vez mais constantes exigidas no período pós-guerra
mundial. Nesse momento, vimos uma redefinição espacial
dos territórios, ao passo que, novos modelos de sociedades
e economias foram inseridos (DANTAS e MORAIS,
2012).
Assim emergiu o paradigma da Nova Geografia, o
que promoveu uma significativa redefinição, a aplicação
de técnicas estatísticas, o estabelecimento e análises das
diferenças e similaridades entre os lugares, e a própria
definição de regiões que passou a apresentar diferentes
abordagens. Novas correntes do pensamento geográfico
conduziram à construção de novos parâmetros para o
estudo, ampliando o pluralismo conceitual.
O levantamento bibliográfico, e as reflexões
historiográficas, permitem observar que a Geografia
Cultura teve contribuição de diferentes teóricos. Alguns
se dedicaram mais a essa área da Geografia, como o
norte-americano Carl O. Sauer (2007). Este estudioso,
teve importante contribuição no desenvolvimento da
Geografia Cultural norte-americana, ao centrar suas ideias
na renomada Escola de Berkeley, que pode ser considerada
uma catalisadora de ideias para pesquisas e estudos que
tratam de processos histórico-culturais e ecológicos
Carl O. Sauer, se tornou um renomado professor
emérito no ano de 1957, tendo seus principais métodos de
trabalho, relacionados ao desenvolvimento da Geografia
Cultural, e a sua teoria que se baseava, sobretudo nas ideias
de pensadores como Richard Hartshoner.
Na perspectiva de Saueriana (2007), já havia a
necessidade de valorizar as relações entre o homem e o
ambiente, uma vez, que o último agente que modifica
a superfície da Terra é o homem. Para Sauer (2007),
o ser humano deve ser considerado como um agente
geomorfológico, que intervém e ressignifica as feições
superficiais terrestres.
Sua abordagem contemplava a preocupação de que a
Geografia Cultural, deveria interessar-se em compreender e
analisar as obras humanas sobre o espaço, e as impressões
8
destas sobre o meio, pois como ciência, este pesquisador
enfatizava três estudos principais no âmbito da Geografia:
a reconstrução da paisagem física antes do homem; a
reconstrução da paisagem durante a ação humana; e as
mudanças mais importantes que se verificam na paisagem
cultural através das marcas que nelas são impressas, diante
à ação dos homens.
Ampliando as análises, para Sauer (2007), a cultura é
um conjunto de objetos e utensílios que as sociedades e os
indivíduos utilizam para modificar o meio ambiente. Sauer
(2007) se preocupava com a forma com que os homens
intensificavam essas mudanças, e ao mesmo tempo,
identificava que essas transformações no meio ambiente,
ocorria de forma não planejada ou em desordem, sem uma
análise mais consciente o que resultaria em um desequilíbrio
ambiental.
Para saber!
Carl OrtZin Sauer nasceu em 19, no estado de Missouri no
extremo sul do centroeste americano, especializou-se na *eograȴa
Física, mas, desde o início de sua trajetória proȴssional desenvolvia
estudos na perspectiva da história do povoamento nas regiões em
que trabalhava. Foi leitor de diversas obras de geógrafos alemães
e franceses, que lhe serviram como referências para a sua base
teórico-metodológica, que posteriormente seria concebida, como
História Cultural baseada no meio ambiente – uma abordagem que
mostra muitos paralelos e aȴnidades com diversas correntes da
História Ambiental Contemporânea.
Ao longo de sua trajetória proȴssional, explorou diversas regiões,
como partes do sul e do centro sul do México, foi precursor da
arqueologia da paisagem do presente, e dedicou-se com ênfase
a *eograȴa Histórica. Entre 19 e sua morte em 1975, Sauer
publicou quatro livros sobre a geograȴa histórica do Caribe e da
América do Norte, dentre esses, talvez seu livro mais conhecido
“The Early Spanish Main”, publicado no ano de 19.
Em especial com Sauer ampliaram-se as temáticas das paisagens,
ao passo, que este enfatiza os elementos visíveis, como objetos de
interpretação da *eograȴa, que permite a leitura da cultura e da
história de um povo (BANREPC8LT8RAL, 201).
Outro importante teórico que contribuiu para a
ampliação dos debates sobre a Geografia Cultural, foi o
estudioso Denis Cosgrove. Este é considerado um dos
mais importantes teóricos da denominada Nova Geografia
Cultural, que emerge na segunda metade da década de 1970,
e se fortalece na década de 1990. Junto com Sauer (2007),
este último estudioso também é considerado expoente
principal para diferentes trabalhos relacionados à Geografia
Cultural, que influenciariam, gradativamente sua ampliação,
no Brasil e no mundo.
O conceito de Geografia adotado por Sauer (2007),
e Cosgrover (2007), diferenciam-se, no sentido de sua
compreensão e relação com o conceito de cultura e de
paisagem, de modo que, em Sauer (2007), há a adoção
de um conceito abrangente de cultura, que é visto como
um conjunto de criações humanas, ao passo, que para o
pesquisador Cosgrover (2007), o conceito de cultura era
entendido como os significados elaborados e reelaborados
pelos diferentes grupos sociais a respeito de diferentes fases.
 9 113
Da mesma forma, Cosgrove (2007), não considerava
a paisagem na perspectiva da morfologia, mas inserida
no mundo dos significados e estando impregnada de
simbolismo. O passado para Cosgrove (2007), assume
focos, temporalidades e áreas distintas daqueles de Sauer
(2007). Seus estudos foram fortemente influenciados por
John Ruskin, intelectual inglês do século XIX, que se
dedicou ao estudo da paisagem.
Para saber!
O professor Denis E. Cosgrove, nasceu em :arrenton, Misouri, em
19, e faleceu em março de 200, tendo se consagrado, como
um dos mais importantes geógrafos culturais da Nova *eograȴa
Cultural. Sua formação inicial está relacionada ao Colégio dos
Jesuítas em Liverpool, onde obteve sua graduação em *eograȴa
em Oxford, e realizou seu doutorado. Foi professor em Oxford, na
Loughborough 8niversit\, no Ro\al HolloZa\ College da 8niversit\
of London onde se consagrou proȴssionalmente. Depois lecionou
na 8niversit\ of California at Los Angeles (8CLA), onde permaneceu
até o seu falecimento.
Sua vasta obra tem como foco principal o estudo da paisagem,
distanciando-se da perspectiva saueriana, ao passo, que se
preocupava com as representações cartográȴcas e as imagens em
geral.
Foi membro do Conselho Consultivo da revista do NEPEC, Espaço e
Cultura, onde alguns de seus textos foram traduzidos e publicados.
Dentre as principais obras, “Towards a Radical Cultural Geography:
Problems of Theory”; “Social formation and symbolic landscape”; “The
Reinvention of Cultural Geography” (ESPA‰O E C8LT8RA, 201).
Uma outra referência importante para a compreensão
da Geografia cultural no Brasil e no mundo, é o francês
geógrafo da Universidade de Paris-Soborne, Paul Claval
(2007), que em 1995, publicou sua mais importante obra,
“La Géographie Culturelle”, concebida como compêndio
da historiografia. Sua contribuição permite ampliar as
análises, no que tange, à relação entre cultura e vida social,
transmissão de conhecimentos, e regras de conduta, e à
formação das áreas culturais.
Para saber!
Paul Claval é um dos maiores geógrafos da atualidade. Ao lado do
geógrafo Milton Santos, ganhou o prêmio Vautrin Lud, em 199,
equivalente ao prêmio Nobel. Publicou livros em vários idiomas,
como por exemplo, Ȋ(VSD©RH3RGHUȋȊ*HRJUDȴD&XOWXUDOȋȊ3ULQF¯SLRV
GH*HRJUDȴD6RFLDOȋȊ*HRJUDȴD(FRQ¶PLFDȋe “A lógica das cidades”.
Suas obras têm sido referência mundial no estudo da *eograȴa
Cultural e, particularmente no Brasil, tem contribuído para a
discussão da cultura e a disseminação da compreensão das mais
diversas formas de manifestações e festejos, como, por exemplo, o
do boi-bumbá, povos indígenas, ribeirinhos, seringueiros, de modo
a permitir uma discussão das problemáticas locais em um período
de globalização (IEAT, 201).
Paul Claval (2007), aproxima-se das análises de Sauer
(2007), na medida, que na terceira parte do livro, remete
aos seus estudos deste último, à Geografia Cultural Clássica
de Sauer (2007), conhecida como Geografia Cultural
Saueriana. Também expõe a análise da Geografia Cultural,
sob a óptica da tecnologia, ao reconhecer sua importância
no meio de transmissão e difusão de diferentes culturas,
nas relações sociais com o meio, nas origens das diferentes
paisagens, e na organização espacial dos lugares.
Os estudos de Claval (2007), orientam ainda, a análise
teórica da evolução humana relacionada as mudanças e
transformações na área cultural ao longo da história, bem
como aos desafios da globalização, as desordens de valores
sociais, éticos e culturais, e as questões da etnogeografia,
devido sua ligação e aproximação investigativa ao Laboratoire
Espace et Culture.
Ou seja, no século passado geógrafos abandonaram
uma tradição de conhecimento de caráter meramente
enciclopédico, e passaram ao questionamento social e
crítico, sobretudo, na aproximação do campo da Geografia
as diversas formas, finalidades, e ao estudo dessa relação
causal entre indivíduos e a natureza, os espaços e lugares.
As análises ampliaram-se de geógrafos ocidentais, geógrafos
físicos, às posturas de ambientalistas, sendo que os métodos
de investigação transformaram os objetos de análise.
As reflexões aqui apresentadas estão centradas na
noção que envolve os espaços vividos como espaços em
construção, a partir dos processos identitários, e das culturas
reveladoras das práticas sociais, pois como afirma Cosgrove
(2007), “(...) os estudos recentes da Geografia Cultural
enfatizam o caráter de construção cultural sofisticada”
(COSGROVE, 2007, p. 137).
RetomanGoaaula
Nesta aula, aprendemos as múltiplas formulações
no estudo da Nova *eograȴa, a *eograȴa Crítica, ao
contemplar a abordagem humanística e cultural, e as
perspectivas de pensamento geográȴco que ampliaram
os debates no âmbito da *eograȴa Cultural. Vamos recordar?
1 - Considerações sobre a Geografia Cultural e os
Estudos Culturais
Nesta seção, vimos que a partir de 1970, a Geografia
Cultural passa por uma profunda reformulação. Dessa
forma, procuramos enfatizar as dinâmicas sofridas ao longo
dos Estudos Culturais, observando as mudanças desde às
concepções clássicas às novas tendências da Geografia
Cultural.
2 - Reflexões historiográficas
Os Estudos Culturais e a Geografia Cultural, transitam
na perspectiva humanístico-cultural. O questionamento,
os objetos de análise, os campos culturais permitem
ampliações, ao passo, em que os significados e a natureza
das paisagens constituem foco de atenção central dos
geógrafos culturais.
114 *eograȴa Cultural 10
de 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ts/
9aleapena v14n1/v14n01a02.pdf>. Acesso em: 09.10.2018.
CAETANO, Jéssica Nene; BEZZI, Meri Lourdes.
Reflexões na Geografia Cultural: a materialidade e imaterialidade
da cultura. Soc. & Nat., Uberlândia, ano 23, n. 03, p. 453-
465, set/dez. 2011.
SAUER, Carl. Geografia Cultural. In: CORRÈA, R.,
Vale a pena ler L.; ROSENDAHL, Zeny (Org). Introdução à geografia cultural.
2 ed. Rio de Janeiro: Betrand, Brasil, 2007, p. 19-26.
BANREPCULTURAL. Red Cultural del Banco de la
República en Colombia. Disponível em: <http://enciclopedia.
banrepcultural.org/index.php?title=Carl_O._Sauer>.
Acesso em: 09.10.2018.
BEZZI, M. Região: uma (re)visão historiográfica – da
gênese aos novos paradigmas. Santa Maria: UFSM, 2004.
Vale a pena assistir
BRASIL. Parecer nº853 de 12 de novembro de 1971.
Baraka: As câmeras nos mostram o mundo com
Núcleo comum para os currículos do ensino de 1º e 2º
ênfase não no “onde”, mas “o que está lá.” O filme revela,
graus. A doutrina do currículo na Lei n. 5.692. In: Documenta
paisagens naturais, envolvidas por significados culturais,
nº 132, Rio de Janeiro, nov. 1971b.
pessoas em oração, povos indígenas, aldeias inteiras
CAETANO, Jéssica Nene; BEZZI, Meri Lourdes.
dançando, destruição da natureza através de explosões
Reflexões na Geografia Cultural: a materialidade e imaterialidade
e minas a céu aberto, pobreza, vida urbana, campos de
da cultura. Soc. & Nat., Uberlândia, ano 23, n. 03, p. 453-
concentração, valas comuns, ruínas antiga, piras funerárias
465, set/dez. 2011.
e retorno à natureza. Numa busca para que cada quadro
COSGROVE, D. Em direção a uma Geografia
consiga capturar a grande pulsação da humanidade nas
Cultural Radical: problemas da teoria. In: CORRÈA, R. L.;
atividades diárias.
ROSENDAHL, Zeni (Org). Introdução à Geografia Cultural. 2
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 103-134. Olympia II – Vencedores Olímpicos: Leni Riefenstahl faz do
CLAVAL, P. La Géographie Culturelle. Ed. Nathan: Paris, seu documentário sobre os Jogos de Berlim uma celebração
1995. ao corpo humano, combinando a poesia de corpos em
CLAVAL, P. A contribuição francesa ao movimento, com os espaços em close-up de atletas no calor
desenvolvimento da abordagem cultural na geografia. In: de competições. As paisagens carregam consigo espaços
CORRÈA, R., L.; ROSENDAHL, Zeny (Org). Introdução à físicos, contudo muito mais, símbolos políticos e sociais.
geografia cultural. 2 ed. Rio de Janeiro: Betrand, Brasil, 2007,
p. 147-166.
Dantas, Eugenia Maria; MORAIS, Ione Rodrigues
Diniz. Organização do espaço. 2. ed. Natal: EDUFRN, 2012. 0inKasanotações
DUCAN, J. A paisagem como sistema de criação de
signos. In: CORRÈA, R. L.; ROSENDAHL, Zeny. (Org).
Paisagens, textos e identidades. Rio de Janeiro: UERJ, 2004, p.
91-132.
ELIAS, Norbert. Sociogênese da diferença entre
“Kultur” e “Zivilisation” no emprego alemão. In: ELIAS,
Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1990, p. 23-50.
IEAT. Instituto de estudos avançados interdisciplinares.
Disponível em: <https://www.ufmg.br/ieat/>. Acesso
em: 20.09.2018.
ESPAÇO E CULTURA. Período espaço e cultura. UERJ.
Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.
php/espacoecultura/article/view/3528/2454>. Acesso
em: 09.10.2018.
ORTIZ, Renato. Estudos Culturais. Tempo
social. vol.16 no.1, São Paulo, June de 2004. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-20702004000100007>. Acesso em:
09.10.2018.
ORTIZ, Renato. As Ciências Sociais e a cultura. Tempo
Social; Rev. Sociol. USP, São Paulo, 14 (1): 19-32, maio