Você está na página 1de 48

RESPOSTA

RADIOBIOLOGIA HUMANA À
RADIAÇÃO

Prof Stella Siqueira Campos


ALARA

• Apesar de sabermos que os raios X são nocivos,


seus benefícios diagnósticos são enormes.

• O trabalho do profissional da radiologia consiste


em produzir imagens de raios X de alta
qualidade com o mínimo possível de exposição
à radiação.
• Essa prática resulta em benefício máximo com
risco mínimo para os pacientes.

• Essa prática é conhecida como ALARA – “As low


as reasonably achievable” – ou seja, tão baixas
quanto razoavelmente exequíveis.
RESPOSTA HUMANA À
RADIAÇÃO
• O efeito dos raios X em humanos resulta de
interações em nível atômico. Essas interações
atômicas assumem a forma de ionização ou
excitação de elétrons orbitais e resultam na
deposição de energia no tecido.

• A energia depositada pode produzir uma


mudança molecular, cujas consequências
podem ser mensuráveis se a molécula envolvida
é crítica.
• Quando um átomo é ionizado, as propriedades das sua
ligações químicas se modificam.
• Se o átomo faz parte de uma grande molécula, a
ionização pode resultar na quebra da molécula ou na
relocação do átomo dentro da molécula.
• A molécula anormal pode passar a funcionar de forma
inadequada, ou até mesmo parar de funcionar, o que
pode resultar em vários problemas ou até na morte da
célula.
• Esse processo pode ser reversível. Átomos ionizados
podem se tornar neutro novamente atraindo um elétron
livre.
• Moléculas danificadas podem ser reparadas por uma
enzima de reparo.
• Células e tecidos podem ser recuperados de danos
provocados pela radiação e regenerar.
EFEITOS DA
RADIAÇÃO
• Se a resposta à radiação ocorre após alguns
minutos ou dias depois da exposição à
radiação, ela é classificada como efeito
imediato da radiação.

• Se o dano humano não é observado durante


meses ou anos, ele é chamado de efeito tardio
da radiação.
RESPOSTAS HUMANAS À
RADIÇÃO IONIZANTE

• EFEITOS IMEDIATOS DA RADIAÇÃO EM HUMANOS


• 1. Síndrome aguda da radiação
• a) Síndrome hematológica
• b) Síndrome gastrointestinal
• c) Síndrome do sistema nervoso central
• 2. Dano local de tecido
• a) Pele
• b) Gônadas
• c) Extremidades
• 3. Depressão hematológica
• 4. Dano citogenético
• EFEITOS TARDIOS DA RADIAÇÃO EM HUMANOS
• 1. Leucemia
• 2. Outras doenças malignas
• a) Câncer nos ossos
• b) Câncer nos pulmões
• c) Câncer na tireóide
• d) Câncer de mama
• 3. Danos locais de tecido
• a) Pele
• b) Gônadas
• c) Olhos
• 4. Diminuição do tempo de vida
• 5. Dano genético
• a) Dano citogenético
• b) Duplicação da dose
• c) Dose geneticamente significante
• EFEITOS DA IRRADIAÇÃO FETAL
• 1. Morte pré-natal
• 2. Morte neonatal
• 3. Malformação congênita
• 4. malignidade infantil
• 5. Diminuição do crescimento e desenvolvimento.
• Embora a maioria das
respostas humanas à radiação
seja observada para grandes
doses, assumimos, por razões
de cautela, que mesmo
pequenas doses são
prejudiciais.
• Os efeitos imediatos da radiação de alta dose
podem incluir danos observáveis em órgãos.
• Os vários órgãos do corpo exibem uma ampla
faixa de sensibilidade à radiação
• Essa radiossensibilidade é determinada pela
função associada ao órgão, pela velocidade
segundo a qual as células amadurecem no
interior do órgão e pela radiossensibilidade
inerente ao tipo de célula em questão.
RADIOSSENSIBILIDADE
LEI DE BERGONIE E TRIBONDEAU

• Em 1906, dois cientistas franceses, Bergonie e Tribondeau, propuseram


basicamente que a radiossensibilidade de tecidos vivos depende da maturação
e do metabolismo a eles associados.

• As células tronco são radiossensíveis; as células maduras são radioresistentes.


• Tecidos jovens e órgãos são radiossensíveis.
• Tecidos com grande atividade metabólica são radiossensíveis.
• Uma grande taxa de proliferação de células e uma grande taxa de
crescimento de tecidos resultam no aumento da radiossensibilidade.
FATORES FÍSICOS QUE ALTERAM
A RADIOSSENSIBILIDADE

• Quando se irradia um tecido, a resposta do tecido é


determinada pela quantidade de energia depositada
por unidade de massa,a dose em gray (Gy).
• Mas em condições experimentais, doses iguais em
espécimes iguais podem apresentar diferente respostas,
devido a outros fatores que os distinguem.

• Vários fatores físicos afetam o grau de resposta à


radiação.
LET – TRANSFERÊNCIA
LINEAR DE ENERGIA

• Mede a rapidez na qual a energia da radiação é transferida para o


tecido mole.
• Expressa a qualidade da radiação.
• Determina o fator de ponderação da radiação, que é usado em
radioproteção.
• Quanto maior a LET, maior a habilidade da radiação produzir resposta
biológica.
• A LET é expressa em unidades de quiloelétron-volt de energia transferida
por micrômetro de tecido (keV/µm)
• A LET do raios X de diagnóstico é de aproximadamente 3 keV/µm
RBE - EFETIVIDADE
BIOLÓGICA RELATIVA

• Na medida que a LET aumenta, a capacidade da


radiação produzir danos biológicos também aumenta.

• Esse efeito relativo é descrito quantitativamente pela


RBE.

• EBR = dose de radiação padrão para produzir um efeito E


dose de radiação teste necessária para produzir o mesmo
efeito E
Tipo de radiação LET (keV/µm) RBE
Raios X de 25 MV 0,2 0,8
Raios gama de 60CO 0,3 0,9
Elétrons de 1 MeV 0,3 0,9
Raios X diagnóstico 3,0 1,0
Prótons de 10 MeV 4,0 5,0
Nêutrons rápidos 50,0 10
Partículas α de 5 100,0 20
MeV
Núcleos pesados 1.000,0 30
PROLONGAMENTO E
FRACIONAMENTO

• Se uma dose de radiação é depositada em um longo


período, ao invés de ser depositada rapidamente, o
efeito dessa dose é diminuído.

• Se o tempo de irradiação é aumentado, uma dose


maior é necessária para produzir o mesmo efeito.

• Esse aumento de tempo pode ser obtido de duas


maneiras:
• Se uma dose é emitida continuamente mas em uma taxa de
emissão baixa, diz-se que ela foi prolongada.

• Se uma dose for transmitida em intervalos de tempo,


separados entre si, diz-se que a dose foi fracionada.

• Tanto o prolongamento, quanto o fracionamento da dose


levam à diminuição do efeito da radiação, pois possibilita
tempo para os reparos intracelulares e para a recuperação
dos tecidos.
FATORES BIOLÓGICOS QUE
ALTERAM A RADIOSSENSIBILIDADE

• Além dos fatores físicos, várias condições biológicas


alteram a resposta de tecidos à radiação.
EFEITO DO OXIGÊNIO

• O tecido é mais sensível à radiação quando ele é


irradiado no estado oxigenado, ou aeróbio, do que
quando ele é irradiado em ambiente anóxico (sem
oxigênio).

• Essa característica do tecido é denominada efeito do


oxigênio e é descrita numericamente pela razão de
aumento do oxigênio (RAO).
• RAO = Dose necessária em condições de anoxia para efeito E
Dose necessária em condições aeróbias para efeito E

• A RAO depende do LET. A RAO é alta para pequenos valores


de LET, om um valor máximo de 3, que decresce para quase
1 para altos valores da LET da radiação.
IDADE

• A resposta dos humanos à radiação se modifica com a


idade.
• Os seres humanos são mais radiossensíveis antes do
nascimento.
• Após o nascimento a radiossensibilidade decresce até a
fase adulta, em que os seres humanos são mais
resistentes à radiação.
• Na terceira idade, os humanos se tornam novamente
um pouco mais radiossensíveis.
RECUPERAÇÃO

• As células humanas podem se recuperar de danos


provocados pela radiação.
• Se a dose não for suficiente para matar a célula antes da sua
próxima divisão (morte na interfase), após um tempo
suficiente a célula pode se recuperar do dano.

• Alguns tipos de célula apresentam maior capacidade de


reparo que outras. No nível do organismo, a recuperação do
dano é ajudada pelo repovoamento realizado pelas células
sobreviventes.
• Dependendo da dose recebida por um órgão, seu
volme diminui, a chamada atrofia, que se deve à morte
e desintegração de algumas células.

• Se certa quantidade de células sofre um dano subletal,


elas sobrevivem e podem proliferar e repovoar o tecido
ou órgão irradiado.

• RECUPERAÇÃO = Reparo intracelular + repovoamento


AGENTES QUÍMICOS

• Alguns produtos químicos podem modificar a resposta


da célula à radiação.

• Eles devem estar presentes no momento da irradiação,


pois em geral, aplicações pós-radiação não alteram o
grau de resposta à radiação.
• RADIOSSENSIBILIZANTES
• Aumentam os efeitos da radiação nas células.
• São chamados de agentes sensibilizantes.
• Exemplos: pirimidina halogenada, metotrexato,
actinomicina D, hidrociureia e vitamina K.
• Aumentam a razão de efetividade para 2.
• Se incorporam ao DNA e amplificam os efeitos da
radiação na molécula.
• RADIOPROTETORES
• Exemplos: cisteína e cisteamina.
• Têm-se testado centenas de produtos semelhantes e
provado serem efetivos num fator de aproximadamente
2.
• Não tem encontrado aplicações em humanos, pois para
serem efetivos, eles têm de ser aplicados em níveis de
toxicidade, e podem ser piores que a própria radiação.
HORMESIS

• Evidências biológicas sugerem que um pouco de


radiação pode ser benéfico.
• A explicação é que um pouco de radiação estimula
respostas hormonais e imunológicas a outros agentes
tóxicos do ambiente.

• Independente da hormesis, o princípio ALARA continua


sendo a referência para uma abordagem segura no
gerenciamento da radiação.
EFEITOS DAS RADIAÇÕES
NOS SERES VIVOS

• ESPECIFICIDADE
• Os efeitos biológicos das radiações ionizantes NÃO SÃO
CARACTERÍSTICOS E NEM EXCLUSIVOS das radiações
ionizantes.
• Diversos agentes físicos, químicos e até biológicos podem
apresentar a mesma patologia.
• Os efeitos da radiação em um ser vivo dependem de
vários fatores, como local atingido, dose e estado físico
do indivíduo.
• As radiações ionizantes não trouxeram nenhuma doença
nova às já existentes.
• LIMIAR DE DOSE
• É a dose a partir da qual uma pessoa tem a chance
desprezível de sofrer dano biológico ou dose pela qual
ocorre a primeira resposta para a elevação da
intensidade de raios X (Bushong).
• É a dose mínima para que um sintoma se manifeste, que
são os efeitos determinísticos.
• Há efeitos que não possuem um limiar para surgirem e são
calculados somente pela probabilidade (estocásticos)
• RADIOSSENSIBILIDADE:
• Lei de Bergonie e Tribondeau: “ A sensibilidade das
células é diretamente proporcional à sua capacidade de
reprodução e inversamente proporcional ao seu grau de
especialização.
• TEMPO DE LATÊNCIA
• Os sintomas causados pela radiação não surgem
imediatamente e dependem da área atingida.
• No caso de doses baixas, o aparecimento dos sintomas leva
um tempo longo, de meses a anos.
• No caso de doses elevadas, o tempo de latência é baixo,
podendo ser até minutos.
• REVERSIBILIDADE
• Os danos causados pela radiação podem ser reversíveis.
• Após algum tempo alguns tecidos se regeneram e se
recuperam dos danos sofridos.
• Nos casos de doses elevadas, os danos podem ser
irreversíveis, quando há destruição de células não
regenerativas.
• TRANSMISSIBILIDADE:
• A maioria dos danos causados a uma célula não se
transmite a outras células por divisão ou reprodução.
• Quando ocorre na célula uma mudança capaz de
mudar sua função reprodutiva, há um câncer.
• Quando os danos provocam mudanças em células
germinativas, haverá transmissão de alterações genéticas
aos descendentes do indivíduo irradiado.
CONTAMINAÇÃO X
IRRADIAÇÃO

• Irradiação
• É originada por algum tipo de procedimento com radiação ionizante.
• O paciente não torna-se "radioativo" e portanto não há nenhum perigo de "contaminar" outras pessoas
ou o meio ambiente.
• Irradiações severas podem acontecer no caso de explosões de usinas nucleares ou bombas atômicas.
• As pessoas não ficam radioativas.

• Contaminação
• É de estar em contato com fontes não seladas.
• Procedimentos de Medicina Nuclear: os radiofármacos são injetados no paciente ficando o mesmo
"radioativo".
• Os seres humanos podem ainda contaminar-se em acidentes como foi o caso de Goiânia em 1987.
RELAÇÕES DOSE-RESPOSTA
DA RADIAÇÃO

• Uma relação dose-resposta da radiação é uma relação


matemática entre vários níveis de dose da radiação e
da resposta observada.

• O objeto de quase toda a pesquisa radiobiológica é o


estabelecimento de relações dose-resposta da
radiação.
• As relações dose-resposta da radiação têm duas
importantes aplicações em radiologia:
• Planejar protocolos de tratamento terapêutico em
pacientes com câncer.
• Fornecer informações sobre os efeitos de irradiações com
pequenas doses. Esses estudos fornecem as bases para as
atividades de controle da radiação e são muito
importantes para a radiologia radiodiagnóstica.
• As respostas de humanos à
exposição à radiação são de dois
tipos: imediata ou tardia, dose
alta ou dose baixa e
determinística ou estocástica.
• EFEITOS DETERMINÍSTICOS:
• São produzidos por doses elevadas, acima do limiar.
• A gravidade aumenta com a dose aplicada.
• São causados por irradiação total ou localizada de um
tecido, causando grau de morte celular, com prejuízos
detectáveis no funcionamento do tecido ou órgão.
• As respostas determinísticas à radiação estão geralmente
associadas a doses elevadas e resposta imediata.
• Como exemplo temos o eritema ou queimadura de pele
induzida por radiação.
• Historicamente, Becquerel e Pierre Curie, tiveram eritema cutâneo
causados por Rádio.

• Resumindo, os efeitos determinísticos apresentam as seguintes


características:
• Uma dose mínima deve ser atingida antes que se observe um efeito.
• O tamanho do efeito aumenta com o aumento da dose, isto é,
é proporcional à dose.
• Existe uma relação clara entre a exposição à radiação e
o efeito observado.
137Césio em Goiânia
Sobrexposição em fluoroscopia
• EFEITOS ESTOCÁSTICOS:
• São efeitos em que a probabilidade de ocorrência de
doenças é proporcional à radiação recebida, sem a
existência de um limiar.
• São causados por exposições a dose baixas, e aparecem
como respostas tardias.
• Os sintomas podem aparecer após um longo período de
tempo de exposição, até muitos anos.
• O câncer, a leucemia e os efeitos genéticos são respostas
estocásticas.
• Os efeitos estocásticos são aqueles que ocorrem
ao acaso; ocorrem nos indivíduos não expostos e expostos
à radiação. Em proteção radiológica, efeitos estocásticos
significam câncer (carcinogênese) e efeitos genéticos
(mutagênese).
• Características dos efeitos estocásticos:
• O resultado de uma exposição à radiação significa um
aumento da probabilidade do efeito
• Quanto maior a dose, não aumenta a severidade do dano,
maior será a probabilidade da ocorrência do efeito.
• Não existe uma dose mínima para a ocorrência do efeito.
• Mão do radiologista Mihran
Kassabian (1870-1910).

Você também pode gostar