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Sexologia e Psicanálise

Professor:
Emílio César A. Costa
Psicólogo Clínico e Psicanalista
Psicanalista Didata
Pós-graduado em Psicologia Clínica-
Psicanálise
contato: espacopsi9@gmail.com
Unidade I
Sexologia
O que é Sexologia?
Ela estuda o comportamento, pensamento
e emoção humana com foco
no desenvolvimento sexual e nos aspectos
fisiológicos, psicológicos, médicos, sociais
e culturais em que eles atuam.
Ela atua nos conhecimentos sobre o sexo e
a saúde, prevenção de doenças, controle
de natalidade, disfunções, entre outros.
O estudo científico do sexo e da
sexualidade datam desde o período grego, onde a
curiosidade pelo tema já ocupava a mente e os
pergaminhos dos antigos gregos. Mas a sexologia
como ciência, tal como o termo “sexologia”, foi
consolidado no fim do século XIX, com
a publicação de importantes livros sobre o
assunto:
Psychopatia sexualis de Richard von Krafft-Ebing,
lançado em 1886;
Libido sexualis de Albert Moll, lançado em 1897;
Estudos de psicologia sexual de Havelock Ellis,
também lançado em 1897.
Sexo x Sexualidade
Termos muito confundidos entre os
leigos, sexo e sexualidade têm
diferença. Entende-se por “sexo” as
características físicas e fisiológicas que
diferem o feminino do masculino.
A sexualidade, entretanto, é a conexão
afetiva. São as sensações, descobertas,
experiências e o prazer gerado a partir
delas.
A fim de se entender sobre tema, é
importante compreender a diferença entre
“sexo” e “sexualidade”.
O Sexo é entendido a partir do biológico,
submetido a uma finalidade, em última
instância a procriação, portanto, a reprodução.
Nesse sentido, o Sexo é anatômico, ou seja,
associados aos genitais, dessa forma, remete-
se a ideia de gênero, feminino e masculino.
A Sexualidade vai além das partes do corpo,
constituindo-se como uma característica
que está estabelecida e está presente na
cultura e história do homem a sexualidade
transcende à consideração meramente
biológica, centrada na reprodução e nas
capacidades instintivas.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS),
2002
“A SEXUALIDADE UM ASPECTO CENTRAL DO SER
HUMANO DO COMEÇO AO FIM DA VIDA E
CIRCUNDA SEXO, IDENTIDADE DE GÊNERO E
PAPEL, ORIENTAÇÃO SEXUAL, EROTISMO,
PRAZER, INTIMIDADE E REPRODUÇÃO” (…) “É
MULTIDIMENSIONAL – INFLUENCIADA PELA
INTERAÇÃO DE FATORES BIOLÓGICOS,
PSICOLÓGICOS, SOCIAIS, ECONÔMICOS,
POLÍTICOS, CULTURAIS, ÉTICOS, LEGAIS,
HISTÓRICOS, RELIGIOSOS E ESPIRITUAIS.”
Sexólogo: Quem é esse profissional?
De acordo com a Organização Mundial
da Saúde (OMS) a sexualidade é “A
integração de elementos somáticos,
emocionais, intelectuais e sociais do ser
sexual que, por meios que são
positivamente enriquecedores, realçam as
pessoas, a comunicação e o amor”.
Mas e quando estes elementos estão
com problema? É aí que entra o sexólogo!
O sexólogo é o profissional da sexologia
que estuda as causas emocionais que geram
dificuldades de praticar o sexo na relações
do indivíduo e na sintonia entre casais.
Ele investiga as origens, entende as causas e
oferece ferramentas para solucionar os
problemas de cada indivíduo, respeitando as
suas particularidades e trabalhando suas
limitações.
A fim de estudar melhor cada caso
relacionado à sexualidade humana, o
sexólogo investiga em áreas como
psicologia, história, sociologia, biologia
e estudos de gênero possíveis origens para
as disfunções e problemas emocionais que
acometem seus pacientes.
Eles também levam em consideração os
aspectos sociais, culturais e religiosos.
A vida sexual é influenciada por muitos
fatores como estresse, doenças mentais,
insegurança, medo, baixa autoestima
e religião. Os profissionais que cuidam das
disfunções podem ser da área da medicina
ou psicologia. Eles têm conhecimento para
tratar doenças físicas e psíquicas.
É importante procurar um sexólogo para
responder perguntas sobre sexo, vida e
receber o auxílio necessário para
solucionar tais questões.
Tipos de sexólogos
Sexólogo Clínico
Estuda e trata as questões ligadas a disfunções, distúrbios
e variações. Algumas das queixas mais comuns são:
Baixo desejo sexual
Disfunção erétil
 Pré-orgasmo
Intercurso doloroso, como o vaginismo
Ejaculação precoce
Através de técnicas psicoterapêuticas, o sexólogo clínico
também trabalha com a educação sexual e o
aconselhamento de casal.
Sexólogo Forense
É especializado em tratar transtornos da sexualidade,
parafilias (o interesse sexual intenso e persistente por algo
que foge dos padrões normais sociais, algo atípico, mas
que não envolve desconforto nem danos) e problemas
sexuais originados através de traumas.
A sexologia forense tem como finalidade estudar as
práticas libidinosas definidas pela lei penal como crime.
Este estudo é do interesse judicial. Uma vez ocorrida
infração à lei cabe ao Estado apurar a infração e sua
autoria para então processar, julgar e quando cabível
aplicar, ao infrator, a pena adequada.
As Instituições Públicas encarregadas desse trabalho são: a
Polícia Judiciária, o Ministério Público e o Poder Judiciário.
Terapia Sexual
É mais focada na sintonia sexual do casal e
no conhecimento e desenvolvimento sexual individual.
Tem como objetivo proporcionar melhoras da
sexualidade como um todo: fisicamente,
psicologicamente e emocionalmente.
Além disso, a terapia sexual auxilia na comunicação com
o(a) parceiro(a) e no tratamento de problemas
psicológicos. Quando há problemas físicos, o
encaminhamento para o médico é recomendado.
A terapia sexual não existe somente para quem está com
problemas! Ela também ajuda o indivíduo a conhecer
melhor o seu próprio corpo e obter recursos para
aprimorar sua sexualidade e vida sexual.
Sexologia e Psicologia
A sexualidade influencia diversos
aspectos da nossa vida: os pensamentos,
sentimentos, ações, laços e a saúde física
e mental.
É por isso que é um tema muito
abordado entre os psicólogos,
psicanalistas e psiquiatras.
O médico neurologista e importante psicólogo
austríaco Sigmund Freud (1856-1939),
considerado o pai da psicanálise, foi o
primeiro a investigar as causas das disfunções
e problemas relacionados ao sexo.
Ele recebia diversos adultos se queixando de
problemas. Sua alternativa, então, foi
investigar as origens na infância. Ele foi o
primeiro teórico a falar sobre a sexualidade
infantil e a tecer estudos essenciais para a
compressão da psicologia do sexo.
História da Sexologia no Brasil
Em 1928, ao publicar A neurastenia sexual
e seu tratamento, o neurologista Antônio
Austregésilo Rodrigues de Lima (1876-
1960), professor da Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro, dizia ter escrito o livro
devido ao “crescido número de consulentes
nervosos, atacados de neurastenia sexual”,
que vinha tratando em seu consultório.
Nos anos seguintes, a capital da
República iria assistir à realização de
cursos populares sobre sexologia e a
comemorações especiais (como o ‘Dia do
Sexo’), além de ouvir programas de rádio
sobre sexo e acompanhar nos jornais
diários notícias sobre campanhas
de educação sexual.
O público brasileiro começava de fato a consumir
com gosto publicações sobre a sexualidade e seus
problemas.
Ao ser publicado, no final dos anos 1920, o clássico
A questão sexual, do psiquiatra e neurologista
suíço Auguste Forel (1848-1931), vendeu os três mil
exemplares da primeira edição em apenas dois
meses.
Êxitos editoriais como o desse livro levariam às
livrarias da cidade um fluxo crescente de obras
sobre sexo. O livro de Forel foi publicado na
coleção ‘Biblioteca de Estudos Psicossexuais’, da
editora Civilização Brasileira.
Os primeiros sexólogos e psicanalistas logo
abririam consultórios, partilhando a clientela
que Antônio Austregésilo dizia ser tão
numerosa e carente.
No Rio de Janeiro da primeira metade do
século 20, a nascente sexologia era
representada por dois médicos: o
gaúcho Hernani de Irajá (1895-1969) e o
carioca José de Oliveira Pereira de
Albuquerque (1904-1984).
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FIM
Unidade II
A Sexologia e a Psicanálise (parte 1)

Freud e a Sexologia/sexualidade
Freud e a Sexologia
Quando Sigmund Freud começou a publicar os seus
estudos envolvendo a sexologia/sexualidade, a
sociedade de sua época não aceitou de forma muito
positiva.
Eram novas ideais que se chocaram com os princípios
da época, se debatendo de frente a velhos
preconceitos e paradigmas.
A teoria freudiana analisa os primeiros anos de vida
do homem, por isso que os estudos recentes de
psicologia do desenvolvimento tiveram grande
influência com a psicanálise, pois se restringiam entre
a infância e a adolescência.
Para a Sexologia, tudo que fugisse da junção entre
o macho e a fêmea, e que não estivesse, portanto,
submetido ao ato reprodutivo ou um fim
biológico, era tido como uma espécie de desvio,
sendo pequeno ou grande desvio.
Freud fala sobre esses desvios ao apresentar-nos
a ideia de perversão polimorfa. Ele vai dizer que
aquelas práticas que estão presentes nos
chamados perversos, por exemplo, uma prática
que vai enfatizar muito o olhar, um cheiro, um tom
de voz, podem serem estranhas, mas elas têm
muito a dizer sobre o que se passa no sujeito.
Freud explica que o instinto sexual é uma
força que nos excita e atua de forma
contínua. Este instinto existe e atua de
forma a realizar um determinado objetivo.
A teoria freudiana não se limita apenas a
região genital. Por isso é interessante
analisarmos os seus estudos, pois a teoria
ajuda a compreender que as sensações
sexuais podem se manifestar em outros
órgãos além dos órgãos genitais.
Freud ao escutar seus pacientes – ele vai
construindo a Psicanálise a partir do que
esses pacientes têm a dizer sobre eles
próprios – vê um cenário totalmente
diferente, o qual será sustentado não
pelo biológico, ou instinto, mas por um
conceito fundamental para a Psicanálise,
o conceito de Pulsão [Trieb].
Sexualidade
Sexualidade é assunto complexo, controvertido
e de conceituação difícil. Tem sido alvo de
tabus, repressões, distorções e tentativas de
reduzi-la a sinônimo de genitalidade e de
reprodução.
Serve para dar vazão a sentimentos elevados
como o amor embora permita também que
outros, como a agressividade e a violência,
possam manifestar-se por meio dela. Sua
conceituação depende do ponto de vista
considerado: o psicológico, o antropológico, etc.
Freud e a sexualidade
Ainda hoje, é impossível discutir
sexualidade sem esbarrar em barreiras
morais, sociais, religiosas e até mesmo
teóricas. Mesmo dentro da Psicologia, o
tema sexualidade continua causando
fortes polêmicas. A Psicanálise, por
exemplo, torna-se alvo de duras críticas
por “dar ênfase demais à sexualidade”, ou
por, senso comum, “tudo ser sexo”.
Mas, de fato para a Psicanálise, a
sexualidade é a chave para a compreensão
do comportamento e da mente humana.
 No entanto, essa é considerada como muito
mais abrangente, não necessariamente uma
sexualidade baseada nos órgãos genitais, de
caráter instintivo ou com fins reprodutórios,
por exemplo, mas muito pelo contrário,
trata-se de uma sexualidade pulsional.
Na Psicologia, Sigmund Freud foi de fato um
dos primeiros pensadores a investigar a
sexualidade e sua importância na formação
psíquica dos seres humanos.
As descobertas de Freud a respeito da
sexualidade acabaram, no final das contas,
causando uma grande ruptura com as ideias
concebidas na época, principalmente no que
diz respeito à sexualidade infantil.
Fazia parte da opinião popular, e ainda se faz, a
ideia de uma infância “inocente”, o qual o bebê
e a criança eram considerados assexuados.
Freud desenvolveu a teoria da sexualidade
infantil, durante tratamentos clínicos em seu
consultório, nos quais observou transtornos
psicológicos apresentados por seus pacientes
já adultos. Ele buscava tratar os distúrbios de
histeria.
Neste sentido, pode-se perceber que a
criança não foi o ponto de partida, nem tão
pouco o desejo de estudo de Freud, mas a
busca por solucionar os problemas
emocionais apresentados por seus pacientes.
Freud apresentou dificuldades em
definir o que seria sexual, talvez por
causa da época em que vivia, a qual tudo
que se referia ao tema era considerado
como impróprio e não deveria ser
debatido ou investigado.
Na XX Conferência de Viena, a respeito
da sexualidade Freud vem afirmar:
[...] Falando sério, não é fácil delimitar aquilo que
abrange o conceito de ‘sexual’. Talvez a única definição
acertada fosse ‘tudo o que se relaciona com a distinção
entre os dois sexos’. [...] Se tomarem o fato do ato sexual
como ponto central, talvez definissem como sexual tudo
aquilo que, com vistas a obter prazer, diz respeito ao
corpo e, em especial, aos órgãos sexuais de uma pessoa
do sexo oposto, e que, em última instância, visa à união
dos genitais e à realização do ato sexual. [...] Se, por
outro lado, tomarem a função de reprodução como
núcleo da sexualidade, correm o risco de excluir toda
uma série de coisas que não visam à reprodução, mas
certamente são sexuais, como a masturbação, e até
mesmo o beijo (FREUD, 2006, p. 309).
Em um sentido comum e popular, sexualidade
é considerada sinônimo de genitalidade assim
como vida sexual é tida como equivalente a
relação sexual. Freud dá ao termo um
significado bem mais amplo situando
sexualidade tanto aquém como além do ato
sexual.
Ele prefere falar em psicossexualidade. Freud
usa a palavra sexualidade dentro da mesma
conotação que na língua alemã se emprega o
termo "lieben" (amar). Sexualidade vai além da
reprodução;
Freud identifica o instinto sexual já na infância
e detecta a presença dos germes dos impulsos
sexuais no recém-nascido;
considera o homossexualismo; leva em conta a
sublimação; até nos chistes ele identifica a
sexualidade; etc.
É preciso salientar, contudo, que uma parte das
dificuldades do assunto (sexualidade) decorre
do fato de serem os instintos do organismo um
tema também complexo e controvertido.
De agora em diante, uma conceituação
psicanalítica freudiana de sexualidade começa
a ser montada. Como Freud propôs um modelo
energético para o aparelho mental (XXIII: 189),
energia é a primeira parcela do conceito:
sexualidade é energia.
Sexualidade para a psicanálise pode ser dita
como sexualidade pulsional, essa pulsão que
conduz a um campo aberto, diferente do
instinto sexual, é o que interpola o ser
humano durante toda sua vida sem
interrupção; a pulsão nasce de uma zona
erógena, e tem possíveis fins.
 Ela ainda se compõe de força, objetivo, e
objeto, e a descarga da pulsão visa gerar
certo prazer limitado e parcial chamado
sexual.
Contudo, não o sexual que se reduz ao
contato dos genitais, pois para a
psicanálise a sexualidade transcende ao
genital, é o que nos move, é o que
partindo de uma zona erógena e apoiado
a uma fantasia proporciona certo prazer
(GARCIA-ROZA, 2016).
Partindo da visão da psicanálise, a sexualidade é
totalmente diferente para Freud (FREUD, 1905), do
que para a sexologia da época, e continua sendo,
pois a sexualidade não tem o único fim
reprodutivo, sendo que ela não se resume aos
genitais.
Levando em consideração a busca do prazer que se
dá através de outras áreas que não somente os
genitais, Freud (FREUD, 1905) desenvolveu essa
visão através do estudo com perversos e das
crianças, cuja sexualidade não está fixada nos
órgãos genitais. Os perversos serão citados mais a
frente.
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FIM
Unidade III
A Sexologia e a Psicanálise (parte 2)

A sexualidade freudiana
O desenvolvimento psíquico
A sexualidade freudiana
O desenvolvimento psíquico
Fase Oral
Fase Anal
Fase fálica
Fase de latência
Puberdade e
Adolescência

1905 – “Três ensaios sobre a teoria


da sexualidade”
Na criança, a sexualidade está ligada
instintivamente a várias funções vitais e à
autopreservação .
Se aceitarmos que o termo homeostase abrange
a vinculação da sexualidade com a
autopreservação, com as necessidades vitais
instintivas da criança muito pequena além de
englobar sua participação na manutenção do
equilíbrio do meio interno da criança e do adulto,
podemos ampliar o conceito de sexualidade: é
energia vital instintiva vinculada à homeostase.
É aceito que o potencial de cada indivíduo só se
desenvolve adequadamente se ele estiver em um
meio social ao lado de outros seres da mesma
espécie com os quais possa manter vínculos e
relacionamentos, estimulando e sendo
estimulado; esta é uma das condições
indispensáveis para que ele possa cumprir seu
programa pessoal e o da espécie.
Está demonstrado também que as várias funções
só se atualizam em um determinado momento
do desenvolvimento e isto é relativamente fixo
para cada espécie, p.ex., na espécie humana
existe uma época certa para andar, falar, etc.2.
Além disto, os eventos biológicos, como a
mielinização, têm seus correlatos funcionais,
como a aquisição da marcha. Embora os
eventos biológicos tendam a ser relativamente
fixos, os estímulos ambientais são variados.
 Dessa forma, fica evidente que as trocas entre
a criança, nos vários estágios de seu
desenvolvimento, e as demais pessoas de seu
ambiente social são de fundamental
importância para ela, principalmente, quando
são consideradas sua infância prolongada e a
sua dependência dos adultos.
FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO
Freud, em suas investigações na prática clínica
sobre as causas e o funcionamento das neuroses,
descobriu que a maioria de pensamentos e
desejos reprimidos referia-se a conflitos de ordem
da sexualidade, localizados nos primeiros anos de
vida dos indivíduos, isto é, que na vida infantil
estavam as experiências de caráter traumático,
reprimidas, que se configuravam como origem dos
sintomas atuais, e confirmava-se desta forma, que
as ocorrências deste período da vida deixam
marcas profundas na estruturação da pessoa.
Em seus estudos de psicologia de grupo Freud,
além de realçar o importante papel
desempenhado pela sexualidade, faz a
colocação de que os laços libidinais são o que
caracteriza um grupo.
Se aceitarmos que a expressão "relações
sociais" contém todas as considerações feitas,
podemos avançar na conceituação de
sexualidade: é energia vital instintiva passível
de variações quantitativas, vinculada à
homeostase e às relações sociais.
A sexualidade da criança, que é um ser em
desenvolvimento, só poderá manifestar-se, num
determinado nível de seu desenvolvimento, por
meio das estruturas de seu corpo que estiverem
relativamente prontas e permeáveis para o
escoamento; como exemplo pode ser citada a
correlação entre a boca e a fase oral na
manifestação da sexualidade infantil nas fases
iniciais do seu desenvolvimento.
Freud considerou a fase oral como a primeira na
organização da libido da criança.
Ele pôs em evidência a sexualidade infantil ao
conceber as fases pré-genitais das
manifestações da libido na criança: a oral, a
sádico-anal, a fálica e a de latência.
Com este acréscimo, que diz respeito ao
desenvolvimento da libido infantil, amplia-se o
conceito de sexualidade: é energia vital
instintiva passível de variações quantitativas,
vinculada à homeostase, às relações sociais e
às fases do desenvolvimento da libido infantil.
Como o desenvolvimento da sexualidade
infantil atinge sua plenitude na genitalidade,
amplia-se mais ainda o conceito de sexualidade:
é energia vital instintiva passível de variações
quantitativas, vinculada à homeostase, às
relações sociais, às fases do desenvolvimento
da libido infantil e à genitalidade.
O fato da libido nas crianças não estar fixadas
nos órgãos genitais, não significa que ela
esteja fixada em outra parte, Freud vai dizer
que ascrianças são perverso-polimorfas, tem
sua sexualidade fragmentada em pulsões
parciais, pois sua libido está espalhada por
todo seu corpo, e ela está em busca de
prazer/satisfação o tempo todo ao estimular
certas zonas erógenas de acordo com sua fase
(NASIO. 1999).
É nessa infância que Laplanche e Pontalis
versam sobre o autoerotismo na criança, pois a
pulsão não se destina a um objeto, nesse ponto
que podemos distinguir pulsão de instinto, este
último tendo seu destino pré-determinado e
um caminho já formado; a pulsão no
autoerotismo já está ligada a algum órgão ou
zona erógena e encontra satisfação sem a ajuda
de um objeto externo (Vocabulário da
Psicanálise, LAPLANCHE. PONTALIS, 2016).
É também justamente nesse período que haverá
a organização da libido, através da organização
pré-genital, que tem por objetivo final uma
organização madura, após a puberdade, onde há
a primazia do órgão genital.
É observável, então, nesse momento a repressão
e o reforço do ego para haver a sublimação das
pulsões em atividades escolares, morais e sociais;
“e este período é comumente considerado como
sendo aquele que consolida a formação do
caráter” (ZIMMERMAN, David. 1999, pag. 95).
O desenvolvimento dessas fases pré-genitais e
a satisfação que elas trazem ao indivíduo são
muito importantes para a soma total ao final
dessa organização. Freud (1915) descreve
muito bem os caminhos que através da pulsão
essa libido percorre, sendo elas as fases do
desenvolvimento psicossexual em que a fase
oral, anal e fálica tem grande importância.
Essas fases são, contudo, traçadas pela
relação com o externo, com os objetos, apesar
de ser auto erótica, a sexualidade vai sendo
estabelecida através das trocas com o mundo.
Esse forte impulso sexual chamado de Libido,
está vinculado as nossas relações, e investimos
essas pulsões nos objetos que nos dão
prazeres, não apenas sexual, e assim,
constituindo a subjetividade, pois a forma com
que a pessoa entende o afeto se comporta ou
lida com ele, faz com que ela seja única em
suas experiências (BOCK, Ana Mercês Bahia;
FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes
Trassi. 2002).
A libido começa a ser descarregada então
na primeira fase do desenvolvimento que
Freud (1905) classifica após muito estudo de
fase oral. Zona erógena que se concentra na
boca, lábios, língua e outros órgãos
relacionados à zona oral.
Nessa primeira fase pré-genital, de acordo
com Garcia-roza (2016):
“O objetivo sexual consiste na incorporação do
objeto, o que funcionará como protótipo para
identificações futuras como, por exemplo, a
significação comer-ser comido que caracteriza a
relação de amor com a mãe. Já vimos como a
noção de “apoio” é utilizada para mostrar a relação
que a pulsão sexual mantém com o instinto de
nutrição e ao mesmo tempo adquire
independência com relação a ele e se satisfaz de
forma autoerótica. Da mesma forma, a vivência de
satisfação, que constitui a base do desejo, é uma
experiência oral, daí a ligação que se fará a partir
dessa experiência entre o desejo e a satisfação”
(GARCIA-ROZA, 2016, pag. 104).
FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO

A teoria freudiana não se limita


apenas a região genital. Por isso é
interessante analisarmos os seus
estudos, pois a teoria ajuda a
compreender que as sensações sexuais
podem se manifestar em outros órgãos
além dos órgãos genitais.
As descobertas colocam a sexualidade no centro da
vida psíquica, e é postulada a existência da
sexualidade infantil. Estas afirmações tiveram
profundas repercussões na sociedade puritana da
época, pela concepção vigente da infância como
"inocente".
O que Freud afirma é que a medida que a criança
amadurece, ela vai desejando coisas diferentes e
também encontrando formas diferentes de
gratificar esses desejos.
Necessidades fisiológicas, descobertas e fantasias,
na psiquê infantil e não a sexualidade que existe no
adulto.
FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO
Para Freud a experiência da infância tem forte
influência sobre a personalidade adulta.
 O desenvolvimento da personalidade envolve
uma série de conflitos entre o indivíduo, que
quer satisfazer seus impulsos instintivos, e o
mundo social que restringe este desejo.
 Ao longo de seu desenvolvimento, o indivíduo
encontra maneiras de obter o máximo de
satisfação possível em face às restrições
impostas pela sociedade.
Essas estratégias de adaptação constituem a
personalidade.
FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO

Os principais aspectos destas descobertas são:


 A sexualidade existe desde o princípio da vida,
logo após o nascimento, e não só a partir da
puberdade como afirmavam as idéias
dominantes.
FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO

 O período de desenvolvimento da sexualidade


é longo e complexo até chegar à sexualidade
adulta, onde as funções de reprodução e de
obtenção do prazer podem estar associadas,
tanto no homem como na mulher. Esta
afirmação contrariava as idéias predominantes
de que o sexo estava
associado,exclusivamente, à reprodução.
 A libido, nas palavras de Freud, é "a energia
que alimenta a pulsão de vida".
FASES PSICOSSEXUAIS DO
DESENVOLVIMENTO
FASE ORAL
 Faixa etária: Nascimento – 1 Ano
 Zona erógena: Boca (NECESSIDADES E GRATIFICAÇÕES,
sede e fome)
 Desde o nascimento, necessidade e gratificação estão
concentradas em volta dos lábios, língua e, um pouco,
mais tarde, dos dentes.
A pulsão básica do bebê é apenas receber alimento para
atenuar as tensões de fome e sede.
No início, ela associa prazer e redução da tensão ao
processo de alimentação.
Características adultas que estão associadas à fixação
parcial na fase oral: como fumantes, pessoas que
costumam comer demais, sarcasmo e outros.
FASES PSICOSSEXUAIS DO
DESENVOLVIMENTO
Fase Anal
Faixa Etária: 1 a 3 anos
Zona erógena: Entranhas e controle da bexiga
À medida que a criança cresce, novas áreas de
tensão e gratificação são trazidas à consciência.
Entre dois e quatro anos, as crianças
geralmente aprendem a controlar os esfíncteres
anais e a bexiga.
 A obtenção do controle fisiológico é ligada à
percepção de que esse controle é uma nova
fonte de prazer.
FASES PSICOSSEXUAIS DO
DESENVOLVIMENTO
FASE FÁLICA
Faixa etária: 3 a 6 anos
Zona erógena: Genitais
 É a fase que focaliza as áreas genitais do corpo.
É o período em que uma criança se dá conta de
seu pênis ou da falta dele.
É a primeira fase em que as crianças tornam-se
conscientes das diferenças sexuais.
Nesta fase é iniciado o Complexo de Édipo.
FASES PSICOSSEXUAIS DO
DESENVOLVIMENTO
Período de Latência
 Faixa etária: 6 anos – puberdade
 Zona erógena: sentimentos sexuais são inativos

Depois dos 6 anos começa a fase de Latência é o


tempo em que os desejos sexuais não-resolvidos da
fase fálica não são atendidos pelo ego e cuja repressão
é feita, com sucesso, pelo superego.
Durante este período, a sexualidade normalmente não
avança pelo contrário, os anseios sexuais diminuem de
vigor.
 Nesse período surgem atitudes do ego como vergonha,
repulsa e moralidade, que estão destinadas a fazer
frente à tempestade da puberdade, e a alicerçar o
caminho dos desejos sexuais que se vão despertando.
FASES PSICOSSEXUAIS DO
DESENVOLVIMENTO
Fase Genital
Faixa etária: Puberdade à Morte
Zona erógena: Amadurecendo de Interesses
Sexuais

 A fase final do desenvolvimento biológico


e psicológico ocorre com o início da
puberdade e o conseqüente retorno da
energia libidinal aos órgãos sexuais.
 Neste momento, meninos e meninas estão
conscientes de suas identidades sexuais
distintas e começam a buscar formas de
satisfazer suas necessidades eróticas e
interpessoais.
ATÉ A PRÓXIMA AULA

FIM
Unidade IV
A Sexologia e a Psicanálise (parte 3)

A sexualidade freudiana
Mecanismo psíquico
A Sexualidade Vivida Desde o Nascimento
Freud vem nos mostrar que a pulsão, a
sexualidade pulsional, está também
presente nas crianças. Sexualidade esta, que
não necessariamente baseada na
genitalidade, na biologia do corpo, mas uma
sexualidade pulsional que pode ser
observada, por exemplo, no olhar da
criança, nos gestos da criança e até mesmo
na boca.
É aquilo que entra e sai da boca, o que ela escuta, o
que ela vê, ou seja, é uma sexualidade que diz
respeito as trocas que esse corpo realiza com o
mundo, ao que entra, ao que sai, são todos esses
elementos sensoriais que escorrem pelo corpo, que
penetra por todos os furos e buracos. Neste sentido, a
criança vai ser o tempo todo impactada e habitada
pela sexualidade.
Freud (2006) irá dizer que para entender a
sexualidade nos adultos basta olhar a sexualidade nas
crianças. Essa sexualidade que composta por
inúmeros ingredientes, e não necessariamente só os
órgãos genitais e muitos menos só a junção do macho
com a fêmea.
Segundo Nunes e Silva (2000, p. 52), “a
criança vive sua sexualidade desde que
nasce, no contato sexual com a mãe, com
o mundo exterior e estabelecendo sua
percepção corporal em diferentes fases de
sua vida”.
Ou seja, o corpo da criança é seu universo
sexual, assim, a noção de corpo é
essencial para a sexualidade.
A criança nasce em um corpo despedaçado e
desprovido, ainda de uma vida mental,
consequentemente de um Psiquismo.
Ela não passa de um corpo manipulável, onde a mãe
se torna a dona deste corpo. Há de fato uma fusão
entre o corpo da criança com o corpo da mãe, e essa
fusão nada mais é do que sexual.
Esse ‘sexual’ traduz-se na relação entre a mãe e a
criança, nos cuidados que essa mãe tem com a
criança, na ternura. Freud vai muito mais longe, pois
não diz que o sexual jaz na ternura, por exemplo,
mas que a própria ternura é em si uma excitação
sexual.
 J.D.Nasio, em seu livro “Édipo: O Complexo do
qual Nenhuma Criança Escapa” traz uma
citação de Sigmund Freud que elucida bem
essa sexualidade entre mãe e filho, Freud diz:
“As relações do filho com sua mãe são para ele
uma fonte contínua de excitação e satisfação
sexual, a qual se intensifica quanto mais ela lhe
der provas de sentimentos que derivem de sua
própria vida sexual, beijá-lo, niná-lo, considerá-
lo substituto de um objeto sexual completo. ....
.....Seria provável que uma mãe ficasse bastante
surpresa se lhe dissessem que assim ela
desperta, com suas ternuras, a pulsão sexual do
filho. Ela acha que seus gestos demonstram um
amor assexual e puro, em que a sexualidade não
desempenha papel algum, uma vez que ela evita
excitar os órgãos sexuais do filho mais que o
exigido pelos cuidados corporais. Mas a pulsão
sexual, como sabemos, não é despertada
apenas pela excitação da zona genital; a ternura
também pode ser muito excitante.”(FREUD apud
NASIO, 2007, p.9).
A Sexualidade na Constituição do Psiquismo

A sexualidade está presente desde o


momento do nascimento e nos
acompanha até a morte.
Sabemos que para Psicologia, a infância é
o momento crucial que definirá a
personalidade, identidade,
comportamentos típicos e a estrutura
psíquica do indivíduo.
Em Psicanálise, o período da infância se torna
ainda mais crucial, já que é neste período em que
o indivíduo – neste caso a criança, que ainda é
uma coisa – entra em contato com o mundo,
experimenta, saboreia, toca, e sente o mundo.
 O ser humano nasce sexuado, e desde bebê tem
início ao seu autoconhecimento, de forma natural
e espontaneamente. Nota-se que esse contato
com o mundo se dá de forma sensorial. Dito isso,
todas essas experiências sensoriais serão tomadas
como prazerosas ou desprazerosas, portanto é aí
que entra a Sexualidade.
A primeira experiência prazerosa que a criança
tem com o mundo é na amamentação. Os lábios e
a língua do bebê tornam-se uma zona erógena pela
qual, ao sugar o leite, a criança sente prazer em se
alimentar e desta forma, a sensação prazerosa fica
associada à necessidade de alimento.
Freud descreve a presença desse prazer, “quem já
viu uma criança saciada recuar do peito e cair no
sono, com as faces coradas e um sorriso beatifico,
há de dizer a si mesmo que essa imagem persiste
também como norma da expressão da satisfação
sexual em épocas posteriores da vida” (Freud,
2006, p. 171).
Neste sentido, a sexualidade torna-se uma
ferramenta de contato e de experiências com o
mundo. Ora, mas por enquanto estamos
falando de experiências sensoriais, e o que isto
tem a ver com a constituição de um Psiquismo?
De início, essas experiências são de fatos
sensoriais, e são primordiais para o bebê, ainda
coisa, experimentar o mundo.
No entanto, a criança vai assimilando e
internalizando essas experiências como
prazerosa ou desprazerosa, criando assim
significados para elas.
A partir daí, em uma ligação estritamente
relacional, entre o indivíduo e mundo, a
sexualidade torna-se uma porta de entrada
para os significantes produzidos nesta
relação.
DESENVOLVIMENTO DA PSICOSSEXUALIDADE

Sexualidade para a psicanálise deve ser


considerada como energia pulsional; essa
pulsão que conduz a um campo aberto,
diferente do instinto sexual, é o que
interpola o ser humano durante toda sua
vida sem interrupção; a pulsão nasce de
uma zona erógena, e tem possíveis fins.
Ela ainda se compõe de força, objetivo, e
objeto, e a descarga da pulsão visa gerar
certo prazer limitado e parcial chamado
sexual. Contudo, não o sexual que se reduz
ao contato dos genitais, pois para a
psicanálise a sexualidade transcende ao
genital, é o que nos move, é o que
partindo de uma zona erógena e apoiado a
uma fantasia proporciona certo prazer
(GARCIA-ROZA, 2016).
A sexualidade freudiana – Mecanismo psíquico
Sexualidade em Libido, Instinto e Pulsão Sexual
Para entender mais sobre o conceito de
sexualidade dentro de Psicanálise é necessário
especificar o conceito que Freud tinha sobre
a Libido.
De fato, a palavra libido já era utilizada por
Sexólogos do final do século XIX para designar uma
energia própria do instinto sexual. Freud retomou
para designar a manifestação da pulsão sexual e
por extensão, a sexualidade humana em geral.
A teoria da libido apresentada por Freud no
livro, “Três ensaios sobre a teoria da
sexualidade”, resume-se nesta apertada
síntese:
“Combinam bem com essas hipóteses sobre a
base química da excitação sexual as noções de
que nos valemos para procurar dominar as
manifestações psíquicas da vida sexual.
Estabelecemos o conceito da libido como uma
força quantitativamente variável que poderia
medir os processos e transformações
ocorrentes no âmbito da excitação sexual. ....
...... Diferenciamos essa libido, no tocante a sua
origem particular, da energia que se supõe
subjacente aos processos anímicos em geral,
e assim lhe conferimos também um caráter
qualitativo. Ao separar a energia libidinosa de
outras formas de energia psíquica, damos
expressão à premissa de que os processos
sexuais do organismo diferenciam-se dos
processos de nutrição por uma química
especial. ....
.... A análise das perversões e das
psiconeuroses levou-nos à
compreensão de que essa excitação
sexual é fornecida não só pelas
chamadas partes sexuais, mas por
todos os órgãos do corpo.” (FREUD,
2006, p 205).
O conceito de libido corre paralelo ao conceito
de pulsão. Lacan vai dizer que a pulsão não
tem dia nem noite, não tem primavera nem
outono, ela não tem subida nem descida, ou
seja, diferentemente do Instinto, que tem picos
e declínio, a pulsão é uma força constante, um
impacto constante.
Se considerarmos que a pulsão sexual exerce
uma Pressão [Drang] permanente, a libido
seria, portanto, a energia que sustentaria essa
pressão da pulsão. Ou seja, a libido seria a
energia das pulsões sexuais.
Freud toma a teoria das pulsões e a teoria da
libido como teorias quase sinônimas.
A libido está vinculada com os tipos de
investimentos que o indivíduo realiza
com seu mundo, seja ele interno ou externo.
Esta distinção entre a sexualidade, como um
fato, e, a libido como uma suposta energia,
também caracteriza dois modos de teorização
feitos por Freud na construção da teoria
psicanalítica.
Freud atribuiu à libido uma natureza
exclusivamente sexual . Para ele, a excitação
sexual origina-se em todos os órgãos e não
somente naqueles denominados sexuais.
Ele dá o nome de libido do ego à
representação mental de uma quantidade de
libido. Quando se leva em conta a produção
da libido do ego assim como seu aumento,
diminuição, distribuição e deslocamento,
criam-se condições que permitem o
entendimento dos fenômenos psicossexuais.
Objeto de um instinto é tudo aquilo no qual ou
por intermédio do qual o instinto atinge sua
finalidade. O objeto pode ser parte do corpo, o
corpo todo, algo fora do indivíduo, outra
pessoa e pode ser modificado quantas vezes
forem necessárias dependendo das
transformações que o instinto venha a sofrer.
Quando um instinto, principalmente nas fases
iniciais de seu desenvolvimento, fica muito
vinculado ao seu objeto, esta situação é
denominada fixação.
Quando a libido do ego é deslocada para os
objetos sexuais eles se tornam investidos de
energia libidinosa e, nessas condições, a libido
do ego se torna objetal .
Esta última pode ser retirada de um objeto,
ficar em suspenso, ser transferida para outro
objeto ou voltar para o ego.
Em 1915 Freud referiu-se à libido como uma
certa dose de capacidade para o amor que o
homem possui sendo que, no início da vida, é
dirigida para o próprio ego e só posteriormente
é deslocada para os objetos.
ATÉ A PRÓXIMA AULA

FIM
Unidade V
Freud e as Perversões
SEXUALIDADE E PERVERSÃO: TRAJETÓRIA DOS CONCEITOS
Desde Freud, e mesmo antes, a perversão sexual
é tema de discussões acaloradas, e estudos
aprofundados.
Freud em 1905 abordou pela primeira vez em
seus três Ensaios Sobre a Sexualidade o que seria
para a sua época a perversão sexual; assim, os
homossexuais, homens que tinham animais e
crianças como objeto de satisfação sexual, e
quaisquer pessoas que se desviassem da
normativa do sexo entre homem e mulher para a
procriação, eram considerados perversos sexuais.
Em Psicanálise “perversão” é um termo
usado para designar um desvio do
desenvolvimento normal da personalidade,
por parte de um indivíduo (ou grupo), que
tem modificado a resposta natural de
qualquer dos comportamentos humanos
considerados normais para um determinado
grupo social.
Os conceitos de normalidade e anormalidade,
no entanto, sofrem interferências do tempo e
do espaço e podem ser alterados em função de
inúmeras circunstâncias, mas independente
disso, um indivíduo que está inserido no
contexto de uma sociedade e age de maneira
contrária as normas estabelecidas por essa
sociedade é um indivíduo que se desvia da
norma, logo, é considerado perverso ou
pervertido.
Sabemos ainda, por intermédio das
contribuições psicanalíticas, que uma atitude
clássica dos perversos é a de buscar satisfazer
seus desejos sem se importar se a satisfação
deles vai prejudicar a outrem, o que caracteriza
um comportamento bastante egoísta e
egocêntrico, colocando tudo e todos na posição
de objetos capazes de lhe proporcionar prazer.
Essa característica de satisfazer unicamente a
si mesmo, sem se preocupar com o outro é tão
marcante na conduta do perverso, que Freud
questiona de forma bastante pertinente em
nota de rodapé, se até mesmo a
heterossexualidade, quando praticada com
exclusividade, não seria também classificável
como perversão.
Ponto interessante é que mesmo já nesse estudo
antigo está claro que perversão sexual não deve
ser confundida com perversidade.
Freud (1905) faz uma coleta de dados, e insere sua
teoria psicanalítica da sexualidade, e mostra como
é possível uma diversidade na hora de se obter
prazer.
Também como é possível se fixar em estágios do
desenvolvimento sexual, limitando assim a
sexualidade a alguma fase, questão, excesso, ou
falta (FREUD, 1905).
Apesar disso, durante anos a perversão não era
vista como uma estrutura que levava a
sobrevivência do psiquismo.
 Foi estigmatizada, estereotipada, e taxada
como não analisável, e algo que não poderia ter
melhora. Contudo, a visão do que se considera
perversão sexual foi mudando como o passar
do tempo, e também por influência da cultura.
Assim, o que era considerado antes perversão
pode ter ocorrido mudanças significativas
(CORRÊA, 2006).
À medida que avançamos na modernidade, os
estudos psicanalíticos mudam as perspectivas,
parâmetros, e compreensão de temas
relacionados ao sujeito e ao seu desenvolvimento.
É sempre primordial voltar às bases da psicanálise
para poder fundamentar nossa visão atual, porém
assim como o próprio pai da psicanálise se deu ao
luxo de não ser rígido quanto à mudança de suas
teorias, se faz essencial estar analisando
constantemente os parâmetros que guiam os que
escolhem essa forma de ver o mundo, com olhos
analíticos.
Desde o surgimento da psicanálise, em seus
primeiros estudos sobre a histeria (1893-1895)
Freud se vê compelido a aplicar alguma
perturbação na sexualidade a causa de sintomas
histéricos.
Ao analisar casos e acompanhar os estudos de
Charcot, Freud se interessa pela hipnose ao
observar a dissociação da mente quando o
paciente estava sob influência, e também os
resultados e muitas vezes as atitudes absurdas
executadas no estado pós-hipnótico
(ZIMMERMAN, 1999).
Assim Freud revisa as teorias sobre a
sexologia produzidas até então, e escreve “os
três ensaios sobre a teoria da sexualidade”
(FREUD, 1905).
E durante toda sua trajetória ele se depara
com uma forma de sexualidade que inverte os
objetos ou objetivos da pulsão, e a vai
caracterizar como perversão, a qual ganhará
um contorno mais definido no final de sua
obra.
É importante salientar a diferença entre
perversão e perversidade. Visto que para a
psicanálise é dito perversão sexual. Zimermman
ressalta:
“A esse respeito, Laplanche e Pontalis (1967)
assinalam que existe uma ambigüidade no adjetivo
“perverso”, que corresponde àqueles dois
substantivos: enquanto “perversão” alude a uma
estrutura que se organiza como defesa contra
angústias, a palavra “perversidade” refere-se a um
caráter de crueldade e malignidade. Assim, o
perverso (no sentido de “perversão”) não busca
primariamente a sensualidade; antes, essa
comporta-se como uma triunfante “válvula de
escape maníaca” contra as ansiedades paranóides e,
especialmente, as depressivas”(ZIMMERMAN apud
LAPLANCHE e PONTALIS, 1999, p. 255).
Conclui-se que Freud nunca escreveu para de
certa forma julgar ou classificar indivíduos como
perversos sexuais no que tange maldade,
perversidade, ou a um termo pejorativo.
Pelo contrário, o termo perverso para Freud
segundo Roudinesco “sofreria, posteriormente,
numerosas inflexões, no sentido de uma
interpretação mais estrutural dessa ideia”
(ROUDINESCO, Elisabeth, 1998, p. 584).
Levando em consideração que o termo perverso
pode ser traduzido por inversão ou desvio,
Zimerman (1999) explica que “a etimologia da
palavra “perversão” resulta de “per” +
“vertere”(quer dizer: pôr às avessas, desviar...),o que
designa o ato de o sujeito perturbar a ordem ou o
estado natural das coisas”(ZIMMERMAN, 1999,
p.255).
PERVERSÃO SEXUAL
Antes dos estudos de Freud (1905) com sua
visão psicanalítica, a perversão era vista
somente pelo ângulo da sexologia. Isso
causava muito preconceito e visão distorcida
diante da perversão. A premissa que regulava
a época era de uma sexualidade exclusiva para
a reprodução, ou seja, tudo que se desviava do
encontro entre os genitais de sexo oposto para
a reprodução era visto como perversão
(VALAS, 1997).
Esse contexto trazia uma via patológica para a
perversão. Essa palavra por muitos anos teve
um significado e um conceito no sentido moral,
e ético, e era justamente nesse ponto que era
colocado em jogo uma visão mais apurada e
analisada profundamente (VALAS, 1997).
Contudo, os estudos de Freud (1905) na linha
psicanalítica trouxeram outro viés ao olhar as
perversões. Fazendo relação à sexualidade, ele nos
mostra uma forma de constituição do ser sem nenhuma
conotação negativa ou pejorativa, Freud nos diz:
“As perversões não são bestialidades nem degenerações
no sentido patético dessas palavras. São o
desenvolvimento de germes contidos, em sua
totalidade, na disposição sexual indiferenciada da
criança, e cuja supressão ou redirecionamento para
objetivos assexuais mais elevados — sua “sublimação”
— destina-se a fornecer a energia para um grande
número de nossas realizações culturais.” (FREUD,1905,
p.55-56).
Segundo os estudos de Freud (1905, 1910,
1919, 1922, 1924, 1927, 1938) e os estudos
atuais sobre a perversão de Patrick Valas
(1990), David E. Zimerman (1999), Flávio
Ferraz (2000), Cecarelli (2011), o ponto em
comum e crucial na formação de um caráter
perverso é o complexo de Édipo e o complexo
de castração.
A castração simbólica acontece na aceitação
da criança que a mãe não tem o pênis falo, e
ela é de seu pai, isso se dá pelo medo de
perder o próprio pênis.
Segundo o dicionário de psicanálise de J.
Laplanche e J.B Pontalis (2016) esse complexo
vem trazer a diferença anatômica dos sexos
pela presença ou ausência do pênis.
E tem uma estreita relação com o complexo
de Édipo, e ainda diz que seus fantasmas são
igualmente reconhecidos em toda extensão de
seus efeitos clínicos como, por exemplo, no
conjunto de estrutura patológica, em
particular as perversões.
A perversão como modo de funcionamento
psíquico, advém da negação da distinção dos
sexos, que remete para a problemática da
castração, e consequente clivagem do ego,
resultando num evitamento da castração, na
qual a condição de organização genital não se
torna capaz de enfrentar a realidade,
provocando assim uma angústia, a de
castração, que é contida pela negação da
diferença de sexos, nomeadamente do sexo
feminino e a ameaça que este representa para
o sujeito perverso (Harrati et al., 2006).
Os indivíduos com organizações de
personalidade perversa mostram-se
passíveis de regressão, desenvolveram
um édipo, ainda que arcaico,
apresentam conflitos pré-edipianos,
comportamentos que demonstram um
self estruturado e representações de
objecto (Meyer, 2011).
O funcionamento perverso caracteriza-
se pelas fixações pulsionais em zonas
erógenas, resultado da falta de
integração do ego em função da falha
narcísica, que vai dar origem à má
formação do superego (Harrati et al.,
2006).
O sujeito perverso não conseguiu reparar
o seu narcisismo, não interiorizou o
objeto total, sendo que o único modo de
obtenção de prazer se encontra ligado a
um objecto parcial, a uma pulsão parcial,
o que faz com que tenha de recorrer a
objetos e zonas específicas para se
compensar psiquicamente (Bergeret,
2000; Harrati et al., 2006).
O desenvolvimento desta organização
psíquica, com início na infância devido às
lutas em volta da integridade do ego
(Meyer, 2011), pode remeter para duas
origens, a paternal ou a maternal, i.e., ou
a figura paternal falha na sua função ou a
transmite inapropriadamente, ou a figura
maternal falha na sua função de
separação mãe-bebê (Razon, 2002).
Desta forma, a origem do modo de
funcionamento perverso desenvolve-se
a partir de uma fase específica de
constituição do objeto, na qual é
mantida uma ilusão defensiva de poder
pela falha narcísica criada, que por sua
vez é compensada por relações de
domínio, pelo desejo de controlar e
anular o objeto (Harrati et al., 2006).
As organizações perversas
desenvolvem-se perante a tensão nas
relações parentais, a exposição a
ansiedades e perdas que originam uma
intensificação da sexualidade com
tendência às suas formas agressivas
(Meyer, 2011).
Trabalho do módulo
Escolha um dos temas abaixo e discorra sobre ele:
Homossexualismo, Homofobia e Psicanálise
A perversão presente nos dias atuais
A sexualidade como fonte de vida psíquica

O Trabalho deve conter:


Introdução
Desenvolvimento
Conclusão
Referencias bibliográfica
ATÉ A PRÓXIMA AULA

FIMProfessor:
Emílio César A. Costa
Psicólogo Clínico e Psicanalista
Psicanalista Didata
Pós-graduado em Psicologia Clínica-Psicanálise
contato: espacopsi9@gmail.com

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