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1. IDENTIFICAÇÃO
2. RESUMO
3. INTRODUÇÃO
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O Brasil vem, nos últimos anos, experimentando um aumento nos indicadores de
vulnerabilidade e risco para o HIV na população em geral, especialmente entre os homens
que fazem sexo com homens. Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas
sobre HIV/AIDS (UNAIDS), em 2019, o risco de contrair o HIV era 26 vezes superior para
homens gays e outros HSH do que para o resto da população adulta masculina (UNAIDS,
2021). Isso revela uma epidemia de múltiplas dimensões, relacionadas, principalmente, a
fatores estruturais, como estigma, discriminação e violência com base na orientação sexual e
identidade de gênero; e fatores políticos, como o conservadorismo e a criminalização do
comportamento sexual entre pessoas do mesmo sexo. Tais aspectos dificultam a
disponibilidade e o acesso às informações sobre o HIV/AIDS e a adoção aos serviços de
prevenção, testagem, tratamento e cuidados (UNAIDS, 2021). Além disso, a alta prevalência
da infecção entre os HSH pode estar relacionada aos novos comportamentos sexuais
(QUEIROZ, 2017), estimulados por aplicativos de namoro, que facilitam o ato sexual
ocasional e permitem a possibilidade de um maior número de parceiros, com os quais, na
maioria das vezes, as pessoas fazem sexo sem proteção.
A epidemia da infecção pelo HIV e da AIDS constitui um fenômeno dinâmico, instável
e complexo, configurando-se como um verdadeiro mosaico de sub-epidemias regionais, que
espelha as desigualdades socioeconômicas encontradas no território brasileiro. Dessa forma,
ainda que haja registro de ocorrência de casos em quase todo o território nacional, a
distribuição da AIDS não mostra-se homogênea quanto às regiões de residência, sexo, idade,
grau de escolaridade nem no que se refere às categorias de transmissão (BRITO; CASTILHO;
SZWARCWALD, 2001). Nesse sentido, segundo pesquisa encomendada pelo Ministério da
Saúde, de 2006 a 2015 as taxas de AIDS nas regiões Norte e Nordeste - as mais pobres do
país - apresentaram um aumento de 36,6% e 61,1%, respectivamente. Nesse mesmo
período de tempo, os casos de AIDS em HSH aumentaram de 35,5% para 46,2%, em
comparação com todas as categorias de casos de AIDS relatados entre os homens (KERR et
al, 2018). Ainda, estudo brasileiro realizado com HSH em 2016 mostrou uma prevalência do
HIV de 18,4%. No Recife, a prevalência saltou de 5,3%, em estudo realizado em 2003, para
21,5% (KERR et al, 2013; KERR et al, 2018). Dessa forma, os dados sinalizam um considerável
e preocupante avanço da epidemia entre homens com práticas homossexuais (KERR et al,
2013; KERR et al, 2018).
Para operacionalizar uma análise de vulnerabilidade ao HIV e outras ISTs,
pesquisadores têm ressaltado a importância de compreender a sinergia entre dimensões
sociais (relações de poder engendradas por marcadores sociais, como classe, idade/geração,
raça/etnia, sexo/gênero etc.), programáticas (respostas governamentais à epidemia) e
subjetivas (identidades, conhecimento, capacidades pessoais e emoções) que confluem para
tornar pessoas e grupos mais suscetíveis aos agravos (AYRES et al, 2003; PAIVA. 2008;
AYRES, PAIVA e FRANÇA JUNIOR, 2010).
Destacando os aspectos subjetivos da vulnerabilidade, compreendemos os corpos
como territórios das experiências subjetivas (CSORDAS, 2008; RIOS, 2013), onde se
inscrevem os marcadores sociais de diferença (idade, raça/cor, renda, classe, sexo/gênero,
sexualidade, estado de saúde, etc.). Para aprendê-los utilizamos a noção de estilização
corporal (BUTLER, 1990), buscando identificar os processos de posicionamento e significação
que os marcadores realizam. Segundo Rios (2008), compreender como os grupos dão
sentido aos acontecimentos corporais pode oferecer subsídios para construir estratégias em
respostas a diferentes agravos sociais, em especial àqueles fortemente marcados por
processos de estigmatização.
Moutinho (2006) discute a dinâmica dos afetos e prazeres de jovens homossexuais
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negros cariocas, moradores de favelas e do subúrbio a partir de marcadores de raça, classe,
gênero e território. A autora sugere que estes jovens homossexuais possuem um "campo de
possibilidades” afetivo-sexuais mais amplo do que os de rapazes e moças heterossexuais, e
mesmo de lésbicas e travestis, que habitam aquelas áreas, podendo percorrer e ultrapassar,
na dinâmica erótica que estabelecem, as linhas de classe/raça/gênero do Rio de Janeiro.
Pesquisas sobre homossexualidade masculina no Brasil têm constantemente buscado
estabelecimentos comerciais voltados para a população gay (boates, bares, saunas, etc)
como locus investigativo ou onde homens são acessados para participação das pesquisas
(PERLONGHER, 1987; MONTEIRO et al., 2010; SIMÕES, FRANÇA E MACEDO, 2010; FRANÇA,
2013; MOUTINHO, 2006; RIOS, 2018). Nesse sentido, a literatura clássica tem apontado para
a emergência de territórios de homossociabilidade nos centros das grandes cidades, locais
mais impessoais, e que à noite possibilitam maior anonimato para os transeuntes
(PERLONGHER, 1987; PARKER, 1991); ou, com o advento da internet, nos aplicativos e sites
de bate-papo ou de busca de parceiros (RIOS, 2018). Buscam ainda, se encontrar em
coletivos sexodissidentes, a partir de elementos artísticos, tais como performances, escritas
literárias e artes plásticas, fomentando festas e encontros onde a segurança entre pares é o
mote maior, além de uma crítica a um modelo capitalista dominante. A partir dessa crítica,
constroem, nestes espaços, possibilidades de trocas financeiro-ético-estéticas (MEIRA;
ADRIÃO, 2020).
Em relação à formação de grupos de amigos, Rios (2008) mostra a importância das
amizades para a ressignificação do estigma da homossexualidade e para a aquisição das
competências necessárias (conhecer os códigos) para interagir na comunidade homossexual.
Neste trabalho, são apresentadas análises e interpretações de narrativas
relacionadas aos espaços de homossociabilidade na Região Metropolitana do Recife, a partir
da fala dos informantes, buscando relacioná-las aos processos de produção de lugares e do
senso de pertencimento. A partir da investigação das redes de sociabilidade e vivências de
HSH, objetivamos compreender suas organizações e dinâmicas em relação às
vulnerabilidades relacionadas ao HIV.
4. OBJETIVOS
5. METODOLOGIA
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contextos de investigação (GEERTZ, 1987). Desde 2013 a equipe do núcleo de pesquisa ao
qual esse projeto está vinculado realiza observações em espaços de sociabilidade
homossexual da RMR. Assim, as observações foram iniciadas nos espaços já identificados,
ampliando as localidades pesquisadas de acordo com a própria dinâmica do campo.
Conforme apresentado no projeto ao qual o plano está vinculado, nosso plano de
observação focou nos seguintes tópicos: a) invisibilidade/visibilidade identitária das pessoas
na interface com os lugares públicos (parques, praças e praias) e privados (saunas, bares,
boates e festas sexodissidentes); b) as conexões entre sociabilidade homossexual e espaços
de comércio do erótico1 (bares, clubes, cinemas, saunas, festas sexodissidentes); c) as
interfaces entre sociabilidade on line e off line, suas especificidades interacionais; d) lugares
mais propícios para interações sexuais penetrativas, dinâmicas interacionais e sexo mais
seguro; e) presença de iniciativas de promoção à saúde e prevenção. As observações foram
realizadas entre setembro de 2021 e março de 2022 e foram registradas em diário de
campo.
Paralelamente às observações, foram realizadas entrevistas temáticas com enfoque
biográfico (foco na historicidade dos eventos). Estas entrevistas abordaram dois eixos: 1)
lugares de homossociabilidade e suas dinâmicas; 2) práticas soroadaptativas e novidades da
prevenção. Buscou-se garantir heterogeneidade de marcações dos entrevistados (sexo-
gênero, idade, classe social, escolaridade, religião e raça/cor). Até o final da execução do
projeto, o banco de dados da pesquisa contou com 38 entrevistas, das 40 previstas para
serem realizadas; as quais foram gravadas, transcritas e tabuladas no quadro analítico.
Embora trate de dois eixos temáticos, o foco de análise deste plano de trabalho esteve
voltado para o primeiro eixo (lugares de homossociabilidade e suas dinâmicas), enquanto o
segundo foi objeto de trabalho de outros integrantes da equipe.
A partir de uma leitura flutuante das entrevistas e tendo como norte os objetivos de
cada plano de trabalho de PIBIC, o coletivo de pesquisadores do LabESHU chegou a um
quadro temático, no qual cada bolsista adicionava fragmentos de entrevista em acordo com
as categorias. Dessa forma, a análise das entrevistas era precedida da leitura da transcrição
do áudio, identificando e destacando frases que pudessem ser classificadas de acordo com
os seguintes eixos temáticos que constituíam o quadro de análise: identificação do
informante; dados sociodemográficos/marcadores sociais; indicadores de classe; território;
sociabilidade; estilizações; sexualidade; uso da camisinha; e outras medidas de prevenção.
A partir do quadro de análise foi possível que cada integrante do laboratório pudesse
visualizar verticalmente as informações dos marcadores equivalentes ao campo de pesquisa
individual. Assim, a análise dos dados obtidos nas entrevistas, fundamentada na dupla
hermenêutica (GIDDENS, 1984) e análise temática de conteúdo (BLANCHET; GOTMAN,
1992), se baseou em identificar recorrências e atribuir elementos que possibilitaram a
compreensão de similaridades e diferenças identificadas a partir dos fragmentos narrativos
transpostos para o quadro de análise. Foram estabelecidas, então, conexões entre os
espaços de homossociabilidade, marcadores sociais e dinâmicas protetivas ou
vulnerabilizantes para a infecção pelo HIV, de acordo com as narrativas apreendidas a partir
dos campos do quadro de análise que são do interesse desta pesquisa.
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inserção nas dinâmicas dos espaços por onde transitam os homens que fazem sexo com
homens; e relacionar tais contextos e vivências de interação à vulnerabilidade ao HIV/AIDS.
Convém destacar, ainda, que o contexto de realização da pesquisa foi atravessado pela
pandemia da COVID-19, principalmente entre o início dos anos de 2020 e 2021, período no
qual as festas e outros circuitos de sociabilidade ficaram suspensos, a fim de conter a
disseminação do vírus. Dessa forma, um dos eixos de análise desta pesquisa relaciona-se à
dimensão online da existência e aos espaços de sociabilidade online frequentados pelos HSH.
O trabalho desta pesquisa está direcionado para a análise, principalmente, do eixo
Território, focando nos espaços e na sociabilidade. Dessa forma, serão analisados os
fragmentos narrativos das categorias de entrada nos territórios gays; mudanças percebidas
(território e sociabilidade); onde vai para se divertir e onde procura parceiros; referência à
cidade/bairro de residência; relação de espaços com violência; classificação dos espaços
gays; opinião sobre os espaços gays; opinião sobre espaços “héteros”; dimensão online da
existência; e saunas, banheirões, parques e afins. Há um esforço analítico, ainda,
direcionado para o eixo de Estilizações, voltado para Estilizações de Saúde/Doença, onde
analisaremos a opinião dos informantes sobre o espaço de homossociabilidade relacionadas
às ISTs. Por fim, veremos que analisar os espaços de sociabilidade e as relações com a
vulnerabilidade ao HIV/AIDS é insuficiente, se não levarmos em consideração os dados
sociodemográficos e marcadores sociais; entendendo e reconhecendo a importância e
relação que possui a categoria classe social com as possibilidades que esta pode oferecer ao
modo de vida e contextos de sociabilidade. Ou seja, é necessário reunir diferentes campos
de análise, sejam eles de território e espaços, atribuição financeira ou estilizações, para
assim compreender os diferentes contextos e vivências de interação homossexual em suas
relações com a vulnerabilidade ao HIV/AIDS.
A partir da análise dos dados de identificação e marcadores sociais dos 38
informantes foi possível estabelecer alguns perfis: as idades variaram entre vinte a trinta e
oito anos, o que corresponde a um público de jovens adultos e adultos. No que diz respeito
à identidade sexual referida pelo próprio informante, vinte e três se disseram gays; dois se
disseram homens; três disseram ser homens cis; quatro se disseram bissexuais; um se disse
bicha, um masculina e um fluido. No que se refere aos estilos de gênero, as pintosas estão
entre a maioria dos entrevistados: quinze deles. Ressalto que a categoria pintosa, aquela
que abarca características socialmente reconhecidas no que se refere ao feminino, são
homens vistos como afeminados, as chamadas “bichas”, que estilizam e performatizam o
gênero de forma “extremamente feminina”. Já na categoria referente aos boys, aqueles que
se portam de acordo com a masculinidade hegemônica, ainda que se identifiquem enquanto
homem homossexual, temos onze entre os informantes.
Ainda segundo os dados do quadro de análise, a raça dos informantes é
predominantemente negra, incluindo pretos (dez) e pardos (quinze). Há apenas treze
informantes que se reconheceram enquanto brancos. Já o estado civil, por sua vez,
prevalece o status de solteiro. Apenas cinco informantes relatam estar namorando,
enquanto outros três informam estar coabitando com o parceiro. A maior parte dos
informantes residem com familiares, variando entre dois a doze o número de pessoas que
residem na mesma casa; e somente três entrevistados relataram morar sozinhos.
Além disso, os entrevistados apresentam diferentes níveis de escolaridade, o que
varia entre ensino médio concluído a nível superior. Seis dos informantes possuem ensino
médio completo; vinte apresentam superior incompleto; onze informantes são graduados
(ensino superior completo), estando um deles na pós-graduação; e somente um
entrevistado afirmou possuir formação técnica.
A renda individual não é informada por dez de um total de trinta e oito informantes,
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uma vez que não há obrigatoriedade por parte do entrevistado em responder a todos os
questionamentos que lhe são feitos. No que diz respeito aos demais, dois relatam ganhar
menos que ½ salário; três aproximadamente meio salário; onze no entorno de um salário,
dez no entorno de dois salários; e dois com aproximadamente quatro salários.
Já a renda familiar variou entre um a dez salários mínimos, sendo que sete dos
entrevistados não quiseram ou não sabiam informá-la. Cinco mencionam renda de um
salário e um salário e dois; outros cinco de cinco salários, mais cinco falam em seis salários e
meio e sete salários e meio; e dois em torno de dez salários. Vale também informar que o
número de integrantes da residência variou de duas a doze pessoas, sendo que quatro
respondentes não quiseram informar esse dado.
Assim, ao cruzar as informações presentes nos eixos de Território e Marcadores
Sociais que estão no quadro de análise, observamos que a circulação de HSH por locais de
lazer aciona diversas representações desses homens acerca de diferentes temáticas que
qualificam os espaços por eles frequentados. É possível apreender que frequentar
determinados espaços e a sociabilidade que existe neles se relaciona inicialmente com renda
e idade, com implicações de “gosto”, entendido como aquilo que dá prazer. Na fala de John
(23, homem gay, pintosa, pardo, solteiro), por exemplo, podemos notar a referência ao
marcador social de idade:
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“Vou muito pra onde? Só o conchitas mesmo. [De barzinho? E o
Metrópole? Deixasse...] Não. Deixei de ir. Metrópole não faz mais
parte da … Porque a Metrópole era para o Rogério adolescente. O
Rogério iniciando. Hoje em dia eu sou outro Rogério neh. A gente tem
outras visões, outras perspectivas, e não combina muito o espaço
não.”
Como observado com as narrativas em destaque acima, John e Rogério, apesar das
suas especificidades, acionam as fases da vida; que, por sua vez, possuem interfaces com
profissão, renda e o que se procura em determinados lugares; como um elemento
determinante para suas escolhas.
Por outro lado, a renda, enquanto um marcador social analisado isoladamente, não
mostrou influência nas decisões de espaços a serem frequentados pelos informantes, como
exemplifica Johnny (22 anos, boy, negro, solteiro, três salários):
Johnny (22 anos) e Rogério (29 anos), ambos recebem três salários; mas, enquanto o
primeiro prefere bar de posto, o segundo prefere um bar gay. Certamente, o que se agrega à
identidade e o que se gasta para estar nos dois lugares é bem diferente. O Conchitas é um
bar direcionado às camadas médias1, onde o custo da bebida é bem maior que o do bar de
posto. Mas, o que parece diferenciar o gosto é menos a renda, mas outras dimensões
existenciais, como idade/geração, e, possivelmente, ocupação/profissão e escolaridade.
Sendo assim, Johnny, que possui ensino médio e é soldado do exército, tem preferência para
lugares distintos em relação a Rogério, graduado e professor de educação física. Johnny se
refere a ir em lugares gays (boate e sauna) fora da cidade de residência, na cidade busca por
um lugar mais “discreto” talvez por “combinar” melhor com o fato de ser soldado do
exército, uma ocupação em que estilizações hegemônicas de masculinidade são exigidas.
Bares em postos de gasolina parecem a melhor escolha2.
Nota-se, portanto, que diversos marcadores convergem para determinar as
preferências por espaços a serem frequentados pelos HSH na região metropolitana. Assim, a
sociabilidade reúne faixa etária, renda, gostos, e até mesmo as estilizações na escolha de
espaços de lazer; classe e estilo de vida. Algumas narrativas acionam a estilização de gênero
enquanto marcador dos espaços de homossociabilidade, como a de Caio (22 anos, boy,
estudante de graduação, solteiro, renda familiar de dez salários mínimos):
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é um pouco diferente né… então assim, Recife Antigo é um espaço
que a gente circula muito e tal, por questão de segurança e tal. E eu
me me acho hoje um pouco heteronormativo e tal, então para mim é
um pouco mais fácil de lidar com essas situações de espaços…[Quando
tu vai no antigo vocês ficam mais aonde?] Passeando, mas também
mais naquela parte perto do marco zero.”
“[Além desses lugares que você citou, você frequenta outros lugares
em que há a presença de pessoas com práticas homossexuais? ] Eu
acho que só tem três espaços que de fato tem essa vivência que são
nos dois grupos de dança que eu participo, um é o Lahn, que é aqui
em Aldeia mesmo, e o outro é o Perna de Palco, que hoje em dia não
tem um lugar fixo por conta da pandemia, mas geralmente acontece
em Recife. Aí sempre tem e também tem os meus colegas que são
homossexuais e também na faculdade, tanto na minha sala quanto no
próprio ambiente do campus mesmo.”
Tarcísio (24, pintosa, pardo, renda individual de um salário mínimo, renda familiar
superior a três salários mínimos e meio) também aponta em sua fala a busca por espaços
não-hegemônicos e que diferem dos bares e festas:
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cabelos lá, a gente vê “meu Deus!”, pergunta no story quem é… então
acaba sendo por consequência um ambiente de paquera, ali mesmo
sendo uma barbearia por exemplo, como um espaço LGBT.”
E, ainda, como forma de buscar parceiros, por meio de aplicativos de namoro, como
menciona a fala de Alisson (28 anos, urso, branco, solteiro), ao ser perguntado sobre o lugar
que utilizava para pegação; o meio utilizado para encontrar alguém: “Deixa eu vê, visse?
Vamos lá! O que tava sendo o mais frequente é o Grindr, né?”.
No entanto, com o avanço da pandemia, as interações online tornaram-se ainda mais
frequentes, como relata Alan (28 anos, boy, preto, solteiro), quando perguntado sobre
espaços para a busca de parceiros durante o período de isolamento social:
“Rapaz! Eu não tenho ido mais para esses lugares, eu acho que... eu
tô tendo que fazer minhas interações on-line, assim... (Risos). [Pronto.
É isso também] Pronto. Eu tô fazendo minhas interações em grupos,
em sites de... aplicativos de relacionamento, aí a pessoa conversa,
marca de se encontrar, de se conhecer, e pode acontecer, depois, algo
mais. [Entendi. Quais são os aplicativos que tu tens usado?] Eu uso
Tinder, eu uso Grindr, eu uso Badoo e eu uso o Dating do Facebook,
que é o namoro do Facebook.”
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buscar parceiros ou interações sociais.
É importante notar, ainda, que por configurar-se como espaços de
homossociabilidade, podemos encontrar novamente os marcadores sociais mencionados no
início deste tópico, principalmente no que diz respeito à estilização de gênero e
conformação corporal. Júlio (30 anos, bissexual, branco, solteiro), por exemplo, ao falar
sobre a forma como as interações ocorrem nesse meio virtual, cita o termo “império do
corpo padrão”:
Cláudio (32, boy, pardo, namorando) fala mais um pouco sobre a questão das
interações nesses aplicativos de namoro e como elas costumam ocorrer:
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liberar uma parte de fotos para você. Então, esses aplicativos eles são
mais sexuais, não é feito o Tinder que é mais para conversar e marcar
encontro. Eles são mais, tipo: - “Oi, você é ativo ou passivo, vamo
transar que horas?” É basicamente isso, os dois aplicativos, a
finalidade dos dois é o mesmo: o sexo.”
7. CONCLUSÕES
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nesta pesquisa diz respeito à força que os aplicativos de namoro ganharam nos últimos
tempos, principalmente após a pandemia da COVID-19. Esses espaços online têm sido
utilizados não só para buscar parceiros, mas também para interações sociais de forma geral
e sofrem as mesmas influências dos espaços offline, no que diz respeito aos marcadores
sociodemográficos.
Por fim, ao considerarmos os aspectos vulnerabilizantes ou protetivos à infecção
pelo HIV e outras ISTs, é válido ressaltar que a pandemia da COVID-19 intensificou as formas
de proteção individual: na tentativa de evitar a contaminação do novo coronavírus, alguns
HSH passaram a evitar relacionar-se com diferentes parceiros. Muitas vezes, o contato físico
durante a pandemia era feito até mesmo com máscara, ou sem o uso da mesma, na “hora
do tesão”. Em outros espaços de sociabilidade, como por exemplo, saunas e festas, a
proteção fica a cargo da escolha individual, já que esses espaços costumam oferecer
métodos de prevenção sexual masculinos.
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Data e assinatura do(a) orientador(a) Data e assinatura do(a) estudante
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