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Espaços de violência no caso da imigração


LGBTIQ+
Hadriel Geovani da Silva Theodoro1 0000-0001-8491-4544 1Universistat
Autònoma de Barcelona, Barcelona, España. 08193 – incom@uab.cat

Abstrato: O objetivo do estudo é analisar os impactos dos espaços de violência no caso da imigração
LGBTIQ+. A metodologia qualitativa inclui um conjunto de reflexões teóricas sobre a migração de sujeitos
LGBTIQ+ e a conjuntura de violência contra a população LGBTIQ+ no Brasil, além de entrevistas
semiestruturadas com dez imigrantes e refugiados LGBTIQ+ residentes na cidade de São Paulo. A análise
se concentra em como os espaços de violência podem afetar a experiência migratória desses sujeitos. Os
resultados demonstram que os espaços de violência estão relacionados principalmente ao âmbito institucional
e à apropriação dos espaços físicos e simbólicos da cidade.
Palavras-chave:Imigração; Refúgio; LGBTIQ+; Espaços de Violência.

Espaços de violência no caso Imigração LGBTQ+


Resumo: O objetivo do estudo é analisar os impactos dos espaços de violência no caso da imigração
LGBTIQ+. A metodologia qualitativa inclui um conjunto de reflexões teóricas sobre a migração de sujeitos
LGBTIQ+ e a situação de violência contra a população LGBTIQ+ no Brasil, além de entrevistas
semiestruturadas com dez imigrantes e refugiados LGBTIQ+ residentes na cidade de São Paulo. A análise
se concentra em como os espaços de violência podem afetar a experiência migratória desses sujeitos. Os
resultados mostram que os espaços de violência estão relacionados principalmente à esfera institucional e à
apropriação dos espaços físicos e simbólicos da cidade.

Palavras-chave: Imigração; Abrigo; LGBTIQ+; Espaços de Violência.

Espaços de da violência
no caso imigração LGBTIQ+
Resumo: O objetivo do estudo é analisar os impactos dos espaços de violência no caso da imigração
LGBTIQ +. A metodologia qualitativa inclui um conjunto de reflexões teóricas sobre a migração de sujeitos
LGBTIQ+ e a conjuntura da violência contra a população LGBTIQ+ no Brasil, assim como dez entrevistas
semiestruturadas com imigrantes e refugiadas/os LGBTIQ+ residentes na cidade de São Paulo. A análise
enfoca como os espaços de violência podem afetar a experiência migratória desses sujeitos. Os resultados
demonstram que os espaços de violência estão relacionados principalmente ao âmbito institucional e à
apropriação dos espaços físicos e simbólicos da cidade.
Palavras-chave: Imigração; Refúgio; LGBTIQ +; Espaços de Violência.

Introdução

Quando abordamos o tema da mobilidade humana, é preciso considerar a diversidade das


experiências daqueles que migram, superando um viés meramente quantitativo, demográfico ou
econômico. Nessa perspectiva, é possível analisar suas causas “objetivas”, conjunturas materiais e
desigualdades (Sandro MEZZADRA, 2005). Assim, devemos refletir sobre os elementos de subjetividade
envolvidos nas experiências de cada migrante.
Na migração de sujeitos LGBTIQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais,
transgêneros, intersexuais, queer e outras minorias sexuais ou de gênero), as normas decorrentes da
hegemonia da cisgênero e da heterossexualidade fazem com que suas experiências de deslocamento sejam afetadas

Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 31(1): e81965


DOI: 10.1590/1806-9584-2023v31n181965
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HADRIEL GEOVANI DA SILVA THEODORO

em diferentes níveis1. Em mais de 70 países, por exemplo, as relações afetivo-sexuais entre pessoas do mesmo
sexo são criminalizadas e podem até resultar em pena de morte (como no Irã, Sudão, Arábia Saudita e Iêmen)2.

Como limite geopolítico que promove a fundação de um espaço social, o território nacional apresenta íntima
relação com a marginalização, vulnerabilidade e precariedade da existência de sujeitos LGBTIQ+, processo que
nomeio de geografias da exclusão (Hadriel THEODORO, 2021 ). Com este termo enfatizo os efeitos concretos que
as normas cisgênero e heterossexual em um determinado espaço social têm sobre nossas experiências. Seus
impactos na subjetividade, no corpo, nos desejos, na sexualidade e nas possibilidades de expressão de gênero
produzem uma escala de exclusão (cultural, política, econômica, jurídica, acadêmica, trabalhista, religiosa etc.).
Portanto, cada território e cada espaço social apresentam níveis específicos dessa exclusão, o que pode gerar nos
sujeitos LGBTIQ+ a vontade ou a necessidade de (i)migrar (THEODORO, 2021). Vale ressaltar que esses impactos
ocorrem de forma diferente para cada um dos grupos que compõem o coletivo LGBTIQ+ (por exemplo, uma pessoa
trans negra terá experiências diferentes de um homem gay, branco, cisgênero).

Portanto, os modos de vivenciar orientações sexuais e/ou identidades e expressões de gênero (SOGIE)
estão intimamente relacionados ao território, sendo a dimensão sociocultural do espaço um elemento fundamental
a ser considerado quando tratamos da migração de sujeitos LGBTIQ+ (Nicholas DE GENOVA , 2010; Estelle
KRZESLO, 2007; Lawrence LA FOUNTAIN-STOKES, 2009; Norma MOGROVEJO, 2005; Catherine NASH; Andrew
GORMAN-MURRAY, 2014; Natalie OSWIN, 2008; Farhang ROUHANI, 2016; Gil VALENTINE, 2002; Ruben
ZECENA, 2019 ). Isso porque não se adequar ao padrão hegemônico cisgênero e/ou heterossexual implica estar
suscetível a uma série de violências simbólicas e/ou físicas. Em contextos socioculturais intensamente repressores,
migrar representa não apenas a possibilidade de maior liberdade, mas também de sobrevivência (Vitor ANDRADE,
2019; Daniel NASCIMENTO, 2018; THEODORO, 2020; WESLING, 2008).3 Nesse sentido, é válido entender o
espaço como resultado de um conjunto de relações socioculturais que variam ao longo do tempo, de modo que se
torna um componente fundamental da própria organização social (Milton SANTOS, 2017).

No que diz respeito a uma política de mobilidade para sujeitos LGBTIQ+, a cidadania reside no direito à
mobilidade sem que isso represente qualquer tipo de vulnerabilidade ou precariedade (DE GENOVA, 2010). Como
argumenta Tim Cresswell (2010), a mobilidade é uma condição inerente à constituição do sujeito, do cidadão
plenamente realizado (e visível) que participa da democracia. Nesse sentido, uma vez que a vida social é cada vez
mais vivida em movimento (NASH; GORMAN-MURRAY, 2014), o espaço social torna-se fator elementar para a
possibilidade da diversidade e para os fluxos migratórios de sujeitos LGBTIQ+.
No contexto brasileiro, observa-se um cenário paradoxal, que complexifica ainda mais a migração de
sujeitos LGBTIQ+. De um lado, há um imaginário de diversidade sexual e respeito às diferenças, como fica evidente
no estereótipo do “país carnavalesco” (ANDRADE, 2019).
Além disso, o Brasil é um dos poucos países que aceita pedidos de refúgio com base na discriminação relacionada
à SOGIE4: classificando os sujeitos LGBTIQ+ como um grupo social, a violência simbólica e/ou física sofrida no
país de origem é entendida como um elemento válido para o asilo solicitação (ANDRADE, 2019; NASCIMENTO,
2018). Por outro lado, porém, o Brasil é um dos países mais violentos contra pessoas LGBTIQ+ no mundo5 –
embora tenha havido muitos avanços em termos de políticas públicas e direitos para a população LGBTIQ+ nas
últimas décadas (Sérgio CARRARA, 2015; Cosme DA SILVA, 2020; Valdenízia PEIXOTO, 2018).

Diante disso, o objetivo principal deste trabalho é investigar a existência e os impactos dos espaços de
violência nas experiências migratórias de imigrantes e refugiados LGBTIQ+ residentes na cidade de São Paulo6.

1 A sigla LGBTIQ+ refere-se a uma enorme variedade de experiências, que possuem suas particularidades. Portanto, também pode variar de
acordo com o momento histórico, local ou contexto de uso. Neste estudo, escolho esta sigla por dois motivos principais: sua importância em
termos de representação de um grupo minoritário e a visibilidade de diferentes orientações sexuais e identidades/expressões de gênero
(THEODORO, 2021). Em alguns estudos sobre migração, também é possível encontrar o termo diáspora queer para se referir às experiências
de mobilidade desses sujeitos (Meg WESLING, 2008).
2 Obtido em https://ilga.org/
3 É importante destacar que a capacidade de se locomover e de se engajar em determinados tipos de movimento é socialmente diferenciada
e desigualmente distribuída, o que significa que nem todo sujeito LGBTIQ+ está apto a realizar um projeto migratório.
4 A lista ainda inclui Argentina, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Holanda, Espanha, Suécia, Reino Unido, Estados Unidos,
entre outros.
5 O último relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) informa que, em 2019, ocorreram 297 homicídios de pessoas LGBTIQ+ no
Brasil. Como a metodologia utilizada pelo GGB é baseada em casos que são noticiados na mídia, o número de óbitos pode ser ainda maior,
já que há uma grande subnotificação, agravada pela violência estrutural e institucional contra a população LGBTIQ+. Obtido em https://
grupogaydabahia.com.br/relatorios-anuais-de-morte-de lgbti/. Não pretendo reforçar uma visão reducionista sobre esse contexto,
principalmente porque o Brasil é um país muito grande, diverso e extremamente complexo em termos socioculturais. Além disso, mesmo em
países com fortes leis protecionistas, não há garantia de que casos de discriminação ou violência não possam ocorrer, que essa legislação
seja aplicada e/ou que haja combate à impunidade (THEODORO, 2021).

6 Este estudo refere-se a uma pesquisa de doutorado realizada entre fevereiro de 2017 e janeiro de 2021, financiada pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Teve como objetivo justamente analisar como a visibilidade ou invisibilidade da
diferença ontológica relativa à SOGIE impacta nas experiências migratórias de sujeitos LGBTIQ+ residentes na cidade de São Paulo (Brasil)
e Barcelona (Espanha).

2 Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 31(1): e81965


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ESPAÇOS DE VIOLÊNCIA NO CASO DA IMIGRAÇÃO LGBTIQ+

Metodologia
Este é um estudo qualitativo. A metodologia assenta (a) num conjunto de reflexões teóricas sobre a temática da
migração de sujeitos LGBTIQ+, violência e espaço; e (b) no desenvolvimento de uma etapa empírica, que consiste na
realização de uma entrevista semiestruturada, realizada entre 2018 e 2020, com dez imigrantes e refugiados LGBTIQ+
residentes na cidade de São Paulo.

No Brasil, a cidade de São Paulo tem sido o principal polo de atração migratória, concentrando 37% do total de
imigrantes (IBGE, 2010) e 52% do total de refugiados que chegam ao país (CONARE, 2017). Com base nos dados do Censo
2010 do IBGE, a população da cidade de São Paulo ultrapassa 12 milhões de pessoas, sendo 2,3% imigrantes internacionais
(cerca de 280 mil indivíduos) – no total da população nacional, eles representam apenas 0,34%. Vale ressaltar que esses
números não incluem os imigrantes irregulares. A cidade também conta com algumas políticas públicas voltadas
especificamente para os migrantes, como as implementadas pelo Centro de Referência e Atendimento ao Imigrante (CRAI),
criado em 2014, vinculado à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC).

Os critérios de seleção para participação na pesquisa foram imigrantes e refugiados LGBTIQ+ que (a) se identificassem
como LGBTIQ+; (b) eram de países do Sul Global; e (c) eram residentes na cidade de São Paulo. Quanto ao critério (b),
embora os fluxos Sul-Norte sejam mais visíveis na abordagem das migrações, os fluxos para o Sul do planeta já são
numericamente equiparados a deslocamentos Sul-Norte, apontando para uma redistribuição de sua dinâmica (Catherine DE
WENDEN, 2016 ). Além disso, entre os países que possuem algum tipo de penalização em relação aos sujeitos LGBTIQ+, a
maior parte também se encontra no Sul Global.

Além disso, cabe ressaltar que a invisibilidade dos imigrantes e refugiados LGBTIQ+ no espaço público também
impactou o desenvolvimento da própria pesquisa, uma vez que dificulta sua localização, acesso e forma de participação no
estudo. Portanto, o estabelecimento de outros critérios de seleção, como idade, nacionalidade, tempo de permanência no país
etc., poderia atrapalhar a continuidade da pesquisa e restringir as possibilidades de participação desses sujeitos no estudo.

A tabela a seguir contém informações gerais sobre os entrevistados. Para preservar o anonimato, os nomes foram
alterados. O tempo de permanência refere-se ao momento em que a entrevista foi realizada.

Tabela 1. Informações gerais sobre os entrevistados

País de origem condição Tempo de Data da


Entrevistado SOGI Idade
migratória residência entrevista

lésbica
Antônia Moçambique 34 Refugiado 5 anos abril de 2018
(mulher cis)
pansexual
carla Colômbia 44 Imigrante 15 anos Poderia. 2018
(mulher cis)

gay
César Bolívia 32 Imigrante 4 anos novembro de 2018
(masculino cis)

gay
jorge Argentina 37 Imigrante 6 anos novembro de 2018
(masculino cis)

gay
José Peru 23 Imigrante 4 meses março de 2018
(masculino cis)

gay
Lucas Cuba 29 Refugiado 1 ano outubro de 2018
(masculino cis)

gay
Pedro Colômbia 25 Imigrante 4 anos novembro de 2019
(masculino cis)

gay
Samuel Nigéria 23 Refugiado 3 anos fevereiro de 2020
(masculino cis)

Heterossexual
tereza Chile 32 Imigrante 2 anos março de 2020
(mulher trans)

gay
Evitar Peru 42 Imigrante 19 anos novembro de 2019
(masculino cis)

Fonte: elaboração própria.


#PraTodoMundoVer (A tabela possui seis colunas, contendo as seguintes informações: nome dos dez imigrantes entrevistados, país de
origem, orientação sexual e identidade de gênero, idade, condição migratória, tempo de residência no Brasil e data da entrevista. Antonia,
Moçambique, Lésbica, 34 anos, Refugiada, 5 anos morando no Brasil, abril de 2018. Carla, Colômbia, Pansexual, 44 anos, Imigrante, 15
anos morando no

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HADRIEL GEOVANI DA SILVA THEODORO

Brasil, maio de 2018. Cesar, Bolívia, Gay, 32 anos, Imigrante, 4 anos morando no Brasil, novembro de 2018. Jorge,
Argentina, Gay, 37 anos, Imigrante, 6 anos morando no Brasil, novembro de 2018. José, Peru , Gay, 23 anos,
Imigrante, 4 meses morando no Brasil, março de 2018. Lucas, Cuba, Gay, 29 anos, Refugiado, 1 ano morando no
Brasil, outubro de 2018. Pedro, Colômbia, Gay, 25 anos, Imigrante, 4 anos morando no Brasil, novembro de 2019.
Samuel, Nigéria, Gay, 23 anos, Refugiado, 3 anos morando no Brasil, fevereiro de 2020. Tereza, Chile, Mulher trans,
32 anos, Imigrante, 2 anos morando no Brasil, março de 2020. Yago, Peru, Gay, 42 anos, imigrante, 19 anos
morando no Brasil, novembro de 2019).

Vale ressaltar novamente que o SOGIE foi autoatribuído pelos próprios participantes da pesquisa.
Além disso, a representação em termos de SOGIE é também um reflexo dos impactos das dinâmicas de
(in)visibilidade no trabalho de campo, mostrando como elas impactam de forma diferenciada as experiências
migratórias desses sujeitos. Por exemplo, em nenhum momento durante minhas incursões empíricas encontrei
refugiados ou imigrantes que se identificassem como bissexuais, intersexuais ou queer. Portanto, as vivências dos
refugiados e imigrantes que aceitaram participar deste estudo contribuem para a compreensão da dinâmica de
(in)visibilidade na mobilidade dos sujeitos LGBTIQ+, tanto a partir de sua individualidade quanto de características
que, por estarem correlacionadas a um determinado -contexto histórico, apresentam elementos mais coletivos –
correspondentes ao grupo social que integram.
A análise se baseia nas narrativas autobiográficas dos entrevistados, principalmente no que diz respeito
aos casos de violência por eles relatados, bem como suas relações com a dimensão sociogeográfica do espaço e
com o processo de adaptação ao contexto sociocultural brasileiro ( principalmente a cidade de São Paulo). Nesse
sentido, é preciso compreender que o ato de narrar é um dos alicerces a partir do qual o sujeito dá sentido ao
mundo, além de servir para significar as situações e acontecimentos de nossa existência (Christine DELORY-
MOMBERGER, 2015) .
Em outras palavras, as narrativas autobiográficas estão relacionadas ao modo como o sujeito integra, estrutura e
interpreta os espaços e temporalidades de seu meio histórico e social.
Daí a relevância assumida pela narrativa, uma vez que, através de uma atividade biográfica, se estabelecem pontes
entre o individual, o social e o histórico (Leonor ARFUCH, 2010).

A migração de sujeitos LGBTIQ+


O gênero é uma forma primordial de significar as relações de poder. Isso porque o gênero é um elemento
estruturante das interações sociais, implicando símbolos culturalmente compartilhados e seu processo de
representação, a interpretação dos conceitos normativos desses códigos (geralmente baseados em oposições
binárias), o papel das instituições (família, estado, igreja, escola etc.) , e o estabelecimento de identidades subjetivas
(Joan SCOTT, 2015). O principal problema reside no fato de que gênero é normalmente entendido como sinônimo
de diferença sexual, baseado em uma matriz binária (o feminino vs. o masculino), que é reiterada pela hegemonia
da heterossexualidade. As normalizações referentes a uma heterossexualidade “original” ou “primária” tornam-se
marcas da diferença sexual e de gênero, que legitimam padrões normativos de corpos, identidades e desejos em
detrimento de sua pluralidade (Paul B. PRECIADO, 2008).
Esse viés ideológico leva à produção de ideais biopolíticos de feminilidade e masculinidade, que se impõem
como essências transcendentais e implicam estética de gênero, códigos normativos de legibilidade social e até
mesmo convicções psicológicas que obrigam o sujeito a se afirmar reiteradamente como sujeito mulher ou homem,
mulher ou homem, homossexual ou heterossexual (PRECIADO, 2008; SCOTT, 2015). Assim, a transgressão
dessas fronteiras pode levar à precariedade da existência, pois abrange diferentes formas de violência como a
patologização de subjetividades “desviantes”, a estigmatização e as práticas coercitivas de correção (Judith
BUTLER, 2011).

Em relação à migração, é preciso entender que essas normas impactam tanto na dimensão da experiência
do sujeito migrante quanto na construção e vivência do espaço social (ANDRADE, 2019; Isadora FRANÇA, 2017;
LA FOUNTAIN-STOKES, 2009; Martin MANALANSAN IV, 2006; MOGROVEJO, 2005; ROUHANI, 2016;
THEODORO, 2021; VALENTINE, 2002; WESLING, 2008; ZECENA, 2019). No que diz respeito ao sujeito migrante,
não é raro existir uma personificação daquele que migra na figura do homem migrante. Difundida no imaginário
social, ela exige que façamos o que Krzeslo (2007) chama de correção do olhar. Isso significa que não devemos
considerar o sujeito migrante como a priori masculino, heterossexual e cisgênero. Ao contrário, é fundamental levar
em conta a diversidade contida nos movimentos migratórios contemporâneos e, ao mesmo tempo, compreender
que as formas de vivenciar e expressar desejos, identidades de gênero e orientações sexuais produzem impactos
profundos na experiência migratória.

Na migração de sujeitos LGBTIQ+, portanto, deve-se atentar para a emergência de formas de subjetividade
que, por serem passíveis de precariedade pela quebra do modelo normativo hegemônico, necessitam de direitos
específicos. Para Isadora França (2017), a intensificação das demandas por “direitos sexuais” no âmbito
internacional e na agenda política dos governos locais influencia profundamente suas experiências de deslocamento.
As lutas políticas em torno de uma avaliação positiva da homossexualidade nos países ocidentais, por exemplo,
contribuem para a

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ESPAÇOS DE VIOLÊNCIA NO CASO DA IMIGRAÇÃO LGBTIQ+

visibilidade do tema e sua entrada no campo dos direitos humanos, auxiliando na composição da ideia de democracia
sexual (FRANÇA, 2017; Jasbir PUAR, 2007)7.
No entanto, devemos reconhecer que, em vários países, não há cidadania ou garantias legais para os sujeitos
LGBTIQ+, que se tornam objetos de abuso, discriminação, perseguição, violência sexual, prisões arbitrárias, tortura e
assassinato (ANDRADE, 2019; NASCIMENTO, 2018 ; MOGROVEJO, 2005; WESLING, 2008). Quanto mais visível o
dissenso em relação aos códigos normativos hegemônicos, maiores os riscos de precariedade (THEODORO, 2021). Na
inter-relação com as dinâmicas socioespaciais, isso significa que determinados espaços sociais (tanto no meio rural quanto
nos centros urbanos) podem ser menos receptivos a essa visibilidade, representando uma vulnerabilidade para os sujeitos
LGBTIQ+. É por isso que o imaginário sobre as condições de vida dos sujeitos LGBTIQ+ em determinado contexto
sociocultural, englobando questões de direito, cidadania e respeitabilidade, pode emergir nesse cenário como fator
decisivo na escolha do local de destino e do próprio projeto migratório ( THEODORO, 2020, 2021; THEODORO, Denise
COGO, 2019).

Esses fatores influenciam fortemente a (re)configuração de limites e fronteiras simbólicas e materiais, delineando
sujeitos de direito ou “vítimas”, que, pela precariedade de sua condição de vida, podem demandar proteção do Estado.
Isso leva a uma constante redefinição dos mecanismos de gestão em nível local, internacional e transnacional (FRANÇA,
2017). Estamos diante de uma complexa produção de diferenças, cujas ambiguidades se evidenciam nas tensões entre
proteção, controle e criminalização das experiências migratórias de sujeitos LGBTIQ+.

Nesse sentido, devemos ter em mente que subjetividades e identidades não existem no vácuo (CRESSWELL,
2010). Ao contrário, estão vinculados a lugares e espaços onde estão inseridos atores e grupos sociais. Portanto, como o
espaço social é sempre relacional, ele impacta diretamente na forma como entendemos, expressamos e vivenciamos
nossa subjetividade, nossos desejos sexuais e nossa identidade de gênero (NASH; GORMAN-MURRAY, 2014, 2014).
Além disso, o espaço social também está intimamente relacionado à violência vinculada à SOGIE (David BELL; Jon
BINNIE, 2004; NASH; GORMAN-MURRAY, 2014; OSWIN, 2008; ROUHANI, 2016).

Em relação ao deslocamento interno (no limite do Estado-nação), a migração do campo para a cidade e das
pequenas para as grandes cidades é recorrente no caso dos sujeitos LGBTIQ+ (Andrade, 2019). Em particular, os grandes
centros urbanos têm forte atratividade para os sujeitos LGBTQ+, pois representam um ambiente mais acolhedor para
suas subjetividades dissidentes, devido a fatores como maior liberdade para expressar diferenças relacionadas à SOGIE,
menor vigilância social, relativo anonimato e existência de redes de apoio (ANDRADE, 2019; BELL; BINNIE, 2004;
MANALANSAN IV, 2006).

Nesse contexto urbano, a presença e visibilidade de sujeitos que se autoidentificam como LGBTIQ+ também
contribui para transformações socioespaciais (THEODORO, 2021), fomentando o desenvolvimento e consolidação de
territorialidades queer (BELL; BINNIE, 2004), altamente dinâmicas e formada por meio de uma rede de ideias, pessoas e
práticas. Assim, a visibilidade dos sujeitos e lugares LGBTIQ+ na esfera pública adquire um impacto político no que diz
respeito aos espaços da cidade. Em outras palavras, ao pensarmos na emergência e transformação de bairros, bairros ou
regiões mais acolhedoras aos sujeitos LGBTIQ+, precisamos também ter em mente as relações culturais, políticas e de
poder inscritas em sua mobilidade em determinados contextos geográficos dos espaços urbanos (BELL; BINNIE, 2004;
NASH; GORMAN-MURRAY, 2014; OSWIN, 2008).

Em relação às migrações internacionais, é preciso atentar para duas variáveis. A primeira refere-se às imigrações
de caráter voluntário, que podem decorrer de projetos migratórios variados: estudo, trabalho, vínculos familiares, fatores
culturais e socioeconômicos etc. seu país de origem: o sujeito migrante empreende um projeto migratório abrangendo
fatores objetivos, subjetivos, materiais e imateriais, ainda que, indiretamente, a questão da SOGIE também possa estar
presente, operando como princípio decisivo para o deslocamento.

A segunda variável está relacionada com uma categoria específica de mobilidade, que inclui o condicionamento
a um estatuto migratório regulamentado: o refúgio. Em 1951, na Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, o
refugiado é definido como “alguém que não pode ou não quer retornar ao seu país de origem devido a fundados temores
de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade , pertença a um determinado grupo social ou opinião
política” (ONU, 1951, p.
3). Devido à sua polissemia, o critério grupo social tem, ao longo do tempo, agregado pedidos de asilo de imigrantes que
não se enquadravam nas outras quatro categorias, como é o caso das mulheres que sofrem violência de gênero e,
posteriormente, dos sujeitos LGBTIQ+.

7 Vale ressaltar que a racialização e o reforço de (homo)nacionalismos podem ser uma consequência negativa desse
processo, pois, a depender de como gênero e sexualidade são acionados nas disputas políticas internacionais, a
articulação entre nação, cidadania e liberdade são capazes de gerando e aprofundando fronteiras. Podemos pensar,
por exemplo, na cisão entre um “Ocidente” caracterizado pelo respeito à diversidade sexual e de gênero, civilidade e
igualitarismo e, por outro lado, um “Oriente” marcado pela fragilidade ou ausência de direitos humanos em relação aos
sujeitos LGTBIQ+, pela discriminação, preconceito, violência.

Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 31(1): e81965


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HADRIEL GEOVANI DA SILVA THEODORO

Em 2002, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) publicou “Diretrizes sobre Proteção
Internacional N. 1: Perseguição Relacionada a Gênero” e “Diretrizes sobre Proteção Internacional
Proteção N. 2: Pertencimento a um determinado grupo social”. Nas Diretrizes N. 1, o ACNUR (2002a) destaca o fato de
que o gênero é uma dimensão importante no deslocamento humano. Nas Diretrizes nº 2, o ACNUR (2002b) aponta que
não existe um critério único e homogêneo que possa definir o que constitui um “grupo social” e o que pode ser considerado
“grupos sociais específicos”. Em 2007, um passo significativo é dado nesse sentido com a publicação dos Princípios de
Yogyakarta - Princípios sobre a aplicação do direito internacional dos direitos humanos em relação à orientação sexual e
identidade de gênero, que afirma que “a orientação sexual e a identidade de gênero são parte integrante de todos os
dignidade e humanidade da pessoa e não deve ser a base para discriminação ou abuso” (THE YOGYAKARTA
PRINCIPLES, 2007, p. 6).

Também é preciso considerar que a mobilidade de sujeitos LGBTIQ+ impacta de diferentes formas a (re)formulação
de paisagens socioespaciais. Nesse sentido, pode representar uma resistência aos espaços de violência, a partir da
constituição de espaços alternativos, principalmente nos centros urbanos. Isso acaba por modificar sua organização
territorial e política, podendo promover espaços mais receptivos e respeitosos para os sujeitos LGBTIQ+ – inclusive
migrantes (NASH; GORMAN-MURRAY, 2014).
Nesse sentido, os embates envolvendo gênero e sexualidade são condicionados pela efetividade (ou não) de
políticas de combate à violência voltadas para sujeitos LGBTIQ+. No caso do Brasil, autores como Andrade (2017), França
(2017) e Nascimento (2018) destacam um contexto paradoxal.
Primeiro, eles mencionam que o Brasil tem alguns direitos e políticas voltadas para a população LGBTIQ+, como o
fornecimento de tratamento gratuito para HIV-Aids desde a década de 1990; a instituição, em 2008, do Processo de
Transexualização no Sistema Único de Saúde (SUS); e o reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2011,
da união estável homoafetiva como entidade familiar. Além disso, nas últimas décadas o país também passou a receber
pedidos de asilo com base na SOGIE.8
No entanto, conforme relatado anteriormente, o Brasil apresenta altos índices de homicídios LGBTIQ+, sem falar
nos casos de violência que não são denunciados ou contabilizados pelas autoridades (CARRARA, 2010, 2015; Jacson
GROSS; Daniela DE CADEMARTORI, 2018). Isso é agravado pela violência institucional contra a população LGBTIQ+,
que se inscreve em diferentes instâncias: na cultura, na política, no sistema educacional, na mídia etc. (MENDES; DA
SILVA, 2020; PEIXOTO, 2018). Portanto, as consequências nefastas da violência contra a população LGBTIQ+ no Brasil
também impactam os espaços sociais, tanto em sua dimensão física quanto simbólica (THEODORO, 2021).

Violência contra pessoas LGBTIQ+: o caso brasileiro


Como referido anteriormente, as normas hegemónicas que regem a SOGIE estão ligadas ao espaço social e ao
território (particularmente no que diz respeito ao estabelecimento dos limites fronteiriços do Estado-nação). É a partir
desse escopo interseccional que devemos entender os espaços de violência e como eles afetam a mobilidade dos
migrantes LGBTIQ+. No caso do Brasil, esses espaços não podem ser dissociados da estrutura sociocultural que legitima
a discriminação contra sujeitos LGBTIQ+.
Segundo Carlos Figari (2010), os preconceitos, estigmas e discriminações sobre subjetividades, corpos e
identidades consideradas dissidentes dos padrões cisnormativo e heteronormativo remontam ao período colonial.
Fortemente ligado aos dogmas religiosos, o colonialismo estabelece uma ordem normativa que visa anular, apagar e punir
todas as formas de diversidade sexual e de gênero. Por exemplo, na busca de uma pretensa civilidade, as culturas dos
povos indígenas passaram a ser entendidas como barbárie e, nessa perspectiva, passíveis de correções. O choque
civilizatório resultante gera uma cultura de normalização da violência que historicamente se perpetuou. Em 1612, por
exemplo, um autóctone Tupinambá (de nome Tibira) foi acusado de praticar o crime de sodomia e depois condenado à
morte no Maranhão (no Nordeste do Brasil): “limpar a terra de tanto costume excruciante, o infeliz índio foi preso com o
consentimento dos capuchinhos franceses e amarrado a um canhão, que, com a explosão, espalhou seu corpo pela baía
de São Marcos. Ele é o primeiro mártir gay registrado na história do Brasil”

(Luiz MOTT, 1993, p. 62).


No que diz respeito particularmente aos sujeitos LGBTIQ+, há uma situação bastante paradoxal. Por um lado,
especialmente a partir da segunda metade do século XX, movimentos LGBTIQ+ (a princípio mais voltados para gays e
lésbicas) começaram a surgir no Brasil, como o jornal O lampião da esquina (1978-1981), o grupo em defesa dos direitos
LGBTIQ+ Somos (1978), e o Grupo Gay da Bahia (1980). Isso faz do Brasil um lugar de destaque na América Latina nas
lutas por visibilidade, cidadania e direitos das pessoas LGBTIQ+. As políticas de visibilidade do movimento LGBTIQ+
permitiram o reconhecimento das especificidades culturais e a reivindicação desses sujeitos como cidadãos (FIGARI,
2010).

8 No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Ministério da Justiça e pelo ACNUR constatou que, entre 2010 e 2018, foram
registrados 369 pedidos de asilo com base no SOGIE. A maior parte das solicitações ocorreu na região sudeste do país
(314), sendo São Paulo o estado que mais recebeu solicitações (286). Recuperado de https://datastudio.google.
com/u/0/reporting/11eabzin2AXUDzK6_BMRmo-bAIL8rrYcY/page/1KIU.

6 Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 31(1): e81965


DOI: 10.1590/1806-9584-2023v31n181965
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ESPAÇOS DE VIOLÊNCIA NO CASO DA IMIGRAÇÃO LGBTIQ+

Nas últimas duas décadas houve maior visibilidade sobre o problema da violência contra pessoas
LGBTIQ+ no Brasil e a implementação de leis ou políticas públicas voltadas para esse coletivo.
No entanto, esses avanços contrastam com um contexto cultural que legitima e replica a violência da
opressão cotidiana, de aparência nem sempre visível (CARRARA, 2010; GROSS; DE CADEMARTORI,
2018; MENDES; DA SILVA, 2020). Isso significa que embora haja conquistas no reconhecimento de
direitos, as estruturas opressoras são mantidas. De diferentes pontos, eles impedem qualquer tentativa
emancipatória mais ampla. Segundo Peixoto (2018), a principal causa desse tipo de violência é a forte
intolerância e discriminação sobre orientação sexual, identidades de gênero, expressões de gênero e
pessoas cujos corpos desafiam os padrões socialmente aceitos. Como veremos a seguir, isso também
influencia as experiências dos imigrantes e refugiados LGBTIQ+ no Brasil.
Por isso, ser ou mesmo aparentar ser um sujeito LGBTIQ+ representa uma suscetibilidade a
diversas formas de violência. A sociedade e a cultura brasileiras ainda estão fortemente alicerçadas em
um regime cisnormativo e heteronormativo, o que, somado à omissão do Estado em tomar medidas
efetivas para apurar e punir crimes fóbicos contra a população LGBTIQ+, acabam por reiterar a conjuntura
de violência (CARRARA, 2010, 2015 ; GROSS; DE CADEMARTORI, 2018; MENDES; DA SILVA, 2020)9.
Assim, na experiência dos sujeitos LGBTIQ+ no Brasil, a relação entre o espaço social e o risco de
violência é uma realidade. Esse risco está diretamente associado à dimensão da visibilidade pública da
diferença, tanto individual quanto coletivamente (NASH; GORMAN-MURRAY, 2014; THEODORO, 2021).

Outro ponto a ser considerado diz respeito às diferenças entre áreas urbanas e periféricas, visto
que o Brasil é um país de proporções continentais. Figari (2010) explica que nas sociedades latino-
americanas é bastante comum a coexistência de muitas temporalidades, por exemplo, regiões com
diferentes níveis de modernização e marcas de desenvolvimento. Por isso, a questão da visibilidade, do
acesso aos serviços voltados para a população LGBTIQ+ e a existência de coletivos LGBTIQ+ também
guardam relação intrínseca com o espaço social e afetam as experiências desses sujeitos.

Toda essa conjuntura de violência impacta direta ou indiretamente a vivência dos imigrantes e
refugiados LGBTIQ+ no país, com implicações tanto no projeto migratório quanto no processo de
adaptação (THEODORO, 2021). Sem desconsiderar a capacidade de agenciamento desses sujeitos, os
espaços físicos e simbólicos de violência encontrados no contexto brasileiro podem contribuir para o
agravamento de uma condição de vulnerabilidade ou precariedade de sua existência.

Espaços de violência: análise de dados e discussão


Para investigar as experiências relacionadas aos espaços de violência no caso de imigrantes e
refugiados LGBTIQ+ residentes na cidade de São Paulo, o foco deste estudo são suas próprias narrativas,
coletadas por meio de entrevista semiestruturada. As entrevistas duraram aproximadamente uma hora e
foram gravadas (com a autorização de cada participante). Após a transcrição de todas as entrevistas, fiz
uma verificação dos casos de violência relatados pelos imigrantes e refugiados entrevistados10, conforme
pode ser observado na Tabela 2.
Tabela 2. Casos de violência
Entrevistado País de origem SOGIE Casos de violência

lésbica ÿ

Apropriação dos espaços da cidade


Antônia Moçambique
(mulher cis)
ÿ

violência institucional

pansexual ÿ

Apropriação dos espaços da cidade


carla Colômbia
(mulher cis)
ÿ

violência institucional

Discriminação no local de trabalho


ÿ

gay
ÿ

violência institucional
César Bolívia
Preconceito da comunidade LGBTIQ+ local
ÿ

(masculino cis)

jorge Argentina gay


ÿ

violência institucional
(masculino cis)

José Peru gay ÿ

Apropriação dos espaços da cidade

(masculino cis)

Lucas Cuba gay


ÿ

Apropriação dos espaços da cidade


(masculino cis)
ÿ

Discriminação no mercado de trabalho

9 Podemos considerar que a própria constituição dos Estados-nação assenta em regimes normativos referentes à SOGIE. Nesse
sentido, não desconsidero a existência de diversas formas de resistência a esses regimes regulatórios por parte de indivíduos e
coletivos LGBTIQ+, que estabelecem cotidianamente uma luta contra-hegemônica permanente.
10 Raça não foi uma categoria particularmente analisada neste estudo. Porém, também não apareceu na narrativa de nenhum
dos entrevistados como elemento que impactasse a dinâmica de (in)visibilidade ou a vivência da violência nos espaços da cidade.

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Pedro Colômbia gay


ÿ

Apropriação dos espaços da cidade


(masculino cis)

Samuel Nigéria gay


ÿ

violência institucional
(masculino cis)

tereza Chile Heterossexual ÿ

Apropriação dos espaços da cidade


(mulher trans)

Evitar Peru gay


ÿ

Preconceito da comunidade LGBTIQ+


(masculino cis) local
Fonte: elaboração própria.
#PraTodoMundoVer (A tabela possui quatro colunas, contendo as seguintes informações: nome dos dez imigrantes entrevistados, país
de origem, orientação sexual e identidade de gênero, e um resumo dos casos de violência relatados por eles. Antonia, Moçambique,
Lésbica, Apropriação dos espaços da cidade, Violência institucional. Carla, Colômbia, Pansexual, Apropriação dos espaços da cidade,
Violência institucional. Cesar, Bolívia, Gay, Discriminação no trabalho, Violência institucional, Preconceito da comunidade LGBTIQ+ local.

Jorge, Argentina, gay, violência institucional. José, Peru, Gay, Apropriação dos espaços da cidade. Lucas, Cuba, Gay, Apropriação dos
espaços da cidade, Discriminação no mercado de trabalho. Pedro, Colômbia, Gay, Apropriação dos espaços da cidade. Samuel, Nigéria,
gay, violência institucional. Tereza, Chile, Mulher trans, Apropriação dos espaços da cidade.
Yago, Peru, Gay, Preconceito da comunidade LGBTIQ+ local).

Desta síntese, gostaria de destacar os dois pontos que considero importantes na composição dos espaços
de violência na experiência dos imigrantes e refugiados LGBTIQ+ na cidade de São Paulo. A primeira delas diz
respeito à institucionalização da violência.
No caso das experiências dos imigrantes e refugiados entrevistados, a principal instituição citada é a Polícia
Federal, que é o órgão responsável pela questão migratória no país (embora muitas organizações não
governamentais, como a Cáritas11, estejam fortemente envolvidas na apoio a imigrantes e refugiados no processo
de pedido de asilo ou regularização da situação migratória). Carla e Jorge, por exemplo, destacam a falta de
informação, o excesso de burocracia e que os funcionários da Polícia Federal geralmente não estão preparados
para lidar com imigrantes.

Serviços tão básicos, fundamentais, como, por exemplo, na Polícia Federal, é chocante que essas pessoas não falem
pelo menos duas, três línguas, que não tenham funcionários que falem línguas diferentes. Isso não pode acontecer em
um país sério que acolhe imigrantes.
E já vi muitos maus-tratos também (CARLA, 2018).

É meio estranho que o processo de migração seja conduzido pela polícia no Brasil. Além disso, os maus tratos, a falta de
paciência, a falta de empatia, a falta de comunicação na língua, tudo isso se torna uma barreira para nós. É claramente
uma forma de violência contra imigrantes (JORGE, 2018).

Também é importante observar que a Polícia Federal é o órgão responsável por receber os pedidos de
asilo no Brasil. No caso dos refugiados LGBTIQ+, isso pode representar tanto simbólica quanto fisicamente um
espaço de violência. A experiência de Antônio exemplifica bem essa questão:

Quando cheguei na Polícia Federal, não disse porque saí do meu país, porque não sabia se aquela pessoa que estava
falando comigo era homofóbica ou não. Então eu disse outra coisa. Não cheguei ao ponto LGBT porque não me sentia
confortável. Eu não posso mentir. Eu não estava confortável. Só fui falar do real motivo no Conare [Comitê Nacional do
Refugiado], porque era uma mulher que estava lá, e me senti mais à vontade para conversar com ela. Talvez se eu
tivesse me sentido à vontade para contar a verdade desde o início, acho que o processo teria sido muito mais fácil
(ANTONIA, 2018).

O medo de continuar sofrendo preconceito e discriminação leva Antonia a omitir da Polícia Federal a causa
de sua vinda ao Brasil. Além disso, a narrativa de Antonia permite verificar que esse espaço de violência impacta
diretamente em seu projeto migratório, afetando o processo de regularização da condição de refugiada. Nesse
sentido, é preciso considerar que os refugiados LGBTIQ+ geralmente são pessoas que, devido a um histórico de
perseguição, podem se sentir impedidos de informar sua identidade LGBIQ+ aos responsáveis pela decisão sobre
o pedido de asilo (ANDRADE, 2019). Além disso, vêm de situações em que careciam de proteção, razão pela qual
muitas vezes não confiam nas autoridades governamentais quando se trata de receber ajuda ou lidar com questões
relacionadas à SOGIE (NASCIMENTO, 2018). Isso também fica evidente na narrativa de Samuel:

Eu não sabia fazer os procedimentos, porque às vezes falta informação. Por exemplo, eu não sabia que toda violência
contra homossexuais na Nigéria poderia ser motivo para o pedido de asilo. Quando fui à Polícia Federal, ninguém me
informou. E também tive medo de dizer o real motivo da minha vinda ao Brasil porque não sabia se podia confiar naquela
pessoa que estava me atendendo (SAMUEL, 2020).

11 A Cáritas Arquidiocesana de São Paulo é uma organização da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), instituição que reúne os bispos da Igreja Católica no país.

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8 DOI: 10.1590/1806-9584-2023v31n181965
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ESPAÇOS DE VIOLÊNCIA NO CASO DA IMIGRAÇÃO LGBTIQ+

A partir das experiências de Antonia e Samuel, podemos problematizar o fato de que, no Brasil, a
Polícia Federal é a instituição responsável por receber os pedidos de asilo. Isso porque, no contexto
sociocultural de origem, as instituições policiais podem ser responsáveis por perpetrar diversas formas de
violência contra sujeitos LGBTIQ+, contribuindo para sua decisão de (e)migrar (LA FOUNTAIN-STOKES,
2009; MOGROVEJO, 2005). Portanto, a visibilidade de uma SOGIE não hegemônica nesse âmbito
institucional pode se tornar uma barreira à demanda por proteção internacional por parte dos sujeitos
LGBTIQ+.
Na narrativa de Cesar, por sua vez, fica evidente que mesmo instituições que possuem ações
voltadas ao apoio a imigrantes e refugiados na cidade de São Paulo, como a Cáritas e a Missão Paz12,
por vezes, não estão preparadas para lidar com as especificidades das experiências migratórias de
Assuntos LGBTIQ+:
Eu acho que o imigrante LGBT tem que ficar mais medroso, preocupado, do que um imigrante hétero ou refugiado,
porque se um imigrante hétero ou refugiado vai para a Cáritas ou para a Missão Paz, eles ajudam, atendem bem. Mas
uma imigrante LGBT que seja trans, travesti, ou muito efeminada ou muito lésbica, no meu entendimento, vai ser vista
como uma pessoa duplamente diferente. Então, depende muito da pessoa que vai te atender lá. Somente se tiverem
experiência com pessoas LGBT brasileiras, poderão compreender que os imigrantes LGBT têm uma experiência
diferenciada (CESAR, 2018).

Nesse sentido, é importante destacar que as principais instituições da cidade de São Paulo que
oferecem serviços de acolhimento, apoio e assistência social a imigrantes e refugiados estão vinculadas a
entidades religiosas (como CRAI-SEFRAS13, Cáritas e Missão Paz) . Isso implica que imigrantes e
refugiados LGBTIQ+ podem ser condicionados a espaços ou contextos institucionais onde a diversidade
sexual e/ou de gênero não é comumente aceita ou respeitada. Conforme explica Carrara (2010), estruturas
institucionais como essas são permeadas por ideologias e práticas normativas que, por meio de relações
hierárquicas de poder, podem reproduzir a discriminação e a violência contra pessoas LGBTIQ+.
O segundo ponto que gostaria de destacar diz respeito à apropriação dos espaços físicos e
simbólicos da cidade de São Paulo pelos entrevistados. Foi possível verificar que o centro da cidade e a
região da Avenida Paulista aparecem como os principais desses espaços. No entanto, há um paradoxo,
já que esses mesmos espaços estão relacionados à violência – que está profundamente ligada à
visibilidade da diferença (THEODORO, 2021).
Por exemplo, nas narrativas de Antonia, Carla, Cesar, José, Pedro, Samuel e Tereza, o centro da
cidade é mencionado como um espaço que frequentam com frequência, principalmente por ser considerado
mais aberto e receptivo aos sujeitos LGBTIQ+. Nesse sentido, é importante destacar que essa região
tornou-se um reduto LGBTIQ+ ainda na década de 1970, sendo um importante espaço de sociabilidade e
resistência aos sujeitos LGBTIQ+ na cidade de São Paulo (Gustavo SAGGESE, 2015). Mesmo assim, a
violência contra o sujeito LGBTIQ+ ainda ocorre nesse espaço, como fica evidente na experiência de
Pedro:
Pedro: Acho que todo LGBT de São Paulo acaba se mudando para o centro.
Nós nos reconhecemos no centro. Então, todo mundo que pode, acaba se mudando para lá. Esse fluxo migratório LGBT
para o centro é muito forte. O centro é o nosso lugar, para nos sentirmos mais seguros, mais confortáveis. Gosto muito
da República, da Praça Roosevelt e do Largo do Arouche. São os lugares mais populares e muito importantes para o
movimento LGBT.

[…]

Pesquisadora: Você já sofreu algum tipo de violência aqui?

Pedro: Violência física, não. Mas uma vez, eu estava na rua com amigos, à noite, no centro da cidade. E aí passou um
carro e os homens lá dentro gritavam palavrões, nos xingando, zombando de nós. Essas coisas acontecem, mas mesmo
assim eu sei que não é nada perto das agressões que outras pessoas LGBT sofrem todos os dias também (PEDRO,
2019).

Essa dicotomia também se verifica em relação à Avenida Paulista. Para José, por exemplo, é um
espaço de visibilidade para gays e lésbicas, o que se reflete em um sentimento positivo (que também está
presente nas narrativas de Lucas, Pedro, Samuel, Tereza e Yago):
Gosto muito da região da Avenida Paulista. Às vezes parece um sonho. É difícil acreditar que estou aqui. Eu me sinto
bem, sabe? E você vê muitos gays também. Toda vez que vejo um casal de homens ou mulheres de mãos dadas aqui
[na Avenida Paulista], eu sorrio. Não sei como te explicar, mas sabe bem... Pode não parecer muito para outras pessoas,
mas para mim representa muito
(JOSÉ, 2018).

12
Instituição filantrópica de apoio a refugiados e imigrantes, administrada pelos Missionários de São Carlos
(Scalabrinianos), filiados à Igreja Católica. Retirado de: http://www.missaonspaz.org/nossa-missao.
13 A gestão dos serviços oferecidos pelo Centro de Referência e Assistência ao Imigrante (CRAI), coordenado pela Secretaria Municipal de Direitos
Humanos e Cidadania (SMDHC) da Prefeitura de São Paulo, é realizada pelo Serviço Franciscano de Solidariedade (SEFRAS) , cuja missão é
“promover ações e atitudes de solidariedade com os empobrecidos e excluídos, contribuindo para a transformação social, à luz do modo franciscano
de viver e anunciar o Evangelho”. Extraído de: http://www.sefras.org.br/novo/quem-somos/missao/.

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Segundo Saggese (2015), a partir da década de 1970, a região da Avenida Paulista passou a se configurar como
um espaço de efervescência LGBTIQ+ na cidade de São Paulo, sendo física e simbolicamente importante em termos de
visibilidade, sociabilidade e articulação política aos sujeitos LGBTIQ+ e coletivos na cidade de São Paulo. Apesar disso,
Antonia e Jorge também destacam que é um espaço que pode ser perigoso para os sujeitos LGBTIQ+, justamente pela
maior visibilidade pública. Antonia conta que evita até a região da Avenida Paulista:

Tenho medo de ir para a região da Avenida Paulista, porque não sei quem está lá. Vejo muitos noticiários na TV e vejo
que essa é uma região frequentada por vários tipos de pessoas... E algumas delas não são a favor das pessoas
LGBTIQ+. Acho que tem muita gente homofóbica por aí. Então, eu tenho medo de ir para aquela região (ANTÔNIA,
2018).

Jorge exemplifica essa violência da seguinte forma:

Como em muitos outros lugares de São Paulo, ainda há muita violência aqui na região da Avenida Paulista. A caixa da
lâmpada é um ótimo exemplo. E assim, há muitos, muitos outros, todos os dias. O que motiva toda essa violência é a
intolerância e o ódio que estão arraigados na cultura e na sociedade brasileira (JORGE, 2018).

Fica evidente como o espaço simbólico e físico da Avenida Paulista reflete as tensões abarcadas nas dinâmicas
de violência que permeiam a vivência de Antonia e Jorge na cidade de São Paulo. Nesse sentido, vale destacar o fato de
Jorge mencionar o “caso do abajur”, atentado homofóbico ocorrido na Avenida Paulista, em 2010, quando um grupo de
cinco homens agrediu homossexuais que circulavam, um dos quais usava um lâmpada fluorescente para atacá-los.14
Segundo Luan Cassal (2012), o golpe com a lâmpada fluorescente em plena luz do dia, em plena Avenida Paulista, é ao
mesmo tempo o emblema de um instrumento de tortura e a materialização de tecnologias normativas que visa punir o
corpo-transgressor LGBTIQ+. O potencial metafórico da lâmpada, portanto, revela o regime de controle cisheteronormativo
e as consequências da violação de seus limites de normalidade, impactando diretamente na apropriação dos espaços
públicos por sujeitos LGBTIQ+ (incluindo migrantes).

Apesar disso, podemos entender que a possibilidade de visibilidade da diferença no espaço público da Avenida
Paulista representa em si uma potencialidade política que se vincula a uma história individual e coletiva de resistência da
população LGBTIQ+ (incluindo imigrantes) em cidade de São Paulo. Essa potencialidade está relacionada ao fato de
contestar tanto as fronteiras cisheteronormativas quanto as referentes a um ideal de Estado-nação (ou uma nação
imaginada) – igualmente fundada nos pilares da cisheteronormatividade (ZECENA, 2019). Assim, trata-se de uma
visibilidade profundamente ligada à produção, contestação e negociação de significados do que é ser LGBTIQ+ e LGBTIQ+
imigrante ou refugiado. Isso demonstra como as dinâmicas de (in)visibilidade na experiência migratória dos sujeitos
LGBTIQ+ estão implicadas na (des)construção de identidades e diferenças – que variam, como vimos, em cada espaço.

Em síntese, é possível afirmar que em todas as dimensões relacionadas com os espaços de violência na
experiência dos imigrantes e refugiados entrevistados, a dinâmica da (in)visibilidade torna-se uma questão crucial. Por um
lado, a visibilidade ou mesmo a legibilidade social de uma SOGIE não hegemónica significa estar suscetível a diferentes
formas de vulnerabilidade e precariedade. Por outro lado, embora a dimensão da invisibilidade possa atuar como estratégia
de autopreservação dos sujeitos LGBTIQ+, ela também impacta o projeto migratório desses sujeitos, como fica evidente
no caso de Antonia e Samuel. Isso demonstra os dilemas que os imigrantes e refugiados LGBTIQ+ geralmente enfrentam
quando se trata de tornar visível ou não sua SOGIE e como ela se relaciona tanto com os espaços frequentados ou
apropriados por eles quanto com a violência dirigida aos sujeitos LGBTIQ+.

Considerações finais
A partir das reflexões teóricas e da análise das narrativas dos imigrantes e refugiados LGBTIQ+ entrevistados,
demonstrou-se a inter-relação entre a SOGIE, os espaços sociais e as dinâmicas da violência. Como foi possível verificar,
essa articulação também impacta a experiência migratória dos sujeitos LGBTIQ+ residentes na cidade de São Paulo.

Quanto ao país de origem dos entrevistados, a análise não encontrou diferença entre as experiências dos que
vêm da África e os da América Latina. Nesse sentido, podemos considerar que o principal fator referente aos impactos da
dinâmica de (in)
a visibilidade nas vivências em espaços de violência está principalmente relacionada ao SOGIE. Isso não significa que
elementos como nacionalidade, raça e etnia não possam ter influência nesses processos, pois, conforme abordado
teoricamente e verificado na análise, as formas de opressão contra os sujeitos LGBTIQ+ costumam ocorrer de forma
interseccional.

14
Entre os cinco agressores, quatro eram menores de idade. Segundo testemunhas, um deles gritou “Seus bichas, vocês
são namorados. Vocês estão juntos”, antes de desferir o golpe com a lâmpada fluorescente, acertando o rosto de um dos
rapazes, que precisou de atendimento médico. O ataque aconteceu por volta das seis da manhã e foi registrado por
câmeras de segurança. As imagens da agressão foram amplamente divulgadas na mídia nacional.

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ESPAÇOS DE VIOLÊNCIA NO CASO DA IMIGRAÇÃO LGBTIQ+

As narrativas dos imigrantes e refugiados LGBTIQ+ entrevistados, sobre a) a violência institucional,


b) a necessidade de esconder a SOGIE, ec) o medo da violência em determinadas regiões da cidade de São
Paulo, corroboram o fato de que os espaços de violência afetam cotidiano desses sujeitos, gerando ou
agravando uma condição de vulnerabilidade ou precariedade. Nesse sentido, é preciso reconhecer que esses
espaços de violência possuem uma propriedade interseccional, que está ligada tanto ao status migratório
quanto ao SOGIE.
Em suma, a análise permite afirmar que a dimensão física e simbólica dos espaços de violência
encontrados na cidade de São Paulo pelos imigrantes e refugiados LGBTIQ+ entrevistados é estrutural,
estando intrinsecamente ligada ao contexto de violência contra a população LGBTIQ+ em Brasil. No caso
dos imigrantes e refugiados LGBTIQ+, esses espaços têm impacto direto no processo de adaptação, no
atendimento aos imigrantes, na apropriação dos espaços da cidade e no próprio exercício da cidadania.

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Hadriel Geovani da Silva Theodoro (hgtheodoro@gmail.com). Pesquisadora Associada do


Instituto de Comunicação da Universidade Autônoma de Barcelona - Cátedra UNESCO. Doutora em
Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Práticas de Comunicação e Consumo da Escola
Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (PPGCOM-ESPM).

COMO CITAR ESTE ARTIGO SEGUNDO AS NORMAS DA REVISTA

THEODORO, Hadriel Geovani da Silva. “Spaces of violence in the case of LGBTIQ+ immigration”. Revista Estudos
Feministas, Florianópolis, v. 31, n. 1, e81965, 2023.

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FUNDO

Recebido em 28/05/2021
Reenviado em 30/06/2022
Aprovado em 07/12/2022

Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 31(1): e81965


DOI: 10.1590/1806-9584-2023v31n181965
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