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ÉTICA DOCENTE

AULA 7 - ÉTICA MODERNA


E O ATO EDUCATIVO

Olá!
A constante busca por reconstruir os alicerces éticos, ao retomar a
filosofia grega, faz parte do reencontro fundamental da cultura ocidental
consigo mesma, em tempos em que ocorre desdém quanto às dimensões
éticas do saber.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai identificar como construir o
conceito da ética moderna e analisar as caracteristicas e atos educativos.
Bons estudos!
7 ÉTICA DAS VIRTUDES NA MODERNIDADE

A ética da virtude foi moldada principalmente pela tradição anglo-americana,


que buscou explorar a natureza da virtude e sua relação com a ética, a fim de
aumentar o nosso conhecimento sobre como a virtude orienta o comportamento
humano. O renascimento da ética das virtudes, no século XX, fundamentou-se na
tradição grega, aspirando um ideal de formação humana, na qual o desenvolvimento
das virtudes se apresenta como o cultivo de práticas para o bem viver em sociedade.
O trabalho contínuo de reconstrução dos fundamentos éticos pela reintrodução
da filosofia grega insere-se no reencontro fundamental da cultura ocidental consigo
mesma em tempos de desprezo pela dimensão ética do conhecimento. Do ponto de
vista da filosofia moral, a virtude sempre será lembrada como um conceito clássico
que se refere a uma tendência ou estabilidade de caráter que proporciona as
condições necessárias para o excelente desempenho de algo.
A virtude em seu sentido atual é também uma forma de ser sensível às
necessidades dos outros, entendendo o que fazer e como criar uma identidade que
leve em conta as questões morais atuais. Esse desejo de pensar no indivíduo, mas
agir de acordo com a constituição grega, sustentava uma perspectiva ética política
formada por cidadãos que tinham uma compreensão diferente da polis.
Assim, a adesão à ética das virtudes depende de vários fatores, como cultura
local, ambiente familiar, amizades e educação. Essas várias dimensões que
questionam a ética das virtudes referem-se à dimensão abrangente do conhecimento,
onde a filosofia e as teorias educacionais consistem em uma síntese da realidade e
são capazes de reproduzir certas práticas sociais, por um lado, mas, por outro lado,
veem o desafio de superá-las.
Como teoria do conhecimento, como referência à ética das virtudes, surge
como uma reconstrução da filosofia prática, cuja compreensão ética se inicia com a
crítica dos modelos deontológicos, onde a moralidade é entendida como racionalidade
expressa por meio de um conjunto de princípios universais capaz de gerenciar as
atividades. A separação esquemática entre a ética teleológica e a moral deontológica,
abrange diversas teorias morais, sendo que cada uma delas foi formulada por diversos
pensadores, podendo, ainda, apresentar continuidades teóricas com o campo da
educação.
Diante desta amplitude teórica, seria difícil definir com a devida justiça as
nuances de cada matiz da filosofia moral, incluindo os alcances explicativos e
apropriações que foram realizadas ao longo de vários séculos. A ética das virtudes,
como parte de uma história recente da filosofia moral, remonta à ideia de virtude,
assumindo uma proposta ética, na medida em que as pessoas podem fazer algo para
si mesmas e pelos outros.
Um dos desafios da filosofia moral, ao propor a formação ética do indivíduo no
âmbito coletivo, reside na conhecida e complexa tensão entre a moral universal e as
particularidades éticas de um contexto local.
Estes conflitos entre teorias morais rivais, se originaram em duas tradições
morais modernas, discutidas principalmente por Kant e sua crítica ao utilitarismo, em
que se coloca a questão “como devo agir? ”, se opondo à tradição grega, que
privilegiou a pergunta “como devo viver?”.
A primeira questão foi respondida com base nas obrigações, pois as nossas
ações deveriam se fundamentar em imperativos que indicariam se uma ação deve ou
não ser realizada. Existem duas tradições morais que correspondem a essa descrição,
uma se refere a Kant e ao agir em concordância à lei moral, outra se refere ao
utilitarismo, que visa a finalidade em produzir o maior bem possível (CRISP,1996, p.1).
Portanto, os sistemas morais criam um comportamento de cumprimento da lei,
ajudando as pessoas a viver suas vidas se seguirem as máximas universais e
considerarem a si mesmas e as ações como premissas a priori.
No caso do utilitarismo, sua principal preocupação seria buscar o maior bem-
estar possível como norma, assumindo que todos os indivíduos são capazes de
investir em uma atitude racional que levaria a escolhas ponderadas, mas sem
considerar o emocional em que ocorrem. Tais conflitos abriram espaço para uma
ampla discussão entre os estudiosos da filosofia moral. Uma das personalidades que
mais contribuíram para revisar filosofia moral foi a filósofa Elizabeth Anscombe (1958),
também conhecida por traduzir as últimas obras de seu mestre, Ludwig Wittgenstein.
No artigo seminal, intitulado Modern moral philosophy, Anscombe (1958),
propôs algo novo na filosofia moral moderna, atualizando para os novos tempos uma
teoria sobre o agir humano. Uma das principais críticas da filósofa, estaria na noção
de fundar a moralidade em noções deônticas como “obrigação” (obligation) e “dever”
(duty), pois estes termos se fundamentam em crenças transcendentais como fonte
dessa obrigação ou dever, indicando assim, se uma moral está certa ou errada
(ANSCOMBE, 1958). Expressões deontológicas como “obrigação” e “dever”
continuam enraizadas no cristianismo, especialmente no Deus legislador simbólico,
cuja tarefa é revelar ao homem os princípios racionais da purificação da vontade e
cuja finalidade é produzir conteúdo moral.
Alguns ramos da filosofia moral tentaram abandonar o conceito de um
legislador divino, mas continuaram a usar conceitos morais como dever e obrigação,
mas mantiveram os ditames dos princípios morais. De acordo com essa visão, uma
vontade purificada ajudaria a evitar desvios dos objetivos da mente, porque as
máximas de ação devem ser universais porque são boas em si mesmas e podem ser
aplicadas a todos. Por outro lado, a mente comprometida de Aristóteles certamente
não veria nenhum problema em usar a própria razão, mas uma das objeções seria a
imposição de obrigações morais, pois nem todas as civilizações reconheceriam as
obrigações morais como válidas, o que as tornaria impossíveis executar um contrato
moral.
Ainda no artigo acima citado, Anscombe (1958) buscou compreender os efeitos
da racionalidade na vontade humana, mas se desvinculando da interpretação de que
o motor da ação estaria em conflito dicotômico, tais como a cisão entre mente-corpo
ou razão-paixão. Neste sentido, a autora aprofundou a discussão sobre como as
estruturas mentais mobilizaram o agir humano, propondo uma nova base teórica, no
intuito de adequação da filosofia moral moderna às propostas de uma filosofia da
psicologia. Quando entra em pauta o problema de como agir, a educação é
fundamental para entender as consequências de cada escolha. No entanto, a virtude
moral é adquirida pelo hábito e pelas práticas constantes, pois o mero ensino teórico
não seria suficiente para substituir a experiência prática.
Essa dimensão indica que a ética não é apenas um processo de ordem
racional, pois a ação humana está em harmonia entre os aspectos racionais e
emocionais. Essa preocupação com as escolhas de vida também pertence à clássica
questão de saber se a virtude pode ser transmitida apenas por meio de instrução
teórica. As virtudes são disposições a serem praticadas à medida que se desenvolvem
nas relações sociais interpessoais.
Significa a criação de novas forças, diferente da repetição pela repetição, como
ocorre em muitos sistemas educativos, porque a educação não é um processo
totalmente racional ou se desenvolve apenas por meio de técnicas de aprendizagem.
Considerando a importância das normas na vida de cada pessoa, a ética e a moral
estão inseridas no mesmo espaço dos fenômenos sociais, mas com correspondentes
diferenças etimológicas e práticas.
A prática da educação ética depende da ampliação da capacidade de pensar,
pois a construção coletiva de valores significa uma ética voltada para a cidadania, um
espaço aberto direcionado às prioridades dos diferentes grupos sociais. A
preocupação com as consequências das ações humanas na sociedade remonta à
antiguidade grega e tornou-se uma área de interesse da filosofia moral nas últimas
décadas.
O desenvolvimento das virtudes destaca conexões com certas tradições da
filosofia moral que influenciam o desenvolvimento das virtudes de cada pessoa e
buscam fazer escolhas sobre como viver bem. A formação de uma virtude depende
de um determinado ator que se encontra em diferentes situações onde a decisão
requer decisões situadas, portanto, a ética das virtudes não é a ética das regras ou a
ética dos princípios gerais.

7.1 A ética e a crise moral na modernidade

O processo de situar a ética das virtudes na modernidade em suas diversas


características exige abranger um amplo período histórico e deve ser pensado em
termos de pluralidade, não como um bloco compacto e linear como costuma ser
apresentado. Dentre os elementos políticos e culturais que fazem parte das práxis na
modernidade, pode-se evidenciar a expansão do Iluminismo, tendo como marco
histórico a Revolução Francesa.
Com a Revolução Francesa, a população partilhou o sentimento de viver em
uma era revolucionária, mas, ao mesmo tempo, com características dos valores da
modernidade, ainda coexistindo com resquícios de valores que eram anteriormente
cultivados. Algumas das características que a maioria dos pensadores
contemporâneos atribui à modernidade frutificam em paradigmas baseados em
conceitos de ordem, progresso, verdade, objetividade, emancipação universal,
incluindo a crença na progressão linear do desenvolvimento humano.
Acreditava-se que o homem, resultado de lutas históricas e sociais, é livre e
liberado do desenvolvimento moderno. No chamado período pós-colonial, várias
referências culturais do modernismo se mantiveram pelo mundo em busca de
independência e liberdade. A modificação proposta remove a repetição da palavra
"moderno" para melhorar a fluidez e evitar redundância. No entanto, o domínio
humano, as consequências da colonização e seus fundamentos morais não foram
completamente removidos, o que levanta a questão de até que ponto a ressonância
da era colonial ainda afeta o comportamento das pessoas e até mesmo a estrutura do
poder colonial ensina e treina seus especialistas.
A modernidade, na leitura de MacIntyre (2011) foi um período caracterizado por
reestruturações morais, que sob o influxo do Iluminismo influenciaram a organização
das sociedades contemporâneas, cujos valores permanecem vivos até os dias atuais.
Pensando assim, MacIntyre (2011) discorre sobre a necessidade de revitalizar a ética
e as virtudes, renovando as expectativas para que a sociedade ocidental possa
enfrentar a objetificação das pessoas, retomando uma perspectiva comunitária para
convivência humana.
As críticas de MacIntyre (2011) à modernidade denunciam qualquer prática
autoritária que controle a vida pública e privada das pessoas através de formas
diversas, mas, sobretudo, de mecanismos ligados ao funcionamento do Estado.
Portanto, um dos esgotamentos da modernidade está referida a função das
instituições, influenciando o modo de pensar das pessoas, bem como sua convivência
social e atuação no mundo.
Ao traçar um panorama sobre a crise moral contemporânea, MacIntyre (2011)
procura entendê-la à luz dos problemas da filosofia moral do Iluminismo e às doutrinas
e desdobramentos interpretativos a ela subordinadas, revigorando-a desta forma
como tradição universal (MACINTYRE, 2011). As suas reflexões centram-se
sobretudo na tradição sustentada pelo Iluminismo, que vê a moral como pressuposto
da racionalidade abstrata, desloca para segundo plano as diferenças históricas das
sociedades, generaliza a compreensão humana e compreende-a de forma simplista
segundo atributos apenas razoável.
A partir de tais considerações críticas ao Iluminismo e à crise moral por ele
instaurada na modernidade, suas considerações vão no sentido de que a virtude deva
ser definida a partir de três características interdependentes: a primeira se refere às
virtudes como qualidades necessárias para alcançar bens internos que possibilitem
conduzir a práticas virtuosas; a segunda, que considera como qualidade apenas
aquilo que possibilite o cultivo de uma boa vida; e a terceira, que relaciona o
desenvolvimento de práticas benéficas orientadas pela tradição social vigente em uma
dada comunidade. (MACINTYRE, 2011).
A virtude, nesta perspectiva, significa mais do que ter êxito nas aspirações
pessoais, mas também diz respeito a viver de acordo com os padrões de excelência
cultivados por uma determinada comunidade. Neste sentido, lembra o autor que nem
sempre aquilo que é aceito socialmente como uma virtude, pode ser considerado um
bem interno que leve às ações de práticas benéficas para a comunidade, como é caso
da valorização social da fama e do individualismo.
Contudo, a ética das virtudes não se apresenta como um manual sobre como
devemos agir, pois uma comunidade não se apresenta como homogênea na
composição de seus indivíduos. O que está posto e entendido como ética das virtudes
refere-se à questão de como uma pessoa virtuosa agiria de acordo com cada situação
que se apresenta. A descrença nas promessas morais da modernidade, que não se
concretizaram, coloca a questão da busca de que reconheça as diversas formações
sociais, apresentando esta como um desafio teórico-prático complexo, requerendo
constantes reflexões sobre a relação entre ética, sociedade e educação.
Tendo como ponto de partida a discussão sobre os desafios colocados pela
modernidade, MacIntyre (2011) direciona sua crítica à pressuposição iluminista
quanto à existência de uma moral universal, sustentando que a moralidade é
construída na vida social de cada indivíduo, a partir da maneira como o homem
vivencia sua própria história, dentro das particularidades morais constituídas pela
família, bairro, cidade, comunidade ou país, enxergando tais aspectos como o ponto
de partida para a descoberta da identidade moral (MACINTYRE, 2011).
Assim, as concepções universais da modernidade sobre o entendimento do
homem, não se aplicam de forma generalizada a todos os homens, no plano das
relações sociais, sob pena de não se evoluir no âmbito da troca de experiências. Daí
a necessidade da reflexão sobre a discussão ética entre diferentes culturas, para que,
a partir desta troca, possa emergir o debate sobre o contraditório, e, por conseguinte,
o entendimento do homem no plano do “universal”. Talvez seja este o caminho para
a superação ou questionamento de antigos valores que poderiam acrescentar
comportamentos e atitudes capazes de elevar e enriquecer a relação dos homens no
âmbito da educação e das relações sociais em perspectiva mais ampla.
No sentido de compreender o esgotamento moral da modernidade, o trabalho
sobre filosofia ética e política desenvolvido por MacIntyre, deu continuidade à
discussão de seus contemporâneos, ao publicar o clássico, denominado After virtue
(2011), uma obra considerada alternativa em relação ao utilitarismo e ao
universalismo que se afastam da historicidade no domínio da ética e das virtudes.
MacIntyre segue caminhos abertos por Nietzsche, que há mais de dois séculos
antes de seu After virtue, apresentava crítica contundente sobre a moral humana,
como consequência de sua aversão ao Iluminismo, que, segundo sua visão, tem a
pretensão de ditar uma racionalidade impessoal ou valores morais absolutos, e, por
isso, deveria passar por uma transvaloração, desprendendo-se da conservação de
valores como verdade, justiça, Deus, bem e mal. Assim, afiliado à tradição
nietzschiana, ao longo da obra After Virtue, MacIntyre orienta suas reflexões na
direção de articular a racionalidade no âmbito de cada tradição específica, de modo
que a razão não seja algo sem história, nem universal, como era defendida por alguns
pensadores do Iluminismo.

7.2 Educando e convivendo em uma comunidade ética

Com o advento da globalização, pensou-se sem pensar que várias fronteiras


culturais poderiam ser diluídas, o que permitiria a convivência harmoniosa de vários
povos e culturas, como, por exemplo, a partilha de costumes. No entanto, a
globalização tem sido um desafio para as escolas criarem disciplinas únicas por meio
da educação. Um de seus efeitos foi a complexidade da troca igualitária de
experiências entre diferentes culturas, são muito comuns os problemas da
disseminação de movimentos totalitários, práticas xenófobas e outros ataques
relacionados às diferenças culturais.
Para superar esse obstáculo, devem ser executados para identificar as práticas
da cultura local que podem levar à crítica de compromissos voltados para a
harmonização de valores morais. Nesse sentido, seria mais do que apropriado
promover o diálogo no campo da educação, que visa discutir algumas possibilidades
de articulação entre culturas globais e locais.
A predominância da tecnologia e a busca de soluções imediatas para
problemas complexos, ignorando a individualidade no ensino, reforça várias práticas
éticas de resolução de problemas baseadas na autoajuda, regras prontas e uso
arbitrário de drogas na busca de soluções para problemas as pessoas caíram em uma
espécie de utilitarismo.
Considerando a ênfase nas conquistas técnicas em uma sociedade
globalizada, nesse sentido permanece importante a necessidade de enfatizar a
importância da ética e das práticas democráticas em todos os contextos. A formação
da identidade é moldada pelas experiências e crenças acumuladas ao longo da vida
das pessoas, que levam à compreensão de quem somos e como nos tornamos.
Dado que existem diferentes perspectivas éticas e culturais na sala de aula,
cada aluno pode adquirir uma experiência diversificada para desenvolver as suas
virtudes, adquirir novos hábitos ou melhorar os já existentes. A difusão das virtudes
deve estar vinculada às vivências singulares de cada sujeito, levando em
consideração os significados da relação ético-política da comunidade, sem que se
cristalize na idealização da educação, pois as tradições encerram mudanças que
devem ser redefinidas. Em geral, uma comunidade consiste no conceito de um
coletivo que une várias pessoas com valores semelhantes, sendo comuns os conflitos
entre os membros.
A tensão entre as identidades locais e as concepções hegemônicas de valores,
fez parte do escopo de problemas abordado pelo comunitarismo (communitarianism),
cuja vertente é conhecida como uma reação crítica a teoria da justiça, defendida por
Rawls. Os denominados comunitaristas, tais como Michael Sandel, Charles Taylor,
MacIntyre, basearam-se principalmente nas ideias de Aristóteles e na filosofia política,
ao questionarem as divergências do liberalismo em relação aos valores comunitários.

7.3 Uma formação para viver bem com e para os outros em instituições justas

Um dos anseios que compõem o campo da docência começa com a busca de


um ponto de partida para o seu trabalho. Nesse contexto, os conceitos de ética e
moralidade expressam o problema original a ser resolvido. É um tema amplo, por isso
seria necessário situá-lo nas concepções de filosofia e educação, que visam subsidiar
os diversos desafios da formação de professores, para a expansão dos sentimentos
éticos por meio do desejo ouvir e prestar atenção aos outros para aumentar a
sensibilidade às práticas pedagógicas.
As diferenças de valores humanos merecem ser acolhidas nas práticas
pedagógicas, o que significaria preencher a lacuna entre o “eu” e o outro na
perspectiva do outro, abraçando a transferência de experiências. Ao identificar
eventos aleatórios destrutivos nas relações sociais, o trabalho de identificação do
outro pode enfrentar desafios significativos, manifestados na resistência comum de
grupos de pessoas, que em situação de fronteira pode ameaçar a integridade de uma
pessoa e a preservação de direitos fundamentais instituições devem assegurar.
No contexto da formação de professores, o ensino da ética e das virtudes
possibilita formar um educando autônomo, tomando como alicerce as capacidades de
cada sujeito em responder às suas perguntas. De acordo com esta concepção de
autodeterminação, Renaud (2013) explica-se que o fundamento etimológico da
autonomia (autos e nomos) se refere à norma objetiva (nomos) e o self subjetivo
(autos).
No pensamento de Ricoeur, a relação entre auto e nomos que compõe a noção
de autonomia, está vinculada à relação entre ratiocognoscendi e ratio essendi; em
Kant, com efeito, é o dever, fato da razão, correspondente ao imperativo categórico,
que nos faz conhecer a liberdade transcendental, sendo uma liberdade que
fundamenta a existência, originando uma consciência da obrigação e da norma
(RENAUD, 2013).
Nessa interpretação, o ciclo da autonomia estaria entre a norma e o sujeito
moral. As leis, porém, são criadas por pessoas que fazem parte da relação entre o ser
e as instituições políticas, o que permite a cada um construir suas escolhas tendo em
vista o outro e as instituições que medeiam as relações humanas. As discussões sobre
ética em sala de aula acontecem em um tempo e espaço que determinam a ação
humana e acontecem em um contexto que a possibilita. No entanto, aplicando as
regras, podem surgir conflitos entre o indivíduo e a sociedade.
Nessa terceira fase da ética, surge a sabedoria prática, cuja tarefa é ajustar
modelos de comportamento voltados para os outros, considerar regras coletivas,
adaptando-as às particularidades de cada situação. Desse modo, a sabedoria prática
(phronesis) é desenvolvida por um constante processo reflexivo, que se instaura em
possibilidades do agir humano dentro de cada comunidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANSCOMBE, G. E. M. Modern moral philosophy. In: Philosophy, London, v. 33, p.


1-19, 1958.

MACINTYRE, A. Justiça de quem? Qual Racionalidade? 4ª. ed. Trad. Marcelo


Pimenta Marques. São Paulo: Loyola, 1991.

RENAUD, M. Depois da “pequena ética” de Paul Ricoeur: o sentido da sua revisão.


Org. NASCIMENTO, Fernando; SALLES, Walter. Paul Ricoeur. Ética, Identidade e
Reconhecimento. São Paulo: Edições Loyola, 2013.

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