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Núcleo Gerador 5– Convicção e Firmeza Ética

Unidade de Competência 5: Avaliar a realidade à luz de uma ordem de valores consistente e actuar
em conformidade.
DR1 – Adoptar normas deontológicas e profissionais como valores de referência não
transaccionáveis em contextos profissionais

Critério de evidência:
- Identificar deontologia e normas profissionais;
- Reconhecer valores de referência em organizações distintas;
- Actuar criticamente sobre práticas e posturas sociais articulando responsabilidade pessoal e profissional.
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Ficha

Ética e Moral
Habitualmente confundimos os termos ética e moral. É o caso quando de uma pessoa que agiu
incorrectamente ou mesmo imoralmente dizemos que não tem ética, "não tem carácter".

Na verdade, o termo moral procede do termo latino “mores”, que significa costume ou modo de ser
habitual e o termo ética deriva do grego antigo “ethos”, que significa carácter e também lugar onde se
habita.

Apesar da proximidade etimológica, os termos ética e moral têm sentidos diferentes. A moral tem uma dimensão
prática. A ética uma dimensão teórica.

A Moral é o conjunto de normas e princípios que visam reger ou regular o comportamento de um indivíduo, de um
grupo ou de uma colectividade. Frequentemente essas normas estão ligadas a determinadas formas de religiosidade e
por isso se fala de moral católica, protestante, budista, judaica, islâmica, etc. A tarefa da moral é, por exemplo, a de
definir as normas que devem reger as relações entre os membros de uma família ou entre o médico e o paciente.

A Ética é "a vida moral pensada"

Existem normas que prescrevem fazer o bem e evitar o mal, que explícita ou implicitamente nos dizem que esta acção é
imoral e aquela moralmente válida. Mas o que é o bem? O que queremos dizer quando aplicamos as noções de bem e de
mal? Como determinar a validade moral de um acto? Pelas suas consequências e resultados? Pela intenção e pelos
motivos que a determinaram? Uma acção moralmente válida é uma acção boa em si mesma ou boa para realizar um
fim?
Estas, entre muitas outras questões, são questões essencialmente éticas e das diferentes respostas que recebem de quem
reflecte sobre o "facto moral" deriva a diversidade dos sistemas e teorias éticas.

À Ética dá-se também o nome de Filosofia Moral. A Filosofia é uma actividade crítica e que investiga os fundamentos das
coisas. A Ética é Filosofia Moral porque reflecte criticamente sobre o que a Moral estabelece.

Assim se a Moral me diz "Não deves mentir", a Ética discutirá racionalmente a validade dessa norma: "Porque
consideramos moralmente correcto dizer a verdade?"
Esta atitude é importante porque muitas pessoas aceitam e seguem certas normas morais sem perguntarem a si próprias
se essas normas são válidas ou não.
Além disso, a Ética coloca questões fundamentais: "Qual o fundamento da acção moral (boa ou má), isto é, em última
análise, o que torna possível falar de comportamentos morais (que podem ser avaliados como bons ou maus)?"

Em suma, a Moral é o conjunto de normas concretas e de comportamentos sobre os quais a Ética ou Filosofia Moral
reflecte criticamente.

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Moral e Ética são portanto distintas, embora sejam inseparáveis. Note-se para terminar que a Moral não é o único
campo da acção humana que "alimenta" a reflexão ética. O Direito e a Política, por exemplo, também constituem
campos de trabalho da Ética.
Assim, é a reflexão ética que distingue normas morais de normas jurídicas, que pergunta se legalidade é igual a
legitimidade, se devemos obedecer sempre às leis do Estado, se o que é aprovado pela maioria é sempre justo, etc.

Proposta de trabalho 1

1. Pense numa situação em que as normas morais de uma dada cultura podem entrar em conflito com uma
posição ética pessoal. Apresente-a.

2. Na sua perspetiva, qual deve prevalecer em caso de incompatibilidade, a Ética ou a Moral? Justifique.

Baseado e adaptado de: Luís Rodrigues, Filosofia – 10º, Plátano Editora, Lx, 2003

Os dilemas éticos
Quem ajuíza moralmente julga a partir da sua consciência, isto é, a partir de uma certa escala ou tábua de
valores éticos, concernentes às finalidades do agir humano, subjetivamente assumidos e que funcionam
como uma espécie fundamento das nossas conceções sobre o modo de estar no mundo e na vida.

Essa tábua, mesmo que dela não se tenha uma consciência bem explícita fornece os critérios para julgar
acerca do bem e do mal dos nossos comportamentos.
É a partir dela que estabelecemos como devemos agir ou não agir, seja, é ela que fornece os critérios do que
consideramos ser o nosso dever é ela, ainda, que serve de fundamento aos raciocínios que justificam a
escolha moral numa dada situação.

A propósito, como decidiria no seguinte caso?

"Uma mulher estava a morrer, com um tipo especial de cancro. Havia um medicamento que, segundo
pensavam os médicos, podia salvá-la. Era uma forma de rádio que um farmacêutico, na mesma cidade,
descobrira recentemente. A manipulação do medicamento era cara, mas o farmacêutico cobrava dez vezes mais
que o preço do custo. Pagava 400 euros pelo rádio e cobrava 4.000 euros por uma pequena dose do
medicamento. O marido da senhora doente, Henrique, recorreu a toda a gente que conhecia para pedir
emprestado o dinheiro, mas só reuniu 2.000 euros, o que era apenas metade do custo. Disse ao farmacêutico que
a
sua mulher estava a morrer e pediu-lhe para o vender mais barato ou se podia pagá-lo mais tarde. Mas o
farmacêutico disse: "Não, descobri o medicamento e vou fazer dinheiro com ele". Então, Henrique fica
desesperado e pensa em assaltar a loja do homem e roubar o medicamento para a sua mulher".

Baseado e adaptado de: Maria O. Valente (1989) “A Educaçã o para os Valores”. Porto, Asa, pp. 156-l58.
Henrique devia roubar o medicamento?
Porquê? Ou porque não?"
Já decidiu?

Afinal, se estivesse no lugar do Henrique, roubava ou não o medicamento? Pois é, uns dizem que sim,
outros que não e cada um apresenta os seus argumentos, em função da hierarquia de valores que perfilha.

Proposta de trabalho 2

3. Propomos um momento de reflexão e debate sobre este dilema ético apresentado no texto anterior.

Apontamos algumas orientações básicas sobre os procedimentos a desenvolver

A. Preparação do debate

 Dar aos factos uma ordem lógica;

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 Ter a certeza de que o conteúdo é exacto;

 Parafrasear os assuntos em causa;

 Ter a certeza de que se está a perceber o conteúdo.

B. Início do debate

 Para dar inicio aos debates reais, utilizar questões abertas:


o "O que deveria fazer a pessoa X?”
o “Porquê, ou quais são as razões principais?”

 Todos se devem questionar.

 Se algumas das razões apresentadas não for suficientemente clara, colocar de seguida questões para
clarificação. Por exemplo:
o "Poderias explicar um pouco melhor...?";
o "Queres dizer com isso que...?";
o "Deixa-me ver se consigo parafrasear...?"

 Pode-se também perguntar aos outros elementos do grupo se eles entenderam as razões da pessoa X.
Objectivo: Ter a certeza de que todos os elementos têm a oportunidade de fazer afirmações de abertura.
Utilizar, se necessário, durante o questionamento.

C. Continuação do debate

Para continuar a discussão e ajudar a desenvolver ideias mais elaboradas, são úteis as seguintes técnicas:
1. Consequências alternativas:
"O que aconteceria se a pessoa tivesse feito A B ou C?"

2. Assumpção de papéis:
"Quais seriam as tuas razões se fosses a pessoa X, Y ou Z? Põe-te no lugar de outra pessoa."

3. Sentimentos e emoções:
"Como é que pensas que a pessoa X se sente? Como te sentirias numa situação do género? Quais poderão ser
algumas das consequências desses sentimentos?"

4. Experiência pessoal:
"Já alguma vez te aconteceu algo parecido com isto? Quais foram os teus pensamentos, sentimentos e atitudes?
Fazendo uma retrospectiva, consideras que gostarias de mudar alguma coisa?"

5. Mudança de um elemento-chave:
"Consideremos que a pessoa envolvida nesta situação è alguém que nem sequer conheces, em vez de ser alguém
muito teu amigo. Em que é que esse facto mudaria as coisas?"

6. "Algumas pessoas dizem":


"Algumas pessoas dizem que uma razão nunca é suficientemente boa para transgredir uma lei. Qual a tua resposta a
este ponto de vista?"

7. Levar os participantes da discussão a falar uns com os outros:


"Manuel, qual a tua opinião acerca do que Ana acabou de afirmar?" "O João e o António parecem defender
posições opostas..."

D. Atingir um compromisso:

1. Questões relacionadas com o tema:


"Agora, que já analisámos o tema sob diferentes pontos de vista, quais sãos elementos-chave, ou os pontos mais
convincentes?" Há algum aspeto particular que te levaria a alterar o teu ponto de vista?"

2. Questões relacionadas com a justiça:


"Em termos de justiça e equidade de todas as perspetivas, qual seria a melhor solução?"

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OS ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO MORAL DE KOHLBERG

Uma boa forma para começarmos a compreender os raciocínios morais envolvidos na análise dos
dilemas morais, pode ser a interpretação da seguinte grelha, baseada nos estudos de Kohlberg.

Para que se perceba melhor que o que determina o tipo de moralidade envolvida numa
escolha na resoluçã o de um dilema é tico sã o os raciocínios aduzidos para uma escolha e nã o
o conteúdo da escolha propriamente dito, dã o-se exemplos de como escolhas opostas
podem ser caracterizadas num mesmo está dio, em virtude das razõ es invocadas para essas escolhas.

RAZÕES A FAVOR Estádios Morais de Kohlberg RAZÕES CONTRA


Se a minha mulher morrer, Estádio I Nã o roubaria porque seria
fico cheio de problemas. apanhado e mandado para
(Moralidade pré -convencional)
Serei julgado por nã o ter a prisã o. Se escapasse
Acção motivada pelo medo do castigo. A
gasto o dinheiro para a passaria o tempo receoso de
consciência é o medo irracional do castigo.
salvar e haverá ser apanhado pela polícia.
investigaçã o para apurar
responsabilidades pela
morte da minha mulher.
Se for apanhado, dou a Estádio II Nã o ficaria muito tempo
droga de volta e nã o terei na cadeia, mas a minha
(Moralidade pré -convencional)
grande castigo. Mesmo mulher poderia morrer,
Acção motivada pelo desejo de recompensa ou
que fique um ou dois dias antes que voltasse, e por
benefício. Reacções de remorso são ignoradas e o
na cadeia, nã o faz mal se a isso nã o adiantaria muito.
castigo é analisado em termos práticos.
encontrar viva quando Se a minha mulher morrer
voltar. nã o era culpa minha, mas
do cancro.
Ningué m pensa que sou Estádio III Nã o é só o farmacêutico que
mau se roubar, mas a pensa, que sou criminoso.
(Moralidade convencional)
família pensará que sou Os outros també m. Nã o
Acção motivada pela antecipação da reprovação
desumano, se nã o roubar. serei capaz de olhar para a
real ou hipotética dos outros.
cara dos meus familiares.
Nã o teria nenhum sentido Estádio IV Estava desesperado e podia
de honra, se deixasse a nã o saber que fazia mal ao
(Moralidade convencional)
minha mulher morrer, roubar a droga. Mas sabê-
Acção motivada pela antecipação da desonra,
porque estava com medo de lo-ia ao ser castigado e
por falta de cumprimento de um dever e por
fazer a ú nica coisa que a posto na cadeia. Sentir-me-
remorsos de provocar danos a outros
poderia salvar. ia sempre culpado pela
(Distinção entre desonra, formal e reprovação desonestidade e agressã o à
informal; entre remorso e medo das lei.
consequências da censura).
Perderia o respeito dos Estádio V Violarei a lei e perderei o
outros se nã o roubasse. Se respeito da comunidade.
(Moralidade pó s-convencional)
deixasse a minha mulher Perderei o respeito por
Preocupação em manter o respeito dos iguais e o
morrer seria por causa do mim, se me deixar guiar
da comunidade; preocupação com o auto-
medo. Perderia o respeito por emoçõ es e perderei uma
respeito, com o julgar-se irracional,
pessoal e o dos outros. perspectiva mais alargada e
inconsciente, sem propósitos.
a longo prazo.
Se nã o roubar a droga e Estádio VI Se roubar a droga, as
deixar a minha mulher outras, pessoas nã o me
(Moralidade pó s-convencional)
morrer, condenar-me-ia por condenariam, mas, eu
Preocupação com a auto-condenação por
toda a vida, por nã o ter condenar-me-ia por nã o ter
violação dos princípios pessoais.
feito todo o possível por sido capaz de ir até à s
salvar uma vida. (Distinção entre o respeito da comunidade e o ú ltimas consequê ncias da
auto-respeito. Distinção entre auto-respeito minha consciê ncia e
resultante da racionalidade e auto-respeito por honestidade.
se sustentar princípios morais).
Baseado e adaptado de: Maria O. Valente (1989) “A Educaçã o para os Valores”. Porto, Asa, pp. 156-l58.

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Proposta de trabalho 3

4. Compare o compromisso obtido no debate e os diferentes estádios apresentados.


5. Consegue relacionar esta grelha com a ideia de liberdade e responsabilidade moral do ser humano?
Como?

E, já agora, analise este outro caso:

"Henrique assaltou a loja. Roubou o medicamento e deu-o à mulher. No dia seguinte, a


notícia do roubo vinha nos jornais. O senhor Madureira, um polícia que conhecia
Henrique, leu a notícia, Lembrou-se que tinha visto Henrique saindo a correr da loja e
percebeu que fora Henrique quem roubara o medicamento. O senhor Madureira
perguntou a si mesmo se devia comunicar que era Henrique o ladrão.
O polícia Madureira deve acusar Henrique do roubo?".
Baseado e adaptado de: Maria O. Valente (1989) “A Educaçã o para os Valores”. Porto, Asa, pp. 156-l58.

Suponha que é o polícia Madureira, o que faria no caso dele?

Proposta de trabalho 4

6. Apresente a sua posição individual, e partilhe-a com os restantes membros do grupo.

Ética e Deontologia
A Ética é, então, o domínio da filosofia que tem por objectivo o juízo de apreciação que distingue o bem e o mal, o
comportamento correcto e o incorrecto. Os princípios éticos constituem-se enquanto directrizes, pelas quais o homem
rege o seu comportamento, tendo em vista uma filosofia moral dignificante.

Os códigos de ética são dificilmente separáveis da deontologia profissional, pelo que não é pouco frequente os termos
ética e deontologia serem utilizados indiferentemente.
O termo deontologia surge das palavras gregas “déon, déontos” que significa dever e “lógos” que se traduz por
discurso ou estudo. Sendo assim, a deontologia seria o estudo do dever ou o conjunto de deveres, princípios e normas
adoptadas por um determinado grupo profissional. A deontologia é uma disciplina da ética especial adaptada ao
exercício da uma profissão.

Existem inúmeros códigos de deontologia, sendo esta codificação da responsabilidade de associações ou ordens
profissionais.
Nos casos de dilemas éticos, anteriormente expostos, podemos pensar no papel que poderiam ter os códigos
deontológicos das profissões de farmacêutico e de polícia. Poderiam ajudar, certamente, a colaborar na decisão de
cada um dos profissionais envolvidos e a avaliar os seus comportamentos.

Regra geral, os códigos deontológicos têm por base as grandes declarações universais e esforçam-se por traduzir o
sentimento ético expresso nestas, adaptando-o, no entanto, às particularidades de cada país e de cada grupo
profissional.
Para além disso, estes códigos propõem sanções, segundo princípios e procedimentos explícitos, para os infractores do
mesmo. Alguns códigos não apresentam funções normativas e vinculativas, oferecendo apenas uma função
reguladora.

Embora os códigos pretendam oferecer uma reserva moral ou uma garantia de conformidade com os Direitos Humanos,
estes podem, por vezes, constituir um perigo de monopolização de uma determinada área ou grupo de questões,
relativas a toda a sociedade, por um conjunto de profissionais.
Baseado e adaptado de: http://www.psicologia.com.pt/profissional/etica/

Proposta de trabalho 5

7. Faça uma recolha e apresente um código deontológico, de uma profissão ou actividade semelhante, à sua
escolha.
8. Quais serão os perigos de que se fala no final desta ficha? Que importância lhes atribui?
9. Propomos que se faça uma proposta de um código deontológico para a empresa onde trabalha, ....

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