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Resenha de: Being Realistic about Reason (Scanlon, T.M.

) / Renato Pinheiro - UFPB - 2023

A principal preocupação era entender como os agentes poderiam ser motivados por seus julgamentos morais.
Nesse período, Thomas Nagel desafiou a ortodoxia humiana predominante, argumentando que as exigências éticas e
prudenciais são, de fato, exigências racionais. Ele abordou o problema central como uma questão de motivação,
afirmando que "concebia a ética como um ramo da psicologia" e que suas posições estavam relacionadas à
fundamentação e à base última da motivação moral. Atualmente, embora a motivação continue sendo um tópico
relevante de discussão, as questões metaéticas tendem a ser formuladas em termos de razões. No contexto da prudência
e da moralidade, as perguntas centrais são por que uma pessoa tem razões para agir de maneira que beneficie seu
futuro e por que ela tem razões para agir de acordo com as demandas da moral. Estes são exemplos de sentenças que
ilustram a ideia de que existem verdades sobre razões para a ação.

a) O fato de que o carro pode ferir e talvez matar um pedestre se o volante não for girado é uma razão para
girá-lo. b) O fato de que o filho de uma pessoa morreu é uma razão para que essa pessoa sinta tristeza. c) O fato de que
seria prazeroso ouvir uma música envolvente, movendo o corpo suavemente ao ritmo dela, é uma razão para fazê-lo ou
continuar a fazê-lo.

É a partir dessas situações que as verdades sobre razões se originam e desempenham um papel importante em
nossa tomada de decisão. As verdades sobre razões para a ação estão intimamente ligadas à nossa capacidade de tomar
decisões e agir de acordo com nossos objetivos e valores. Essas verdades refletem a maneira como avaliamos as
situações, consideramos os diferentes cursos de ação disponíveis e escolhemos agir com base nas razões que
identificamos. Além dos exemplos mencionados anteriormente, podemos encontrar muitos outros casos em que as
razões desempenham um papel central em nossas vidas. Por exemplo:

d) O fato de que alguém fez uma promessa a outra pessoa é uma razão para cumprir essa promessa, porque há
um compromisso moral envolvido. e) O fato de que alguém deseja manter uma boa saúde é uma razão para fazer
exercícios regularmente e ter uma dieta equilibrada. f) O fato de que alguém acredita que a educação é importante é
uma razão para investir tempo e esforço em obter uma educação de qualidade.

Em todos esses casos, as razões desempenham um papel fundamental na justificação de nossas ações e
decisões. Elas representam considerações que pesamos e avaliamos antes de agir, e podem variar de pessoa para
pessoa, dependendo de suas crenças, valores e circunstâncias individuais. Portanto, a ideia de que existem verdades
sobre razões para a ação é amplamente aceita e faz parte do nosso senso comum.

Caráter Relacional: O caráter relacional das razões implica que elas são razões para uma pessoa em particular.
Isso significa que as razões são dependentes das circunstâncias, crenças e valores individuais de cada pessoa. O que
pode ser uma razão convincente para uma pessoa pode não ser tão convincente para outra, dependendo de suas
perspectivas pessoais. O caráter relacional destaca a natureza subjetiva das razões. Valores de Verdade
Determinados: A questão sobre se os enunciados sobre razões são verdadeiros ou falsos é crucial para a metaética. A
maioria dos metaéticos defende que existem verdades irredutivelmente normativas sobre razões, independentes das
opiniões individuais. Isso implica que há fatos normativos objetivos que determinam a validade das razões,
independentemente de nossas opiniões. Essa visão é compatível com a ideia de que as razões são fundamentais.
Superveniência: A superveniência diz respeito à relação entre fatos normativos (razões) e fatos não normativos (o que
ocorre no mundo natural). Muitos argumentam que os fatos normativos supervenientes dependem dos fatos não
normativos, ou seja, eles variam conforme os fatos não normativos variam. No entanto, a relação exata entre
normatividade e superveniência é complexa e tem sido objeto de debate na filosofia moral. Conhecimento: Como
podemos conhecer os fatos normativos, especialmente aqueles que envolvem razões? Essa é uma questão fundamental
na metaética. Alguns metaéticos sustentam que podemos conhecer esses fatos por meio da razão prática e da reflexão
moral, enquanto outros argumentam que o conhecimento moral é mais misterioso e desafiador de se obter. Significado
Prático: Juízos sobre razões desempenham um papel fundamental no raciocínio prático e na explicação da ação. Eles
nos ajudam a determinar o que devemos fazer em situações específicas, com base em nossas crenças e valores. O
significado prático das razões está relacionado à sua capacidade de orientar nossas ações de maneira moralmente
justificada. Força: As razões podem variar em intensidade, ou seja, algumas razões podem ser mais fortes do que
outras. A questão sobre o que determina a força das razões é uma preocupação central na ética. Isso envolve a
ponderação de várias considerações e a determinação de quais razões devem prevalecer em uma situação particular.
Opcionalidade: Algumas razões podem ser consideradas "opcionais", o que significa que só faz sentido considerá-las
como razões se escolhermos fazê-lo. Outras razões podem ser não opcionais, pois devem ser levadas em consideração,
independentemente de nossa escolha. A natureza opcional ou não opcional das razões é relevante para a ética e a
tomada de decisões morais.
A proposta de uma teoria de razões baseada em desejos, como a apresentada nas opções (a) e (b), é uma
abordagem conhecida na filosofia moral e ética. Vamos considerar como cada uma dessas opções aborda as questões
anteriormente levantadas:

Opção (a): "x tem uma razão para fazer a somente no caso de que fazer a promoveria a satisfação de algum
desejo de x." Nesta abordagem, as razões para a ação são vinculadas aos desejos do agente. Isso significa que uma ação é
moralmente justificada se ela levar à satisfação dos desejos do agente. Isso pode resolver questões sobre opcionalidade,
caráter relacional e significado prático, uma vez que as razões estão ligadas diretamente aos desejos pessoais. No
entanto, essa abordagem levanta preocupações sobre objetividade e valores universais. Se todas as razões são baseadas
nos desejos individuais, pode haver conflitos morais insolúveis quando os desejos de diferentes pessoas entram em
conflito. Além disso, ela pode não explicar bem as razões morais que parecem se aplicar independentemente dos
desejos individuais, como o dever de não causar sofrimento injustificado aos outros.

Opção (b): "x tem uma razão para fazer a somente no caso de que fazer a promoveria a satisfação de um desejo
que x teria se fosse plenamente consciente dos fatos não normativos relevantes e pensasse com clareza." Essa opção
tenta abordar algumas das limitações da abordagem anterior, introduzindo a ideia de que os desejos relevantes seriam
aqueles que uma pessoa teria se estivesse plenamente consciente dos fatos não normativos e pensasse com clareza. Isso
pode fornecer uma base mais objetiva para determinar as razões para a ação. No entanto, essa abordagem também
levanta questões. Ela pressupõe que existe um conjunto objetivo de fatos não normativos que, quando plenamente
compreendidos, levariam a determinados desejos. Isso pode ser problemático, especialmente se houver desacordo
sobre quais são esses fatos não normativos. Em resumo, uma teoria de razões baseada em desejos pode fornecer
algumas respostas às questões levantadas, mas também apresenta desafios, especialmente relacionados à objetividade
e à universalidade das razões morais. A escolha entre essas abordagens depende em grande parte das intuições morais
e metaéticas de cada filósofo.

A questão sobre se uma pessoa tem uma razão para agir de acordo com qualquer desejo seu,
independentemente de quão tolo possa parecer, é um ponto de discussão importante na análise das razões baseadas em
desejos. Essa questão levanta considerações relevantes para a teoria. Razões para Desejos Tolo: Se seguirmos
estritamente a análise que as razões dependem dos desejos individuais, então, teoricamente, alguém teria uma razão
para agir de acordo com qualquer desejo que tivesse, independentemente de ser considerado tolo por outras pessoas.
Isso significa que uma pessoa teria uma razão para agir de acordo com desejos que podem parecer irracionais ou
insensatos para os outros. Desejos Esclarecidos: Para abordar o problema de desejos que parecem tolos, algumas
versões da teoria dos desejos propõem a ideia de "desejos esclarecidos". Nesse contexto, as razões são baseadas nos
desejos que uma pessoa teria se estivesse plenamente informada sobre sua situação e pensasse claramente. Portanto, as
razões seriam determinadas pelos desejos esclarecidos, que seriam mais racionais e bem fundamentados do que os
desejos atuais. Motivação pelos Desejos Esclarecidos: No entanto, a questão da motivação pode se tornar complexa
quando se trata de agir com base em desejos que são apenas hipotéticos ou que uma pessoa não tem no momento. Nem
sempre é claro se as pessoas são motivadas pelo fato de que uma ação promoveria a satisfação de desejos que só teriam
em circunstâncias diferentes. Isso pode depender da força desses desejos esclarecidos e das circunstâncias individuais.

Em resumo, a análise das razões baseadas em desejos pode lidar com desejos que parecem tolos, desde que sejam
considerados desejos esclarecidos ou que uma pessoa teria se estivesse plenamente informada. No entanto, a questão
da motivação pelas razões associadas a esses desejos pode ser mais complexa e variar de pessoa para pessoa.

Das objeções metafísicas (segunda conferência)

O autor menciona diversas objeções à ideia de que existem verdades irredutivelmente normativas, que são
aquelas verdades relacionadas a razões para a ação que não podem ser reduzidas a outros tipos de fatos. Essas objeções
são de natureza metafísica, epistemológica e prática: Objeções Metafísicas: Argumentam que a crença em verdades
normativas irredutíveis nos levaria a aceitar a existência de entidades ou fatos que seriam estranhos à visão científica
do mundo. Isso implica que a aceitação de tais verdades poderia ser incompatível com uma abordagem estritamente
científica da realidade. Objeções Epistemológicas: Sugerem que mesmo que houvesse tais verdades normativas, nós
não teríamos os meios para descobri-las. Isso levanta questões sobre como poderíamos acessar ou conhecer essas
verdades, uma vez que não seriam passíveis de observação empírica direta ou métodos tradicionais de
investigação.Objeções Práticas: Argumentam que, se as conclusões sobre o que temos razão para fazer se baseassem
apenas em crenças sobre fatos, essas conclusões não teriam o significado prático que normalmente associamos às
razões para a ação. A ideia aqui é que simples crenças não seriam suficientes para motivar as pessoas a agir de acordo
com essas razões. Essas objeções desafiam a plausibilidade e a viabilidade das verdades normativas irredutíveis e, como
o autor mencionou anteriormente.

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