Você está na página 1de 2

Metaética

A Metaética é o campo da Ética que consiste em uma investigação e


descrição das práticas morais. Ao usarmos palavras como ‘errado’, ‘permitido’
e outras em sentido moral, qual é exatamente o sentido dessas palavras?
Quando praticamos uma ação considerada ‘boa’, que elementos a justificam
como ‘boa’? Seria a obrigação moral apenas fruto de um processo de
construção histórico-social? Muitas dessas questões apontam para a reflexão
filosófica implementada por estudos em Metaética.

Essas investigações não pretendem estabelecer critérios para distinguir o


moralmente correto do moralmente errado -- o que seria o objetivo das Teorias
Morais, como as de Aristóteles e Immanuel Kant -- mas pretendem oferecer
suporte racional para que possamos escolher entre as diversas alternativas.
Por exemplo, se a análise do comportamento moral nos levar a concluir que a
Moralidade é uma questão mais emotiva do que racional, teríamos razões para
escolher Teorias Morais que priorizam os sentimentos como fundamento
explicativo do agir moral.

Os estudos realizados em Metaética consistem em questionamentos não


morais e são compostas por um conjunto de teses metafísicas, semânticas e
epistemológicas. A linguagem moral relaciona situações, pensamentos e atos a
valores morais, como em “Praticar bullying é errado”, mas podemos nos
questionar sobre se esses usos representam uma verdade ou se expressam
sentimentos quanto ao que avaliamos.

Embora a Ética seja entendida como um estudo do campo prático, a Metaética


é um estudo mais abstrato e teórico. Em todo caso, é um estudo que se seguiu,
historicamente, do debate entre as Teorias Morais e pretende não apenas
esclarecer a linguagem moral, mas também especificar o que são os valores
morais. Vestígios do que hoje chamamos de Metaética são encontrados em
toda a história da Filosofia, como na defesa de que a Justiça seria o que é
conveniente ao mais forte, feita por Trasímaco ou na argumentação de David
Hume sobre a impossibilidade de inferir julgamentos morais de fatos naturais.

Apesar de muitos filósofos terem refletido sobre a natureza dos valores morais
e da justificação do comportamento moral, esse campo de investigação
começa a se estabelecer propriamente após a publicação de Principia
Ethica (1903), de George Edward Moore. Esse filósofo considerou que a
pergunta pelo o que é realmente ‘bom’, em sentido moral, e não em outros
sentidos, como o de utilidade, nos levaria a eliminar qualquer resposta com
origem em ciências naturais, como a Biologia, a Psicologia e outras.

Qualquer tentativa de resposta, como dizer que ‘bom’ é a maximização do


bem-estar social, pode ser questionada, pois essa identificação ainda não
explica completamente o que é para algo ser moralmente bom.

“É certo que todos entendem a pergunta ‘Isso é bom?’. Quando pensam sobre
ela, o estado da mente é diferente do que seria se fossem perguntados ‘Isso é
prazeroso, desejável ou aprovado?’. Essas perguntas possuem um sentido
diferente a todos embora não possamos reconhecer em que aspecto são
distintas. Quando pensam em um ‘valor intrínseco’ ou em ‘dignidade
intrínseca”, ou dizem que algo ‘deveria existir’, têm diante de suas mentes o
único objeto - a única propriedade das coisas - a que eu chamo de ‘bom’. Todo
mundo está constantemente consciente dessa noção, embora jamais
possamos nos tornar nem um pouco conscientes de que isso é diferente de
outras noções das quais também somos conscientes.” (MOORE, 1993, p. 68,
tradução nossa)
Desde Principia Ethica, os estudos metaéticos estiveram mais relacionados à
Filosofia analítica e os filósofos que tentaram explicar a natureza dos valores
morais e dos conceitos morais dividem-se em naturalistas, que aceitam uma
explicação do comportamento moral por via natural, a saber, localizando o
fundamento dos valores morais nos sentimentos, nos acordos sociais ou na
cultura, e aqueles que rejeitam essa relação estreita entre aquilo que é
obrigatório ou o que se deve fazer, pensar e/ou acreditar e explicações que
dependem diretamente das decisões e escolhas do homem. Estes últimos
propõem, assim, que, embora haja moralidade porque os humanos existem,
não podemos dizer que o certo e o errado sejam simplesmente suas
invenções.

Bibliografia:

ROOJEN, Mark van. Metaethics: A Contemporary Introduction. New York:


Routledge, 2015. (Routledge Contemporary Introductions to Philosophy)

MOORE, G. E. Principia Ethica, rev. ed. Cambridge: Cambridge University


Press, 1993.

SHAFER-LANDAU, Russ. Moral Realism: A Defence. Oxford: Clarendon Press,


2003.

Texto originalmente publicado


em https://www.infoescola.com/filosofia/metaetica/

Você também pode gostar