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Ética

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Ética é, na filosofia, o estudo do conjunto de valores morais de um grupo ou indivíduo. A


palavra "ética" vem do grego ethos e significa caráter, disposição, costume, hábito.

Na filosofia clássica, a ética não se resumia à moral (entendida como "costume", ou "hábito", do
latim mos, mores), mas buscava a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver
e conviver, isto é, a busca do melhor estilo de vida, tanto na vida privada quanto em público. A
ética incluía a maioria dos campos de conhecimento que não eram abrangidos na física,
metafísica, estética, na lógica, na dialética e nem na retórica. Assim, a ética abrangia os campos
que atualmente são denominados antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, às
vezes política,e até mesmo educação física e dietética [carece de fontes], em suma, campos direta ou
indiretamente ligados ao que influi na maneira de viver ou estilo de vida. Um exemplo desta
visão clássica da ética pode ser encontrado na obra Ética, de Spinoza. Os filósofos tendem a
dividir teorias éticas em três áreas: metaética, ética normativa e ética aplicada.

Porém, com a crescente profissionalização e especialização do conhecimento que se seguiu à


revolução industrial, a maioria dos campos que eram objeto de estudo da filosofia,
particularmente da ética, foram estabelecidos como disciplinas científicas independentes. Assim,
é comum que atualmente a ética seja definida como "a área da filosofia que se ocupa do estudo
das normas morais nas sociedades humanas"[1] e busca explicar e justificar os costumes de um
determinado agrupamento humano, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas
mais comuns. Neste sentido, ética pode ser definida como a ciência que estuda a conduta humana
e a moral é a qualidade desta conduta, quando julga-se do ponto de vista do Bem e do Mal.

Ética, como um conceito, diferencia-se da moral pois, enquanto esta se fundamenta na


obediência a costumes e hábitos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar as ações
morais exclusivamente pela razão.[2][3] A ética também não deve ser confundida com a lei,
embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre
com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a
cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por outro lado,
a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética.
Índice
 1 Definição e objeto de estudo
o 1.1 Termo
o 1.2 Outras definições
 2 História da ética
o 2.1 Ética na filosofia pré-socrática
 2.1.1 Ética sofistica
 2.1.2 Ética socrática
 2.1.3 Platão
 2.1.4 Aristóteles
o 2.2 Ética na Idade Média, no Renascimento e no Iluminismo
 3 Visão
 4 Ética nas ciências
 5 Ver também
 6 Referências
 7 Ligações externas

Definição e objeto de estudo


O estudo da ética dentro da filosofia, pode-se dividir em sub-ramos, após o advento da filosofia
analítica no século XX, em contraste com a filosofia continental ou com a tradição filosófica.
Estas subdivisões são:

 Metaética, sobre a teoria da significação e da referencia dos termos e proposições morais


e como seus valores de verdade podem ser determinados
 Ética normativa, sobre os meios práticos de se determinar as ações morais
 Ética aplicada, sobre como a moral é aplicada em situações específicas
 Ética descritiva, também conhecido como ética comparativa, é o estudo das visões,
descrições e crenças que se tem acerca da moral
 Ética Moral, trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto
no âmbito coletivo como no âmbito individual.

Termo

Em seu sentido mais abrangente, o termo "ética" implicaria um exame dos hábitos da espécie
humana e do seu caráter em geral, e envolveria até mesmo uma descrição ou história dos hábitos
humanos em sociedades específicas e em diferentes épocas. Um campo de estudos assim seria
obviamente muito vasto para poder ser investigado por qualquer ciência ou filosofia particular.
Além disso, porções desse campo já são ocupadas pela história, pela antropologia e por algumas
ciências naturais particulares (como, por exemplo, a fisiologia, a anatomia e a biologia),se
considerarmos que o pensamento e a realização artística são hábitos humanos normais e
elementos de seu caráter. No entanto, a ética, propriamente dita, restringe-se ao campo particular
do caráter e da conduta humana à medida que esses estão relacionados a certos princípios –
comumente chamados de "princípios morais". As pessoas geralmente caracterizam a própria
conduta e a de outras pessoas empregando adjetivos como "bom", "mau", "certo" e "errado". A
ética investiga justamente o significado e escopo desses adjetivos tanto em relação à conduta
humana como em seu sentido fundamental e absoluto.[4]

Outras definições

Já houve quem definisse a ética como a "ciência da conduta". Essa definição é imprecisa por
várias razões. As ciências são descritivas ou experimentais, mas uma descrição exaustiva de
quais ações ou quais finalidades são ou foram chamadas, no presente e no passado, de "boas" ou
"más" encontra-se obviamente além das capacidades humanas. E os experimentos em questões
morais (sem considerar as consequências práticas inconvenientes que provavelmente
propiciariam) são inúteis para os propósitos da ética, pois a consciência moral seria
instantaneamente chamada para a elaboração do experimento e para fornecer o tema de que trata
o experimento. A ética é uma filosofia, não uma ciência. A filosofia é um processo de reflexão
sobre os pressupostos subjacentes ao pensamento irrefletido. Na lógica e na metafísica ela
investiga, respectivamente, os próprios processos de raciocínio e as concepções de causa,
substância, espaço e tempo que a consciência científica ordinária não tematiza nem critica. No
campo da ética, a filosofia investiga a consciência moral, que desde sempre pronuncia juízos
morais sem hesitação, e reivindica autoridade para submeter a críticas contínuas as instituições e
formas de vida social que ela mesma ajudou a criar.[4]

Quando começa a especulação ética, concepções como as de dever, responsabilidade e vontade –


tomadas como objetos últimos de aprovação e desaprovação moral – já estão dadas e já se
encontram há muito tempo em operação. A filosofia moral, em certo sentido, não acrescenta
nada a essas concepções, embora as apresente sob uma luz mais clara. Os problemas da
consciência moral, no instante em que essa pela primeira vez se torna reflexiva, não se
apresentam, estritamente falando, como problemas filosóficos.[4]

Ela se ocupa dessas questões justamente porque cada indivíduo que deseja agir corretamente é
constantemente chamado a responder questões como, por exemplo, "Que ação particular
atenderá os critérios de justiça sob tais e tais circunstâncias?" ou "Que grau de ignorância
permitirá que esta pessoa particular, nesse caso particular, exima-se de responsabilidade?" A
consciência moral tenta obter um conhecimento tão completo quanto possível das circunstâncias
em que a ação considerada deverá ser executada, do caráter dos indivíduos que poderão ser
afetados, e das consequências (à medida que possam ser previstas) que a ação produzirá, para
então, em virtude de sua própria capacidade de discriminação moral, pronunciar um juízo.[4]

O problema recorrente da consciência moral, "O que devo fazer?", é um problema que recebe
uma resposta mais clara e definitiva à medida que os indivíduos se tornam mais aptos a aplicar,
no curso de suas experiências morais, aqueles princípios da consciência moral que, desde o
princípio, já eram aplicados naquelas experiências. Entretanto, há um sentido em que se pode
dizer que a filosofia moral tem origem em dificuldades inerentes à natureza da própria
moralidade, embora permaneça verdade que as questões que a ética procura responder não são
questões com as quais a própria consciência moral jamais tenha se confrontado.[4]
O fato de que os seres humanos dão respostas diferentes a problemas morais que pareçam
semelhantes ou mesmo o simples fato de que as pessoas desconsideram, quando agem
imoralmente, os preceitos e princípios implícitos da consciência moral produzirão certamente,
cedo ou tarde, o desejo de, por um lado, justificar a ação imoral e pôr em dúvida a autoridade da
consciência moral e a validade de seus princípios; ou de, por outro lado, justificar juízos morais
particulares, seja por uma análise dos princípios morais envolvidos no juízo e por uma
demonstração de sua aceitação universal, seja por alguma tentativa de provar que se chega ao
juízo moral particular por um processo de inferência a partir de alguma concepção universal do
Supremo Bem ou do Fim Último do qual se podem deduzir todos os deveres ou virtudes
particulares.[4]

Pode ser que a crítica da moralidade tenha início com uma argumentação contra as instituições
morais e os códigos de ética existentes; tal argumentação pode se originar da atividade
espontânea da própria consciência moral. Mas quando essa argumentação torna-se uma tentativa
de encontrar um critério universal de moralidade – sendo que essa tentativa começa a ser, com
efeito, um esforço de tornar a moralidade uma disciplina científica – e especialmente quando a
tentativa é vista, tal como deve ser vista afinal, como fadada ao fracasso (dado que a consciência
moral supera todos os padrões de moralidade e realiza-se inteiramente nos juízos particulares),
pode-se dizer então que tem início a ética como um processo de reflexão sobre a natureza da
consciência moral.[4]

História da ética
Ética na filosofia pré-socrática

A especulação ética na Grécia não teve início abrupto e absoluto. Os preceitos de conduta,
ingênuos e fragmentários – que em todos os lugares são as mais antigas manifestações da
nascente reflexão moral –, são um elemento destacado na poesia gnômica dos séculos VII e VI
a.C. Sua importância é revelada pela tradicional enumeração dos Sete Sábios do século VI, e sua
influência sobre o pensamento ético é atestada pelas referências de Platão e Aristóteles. Mas,
desde tais pronunciamentos não-científicos até à filosofia da moral, foi um longo percurso. Na
sabedoria prática de Tales, um dos Sete, não se distingue nenhuma teoria da moralidade. No caso
de Pitágoras, que se destaca entre os filósofos pré-socráticos por ser o fundador não apenas de
uma escola, mas de uma seita ou ordem comprometida com uma regra de vida que obrigava a
todos os seus membros, há uma conexão mais estreita entre as especulações moral e metafísica.
A doutrina dos pitagóricos de que a essência da justiça (concebida como retribuição equivalente)
era um número quadrado indica uma tentativa séria de estender ao reino da conduta sua
concepção matemática do universo; e o mesmo se pode dizer de sua classificação do bem ao lado
da unidade, da reta e semelhantes e do mal ao lado das qualidades opostas. Ainda assim, o
pronunciamento de preceitos morais por Pitágoras parece ter sido dogmático, ou mesmo
profético, em vez de filosófico, e ter sido aceito por seus discípulos, numa reverência não-
filosófica, como o ipse dixit do mestre. Portanto, qualquer que tenha sido a influência da mistura
pitagórica de noções éticas e matemáticas sobre Platão, e, por meio deste, sobre o pensamento
posterior, a escola não é considerada uma precursora de uma investigação socrática que busca
uma teoria da conduta completamente racional. O elemento ético do "obscuro" filosofar de
Heráclito (c. 530-470 a.C.) – embora antecipasse o estoicismo em sua concepção de uma lei do
universo, com a qual o sábio buscará se conformar, e de uma harmonia divina, no
reconhecimento da qual encontrará sua satisfação mais verdadeira – é mais profunda, mas ainda
menos sistemática. Apenas em Demócrito, um contemporâneo de Sócrates e último dos
pensadores originais classificados como pré-socráticos, encontra-se algo que se pode chamar de
sistema ético. Os fragmentos que permaneceram dos tratados morais de Demócrito são talvez
suficientes para nos convencer de que reviravolta da filosofia grega em direção à conduta, que se
deveu de fato a Sócrates, teria ocorrido mesmo sem ele, ainda que de uma forma menos decidida;
mas, ao comparar-se a ética democriteana com o sistema pós-socrático com o qual tem mais
afinidade – o epicurismo – percebe-se que ela exibe uma apreensão bem rudimentar das
condições formais que o ensinamento moral deve atender antes que possa reivindicar o
tratamento dedicado às ciências.

A verdade é que nenhum tipo de sistema de ética poderia ter sido construído até que se
direcionasse a atenção à vagueza e inconsistência das opiniões morais comuns da humanidade.
Para esse propósito, era necessário que um intelecto filosófico de primeira grandeza se
concentrasse sobre os problemas da prática. Em Sócrates, encontra-se pela primeira vez a
requerida combinação de um interesse proeminente pela conduta com um desejo ardente por
conhecimento. Os pensadores pré-socráticos devotaram-se todos principalmente à pesquisa
ontológica; mas, pela metade do século V a.C. o conflito entre seus sistemas dogmáticos havia
levado algumas das mentes mais afiadas a duvidar da possibilidade de se penetrar no segredo do
universo físico. Essa dúvida encontrou expressão no ceticismo arrazoado de Górgias, e produziu
a famosa proposição de Protágoras de que a apreensão humana é o único padrão de existência. O
mesmo sentimento levou Sócrates a abandonar as antigas investigações físico-metafísicas. Essa
desistência foi incentivada, sobretudo, por uma piedade ingênua que o proibia de procurar coisas
cujo conhecimento os deuses pareciam ter reservado apenas para si mesmos. Por outro lado,
(exceto em ocasiões de especial dificuldade, nas quais se poderia recorrer a presságios e
oráculos) eles haviam deixado à razão humana a regulamentação da ação humana. A essa
investigação Sócrates dedicou seus esforços.[4]

Ética sofistica

Embora Sócrates tenha sido o primeiro a chegar a uma concepção adequada dos problemas da
conduta, a ideia geral não surgiu com ele. A reação natural contra o dogmatismo metafísico e
ético dos antigos pensadores havia alcançado o seu clímax com os sofistas. Górgias e Protágoras
são apenas dois representantes do que, na verdade, foi uma tendência universal a abandonar a
teorização dogmática e estritamente ontológica e a se refugiar nas questões práticas –
especialmente, como era natural na cidade-estado grega, nas relações cívicas do cidadão.

A educação oferecida pelos sofistas não tinha por objetivo nenhuma teoria geral da vida, mas
propunha-se ensinar a arte de lidar com os assuntos mundanos e administrar negócios públicos.
Em seu encômio às virtudes do cidadão, apontaram o caráter prudencial da justiça como meio de
obter prazer e evitar a dor. Na concepção grega de sociedade, a vida do cidadão livre consistia
principalmente em suas funções públicas, e, portanto, as declarações pseudoéticas dos sofistas
satisfaziam as expectativas da época. Não se considerava a ἀρετἠ (virtude ou excelência) como
uma qualidade única, dotada de valor intrínseco, mas como virtude do cidadão, assim como tocar
bem a flauta era a virtude do tocador de flauta. Percebe-se aqui, assim como em outras atividades
da época, a determinação de adquirir conhecimento técnico e de aplicá-lo diretamente a assuntos
práticos; assim como a música estava sendo enriquecida por novos conhecimentos técnicos, a
arquitetura por teorias modernas de planejamento e réguas T (ver Hipódamo), o comando de
soldados pelas novas técnicas da "tática" e dos "hoplitas", do mesmo modo a cidadania deve ser
analisada como inovação, sistematizada e adaptada conforme exigências modernas. Os sofistas
estudaram esses temas superficialmente, é certo, mas abordaram-nos de maneira abrangente, e
não é de se estranhar que tenham lançado mão dos métodos que se mostraram bem-sucedidos na
retórica e tenham-nos aplicado à "ciência e arte" das virtudes cívicas.

O Protágoras de Platão alega, não sem razão, que ao ensinar a virtude eles simplesmente faziam
sistematicamente o que todos os outros faziam de modo caótico. Mas no verdadeiro sentido da
palavra, os sofistas não dispunham de um sistema ético, nem fizeram contribuições substanciais,
salvo por um contraste com a especulação ética. Simplesmente analisaram as fórmulas
convencionais, de maneira bem semelhante a de certos moralistas (assim chamados)
"científicos".

Ética socrática

Sócrates, "o primeiro nome importante na filosofia ética antiga."

A essa arena de senso-comum e vagueza, Sócrates trouxe um novo espírito crítico, e mostrou que
esses conferencistas populares, a despeito de sua fértil eloquência, não podiam defender suas
suposições fundamentais nem sequer oferecer definições racionais do que alegavam explicar.
Não só eram assim "ignorantes" como também perenemente inconsistentes ao lidar com casos
particulares. Desse modo, com o auxílio de sua famosa "dialética", Sócrates primeiramente
chegou ao resultado negativo de que os pretensos mestres do povo eram tão ignorantes quanto
ele mesmo afirmava ser, e, em certa medida, justificou o encômio de Aristóteles de ter prestado o
serviço de "introduzir a indução e as definições" na filosofia. No entanto, essa descrição de sua
obra é muito técnica e muito positiva, se avaliada com base nos primeiros diálogos de Platão, em
que o verdadeiro Sócrates encontra-se menos alterado. Sócrates sustentava que a sabedoria
preeminente que o oráculo de Delfos lhe atribuiu consistia numa consciência única da
ignorância. No entanto, é igualmente claro, com base em Platão, que houve um elemento
positivo muito importante no ensinamento de Sócrates, que justifica afirmar, junto com
Alexander Bain, que "o primeiro nome importante na filosofia ética antiga é Sócrates".

A união dos elementos positivo e negativo de sua obra tem causado alguma perplexidade entre
os historiadores, e a consistência do filósofo depende do reconhecimento de algumas doutrinas a
ele atribuídas por Xenofonte como meras tentativas provisórias. Ainda assim, as posições de
Sócrates mais importantes na história do pensamento ético são fáceis de harmonizar com sua
convicção de ignorância e tornam ainda mais fácil compreender sua infatigável inquirição da
opinião comum. Enquanto mostrava claramente a dificuldade de adquirir conhecimento, Sócrates
estava convencido de que somente o conhecimento poderia ser a fonte de um sistema coerente da
virtude, assim como o erro estava na origem do mal. Assim, Sócrates, pela primeira vez na
história do pensamento, propõe uma lei científica positiva de conduta: a virtude é conhecimento.
Esse princípio envolvia o paradoxo de que a pessoa que sabe o que é o bem não pratica o mal.
Mas esse é um paradoxo derivado de seus truísmos irretorquíveis: "Toda a pessoa deseja o seu
próprio bem e obtê-lo-ia se pudesse" e "Ninguém negaria que a justiça e a virtude em geral são
bens; e entre todos, os melhores". Todas as virtudes, portanto, estão sintetizadas no
conhecimento do bem. Mas esse bem, para Sócrates, não é um dever que se opõe ao interesse
próprio. A força do paradoxo depende de uma fusão do dever e do interesse numa única noção de
bem, uma fusão que era prevalecente no modo de pensar da época. Isso é o que forma o núcleo
do pensamento positivo de Sócrates, segundo Xenofonte. Ele não podia oferecer nenhuma
abordagem satisfatória do Bem em abstrato, e esquivava-se de qualquer questão sobre esse ponto
dizendo que não conhecia "nenhum bem que não fosse bom para alguma coisa em particular",
mas esse bem particular é consistente consigo mesmo. Quanto a si, estimava acima de todas as
coisas a virtude da sabedoria; e, no intuito de alcançá-la, enfrentava a penúria mais severa,
sustentando que uma vida assim seria mais rica em satisfação que uma vida de luxo. Essa visão
multidimensional é ilustrada pela curiosa mistura de sentimentos nobres e meramente utilitários
em sua abordagem sobre a amizade: um amigo que não nos traga benefícios não vale nada; no
entanto, o maior benefício que um amigo pode nos trazer é o aperfeiçoamento moral.

As características historicamente importantes de sua filosofia moral, tomando-se conjuntamente


seus ensinamentos e o seu caráter pessoal, podem ser sintetizados da seguinte maneira: (1) uma
busca apaixonada por um conhecimento que não está disponível em lugar algum, mas que, se
encontrado, aperfeiçoará a conduta humana; (2) simultaneamente, uma exigência de que os
homens deveriam agir na medida do possível conforme uma teoria coerente; (3) uma adesão
provisória à concepção recebida sobre o que é bom, com toda a sua complexidade e incoerência,
e uma prontidão permanente em sustentar a harmonia de seus diversos elementos, e em
demonstrar a superioridade da virtude mediante um apelo ao padrão do interesse próprio; (4)
firmeza pessoal em adotar essas convicções práticas. É só quando se tem em vista todos esses
pontos que se pode compreender como, das conversações socráticas, brotaram as diferentes
correntes do pensamento ético grego.

Quatro escolas diferentes têm sua origem imediata no círculo que se reuniu em torno de Sócrates
– a escola megárica, a platônica, a cínica e a cirenaica. A influência do mestre manifesta-se em
todas apesar das grandes diferenças que as separam; todas concordam em sustentar que a
possessão mais importante do homem é a sabedoria ou o conhecimento, e que o conhecimento
mais importante a ser adquirido é o conhecimento do Bem. Aqui, no entanto, termina a
concordância. A parte mais filosófica do círculo socrático constituiu um grupo do qual Euclides
de Mégara foi provavelmente o primeiro líder. Esse grupo admitia que o Bem era objeto de uma
investigação ainda inconclusa e foram levados a identificá-lo com o segredo do universo e, desse
modo, a passar da ética à metafísica. Outros, cujas exigências por conhecimento eram mais
facilmente satisfeitas e estavam ainda sob a impressão causada pelo lado positivo e prático dos
ensinamentos do mestre, tornaram a busca um assunto bem mais simples. Consideraram que o
Bem já era conhecido e sustentaram que a filosofia consistia na aplicação rígida desse
conhecimento às ações. Entre esses estavam Antístenes, o cínico, e Aristipo de Cirene. Ambos
admitiram o dever de viver consistentemente conforme a teoria, em vez de conduzi-la por
impulso ou pelo costume. Por sua noção de um novo valor conferido à vida por meio dessa
racionalização, e por seus esforços em manter uma firmeza inabalável, calma e tranquila, de
têmpera socrática, é que Antístenes e Aristipo são reconhecidos como "homens socráticos",
apesar de terem dividido a doutrina positiva do mestre em sistemas diametralmente opostos.
Acerca de seus princípios conflitantes, pode-se dizer que, enquanto Aristipo efetivou a transição
lógica mais óbvia para reduzir os ensinamentos de Sócrates a uma clara unidade dogmática,
Antístenes certamente extraiu a inferência mais natural que se poderia tirar da vida socrática.

Aristipo argumentava que, se tudo o que é belo ou admirável no comportamento deriva essas
qualidades de sua utilidade, isto é, de sua aptidão em produzir um bem maior; e, se a ação
virtuosa é essencialmente uma ação realizada com previsão – com a apreensão racional de que a
ação é o meio adequado para a aquisição daquele bem –; então aquele bem só pode ser o prazer.
Aristipo sustentava que os prazeres e dores corporais são os mais incisivos, mas não parece ter
defendido essa ideia em termos de uma teoria materialista, pois admitia a existência de prazeres
exclusivamente mentais, tais como alegrar-se com a prosperidade da terra natal. Admitia
plenamente que esse bem poderia se realizar apenas em partes sucessivas, e deu ênfase até
exagerada à regra de buscar o prazer do momento e não se preocupar com o futuro. Para
Aristipo, a sabedoria manifestava-se na seleção tranquila, resoluta e habilidosa dos prazeres que
as circunstâncias ofereciam de momento a momento, sem se deixar perturbar pela paixão, pelo
preconceito ou pela superstição; e a tradição representa-o como alguém que realizou esse ideal
em grau impressionante. Entre os preconceitos dos quais o homem sábio estaria livre, Aristipo
inclui a obediência às convenções ditadas pelo costume que não tivessem penalidades vinculadas
à sua transgressão; no entanto, sustentava, assim como Sócrates, que essas penalidades tornavam
razoável adotar uma postura de conformismo. Assim, logo nos primórdios da teoria ética, já
aparecia uma exposição completa e minuciosa do hedonismo.

Bem diferente era a compreensão de Antístenes e dos cínicos a respeito do espírito socrático.
Eles igualmente sustentavam que nenhuma pesquisa especulativa seria necessária à descoberta
do bem e da virtude, e defenderam que a sabedoria socrática não se exibiu numa busca
habilidosa pelo prazer; mas, ao contrário, numa indiferença racional em relação ao prazer – numa
nítida compreensão de que não há valor algum no prazer nem em outros objetos dos desejos mais
comuns acalentados pelos homens. Antístenes, com efeito, declarou taxativamente que o prazer é
um mal: "É melhor a loucura que ceder ao prazer". Ele não desconsiderou a necessidade de
complementar o insight meramente intelectual com a "força de espírito socrática"; mas parecia-
lhe que, por uma combinação de insight e autocontrole, a pessoa poderia conquistar uma
independência espiritual absoluta que nada deixaria faltar a um perfeito bem-estar (ver também
Diógenes de Sínope). Pois, quanto à pobreza, à labuta extenuante, ao desapreço e aos outros
males que apavoram os homens, esses seriam úteis, argumentava ele, como meios de avançar na
liberdade e virtude espiritual. Entretanto, na concepção cínica de sabedoria, não há um critério
positivo além da mera rejeição dos preconceitos e dos desejos irracionais. Vimos que Sócrates
não alegava ter descoberto uma teoria abstrata sobre a boa ou sábia conduta; ao mesmo tempo,
entendia essa falta, em sentido prático, como motivo para a execução confiante dos deveres
costumeiros, sustentando sempre que sua própria felicidade estava condicionada a essa prática.
Os cínicos, de modo mais ousado, descartaram tanto o prazer como o mero costume por
considerarem ambos irracionais; mas, ao fazerem isso, deixaram a razão liberada sem nenhum
objetivo definido além de sua própria liberdade. É absurdo, tal como Platão apontou, dizer que o
conhecimento é o bem e, depois, quando nos indagam "conhecimento de quê?" não ter outra
resposta positiva senão "do bem"; mas os cínicos não parecem ter feito nenhum esforço sério de
escapar a esse contrassenso.[4]

Platão

A ética de Platão não pode ser tratada adequadamente como um produto acabado; mas sim como
um movimento contínuo, a partir da posição de Sócrates, em direção ao sistema mais completo e
articulado de Aristóteles, exceto por sugestões de teor ascético e místico em algumas partes dos
ensinamentos de Platão que não encontram correspondência em Aristóteles, e que, de fato,
desaparecem da filosofia grega logo após a morte de Platão, para bem mais tarde ressurgirem e
serem entusiasticamente desenvolvidas pelo neopitagorismo e pelo neoplatonismo. O primeiro
ponto em que se pode identificar uma concepção ética platônica distinta da de Sócrates está
presente no Protágoras. Nesse diálogo, Platão envida esforços genuínos, embora nitidamente
tenteadores, em definir o objeto daquele conhecimento que ele e seu mestre consideravam ser a
essência de toda a virtude. Esse conhecimento seria na verdade uma mensuração de prazeres e
dores por meio da qual o sábio evita erroneamente subestimar as sensações futuras em
comparação com o que se costuma chamar de "ceder ao medo e ao desejo". Esse hedonismo tem
intrigado os leitores de Platão. Mas não há razão para perplexidades, pois o hedonismo é o
corolário mais óbvio daquela doutrina socrática segundo a qual cada uma das diferentes noções
de bem – o belo, o prazeroso e o útil – deve ser de alguma forma interpretada em termos das
outras. No que diz respeito a Platão, no entanto, essa conclusão só podia ser mantida enquanto
ele não tivesse executado o movimento intelectual de levar o método socrático para além do
campo do comportamento humano e desenvolvê-lo num sistema metafísico.

Esse movimento pode ser expresso da seguinte maneira. "Se soubéssemos", dizia Sócrates, "o
que é a justiça, seríamos capazes de apresentar uma definição da justiça"; o verdadeiro
conhecimento deve ser um conhecimento do fato geral, comum a todos os casos individuais aos
quais são aplicados a noção geral. Mas isso também é verdade em relação a outros objetos de
pensamento e discurso; a mesma relação entre noções gerais e exemplos particulares se estende
por todo o universo físico; só se pode pensar e falar sobre ele por meio de tais noções. O
conhecimento verdadeiro ou científico, portanto, deve ser um conhecimento geral, relacionado
primariamente não aos indivíduos, mas aos fatos ou qualidades gerais que os indivíduos
exemplificam; de fato, a noção de um indivíduo, quando examinada, mostra-se como um
agregado daquelas qualidades gerais. Mas, novamente, o objeto do verdadeiro conhecimento
deve ser o que realmente existe; assim, a realidade do universo deve se apoiar em fatos ou
relações gerais, e não nos indivíduos que exemplificam tais fatos e relações.
Até aqui os passos são suficientemente claros; mas ainda não se vê como esse realismo lógico
(como foi posteriormente chamada essa posição) resulta no caráter essencialmente ético do
platonismo. A filosofia de Platão está voltada para o universo inteiro do ser; no entanto, o objeto
último de sua contemplação filosófica ainda é "o bem", agora considerado como o fundamento
último de todo o ser e de todo o conhecimento. Ou seja, a essência do universo é identificada
com esse fim – a causa "formal" das coisas é identificada com a sua causa "final", conforme a
posterior terminologia aristotélica. Como isso ocorre?

Talvez a melhor maneira de explicá-lo esteja num retorno à aplicação original do método
socrático aos assuntos humanos. Uma vez que toda a atividade racional tem em vista alguma
finalidade, as diferentes artes e funções da indústria humana são naturalmente definidas por uma
declaração sobre seus usos ou finalidades; analogamente, ao oferecer uma explicação sobre os
vários artistas e funcionários, apresentamos necessariamente as suas finalidades – "aquilo em que
eles são bons". Numa sociedade organizada segundo os princípios socráticos, todos os seres
humanos seriam designados para alguma utilidade; a essência de suas vidas consistiria em fazer
aquilo em que são bons (o seu εργον próprio). Mas, novamente, é fácil estender essa concepção
para todo o campo da vida organizada; um olho que não alcança a sua finalidade de enxergar está
destituído da essência do olho. Em resumo, pode-se dizer acerca de todos os órgãos e
instrumentos que eles são o que pensamos deles à medida que cumprem a sua função e alcançam
sua finalidade. Assim, se o universo for concebido organicamente como um arranjo complexo de
meios para fins, entende-se por que Platão pode sustentar que todas as coisas realmente são (ou
"realizam sua ideia"), à medida que alcançam o fim ou o bem especial para o qual foram
dispostas. Mesmo Sócrates, apesar de sua aversão à física, foi levado pela reflexão piedosa a
expor uma visão ideológica do mundo físico, um mundo organizado em todas as suas partes pela
sabedoria divina para a realização de alguma finalidade divina; e a viragem metafísica que Platão
imprimiu a essa visão foi provavelmente antecipada por Euclides de Mégara, que sustentava que
o único ser real é "aquilo que chamamos por diversos nomes: Bem, Sabedoria, Razão ou Deus",
aos quais Platão, alçando a identificação socrática da beleza com a utilidade a um significado
mais elevado, acrescentou o nome do Belo Absoluto, ao explicar como o amor à beleza mostra-
se em última instância como um anseio pela finalidade e pela essência do ser.

Platão, portanto, aderiu a essa vasta orientação filosófica, e identificou as noções últimas da ética
com as da ontologia. É necessário analise agora que atitude adotará em relação às investigações
práticas que foram o seu ponto de partida. Quais serão agora suas concepções de sabedoria,
virtude, prazer e de suas relações com o bem-estar?
Buon Governo (detalhe), afresco de Ambrogio Lorenzetti. Na ética platônica, a Sabedoria (alto) e
a Justiça (centro) são as virtudes fundamentais para a boa condução tanto da vida particular
como do Estado.

A filosofia, agora, saiu da praça do mercado e entrou na sala de aula. Sócrates buscava uma arte
de se conduzir que seria exercida num mundo prático e entre semelhantes. Mas, se os objetos do
pensamento abstrato constituem o mundo real, do qual esse mundo de coisas individuais é
apenas uma sombra, é evidente que a vida mais elevada e mais real será encontrada naquela
primeira região, não nessa última. A verdadeira vida do espírito deve consistir na contemplação
da realidade abstrata que as coisas concretas obscuramente representam – na contemplação do
arquétipo ou ideal que os indivíduos sensíveis imitam imperfeitamente; e, como o homem é mais
verdadeiramente homem à medida que se identifica com a sua mente, o desejo pelo bem de si
mesmo, que Platão, seguindo Sócrates, sustentava ser permanente e essencial em todas as coisas
vivas, revela-se em sua forma mais elevada como o anseio filosófico por conhecimento. Esse
anseio surge – assim como a maioria dos impulsos sensuais – com uma percepção de que falta ao
indivíduo alguma coisa anteriormente possuída, alguma coisa da qual ele mantém uma memória
latente na alma. No aprendizado de uma verdade abstrata por demonstração científica, o
indivíduo simplesmente torna explícito o que já sabia implicitamente; traz à clareza da
consciência as memórias ocultas decorrentes de um estado anterior em que a alma contemplava
diretamente a Realidade e o Bem, antes de ela ser aprisionada num corpo estranho e antes da
mistura de sua verdadeira natureza com os sentimento e impulsos carnais. Chega-se assim ao
paradoxo de que a verdadeira arte de viver é, na verdade, uma "arte de morrer" para os sentidos,
a fim de existir em estreita união com a bondade e a beleza absoluta. Por outro lado, dado que o
filósofo deve ainda viver e atuar no mundo sensível, a identificação socrática entre sabedoria e
virtude é plenamente mantida por Platão. Somente aquele que capta o bem em abstrato pode
reproduzi-lo como bem transitório e imperfeito na vida humana, e é impossível que, dispondo
desse conhecimento, não aja de acordo com ele, seja em assuntos privados, seja em assuntos
públicos. Assim, no verdadeiro filósofo, encontra-se necessariamente o homem bom em sentido
prático, e também o estadista perfeito, caso a organização da sociedade permita-lhe exercer a sua
habilidade estadística.
Os traços característicos dessa bondade prática no pensamento maduro de Platão refletem as
noções fundamentais de sua concepção de universo. A alma do homem, em seu estado bom e
normal, deve estar organizada e harmonizada conforme a orientação da razão. Surge então a
questão: "Em que consiste essa ordem ou harmonia?" Para esclarecer a resposta elaborada por
Platão, convém notar que, embora mantivesse a doutrina socrática de que a virtude mais elevada
é indissociável do conhecimento do bem, Platão reconhecia uma espécie inferior de virtude,
possuída por homens que não eram filósofos. É evidente que, se o bem a ser conhecido é o
fundamento último de todas as coisas, ele só pode ser alcançado por um restrito e seleto grupo.
No entanto, não se pode restringir a virtude apenas a esse grupo. Que abordagem, então, deve ser
dada às virtudes "cívicas" ordinárias – coragem, temperança e justiça? Parece claro que os
homens que cumprem os seus deveres, resistindo às seduções do medo e do desejo, devem ter, se
não conhecimento, ao menos opiniões corretas quanto ao bem e ao mal na vida humana; mas de
onde viriam essas "opiniões" corretas? Vêm em parte, diz Platão, da natureza e da "alocação
divina"; mas, para seu adequado desenvolvimento, são necessários "o costume e a prática". Daí a
importância basilar da educação e da disciplina para a virtude cívica; e mesmo para os futuros
filósofos é indispensável essa cultura moral, em que também cooperam o treinamento físico e
estético (uma preparação apenas intelectual não basta). O conhecimento perfeito, por outro lado,
não pode ser implantado numa alma que não tenha passado por uma preparação que inclui bem
mais que o treinamento físico. O que é essa preparação? Um passo importante na análise
psicológica foi dado quando Platão reconheceu que o efeito dessa preparação era produzir a
"harmonia" acima mencionada entre as diferentes partes da alma, de modo que os impulsos se
subordinassem à razão. Platão distinguiu esses elementos não-racionais num componente
concupiscível (το επιθυµητικον) e num componente irascível (το θυµοειδες ou θυµος) – e
afirmou que a separação entre esses dois elementos, e entre esses e a razão, é estabelecida pela
experiência que o indivíduo tem de sua vida interior.

Nessa tripartição da alma, Platão encontrou uma concepção sistemática das quatro espécies de
virtudes reconhecidas pela moral estabelecida da Grécia – mais tarde chamadas de Virtudes
Cardinais. Dessas, as duas mais fundamentais eram a sabedoria – que em sua forma superior
identifica-se com a filosofia – e aquela atividade harmoniosa e regulada de todos os elementos da
alma, que Platão toma como a essência da retidão nas relações sociais (δικαιοσινη). O sentido
desse termo é essencialmente social; e só se pode explicar o uso desse termo por Platão numa
referência à analogia que ele traça entre o homem individual e a comunidade. Numa polis
justamente ordenada, tanto o bem-estar social como o bem-estar individual dependeriam da
interação harmoniosa daqueles diversos elementos, cada um deles desempenhando a sua função
própria, a qual, em sua aplicação social, é mais naturalmente denominada δικαιοσινη. Vemos,
além disso, como na concepção platônica as virtudes fundamentais da Sabedoria e da Justiça
estão interconectadas. A sabedoria mantém necessariamente a atividade ordenada, e essa última
consiste na regulação pela sabedoria; enquanto que as duas outras virtudes especiais – a Coragem
(ανδρεια) e a Temperança (σωφροσινη) – são apenas lados ou aspectos diferentes dessa ação
sabiamente regulada de uma alma composta.

Essas são as formas como o bem essencial se manifesta na vida humana. Resta saber se a
apresentação dessas formas fornece uma explicação completa do bem-estar humano ou se
também se deve incluir o prazer. Nesse ponto, o pensamento de Platão parece ter sofrido várias
oscilações. Depois de aparentemente sustentar que o prazer é o bem (Protágoras), ele passa para
o extremo oposto, rejeitando qualquer assimilação entre bem e prazer (Fédon, Górgias); pois (1),
sendo algo concreto e transitório, o prazer não é o bem verdadeiramente essencial que o filósofo
está a buscar; (2) as sensações mais prontamente reconhecidas como prazeres estão associadas à
dor, num vínculo completamente estranho à natureza do bem, uma vez que esse último jamais se
associa ao mal. No entanto, essa era uma concepção que discordava tanto do socratismo que
Platão não poderia permanecer nela. Que o prazer não fosse um bem absoluto não era
justificativa para não incluí-lo entre os bens da vida humana concreta; além disso, somente os
prazeres brutos e vulgares estão indissociavelmente ligados às dores da carência. Desse modo, na
República, ele não receia tomar o prazer como parâmetro para responder à questão sobre a
superioridade intrínseca da vida filosófica ou virtuosa, e argumenta que só o homem filosófico
(ou bom) desfruta o prazer genuíno, ao passo que o sensualista gasta a sua vida oscilando entre a
carência dolorosa e o estado neutral de falta-de-dor, que ele equivocadamente toma por prazer
positivo. Ainda mais enfaticamente, declara-se nas Leis que, quando se está "dissertando para
homens, não para deuses", deve-se mostrar que a vida que se estima como a melhor e mais nobre
é também aquela em que o prazer supera em maior proporção a dor. Mas, embora Platão
mantenha que essa conexão inquebrantável entre o melhor e o mais prazeroso seja verdadeira e
importante, é apenas em benefício do vulgo que ele dá essa ênfase ao prazer; pois, na
comparação mais filosófica apresentada no Filebo entre as alegações do prazer e as da sabedoria,
as primeiras são completamente subjugadas.

Aristóteles

Aristóteles, importante filósofo da antiguidade.

Aristóteles, em sua obra Ética a Nicômaco, afirma que a felicidade (eudemonia) não consiste
nem nos prazeres, nem nas riquezas, nem nas honras, mas numa vida virtuosa. A virtude (areté),
por sua vez, se encontra num justo meio entre os extremos, que será encontrada por aquele
dotado de prudência (phronesis) e educado pelo hábito no seu exercício.

Para Epicuro a felicidade consiste na busca do prazer, que ele definia como um estado de
tranquilidade e de libertação da superstição e do medo (ataraxia), assim como a ausência de
sofrimento (aponia). Para ele, a felicidade não é a busca desenfreada de bens e prazeres
corporais, mas o prazer obtido pelo conhecimento, amizade e uma vida simples. Por exemplo, ele
argumentava que ao comer, o indivíduo obtém prazer não pelo excesso ou pelo luxo culinário
(que leva a um prazer fortuito, seguido pela insatisfação), mas pela moderação, que torna o
prazer um estado de espírito constante, mesmo se ele se alimenta simplesmente de pão e água. [5]

Para os estoicos, a felicidade consiste em viver de acordo com a lei racional da natureza e
aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo. O homem sábio obedece à lei
natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo, devendo
assim manter a serenidade e indiferença perante as tragédias e alegrias.

Para os céticos da antiguidade, nada podemos saber, pois sempre há razões igualmente fortes
para afirmar ou negar qualquer teoria, além do que toda teoria é indemonstrável (um dos
argumentos é que toda demonstração exige uma demonstração e assim ad infinitum). Defender
qualquer teoria, então, traz sofrimentos desnecessárias e inúteis. Assim, os céticos advogavam a
"suspensão do juízo" (epokhé). Por exemplo, aquele que não imagina que a dor é um mal não
sofre senão da dor presente, enquanto que aquele que julga a dor um mal duplica seu sofrimento
e mesmo sofre sem dor presente, sendo a mera ideia do mal da dor às vezes mais dolorosa que a
própria dor.[6]

Ética na Idade Média, no Renascimento e no Iluminismo

Enquanto na antiguidade todos os filósofos entendiam a ética como o estudo dos meios de se
alcançar a plenitude (eudaimonia) e investigar o que significa felicidade, na idade média, a
filosofia foi dominada pelo cristianismo e pelo islamismo, e a ética se centralizou na moral como
interpretação dos mandamentos e preceitos religiosos.

No renascimento e nos séculos XVII e XVIII, os filósofos redescobriram os temas éticos da


antiguidade, e a ética foi entendida novamente como o estudo dos meios de se alcançar o bem
estar, a felicidade e o bom modo de conviver tendo por base sua fundamentação pelo pensamento
humano e não por preceitos recebidos das tradições religiosas.

Espinoza, em sua obra Ética, afirma que a felicidade consiste em compreender e criar as
circunstâncias que aumentem nossa potência de agir e de pensar, proporcionando o afeto de
alegria e libertando-nos das determinações alheias (paixões), isto é, afirmando a necessidade de
nossa própria natureza (conatus). Unicamente a alegria nos leva ao amor ("alegria que
associamos a uma causa exterior a nós") no cotidiano e na convivência com os outros, enquanto
a tristeza jamais é boa, intrinsecamente relacionada ao ódio ("tristeza que associamos a uma
causa exterior a nós"), a tristeza sempre é destrutiva.[7][8] Espinosa dizia, quanto aos dominados
pelas paixões: "Não rir nem chorar, mas compreender."[9]

Visão
Protesto contra o aborto.

A ética tem sido aplicada na economia, política e ciência política, conduzindo a muitos distintos
e não-relacionados campos de ética aplicada, incluindo: ética nos negócios e Marxismo.

Também tem sido aplicada à estrutura da família, à sexualidade, e como a sociedade vê o papel
dos indivíduos, conduzindo a campos da ética muito distintos e não-relacionados, como a ética
feminista e a guerra, por exemplo.

A visão descritiva da ética é moderna e, de muitas maneiras, mais empírica sob a filosofia Grega
clássica, especialmente Aristóteles.

Inicialmente, é necessário definir uma sentença ética, também conhecido como uma afirmativa
normativa. Trata-se de um juízo de fato ou juízo de valor (em termos morais) de alguma coisa.

Juízo de valor são frases que usam palavras como bom, mau, certo, errado, moral, imoral, etc, .

Aqui vão alguns exemplos:

 “Salomão é uma boa pessoa”


 “As pessoas não devem roubar”
 “A honestidade é uma virtude”

Em contraste, um Juízo de fato precisa ser uma sentença que não serve para uma avaliação
moral. Alguns exemplos são:

 “Salomão é uma pessoa alta”


 “As pessoas se deslocam nas ruas”
 "João é o chefe".
Ética nas ciências
 A principal lei ética na robótica é:
o Um robô jamais deve ser projetado para machucar pessoas ou lhes fazer mal.
 Na biologia:
o Um assunto que é bastante polémico é a clonagem: uma parte dos ativistas
considera que, pela ética e bom senso, a clonagem só deve ser usada, com seu
devido controle, em animais e plantas somente para estudos biológicos - nunca
para clonar seres humanos.
 Na Programação
o Nunca criar programas (softwares) para prejudicar as pessoas, como para roubar
ou espionar.

Ver também
 Bioética
 Ética da discussão
 Ética empresarial
 Ética jornalística
 Ética na educação
 Ética no direito
 Ética na Internet
 Metaética
 Sócrates
 Religião

Referências
1.

 «Ethics: an overview» (em inglês). Cornell University of Law School. Consultado em 11 de


abril de 2008
  Gilles Deleuze, Espinosa: Filosofia Prática, p.23-35. Editora Escuta
  «O que é Ética». Consultado em 11 de abril de 2008
  Ethics, in The Encyclopaedia Britannica: a dictionary of arts, sciences, literature and
general information. 11.ª ed. New York, 1911. pp. 808-845.
  «Carta a Meneceus» (em inglês)
  Os Céticos Gregos, Victor Brochard, pág 338, Odysseus Editora, 2009
  Wolfgang Bartuscha, Espinosa, ARTMED EDITORA SA, 2010
  Gilles Deleuze, Espinosa, Filosofia Prática

9.  Tratato Político, coleção Os Pensadores

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Citações no Wikiquote

 O Que é Ética, Clóvis de Barros Filho, Espaço Ética (em português)[ligação inativa]
 Comissão ética em pesquisa (em português)[ligação inativa]
 Ética e Moral no site DireitoDaIndormatica.com.br (em português)
 " Estética e ética em Kant"[ligação inativa]
 Ethics Resource Center (em inglês)
 UB Center (em inglês)
 Ethics updates (em inglês)
 Institute for Global Ethics (em inglês)
 The Internet Encyclopedia of Philosophy (em inglês)
 Online Journal of Ethics (em inglês)[ligação inativa]
 MEC - Ética - Programa de Desenvolvimento Profissional Continuado (em inglês)
 The Galilean Library (em inglês)[ligação inativa]
 Stanford Encyclopedia of Philosophy (em inglês)
 Ethics Resource Center (em inglês)

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 A ÉTICA NA IDADE MÉDIA


 Publicado em 16 de March de 2017 por JOSE MARIA MACIEL LIMA

 A ÉTICA NA IDADE MÉDIA



 JOSÉ MARIA MACIEL LIMA[1]




 RESUMO

 O presente artigo tem como objetivo estudar a ética na Idade Média para investigar como
se davam as relações éticas neste período e compreender como eram julgadas as ações
humanas na era medieval. O estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica
por meio de uma abordagem qualitativa. O instrumento de coleta de dados utilizado na
pesquisa foi à coleta bibliográfica. Para tanto, buscaremos compreender os escritos
deixados por filósofos deste período, tais como: Santo Agostinho e Tomás de Aquino que
abordam a ética em uma perspectiva dicotômica, ou seja, a relação entre homem e Deus,
entre o bem e o mal, enfatizando principalmente, o problema do mal. Através deste
estudo, podemos constatar que os valores éticos que habitavam a era medieval eram
valores extremamente religiosos. Provavelmente não se tinham princípios éticos e morais
independentes das normas estabelecidas pelo cristianismo. As ações do homem eram
julgadas apenas do ponto de vista religioso. O homem agia de acordo com os
mandamentos da lei de Deus. A Bíblia deveria ser obedecida a todo custo. Os
julgamentos das ações humanas estavam concentrados nas mãos da Igreja Católica. Era
ela que decidia se uma determinada ação estava certa ou errada, justa ou injusta.
Constatamos também que os princípios de liberdade estavam baseados no princípio do
livre-arbítrio, estabelecido por Santo Agostinho. O homem era livre para escolher o
caminho que queria traçar. Neste princípio de liberdade é que consistia o problema do
mal.

 Palavras-chave: Idade Média. Ética. Liberdade. Homem. Deus.

 INTRODUÇÃO

 A Idade Média é um período marcado pela supremacia total da Igreja Católica Apostólica
Românica. Sendo assim, a sociedade medieval estava à mercê das determinações da
Instituição maior do Cristianismo. As decisões, de um modo geral, teriam que está em
consonância com os mandamentos da Igreja que comandava a sociedade medieval.
Assim, todas as produções, as criações e principalmente os valores éticos e morais teriam
que ter como base os princípios fundamentais do cristianismo.
 A ética tem sido discutida em diversas perspectivas, em diferentes períodos históricos.
Neste trabalho, pretendemos abordar a ética em apenas um período da historia, a ética na
Idade Média. Este estudo tem por objetivo investigar como se davam as relações éticas e
como eram jugadas as ações humanas neste período. Primeiramente, estabelecemos o
significado etimológico do termo ética. Em seguida, procuramos definir o que é ética,
catalogamos vários conceitos de ética com base em alguns autores.
 Por ultimo, fazemos uma abordagem sobre ética na Idade Média, enfatizando os
principais problemas éticos desse período, e principalmente o problema do mal, com base
na concepção de liberdade (livre-arbítrio) estabelecida por Santo Agostinho, priorizando
a relação do homem com Deus, objetivando mostrar como eram julgadas as ações
humanas, para então compreender como se davam as relações éticas entre os homens na
sociedade medieval.
 ÉTICA: uma definição para o termo
 Em primeiro lugar, não podemos discutir ética sem antes estabelecermos algumas
definições preliminares sobre o termo, sobre do que trata está área de conhecimento.
Etimologicamente, o termo ética vem do grego derivado da palavra ethos, que diz
respeito aos costumes, a conduta moral e aos hábitos dos homens em sociedade.
 Baseados nisso, podemos dizer que ética é uma parte da filosofia que lida com a
compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e
da vida individual. Trata-se de uma reflexão sobre o agir e o valor das ações humanas em
sociedade. É uma área da Filosofia que trata dos ideais e valores que devem ou deveriam
existir na convivência humana. No dizer de Boff (2003, p.11) “Ética é um conjunto de
valores e princípios, de inspirações e indicações que valem para todos, pois estão
ancorados na nossa própria humanidade”.
 A existência humana é permeada de questionamentos de cunho ético, que na maioria das
vezes requerem respostas imediatas: Posso abortar? Devo denunciar quem tentou me
subornar? Posso contaminar meus semelhantes com o vírus da AIDS? Essas questões de
existência fatual existem, simplesmente, e de uma realidade normativa – aquilo que deve
ser. Na tentativa de transformar “aquilo que é” “naquilo que deve ser” o homem se
caracteriza como um ser moral. É refletindo acerca dessas questões que Sousa (2005) nos
afirma que
 O homem é um ser que possui um senso ético e uma consciência moral. Isso quer dizer
que constantemente ele avalia suas ações para saber se são boas ou más, certas ou
erradas, justas ou injustas. Além disso, faz juízos de valor sobre o modo de ser e de agir
dos demais seres humanos. Nesse sentido, é possível que a ética ilumina a consciência
humana, sustenta e dirige as ações do homem, norteando sua conduta individual e social
(p. 27-28).
 Diante disso, podemos afirmar que a ética se preocupa diretamente com o
comportamento do homem em sociedade, julgando como certa ou como errada as ações
humanas. Nas palavras de Valls (1987, p. 7) “a ética pode ser o estudo das ações e
costumes e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento”.
 Parafraseando Vásquez (2006) a ética é um conjunto de valores morais e princípios que
norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e
bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a
ética, embora não possa ser confundida com as leis materiais, está relacionada com o
sentimento de justiça social. Segundo Vásquez (2006, p. 18), “ética é a teoria ou ciência
do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma
específica do comportamento humano”.
 A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais. É
uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.
 A ética se preocupa, [...] com as formas humanas de resolver as contradições entre
necessidade e possibilidade, entre tempo e eternidade, entre individuo e o social, entre o
econômico e o moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e o cultural entre a
inteligência e a vontade (VALLS, 1987, p. 56).
 Pedimos licença para tecer um breve comentário sobre esta assertiva, uma vez que neste
ponto é possível refletir que, sobre o uso da inteligência em relação aos preceitos éticos, o
nosso agir passa pelo crivo da razão filosófica, o que pode nos levar ao controle de nossas
vontades; sendo estas reveladas pelo controle de nosso instinto, caprichos e/ou desejos.
Esse agir individual poderá incidir sobre o coletivo uma vez que cada sociedade e cada
grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num país, por exemplo, sacrificar animais
para pesquisa científica pode ser ético. Em outro país, esta atitude pode desrespeitar os
princípios éticos estabelecidos. Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas
biológicas é denominada bioética.
 Além dos princípios gerais que norteiam as relações sociais, existe também a ética de
determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido, podemos citar: ética médica,
ética de trabalho, ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética
jornalística, ética na política, etc. Uma pessoa que não segue a ética da sociedade a qual
pertence é chamado de antiético, assim como o ato praticado. Dessa forma, é possível
afirmar que a ética também é o respeito aos costumes gerais de uma determinada
sociedade ou grupo.
 Os valores éticos podem se transformar. Assim como a sociedade se transforma. Nesse
sentido, o que há tempos atrás era considerado errado hoje pode ser aceito. Desse modo,
uma determinada ação só seria errada apenas enquanto ela não fosse o tipo de
comportamento vigente (VALLS, 1987).
 A ética pode ser vista como uma reflexão acerca da influência que o código moral
estabelecido exerce sobre a nossa subjetividade, e acerca de como lidamos com essas
prescrições de conduta, se aceitamos de forma integral ou não esses valores normativos.
Dessa forma, até que ponto nós damos o efetivo valor a tais valores. Poderíamos então
sintetizar essa breve reflexão afirmando que o julgamento ético é sempre uma decisão
subjetivo-pessoal do indivíduo baseado nos costumes sociais vigentes em um
determinado grupo social, época e lugar.
 De acordo com Chauí (2008), a filosofia moral ou a disciplina denominada ética nasce
quando se passa a indagar o que são, de onde vêm e o que valem os costumes. Isto é,
nasce quando também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso
moral e consciência moral individual. Assim, podemos dizer que o Senso Moral é a
maneira como avaliamos nossa situação e a dos outros segundo ideais como o de justiça,
injustiça, bom e mal.
 Para concluir essa sessão, podemos dizer que a ética, é uma reflexão filosófica,
puramente racional, sobre a moral. Assim, procura justificá-la e fundamentá-la,
encontrando as regras que, efetivamente, são importantes e podem ser entendidas como
uma boa conduta a nível mundial e aplicável a todos os sujeitos, o que faz com que a
ética seja de caráter universal, por oposto ao caráter restrito da moral, visto que esta
pertence a indivíduos, comunidades e/ou sociedades, variando de pessoa para pessoa, de
comunidade para comunidade, de sociedade para sociedade. O objeto de estudo da ética
é, portanto, o que guia a ação: os motivos, as causas, os princípios, as máximas, as
circunstâncias; mas também analisa as consequências dessas ações.
 Desta forma, é possível afirmarmos que violar um princípio ético exige coragem
individual e que a ética, por sua vez, sofre mudanças sociais porque o individuo se
propõe mudar um costume coletivo, o que por vez, pode influenciar outros indivíduos a
agir sob a mesma conduta, causando (ou não) com isso, as mudanças de
hábito/costumes/morais na sociedade na qual o indivíduo está inserido.

 ÉTICA NA IDADE MÉDIA

 A Idade Média é um período marcado pelo abandono ao racionalismo. Este, talvez seja
um ponto que diferencia a Idade Media de outros períodos da história. Neste contexto,
predominantemente religioso, cabe uma indagação importante: e a ética como era
concebida? Como eram julgadas as ações humanas? Nem é preciso fazer uma
investigação profunda para responder a esses questionamentos. É sabido que as ações
humanas eram julgadas apenas do ponto vista cristã, baseado nos dogmas estabelecidos
pela Igreja Católica. E o que não estivesse em consonância com os dogmas teológicos
cristãos da época era considerado fora do padrão ético estabelecido pela Igreja. Assim,
podemos afirmar que a ética nesse período estava a serviço dos preceitos do cristianismo,
e o que não estivesse de acordo com a escritura sagrada era julgado como antiético.
 [...] a ética medieval, [...] era, no fundo, um comportamento religioso, e não ético, no
sentido restrito. Pois o comportamento era orientado pelos comportamentos divinos, pela
autoridade religiosa e continha, neste sentido, uma certa exterioridade em relação à
consciência moral dos indivíduos. [...] não se quer negar que um filosofo ou teólogo
como Tomás de Aquino, por exemplo, desse uma importância fundamental à consciência
moral. E o que seria esta consciência moral? Aquela voz interior que nos diz que
devemos fazer, em todas as ocasiões, o bem e evitar o mal (VALLS, 1987, p. 62).
 Na Idade Média, predomina a ética baseada nos dogmas do cristianismo, que abandona a
ideia de que é através da razão que se pode chegar à perfeição moral, e focalizou a busca
dessa perfeição no amor de Deus na boa vontade. Os valores éticos da época são valores
religiosos e não éticos propriamente ditos. O homem não tem vontade própria, sente-se
preso aos preceitos da Igreja católica. Vive em uma sociedade impregnada de valores
religiosos e baseada no “amor” ao próximo, que incorpora as noções gregas de que a
felicidade é um objetivo do homem e a prática do bem, um meio para atingi-la. “Agir
eticamente é agir de acordo com o bem” (VALLS, 1987, p. 67). E esse bem só seria
alcançado se fosse feita a vontade de Deus, se seguisse a escritura sagrada (Bíblia).
 Os filósofos medievais herdaram elementos da tradição filosófica grega, configurando-as
no interior de uma ética cristã. Para os filósofos cristãos, a natureza humana tem destino
predeterminado, e Deus é o princípio da felicidade e da virtude. Os critérios do bem e do
mal estão vinculados à fé e à esperança da vida após a morte, herança das teorias
filosóficas grega. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino são os principais filósofos da
ética na Idade Média. O primeiro adota as teorias platônicas e o segundo veste as teorias
Aristotélicas e as cristianizam, transformando
 [...] a ideia de purificação da alma [...] na ideia da necessidade de elevação ascética para
se compreender os desígnios de Deus. Também a ideia da imortalidade da alma, presente
em Platão, foi retrabalhada por Agostinho na perspectiva cristã (COTRIM, 2006, p. 252).
 Santo Agostinho fundamentou a moral cristã, com elementos filosóficos da filosofia
clássica. Desse modo, a ética tinha por objetivo tornar os humanos em seres felizes, e
essa felicidade só seria atingida num encontro do homem com Deus. Para ele, “Deus é
bom, poderosamente e amplamente superior [...]. Mas sendo bom criou coisas boas que
ele envolve e preenche” (NICOLA, 2005, p. 134). Mas se Deus é bom e quem criou o
mal? Segundo Cotrim (2006) a ética agostiniana se destaca pelo conceito do livre-
arbítrio, se Deus é bom, tudo que vem de Deus, também é bom, pois, Ele é o criador de
todas as coisas que existe na terra, então, e o mal como se explica? Quem o criou? Para
explicar a existência do mal,
 [...] Santo Agostinho introduziu a ideia de liberdade como livre-arbítrio, isto é, a noção
de que cada indivíduo pode escolher livremente entre aproximar-se de Deus ou afastar-se
dele. O afastamento de Deus é que seria o mal (COTRIM, 2006, p. 252).
 De acordo com Nicola (2005) Agostinho teoriza a existência do mal no afastamento das
leis de Deus. Nas palavras do filosofo medieval, o mal seria a privação do bem. A
existência do mal no universo se exprime através do pecado, que significa o afastamento
da vontade humana em relação às leis de Deus. O homem é livre para escolher entre bem
e o mal. A escolha pelo último seria desobedecer às leis do criador o que acarretaria no
pecado, que consiste no mau uso do conceito de livre-arbítrio.
 Evans apud Gallo (2006) traça quatro argumentos para explicar a existência do mal. O
primeiro argumento versa o seguinte,
 A explicação de que o mal é nada, mero contraste que salienta mais a bondade dos bons,
uma ilusão, equivalente a dizer que, falando metafisicamente, não existe o problema do
mal. Deus é bom, e tudo o que existe é bom, não existindo tal coisa chamada mal. O
Deus, que, é Supremo Bem do neoplatonismo, permanece inato (EVANS apud GALLO,
2006. p. 17).
 De acordo com Gallo (2006), fazendo uma análise neste fragmento acima é possível
constatar que o mal não existe, o que pode haver é uma falha, uma limitação de
percepção do homem que se desespera diante de coisas sem muita importância, em vez
de deleitar-se com a perfeição intrínseca da criação divina. Mas, se Deus é bom e criou
todas as coisas que existe no mundo, logo é possível deduzir que mal não existe. Assim, o
mal se concretiza apenas com contraste do bem na nossa imaginação. Além disso, o que
transparece é a falta de fé do homem que ocasionana escolha pelo caminho do mal. Ter fé
e obedecer a Deus seria isentar-se de todo mal.
 Assim, o mal reside apenas na cabeça dos não crentes. Para o homem que crê em Deus, e
segue seus mandamentos, o mal não existe, é apenas um contraste ao bem. Dessa forma,
o problema do mal não existe é apenas uma ilusão de natureza metafísica.
 Uma segunda visão “centrada em Deus” admite a existência do mal como principio
independente. Um moderno dualismo cristão vê a Deus empenhado em batalha contra o
mal. A morte de Cristo na cruz e sua ressurreição constituem vitória contra o mal que
deveria ser combatido e derrotado. A teologia “processual” considera o próprio Deus
como ser limitado, lutando contra o mal, conduzindo o universo paulatinamente à ordem,
envolvido em conflito onde o mal metafisicamente é, com efeito muito real (EVANS
apud GALLO, 2006, p. 17).
 Segundo Gallo (2006, p. 18) essa abordagem aponta “Deus como responsável pela
existência do mal”. Porém, achamos que o mal como principio independente não pode de
forma alguma está centrado em Deus, mas na livre escolha do homem. Desse modo, o
mal, pode ser visto como um princípio subjetivo. O homem tem total liberdade de escolha
entre o bem e o mal. Santo Agostinho, e os ensinamentos bíblicos enfatizam o mal como
responsável por todos os desastres no mundo, mas o próprio santo Agostinho diz que,
esses desastres são necessários ao universo, que o pecado não é eventual, mas sim
necessário a própria existência humana. Desse modo, não têm, e nem se pode combater e
até, talvez, lutar contra a extinção total do mal. Como acabar com mal se ele é necessário
à humanidade? Assim, parece que o problema do mal é de cunha existencial, e não de
cunho moral ou ético. No entanto, homem pode optar em fazem o bem seguindo os
mandamentos da lei de Deus, ou escolher e seguir toda força existente contraria ao bem,
que seja oposto a aquilo que Deus segundo a Bíblia determina como mal.
 Outra análise que se pode fazer é em relação à morte de Jesus Cristo, que se constitui
nesse fragmento como uma vitória contra o mal, que pode ser constatada em passagens
bíblicas, pois Deus entregou seu único filho por todos os pecados do mundo. Se a
consequência do pecado é o caminho do mal, então o mal não deveria mais existir, já que
Jesus Cristo foi morto e crucificado para que todos vivessem e tivessem a vida eterna, o
pecado já foi superado pela morte do Salvador. E porque o mal ainda existe? Esse
questionamento deve servir como ponto de reflexão para nós, como filósofos. Parece que
Deus se apresenta com um ser sem forças para combater o mal, com poderes limitados.
Mas Deus não é o criador, o Supremo? Por que seu poder seria limitado?
 Com base nessa reflexão, poderíamos dizer, de forma geral, que Deus de fato é um ser
perfeito. E por ser perfeito, não erra em seus atos. E se Ele não erra o que está errado
nessas proposições? Então, não é Deus que erra ou está errado, mas sim o conceito de
Deus criado pelo homem que estaria ou está errado.
 Uma terceira visão “centrada em Deus” afirma que Deus não pode agir errado e, portanto,
tudo o que faz é bom. O problema do mal desaparecerá se assumirmos a ideia de que
nada que acontece pode ser mal. Tudo, por definição, deve-se incluir na esfera do bem,
mas o que parece ser o mal não é ausência completa do bem, porém é um bem em si
mesmo (EVNAS apud GALLO, 2006, 19).
 No dizer de Gallo (2006) neste caso, além de ocorrer um erro de interpretação, ocorre
também, a impossibilidade do ser humano alcançar o “pensamento de Deus”, pois é
comum vermos como mal, algo que somos incapazes de compreender como bem, por
falta de capacidade, ou talvez por estarmos circunscritos na esfera material-temporal de
um corpo limitado. O neoplatonismo parece ser o coautor dessa teoria.
 Assim, podemos interpretar o pensamento anterior da seguinte forma: se Deus criou o
mundo, e tudo que existe nele é bom, logo o mal não foi Deus que criou. O mal seria
consequência da desobediência do homem em relação a Deus, que é bom, Supremo,
portanto não pode agir, e nem pode fazer coisas erradas, inclinadas para o mal. Logo, não
temos capacidade de interpretar as coisas corretamente, já que nada acontece para o mal,
tudo conspira para o bem. Portanto, Deus é bom e sua eternidade dura para sempre. Desse
modo, podemos dizer que “a bondade de Deus não é questionada, confrontada clara e
abertamente. Não se apresenta uma possibilidade em que Deus é onipotente, e, ainda
assim quis fazer o mal deliberadamente por pura diversão” (GALLO, 2006, p. 19).
 [...] a quarta possiblidade, uma visão do problema centrada no homem, que afirma a ideia
de que a bondade teria menos valor, se fosse parte inalienável da natureza do homem. É
preciso torna-se perfeito cooperando livremente com Deus. Neste ponto também estamos
em terreno familiar, ainda que Agostinho cada vez mais viesse a duvidar que o homem
pudesse conquistar, de qualquer forma, sua bondade por esforço próprio (EVANS apud
GALLO, 2006, p.20).
 Com relação essa quarta afirmativa, ao referir-se ao problema do mal, Evans apud Gallo
(2006, p. 20) afirma que,
 O mal é, em ultima análise irrelevante. Deus o assume em seu plano para o universo,
fazendo-o trabalhar para ele. O mal é “criação” de uma criatura, nascida do abuso da
vontade por parte do homem e dos anjos decaídos. Não passa de mera mordida de
mosquito e não é doença horrorosa que deforme o universo. Uma visão do problema do
mal centrada no homem torna o mal muito menos importante do que uma visão centrada
em Deus.
 As contribuições de Santo Agostinho para resolver o problema do mal são surpreendentes
porque, ele sempre usa argumentos que colocam o homem como o único culpado pelo
mal no mundo. Isentando Deus de qualquer contribuição para a existência do mal na
terra. Pois é muito mais fácil culpar o homem, do que colocar Deus como responsável,
pela maldade existente no universo. Desse modo,
 Agostinho resolvera o problema do mal em um momento de inspiração e “intuição”, num
instante, foi como se seu coração fosse inundado de uma luz, não podendo haver trevas.
O mal seria apenas a ausência do Bem, como se diante da escuridão uma luz fosse acesa,
a escuridão desapareceria automaticamente diante da presença da luz (GALLO, 2006, p.
20).
 Segundo Gallo (2006) Agostinho, em suas confissões define o mal da seguinte forma, “o
mal é uma força poderosa, plenamente formada e plenamente eficaz na menor das
crianças, e, não obstante, o mal é absolutamente trivial. Amar o mal é amar nada”
(EVANS apud GALLO, 2006, p. 21).
 Para santo Agostinho, o problema do mal e dos valores éticos tem sua gênese a partir do
livre-arbítrio da vontade humana. Deus nos permite escolher que caminhos queremos
traçar, as opções são: obedecer e amar a Deus e viver no caminho do bem, ou
desobedecer aos mandamentos da lei de Deus seguindo o caminho do mal. Desse modo, a
escolha que aqui estamos discutindo se apresenta como uma escolha subjetiva individual,
e talvez até racional, pois é no o mal uso da liberdade que estaria o mal. Em outras
palavras, o homem é responsável pelo mal que existe no mundo, pois esse mal, é fruto da
sua desobediência. Portanto, o ser criador do mal é o próprio homem. Porém, mesmo
seguindo o caminho do mal, o homem pode se arrepender dos seus pecados e voltar para
o caminho do bem, Deus é bondoso, infinitamente bom e perdoa os pecados do homem.
 No dizer de Gallo (2006) não foi Deus quem criou o mal, mas em sua suprema bondade e
sabedoria, embora pareça antagônico, deixa brecha para que o mal exista. Sobre isso,
Evódio[2] questiona a Agostinho se não seria melhor para o homem se Deus não lhe
tivesse dado o livre-arbítrio; indaga mais ainda: Será que o livre-arbítrio não seria um mal
ao invés de um bem?
 Mas quanto a esse livre-arbítrio, o qual estamos convencidos de ter o poder de nos levar
ao pecado, pergunto-me se Aquele que nos criou fez bem de no-lo ter dado. Na verdade,
parece-me que não pecaríamos se estivéssemos privados dele, e é para se temer que,
nesse caso, Deus mesmo venha a ser considerado o autor de nossas más ações (EVANS
apud GALLO, 2006, p. 24).
 Santo Agostinho se manifesta justificando que não pode ser um mal, o livre-arbítrio, se
foi criado por Deus, pois Ele criou só coisas boas. Desse modo, seria muito contraditório
o argumento de que o livre-arbítrio seria um mal, se foi criado por Deus. Logo, qualquer
justificação que traga Deus como autor de um ato, feito ou criação mal, é incompatível
com a figura extremamente divina, bondosa e perfeita que é traçada para Deus como um
ser Supremo.
 Pois, se é verdade que o homem em si seja certo bem, e que não poderia agir bem, a não
ser querendo, seria preciso que gozasse de vontade livre, sem a qual não poderia proceder
dessa maneira. Com efeito, não pelo fato de uma pessoa poder se servir da vontade
também para pecar, que é preciso supor que Deus no-la tenha concedido nessa intenção.
Há pois, uma razão suficiente para ter sido dada, já que sem ela o homem não poderia
viver retamente. Ora, que ela tenha sido concedida para esse fim pode-se compreender
logo, pela única consideração que se alguém se servir dela para pecar, recairão sobre ele
os castigos da parte de Deus. Ora, seria isso uma injustiça, se a vontade livre fosse dada
não somente para se viver retamente, mas igualmente para se pecar. Na verdade, como
poderia ser castigado, com justiça, aquele que se servisse de sua vontade para o fim
mesmo para o qual ele lhe fora dada? Assim quando Deus Castiga o pecador, o que te
parece que ele diz senão estas palavras: “Eu te castigo porque não usaste tua vontade
livre para aquilo a que eu concedi a ti”? Isto é, para agires com retidão. Por outro lado, se
o homem carecesse do livre-arbítrio da vontade, como poderia existir esse bem, que
consiste em manifestar a justiça, condenando os pecados e premiando as boas ações?
Visto que a conduta desse homem não seria pecado nem boa ação, caso não fosse
voluntária. Igualmente o castigo, a recompensa, seria injusto, se o homem não fosse
dotado da vontade livre (AGOSTINHO apud GALLO, 2006, p. 24-25).
 Nas palavras do próprio santo Agostinho o livre-arbítrio é um bem si:
 Ora, essas duas verdades: que Deus existe e que todos os bens vêm dele, nós já
admitimos com fé inabalável. Entretanto, nós as expusemos de tal forma que a terceira
verdade também se torna plenamente evidente, a saber: que a vontade livre deve ser
contada entre os bens recebidos de Deus (AGOSTINHO apud GALLO, 2006, p. 25).
 No dizer de Gallo (2006), o livre-arbítrio consiste, enquanto um bem, em poder aderir
livremente à boa vontade, baseada na razão, em detrimento da má vontade, baseada nos
instintos.
 Portanto, penso que agora vês: depende de nossa vontade gozarmos ou sermos privados
de tão grande verdadeiro bem. Com efeito, haveria alguma coisa que dependa mais de
nossa vontade do que a própria vontade? Ora, quem quer que seja que tenha esta boa
vontade, possui certamente um tesouro bem mais preferível do que os reinos da terra e
todos os prazeres do corpo. E ao contrário, a quem não possui, falta-lhe, sem dúvida, algo
que ultrapassa em excelência todos os bens que escapam ao nosso poder. Bens esses que,
se escapam ao nosso poder, ela a vontade sozinha, traria por si mesma. Por certo, um
homem não se considerará muito infeliz se vier a perder sua boa reputação, riquezas
consideráveis ou bens corporais de toda a espécie? Mas não o julgarás, antes, muito mais
infeliz, caso tendo em abundância todos esses bens, venha ele se apagar demasiadamente
a tudo isso, coisas essas que podem ser perdidas bem facilmente e que não são
conquistadas quando se quer? Ao passo que, sendo privado da boa vontade – bem
incomparavelmente superior -, para reaver tão grande bem, a única exigência é que o
queria! (AGOSTINHO apud GALLO, 2006, p. 25).
 Contudo, há aqueles que discordam da afirmação de que o mal é resultado do livre-
arbítrio da vontade humana, e assim culpam Deus que é o criador de todas as substâncias.
 [...] Agostinho afirma que o responsável pelo pecado não é propriamente o livre-arbítrio,
mas carência ou a falta deste. Tal argumentação evoca o princípio da consciência da
escolha a que se está aderindo, a imputabilidade de culpa e responsabilidade tem relação
direta com o grau de consciência da escolha que se está efetuando. Aparece aqui traço de
neoplatonismo, por desprezar o corpo e a realidade material, fazendo amiúde referência
indireta a São Paulo, onde “vemos como que por um espelho, mas eis que veremos face-
a-face”. A liberdade plena só poderia ser alcançada depois da morte, ou seja, depois de
liberta-mo-nos do corpo material que nos confunde e induz ao erro. Face-a-face com
Deus seria improvável que se cometesse o erro de preferir o que é mutável e finito
(GALLO, 2006, p. 26).
 Nas palavras de Gallo (2006), baseado em Agostinho o problema do mal é um problema
de ordem existencial. O homem é condenado a ser livre, por isso, é dotado de escolha,
logo, parece que o mal existe em função dessa liberdade.
 Havia uma grande mistura, sendo o mal percebido e definido como uma só e grande
força, que carecia de explicações e justificativa. No desenvolvimento de sua teoria sobre
o mal, Agostinho diferencia o mal que pode-se compreender como sinônimo de pecado, e
os tipos de males, com menor importância, cabendo buscar a justificativa apenas do mal
que não pode ter sua origem atribuída a Deus (GALLO, 2006, p. 20).
 Contudo, com a introdução do conceito do livre-arbítrio, santo Agostinho firma uma
escolha individual e subjetiva, os seres humanos são livres para escolher entre o bem e o
mal, o homem pode usufruir da liberdade, escolher entre o que é bom e o que é mal.
Nesta perspectiva, os indivíduos são considerados moralmente responsáveis pelas suas
ações, e o mal estaria situado no mau uso do livre-arbítrio. Assim, o livre-arbitrio é o
meio pelo o qual o homem realiza a sua liberdade. Porém, de acordo, com a concepção
cristã, cada individuo pode usar bem ou mal esse livre-arbítrio e nesse mau uso do livre-
arbitrio que estaria o mal (COTRIM &FERNANDES, 2010).
 Por outro lado, o conceito de livre-arbitrio esvaziou a noção grega de liberdade como
possibilidade de realização plena dos individuos em seu meio social. Em outras palavras,
diminuiu a importância da dimensão social da liberdade, e esta passou a ter um caráter
mais pessoal, subjetivo, individualista (COTRIM, 2006). O homem foi dotado de livre-
arbítrio para que vivesse retamente e, mesmo que por meio dele pudesse fazer o mal, pois
a natureza humana é boa, tal como o próprio livre-arbítrio, mas o meio influencia o
homem a seguir o caminho do mal, que seria o pecado. Assim, pecar seria fugir dos
princípios éticos medievais, tal como determinava a escritura sagrada.
 Na filosofia agostiniana, o homem é livre, e nesta liberdade reside à possibilidade de
pecar, embora não seja o pecado elemento constituinte da essência do livre-arbítrio.
Assim, Deus não é o autor do mal – nem poderia ser porque, somente Dele procede toda
natureza e os atributos que a conservam. O autor do mal é o próprio homem que, por
vontade livre, corrompe a si mesmo, peca. Isto não significa que a vontade humana seja
essencialmente má, nem tampouco os objetos do seu desejo, pois o mal não é a inclinação
a algo mal em vez de algo bom, mas a renuncia de um bem superior a outro inferior,
porque toda a criação e naturalmente boa, já que vem de Deus, e Ele não pode ter criado
algo que conspire contrário as suas determinações divinas (COUTINHO, 2010).
 O problema da liberdade adquiriu uma nova dimensão e atraiu enorme interesse no
pensamento cristão, para o qual o destino não existe mais, tendo cedido o seu luagar a um
Deus, Pai providente e amoroso; a natureza e a história não estão mais acima do homem,
mas são colocados ao seu serviço. É o Deus das Escrituras, declara Agostinho, que nos
revela que o homem tem livre escolha da vontade (MONDIN, 1980, p. 110).
 Através do cristianismo, adquire-se a ideia de que possuímos uma vontade consciente
para controlar as paixões, os apetites e os desejos, suplantados pelo livre-arbítrio, cujo
impulso se voltaria ao pecado, sendo necessário o auxilio divino, com apoio nas leis
divinas, para que o sujeito se torne um sujeito moral, surgindo à noção de dever em
relação às normas de conduta. O homem passa a ser fraco, pecador, dividido entre o bem
e o mal.
 O cristianismo introduz a ideia de dever para resolver um problema ético, qual seja,
oferecer um caminho seguro para nossa vontade, que, sendo livre, mas fraca, sente-se
dividida entre o bem o mal. No entanto, essa ideia cria um problema novo. Se o sujeito
moral é aquele que encontra em sua (vontade, razão, coração) as normas da conduta
virtuosa, submetendo-se apenas ao bem e jamais poderes externos à consciência, como
falar em comportamento ético por dever? Este não seria o poder externo de uma vontade
externa (Deus), que nos domina e nos impõe suas leis, forçando-nos a agir em
conformidade com regras vindas de nossa consciência?
 Em outras palavras, se a ética exige um sujeito autônomo, a ideia de dever não
introduziria a heteronomia, isto é, o domínio de nossa vontade e de nossa consciência por
um poder estranho a nós? (CHAUI, 2002, p. 344)
 É inegavel que durante todo o período medieval o problema da liberdade foi visto numa
persctiva teocêntrica; a liberdade é, sobretudo uma relação entre o homem e Deus. Para
Valls (1987, p. 38) “na medida em que se convencionou chamar a Idade Média [...] o
período cristão, [...] o pensamento ético que conhecemos está, portanto, todo ele ligado a
religião, à interpretação da bíblia e à teologia”.
 Assim, Tomas de Aquino concorda com a essência da teoria de Santo Agostinho, mas
fundamenta-se em questões levantadas por Aristóteles durante a Antiguidade Clássica.
 A filosofia cristã se baseia nas verdades reveladas para estabelecer o princípio regulador
do parâmetro ético. Se antes a referência da moral era a pólis (para Aristóteles), o
universo (para os estóicos e os epicuristas), agora Deus é a suprema verdade onde tudo é
orientado para ele: a moral e a perfeição. Ainda que a filosofia estivesse a “serviço” da
Teologia, como se acreditava, Agostinho e Tomás de Aquino resgatam a Filosofia Grega
em suas vertentes platônica e aristotélica e submetem-na a um processo de cristianização.
 A ética de Agostinho foi desenvolvida por uma ideia teológica nas categorias de ordem e
de fim. É o marco de uma primeira reflexão filosófica cristã. A ordem é atribuída em um
significado ontológico e ético que se articula à ideia de fim. Portanto, a ordem é o
elemento que conduz o homem ao fim último: à plena realização. Tomás de Aquino foi
influenciado por esta ideia agostiniana, e procurou desenvolvê-la na ideia de ato, pela
qual se dá a perfeição do ser em sua ordem. Na Suma Teológica[3], Tomás de Aquino
estrutura uma abordagem ética prescrita por três expoentes conceituais: a estrutura do
agir ético, a estrutura da vida ética e a realização histórica da vida ética. (SILVA, 2009,
s/p (grifos nossos)).
 Para concluir, reforçamos dizendo que a Ética na Idade Média é marcada pela influência
e regência da fé católica e suas doutrinas. Deus é identificado com o Bem, a Justiça e a
Verdade, e deve ser o modelo a ser seguido. Neste contexto dificilmente se concebe a
existência de teorias éticas autônomas da doutrina da Igreja Cristã, dado que todas elas de
uma forma ou outra teriam que estar de acordo com os seus princípios.
 No cristianismo, os ideais éticos se identificam com os religiosos. O homem viveria para
conhecer, amar e servir a Deus, diretamente e em seus irmãos. O lema socrático do
“conhece-te a ti mesmo” volta à tona, em Santo Agostinho, que agora ensina que “Deus
nos é mais íntimo que o nosso íntimo”. O ideal ético é o de uma vida espiritual, isto é, de
acordo com o espírito, vida de amor e fraternidade (VALLS, 1987, p. 44).
 Em suma, os valores éticos por um longo tempo foram condicionados a religião cristã
(cristianismo). A Patrística e a Escolástica são os seus representantes. Nesse período, dá-
se ênfase à revelação dos livros sagrados. O Pai, o Filho e o Espírito Santo determinam as
normas de conduta. As exortações católicas mantiveram-se por longos anos. Contudo, no
século XVI começou a sofrer a pressão do Protestantismo, ou seja, a reação de algumas
Igrejas às determinações da Igreja de Roma. Para os protestantes, a ética não é baseada na
revelação, mas nos valores éticos, examinados e procurados de per si. A revelação
religiosa pertence à religião. O filósofo ético deve procurar os fundamentos ontológicos
dessa disciplina, tão longe quanto lhe seja possível alcançar.
 Contudo, mais uma vez ressaltamos a importância das ideias de Santo Agostinho e São
Tomás de Aquino, que incorporam as teorias de Platão e Aristóteles sobre ética,
modificando a base do comportamento ético da relação do individuo com a sociedade,
definindo que a virtude se estabelece na relação espiritual e interior com Deus. Deus
nesse momento é considerado o único mediador entre os indivíduos. As principais
virtudes para o cristianismo são a fé e a caridade. O orgulho, a inveja e a avareza,
considerados por Aristóteles como vícios, passaram a ser tratados pela ética cristã como
pecados capitais.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Na Idade Média, por um longo período, os filósofos cristãos fizeram da filosofia
instrumento a serviço da teologia na divulgação e difusão do cristianismo. Tentaram unir
a fé (teologia) a razão (filosofia). Emprestaram da filosofia clássica as teorias que
norteiam o cristianismo ainda hoje. Vestiram as dogmáticas cristãs de Platão e de
Aristóteles para explicar os mistérios da fé: a dualidade do mundo e do homem, a vida
após a morte, o encontro do criador com a criatura e etc.. A teologia tornou-se
dependente da filosofia.
 O Cristianismo, desde há muitos séculos, buscou as luzes da razão para explicar melhor
os mistérios da fé. Neste sentido, a razão não poderia caminhar sem a fé, pois, onde a
razão humana não consegue com toda sua capacidade abarcar determinado mistério, a fé
se infiltra como uma luz a iluminar e a orientar o homem, fornecendo respostas não
compreendidas racionalmente.
 Desse modo, não era o bastante para o homem, somente crer. Era necessário, também,
que se compreendesse a fé. Não se utilizava a razão para acreditar numa verdade de
forma cega e meramente inerte. Era preciso demonstrar com a razão as verdades
professadas pela fé. Para tal demonstração era necessário uma lógica, uma coerência com
os princípios essenciais da razão.
 Os valores éticos que habitavam a sociedade medieval eram valores extremamente
religiosos. Desse modo, provavelmente não se tinham princípios éticos e morais
independentes. Assim, as ações do homem eram jugadas apenas do ponto de vista
religioso. O homem agia de acordo com os mandamentos da lei de Deus. A Bíblia
deveria ser obedecida a todo custo. Os julgamentos das ações humanas estavam
concentrados nas mãos da Igreja Católica. Era ela que decidia se uma determinada ação
estava certa ou errada, justa ou injusta.
 Os princípios de liberdade estavam baseados no princípio do livre-arbítrio, estabelecido
por Santo Agostinho. O homem era livre para escolher o caminho que queria traçar.
Neste princípio de liberdade é que consistia o problema do mal.
 O homem tem a liberdade de escolher entre o bem e o mal. A escolha pelo mal, consistia
no mau uso da liberdade. Portanto, o pecado estaria na opção do homem pelo caminho do
mal. Para santo Agostinho o autor do mal não pode ser Deus, pois sua bondade é
irrefutável e inquestionável. Logo, o mal é resultado do mau uso do livre-arbítrio. Neste
sentido, podemos dizer que seria o homem autor do mal, pois Deus deu-lhe o livre-
arbítrio da vontade, a liberdade de escolha. Logo, o homem também é responsável pelo
pecado. Na verdade, para santo Agostinho, o problema do mal se apresentava como um
problema existencial, o mal estaria além das elaborações teóricas.
 Para concluir, podemos dizer que nos estudos que fizemos desde os antigos gregos, até o
mundo contemporâneo, podemos dizer que nenhum filósofo importante ou escola de
pensamento negou os valores e ideais éticos que devem existir em uma sociedade,
considerando o indivíduo um ser histórico-social.
 Portanto, podemos afirmar que as concepções éticas nascem e se desenvolvem em
diferentes sociedades como resposta aos problemas sociais resultantes das relações entre
os homens. Os contextos históricos são elementos muito importantes para se perceber as
condições que estiveram na origem de certas problemáticas morais que ainda hoje
permanecem atuais.
 Atualmente, caracteriza-se como um indivíduo ético aquele que não abre mão de seus
interesses pessoais e de sua ética privada, e se sobrepõe à ética pública, supostamente
formando uma sociedade mais balanceada e justa – ações essas individuais que vão
refletir no coletivo. Mas, nos parece que não é correto afirmar que seguir a ética á risca
traz justiça e equilíbrio a todos, visto que muitas vezes o principal prejudicado pode ser o
próprio individuo que abriu mão de seus valores. Portanto, a ética é adaptável aos fatores
tempo/espaço, cultura/religião, e que o homem, por sua vez não é hábil para definir a
ética como um conceito único, pois está embutida não somente nos valores impostos pela
sociedade, mas também nos valores pessoais de cada indivíduo.
 Então se pressupõe que a ética é uma moeda de duas faces, visto que há uma ética para o
agir individual, de decisão pessoal, e uma para a ação coletiva. Sendo que uma é o verso
da outra. Portanto, inseparáveis.
 REFERÊNCIAS
 ARANHA, Maria Lucia de Arruda&MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introdução à Filosofia. 2ª edição revista e atualizada, São Paulo, Editora Moderna,
1993.
 ARANHA, Maria Lucia de Arruda&MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introdução à Filosofia. São Paulo, Editora Moderna, 1986.
 BOFF, Leonardo. Ética &eco-espiritualidade. Campinas-SP: Versus, 2003.
 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1997.
 CHAUI, Marilena. Iniciação à Filosofia. Volume único, 12. ed. São Paulo: Ática, 2008.
 COSTA, Marcos Roberto N. Introdução ao pensamento ético-político de Santo
Agostinho. São

INTRODUÇÃO

A Ética medieval, foi desenvolvida, sobretudo, por Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

A Ética Medieval, apresenta-se alicerçada totalmente nos princípios cristãos, impõem a


sociedade um dogma, no qual seus princípios supremos morais que, por virem de Deus, tem para
si um caráter imperativo absoluto e incondicionado.

DESENVOLVIMENTO
A ética medieval

Ética Medieval é um conjunto de regras, princípios e maneira de pensar que guiam as ações do
ser humano. Segundo Aristóteles, na prática, Ética é exactamente aquilo que somos e fazemos,
visando uma finalidade boa ou virtuosa. Para Sócrates, o conceito de ética iria além do senso
comum da sua época, para ele, o corpo seria a prisão da alma, que é imutável e eterna. Existiria
um “bom em si” próprios da sabedoria da alma e que pode ser rememorado pelo aprendizado.

No pensamento filosófico dos antigos os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, sempre
em busca da perfeição, que só podem ser alcançada na essência do homem. Dessa forma, o
homem deveria entrar em contatocom a própria essência, a fim de alcançar essa perfeição.

Com o Cristianismo, através de S. Tomás e Santo Agostinho, incorpora-se a ideia de que a


virtude se define unicamente através do relacionamento com Deus. Virtude, essa, representada
pela fé e caridade.

Através do Cristianismo, surge na ética o livre-arbítrio. E, considerando que o impulso da


liberdade é sempre para o mal (pecado), o homempassa a ser considerado fraco, pecador,
dividido entre o bem e o mal e o único auxílio para a boa conduta é a Lei Divina.

Analisando a história e a ética cristã, pode-se dizer que poder, prestígio e riqueza era a principal
característica daqueles que dominavam, ou melhor, governavam, na Idade Média. O homem
medieval percebia a riqueza como algo desejada e procurada, muitas vezes sem escrúpulos, vista
também como algo suspeito, advindo de meios escusos, práticas condenáveis e falta de atenção
aos preceitos cristãos como o amor ao próximo, à caridade etc.

Dentre as concepções filosóficas que influenciaram fortemente o conceito de ética medieval,


cabe destacar as ideias de Santo Agostinho, Santo Anselmo e São Tomás de Aquino.

Para Santo Agostinho a verdade é uma questão de fé, é revelada por Deus, superando a razão;
subordinando o Estado e a política à autoridade da Igreja.

O catolicismo alterou profundamente a ética, introduzindo a ideia de que a bondade, é uma vida
virtuosa, que só podia ser alcançada pela vontade de Deus, desvinculando a felicidade da
racionalização do mundo.

Para Tomás de Aquino, o caminho para a felicidade passaria pela “grande ética”, caracterizada
pelo justo equilíbrio divino, projetado na ordenação da sociedade.

Norteando nossa visão, a Ética Medieval, apresenta-se alicerçada totalmente nos princípios
cristãos, impõem a sociedade um dogma, no qual seus princípios supremos morais que, por
virem de Deus, tem para si um caráter imperativo absoluto e incondicionado. Tentando regular o
comportamento dos homens dentro desta sociedade.

Ética medieval é revelado por um conjunto de crenças que adotam concepções teológicas. É
marcado pela religiosidade das escolas Patrística e Escolástica.
A ética era ditada pela igreja católica que empregava argumentos de Aristóteles e Platão para
refazerem seus dogmas para os limites da vida cristã e exaltava o cristianismo evidenciando o
relacionamento do homem com Deus como filosofia de vida, tendo o mesmo que submeter-se a
Sua perfeita vontade, renunciando a própria e inculcando a idéia de igualdade entre os homens.
Afirmava que a vida proveniente do homem não era natural, mas sobrenatural e defendia
hipocritamente a igualdade entre homens, independente de sua vida social.

A Ética Medieval, não apresenta subsídios racionais, reais e práticos para ser vista como um
caminho a salvação humana e sua alma. Bem, como, ela mesma não fora capaz de se conduzir a
sua própria salvação.

Santo Agostinho

Aurélio Agostinho, conhecido como Santo Agostinho, nascido em Tagaste, aos 13 de Novembro
de 354, falecido aos 28 de Agosto de 430.Santo Agostinho foi um bispo, escritor, teólogo,
filósofo e foi um Padre latino e Doutor da Igreja Católica.

Agostinho é uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente.


Em seus primeiros anos, Agostinho foi fortemente influenciado pelo maniqueísmo e pelo
neoplatonismo de Plotino, mas depois de tornar-se cristão, ele desenvolveu a sua própria
abordagem sobre filosofia e teologia e uma variedade de métodos e perspectivas diferentes. Ele
aprofundou o conceito de pecado original dos padres anteriores e, quando o Império Romano do
Ocidente começou a desintegrar-se, desenvolveu o conceito de Igreja como a cidade espiritual de
Deus (num livro de mesmo nome), distinta da cidade material do homem. Seu pensamento
influenciou profundamente a visão do homem medieval. A Igreja se identificou com o conceito
de "Cidade de Deus" de Agostinho, e também a comunidade que era devota de Deus.

Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino nascido em Roccasecca, (Itália), por volta de 1225, e falecido aos 7 de
Março de 1274 (49 anos) em Fossanova, (Itália). Tomás de Aquino veio de uma família de
nobres. Fez seus primeiros estudos no castelo de Monte Cassino. Em 1239, estudou as artes
liberais, conjunto de disciplinas de iniciação ao conhecimento filosófico e teológico, Em
Nápoles.

Em, 1240, tornou-se discípulo de Aberto Magno em Colónia. Em 1252, formou-se em teologia.
Na Itália, foi nomeado professor na cúria pontifical de Roma.

CONCLUSÃO

Resumindo e concluindo, podemos verificar que a Ética Medieval, foi só mais um dos
incontáveis instrumentos utilizados pelos governantes, para oprimir manipular, domar e amenizar
a força do povo. Tanto que, esta se apresenta enraizada na filosofia grega clássica, qual conduz
os intelectuais a razão e não a submissão dogmática imposta pelo Catolicismo.

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Etica Medieval

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ÉTICA MODERNA

janeiro 01, 2017


Por Pierson Sena, piersonsena@yahoo.com.br, aluno do curso de Desenho Industrial, da
Universidade Federal de Santa Maria, para a disciplina de Ética Profissional, do curso de
Direito Noturno da mesma instituição.

Denomina-se de Ética Moderna as diversas tendências que surgiram nesse campo a partir do
século XVI até o inicio do século XIX. E, embora não seja fácil sistematizar todas as doutrinas
éticas que se desenvolveram nesse período, podemos dizer que em oposição à ética teocêntrica
religiosa, a ética moderna segue a tendência antropocêntrica.
A alteração de ponto de vista dentro do campo ético aconteceu ao mesmo tempo em que as
mudanças na economia, política e ciência se consolidavam. Tais transformações ocorreram
conforme o sistema feudal foi sendo substituído pelo modelo capitalista de produção.
Juntamente com o capitalismo, se estabeleceu uma nova classe social, a burguesia, que lutou
para se impor política e economicamente. Ao mesmo tempo, influenciado pela burguesia, surge o
Estado Moderno, modelo estatal onde o poder é centralizado.
A partir disso temos o rompimento entre razão e fé; ciência e religião; estado e igreja; o homem e
deus.
Essa ruptura entre o sistema teocêntrico feudal e o antropocentrismo capitalista é evidenciada por
Maquiavel quando rompe com a moral religiosa ao defender que o estado deve ter uma moral
própria. Segundo Maquiavel, o uso da violência contra os que se opõem aos interesses estatais é
plenamente justificável uma vez que importam os resultados e não a ação política me si.
A partir de Descartes surge a ética antropocêntrica onde a filosofia tem como base o homem, que
passa a ser o centro da política, da arte e da moral.
Thomas Hobbes foi o primeiro a descrever a ética do desejo da conservação própria, existente
em todos os seres humanos. Para ele os homens são solitários por natureza, egocêntricos,
agressivos e possuidores do desejo de ganho imediato e o que leva os homens a viver em
sociedade e se comportar de forma socialmente aceita é saber que cooperando entre si podem ser
mais ricos e felizes.
Espinosa concorda com Hobbes ao afirmar que os homens tendem naturalmente a pensar em si
mesmos e que seus desejos são sempre conduzidos por suas paixões, sem levar em conta o futuro
ou as outras pessoas.
Sobre esse tema Locke pondera que a vantagem na vida em sociedade ocorre quando cada
homem aprova e recomenda as regras para tal, de forma que persuadindo os demais passa a obter
vantagens pessoais.
Seguindo essa linha, David Hume descreve que o fundamento da moral é a utilidade, ou seja, a
ação é boa se proporciona felicidade e satisfação à sociedade. Para ele o principio da utilidade
agrada porque o homem tem uma tendência em promover a felicidade dos outros. Esse conceito
é baseado da idéia de que algumas de nossas paixões estão relacionadas com a empatia, ou seja,
sofremos com o sofrimento alheio, assim como ficamos felizes com a felicidade dos outros.
Sendo assim, fica impossível dividir os interesses, uma vez que o alheio pode tornar-se pessoal.
Para Rousseau o homem é bom por natureza e seu espírito pode aprimorar-se ilimitadamente.
Kant foi quem estabeleceu o principio da deontologia. Para ele, o dever é o ponto central da
moralidade, a boa vontade é a única coisa boa em si mesma, o homem deve reconhecer a
existência de outros homens respeitando-os e se comportando diante deles de acordo com esse
reconhecimento e um ato só é moralmente bom se puder se tornar uma lei universal.
Hegel divide a ética em pessoal, que é a consciência do dever, e social, formada pelos costumes,
leis e normas da sociedade, sendo que o estado reúne esses dois aspectos. Dessa forma a vontade
pessoal é influenciada pela vontade social que regula e normatiza as condutas individuais de
acordo com valores e costumes de determinada sociedade em determinada época. Para ele o ideal
ético deveria ser vivido dentro de um estado livre e de direito, onde consciência e lei estariam em
harmonia, dessa maneira os valores sociais seriam internalizados por um sujeito moral que os
aceitaria livremente através de sua vontade individual.
Para Marx a moral também tinha uma função social e, em uma sociedade dividida em classes
antagônicas, ela serviria para definir relações e condições de existência de acordo com a classe
dominante. Até hoje existem diferentes morais para diferentes classes, dessa forma não pode
existir uma moral universal e atemporal. De acordo com essa idéia, sempre que se tentou criar
uma moral universal, essa refletia interesses da minoria dominante, sendo assim os homens
necessitariam de uma moral que não fosse reflexo das relações sociais vigentes. Está lançada a
base do pensamento socialista.
Segundo Nietzsche, atribui-se um valor moral superior do bem em relação ao mal, ao progresso e
ao desenvolvimento humano. Dessa forma a moral seria um mecanismo que o impede de atingir
valores superiores, nivelando a todos; a moral seria o maior de todos os perigos.
Nietzsche transforma o homem em ser capaz de transmutar valores, e o bem em tudo que
intensifica no homem o sentimento de poder, a vontade de poder e o próprio poder. O mal seria
tudo que vem da fraqueza.
Ao final concordo com o que Nietzsche propõe, ou seja, existe a necessidade de uma crítica a
todos os valores morais, devendo o homem, antes de tudo, discutir o valor dos valores e o
ambiente em que se desenvolveram e se deformaram tai valores.

Bibliografia

CANTO-SPERBER, Monique. Dicionário de Ética e Filosofia Moral. São Leopoldo: Unisinos,


2007.891 p.
MARITAIN, Jacques. A Filosofia Moral: Exame Histórico e Crítico dos Grandes Sistemas. Rio
de Janeiro: Agir, 1964. 508 p.
SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984. 267 p.

Ética na modernidade: uma questão de reflexão


Yanka Maria Rodrigues Carvalho

Resumo: O objetivo deste ensaio é realizar reflexões acerca da ética desde a Antiguidade com
destaque para a modernidade. A relevância da análise se dá pela necessidade de reconhecer as
transformações e uma nova dinâmica em torno dos valores éticos e normas norteadoras da
conduta humana. Discute a formação da ética moderna e as suas características peculiares,
mostrando algumas das fases de seu desenvolvimento, aborda também sua relação com o
relativismo cultural, sua aplicabilidade na área jurídica e os ideais éticos. Faz-se perceptível a
fragilidade da ética não apenas na modernidade, mas em todo o decorrer da história. [1]

Palavras–chave: Modernidade. Ética. Reflexões. Fragilidade. Ideais.

Abstract: The purpose of this test is to conduct reflections on ethics since antiquity especially
modernity . The relevance of the analysis is given by the need to recognize the changes and a
new dynamic around the ethical values and guiding norms of human conduct . Discusses the
formation of modern ethics and its peculiar characteristics , showing some of the stages of its
development, also discusses his relationship with cultural relativism , its applicability in the legal
and ethical ideals. The fragility of ethics is made visible not only in modern times , but
throughout the course of history .Keywords: Modernity. Ethics. Reflections . Weakness . Ideals.
Sumário: Introdução.1. Referencial Teórico.1.1 A ética da Grécia Antiga a Modernidade.1.2 Da
aplicabilidade da ética no Direito. 1.3 Ética e relativismo cultural. 1.4 O ato ético. 1.5
Revoluções éticas. 1.6 A crise ética na modernidade. 1.7 Racionalidade Instrumental. 1.8 O
Método da Complexidade. 1.9 Sonhos éticos. 2. Considerações finais. Referências

Introdução

A ética faz parte da filosofia responsável por investigar os princípios que motivam, disciplinam,
distorcem ou orientam o comportamento do homem, refletindo sobre a sua essência, valores, as
normas, preceitos e exortações presentes em qualquer meio social. Na história humana, a
reflexão sobre a ética sempre esteve presente em todas as sociedades, mesmo que de forma
desorganizada e não racionalizada.

Esse saber ético, inicialmente tradicional, foi o responsável pelos fundamentos da ética
filosófica. Ela estendeu sua reflexão axiológica ao se direcionar as ciências particulares e
técnicas, que hoje são fundamentais para conceder um melhor convívio entre grupos sociais. A
ética se faz importante por guiar o pensar e o agir do homem em todos os tempos.

Além de expressar as vontades e problemas de cada época, expressa também as formas de


organização política, social e religiosa de uma comunidade. Com isso, o estudo da ética,
fundamentado na filosofia, proporciona o conhecimento sobre o ser humano, como ser de ação,
racional e social. A Ética filosófica sempre procurou orientar e encontrar soluções para os
problemas básicos das relações entre os homens.

Desde a Grécia Antiga à Contemporaneidade a ética também esta intimamente ligada ao Direito.
Ao contrário da ciência do Direito a ética não estabelece regras, todavia ela busca justificativas
para as regras pertencentes ao âmbito jurídico. O Direito tem por objetivo promover a justiça,
para tanto é necessário que haja um mínimo ético a ser cumprido para a segurança das relações
sociais e profissionais.

1 Referencial teórico

1.1 A Ética da Grécia Antiga a modernidade

Desde o gênesis da civilização, a ética sempre se fez presente em todas as sociedades. Evidente
que não de forma racionalizada e estudada como contemporaneamente, era encontrada através
dos princípios morais, conjunto de regras adquiridas através da cultura, da educação, da tradição
e do cotidiano, e que orientam o comportamento humano dentro de uma coletividade
(CANABRAVA, 2009).

A ciência da moral sempre buscou intermediar e encontrar soluções para as problemáticas


humanas. Desde a Grécia Antiga, a ética sempre foi amplamente discutida por diversos filósofos
e estudiosos. Para Sócrates, a ética estava associada à ideia do bem e do mal e ligados a virtude
de forma racional. Responsável pela sistematização da ética, Aristóteles, considerado o fundador
desta ciência, a ética encontra-se atrelada à virtude, visto que a última divide-se em: virtudes
éticas e virtudes dianoéticas. Virtudes éticas são consideradas por Aristóteles como a equidade
do meio-justo, subjetivas, ligadas a escolha e responsabilidade. Sendo a justiça a principal
virtude ética. Em contrapartida, as virtudes intelectuais são as artes, filosofia e sabedoria prática
(RAMOS, 2012).

Com o declínio da Grécia Clássica, a amplitude da ética filosófica rompeu a barreira das polis e
transformou-se em universal, passando a moral a ter referências na natureza física. Duas
correntes de pensamento opostas se fizeram presentes de forma forte, sendo elas: O estoicismo e
o epicurismo (CANABRAVA, 2009).

Para o estoicismo de Sêneca e Epitelo, Deus é a razão da existência do homem. É a razão


derradeira do Cosmo. Portanto o ser humano deve dedicar sua existência para ele, vivendo de
forma natural, de acordo com a razão, pois todo indivíduo é destinado a Deus. Segundo os
epicuristas representados por Epicuro e Tito, sendo o átomo a partícula base para a vida, é o
responsável pela ordem de toda a existência terrestre. Não existem divindades a qual o homem
deva viver em prol, portanto, o ser humano é unicamente o dono da conduta de sua vida,
procurando e almejando sempre o prazer espiritual, tão remoto de sua essência (CÂMARA,
2014).

Na Idade Média, entre o século IV e o século XV, ocorreram grandes mutações de pensamentos
e assertivas sobre a ética. Uma nova ética considerada absoluta, identificada como a única e
verídica fonte de justiça e do bem. A moral cristã, assim conhecida, era ponderada a unidade
social e o único caminho a ser seguido em meio às crises existentes na Idade Média
(CANABRAVA, 2009).

A filosofia cristã se baseia em verdades reveladas para estabelecer seus preceitos éticos. Imposta
pelas Igrejas Cristãs exercia um domínio ideológico em relação a seus fies, em vista que, não
possuíam outras formas permitidas de conhecimentos que não fossem os advindos da moral
religiosa. O universo transpõe o lugar a Deus, sendo está à nova fonte de suprema veracidade,
moral e perfeição. Todavia, ainda que a filosofia estivesse a ‘’serviço’’ da Teologia
(CANABRAVA, 2009).

Agostinho resgata a filosofia grega e submete-a cristianização. De acordo com a ética de


Agostinho, se faz necessária uma ordem para chegar ao determinado fim. A ordem é a trajetória
constituída de forma ética, onde a vida comum e a busca constante de Deus são realizadas
servindo aos demais, esforços esses com finalidade de alcançar o fim último: a plena realização.
A corrente racionalista é o pilar da ética na modernidade. O antropocentrismo passa a imperar
enquanto a religiosidade perde força e prestígio diante das novas ciências. Como as ciências
naturais, desenvolvidas na modernidade, sobretudo por Galileu e Newton (NOSELLA, 2008).

O termo modernidade se faz presente em diversas épocas, pois certamente todas já foram
consideradas inovações para o seu tempo, entretanto, interligado a razão, o termo só foi
empregado no século XVII, com as revoluções científicas de Galileu e evoluções da filosofia
(NOSELLA, 2008).

Segundo Descartes, pai da ética moderna, a ética é racionalizada por um sujeito pensante. Em
seu livro Discurso do Método, expõem a necessidade de todos os homens utilizarem a razão,
inclusive os de senso comum. A razão seria a norteadora ética, era o parâmetro para todas as
coisas (KUJAWSKI, 1969).

A filosofia ética moderna tem seu apogeu em Immanuel Kant, em que utiliza a concepção de
moralidade. O homem é livre e autônomo e goza do hiperativo categórico, em que os seres
humanos devem agir de acordo com seus princípios, como se fossem aplicados a todos,
tornando-se lei da natureza (CANABRAVA, 2009).

Infere-se que, a ética sofreu diversas modificações ao longo das eras históricas, em que os
primeiros estudos e reflexões acerca do tema foram elaborados pelos filósofos socráticos e sua
evolução continua a ser largamente e profundamente explorada para a melhor compreensão das
acepções da ética moderna e estudo da sociedade construída pelo ser humano, analisando assim a
moral e os valores empregados na coletividade (CANABRAVA, 2009).

1.2 Da aplicabilidade da ética no Direito

Direito é uma palavra com origem do latim directum, oriundo do verbo dirigere que significa
ordenar. De sua etimologia Direito é ‘’aquilo que é reto’’, condizente com os preceitos de justiça
e equidade. Portanto, a ciência do Direito é responsável por originar normas a serem notadas pela
sociedade que designam direitos e deveres. Como instrumento de controle social, o Direito é o
mediador entre o homem e a sociedade e trabalha no sentido da aplicabilidade das leis e
princípios morais na solução de conflitos (BERNARDES, 2009).

Sendo o Direito uma área das Ciências Humanas que tem por objetivo a manutenção da
justiça e da moralidade social, o caráter normativo da Ética está intimamente ligado ao Direito,
visto que, surge com o ideal grego de justa medida, que busca o agir humano de forma
equilibrada e sensata para o bem comum (BERNARDES, 2009).

Os profissionais do Direito devem se fundamentar nos valores éticos e morais, possibilitando o


exercício da ética profissional. O ser humano deve estar penetrado de princípios e valores
próprios para aplicá-los em sua profissão. A ética profissional, por um lado exige a deontologia,
que é o estudo dos deveres específicos de cada área profissional, por outro lado, exige também a
diciologia, que são os direitos que o profissional possui por desempenhar determinada profissão.
Ou seja, seus deveres e direitos (CAMARGO, 1999).

Do ponto de vista cultural, o Direito abrange uma realidade norteada de valores, pois tem como
objetivo a busca pela segurança jurídica e a justiça. Objetivos esses que são comuns a ética,
contudo a ética não impõem uma obrigatoriedade, não sendo possível assim, a atribuição do
valor imperativo da norma jurídica para a norma ética, todavia, a validade da norma jurídica só é
verificável quando está protegida pelos princípios da ética (BERNARDES, 2009).

A ética pode ser compreendida como uma escolha baseada em princípios e valores de uma
determinada sociedade, qual culminam na seleção de uma diretriz avaliada obrigatória em uma
coletividade, já que, toda norma ética expressa um juízo de valor a qual é ligada a uma sanção.
Na teoria do mínimo ético o Direito é o representante mínimo de Moral necessária para a
sobrevivência da sociedade, estando o Direito relacionado também a Moral, pois como
pertencentes ao mundo ético, o viver conforme a ética consiste no ato de junção de uma regra
moral e uma norma jurídica em situações usuais (REALE, 2002).

É perceptível a complementação entre direito e ética, onde a segunda corresponde ao conjunto de


princípios valorativos de um determinado grupo ou sociedade identificável, de modo que
restringe e orienta as ações a serem adotadas perante o grupo. E o Direito é o artifício criado pelo
Estado para cristalizar os parâmetros morais e éticos e definir punições quando necessárias,
mediante a estrutura políticas criadas para essa intenção (JR ZANON, 2014).

O Direito se verdadeiramente aplicado, efetivamente cumpre a consolidação dos desígnios


sociais e da pessoa humana, firma progressos normativos e teóricos que, se bem abrangidos e
aplicados pelos operadores jurídicos, estabelece a segurança jurídica. Daí a ideia de recomendar
à ciência do Direito esse infindável regresso às reflexões morais não para tomá-las de forma
mística ou metafísica como os jurisnaturalistas, mas para que homens de hoje, possam ter em
vista um horizonte de justiça nas sociedades (MACEDO; REZENDE, 2008).

1.3 Ética e relativismo cultural

Práticas culturais são relações comportamentais aprendidas advindas de dois ou mais indivíduos
com o passar das gerações, selecionadas devido ao seu impacto no grupo praticante ou em outras
práticas. Portanto, são variáveis independentes que controlam o comportamento humano
individual e são ao mesmo tempo dependentes por originarem-se do comportamento individual
(ANDERY, 2007).

O relativismo cultural é defensor de que os conceitos de bem e mal são variantes de cada cultura.
Em uma determinada cultura o bem é considerado como o que é socialmente aceitável. Os
princípios e regras morais são estabelecidos de acordo com as normas sociais das sociedades
(GENSLER, 2004).

Nesse relativismo não há um padrão objetivo, os pontos de vistas são relativos á culturas dos
indivíduos pertencentes. Quando dito o contrário, faz-se uma imposição de uma cultura sobre
outra, como verdades objetivas. O conceito de mal é também relativo, para o relativismo cultural
o mal não é absoluto, o que se pode considerar mal em determinado grupo social pode ser bem
noutra (GENSLER, 2004).

Os adeptos ao relativismo cultural tornam-se mais propícios a aceitarem as diferenças entre


sociedades, fazendo a percepção de que outras culturas não são ‘’erradas’’ e sim diferentes. O
mundo para o relativismo cultural está dividido em diversas sociedades diferenciadas. São
sociedades em que não existem desacordos, visto que o bem e o mal são estabelecidos pela
maioria, assertiva nem sempre coerente (GENSLER, 2004).

Se o relativismo cultural representasse uma verdade não seria possível discordância dos valores
de nossa sociedade. Pois é possível a afirmativa de que algo é aprovado e aceito pela sociedade,
contudo pode não representar um bem (GENSLER, 2004).
Existem duas formas básicas de relativismo ético: subjetivo e cultural. Os dois pontos de vista
negam a existência de verdades morais absolutas e objetivas. Discordam ao de que dependem os
juízos de valor e os princípios morais. Levando em conta o relativismo ético subjetivo, o correto
é tudo aquilo que é moralmente válido, a ética é uma questão individualista, o que o sujeito
acredita como certo não pode ser considerado como incorreto por indivíduo algum. Já segundo o
relativismo cultural o que é correto para ti depende do que consiste em aceito ou considerado
moralmente correto pelo grupo social ou cultura a que tu pertences (HARRYS, 2002).

Uma questão falha do relativismo cultural é referente ao racismo. Os preceitos relativistas


divergem com os preceitos éticos. Uma perspectiva ética satisfatória tem que demonstrar meios
efetivos para combater atos racistas, entretanto, o relativismo prega que se o racismo for aceito
por determinada sociedade ele considerado é bom (GENSLER, 2004).

Uma das justificativas para atitudes relativistas culturais é que não existem padrões comuns entre
sociedades diferentes e consequentemente entendimento entre valores considerados aceitáveis e
não aceitáveis. A antropologia, pelo contrário, diz que o entendimento entre os homens é sempre
possível e se faz através da comunicação. Notoriamente que o entendimento e consenso entre
indivíduos da mesma sociedade se faz de forma mais fácil, mas o núcleo mínimo de valores e
traços que não variam está em todos os indivíduos, ainda que não se faça de forma tão perceptiva
(ROUANET, 1990).

Apesar de no primeiro momento fazer sentido, a ideia de relativismo cultural deixa implícito a
hipótese da falta de contato com sociedades mais desenvolvidas. Obviamente que não se pode
cobrar de sociedades antigas padrões morais modernos. É de suma importância ressaltar que o
relativismo cultural não se aplica a sociedades que possuem contatos, pois a partir do contato
entre tais sociedades há troca de conjuntos de valores e fica a critério de cada sociedade qual
padrão seguir (SACHSIDA, 2012).

Outra questão que enfraquece o relativismo cultural é a globalização. Esse movimento se faz
presente nos discursos acerca do respeito ás diferenças culturais, e está ligado ao
‘’multiculturalismo’’, que em primeira instância parece fazer referência a diversidade das
culturas e sua importância em meio ao mundo. Mas esse é um conceito que está ligado ao
inconstante processo social, sendo uma solução para as classes influentes e possuidoras do poder
político, deixando assim a sociedade sem saber que valores culturais devem seguir em meio a
tantas modificações e incertezas (BAUMAN, 2013).

1.4 O ato ético

A existência da ética não se faz de forma isolada do mundo, de forma geral, deve-se associar a
ética ao conhecimento, tanto quanto ciência, política, economia e etc. O ser humano movido pela
exigência da moral é composto pela ligação entre indivíduo, sociedade e espécie, ou seja, por
seus meios biológicos, seu ser individual e social. Portanto, toda visão acerca da ética deve levar
em consideração a dimensão egocêntrica e a potencialidade do desenvolvimento do altruísmo,
pois mesmo que indiretamente, o sujeito vive para si e para o outro. (SILVA, JORGE, 2013)
Todo ato ético é um ato de religação. Um ato moral é um ato individual de religação. Um ato
moral é um ato individual de religação, seja um com o outro, entre uma comunidade, com uma
sociedade, ou seja, a religação do ser humano com a sua espécie (SILVA, 2013).

A religação cósmica se consegue através da religação biológica, que ocorre por meio da
religação antropológica, que é perceptível através da solidariedade, amizade, fraternidade e no
amor, que é a religação antropológica soberana. O amor é a demonstração máxima da ética
(MORIN, 2006).

Há uma necessidade vital, social e ética de amizade e companheirismo entre os seres, de afeição
e amor para a realização plena da espécie humana. O sentimento do amor é a experiência
essencial para a religação humana. Dependendo do nível de religação humana, se for muito
complexa, só poderá ocorrer se for através do amor (MORIN, 2006).

O homem sem a religação se prende a si, se fecha em seu individualismo. Destarte, o fechamento
o que é o princípio de abertura ao outro: o altruísmo, no lugar de fazer se abrir, pode nos levar a
um fechamento maior ainda, é o caso do egoísmo extremo, o homem sendo seu próprio lobo,
onde o individualismo suplanta a coletividade e o ideal de bem comum. Em que o problema
central passa ser a barbárie gigantesca interior do homem. Por isso, é necessário que o homem
realize uma análise de pensamento, compreenda-se e se corrija afim de ao menos amenizar sua
barbárie interior e agir de acordo com a ética (HORVATH, 2011).

A ética complexa precisa do que é mais individual do ser humano, a sua autonomia de
consciência e sua noção de responsabilidade. Necessita do seu potencial reflexivo de espírito em
relação à análise do seu eu e de suas ações. O progresso da ética pode se realizar pelo seu
profundo enraizar, pela interação das consciências intelectual e moral (SANTOS;
HAMMERSCHIMIDT, 2012).

O pensamento complexo é o pensamento que se religa. E a ética complexa é fruto desta


religação. É de suma importância salientar que a religação inclui o processo de separação, pois
só o separado pode ser religado, portanto, a ética humana, deve se realizar através da
fraternidade, amor, união na separação (SANTOS; HAMMERSCHIMIDT, 2012).

As últimas expressões da Ética são consagradas ao amor. Ele não pode ser irracional; por isso,
cabe à Ética resguardar a racionalidade no íntimo do amor. Vivendo no amor, conseguimos lidar
com a insegurança e a inquietude, porque ele é o remédio para a angústia, para os males
(QUEIROZ, 2008).

1.5 Revoluções éticas

A modernidade é o nosso habitat peculiar. Não nos notamos como os velhos se viam, pois
nenhum deles refletia em questionar a naturalidade das afinidades entre o homem e a sociedade.
E a modernidade aprece precisamente quando o homem começa a se ajuizar desconexo da
comunidade que ele integra (COSTA, 2010).
Os seres modernos não atribuem a origem mítica da coletividade a um vinculo orgânico. Para
eles, é errônea a afirmação de que somos descendentes de Abraão, Rômulo, nem de Eva. Não
somos unidos por tradições, não pertencemos à mesma família, nem religião e costumes. Para os
modernistas, o que nos une é a nossa vontade individual, guiada pela razão. O racionalismo
clássico é oposto a tradições mitológicas e religiosas com base em uma razão natural, que explica
a ordem natural do mundo e os seus aspectos (COSTA, 2010).

A crença de que a razão poderia explicar todos os feitios do mundo, foi colocada em suspeita no
pensamento medieval, de maneira especial, porque muitos dos elementos essenciais do
cristianismo não eram franqueados pela razão, mas pela fé. Seria muita ambição do homem
aspirar que a sua razão abrangesse o mundo criado por um deus onipotente, cuja grandeza não
poderia ser nunca compreendida por nossa restringida racionalidade. Assim, mesmo que as
compreensões cristãs tenham sustentado a ideia de que a razão pode nos transportar a muitas
verdades, não se podia acreditar que ela nos desvendasse toda a verdade (PESTANA, 2012).

Assim, o pensamento medieval é bastante cético diante aos limites de uma racionalidade
individual. A razão é vista como algo que nos expõe a relações naturais, constituídas
independente dos homens. Portanto, é o critério de racionalidade que nos permite separar os
ditames da lei humana e lei natural (PESTANA, 2012).

Foi contra esta tradição, que naturalizava os seus valores tradicionais para garantir a sua
legitimidade, que elevou o pensamento moderno. Descartes foi pioneiro reconhecendo que, entre
o que ele ponderava natural, existia muito de convencionalismos difundidos pela sua cultura.
Mas ele já não mais podia converter em natural tudo o que lhe era familiar. Assim, a razão
moderna não se distanciou da noção de naturalidade, mas a reafirmou, especialmente Porque a
sua principal função era diferenciar o aparentemente natural do verdadeiramente natural
(SCREMIN, 2004).

As teorias dos contratualistas não articularam de maneira muito inovadora o direito natural e o
direito positivo, Porém, o campo da naturalidade foi redefinido, pois muita coisa passou do
campo da naturalidade para o campo da artificialidade. E foi justamente com esse trânsito que a
modernidade pôde criticar a tradição, da qual vários elementos passaram a ser vistos como
construções artificiais ilegítimas (ARANHA; 2009).

A saída encontrada para harmonizar essa fragmentação de moralidades coexistentes foi


justamente remeter a moralidade para o campo do privado, em que nenhuma validade objetiva
seria admissível. Mais do que isso, a privatização da moralidade era uma garantia da liberdade de
crença, especialmente da liberdade de religião, que era um dos pilares das modernas sociedades
européias. Assim, a regulação da vida pública deixa de ser um papel da moralidade de inspiração
religiosa, e passa a ser monopólio de um direito pretensamente laico. Porém, nem toda a
moralidade foi remetida ao campo do privado, pois restava a moralidade natural, cuja validade
seria objetiva (CHAUÍ, 2004).

Por isso mesmo, a ética moderna não se volta a uma catalogação das virtudes dominantes em
uma tradição, pois isso é deixado aos moralistas de cada crença, aos missionários e catequistas
de todos os gêneros. Esse gênero de educação moral não deixa de existir, mas ele migra da
reflexão filosófica para a pregação teológica. Todavia, restava aos filósofos definir aquele núcleo
da moralidade cuja validade universal poderia ser demonstrada. Nesse sentido, a busca
da moralidade se aproxima imensamente da busca pelo direito natural, pois ambas se fundem na
idéia de que existem valores justos por natureza, que podem ser identificados a partir de um uso
adequado da razão. Portanto, os primeiros filósofos modernos da ética, da política e do direito
continuavam a velha tradição platônica, em sua busca pela identificação do bem em si (CHAUÍ,
2004).

1.6 A Crise ética na modernidade

A ética moderna traz a tona o conceito de que os seres humanos sempre devem ser o fim de uma
ação e nunca um meio parar alcançar determinado interesse, pois o homem é visto no centro e
tudo está ao seu serviço. Essa é uma ideia defendida por Kant, um dos principais filósofos da
modernidade, que acreditava na ideia de o que o homem é um ser egoísta, destrutivo, ambicioso,
cruel e agressivo (GREIK, 2002).

As crises históricas determinam as mudanças históricas que acontecem e mudam a realidade da


sociedade de forma radicalmente. É uma questão bastante relevante para filosofia, visto que o
desenvolvimento da história e as suas crises cabem a filosofia, ela não pode ficar estática a
situações vividas pelo homem moderno. A função da filosofia é elucidar o homem em seu ser
total (MATOS, 1992).

A ética tornou-se uma problemática fundamental no ocidente do século XX. Durante os anos 50
e 60 chegou-se a utilizar o termo reabilitação ética. A mentalidade técnico-científica se tornou
cada vez mais dominante na civilização ocidental, menosprezando a ética e a reduzindo apenas
aos problemas individuais. A ética não faz parte do âmbito racional, pois racionalidade é ligada a
ciência, e tudo que não é pertencente a ciência é resultado do livre arbítrio de cada um. A ética
está no centro da vida humana, pois a tarefa fundamental e primordial do homem é a construção
do seu eu (OLIVEIRA, 1989).

O problema se faz presente, sobretudo, no pensamento europeu, ainda por uma oposição que
vem desde Kant, com um enorme empecilho a qualquer ontologia. Não se faz mais uma teoria
do mundo. A filosofia virou apenas uma teoria do nosso conhecimento do mundo. Enquanto não
suplantarmos a dicotomia entre ser humano e mundo, entre sujeito e objeto, entre teoria e
realidade, que é a legado deixado pela modernidade, ainda majoritária no pensamento atual, nós
não teremos saídas. Teremos saídas, no máximo que não são capazes de dizer o que devemos
fazer frente às questões que cada um deve enfrentar. A questão fundamental da filosofia hoje é
voltar a ser uma teoria da realidade, é voltar a falar do legítimo. A partir dos valores, em
primeiro lugar, ontológicos, pode-se perguntar o que a realidade pode dizer enquanto exigência
ética (OLIVEIRA, 2004).

Podemos pensar em uma ótica de entender a ética da vida coletiva. E uma idéia fundamental que
se destaca como uma ética alternativa é aquela onde o homem não é em primeiro lugar só
indivíduo, mas um ser fundamentalmente de relações e que só conquista o seu ser através do
outro (CUNHA, 2012).
Somente uma sociedade que pudesse ser articulada de tal maneira, onde cada ser humano possa
ser respeitado e respeitar os outros, seria uma sociedade capaz de criar condições para realização
do ser humano. Esta é a idéia do reconhecimento mútuo, da dignidade igual de todos os seres
humanos. É um princípio ético fundamental para organizar a vida coletiva. Isto é, não há seres
humanos especiais e a eles não se destinam os bens da Terra. Mas todos os seres humanos são
portadores da mesma igualdade. É por isso que a participação, naquilo que é comum, e nas
decisões da vida coletiva, é um direito fundamental de cada um, uma vez que cada um é igual
(RAMOS, 2012).

1.7 Racionalidade instrumental

A modernidade, desde suas origens, desenvolveu-se lutando pela busca da emancipação do


sujeito em nome da ciência, rejeitando toda a herança judaico-cristã, o dualismo cristão e as
teorias do direito natural que haviam provocado o nascimento das Declarações dos Direitos do
Homem e do Cidadão (ROESLER, 2012).

Da superação da fé e do sagrado para a certeza das ciências, de submissão ao dogma à razão. No


propósito renascentista ressurgia imponente a razão como referência única do saber. Neste novo
paradigma, o conhecimento somente tem sentido se provado, se aprovado pela ciência com seus
métodos, ritos e instâncias de validação. Com a modernidade, a única resposta para o homem
está condicionada ao discurso científico (TOURAINE, 1994).

A profundeza da crise que a modernidade causou ao propor novos referenciais e novos


paradigmas de fundamento para a humanidade baseados na adoração da ciência. O desafio posto
é de retirar o mais sagrado construto da humanidade que por séculos justificou práticas políticas
e religiosas, arrebanhou multidões, suplantando-o por um conhecimento que é pura razão
(NIETZSCHE, 2002).

As grandes promessas da modernidade, na ânsia de responder às necessidades humanas,


concentram-se nas conquistas da ciência e da tecnologia, impondo um processo crescente de
valoração de todas as coisas, num sentido materializado. Inicialmente na linguagem marxista,
atribuindo valor econômico às coisas pelo tempo de trabalho humano necessário à produção do
bem; posteriormente, esvaziando-se deste sentido, à medida que se fundamentava na tecnologia e
na ciência, em substituição ao trabalho humano, passando a valorar exclusivamente pela
produtividade. (ROUANET, 1993)

Depois de mais de três séculos de discussão sobre o triunfo da razão e o esboroamento das
tradições, agora, o esgotamento da modernidade transforma-se em sentimento de angústia e
desencantamento do mundo (GAUCHET, 2004).

1.8 O método da complexidade

O método de complexidade é um meio de consolidar a reforma do pensamento, pois rearticula,


contextualiza, permitindo um pensamento racional complexo, capaz de conduzir ações
complexas. Esse método é proposto por Morin, ao mesmo tempo em que ultrapassa o método
cartesiano, deverá se resguardar a inspiração primeira e suas conquistas (FORTIN, 2007).
O método da complexidade é o caminho, estratégia e perseguição ao conhecimento. Faz as
sinapses entre os saberes, entre o ser e o objeto, entre o sujeito e o conhecimento. Leva-nos a
compreender e a repreender, a organizar de forma mental e estruturar o raciocínio (FORTIN,
2007).

Portanto, esse reaprender, na perspectiva da complexidade, é a reforma do pensamento, num


pensar que possa articular e contextualizar o conhecimento. Objetivou-se no desafio de encontrar
e elaborar operadores do conhecimento que permitissem abordar a complexidade do mundo.
Esses instrumentos mentais são sistematizados, no método de complexidade, em princípios que
subsidiam a construção do conhecimento complexo. São esses princípios que conduzem à
reforma das estruturas de pensamento, levando a outra compreensão da realidade por operar com
outras categorias de análise (MORIN, 2006).

Diferente dos princípios cartesianos, das ideias claras e distintas, da análise, da ordenação e da
quantificação os princípios da complexidade, operam a contextualização, a ligação, a
complementaridade, a incerteza e a recursividade. Em sua obra, Morin tece princípios para um
pensamento complexo, colocando-os como complementares e interdependentes. Dentre esses, se
destacam três, considerados fundamentais: o dialógico, o hologramático e o elo recursivo
(GRZECA, 2010).

Há, porém, outros princípios e categorias com origem em diferentes ciências e que colaboram
com a construção do pensamento complexo que, no entendimento que são: o Princípio da
Complementaridade, o Princípio da Incerteza e o Princípio da Autopoiése (MARTINAZZO,
2009).

Pode-se promover a reforma do pensamento, constituindo, como forma de pensamento, o pensar


complexo. Essa reforma de pensamento tem desdobramentos para além do campo cognitivo, para
o campo da ação do homem, ou seja, desdobramentos éticos e políticos (ALMEIDA, 2002).

1.9 Sonhos éticos

A ética da vida não se prende apenas ao caráter biológico, mas transcende para poder desejar a
vida com graça e paixão. Ao referir-se a poder, fala da atitude de mudança de pensamento em
relação à ética da vida. A ética é responsável por recriar o sentido da vida, para que tudo volte a
fazer sentido, para que a razão se reconecte com a paixão e o pensamento com o sentimento
(LEFF, 2001).

Dessa forma, a ética da vida é o caráter do ser, do eu, do indivíduo ao contrário do pensamento
dominante de separação do conhecimento e da vida. Reafirmando que a mudança passa pelo
retorno à essência da vida, pois toda ética tem como tema central a vida, mesmo havendo outras
éticas, a ética deve ser uma ética criativa, capaz de reestruturar pensamentos e sentimentos para a
boa vida (BAUDRILLARD, 1990).

A ética da vida trata de sonhos, desejos, vontades, mundo de sentidos, vontades compartilhadas
e diálogo de saberes. A ética da vida é contrária ao processo científico de validação e refutação,
pois vai a busca de uma verdade comum. É a busca pela felicidade, o esforço para atingir a
excelência e a virtude (PHILIPPE, 2002).

A ciência tradicional separa a razão e o sentimento e busca produzir verdades para conduzir a
vida humana. O conhecimento tornou-se instrumento de poder, esquecendo-se do ser, do sentido
da vida, da ética da vida. Hoje, para pensar o mundo, para está inserido na vida de forma
verdadeira, é necessário superar a ética que vem da ciência, como a que emana o mercado
(MARCHIONNI, 2008).

2 Considerações finais

No presente trabalho procurou-se discutir como a ética sofreu modificações desde a antiguidade
até a modernidade e sua importância para a organização das relações humanas. Entende-se por
ética como o ramo da Filosofia dedicado aos assuntos morais, significa aquilo que pertence ao
caráter.

Sobre sua relação com o relativismo cultural, fica claro que o que pode ser considerado ético
para uma determinada sociedade ou grupo não condiz com uma prática ética em outro, contudo,
fica perceptível que o conceito de relativismo cultural é frágil, pois como defensor de que tudo
que é considerado bom é socialmente aceitável, entretanto a fragilidade está presente no fato de
que nem tudo que é aceitável pela sociedade é considero bom.

A ética moderna é marcada por transformações e embates, embora não seja fácil sistematizar
todas as doutrinas éticas que se desenvolveram nesse período, podemos dizer que em oposição à
ética teocêntrica religiosa, a ética moderna segue a tendência antropocêntrica. Temos
rompimento entre fé e razão, ciência e religião, estado e igreja, o homem e deus.

É importante finalizar a reflexão sobre as questões éticas, frisando os aspectos da crise ética.
Sempre haverá crise, quando a tradição se encontrar em conflito com o progresso, ou vive-versa.
Assim sendo, a ética entra em crise quando as particularidades de seu ethos cultural e histórico
não encontram mais uma justificação racional na tradição que as vinha sustentando e
legitimando.

Assim concebida, a crise é um processo que naturalmente acontece em todas as áreas e


civilizações, cujo dinamismo está sujeito às altos e baixos da história. A crise não tem
necessariamente um sentido negativo, pois, no seu dinamismo, pode significar não apenas o final
dos valores de uma determinada civilização, mas também o inicio de novos valores. Pois bem, se
formos capazes de repensar um novo ethos para nossa civilização, a crise ética pode também
significar uma crise de esperança.

Referências
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Além do bem e do mal. São Paulo: Cia. das Letras, 2005.
RAMOS, Pestana. Artigo científico: a evolução conceitual da ética. São Paulo: Intertexto, 2012.
CANABRAVA, Wardison. Artigo científico: O pensamento ético filosófico. São Carlos:
Intertexto, 2009.
CUNHA, Helvécio Damis de Oliveira. A crise ética na pós-modernidade e seus reflexos sobre a
educação jurídica. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV, n. 100, maio 2012.
NOSELLA, Paulo. Artigo científico: Ética e pesquisa. Campinas: Intertexto, 2008.
MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF:
UNESCO, 2000.
NOSELLA, P. A educação do século XXI: integrar trabalho e tempo livre. In: NOSELLA, P.
Qual compromisso político?: ensaios sobre a educação brasileira pós-ditadura. 2. ed. Bragança
Paulista: USF, 2002.
GÜNTHER, Klaus. Teoria da argumentação no direito e na moral: justificação e aplicação.
Tradução de: Claudio Molz. São Paulo: Landy, 2004. Título original: Der Sinn fur
Angemessenheit: Anwendungsdiskurse in Moral und Recht.
JUNIOR, Zanon. Artigo científico: Moral, ética e Direito. Florianópolis: Intertexto, 2014.
BARRETTO, Vicente de Paulo. Dicionário de filosofia do direito. São Leopoldo, RS: Unisinos;
Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
MACEDO, Humberto; RESENDE, Flávia. Artigo científico: A ética com origem e fim no
Direito. Belo Horizonte: Intertexto, 2008.
BAUMAN, Zygmunt. Bauman sobre Bauman: diálogos com Keith Tester. Tradução de Carlos
Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
________. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001.
________. Modernidade e holocausto. Tradução de Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Zahar,
1998.
OLIVEIRA, Manfredo. Artigo científico: Metafísica estrutural enquanto Teoria do Ser. Belo
Horizonte: Intertexto, 2010.
Reale, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito. 5ª ed., Editora Saraiva, São Paulo, 2003.
Harry, Gensler. Ética: Introdução a contemporaneidade. Routledge. 1998

Nota:
[1]Artigo científico apresentado a Faculdade de Imperatriz no Curso de Direito, no semestre
2015.1, como requisito obrigatório para obtenção da segunda nota na Disciplina de Introdução a
Filosofia geral, orientado pelo Prof. Wanderson Wendel Noronha Lô, Mestre em Educação pela
Universidade Católica de Brasília. Especialista em Didática Universitária e em Gestão Escolar;
Licenciado em Filosofia; Pedagogia e Teologia.

Informações Sobre o Autor

Yanka Maria Rodrigues Carvalho

Acadêmica de Direito da Faculdade de Imperatriz – FACIMP


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CARVALHO, Yanka Maria Rodrigues. Ética na modernidade: uma questão de reflexão. In:
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVIII, n. 143, dez 2015. Disponível em: <http://ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16656>. Acesso em abr 2019.
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A Ética para os dias de hoje: reflexões e


apontamentos
texto publicado com a colaboração de

Iviane de Melo Pena, Thamia Leal de Oliveira e Juliana Beltrão da Silva

acadêmicas de Serviço Social da UFAM

postado em abr. 2016

Ao longo do dia, diante de pessoas, coisas e situações, muitas avaliações ou pré-conceitos


são perpetrados constantemente. Desde que o mundo é mundo é assim. O ser humano vive sob o
maniqueísmo das coisas: o bem e o mal, o certo e o errado, e o que diferencia cada um tem a ver
com a boa índole refletida na boa conduta frente à sociedade, regida por regras de bem viver que
precisam ser respeitadas. Não deve ser confundida com as leis, mas está relacionada com o
sentimento de justiça social. Princípios ou valores morais, como a ética são peças chave para a
harmonização dos grupos, a fim de que haja um equilíbrio e bom funcionamento social,
possibilitando que ninguém saia prejudicado. Pelo menos é o que diz a teoria. Nesse sentido,
ética é um tema recorrente, pois, está atrelada à vida, ao cotidiano do Homem.

Nos dias de hoje, muitos citam a palavra “ética”, mas, quando perguntados, não
conseguem explicá-la nem defini-la. Por isso, o objetivo deste texto é abordar o conceito de ética
de modo a tornar mais claro seu entendimento a partir de uma reflexão sobre a mesma nos dias
atuais. Em um primeiro momento a ética nos remete a norma, liberdade e responsabilidade. Falar
em ética significa falar de liberdade, pois não há sentido falar de norma ou de responsabilidade
se não partimos da suposição de que o ser humano é realmente livre para agir, ou pode sê-lo.

A norma nos diz como devemos agir. E, se devemos agir de tal modo, é porque também
podemos não agir deste modo. Isto é, se devemos obedecer, é porque podemos desobedecer ou
somos capazes de desobedecer à norma. Também não haveria sentido falar de responsabilidade,
se o condicionamento ou o determinismo fosse tão completo a ponto de considerar a resposta
como mecânica ou automática.

Por outro lado se afirmarmos que o determinismo é total, não há o que falar de Ética; pois
a Ética refere-se às ações humanas, e, se elas são totalmente determinadas de fora para dentro,
não há espaço para a liberdade, como autodeterminação e, consequentemente, não há espaço para
a Ética.

Para falar sobre um dos ramos da filosofia dedicado aos assuntos morais que norteiam um
meio social, é necessário refletir sobre os dilemas da conduta dos indivíduos, na
contemporaneidade, em todos os âmbitos sociais, a começar na família, na escola, no trabalho e
assim sucessivamente. Pensar nos descaminhos dos seres humanos, refletidos na violência, na
exclusão, no egoísmo e na indiferença pela sorte do semelhante e até mesmo da sociedade.

Na atualidade a ética abrange uma vasta área, podendo estar relacionada com temas
ligados ao ambiente familiar, escolar, profissional, econômico, social e político. Existem códigos
de ética profissional que indicam como o indivíduo deve se comportar no âmbito da sua
profissão. Nos dias atuais com um mundo cada vez mais globalizado e competitivo, as pessoas
preocupam-se com a ética nos seus negócios mostrando-se cada vez mais eficazes para competir
com sucesso e obter resultados positivos.

Um outro exemplo a ser citado é na arena política onde a sociedade tem exigido cada vez
mais a moralidade de seus agentes e representantes e cada vez mais “condenando” as ações que
saqueiam os cofres públicos tirando do povo o recurso que deveria ser empregados na prestação
de serviços a população (educação, saúde, segurança, infraestrutura).

Na arena política vale destacar a importância que os conceitos de democracia e direitos


humanos assumiram que são também, simultaneamente, de caráter moral: como por exemplo, a
partir da discussão em torno dos conceitos de liberdade, igualdade e justiça social. Mas o que é
certo, o que é errado? Existe uma série de discussões políticas relativas aos direitos de grupos
sociais as quais devem ser percebidas como questões morais: a questão do aborto, por exemplo,
que ocasiona grande polêmica quando posto em pauta, os direitos dos deficientes, a eutanásia,
entre outras questões. São temas complexos que perpassaram o tempo e hoje resultam em
discussões que esbarram no senso ético para a resolução de cada situação em seu tempo.

Diretamente relacionada ao aspecto político, a ética nos remete também à noção de


cidadania e a vida em comunidade com o objetivo da realização das pessoas. A ética na
cidadania busca refletir sobre o comportamento humano sob o ponto de vista das noções de bem
e de mal, de justo e injusto, abrangendo as normas morais e as normas jurídicas; a ética na
cidadania busca um meio em que as pessoas possam interagir na sociedade obedecendo tais leis
morais para um bom desempenho da comunidade humana.

Crise moral da humanidade

Se nós partirmos do princípio de que ninguém nasce com preceitos morais internalizados,
temos que admitir que é pela educação que o indivíduo tem a chance de construir sua
personalidade moral E em uma sociedade competitiva e individualista como a que vivemos, pode
parecer utopia aspirar por valores como a justiça, baseados na reciprocidade e no compromisso
pessoal. Assistimos todos os dias ao retrato de um país que esqueceu esse “princípio da vida”.
Nem é preciso dizer quem mais sofre com esse descompromisso. Nesse descompasso, patologias
sociais como as desigualdades e a corrupção se proliferam ficando cada vez mais aguçando a
crise dos valores morais e sociais. E isso atinge a humanidade, de modo geral.

A ética supõe-se a necessidade da reflexão sobre valores sociais em meio a crise


estabelecida reduzida ao individualismo e à competitividade, por isso, se torna necessário, mais
do que nunca, uma preocupação com o social. Sim, porque a crise da Humanidade é uma crise
moral. Evidencia-se aqui, a falta de ética nos vários âmbitos. A discussão sobre a justiça social é
também uma discussão moral, admitindo que os valores das ações sociais estejam deturpados
devido à lógica do sistema vigente. Bem e mal, certo e errado, justo e injusto cederam lugar ao
sentimento de sobrevivência, do “salva-se quem puder” ou do interesse pessoal e particular numa
sociedade exploradora, que mascara a liberdade, condição fundamental para a realização de
ações morais.

Ademais, vivemos em uma sociedade globalizada, onde o mundo se tornou uma grande
aldeia global. Em época alguma se atingiu um nível de inter-relacionamento que nos permitisse
falar em um mercado mundial que determina a produção, a distribuição e o consumo de bens, e
em uma cultura da virtualidade real, que liga todos os pontos do globo e influencia
comportamentos. E em meio a esse processo fala-se ainda de uma “ética do mercado”.

Em meio a todos estes aspectos sociais e globais, faz-se necessário que cada ser humano
esteja consciente de que não bastam as reflexões, é preciso mudar conceitos, ter condutas
condizentes com o que harmoniza a sociedade em todos os seus segmentos. Não se pode
desconsiderar que, tanto no âmbito das relações humanas, quanto no político, econômico, enfim,
social, constantemente são feitos julgamentos de forma moral. Basta observar que um grande
espaço nas discussões entre amigos, na família ou no trabalho abrange aqueles sentimentos que
pressupõem juízos morais: indignação, rancor, sentimentos de culpa e vergonha. Também no
domínio político julga-se moralmente de forma contínua, e valeria a pena considerar que
aparência teria uma disputa política não conduzida pelo menos por categorias morais.

Contudo, não há receitas para o agir bem: o compromisso consigo, com os outros, com as
novas gerações exige um estado de alerta constante. Viver sob os moldes da moral não é tarefa
simples nem fácil, mas há a possibilidade de participar de um mundo moral. E o que podemos
tirar de lição é que os problemas éticos presenciados na atualidade não vão se resolver apenas
por tentativas isoladas de educação ou instrução ética dos indivíduos. É preciso vontade
individual e política de alterar as condições sociais geradores das mazelas sociais como a
violência, a corrupção, a exploração, vicissitudes dos que estão à margem da sociedade. Em
outras palavras: não basta “reformar o indivíduo” para “reformar a sociedade”; é preciso
reformar a ambos. Um projeto moral desligado de um projeto político sucumbiria ao fracasso. Os
dois processos caminham juntos, pois formar o ser humano plenamente moral, ético, só é
possível na sociedade que também se esforça para ser justa e democrática, com direitos
igualitários a todos, sem exceção.

E sendo a ética a ciência que estuda o comportamento humano (como o entedia o filósofo
grego Aristóteles) com ênfase tantos nos valores individuais como nos valores do individuo
perante a comunidade a qual pertence, faz-se mister exigir de cada um e da sociedade seriedade e
dignidade nos seus atos sejam eles políticos, sociais, culturais, religiosos ou morais. É sempre
importante fazer uma análise de como a ética se faz presente em nossa vida, nos dias atuais, pois
se observa que certos valores que cada indivíduo assimila no decorrer de sua formação como
pessoa, muitas vezes adquiridos em sua família, escola, enfim, tais valores procuram nos guiar
através de nossas escolhas, entre o certo e o errado, o bem e o mal, possuímos uma liberdade de
escolha que nos faz mais responsáveis por nossas ações e que vem a nos incentivar a colocar em
prática nosso respeito e dignidade, levando em conta o bem comum de todos a nossa volta.

WEBGRAFIA CONSULTADA

NASH, L. 2001. Uma abordagem da importância da ética nas organizações. Disponível em:
www.puccamp.br/centros/cea/sites/revistas/conteúdo

[PDF] ÉTICA E MORAL, Nos dias de hoje. Disponível em:


www.saojose.paloyinas.com.br>files>media.

A Política e suas Interfaces → Ética e Política → Ética e Moral → A Ética para os


dias de hoje: reflexões e apontamentos

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