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Dossiê do Professor – Em Questão – Filosofia 10.

º ano

Correção do teste de avaliação 5


A dimensão pessoal e social da ética

Grupo I

1. C

2. B

3. C

4. A

5. C

6. D

7. C

8. D

9. B

10. A

Grupo II

1.
1.1. A afirmação da alínea c) é a única que exprime um juízo de valor, pois traduz a avaliação
(negativa) que alguém pretende fazer da prática da utilização de animais em experiências
científicas ou o reconhecimento nessa prática de algo inadmissível. Geralmente, os juízos
de valor morais são normativos ou prescritivos e, neste sentido, fazem recomendações
sobre como as coisas deveriam acontecer (neste exemplo, assume-se que não deveriam
utilizar-se animais em experiências científicas).
As afirmações das alíneas a) e b) exprimem juízos de facto, já que apenas pretendem
descrever o que um dado sujeito (Abel) gosta de fazer (“ver documentários sobre
investigação científica”) e o que ele pensa sobre a utilização de animais em experiências
científicas.
1.2. O problema da natureza dos juízos morais é um problema filosófico, metaético, que visa
esclarecer que tipo de conhecimento é possível termos ao nível da moral/ética.
O problema é habitualmente tratado a partir de duas questões. A primeira é: “Será que os
juízos morais têm valor de verdade?” Os filósofos que respondem afirmativamente a esta
questão defendem ser possível termos conhecimentos no âmbito da moral e, por isso,
enfrentam uma segunda questão: “Se os juízos morais têm valor de verdade, são
objetivos ou dependem dos sujeitos/das culturas que os formulam?”

José Ferreira Borges, Marta Paiva, Orlanda Tavares


Dossiê do Professor – Em Questão – Filosofia 10.º ano

2. Se os juízos morais não tiverem valor de verdade, não podemos dizer se são verdadeiros ou
falsos nem podemos esperar qualquer tipo de conhecimento moral (as questões e os
problemas ficam, a este nível, sem resposta). Esta posição é assumida pelas perspetivas não--
cognitivistas. O emotivismo é uma dessas perspetivas.
Segundo os emotivistas, os juízos morais expressam estados mentais, emocionais ou afetivos
que não podem ser analisados ou conhecidos, dado que não exprimem crenças propriamente
ditas. Afirmar que “A utilização de animais em experiências científicas é moralmente
inaceitável” é o mesmo que expressar uma emoção de desagrado perante essa prática
(“Abaixo a utilização de animais em experiências científicas!”). Os emotivistas consideram,
ainda, que os conceitos éticos são, na verdade, uma espécie de pseudoconceitos impossíveis
de analisar. Para os emotivistas, não há factos morais e, como tal, não podemos determinar a
veracidade dos enunciados morais nem analisar os “conceitos éticos”. Daí não podermos ter a
pretensão de construir ou justificar qualquer tipo de crenças ou convicções morais.

3. A perspetiva com que poderia identificar-se o autor do depoimento acima transcrito seria a do
subjetivismo moral (simples). Para o subjetivismo moral, a verdade dos juízos morais é relativa
ao sujeito que os formula. Assim, por exemplo, juízos morais como “A eutanásia não devia ser
legalizada” ou “O aborto é moralmente justificável” refletem apenas a reprovação ou aprovação
que um dado sujeito faz dessas práticas, não existindo propriamente um domínio objetivo ao
qual cada um desses juízos se possa referir. Esses juízos têm valor de verdade, e aquilo que
determina se são verdadeiros ou falsos é a maneira particular como o sujeito que os formula
avalia a realidade. Isto implica que, em assuntos morais, nada seja objetivamente correto ou
incorreto, bom ou mau; “cada um sabe o que é melhor, e ninguém pode dizer que está
absolutamente certo”.
O subjetivismo moral apoia-se na existência de desacordos morais para afirmar que não há
verdades morais objetivas. As verdades em moral são sempre dependentes ou relativas ao
sujeito.

Grupo III

1. O aluno poderá responder de acordo com os seguintes itens, ou outros igualmente relevantes:

[Se adotar uma posição relativista]


– Sim, o ideal de igualdade de género (ou sexual) representa um ponto de vista cultural
particular;
– as culturas adotam diferentes práticas e valores no seu interior e aquilo que cada cultura
define como socialmente certo ou errado está dependente das crenças que os seus membros
partilham;
– a verdade/falsidade dos juízos morais está dependente dos valores e princípios socialmente
aprovados no interior das culturas; os juízos morais são relativos aos padrões culturais das
sociedades, pelo que não há verdades morais objetivas e universais;
– os desacordos morais que existem decorrem da diversidade de padrões culturais, mas um
determinado juízo moral ou uma prática cultural concreta (veja-se o caso referido no texto
relativo ao Irão – proibir as mulheres de frequentar determinados cursos universitários) não
são necessariamente “os verdadeiros” ou “os corretos”;
[Poderá acrescentar-se que os diferentes países, incluindo o Irão, que assinaram a DUDH
aplicam ou hierarquizam, na prática, os princípios e os direitos das pessoas de maneiras muito
diferentes];

José Ferreira Borges, Marta Paiva, Orlanda Tavares


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– é importante adotar a tolerância face às crenças morais de outras culturas; a forma como as
diferentes culturas põem em prática os valores e princípios morais deve ser respeitada, pois
não é legítimo impor aos outros a nossa própria “forma cultural” de pensar e viver;
– há quem pense que os países do Ocidente adquiriram uma certa hegemonia cultural que
querem impor como única. Esta hegemonia cultural é perigosa, pois pode aproximar-se do
etnocentrismo. Por isso, há quem defenda que “os ocidentais não devem procurar impor os
seus valores a outras culturas”.

[Se adotar uma posição objetivista]


– Não, o ideal de igualdade de género pode representar um ponto de vista cultural, mas não é
meramente relativo ao contexto cultural de uma dada sociedade ou comunidade, nem é
exclusivamente dependente de preferências ou opiniões pessoais;
– a igualdade de direitos entre homens e mulheres, nomeadamente no acesso à educação e
ao ensino universitário – para nos reportarmos ao caso referido no texto –, deveria ser
reconhecida como um direito universal, tal como está previsto na Declaração Universal dos
Direitos Humanos (DUDH);
– impedir as mulheres de frequentarem cursos universitários tradicionalmente ocupados por
homens não é justificável de um ponto de vista moral imparcial, pois não está a considerar os
interesses das mulheres de igual modo. Há boas razões para acreditar que “a igualdade de
direitos entre homens e mulheres no acesso à educação é moralmente legítima”, e o juízo
moral que esta afirmação exprime é objetivamente verdadeiro;
– é errado pensar que um juízo moral só é objetivamente certo para alguns, ou que é
verdadeiro apenas à luz de certas culturas – como as que ficam no Ocidente –, e falso nas
outras (como no caso do Irão); [Poderá acrescentar-se que o Irão terá reconhecido a igualdade
de direitos aquando da assinatura da DUDH];
– os juízos morais devem ser universalizáveis, isto é, formulados de um ponto de vista
universal e imparcial;
– a moral não é uma questão de opinião pessoal ou de padrões culturais. É possível definir
princípios morais universais (como a igualdade de género) que todos devem/deveriam partilhar
e respeitar.

José Ferreira Borges, Marta Paiva, Orlanda Tavares

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