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RESUMO

1. Etimologicamente, a palavra “ética” vem do grego Ethos que significa


morada coletiva e vida coletiva. Daí o conceito ser usado para ações que
promovam o bem comum ou a justiça no meio social. Devido ao fato de que os
gregos a utilizavam no sentido de hábitos e costumes que privilegiassem a boa
vida e o bem viver entre os cidadãos, com o tempo tal palavra passou a
significar modo de ser ou caráter.

2. Enfim, um modelo de vida que deveria ser adquirido ou conquistado pelo


homem por meio da disciplina rígida que lhe formaria o caráter e que seria
transmitida aos jovens pelos adultos. Na Grécia, o homem aparece no centro
da política, da ciência, da arte e da moral, uma vez que para sua cultura até os
deuses eram humanos com seus defeitos e qualidades.

3. O primeiro filósofo que escreveu sobre ética foi Aristóteles. Com esse
título, Aristóteles escreveu duas obras: ética a Nicômaco (seu filho) e ética a
Eudemo (seu aluno).

4. Os filósofos gregos sempre subordinaram a ética às ideias de felicidade


da vida presente e de soberano bem. Nos textos antigos, ética quase sempre
parece estar relacionada com desejo inato ao homem de busca da realização
do supremo bem. A filosofia grega preocupa-se com a reflexão sobre ética
desde os primórdios. Isso porque ética, ou a sede de justiça, é uma das três
dimensões da filosofia. As outras duas seriam a teoria e a sabedoria.

5. Em Roma, ética passa a ser denominada “mores”; que significa “moral”.


No direito romano a palavra ética refere-se a normas de conduta ou princípios
que regem a sociedade ou um determinado grupo e em uma determinada
época. Numa palavra: lei.

6. A ética é histórica, o que se deve ao fato de estar solidificada em noções


de valor, que mudam à medida que se descobrem novas verdades. O agir ético
não será apenas uma simples reprodução de ações das gerações anteriores,
mas uma atividade reflexiva que oriente a ação a seguir num determinado
momento de nossa vida pessoal.

7. Assim, não é possível o agir ético sem uma reflexão entre o que eu devo
fazer e o que eu gostaria de fazer em um determinado momento. A ação ética
sempre deve buscar o bem comum e consiste na recusa de todas as ações
que propiciem o mal. O agir ético vai além de um conjunto de preceitos
relacionados a cultura, crenças, ideologias e tradições de uma sociedade,
comunidade ou grupo de pessoas. Muitas vezes nossa ação vai ao sentido
oposto a essas crenças, pois sendo a noção de dever seu principal valor
estrutural, em algumas ocasiões, o nosso dever é justamente indignar-se com
tais crenças. Uma vez que guiada pela razão e não pelas crenças, a ética, via
de regra, está fundamentada nas ideias de bem e virtude, que nossa civilização
considera como valores que devem ser perseguidos por todo ser humano para
a promoção da vida, da maneira e onde quer que ela se manifeste.

8. Frequentemente se confunde ética com moral e isso tem uma razão de


ser. É que a palavra “moral” vem do latim mos (singular) e mores (plural), que
significa “costumes”. E a palavra “ética” vem do grego e possui o mesmo
significado, ou seja, “costumes”. Por isso, muitos utilizam a expressão “bons
costumes” como sinônimo de moral ou moralidade. Ética e moral são
sinônimos perfeitos, só modificados semanticamente devido às diferentes
línguas de origem das duas palavras. Até o século XVIII, já que a língua oficial
do saber acadêmico era o latim, a palavra usada é moral.

9. Alguns filósofos modernos passam a usar as duas palavras com sentido


diferentes. Kant, por exemplo, define como moral o conjunto de princípios
gerais (valores civilizatórios) e ética sua aplicação concreta. Portanto, ética é
sempre um agir ético.

10. Outros filósofos concordarão em designar por moral a teoria dos deveres
para com os outros, e por ética a doutrina de salvação e sabedoria
desvinculada de crenças religiosas. Hoje nós temos duas palavras usadas por
muitos autores com o mesmo significado: “ética” e “moral”.

11. Moral está mais relacionada a crenças estruturadas em valores


acumulados desde a mais tenra infância e transmitidos pelos grupos sociais de
interação afetiva, tais como a família e a Igreja. Moral está diretamente
relacionada à consciência de que é o lócus privilegiado dos valores, enquanto
que a ética é a exteriorização da conduta humana em sociedade.

12. Além disso, desde o início os pensadores liberais preferiram a palavra


“ética” para expressar normas de conduta de grupos organizados, como, por
exemplo, as categorias profissionais e seus códigos de ética.

13. Portanto, ética é um conjunto de valores morais que permitem a


permanência da civilização. Sem esses valores a civilização como conhecemos
desapareceria. Seus fundamentos foram construídos durante todo o processo
civilizador, e são iguais para todos os cidadãos do mundo ocidental,
independentemente de cultura ou religião. Ela carrega fundamentos que
tiveram origem no pensamento cristão na medida em que esses fundamentos
contribuíram para a formação do pensamento ocidental. Contudo, não é a
transposição pura e simples dos valores da religião para o campo civilizatório.

14. Hoje a imprensa costuma usar a palavra “ética” com muita frequência, às
vezes até de forma abusiva. Essa insistência com que se fala de ética hoje se
deve ao fato de o capitalismo ter-se mundializado pois sem os valores éticos é
impossível a reprodução da sociedade capitalista. Isso porque o capitalismo é
irmão gêmeo da democracia, uma vez que ambos nascem do pensamento
liberal e um não vive sem o outro. Como os pilares basilares da democracia
são a liberdade pessoal, a busca da felicidade e o individualismo, não há
espaço para a vigilância constante das ações individuais numa sociedade de
direitos plenos. Tal sociedade é a única possível para o bem-estar do Capital.
15. Para a mentalidade moderna, ética não pode ser entendida como algo
que resulta de um poder punitivo explícito, como é o caso da Moral. A punição
que a transgressão do agir ético traz é de consciência individual, portanto,
absolutamente individual, e essa consciência é formada no processo educativo.
Se nossa consciência não considerar a apropriação da propriedade alheia, por
exemplo, como um mal e sim como uma esperteza, isto é, um bem; não haverá
como impedir que façamos uso indevido do que não é nosso.

16. Assim, a sociedade capitalista e democrática aceita a existência de


diferentes formas de conduta moral no aspecto privado, desde que a conduta
pública esteja em conformidade com as virtudes que a estruturam, ou seja,
dentro da ética. Entende que a sociedade tem um conjunto de regras, normas e
valores, que não se identifica com os princípios e normas de nenhuma moral
em particular, mas com os valores formadores do núcleo da civilização, sem os
quais a civilização entra na barbárie, a luta de todos contra todos em que os
direitos, inclusive à propriedade e ao lucro são destruídos, pois não há como
obrigar as pessoas a cumprirem seus deveres. A ética é, nesse sentido, a
própria defesa da civilização.

17. Sendo cultural, a moral é o conjunto de regras que se impõem às


pessoas pelo grupo ao qual pertencem, numa ação coletiva que tende a agir de
determinada maneira, sendo a consolidação de práticas e costumes
observados no geral pelo receio de uma reprovação social (a pressão é
externa). Partindo desse pressuposto, todo ser humano é moral ao cumprir
normas de conduta oriundas de um conjunto de crenças inquestionáveis dentro
de sua cultura. No entanto, ética envolve reflexão, por isso não significa apenas
um conjunto de normas, mas vai além. Ela é um conjunto de juízos valorativos
(racionais) construídos pela civilização, assumidos e manifestados na ação
individual de cada um (a pressão é interna). Está estruturada em valores de
conduta. É sempre civilizatória.
18. Como ao tratar de ética sempre nos referimos ao conceito de valor, é
importante um olhar, ainda que breve, sobre esse conceito. Ele aparece pela
primeira vez no sentido que hoje damos nos primeiros trabalhos sobre
economia. A ciência econômica moderna difere das demais ciências sociais
pela capacidade de quantificar, senão a atividade econômica, pelo menos seus
frutos, ou seja, o produto social. Está estruturada em leis universais tais como:
lei da oferta e da procura, a lei do valor da moeda, entre outras. O que torna
possível de medição e avaliação das relações econômicas, como acontecem e
em que medidas acontecem, é o conceito de valor, cuja ideia essencial foi,
segundo Weber, retirada da ética protestante cristã.

19. A utilização da ideia de valor como conceito de “algo” que é incorporado


à mercadoria foi instituído pelos fundadores da Ciência Econômica: Adam
Smith e David Ricardo. Tal conceito foi transportado puramente da filosofia
moral para o âmbito econômico. A axiologia ou “teoria do valor” tem suas
raízes no solo econômico e somente nos sécs. XIX e XX vai expandir-se como
expressão infinita daquilo que “deve ser”, abrangendo todas as criações do
espírito humano.

20. É o conceito de valor que permite atualização de uma unidade de


medição essencial para praticamente todos os fenômenos do mundo
econômico. Há duas maneiras de definir valor, uma delas retira o valor da
relação do ser humano com a natureza e parte do pressuposto de que as
pessoas têm uma série de necessidades materiais básicas e procura satisfação
dessas necessidades na produção de produtos que possam satisfazê-las. Essa
é a atividade econômica básica à natureza humana. Ao transformar um objeto
qualquer da natureza em algo que possa melhorar de algum modo sua vida, o
ser humano incorpora nessa transformação o valor essencialmente humano: o
valor trabalho e, dialeticamente, transforma o objeto em valor-utilidade, também
chamado de valor de uso. Essa é a teoria do valor do trabalho.
21. A outra maneira de compreender valor é como os pensadores que
buscam refletir sobre a ética entendem o conceito. Para eles, valor é sempre
coletivo, uma vez que valores são construções mentais elaboradas pela visão
de mundo de nossa cultura, podem ser ensinados e formam nossos juízos de
bem, mal, justo, injusto, belo e feio.

22. Para muitos autores a experiência ética fundamental ocorre quando


sentimos que o agir das pessoas está desconectado dos valores caros à
civilização. É a experiência de „estranhamento‟ frente à realidade, de sentir-se
estranho (fora da normalidade) diante do modo como funciona a sociedade, ou
até mesmo em relação ao modo de ser e agir de outrem. Cada vez que a sede
de justiça, o que deveria ser ou o que se deveria fazer para buscar o
funcionamento justo da sociedade, se estabelece, há um avanço da ética.

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