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FACULDADES DOCTUM DE CARATINGA

Adriana Ramos Silveira Almério


Pereira de Matos Filho Bianka
Ricard Thomes Ribeiro Débora
Barbosa Marques
Irys Glayce Rosa Correa de Faria Valente de Paula
Jessica Thereza Faria Siqueira
Julimar Martins
Júlya Victoria Paterno Ramos Silveira
Letícia Ferreira dos Santos Luciano
Magela Campos
Márjore Leite Dutra

PROJETO INTEGRADOR

BACHARELADO EM DIREITO

CARATINGA – MG 2023
O DESCASO COM O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE
DOS POVOS INDÍGENAS NO ENFRENTAMENTO DA
PANDEMIA DE COVID-19

A pandemia de COVID-19, causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, foi um evento


global sem precedentes que começou em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China, e
se espalhou rapidamente pelo mundo, sendo declarada pela Organização Mundial da Saúde
como uma pandemia em março de 2020. Essa doença respiratória altamente contagiosa
resultou em milhões de infecções e mortes, sobrecarregando sistemas de saúde, impactando
economias e transformando a vida cotidiana de pessoas em todos os cantos do planeta.
Medidas de isolamento social, uso de máscaras e vacinação em massa tornaram-se estratégias
essenciais para conter a propagação do vírus e mitigar seus impactos (GRÄF; et al., 2020).
A pandemia de Covid-19 expôs e exacerbou muitas desigualdades sociais e
econômicas em todo o mundo. Embora a doença tenha afetado pessoas de todas as origens, ela
não as afetou de maneira igual. Aquelas em situações de maior vulnerabilidade social foram
as mais prejudicadas. A falta de acesso a condições básicas de vida, como alimentação
adequada, saneamento básico e assistência médica, tornou-se ainda mais evidente durante a
pandemia. Grupos marginalizados e historicamente subjugados, como comunidades de baixa
renda, minorias étnicas, migrantes e pessoas em situação de rua, enfrentaram desafios
adicionais devido à falta de recursos e sistemas de apoio adequados (VARONESE;
ALMEIDA, 2021).
As ações que priorizaram a saúde pública e o bem-estar de suas populações
demonstraram a capacidade da humanidade de se unir em momentos de crise. Por outro lado,
a resposta inadequada de alguns governos, baseada no negacionismo e na priorização de
interesses econômicos sobre a saúde pública, teve um impacto prejudicial em suas populações
e agravou ainda mais as desigualdades existentes (DUARTE; BENETTI, 2022).
Ao longo dos séculos as comunidades indígenas enfrentaram uma série de desafios,
incluindo a violência, a falta de reconhecimento de seus direitos e até mesmo o extermínio de
comunidades inteiras. Esses problemas persistem até os dias de hoje. Segundo Varonese e
Almeida (2021), uma das principais razões para essas dificuldades é a visão equivocada de
alguns setores da sociedade dominante, que veem os povos indígenas como obstáculos ao
desenvolvimento econômico. Essa perspectiva muitas vezes ignora a importância da
preservação das culturas
tradicionais e da proteção dos direitos dos povos indígenas, que são reconhecidos tanto em
níveis nacionais quanto internacionais.
A política de controle sobre os corpos indígenas também é uma preocupação legítima.
A negação do acesso a serviços de saúde adequados foi particularmente prejudicial durante a
pandemia de Covid-19. É importante que haja um esforço contínuo para reconhecer e
respeitar os direitos dos povos indígenas no Brasil, com a implementação efetiva das leis
existentes que garantem a proteção e a promoção dos direitos dos povos indígenas à uma
saúde de qualidade. Sendo assim, levanta-se a seguinte questão: De que forma a pandemia de
Covid-19 destacou as deficiências nas legislações e políticas de saúde voltadas para os povos
indígenas?
Esse paper teve como objetivo geral investigar as políticas de saúde indígena no
Brasil, destacando como o descaso estatal impacta o acesso aos serviços de saúde por parte das
populações indígenas. Como objetivos específicos têm-se: apresentar o contexto histórico da
luta do povo indígena por seus direitos; analisar os instrumentos legais e constitucionais que
garantem aos povos indígenas o direito à saúde; e analisar as políticas de saúde pública
adotadas pelo Estado brasileiro em resposta à pandemia de Covid-19, com foco específico na
forma como essas políticas afetaram as comunidades indígenas.
Neste estudo, foi empregada uma metodologia de revisão de literatura, que incluiu a
identificação e seleção criteriosa de fontes de informação em bases de dados acadêmicas
relevantes, com base em critérios de inclusão na data, sendo artigos, livros e teses a partir de
2013, com exceção de legislações e autores renomados no assunto.
A importância de compreender as políticas de saúde indígena no Brasil, transcende
questões imediatas de equidade e direitos humanos. É uma oportunidade de aprendizado e
correção para evitar a repetição dos erros cometidos durante a pandemia de Covid-19 e, mais
amplamente, ao longo da história. Ao reconhecer a singularidade cultural e o valor intrínseco
das comunidades indígenas, bem como sua contribuição para a diversidade cultural do país,
podemos estabelecer políticas e práticas de saúde mais inclusivas, justas e sensíveis às
necessidades dessas populações. Essa análise crítica das políticas de saúde indígena oferece
uma contribuição na compreensão de um sistema de saúde que respeite os direitos, a
dignidade e a saúde das populações indígenas, preparando o Brasil para enfrentar futuras
crises de saúde com maior humanidade e eficácia.
O descaso do Estado brasileiro em relação à saúde indígena durante a pandemia de
Covid-19 foi uma realidade preocupante. Essa negligência culminou na consolidação de uma
necropolítica. A situação da saúde indígena no Brasil foi caracterizada por diversos
problemas. O Sistema Único de Saúde (SUS), que deveria garantir atendimento de qualidade
a todos os brasileiros, incluindo os indígenas, sofreu com a falta de investimentos, desmonte
de estruturas de saúde e desqualificação de profissionais. Isso resultou em um sistema
precário que não conseguiu atender às necessidades específicas dessas populações durante a
pandemia.
A falta de políticas eficazes de prevenção e assistência também foi evidente. A
escassez de insumos básicos, como álcool em gel e máscaras, a demora na testagem e no
acesso a tratamentos adequados contribuíram para a disseminação do vírus nas aldeias
indígenas. Além disso, a falta de diálogo e respeito às lideranças indígenas foi um aspecto
crítico. O governo federal ignorou sistematicamente as vozes das lideranças indígenas,
desconsiderando suas demandas e conhecimentos tradicionais no enfrentamento da pandemia.
Isso demonstrou uma falta de respeito pela autonomia e sabedoria desses povos.
Em resumo, o que foi visto no contexto da saúde indígena durante a pandemia de
Covid-19 no Brasil não foi apenas negligência acidental, mas sim políticas deliberadas que
colocaram em risco a vida e o bem-estar dessas comunidades. Esse é um exemplo alarmante
de necropolítica, onde a falta de ações adequadas e responsivas por parte do governo resultou
na morte evitável de muitos indígenas.

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