Pereira de Matos Filho Bianka Ricard Thomes Ribeiro Débora Barbosa Marques Irys Glayce Rosa Correa de Faria Valente de Paula Jessica Thereza Faria Siqueira Julimar Martins Júlya Victoria Paterno Ramos Silveira Letícia Ferreira dos Santos Luciano Magela Campos Márjore Leite Dutra
PROJETO INTEGRADOR
BACHARELADO EM DIREITO
CARATINGA – MG 2023 O DESCASO COM O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS NO ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA DE COVID-19
A pandemia de COVID-19, causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, foi um evento
global sem precedentes que começou em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, na China, e se espalhou rapidamente pelo mundo, sendo declarada pela Organização Mundial da Saúde como uma pandemia em março de 2020. Essa doença respiratória altamente contagiosa resultou em milhões de infecções e mortes, sobrecarregando sistemas de saúde, impactando economias e transformando a vida cotidiana de pessoas em todos os cantos do planeta. Medidas de isolamento social, uso de máscaras e vacinação em massa tornaram-se estratégias essenciais para conter a propagação do vírus e mitigar seus impactos (GRÄF; et al., 2020). A pandemia de Covid-19 expôs e exacerbou muitas desigualdades sociais e econômicas em todo o mundo. Embora a doença tenha afetado pessoas de todas as origens, ela não as afetou de maneira igual. Aquelas em situações de maior vulnerabilidade social foram as mais prejudicadas. A falta de acesso a condições básicas de vida, como alimentação adequada, saneamento básico e assistência médica, tornou-se ainda mais evidente durante a pandemia. Grupos marginalizados e historicamente subjugados, como comunidades de baixa renda, minorias étnicas, migrantes e pessoas em situação de rua, enfrentaram desafios adicionais devido à falta de recursos e sistemas de apoio adequados (VARONESE; ALMEIDA, 2021). As ações que priorizaram a saúde pública e o bem-estar de suas populações demonstraram a capacidade da humanidade de se unir em momentos de crise. Por outro lado, a resposta inadequada de alguns governos, baseada no negacionismo e na priorização de interesses econômicos sobre a saúde pública, teve um impacto prejudicial em suas populações e agravou ainda mais as desigualdades existentes (DUARTE; BENETTI, 2022). Ao longo dos séculos as comunidades indígenas enfrentaram uma série de desafios, incluindo a violência, a falta de reconhecimento de seus direitos e até mesmo o extermínio de comunidades inteiras. Esses problemas persistem até os dias de hoje. Segundo Varonese e Almeida (2021), uma das principais razões para essas dificuldades é a visão equivocada de alguns setores da sociedade dominante, que veem os povos indígenas como obstáculos ao desenvolvimento econômico. Essa perspectiva muitas vezes ignora a importância da preservação das culturas tradicionais e da proteção dos direitos dos povos indígenas, que são reconhecidos tanto em níveis nacionais quanto internacionais. A política de controle sobre os corpos indígenas também é uma preocupação legítima. A negação do acesso a serviços de saúde adequados foi particularmente prejudicial durante a pandemia de Covid-19. É importante que haja um esforço contínuo para reconhecer e respeitar os direitos dos povos indígenas no Brasil, com a implementação efetiva das leis existentes que garantem a proteção e a promoção dos direitos dos povos indígenas à uma saúde de qualidade. Sendo assim, levanta-se a seguinte questão: De que forma a pandemia de Covid-19 destacou as deficiências nas legislações e políticas de saúde voltadas para os povos indígenas? Esse paper teve como objetivo geral investigar as políticas de saúde indígena no Brasil, destacando como o descaso estatal impacta o acesso aos serviços de saúde por parte das populações indígenas. Como objetivos específicos têm-se: apresentar o contexto histórico da luta do povo indígena por seus direitos; analisar os instrumentos legais e constitucionais que garantem aos povos indígenas o direito à saúde; e analisar as políticas de saúde pública adotadas pelo Estado brasileiro em resposta à pandemia de Covid-19, com foco específico na forma como essas políticas afetaram as comunidades indígenas. Neste estudo, foi empregada uma metodologia de revisão de literatura, que incluiu a identificação e seleção criteriosa de fontes de informação em bases de dados acadêmicas relevantes, com base em critérios de inclusão na data, sendo artigos, livros e teses a partir de 2013, com exceção de legislações e autores renomados no assunto. A importância de compreender as políticas de saúde indígena no Brasil, transcende questões imediatas de equidade e direitos humanos. É uma oportunidade de aprendizado e correção para evitar a repetição dos erros cometidos durante a pandemia de Covid-19 e, mais amplamente, ao longo da história. Ao reconhecer a singularidade cultural e o valor intrínseco das comunidades indígenas, bem como sua contribuição para a diversidade cultural do país, podemos estabelecer políticas e práticas de saúde mais inclusivas, justas e sensíveis às necessidades dessas populações. Essa análise crítica das políticas de saúde indígena oferece uma contribuição na compreensão de um sistema de saúde que respeite os direitos, a dignidade e a saúde das populações indígenas, preparando o Brasil para enfrentar futuras crises de saúde com maior humanidade e eficácia. O descaso do Estado brasileiro em relação à saúde indígena durante a pandemia de Covid-19 foi uma realidade preocupante. Essa negligência culminou na consolidação de uma necropolítica. A situação da saúde indígena no Brasil foi caracterizada por diversos problemas. O Sistema Único de Saúde (SUS), que deveria garantir atendimento de qualidade a todos os brasileiros, incluindo os indígenas, sofreu com a falta de investimentos, desmonte de estruturas de saúde e desqualificação de profissionais. Isso resultou em um sistema precário que não conseguiu atender às necessidades específicas dessas populações durante a pandemia. A falta de políticas eficazes de prevenção e assistência também foi evidente. A escassez de insumos básicos, como álcool em gel e máscaras, a demora na testagem e no acesso a tratamentos adequados contribuíram para a disseminação do vírus nas aldeias indígenas. Além disso, a falta de diálogo e respeito às lideranças indígenas foi um aspecto crítico. O governo federal ignorou sistematicamente as vozes das lideranças indígenas, desconsiderando suas demandas e conhecimentos tradicionais no enfrentamento da pandemia. Isso demonstrou uma falta de respeito pela autonomia e sabedoria desses povos. Em resumo, o que foi visto no contexto da saúde indígena durante a pandemia de Covid-19 no Brasil não foi apenas negligência acidental, mas sim políticas deliberadas que colocaram em risco a vida e o bem-estar dessas comunidades. Esse é um exemplo alarmante de necropolítica, onde a falta de ações adequadas e responsivas por parte do governo resultou na morte evitável de muitos indígenas.