Você está na página 1de 4

22 Volume 52 | Jun.

2021

Indicadores operacionais da tuberculose


no Brasil e a covid-19: análise comparativa
dos anos de 2019 e 2020
Coordenação-Geral de Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições Crônicas do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e
Infecções Sexualmente Transmissíveis (CGDR/DCCI/SVS).*

A tuberculose (TB) é um grave problema de saúde pública e permanece


Sumário entre as doenças infecciosas que mais matam no mundo. A emergência da
pandemia pelo novo coronavírus ameaça a sustentabilidade das ações de
1 Indicadores operacionais controle da TB bem como a manutenção dos avanços já obtidos.1-3
da tuberculose no Brasil e a
covid-19: análise comparativa Em 2020, de acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os
dos anos de 2019 e 2020 países que concentram 84% dos casos de TB, verificou-se que em relação
ao ano de 2019, cerca de 1,4 milhão de pessoas deixaram de receber o
tratamento para TB, pois não foram diagnosticados, correspondendo a
uma redução de 21% nas notificações, o que poderia gerar meio milhão de
mortes adicionais por TB.1

Na região das Américas, o diagnóstico de casos novos da doença caiu entre


15% e 20%, no mesmo período.4

Além do mais, atrelada à queda das notificações, o impacto nos


determinantes sociais da TB durante a pandemia, como pobreza,
desnutrição e más condições de moradia, podem aumentar os fatores de
riscos para o desenvolvimento da doença, tornando ainda mais necessárias
o fortalecimento das ações voltadas ao manejo adequado da TB.3

Desta forma, o monitoramento dos efeitos da pandemia da covid-19 sobre


as ações preventivas e de controle da TB subsidiará no direcionamento
oportuno de ações, visando a manutenção dos avanços já alcançados e a
progressão das conquistas rumo à eliminação da TB como problema de
Ministério da Saúde
Secretaria de Vigilância em Saúde
saúde pública.
SRTVN Quadra 701, Via W5 – Lote D,
Edifício PO700, 7º andar Nesse sentindo, o presente Boletim apresenta um comparativo dos
CEP: 70.719-040 – Brasília/DF
indicadores operacionais da TB durante o primeiro ano de pandemia da
E-mail: svs@saude.gov.br
Site: www.saude.gov.br/svs covid-19 e o seu ano antecessor, no Brasil.

Versão 1
10 de junho de 2021
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 52 | Nº 22 | Jun. 2021

Efeitos da pandemia da covid-19 comparado ao mesmo período de 2019. Entre as


nos aspectos operacionais da TB regiões, a menor queda no período avaliado foi
observada na região Sudeste (-9,4%) e a maior na
Em 2020 foram notificados 86.166 casos de TB no região Sul (-13,1%) (Figura 1).
Brasil, correspondendo a uma queda de 10,9%
quando comparado aos 96.655 casos registrados Entre as unidades federadas (UF), o Espírito Santo
em 2019. Observou-se uma queda a partir do mês (17,3%), Rio Grande do Norte (15,8%), Acre (3,8%) e
de abril/20, tendo o maior efeito sido observado Roraima (3,7%), foram as únicas UF com aumento das
no mês de maio/20, com 31,9% de redução quando notificações no período avaliado (Figura 2).

30

20

10

0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

-10
%

-20

-30

-40

-50

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), atualizado em maio/2021.


Dados preliminares, sujeitos a revisão.

Figura 1 Diferença percentual entre o número de notificações de tuberculose, Brasil e regiões, comparando os anos de 2019 e 2020

Boletim Epidemiológico Editores responsáveis:


ISSN 9352-7864 Arnaldo Correia de Medeiros, Daniela Buosi Rohlfs,
Luciana de Almeida Costa, Gerson Pereira, Lauricio Monteiro Cruz,
©1969. Ministério da Saúde. Secretaria de Breno Leite Soares (SVS)
Vigilância em Saúde.
Produção:
É permitida a reprodução parcial ou total desta Núcleo de eventos, cerimonial, agenda, comunicação e multimídia (Necom/SVS/MS)
obra, desde que citada a fonte e que não seja
para venda ou qualquer fim comercial. Revisão:
Samantha Nascimento (Necom/SVS)
Projeto gráfico/diagramação:
Fred Lobo, Sabrina Lopes (Necom/SVS) 2
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 52 | Nº 22 | Jun. 2021

20 15,8 17,3
15
10
3,8 3,7
5
0
-5
%

-3,0
-10 -6,1 -4,9
-7,4 -8,6 -7,8
-15 -10,3 -11,0 -12,0 -10,4 -10,5-10,7 -11,9
-12,4 -13,0
-20 -16,0 -14,7 -16,3
-18,1 -18,9 -18,4
-25 -21,9
-30 -25,1

Pa te

ul
l

l
a
Ri o S s

o
Al co

iro
de nto
s

o
ia

ar ns

Su
a

Se s
rn íba
To pá

Ca a

ra
a

s
á
í
e

rit rai
au

at and rin
a

oa

ss

á
at o S
im

or

ip

ul

n
in ahi
ar
Am cr
ôn

on

bu

de
i
Pa

i
ne
a

nt ara
nt

o
ro
ro do
Pa
rg
ra

a
A

Pi

N
nd Ce

ag

ta
an
ra

Am

G
nd

d
G
B
az

Fe
am
ca

Ja

G
do
Ro

P
o

o
e
as
Ro

o

o
ss
M

rit
e


Pe

M
o

st
r

G
Es

Sa

G
ra

Di
o
o
G

Ri
o

M
Ri

Fonte: Sinan, atualizado em maio/2021.


Dados preliminares, sujeitos a revisão.

Figura 2 Diferença percentual entre o número de notificações de tuberculose, por UF, comparando os anos de 2019 e 2020

Quanto as demais variáveis operacionais, com escarro (-4,7%) e teste de sensibilidade (-4,5%)
exceção da realização do teste rápido molecular para apresentaram diminuição. Outros exames, como
tuberculose (TRM-TB), que obteve um aumento de realização do teste para HIV (-4,0%) e realização de
7,1% em 2020 quando comparado à 2019, os demais raio X (-3,3%), também apresentaram queda.
indicadores de realização de exames laboratoriais, A avaliação de contatos foi a atividade que apresentou
como cultura de escarro (-9,9%), baciloscopia de maior variação, com redução de 13,2% (Tabela 1).

Tabela 1 Diferença percentual entre os resultados dos indicadores operacionais de tuberculose, Brasil, 2019 e 2020

2019 2020 Diferença


Variáveis
% % %
Exame de culturaa 31,4 28,3 -9,9
Teste de sensibilidadeb 48,6 46,4 -4,5
Baciloscopiaa 69,3 66,1 -4,7
Raio Xc 76,3 73,8 -3,3
Teste rápido molecular para TBa 39,4 42,2 7,1
Teste para o HIVc 82,7 79,4 -4
Contatos examinadosd 63,4 55 -13,2

Uso de TARVe 50,1 47,4 -5,5

Fonte: Sinan/SES/MS.
a) Denominador: casos novos pulmonares de TB – Ano de 2019: 67.339/Ano de 2020: 59.750.
b) Denominador: cultura positiva em casos novos pulmonares de TB – Ano de 2019/2020: 15.695/12.854.
c) Denominador: casos novos de TB – Ano de 2019: 78.068/casos novos 2020:68.706.
d) Denominador: contatos Identificados dos casos novos de TB – Ano de 2019: 278.744/Ano de 2020: 235.360.
e) Denominador: HIV positivo em casos novos de TB – Ano de 2019: 6.722/Ano de 2020: 5.837 – TARV: Terapia Antirretroviral.

3
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 52 | Nº 22 | Jun. 2021

Considerações finais
A pandemia da covid-19 ameaça os avanços já obtidos no
controle da TB, com comprometimento de indicadores
operacionais da doença. A queda de notificações e a pio-
ra dos indicadores laboratoriais, de tratamento e busca
de novos casos da doença disparam um alerta para a
necessidade de constante avaliação da adequação das
ações de controle da TB no país, visando a tomada opor-
tuna de decisão por parte de gestores e profissionais de
saúde envolvidos no controle da doença.

Referências
1. World Health Organization Global Tuberculosis Report
2020. Geneva: WHO; 2020.

2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância


em Saúde. Boletim Epidemiológico: Tuberculose 2021.
Brasília: Ministério da Saúde; 2021 [acesso em: 6 jun.
2021]. Disponível em: https://bit.ly/3itzKhx.

3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância


em Saúde. Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose
como Problema de Saúde Pública. Brasília: Ministério
da Saúde; 2017.

4. Organização Panamericana de Saúde [página na


internet]. Diagnóstico de novos casos de tuberculose
caiu entre 15% e 20% nas Américas em 2020 devido à
pandemia [acesso em 2 jun. de 2021]. Disponível em:
https://bit.ly/3pB22YM.

*Coordenação-Geral de Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições Crônicas (CGDR/DCCI/SVS): Artemir Coelho de Brito, Daiane Alves
da Silva, Danielle Gomes Dell` Orti, Fernanda Dockhorn Costa, Gerson Fernando Mendes Pereira, Kleydson Bonfim Andrade, Layana Costa Alves, Patrícia
Bartholomay, Rodrigo de Macedo Couto, Tatiana Silva Estrela, Tiemi Arakawa.

4 Voltar ao início

Você também pode gostar