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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE CIÊNCIAS DA VIDA


CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA ESTÁGIOS PROFISSIONALIZANTES

PEDRO HENRIQUE ZIRONDI RODRIGUES

CUIDADO EM SAÚDE MENTAL PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

CURITIBA
2021
Título, autor, ano e origem.
“Cuidado em Saúde Mental para a População em Situação de Rua: Uma
Revisão Integrativa da Literatura Científica”, escrito e organizado por: Carla Souza
dos Santos, Pablo Mateus dos Santos Jacinto, Renan Vieira de Santana Rocha.
Publicado pela revista “Revista Sociedade e Ambiente”, no ano de 2020 em
Salvador.

Objetivo
O objetivo do artigo é identificar quais os métodos e práticas no cuidado de saúde
mental com finalidade a População em Situação de Rua (PSR), a partir da revisão
de literatura científica

Pressupostos teóricos
O Decreto Nº 7.053/2009, em seu parágrafo 1º, define a população em
situação de rua como um grupo populacional heterogêneo, tendo como
característica em comum ausência de moradia convencional e desemprego. Essa
parte da população são exoneradas da sociedade como um todo, e devem
diariamente batalhar para sobreviver ou até mesmo serem vistas como membros da
sociedade, logo são consideradas pessoas em estado de vulnerabilidade social.
Vulnerabilidade essa que os coloca a maior suscetibilidade à sofrer danos, tanto
psíquicos como físicos, elas têm risco maior de desenvolverem transtornos mentais
e de abuso de psicoativos, criando uma situação a qual tem sua saúde degenerada
por razões socioeconômicas.
A vulnerabilidade se estende às formas de violência propagadas por
preconceito à elas, são diversos os estereótipos pejorativos envolvidos e
popularmente repassados, são tratados como sub humanos por alguns, chamados
de vadios, preguiçosos e bêbados o que incentiva a desumanização do indivíduo
que está em fragilidade. A desumanização é tão grande que muitas vezes são
expostos também a agressões físicas, e ao descaso do aparelho estatal para com
suas vidas, que constantemente preferem “limpar” a cidade das pessoas
marginalizadas do que enfrentar o problema que está escancarado.
Apesar de questões econômicas serem (falta de oportunidade de emprego e
falta de moradias acessíveis), em grande parte, o causador da exclusão social
imposta, outros fatores como a educação precária, falta de perspectiva de vida e
abuso de substâncias psicoativas são características encontradas com facilidade
como alguns dos motivos de estarem em situação de rua. Também há o comum
engano que alia a exclusão social com a pobreza como sinônimos, enquanto a
segunda está ligada a estruturação social e a questão capital x trabalho; a primeira
está definida pelo campo de relações sociais e políticas, já que mesmo uma pessoa
em situação de miséria tem direito a um lar onde morar.
Devido a isso considera-se que toda essa população tem direitos humanos
básicos negados, já que são obrigados a fazer da rua sua moradia.
Um de seus direitos garantidos e não assegurados é direito a ter saúde
mental, quando o estado de fato escutar as necessidades da população de rua,
oferecendo os cuidados deles por direito é possível ressignificar a vivência das ruas,
a fim que consigam conquistar autonomia de suas vidas.

Método
Foi realizada uma revisão de literatura que incluiu a seleção, análise e
sintetização das informações relevantes ao tema pesquisado. Foram analisados
artigos publicados no idioma Portugues, entre 2009-2019, que estavam alinhados
com o objetivo de pesquisa, sendo este a saúde mental em população de rua.
Foram quinze (15) artigos considerados apropriados, dentro destes foi formado três
(03) tópicos de análise, sendo estes: O Dispositivo Cuidado Integral em Saúde
Mental; O Vínculo como Dispositivo do Cuidado e Perspectivas em Debate:
Profissional e/versus Usuário.

Resultados e discussão
Diante da revisão de literatura realizada, entende-se que o primeiro passo de
intervenção por profissionais da saúde é basear a prática no cuidado integral, indo
além de práticas que consideram apenas tratar os sintomas ou eliminar riscos de
saúde eminentes, é necessário ultrapassar a noção do que um profissional pode
fazer e entender o indivíduo como uma pessoa com potencial próprio e capaz de ser
autônomo.
Já a prática do acolhimento no cuidado integral se baseia em dois fatores
primordiais de competências do profissional, primeiro sua postura ética na atuação e
como é sua organização laboral. Utiliza-se então a escuta terapêutica em conjunto
ao acolhimento para que a população de rua se sinta escutada e possam expor
suas dores que são normalmente negligenciadas. O contato possível com uma
equipe de saúde competente promove a aproximação dos pacientes com todo o
sistema integrado de saúde onde está localizado às redes de assistência social da
saúde mental. É comum a existência de transtornos mentais na população de rua,
como a depressão e ansiedade, tendo origem de suas complicações
socioeconômicas e estado de vida atual, o acolhimento servirá não apenas como
estratégia terapêutica e sim como forma de autoconhecimento é possível retomada
de sentido para aqueles mais afetados pela condição de invisibilidade que vivem.
Para que haja manutenção ou até mesmo a criação do processo de cuidado
primeiro deve ser estabelecido um vínculo, de forma que o indivíduo se sinta
confortável em compartilhar sua história de vida, aspirações pessoais e medos
recorrentes. Logo o profissional deve garantir uma atuação e espaço a qual trate o
sujeito com dignidade, para que ao menos no sistema de saúde que o envolta ele
não se sinta acuado, violentado ou ignorado.
O vínculo se relaciona diretamente com as formas de cuidado apresentadas
a alguém, simples gestos e identificações podem gerar o sentimento de
pertencimento a qualquer pessoa, principalmente alguém marginalizado,
atendimentos clínicos de escuta ativa, ou até mesmo projetos musicais podem
garantir a existência da relação com vínculo entre paciente-profissional
A revisão considera algumas práticas diferentes como possibilitadoras do
vínculo, a primeira seria a itinerante a qual os profissionais vão até as ruas para que
se possam conectar diretamente a população a rede de saúde, o que por si é mais
dinâmico e abrangente, do que esperar que o indivíduo se desloque a até o
dispositivo de saúde mais próximo. Ele pode ser criado com qualquer profissionais
da equipe, e a partir do vínculo estabelecido a criação de um plano de intervenção
uniforme e que atenda as necessidades do sujeito é criado
E por fim se contempla o campo de entendimento entre o usuário e
profissionais, que apesar do comum sentimento de gratificação pessoal do segundo
em ajudar o primeiro, contém diversas complicações sistemáticas a serem
trabalhadas.
Destas complicações a primeira é a barreira social que existe para qualquer
morador de rua quando se solicita qualquer serviço, pois estão acostumados ao
estigmas que carregam e da violência que pode acarretar a eles por simplesmente
estarem nessa posição de fragilidade. Entende-se que o acolhimento feito de forma
inapropriada pode afastar ainda mais essa pessoa do sistema de saúde e assim ter
ainda menos garantias de seus direitos.
Outra barreira é da burocracia, para que sejam garantidos direitos e
atendimentos, a documentação pessoal é necessária, o que se transforma em
exigências por muitas vezes descabidas dado o contexto do atendimento, e ainda
existe o empecilho dos horários de funcionamento fixos que prejudicam a população
como um todo.
A falta de preparo do aparelho estatal e consequentemente profissional é
talvez o maior empecilho na relação da equipe com a população de rua. Os
recursos e investimentos para que sejam atendidos a demanda crescente dos
serviços comunitários é insuficiente, o que por sua vez sobrecarrega os poucos
funcionários disponíveis que tem em mãos poucas ferramentas de trabalho que
possam contar. Sendo clara também que com falta de estrutura digna aos
profissionais, a qualidade e eficiência de atendimento serão prejudicadas.

Conclusões do autor
A situação encontrada pela população em situação de rua leva à exclusão
social e à marginalização de seus integrantes, o que por sua vez os vulnerabiliza
psicológica e fisicamente, a possibilidade desenvolvimento de transtornos e da
utilização de drogas se intensifica gerando ainda mais impacto ao seu bem-estar e
saúde mental.
Nota-se também a falta de artigos que liguem diretamente as práticas e
cuidados dessa população à Psicologia, apesar de serem notificados diversos tipos
de cuidados à saúde e bem-estar, existe falta de material teórico geral e
principalmente voltado à atuação específica do profissional da psicologia.

Análise crítica
A partir da leitura e reflexão sobre o artigo é notável a precariedade que a
população em situação de rua se encontra, apesar de ser óbvio o entendimento que
se encontram em vulnerabilidade extrema, a falta de justiça social garantida pelo
estado e pela sociedade é de teor desumano para com eles.
Os profissionais que integram a rede de assistência e apoio têm que ter
esforço redobrado ao estabelecer vínculo e atendimento digno para a comunidade
de rua, os estigmas e preconceitos carregados por toda história sobre eles não
afetam apenas o profissional e sua prática, mas também a adesão e boa vontade
daquele que pode ser atendido, já que está acostumado a ser considerado um
incômodo para a sociedade.
E apesar de diversos avanços no sistema estatal para que se lide de maneira
humana e integral para com esta demanda, ainda existem diversos traços de cunho
higienista na forma de lidar com a conjuntura que está formada hoje, principalmente
ao considerar que a disponibilização de recursos para a área de atendimento da
população em situação de rua é ínfima, assegurando ainda mais a falta de direitos
disponíveis.
Ressalta-se porém a força de vontade do profissional ao promover um
espaço seguro e rede de apoio aos que necessitam, as práticas e métodos ainda se
encontram em desenvolvimento, como mesmo a falta de literatura exemplifica, o
atendimento desta demanda de maneira integralizada e humanizada já consegue
mostrar seus benefícios.

Referências:
SANTOS, Carla Souza dos; JACINTO, Pablo Mateus dos Santos; ROCHA, Renan
Vieira de Santana. Cuidado em Saúde Mental para a População em Situação de
Rua: Uma revisão integrativa da literatura científica. Revista Sociedade e
Ambiente, Salvador, v. 1, n. 26, p. 121-140, nov. 2020. Disponível em:
http://www.revistasociedadeeambiente.com/index.php/dt/article/view/26. Acesso em:
30 mar. 2022.

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