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Caxambu, 2017.
Introdução
O presente texto busca fazer uma reflexão sobre a insegurança que as mulheres
brasileiras sentem nos espaços urbanos. A maneira de se pensar o espaço público e
consequentemente políticas de segurança pública, não leva em consideração as
necessidades dessas. Pode-se afirmar que as cidades são projetadas tendo como
parâmetro os papéis socialmente construídos: para as mulheres, o espaço doméstico,
privado, reprodutivo; para os homens, o público, produtivo. Assim, ao disfrutar do
espaço público, as mulheres, principalmente as que circulam pelas ruas a pé ou que
dependem de transporte público, se deparam com recorrentes sentimentos de
insegurança, medo de sofrerem assédio ou violência, e tais sentimentos alcançam
principalmente as que estão em situação de pobreza e trabalhadoras que utilizam de
transportes públicos ao se locomoverem.
Cabe ressaltar que, as práticas cotidianas das mulheres são produto das relações
de gênero, as discriminações e desigualdades nessas construções resultam da ordem
patriarcal, que separa as esferas públicas e privadas, fazendo com que a vivência da
mulher no espaço urbano seja diferenciada do homem, expressando-se nos sentimentos
de medo e insegurança que fazem com que essas adotem táticas que acabam as
excluindo desses espaços. Com isso, movimentos feministas organizam-se e questionam
a violação de seus direitos no cotidiano.
2
Nos estudos de criminologia e sociologia da violência, segundo Elena Larrauri
(2000) apenas na década de 1980 por meio da criminologia crítica1 houve a aparição da
vítima, mais especificamente a mulher. As mulheres eram vítimas invisíveis, e a entrada
de mulheres no mundo dos homens criminólogos, contribuiu para ampliar o objeto de
estudo da criminologia crítica. Nós não só vivemos numa sociedade capitalista, como
também patriarcal e tal fato não deve ser ignorado nesta seara. Com isso, deu-se uma
perspectiva feminista à criminologia, permitindo compreender a lógica androcêntrica
que define o funcionamento das estruturas de controle punitivo. Ao trazer a perspectiva
das mulheres para o centro dos estudos, a criminologia feminista denunciou as
violências produzidas pelo sistema penal central no ‘homem’ (androcêntrico)
(CAMPOS; CARVALHO, 2014), contribuindo para seja dada visibilidade à violência,
as lacunas na aplicação e execução de leis, dentre outras questões que serão tratadas no
decorrer deste artigo.
Nesse sentido, vale ressaltar o fato de como a violência e o medo social podem
alterar a arquitetura urbana, segregando e discriminando grupos sociais, modificando
significativamente as formas de sociabilidade e o cotidiano de vida das pessoas, bem
como o modo de agir (BAIERL, 2004). No que diz respeito às mulheres, esse medo
social ainda é mais candente, dificultando e limitando as formas de sociabilidades
dessas, pois os medos vividos são diferenciados, a exposição no espaço urbano dessas
proporciona uma vulnerabilidade maior, há o que se pode considerar como um medo
concreto, gerador de insegurança.
1
Estrutura-se originalmente como discurso de denúncia e se consolida posteriormente como
perspectiva político-criminais. A criminologia crítica possibilitou que o foco de análise
criminológico fosse ampliado da visão atomizada no criminoso, próprio da (micro) criminologia
etiológica, para os mecanismos institucionais que definem os processos de criminalização. Com
a crítica criminológica, o próprio sistema de punitividade passa a ser o objeto de investigação,
sobretudo os mecanismos seletivos de definição das condutas puníveis (criminalização
primária), os critérios desiguais de incidência das agências de controle sobre as populações
vulneráveis (criminalização secundária) e os instrumentos perversos que transformam a
execução das penas em fontes de reprodução de estigmas. (CAMPOS; CARVALHO, 2014).
3
Garantir que o espaço urbano seja acessado por homens e mulheres de maneira
igualitária, é um desafio na contemporaneidade. Nas discussões que tangem o direito à
cidade, as práticas cotidianas de apropriação e reapropriação dos espaços, estão em
pauta tais questões, pois nessas relações ocorrem transformações nas práticas, nas
noções de cidadania, e principalmente é dada visibilidade aos direitos coletivos das
mulheres em relação à cidade, esses que são violados cotidianamente em suas vivências.
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tudo, pensar uma cidade democrática, uma cidade que rompa as suas amarras com o
passado”, e que seja acessível a todas/os.
Para Harvey (2003), nós moldamos a cidade e a cidade nos molda. A cidade não
é um cenário estático, é um organismo dinâmico que constrói os valores da sociedade.
Conhecer e utilizar o espaço da cidade é o direito de apropriar-se dos espaços públicos,
as práticas cotidianas de apropriação e reapropriação desse espaço transformam-no no
meio através do qual se produz a noção de cidadania. Essa noção é produzida de
maneira desigual na cidade, pois no cotidiano percebe-se que todas as pessoas que
vivem na cidade não podem usufruir dela da mesma maneira. Pedro Jacobi (1986) relata
que:
5
que se entrelaçam e podem contribuir para uma vivência desigual que resulta em
discriminação e violência de acordo com o sistema de poder e opressão que as afetam,
principalmente numa desigualdade de gênero, tendo em vista que as mulheres
encontram-se mais vulneráveis a violências no espaço público. Os direitos coletivos das
mulheres em relação à cidade são violados cotidianamente.
A preocupação por parte das mulheres ao risco de violência sexual faz com que
elas evitem usar certos serviços e transitar por lugares que consideram perigosos é
grande, limitando assim sua mobilidade em função desse medo. Essas medidas estão
ligadas, principalmente, à infraestrutura urbana e ao transporte público que não são
pensados na segurança das mulheres que correm risco de violência em locais escuros,
com falta de iluminação adequada nas ruas e parques, além da recorrente redução do
serviço de transportes em determinados horários, aumentando a insegurança à noite.
Segundo a pesquisa “Cidades Segura”, entre as mulheres que estudam 27,5%
afirmam ter sofrido algum tipo de assédio, muitas delas relatam que a distância do
trajeto da casa à escola, a demora do transporte público, estudar no turno da noite e falta
de transporte escolar são fatores importantes para insegurança 80% dessas mulheres
relataram sentir medo de esperar os ônibus sozinhas.
Segundo o relatório As mulheres e a cidade2,
Para quase metade das mulheres, o medo está presente dentro do transporte
público, muitas já foram assediadas utilizando este serviço, em geral a precaução que
tomam é evitar sentar nos bancos de trás do ônibus3. O medo da violência nas ruas
2
Como resultado do projeto piloto Cidades Seguras para as Mulheres, a ActionAid
Internacional produziu os relatórios As Mulheres e a Cidade (2011) e As Mulheres e a Cidade
II: examinando o impacto de gênero sobre a violência e urbanização (2012), que estão
disponíveis em: http://www.actionaid.org.br/publicações
3
Fonte: Pesquisa cidade segura para as mulheres, organizada pela ActionAid Brasil e suas
organizações parceiras (2014).
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levaram essas mulheres, principalmente as pertencentes à classe trabalhadora, a mudar a
forma de se vestir, 40% delas deixaram de usar certos tipos de roupa. Lembrando que,
mesmo dentro dos ônibus e metrôs/trens, as mulheres são assediadas, constrangidas e
violentadas. Em algumas cidades do Brasil, a partir de 2014, lei que destina vagões de
trens e metrôs exclusivos para mulheres entrarem em vigor, as leis surgiram como
respostas a casos de assédio sexual contra mulheres no transporte público. Inicialmente
disponíveis exclusivamente em horários “de pico”, ou seja, ida e volta ao trabalho, logo
após, em algumas cidades como Brasília/DF, os vagões exclusivos para as mulheres
passaram a funcionar tempo integral, o que não acabou totalmente com o problema, pois
as mulheres continuam sofrendo abusos dentro do metrô.
Outra Lei implantada no Distrito Federal e em outras capitais como São Paulo
desse mesmo viés, é a Lei que tem como iniciativa assegurar às mulheres o direito de
descer fora do ponto de ônibus após as 22 horas. A discussão sobre o tema está
principalmente embasada nos dados obtidos pela Organização Mundial de Saúde e do
IBGE, que colocam o Brasil na sétima posição do ranking mundial de assassinato de
mulheres. Tal Lei entrou em vigência em muitas capitais, pois na maioria dos casos é no
trajeto do ponto de ônibus até sua casa que estão os índices de estupros e mortes de
mulheres aumentam.
O recorte de gênero, raça e classe está totalmente imbricado nessa discussão e
realidade, e no que se refere às mulheres negras a violência é mais candente. São muitas
as situações de violência às quais elas são expostas. Segundo o Dossiê Mulheres Negras
– retratos e condições de vida das mulheres negras no Brasil (2013), “multiplicando-se
os riscos de vitimização na experiência das violências originárias tanto da estrutura
patriarcal quanto do racismo brasileiras, localizando as mulheres negras na dicotômica
situação de sofredoras nas suas representações essencializadas atualmente”. As
representações conferidas às mulheres negras deixam-nas expostas a maiores riscos de
violência, seja física, seja sexual. As negras são mais de 60% das vítimas de
feminicídio, exatamente porque não contam com assistência adequada e estão mais
vulneráveis aos abusos das próprias autoridades.
O fato das mulheres negras ocuparem os piores postos de trabalho corrobora
também para que suas jornadas de trabalho sejam mais extensas, as trabalhadoras se
distanciam de seus lares e filhos para que possam prover sustento, consequentemente
em sua maioria utilizam transportes públicos no trajeto de retorno para suas casas em
horários tardios, principalmente em zonas/bairros considerados perigosos.
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Em 10 anos, de acordo com o último Mapa da violência, do governo federal do
Distrito Federal, a vitimização entre as mulheres negras no Brasil cresceu 54,2%,
enquanto o homicídio das brancas caiu 9,8%, e os assassinatos contra as mulheres
negras passaram de 1.864, em 2003, para 2.875, em 2013. Os dados mostram que a
vulnerabilidade e o feminicídio tem raça.
Tais fatores, limitam a mobilidade da mulher negra, e seus corpos são marcados
como violáveis, sendo vulneráveis a violências sexuais quando circulam nesses espaços
e, além disso, exige uma interpretação mais complexa a respeito da vitimização das
mulheres negras, ao considerar os múltiplos fatores que estão imbricados, e as diferentes
opressões sofridas. Segundo Nadja Monnet (2009, p. 15), o corpo feminino nas cidades
ainda é um “corpo estrangeiro”, apesar de cotidianamente circular. Sua aparição pública
recorrentemente marca a emergência de uma coletividade “estranha” aos modelos
sexistas estabelecidos na vida social – seja pelo “desconforto” causado por sua
presença, seja pela “desconfiança” em relação aos seus interesses políticos. Dessa
perspectiva, as práticas corporais são tratadas como algo a ser observado ou violado
quando ocupa lugares que não são destinados a ele.
Segundo a Pesquisa Nacional de Vitimização (2013), quando enfocado o
sentimento de segurança nas ruas, 54,9% dos homens afirmam se sentir seguros, já as
mulheres, apenas 30,2% se sentem seguras. Outro fator relevante na pesquisa é que
entrevistas/os com mais anos de estudo e os de classe mais elevada tendem sentir mais
segurança. Tais dados demonstram como as desigualdades de gênero se imprimem nas
relações entre mulher e mobilidade urbana, ocasionando em sensações de insegurança
nas diversas circunstâncias: em relação ao bairro onde mora, locomoção via transporte
público, circulação em praças, ruas de dia e principalmente de noite, dentre outros
ambientes.
Assim, percebe-se que as mulheres são impossibilitadas de desfrutarem
plenamente dos espaços urbanos principalmente por medo e insegurança de sofrerem
assédio e violência, a associação com o espaço privado é ainda tão presente que
impossibilita ou dificulta pensar em medidas, leis que assegurem o direito de
transitarem nos espaços urbanos com segurança. Nesse sentido, as dimensões de
privado versus público têm sido ainda mais problematizadas por movimentos de
mulheres ou feministas, no sentido de reivindicar direitos e dar visibilidades às
violências sofridas.
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2.2 Dimensão privado x público
O espaço público não foi dado às mulheres, mas sim conquistado. A partir da
década de 1970, com a articulação de movimentos de mulheres e feministas, a ocupação
desse espaço esteve ainda mais em evidência e a problematização da redução das
mulheres ao espaço privado foi questionada por essas incansavelmente. Hannah Arendt
em A condição humana (1997), afirma que a vida pública é valorizada, pois, pode
significar a expressão máxima de liberdade e como potencialidade de desenvolvimento
coletivo.
9
sociais. Enquanto as qualidades ontologicamente atribuídas ao privado
permaneceram associadas ao feminino e às suas propriedades
maternais e afetivas, a esfera pública – da produção industrial e da
cidadania política – ficou ligada ao masculino, reproduzindo-lhe a
supremacia e o lugar de chefe de família (Boim, 2012, p.99).
10
mulheres, e principalmente as violências sofridas. Com isso, percebe-se que as leis e
mecanismos específicos são muito recentes, como por exemplo: a Lei Maria da Penha
(Lei 11.340/06); a criação de Delegacias Especializadas no Atendimento a Mulheres
(DEAMs) e sua incorporação como política pública; a reforma da legislação com a
inclusão da violência doméstica como circunstância agravante ou qualificadora de
crime, a lei do feminicídio, leis que foram frutos do esforço dos movimentos de
mulheres no Brasil no campo jurídico. Tais alterações foram singulares sem dúvida,
proporcionando maior visibilidade, porém no que tange leis específicas referentes às
mulheres no espaço público, ainda carece de avanços.
4
Conceito utilizado pelo sociólogo Stanley Cohen em seu estudo no estudo Folk Devils and
Moral Panics (1972), que designa o papel da mídia hegemônica que distorce contextos sociais,
ou que estão fora de seus padrões criando a imagem de “demônios populares”, o que resulta em
uma reação desproporcional dessa mesma sociedade, ocasionando um pânico moral.
11
No que tange o medo, vale ressaltar que esse é um sentimento constante vivido
pelas pessoas que circulam cotidianamente no espaço urbano e principalmente em
espaços considerados violentos, nos termos utilizados por Wacquant (2005) “regiões-
problemas”, locais onde têm ou se crê que tenham excesso de crimes, violência e
desintegração social, como periferias, guetos, favelas. Nesses lugares há uma ausência
de segurança, rejeição das instituições e do Estado, ocasionando em estigmatização,
abandono onde o recorte de classe e raça se encontra inscrito nesses locais. O pânico
moral nessas “regiões-problemas” pode ser considerado maior devido a inúmeros
fatores como a marginalização econômica, dificuldade de acesso, falta de transporte
público que supra com as necessidades da população, para Wacquant (2005) tais lugares
são considerados desprezados do qual todo mundo quase está tentando escapar.
12
O medo social se gesta em um contexto em que o Estado, cada vez mais, não
consegue assumir para si seu papel legítimo de garantir e manter o “Estado de Direito”5
(BAIERL, p.26, 2004), ou seja, isso contribui cada vez para que haja isolamento das
pessoas, sentimento de insegurança e segregação das mesmas.
Essa última pesquisa citada, relata que de 2.285 mulheres, com idades entre 14 e
24 anos, 77% afirmou já ter sofrido assédio sexual físico e 90% deixaram de fazer
alguma atividade por medo da violência, como sair à noite, usar certas roupas ou
responder a uma cantada. Ou seja, o medo no caso delas não é só por uma questão de
segurança pública, mas por serem mulheres. Essa pesquisa tinha como objetivo o
recorte de gênero, principalmente como o machismo e a violência afetam as mulheres
de classes C, D e E. Um dado interessante dessa pesquisa é que “Rua” foi a palavra
5
Segundo Vieira (2001), o Estado de direito supõe componentes de ordem normativa (a
moralidade e solidariedade), e componentes de ordem instrumental a coerção e o auto interesse).
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mais citada nas 2.285 respostas às perguntas "A violência contra a mulher aparece em
seu dia a dia? Como?". O espaço público é visto, pela maior parte das entrevistadas,
como um local em que não há segurança ou respeito pelas mulheres, o que resulta em
sentimento constante de medo.
Os casos mais comuns nas ruas são agressões (34,2% dos casos) e ofensas
sexuais (21,7%). Não é explicitado na pesquisa se nesse montante de 21,7% de ofensas
sexuais foram registrados por mulheres. Porém, o fato de que a maioria dos crimes e
ofensas ocorrerem nas proximidades das casas, ruas das/os entrevistadas/os chama
atenção, pois, a maioria dos casos de estupros contra mulheres acontecem no trajeto do
ponto de ônibus a suas casas. A pesquisa relata também que dos crimes estudados, há
alguns em que as vítimas dizem estar andando na rua quando são atacadas. A descrição
é mais frequente entre os que sofreram roubo de objetos (32,1%) e ofensa sexual
(23,7%). O que nos faz relacionar os registros de ofensas sexuais com o gênero
feminino, tendo em vista os locais de ocorrência, o alto índice de violências contra as
mulheres e a questão da vulnerabilidade, na qual as mulheres sobressaem os homens.
14
durante o dia, verifica-se que os homens sentem-se muito mais seguros (52,4%). No diz
respeito durante o período da noite, observa-se uma redução na sensação de segurança,
homens continuam se sentindo mais seguros que as mulheres (18,7%). Quando o
enfoque da pesquisa é o sentimento de segurança nas ruas do bairro onde trabalha, os
homens (54,9%) afirmam se sentir mais seguros do que as mulheres (30,2%).
6
Segundo dados levantados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
15
promoção da igualdade de gênero, na conscientização sobre os efeitos pessoais e sociais
negativos da violência contra a mulher, e no reconhecimento dos seus direitos e
garantias, recebendo representações, notícias de crime e quaisquer outros expedientes
relativos à violência contra mulher, por escrito ou oralmente, reduzindo a termo, se for o
caso, e dando-lhes o encaminhamento devido”7.
Movimentos feministas e coletivos não estão passivos a tal realidade. Cada vez
mais há campanhas principalmente via redes sociais que problematizam a naturalização
da violência, a falta de eficiência de políticas públicas no que diz respeito a mulheres e
espaço público, Campanhas como #meuprimeiroassedio e mobilizaram jovens nas redes
sociais a denunciarem assédios sofridos cotidianamente.
A jornalista brasileira Juliana de Faria, de 30 anos, que está há dois anos à frente
do grupo Think Olga, espaço virtual para discutir questões femininas, impulsionou a
campanha #primeiroassedio e o movimento Chega de Fiu-Fiu, que começou com uma
pesquisa sobre as cantadas que as mulheres ouvem nas ruas. Das 8 mil entrevistadas,
99,6% relataram já ter passado por situações constrangedoras8, por assédios. Têm sido
frequentes campanhas que combatem assédios sexuais, violência contra as mulheres.
7
Dados retirados do Relatório do Núcleo de Gênero do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (2015).
8
Dados retirados da Revista Época. Disponível em:
http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/11/primavera-das-mulheres.html
16
Cada vez mais a internet e as novas tecnologias tem se transformado em ferramentas de
engajamentos espontâneos de adolescentes e mulheres.
Considerações finais
17
Luzia Baierl (2004) afirma que “O fim do Estado é impedir o medo e possibilitar
a liberdade de pensamento e de corpos”, de fato a finalidade é essa, porém, o que se vê
muitas vezes é que há uma tentativa de reforçar a ideia que o espaço público é um local
perigoso para as mulheres circularem e se locomoverem, reforçando assim o medo e
também que o confinamento ao âmbito privado é mais seguro. Tal saída é um refugo
para não se enfrentar o fato de que o índice de violências, abusos sexuais, como os
apresentados aqui, faz parte do cotidiano e são candentes nas sociedades
contemporâneas, e principalmente ao reforçar a sensação de insegurança, o medo, está
fortalecendo a lógica da dicotomia privado versus público, que alguns indivíduos (do
sexo masculino) estão mais aptos a circularem no nas ruas, do que de outros indivíduos
(do sexo feminino).
Reforçar o medo não irá modificar as estruturas, o que contribui para que a
sensação de insegura diminua é a implementação de leis específicas paras as mulheres
nos espaços públicos, e medidas que inibam casos de violências nas cidades. A Política
de segurança pública engloba vários elementos e segmentos (DEAMs e etc), e somente
através de ações integradoras entre esses segmentos, envolvendo as diversas
organizações da sociedade e as diversas esferas de poder (executivo, legislativo e
judiciário) em articulação permanente com as formas organizadas da sociedade civil que
podem ser vislumbradas estratégias de ação para reduzir índices de violência e a
sensação de medo aumentando a potências das pessoas para agir coletivamente.
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conjuntura, movimentos sociais urbanos cumprem o papel singular, modificando as
relações entre cidade e corpo.
Por fim, tendo em vista os altos índices de violências sofridas pelas mulheres
nos espaços urbanos e todo esforço empreendido em questionar essa realidade, percebe-
se que a tríade corpo, cidade e segurança confluem no sentido de se repensar práticas e,
principalmente, equidade e autonomia das mulheres hoje.
Referências bibliográficas:
COHEN, S. Folk Devils and Moral Panic: The Creation of the Mods and Rockers.
London/New York: Routledge, 2002 (1972).
_______________. “The right to the city”. International Journal of Urban and Regional
Research, v.27, n.4, 2003.
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OKIN, Susan M. Gênero, o público e o privado. Estudos feministas, 2008.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. São Paulo, editora Contexto, 2007.
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