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Mulheres Invisíveis

A mulher e a cidade

LINHA TEMÁTICA - Eixo 3. Fragilidades e Desigualdades


UIA 2020

ROVANI, Giovana; CHIRATA, Isadora;

RESUMO
Com o intuito de entender inteiramente a mulher e sua relação com a cidade, este artigo tem
como objetivo compreender os problemas do cotidiano, sobretudo de mulheres urbanas. Os
desafios enfrentados por elas estão em âmbitos econômicos, sociais, trabalhistas e urbanos,
afetando também a mobilidade, a habitação e a segurança. O urbanismo, portanto, não é
pensado inteiramente e adequadamente para o gênero feminino, trazendo um desequilíbrio e
a raiz de alguns problemas apresentados. Como forma de resolução da questão levantada, a voz
feminina precisa ser ouvida em decisões urbanas, políticas, sociais e econômicas, de forma que
seja considerada a necessidade apresentada em todos os seus aspectos.
PALAVRAS-CHAVE: mulher; urbanismo; cidades; feminismo.

ABSTRACT
In order to understand the women and her relation with the city, this article aims to perceive the
everyday problems, especially urban women. The challenges bored by women have an
economic, social, labor and urban scopes, affecting the mobility, habitation and security.
Therefore, the urbanism isn’t entirely thought for the feminine gender, bringing imbalance and
some problem’s root. As a way for resolving these questions and problems, is extremely
important to everyone listen to women’s voice in urban, politics, social and economic decisions,
considering all the needs submitted.
KEY-WORDS: women; urbanism; city; feminism.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por objetivo, compreender a relação da mulher com as cidades sob um
olhar feminista e demonstrar a necessidade de abordar um assunto que afeta a maioria das
mulheres brasileiras.
As experiências interpessoais nas cidades não podem ser vistas de uma forma única. Sobretudo
quando colocamos o foco no cotidiano e nos desafios enfrentados pelas mulheres, em especial

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mulheres negras e periféricas, que têm seus corpos e suas experiências urbanas constantemente
atravessadas pelas estruturas machistas e patriarcais de nossa sociedade. Essas vivências se
interseccionam com um conjunto de desigualdades e injustiças territoriais. Pensar a cidade a
partir de um olhar de gênero significa tentar compreender como essas opressões se acumulam
e impactam a vida das mulheres, e assim começar a vislumbrar caminhos possíveis para que
essas tenham de fato direito à cidade.
Essas desigualdades territoriais acentuam a vulnerabilidade das mulheres. A opressão de gênero
imposta pelo patriarcado, resultou em um planejamento de “cidade sexista”, que faz com que
as mulheres sejam as principais responsáveis pelo trabalho doméstico, e pelo cuidado com
crianças, idosos e doentes. A limitação de serviços e infraestrutura próximos a moradia
implicam em mais tempo de deslocamento, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho e
menos tempo livre.

“Demonstrar que o simples fato de serem mulheres, com as imposições e encargos da sociedade,
interfere em sua mobilidade e em sua utilização do espaço público e privado, e que se acentua
as dificuldades quando se tornam mães. Além de que a violência urbana manifesta-se de forma
específica em relação às mulheres, com os espaços vazios, com terrenos abandonados e parques,
sem segurança, com falta de iluminação pública e com itinerários dos ônibus mal planejados,
contribuindo para a não proteção das mulheres.” (GONZAGA, 2011, p. 81).

Figura1: Tirinha Mafalda, satirizando o papel da mulher na sociedade.

Fonte: QUINO

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 CIDADES PENSADAS POR MULHERES

Embora as cidades devam ser construídas para todos, na maioria das vezes são pensadas,
planejadas e projetadas pelos homens. É necessário compreender as nossas raízes sociais e
culturais que resultaram no cenário atual, para acessar a relação da mulher com o espaço
urbano. Além disso, a quase total ausência de mulheres na narrativa histórica cria o sentimento
de não pertencimento em mulheres, trazendo a percepção de que tais ocupam um papel
secundário ou nenhum papel nas narrativas principais, e na arquitetura isso não é diferente.

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Entretanto, a discussão acerca das desigualdades de gênero no urbanismo ainda é recente no
Brasil. Há cerca de três décadas as/os urbanistas estadunidenses, canadenses e européias/eus
têm estudado a questão urbana numa perspectiva feminista.

Com necessidades básicas distintas, homens e mulheres esperam resultados diferentes do


ambiente urbano, mas debates sobre cidades pensadas por mulheres agregam de forma plural
temas como: mobilidade, habitação, raça, políticas públicas, movimentos sociais, violência,
desigualdades espaciais, entro outras, de forma que cumpra o essencial para todos. O
engajamento das mulheres sobre os temas citados reverbera de uma forma concreta, pois as
pautas citadas são vivenciadas por mulheres diariamente.

“É urgente que seja pautada a representatividade feminina, em todas as esferas, em toda a sua
diversidade, mas principalmente ocupada por aquelas de nós que têm sido mais esquecidas,
discriminadas e desconsideradas nos processos históricos. Defender a representatividade de
gênero na política brasileira vai além do processo eleitoral. É sobre apoiar mulheres que
construam as cidades de acordo com as necessidades reais de suas vidas, no campo da habitação,
mobilidade, segurança nos espaços públicos, divisão do trabalho, e tudo que envolve usar,
ocupar e identificar-se com a cidade que vivemos.”(GRACIELA MEDINA, 2020).

2.2 HABITAÇÃO

Grande parte da população de baixa renda, negra, mora em regiões periféricas, muitas vezes
em situação precária e com menos serviços públicos de qualidade, tais como creches, escolas,
postos de saúde ou espaços de lazer. Por conta disso, seus moradores se sujeitam a tempos mais
longos de transporte em relação a bairros mais centrais ou mais ricos.

No que tange a localização desses lares, é necessário considerar que hoje, muito além de serem
responsáveis pelo trabalho reprodutivo, vinculado ao âmbito privado dos lares, as mulheres
participam do trabalho produtivo, aquele que gera renda. Portanto, a luta por medidas que
auxiliem na promoção da acessibilidade a imóveis localizados próximos aos equipamentos
públicos e de trabalho é essencial.

A garantia do direito à titularidade e a localização dos respectivos lares também são temas
fundamentais no direito à moradia das mulheres. Além disso, como as mulheres estão ligadas
ao cuidado direto e restrito de seus filhos a falta de creches é um dos fatores que justifica, por
exemplo, a diferença entre a participação feminina em postos de trabalho formais comparada
com a participação masculina. Somado a oferta, a localização da creche e o horário de
funcionamento também condicionam diretamente o acesso às vagas de emprego para
mulheres.

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Figura 2: Dados sobre famílias chefiadas por mulheres

Fonte: Archdaily, 2020.

Além disso tudo, as formas de habitar influenciam as formas de construir a moradia e os


materiais utilizados na construção devem expressar tanto a identidade quanto a diversidade
cultural dos moradores e moradoras. Reformas e modernizações devem também respeitar as
dimensões culturais da habitação.

Resumindo, os elementos do direito à moradia que uma mulher necessita para uma vida justa
são: segurança da posse, habitabilidade disponibilidade de serviços, infraestrutura e
equipamentos públicos, localização adequada, adequação cultural e custo acessível.

2.3 ESPAÇOS PÚBLICOS

Os espaços públicos não devem ser mais considerados espaços neutros. Pensar a cidade numa
perspectiva de gênero implica transformá-la a partir das diferentes demandas, necessidades e
vulnerabilidades de cada grupo social. Toda mulher que anda pela cidade é uma poderosa
agente desta transformação, e o espaços públicos devem possibilitar que todos possam passear,
estar, circular, protestar, amar e existir livremente e com segurança. Enfim, exercer seu direito
à cidade.
Ao observarmos a exclusão das mulheres dos espaços coletivos, a segurança entra novamente
como fator primordial. Esse fenômeno é bem conhecido nas ciências sociais ao ponto que o
percentual de mulheres é usado como um indicador de segurança nos espaços públicos. Não

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porque a presença delas torna o lugar mais seguro, mas porque um local seguro é aquele capaz
de atrair também o público feminino. Espaços públicos com iluminação e manutenção
adequadas, localizados próximos a espaços com vida urbana vibrante e diversidade de usos,
tendem a ser ocupados pela população como um todo e constituem um ambiente mais seguro
para todos.

Figura 3: Dados sobre violência

Fonte: Archdaily, 2020.

”No Brasil, 86% das mulheres já sofreram algum tipo de assédio em espaços públicos [1],
realidade que posiciona o país como líder nesta forma de violência. Ninguém deveria ter medo
de caminhar pelas ruas simplesmente por ser quem é. Mas infelizmente isso é algo que acontece
com as mulheres todos os dias. O medo provocado por tais situações cerceia o direito das
mulheres de ir e vir, provocando prejuízos imensuráveis, como dificuldade de acesso à educação
e ao trabalho, intensificando as desigualdades de gênero.
As mulheres trans, além de estarem submetidas a todas essas formas de violência, têm
reiteradamente sua própria existência questionada e combatida nos espaços públicos e
privados: mesmo com uma queda de 24% nos assassinatos em 2019 em relação ao ano anterior,
o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas transexuais, e a maior parte desses crimes ocorrem
nos espaços públicos.” (GRACIELA MEDINA, 2020).

Para que as mulheres se apropriem dos ambientes urbanos, elas precisam poder acessá-los.
Sendo assim, o deslocamento delas não pode ser restrito pelo horário e meio de transporte em
que utilizam.

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Outro ponto a ser considerado é a restrição ao lazer: campinhos de bairro, quadras e muitos
espaços esportivos são frequentemente ocupados por homens, deixando o público feminino
com menos alternativas de divertimento. É importante garantir diversidade de programações e
atividades, a fim de incluir a todas as pessoas.

2.4 MOBILIDADE

Possuímos em nossa sociedade diferentes padrões e necessidades de deslocamentos que


precisam ser compreendidos e contemplados. Muitos estudos apontam que mulheres fazem
mais viagens com períodos menores, uma mobilidade mais flexível, com bilhetes de ônibus que
permitam mais de uma viagem, por exemplo, facilita a vida de todos os usuários, mas em
especial, a delas. Enquanto o respeito não impera no transporte público, algumas cidades como
Brasília e Rio de Janeiro, reservam um vagão do metrô exclusivamente para mulheres, a fim de
evitar o assédio. Mas é necessário alertar: a segregação das mulheres ou de qualquer outro
grupo diante de uma problemática não é a solução.

Figura 4: Metrô de São Paulo

Fonte: Diego Torres Silvestre

A mobilidade ativa também deve ser considerada, campanhas que promovam o respeito,
principalmente entre o público motorizado, que ainda é representado por uma maioria
masculina, são fundamentais.

Quando construímos ambientes urbanos a partir de perspectivas privilegiadas ao longo da


história, violamos a ideia de cidades para todos. Os direitos e necessidades do público feminino
devem ser contemplados no planejamento das nossas cidades, e para que isso ocorra, a

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participação das mulheres em todas as etapas do processo deve ser ativa. O lugar das mulheres
nas cidades, assim como de todas as pessoas, deve ser aquele que elas desejarem estar, como
e na hora que quiserem. E a responsabilidade para que isso ocorra é de todos nós.

Além disso, é importante pensar a segurança das mulheres na cidade e em seus deslocamentos.
Após analisar algumas opções de trajeto, muitas mulheres estrategicamente escolhem o
caminho que muitas vezes não é o mais prático e rápido, mas aquele em que se sentem mais
seguras, evitando lugares pouco iluminados ou com pouco movimento.

O momento em que as mulheres transitam pela cidade, seja a pé ou no transporte coletivo,


transforma o que deveria ser um dos meios de apropriação e ocupação emancipatória dos
espaços públicos num momento de exposição à violência.

Figura 5: Mobilidade para mulheres

Fonte: Archdaily, 2020.

Pensar a mobilidade urbana por uma perspectiva de gênero é considerar espaços e


infraestruturas adequadas para a mobilidade a pé atendendo as necessidades de deslocamento
das mulheres, garantindo a vivência plena de nossa cidadania.

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2.5 POLÍTICA

A ideia de mulheres fazerem parte do cenário político, assim como tomando decisões,
participando de projetos de leis, desenvolvendo melhorias públicas, etc. é algo muito novo e
escasso, apesar de já presente atualmente, e também no Brasil. Esta participação feminina é
fundamental para o compreendimento das necessidades de mulheres em frente à cidade,
economia, segurança etc.

Figura 6: Palácio do Planalto, 2019

Fonte: Daniel Marenco

Em, 74 anos, São Paulo contou com 19 prefeitos e, entre eles, apenas duas mulheres: Luiza
Erundina (1989-1992) e Marta Suplicy, (2001-2004). Em 55 anos, a cidade foi governada por
homens, o que dificulta a visibilidade das questões urbanas que recaem sobre as mulheres,
mesmo elas sendo usuárias mais frequentes das infraestruturas urbanas, e, portanto, mais
prejudicadas pela falta delas. o enfoque na questão de moradia digna e na construção
participativa afeta direta e indiretamente as mulheres, dessa forma a presença da mesma na
gestão e na construção de moradias necessita de um papel na política, pois mulheres na política
podem influenciar diretamente nesses movimentos.
“Eu tenho pressa e eu quero ir pra rua
Quero ganhar a luta que eu travei
Eu quero andar pelo mundo afora
Vestida de brilho e flor
Mulher, a culpa que tu carrega não é tua
Divide o fardo comigo dessa vez
Que eu quero fazer poesia pelo corpo
E afrontar as leis que o homem criou pra dizer “ (EKENA).

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3 CONCLUSÃO

Seja na teoria ou na prática, a ideia de separação espacial entre casa e trabalho estava
relacionada à divisão sexual tradicional de homens e mulheres e ao seu papel na vida
cotidiana. Com base nos primeiros pensamentos feministas na arquitetura, este artigo discorre
sobre a mudança do papel das mulheres e seu impacto no espaço construído.
Olhar a cidade de uma perspectiva feminista torna a solução da problemática mais clara, mesmo
que ainda seja mais complicada a propagação desses ideais. A discussão é recente no Brasil, mas
já começou a ser movimentada e questionada. É importante alimentar a discussão
constantemente, para que não continue a se propagar como tabus ou ideais distorcidos.
Durante o desenvolvimento, apontamentos evidenciam claramente a desigualdade de gênero,
não só em áreas como a economia, mercado de trabalho e sociologia, mas também em questões
urbanísticas, públicas, políticas e de mobilidade. O urbanismo influencia diretamente no
cotidiano das mulheres, em sua maior parte de forma negativa. Isso acontece principalmente
porque a maior parte dos planejamentos adotam uma perspectiva masculina e/ou patriarcal,
geralmente idealizadas por homens.
Para a melhoria dessa problemática, a decisão para melhorias urbanas e públicas, deveriam ter
integral ou conjunta a perspectiva feminista tomada como partido. Dessa forma, seriam
abordadas questões de gênero, raça, classe e segurança.
Os principais fatores a serem resolvidos como a mobilidade, habitação, renda, empregos e
segurança, entre outros, estão interligados com o cenário urbano. Para resolvê-los, a ação do
poder político e dos cidadãos, sobretudo de mulheres, deverá entrar em conjunto para o
equilíbrio de todos estes fatores.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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