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42º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS

GT 06 CONFLITOS E DESASTRES AMBIENTAIS: VIOLAÇÃO DE DIREITOS,


RESISTÊNCIA E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

NEM NOSSOS CORPOS, NEM NOSSOS TERRITÓRIOS: MULHERES,


DESENVOLVIMENTO E CONFLITOS AMBIENTAIS

Fabrina Furtado
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‘A lógica do desenvolvimento é o patriarcado racista acontecendo na vida real e


cotidiana das comunidades’.

Cristiane Faustino, Instituto Terramar, 2013

1. Introdução

Desde os anos 1990 a indústria extrativa – a produção e expansão territorial das


frentes de mineração, do agronegócio, do monocultivo de árvores, de petróleo e gás e do
complexo energético – alavancada pela ação dos Estados vem assumindo um papel
central na economia política do Brasil e da América Latina. Apesar de grande parte dos
atuais mega-projetos terem sido concebidos no período da ditadura militar, a dependência
na indústria extrativa assumiu uma forma extensiva a partir do domínio da retórica
neoliberal sobre as virtudes do livre mercado e da inserção internacional do capitalismo
brasileiro. Nos anos 2000 a América Latina consolidou-se como uma fronteira importante
para a intensificação do extrativismo industrial e a incorporação de territórios para estas
atividades. Legitimado pelo discurso do desenvolvimento, progresso e do crescimento
econômico, este processo tem como forma de expansão, o uso intensivo e extensivo da
terra, resultando na sobre-exploração do trabalho e da terra e de processos de grilhagem,
privatização ou expropriação de comunidades.
A necessidade de “se desenvolver”, que hoje se escancara de forma mais violenta
possibilitado por um processo de cercamento da democracia por parte das corporações,
oculta as transformações territoriais que expulsa populações inteiras dos seus locais de
produção e reprodução ou torna seus modos de vidas inviáveis. No entanto, os impactos
socioambientais da atuação dessas corporações, na sua relação com o Estado, não são
democráticos; são diferenciados e desigualmente distribuídos. Os conflitos ambientais -
em torno do acesso, uso, apropriação e da significação do mundo material – e os riscos
decorrentes para os povos indígenas, tradicionais e camponesas são naturalizados,
subestimados ou negligenciados. Escolhemos aqui não destacar as mulheres,
considerando a crítica feita por Paredes (2010), de que as mesmas são frequentemente
consideradas um mini setor ou como problema que precisa ser resolvido: elas também
estão nessas comunidades e povos.
Neste contexto, existe uma crescente percepção de que os impactos desses
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conflitos são sentidos e vivenciados de formas distintas por homens e mulheres e entre
elas pois são marcados por relações sociais desiguais que preestabelecem
responsabilidades específicas em função do gênero, da classe e da raça. Além disso, as
experiências das mulheres influenciam as suas percepções e valores em torno das
questões ambientais. No entanto, apesar de contarmos com uma ampla produção de
pesquisas sobre a indústria extrativa, grandes projetos e conflitos ambientais
(ACSELRAD, 2004; ALMEIDA et al, 2010; ZHOURI; VALENCIO, 2012), trabalhos
sobre ecologia política feminista, ecofeminismo e feminismo territorial e comunitário
(BARRAGÁN et al, 2016; PAREDES, 2010; ROCHELEAU, THOMAS SALYTER e
WANGARI, 2004; SEGATO, 2012; ULLOA, 2016) e crescentes denúncias em torno do
aumento da violência e as desigualdades ambientais afetando as mulheres e o seu
protagonismo em diversas lutas (CPT, 2014; SOBRAL, 2018), ainda é preciso avançar na
análise deste relação.
Vale ressaltar que os conceitos de gênero e mulher/mulheres são acompanhados
de profundas complexidades e tensões, contém posturas extremamente variadas e que
frequentemente não dão conta dos trânsitos entre masculinidade e feminilidade ou de
“outras” questões como raça, classe, geração e sexualidade. Não teremos como analisar
este processo no contexto desta pesquisa; são discussões que estão presentes em diversos
outros trabalhos (SCOTT, 1989; COSTA, 1998; PISCITELLI, 2002). A abordagem aqui
assumida reconhece essa complexidade e busca, portanto, utilizar os dois conceitos de
forma articulada, em especial destacando a diversidade das mulheres, das suas
experiências e vivências e os contextos específicos onde relações de poder são
operacionalizadas a partir do sistema de diferenciação sexo/gênero. Compreendemos que
o conceito de gênero foi desenvolvido a partir da constatação de que as mulheres ocupam
lugares sociais subordinados em relação aos homens e que tal processo é construído
socialmente e que portanto não só pode como deve ser modificado. Reconhecemos
também a apropriação que vêm sendo feita deste conceito por parte de empresas,
instituições multilaterais, centros de pesquisa e governos, e portanto o caráter político da
categoria heterogênea “mulher”, historicamente construída de forma a negar
epistemologicamente qualquer essência à mulher, e possibilitar a prática política a partir
de semelhanças e do reconhecimento das diferenças. Neste sentido, o conceito de
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interseccionalidade contribui para compreendermos a interação das relações de poder de


gênero, raça, classe e sexualidade na produção e reprodução das desigualdades (DAVIS
2016; HIRATA, 2014). Ao mesmo tempo, é importante atentarmos para o fato de que as
causas não são necessariamente universais no sentido de que as escolhas tácticas e
estratégicas de luta política são construídas em diferentes contextos, tempos e espaços
(BOUTELDJA, 2015).

Assim sendo, fundamentado em uma perspectiva crítica sobre a atual realidade


vivida pelas mulheres em diferentes regiões do Brasil e na necessidade de construção de
epistemologias feministas e descoloniais (BOUTELDJA, 2015; HARDING, 1987;
SARDENBERG, 2001; SCHIENBINGER, 2001; SEGATO, 2012), o objetivo deste
trabalho é refletir as implicações dos conflitos ambientais gerados pelos denominados
projetos de desenvolvimento e as suas implicações territoriais, tendo como ponto de
partida as experiências e vivências “das mulheres”, em especial as negras, pescadoras,
agricultoras e indígenas diretamente afetadas. Busca-se assim promover uma articulação
entre as teorias, discursos e propostas em torno dos conflitos ambientais e os feminismos,
em especial os feminismos contra-hegemônicos, denominados aqui de comunitário e
territorial que questionam a representação clássica homogênea da ‘mulher’ como sendo
aquela branca, ocidental, de classe média e heterossexual e o individualismo no lugar das
coletividades (CABAL, 2010; SEGATO, 2012; PAREDES, 2010; ULLOA, 2016).
Tomaremos também como abordagem a ecologia política feminista, que correlaciona a
opressão das mulheres com a dominação da natureza (ROCHELEAU, THOMAS-
SLAYTER; WANGARI, 2004; NOGALES, 2018)

Considerando o contexto e as abordagens aqui expostas, o artigo está estruturado


para analisar as seguintes questões: a construção da problemática de gênero nas
discussões sobre os conflitos ambientais, envolvendo a crítica feminista à ciência e a
apropriação da questão de “gênero”; e, os efeitos sobre os territórios e as implicações
para as mulheres envolvendo uma discussão sobre as injustiças ambientais, as violências
e a luta das mulheres para serem reconhecidas como atingidas. Terminaremos com
algumas considerações finais.

Como metodologia foram utilizadas fontes secundárias pra construir os elementos


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teóricos necessários ao debate em torno das categorias feminismo/gênero/mulher,


interseccionalidade, epistemologia feminista e conflitos ambientais e, primárias para
analisar as redes de relações, discursos e argumentações das mulheres em luta contra
grandes projetos. Entrevistas semi-estruturadas presenciais e não presenciais através do
ambiente virtual foram realizadas com diferentes mulheres impactadas pelo complexo
siderúrgico ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) no bairro de
Santa Cruz, Rio de Janeiro; o maior crime ambiental ocorrido no Brasil, causado pela
mineradora Samarco na Bacia do Rio Doce; e o complexo de mineração da Vale Ferro
Carajás, entre o Pará e o Maranhão. Depoimentos de mulheres em vídeos, meios de
comunicação e declarações de eventos também foram utilizados. Vale também destacar a
experiência na Relatoria do Direito Humano ao Meio Ambiente da Plataforma DHESCA
Brasil durante os anos de 2013 e 2015, e as diferentes missões sobre a atividade de
petróleo no Rio de Janeiro, da mineração no Pará e Maranhão e da economia verde no
Acre, quando foi possível ter contato com diferentes mulheres – indígenas, pescadoras e
marisqueiras, quilombolas e camponesas – em luta contra a indústria extrativa e projetos
de desenvolvimento, de diferentes lugares e vivências.

2. Conflitos ambientais, desenvolvimento e mulheres: quem define o “problema’ e


para que?

Em um contexto de desigualdade de poder, os atores que ocupam posições


dominantes no espaço social também estão em posições dominantes no campo de
produção de ideias. São várias as pesquisas que se utilizam dos conceitos de
colonialidade do poder e do saber para questionar o conhecimento eurocêntrico
homogeneizante apresentado como neutro, objetivo e universal, que oculta, desqualifica
e/ou deslegitima qualquer outro tipo de conhecimento como ausente ou subalternos ou no
máximo como local, invisibilizando assim as diferenças e as complexidades das distintas
formações sociais e constituições de lugares. Essa geopolítica do conhecimento
impossibilita reflexões fundadas no próprio mundo vivido e a diversidade de epistemes
construídas por diferentes povos e suas culturas e modos de vida (LANDER, 2005).
Baseado na razão binária – sujeito/objeto; mente/corpo; razão/emoção; cultura/natureza;
ativo/passivo – onde os primeiros são identificados com o “masculino” e superior, se
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impondo sobre os segundos identificados pelo que historicamente foi construído como
“feminino” e inferior, residual (SARDENBER, 2001; SEGATO, 2012) influencia a forma
como pensamos a questão ambiental, alimentando e reforçando também aqui as
hierarquias de gênero (LUGONES, 2008; ULLOA, 2004, 2014).

Ao incorporarem a critica ambiental nos seus discursos e práticas, os agentes


dominantes passam a ocupar posição privilegiada para dar conteúdo a própria noção de
meio ambiente e das atividades que devem ser consideradas ambientalmente benigna ou
danosa. No campo dominante, os discursos são elaborados sob o viés de uma visão
pragmática e utilitarista, expressando preocupações em assegurar a continuidade da
acumulação do capital. O meio ambiente é uno e composto estritamente de recursos
materiais, sem conteúdo sociocultural especifico, definindo a problemática a partir dos
meios através dos quais a sociedade utiliza o meio ambiente, e não os fins da apropriação
dos “recursos” do planeta. O acesso ao meio ambiente e degradação ambiental são tidos
como democráticos, atingindo a todos indistintamente (ACSELRAD, 2010).

Trata-se de um conhecimento que não apenas conserva, preserva ou destrói a


“natureza”, mas cria uma nova “natureza” que transforma subjetividades, identidades e
práticas sociais, reorientadas em direção à reprodução e legitimação do desenvolvimento
capitalista. Essa “nova” natureza é definida como indômita ou necessitada de proteção;
uma natureza (como são vistas as mulheres) que precisa ser conquistada ou protegida
(ULLOA, 2014). Neste processo, outras formas de produzir conhecimento sobre a
problemática ambiental, em especial da prática de subsistência, são negadas, inclusive
para garantir a sua reprodução e legitimação. E este conhecimento dominante que
reproduz relações de poder/conhecimento, situa as mulheres, em especial, mulheres
negras e indígenas, novamente em relações desiguais.

A problemática ambiental, no entanto, é atravessada por desigualdades, seja


Norte-Sul, entre regiões, de classe, raça e de gênero. Além dos grupos historicamente
vulnerabilizados serem mais expostos a degradação ambiental, é a perspectiva do que é o
meio ambiente dos grupos dominantes que prevalece. As divergências de concepções e
práticas de uso e ocupação dos territórios expressam significativamente as necessidades
dos sujeitos, concretizando um contexto de disputa desigual e injusta (ACSELRAD,
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2010).
Neste sentido, existem diferentes perspectivas em torna da relação gênero e meio
ambiente, para além daquelas visões que afirmam a não existência de questões de gênero
na forma como percebemos e nos apropriamos do nosso mundo material. Uma corrente
de pensamento, por exemplo, argumenta que em decorrência das suas funções biológicas
e portanto do “instinto maternal”, a mulher é mais próxima da natureza, as tornando mais
sensíveis, cuidadosas e mais preocupadas com o ambiente que os homens (DI CIOMMO,
2003). A mulher é, portanto, apresentada como a salvação da Humanidade e da
conservação da natureza (BARRAGÁN et al., 2016).
Descolada de uma análise mais profunda sobre as relações de poder e as
complexidades que permeiam as relações de gênero, esta abordagem corre o risco de ter
um viés essencialista, situando homens e mulheres em papéis hierarquizados - mulher-
natureza, homem-cultura - relegando às mulheres o lugar e toda a responsabilidade pelo
cuidado.
Lorena Cabnal, feminista comunitária, indígena maya-xinka da Guatemala,
refletindo sobre o patriarcado originário ancestral e a sua relação com o que ela
denomina de “penetração colonial e o entrocamento dos patriarcados” (2004, pp. 13-15),
por exemplo, afirma que “pachamama es la madre tierra cuyo rol cosmogónico se sitúa
dentro de un orden heterosexual cosmogónico femenino, como reproductora y
generadora de vida. Engendrada por Tata Inti: el padre sol, el astro rey, el masculino
fecundante” e que assim, “establece en relación algo que las mujeres feministas
comunitárias debe llamarnos la atención, por la posición de poder y superioridad
manifestada del de arriba como macho y la de abajo fecundada como hembra [...]” .

No entanto, uma corrente do ecofeminismo, que identifica articulações estruturais


entre a exploração das mulheres e da natureza, argumenta que as interações das mulheres
com a natureza, com seus meios e territórios e, portanto, a atuação das mesmas nos
conflitos ambientais não é determinada a partir de suas funções biológicas; são
socialmente e historicamente construídas e se diferenciam dependendo de outras
condições, como classe, raça, etnia e geração, lugares e cultura, e também do seu papel
em processos coletivos de luta (ROCHELEAU; THOMAS-SLAYTER; WANGARI,
2004; BARRAGÁN et al, 2016). Estas relações e atuações são influenciadas por
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determinados papéis preestabelecidos para as mulheres em função das relações de poder


baseadas no patriarcado, que tem no ser masculino, nas suas necessidades e em seus
interesses, o centro do poder e do comando do mundo. As mulheres são, portanto,
“sujeitos culturais” que estão também inseridas nas diferentes formas de uso e ocupação
dos territórios. Neste sentido, as desigualdades no que diz respeito ao acesso, uso e
apropriação da natureza, como também dos impactos, são também estruturadas com base
no gênero.
Para além da forma como pensamos o meio ambiente e a sua relação com a
questão de gênero, a ciência dominante vem crescentemente se apropriando da
problemática de gênero na sua relação com a questão ambiental, para garantir a produção
de bens e serviços voltados para a acumulação de capital, impondo a perspectiva
universalizante, eurocêntrica e individualista de “gênero” nas comunidades
(SARDENBERG, 2001; SEGATO, 2012; SHIVA, 1995).

Atualmente, por exemplo, a constatação de que existe uma crise climática é


utilizada para promover políticas de mercado e ajustes tecnológicos, que ocultam outros
problemas estruturais, como a própria estrutura do desenvolvimento capitalista; os
impactos negativos dos projetos de desenvolvimento, como a indústria de petróleo, e a
criminalização de lideranças comunitárias em luta contra estes projetos. A mudança
climática é definida como um problema de “todos”, o que elimina a existência de
diferenças na forma pela qual as pessoas e os coletivos são constituídos, pensam e agem,
em geral, e, mais especificamente, sobre o meio ambiente e o clima. Diferenças
estruturais históricas, em termos de impactos e da reprodução de relações de poder
assimétricas, não são analisadas, a não ser para serem apropriadas pela lógica da
acumulação. O “todo” coloca as mulheres em posição de vítimas universais, silenciando
as divergências ideológicas, sociais e de interesses (ULLOA, 2014).
Embora haja, em alguns casos, o reconhecimento dos impactos diferenciados em
termos geográficos e sociais, estas diferenças são evocadas para reforçar a noção da
ameaça global enfrentada por “todos”. A pesquisadora mexicana Úrsula Oswald Spring,
do IPCC afirma que “as mulheres são mais vulneráveis aos impactos das mudanças
climáticas globais”. Trata-se de uma importante observação, ainda mais quando a
pesquisadora ressalta também que “as mulheres e meninas representam atualmente 72%
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do total de pessoas que vivem em condições de extrema pobreza no mundo” e que “elas
representam hoje as maiores vítimas de desastres provocados por eventos climáticos
extremos, como inundações e furacões”. No entanto, apesar de a pesquisadora alertar
sobre a necessidade de garantir mais participação das mulheres nos processos decisórios
entre as ações mais urgentes para preparar as mulheres para o enfrentamento dos eventos
climáticos extremos estão: treiná-las para que a capacidade de querer ser a mãe de todos
seja mais eficiente e que “não seja realizado ao custo de sua própria vida, mas que possa
beneficiar todo um conjunto de pessoas” e “treinar mulheres para aprenderem a nadar, a
correr, a trepar em uma árvore, e permitir que possam usar uma roupa mais adequada
para realizar essas atividades” (ALLISON 2012, p.2).
São propostas que despolitizam o debate sobre o clima, ocultando as
desigualdades em relação às suas causas e consequências; aumentam a responsabilidade
das mulheres, que devem ser ainda mais eficientes e atuar como mães de todos
reforçando a lógica da maternidade compulsória; e, limitam o tratamento da questão à
adaptação das mulheres aos seus impactos. O que poderia ser um debate qualificado
sobre os principais conflitos ambientais enfrentados por diferentes mulheres e de como
superar as causas estruturantes e desiguais destes problemas, tornam-se estratégias para
adiar e enfrentar o inevitável.
As empresas também se apropriam da problemática de gênero, incorporando “as
mulheres” em seus programas de responsabilidade social e ambiental, como estratégia de
legitimação, sem promover modificações em suas práticas. A Vale, com apenas 12,3% de
trabalhadoras, sendo só 3,8% destas gerentes e coordenadoras, por exemplo, cita as
mulheres no seu Relatório de Sustentabilidade de 2015 diversas vezes, afirmando que
“reconhece e promove o talento e a capacidade das mulheres, diminuindo a discrepância
histórica e cultural sem criar ambiente discriminatório” (VALE, 2015, p.7). De que
mulheres a Vale está falando? Qual a qualidade do trabalho destas mulheres? Como as
desigualdades e a discriminação histórica são tratadas pela mineradora? Além de não
tratar destas questões, a empresa oculta as violências enfrentadas pelas mulheres nos
territórios onde atua.
Da mesma forma, a Fundação Renova (2018), criada pela mineradora Samarco,
composta pela anglo-americana BHP Billiton e a brasileira Vale S.A, causadora do
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rompimento da barragem de Fundão no em novembro de 2015 na Bacia do Rio Doce


para garantir as reparações, acusada de diversas violações dos direitos das populações
atingidas como dificuldades no acesso à informação, a tomada de ações unilaterais, a
obrigação de que os/as atingidos/as renunciem ações judiciais ao entrarem nos programas
de indenização, falta de assistência jurídica gratuita, a necessidade de comprovação de
danos mesmo quando os mesmos não são mensuráveis, e o não reconhecimento e
tratamento desigual de mulheres atingidas, usa a imagem e o trabalho das mulheres nos
seus informativos e outros meios de comunicação.
Assim, “reconhece-se” a “importância” do papel da mulher e os impactos
diferenciados mas, reforça-se os lugares que foram historicamente construídos para as
mulheres e elimina-se do debate as diferenças e desigualdades raciais e de classe, além de
outras. A capacidade das mulheres de, a partir dos seus conhecimentos adquiridos ao
longo de milhares de anos, enfrentar situações difíceis e adaptar as suas práticas de
vivência e sobrevivência é manipulada e apropriada.
Outro exemplo está relacionado com a incorporação das mulheres nos novos
mercados ambientais como potencializadoras da economia verde e de políticas de clima,
por exemplo. Neste sentido, encontramos projetos de carbono específicos para mulheres
nos quais as corporações, buscando compensar e legitimar as suas práticas, compram o
carbono sequestrado ou evitado em projetos executados exclusivamente por mulheres,
consideradas como mais responsáveis. Outro exemplo é o lançamento do indicador de
Carbono das Mulheres (W+), que serve para medir os benefícios dos projetos sobre as
mulheres (MORENO, 2013). Segue-se, na política global de mudança climática, a lógica
de que ‘igualdade de gênero é economicamente inteligente’ e que ‘as mulheres são o
próximo grande mercado emergente’, como afirmou o presidente do Grupo Banco
Mundial, Robert Zoellick durante reunião anual deste banco e do Fundo Monetário
Internacional (FMI) em Washington (EUA), em setembro de 2011, em entrevista coletiva
sobre o relatório da instituição “igualdade de Gênero e Desenvolvimento” (D
´ALMEIDA, 2011, p.1).
Portanto, o protagonismo e o fortalecimento - e não a negação, apropriação e
transformação - dos saberes das mulheres, em especial das negras e indígenas, na
construção do conhecimento não é apenas uma questão de legitimidade, mas da
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necessidade de instaurar processos que sejam capazes de romper com as estruturas


históricas de dominação. São estruturas que a partir desse conhecimento dominante que
aqui analisamos, levam à implementação de grandes projetos de desenvolvimento que se
alimentam e reproduzem essas desigualdades nos territórios. É o que veremos a seguir.

3. Impactos territoriais dos grandes projetos e implicações para as mulheres


Os conflitos ambientais decorrentes dos projetos de desenvolvimento são bastante
conhecidos e pesquisados (ACSELRAD, 2004; ALMEIDA, 2010; ZHOURI;
VALENCIO, 2012). Alguns dos processos que podemos mencionar são: flexibilização e
fragmentação do licenciamento ambiental; acesso e uso desigual do território;
deslocamento forçado de populações; apropriação e controle corporativo de territórios;
violação de direitos humanos, injustiça e racismo ambiental; aumento da violência;
criminalização dos movimentos sociais e comunidades; e, estratégias ilegítimas e ilegais
de controle territorial. Tendo como ponto de partida a ecologia política feminista,
analisaremos a distribuição desigual dos impactos dos conflitos ambientais na vida das
mulheres, em especial sobre as relações com a terra e os territórios e a produção e
reprodução de identidades coletivas, as violências sofridas e as dificuldades de serem
reconhecidas como atingidas.

3.1 As injustiças e racismos ambientais: a perda do território-corpo-terra

Em decorrência da divisão sexual do trabalho e da divisão historicamente constru-


ída entre o público e o privado, as mulheres, nos seus diferentes contextos, mas em espe-
cial aquelas em situação de pobreza, além das cargas das atividades domésticas e do cui-
dado da família (e muitas vezes da comunidade), realizam outros trabalhos invisibiliza-
dos, como a coleta de lenha, água e forragem para os animais, o cuidado dos animais e da
roça, dos quintais, e a extração de mariscos. Muitas vezes elas são as únicas responsáveis
pelo bem-estar da família. Assim, quando a família é impactada pela contaminação de
produtos químicos, falta de água e saneamento, poluição e disseminação de doenças, de-
correntes de grandes projetos, assumem uma maior carga no que diz respeito aos cuida-
dos quando a família é impactada pela contaminação de produtos químicos, falta de água
e saneamento, poluição e disseminação de doenças. Nestas situações, as mulheres são
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responsabilizadas por suprirem e/ou culpabilizadas por não suprirem as necessidades da


família, especialmente de crianças, adolescentes, idosos e enfermos.
O rompimento da barragem de rejeitos do Fundão deixou 19 mortos e 637 pessoas
desalojadas, destruiu a produção local como a pesca artesanal e a agricultura familiar e
contaminou drasticamente os rios e a biodiversidade da região, comprometendo a subsis-
tência e qualidade de vida de 3,2 milhões de pessoas, número estimado de habitantes da
bacia do Rio Doce, principal afetada por este desastre socioambiental, considerado o
maior crime ambiental na história do Brasil e o maior do mundo envolvendo barragens e
rejeitos de mineração. Afetou e continua afetando o direito à vida, à água, à alimentação,
à segurança e soberania alimentar, à moradia, ao trabalho, à saúde e ao direito a viver em
um meio ambiente saudável das pessoas que habitam a bacia do Rio Doce nos estados de
Minas Gerais e Espírito Santos.
Apesar deste crime afetar homens e mulheres que habitavam e trabalhavam nos
locais atingidos, os depoimentos analisados revelam a desigualdade no que diz respeito
aos impactos e ao tratamento dado às mulheres. Além de enfrentarem o sofrimento
relacionado à perda de familiares e entes queridos, das suas casas, do trabalho, da fonte
de alimentação plural e saudável, da renda, da desagregação da comunidade, aumento da
exploração sexual e da violência e de diversos outros impactos particularmente graves, as
mulheres ainda enfrentaram violações no modo em que foram tratadas após o desastre.
Cerca de 300 famílias foram abrigadas em hotéis da cidade, algumas por mais de
cinquenta dias. Superexpostas, as mulheres reclamaram da separação das famílias e da
falta de privacidade; alguns quartos tinham 12 camas de solteiros. A qualidade da comida
fornecida pela empresa também foi uma das queixas das mulheres, algumas das quais
passaram mal após ingeri-la. A empresa havia afirmado que grávidas, idosos e crianças
teriam prioridade na transferência para as casas provisórias; isso não ocorreu (MAB,
2015).
Quando entrevistada pelo MAB, em 03 de dez. 2016, e questionada se o impacto
era maior para os homens ou para as mulheres, uma ex-moradora de Bento Rodrigues
afirmou:

As mulheres, claro. Ah, porque os homens convivem mais fora de casa


e as mulheres que estão ali todo dia. Cada cantinho da casa, a mulher
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conhece mais que o homem, dá mais amor até mesmo às criações, às


plantas. Se mudar alguma coisa de lugar, a mulher vai saber, o homem
não sabe disso. Não que o homem não sofra, mas a mulher sofre mais.

De acordo com representante do MAB, “é a mulher que se preocupa com as


questões referentes a má qualidade de água, que busca água em outros lugares como
bicas, poços, minas”. É também a mulher “que convive com a falta de água para
cozinhar, pois é tarefa dela garantir isso também, que leva os filhos nos postos de saúde e
não veem solução para os problemas de coceiras, manchas, feridas, e dores no estômago
de toda a família”. Além disso, recentemente, tem tido “muitos casos de queda de cabelo,
que como em geral as mulheres têm o cabelo maior, e são ensinadas a manterem eles
muito bonitos sempre, hoje se envergonham, o que afeta também a autoestima delas”
(entrevista em 21 de junho de 2018).
Vale ressaltar que utilizando os dados do Censo de 2010, um relatório produzido
pelo Grupo de Pesquisa Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoE-
MAS, 2015) indica que o rompimento da barragem, representa um episódio de racismo
ambiental, já que 84,5% da população diretamente afetada, os moradores do distrito de
Bento Rodrigues, que foi destruído, é negra.
Em Santa Cruz, mais antigo bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, é onde está
instalada a TKCSA, uma parceria entre a alemã ThyssenKrupp e a Vale S.A. que foi re -
centemente vendida para a empresa Argentina Ternium. Além de violações na lei ambien-
tal, das multas, dos embargos e das denúncias, a empresa está sendo pressionada para ga-
rantir reparações aos moradores e moradoras da região por diversos danos causados pelas
suas atividades, como rachaduras nas casas próximas à linha do trem, interrupção da pes-
ca artesanal, enchente no canal do São Fernando e agravamento dos problemas de saúde
provocados pela “chuva de prata”.
Como em outros casos de poluição, as mulheres de Santa Cruz são as maiores
responsáveis por cuidar das crianças e dos idosos que adoecem por respirar a poeira
tóxica da empresa e pela sobrecarga do trabalho doméstico, igualmente resultante da
poeira. Sendo historicamente encarregadas pela alimentação, enfrentam dificuldades
também para garantir a segurança alimentar das suas famílias neste contexto. Após a
instalação da empresa houve um aumento dos impactos e das vulnerabilidades sociais na
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comunidade, como o uso abusivo de drogas e a violência decorrente das políticas de


repressão; da criminalização da população em situação de empobrecimento; e das redes
de distribuição e consumo de drogas ilícitas e armamentos. Esta situação recai
brutalmente sobre a juventude negra e gera sofrimentos familiares e tensões sociais que
afetam duramente a vida e a saúde mental das mulheres.

Apesar de haver um maior destaque para o impacto da siderúrgica sobre a vida


dos pescadores da região, impedidos de trabalhar por causa da poluição do mar, da
dificuldade de navegar após a instalação da empresa e da construção de uma barragem no
canal de São Francisco, justificada pela crise hídrica no Rio de Janeiro, a perda deste
modo de sustento afeta também a vida das mulheres. Primeiro porque elas precisam
enfrentar as dificuldades de garantir uma renda mínima para o sustento e a segurança e
soberania alimentar da família. Além disso, apesar da invisibilidade do trabalho das
mulheres na pesca, as pescadoras e marisqueiras sofrem danos emocionais pela perda da
atividade e pela degradação do território da Baia de Sepetiba, com o qual também
estabelecem laços afetivos.

Trata-se de uma violência diretamente relacionada com a perda das atividades de


subsistência e de seus territórios. De acordo com Cabnal (2010), os projetos de
desenvolvimento que gera a expropriação dos territórios coletivos, ameaça a relação de
bem-estar que as mulheres nas comunidades têm com a natureza e a promoção da vida.
Ameaça a existência dos espaços que dignificam a existência dessas mulheres.

3.2 Aumentos das violências contra as mulheres: corpos expropriados

A violência inerente aos conflitos ambientais decorrentes da lógica de


desenvolvimento pode também ser associada à violência contra a mulher, em especial
contra aquelas que dependem do ambiente para garantir seu sustento, o das suas famílias
e de sociedades. Vale ressaltar que como o conceito de gênero e de violência, a categoria
violência contra as mulheres é também historicamente determinada, sendo construída ao
longo dos últimos trinta anos no Brasil pelo movimento feminista como expressão de
relações de poder. São todos as ações que utilizando coação ou força, resultam em
sofrimentos físicos, sexuais ou psicológicos com o objetivo de ‘intimidá-las, puni-las,
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humilhá-las, atingi-las na sua integridade física e na sua subjetividade’ (ALEMANY,


2009, p. 271). Além da violência doméstica, assédio sexual, abuso sexual infantil,
violência étnica, violência contra idosas e homossexuais (GROSSI, 1994), são crescentes
as denúncias de mulheres que, em decorrência das suas lutas contra grandes projetos, são
assassinadas e criminalizadas e/ou vivem em situações de ameaça, perigo e violações.

Apesar de homens também morrerem e sofrerem violência em decorrência dos


conflitos ambientais, o relatório sobre a violência no campo produzido pela Comissão
Pastoral da Terra (CPT) já destacava em 2014 uma tendência de aumento da violência
contra as mulheres (e indígenas), em especial por causa de conflitos relacionados à
construção de hidrelétricas.
Podemos citar alguns casos: a Irmã Dorothy Stang, na luta pela reforma agrária
no Pará, foi assassinada aos 73 anos de idade, em fevereiro de 2005; Nilce de Souza
Magalhães, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), em Porto
Velho (RO), lutando em defesa das populações atingidas pelo consórcio Energia
Sustentável do Brasil (ESBR), responsável pela construção da Usina Hidrelétrica (UHE)
de Jirau, no Rio Madeira, foi assassinada em janeiro de 2016; Maria do Espírito Santo foi
assassinada em maio de 2011 por denunciar um esquema de extração ilegal de madeira
na Amazônia; após seu assassinato, sua irmã, Laísa Santos Sampaio, que também luta
pelo direito à terra e pela memória da irmã, começou a ser ameaçada. Esta problemática
afeta mulheres de vários países na América Latina. Um dos casos mais difundidos
recentemente foi o assassinato da liderança indígena e feminista Berta Cáceres, em março
de 2016, no interior de Honduras. Ameaçada desde 2013, entre outras lutas, Berta
liderava protestos, ocupações e mobilizações contra a instalação de uma hidrelétrica.
Vale ressaltar que, com 50 casos, o Brasil foi identificado pela organização
internacional Global Witness (2015) como o país com o maior número de assassinatos de
lideranças em luta pela terra e por seus territórios. A indústria extrativa está relacionada
com o maior número de assassinatos e as mulheres são, cada vez mais, o alvo das
ameaças. Na maioria dos casos de conflito ambiental no Brasil – envolvendo a indústria
de petróleo no Rio de Janeiro, a mineração em Minas Gerais e no Maranhão, o
agronegócio no Acre, Pará, Rondônia e outros estados da Amazônia, hidrelétricas como o
Complexo do Rio Madeira e Belo Monte, para citar alguns – existem mulheres
16

ameaçadas de morte em decorrência de suas lutas (MACHADO, 2013).


Também cabe destacar que as mulheres são as principais vítimas das violências
praticadas contra as comunidades indígenas no mundo, sendo considerada como uma
estratégia de desmoralização da comunidade ou de “limpeza étnica”. No Brasil, esta
situação não é diferente. Só no Mato Grosso do Sul, estado com a segunda maior
população indígena do país, com 72 mil pessoas, entre 2010 e 2014 houve um aumento
de aproximadamente 495% nos casos de violência contra a mulher indígena. A jovem
Jaqueline Kaiowá, por exemplo, foi ameaçada várias vezes devido às disputas territoriais
para a retomada das terras ancestrais de seu povo, no Mato Grosso do Sul. Em
decorrência da sua luta pelos povos indígenas, em março de 2015, a indígena Ceiça
Pitaguary sofreu uma tentativa de homicídio na aldeia Santo Antônio do Pitaguary, em
Maracanaú, no Ceará. A situação de violência nestes casos é agravada já que as leis e
práticas institucionais criadas para enfrentar a violência contra a mulher tratam a mulher
como universal; ou seja, como mulher branca urbana. Sendo assim, as indígenas não se
reconhecem nessas estruturas (ROSA, 2016). Como se reconhecer quando o “Estado
entrega com uma mão aquilo que retirou com a outra”? (SEGATO, 2012).
A exploração sexual, o tráfico de pessoas e as agressões de outras naturezas
contra as mulheres indígenas se acentuam na medida em que elas afirmam a sua
liderança em defesa dos seus povos e territórios. Para as mulheres indígenas, a luta pela
terra é uma luta de enfrentamento da violência contra as mulheres, pois é na terra e nos
seus territórios onde garantem a subsistência e reprodução material e cultural das
comunidades indígenas. Cabnal (2010) relaciona a violência decorrente da expropriação
dos territórios e a destruição dos modos de vida tradicional com a violência contra os
corpos das mulheres: “en el planteaminento de recuperación y defensa histórica de mi
território cuerpo tierra, assumo la recuperación de mi cuerpo expropriado […] y esta
potencia la junto com la defensa de mi territorio tierra [...]”. De acordo com Marcia
Wayna Kambeba, do povo Omaguá Kambemba (2016),

A mulher indígena sofre vários tipos de violência. Primeiro, ela sofre


por ver seu povo sendo afetado, marginalizado, discriminado. Depois,
ela sofre como mulher, e essa violência não é só física, ela é psicológica
e social também. O estupro é presente e é uma forma de desmoralizar a
aldeia. Ano passado tivemos, só em uma aldeia, três casos de violência
17

sexual (apud. ROSA, 2016: 2).

Em decorrência dos conflitos, ocorre também um aumento da violência


doméstica; a instalação de grandes projetos, a expansão da lógica mercantil para os
espaços comunitários não-mercantis, aprofundam e tornam mais perversas e autoritárias
as hierarquias anteriormente existente (SEGATO, 2012). No caso do rompimento da
barragem de Fundão, por exemplo, a defensoria Pública no Espírito Santo vem
anunciando o aumento deste tipo de violência sofrida pelas mulheres que protagonizam a
luta por direitos.

Os homens, crescidos dentro desta cultura machista agressiva,


perderam a sensação de utilidade que traz o trabalho O ócio tomou
conta das comunidades e o álcool e as drogas estão sendo a válvula de
escape para muitos atingidos. E em quem recai essa fúria? Na mulher
que resiste às violências para manter o que restou do lar (2018, p.1).

Um dos aspectos evidentes em relação às empresas extrativistas e aos projetos de


infraestrutura, é o fato do início das obras, em geral, suscitar processos de exploração
sexual de adolescentes e crianças em situação de vulnerabilidade, muitas vezes
incentivado pelas próprias empresas. No caso do complexo de mineração, por exemplo,
no município de Bom Jesus da Selva, no Maranhão, por onde passa a Estrada de Ferro
Carajás (EFC), pertencente à Vale, adolescentes de baixa renda foram sexualmente
exploradas em troca de roupas e sapatos ou por R$ 30-R$ 50. Além da exploração sexual,
também registra-se o aumento do uso abusivo de drogas industrializadas, de gravidezes
de adolescentes indesejadas e de doenças sexualmente transmissíveis. Em Açailândia,
também no Maranhão, apenas no ano de 2012 foram feitas 47 denúncias de abuso e
exploração sexual no Conselho Tutelar do município (CAROS AMIGOS, 2011;
FAUSTINO; FURTADO 2013).

No caso do petróleo, a história se repete. O grande fluxo de trabalhadores


terceirizados que chega para atuar nas obras de instalação e ampliação dos
empreendimentos leva ao crescimento do mercado do sexo. A exploração sexual emerge
e/ou se agrava como “possibilidade” subordinada e marginalizada de inclusão das
mulheres e meninas no entorno da cadeia produtiva do petróleo. No caso da Refinaria de
18

Duque de Caxias, da Petrobras, no Rio de Janeiro, por exemplo, esta realidade levou ao
nascimento de crianças que não conhecem seus pais, chamados de “baianinhos”, os filhos
do petróleo (FAUSTINO; FURTADO, 2013). Da mesma forma nascem os filhos e as
filhas das barragens, os filhos e as filhas do vento (eólicas)...

A exploração sexual é marcada pela impunidade e pelo envolvimento de políticos


e empresários locais. É negligenciada por limitações na estrutura de defesa e proteção das
vítimas, pela profunda relação com a política e as forças policiais locais como também
pela histórica naturalização da problemática. Quando há um “reconhecimento” da
problemática, ela é considerada um problema individual do trabalhador que, portanto,
precisa de formação, como promove a Vale, ou uma patologia a ser tratada, e não um
problema estruturante, de responsabilidade do Estado e das corporações, decorrente da
desigualdade histórica de raça e gênero e das relações de dominação. Mulheres, meninas,
negras e indígenas são discriminadas, estigmatizadas, desamparadas, desumanizadas e
vítimas de morte física e simbólica (FAUSTINO; FURTADO 2013).

Assim, a violência contra as mulheres relacionada aos grandes projetos se dá


como consequência da ideologia de dominação masculina que incide sobre o corpo da
mulher. É resultado da objetificação da mulher cujo objetivo é dominar, explorar e
oprimir e avança a medida que a lógica de desenvolvimento se expande e vai
incorporando novas fronteiras (SEGATO, 2012). Trata-se de um discurso masculino que
“não só fala de ‘fora’ sobre as mulheres, mas sobretudo que se trata de uma fala cuja
condição de possibilidade é o silêncio das mulheres” (CHAUI, 1985, p. 43). Viola o
direito da mulher de ir e vir, de se sentir segura, de ter confiança, de construir relações e
de lutar.

3.3 A luta pelo direito de serem atingidas

Além dos impactos diferenciados e as violências vividas em decorrências destes


impactos, as mulheres enfrentam mais obstáculos na reconstrução dos seus modos de
vida. Muitas mulheres na Bacia do Rio Doce vêm ressaltando o fato de não terem sido
reconhecidas como atingidas em decorrência da falta de título da terra e das ações de
19

grileiros ao longo do Rio Doce, como também da informalidade de seus trabalhos, o que
dificulta o recebimento de qualquer tipo de indenização e/ou reparação. A Samarco
também é acusada de incentivar a discriminação de Gênero nas comunidades. Uma
pescadora, atingida de São Miguel afirmou, “eu sou pescadora, e meu formulário veio
como lavadeira” (CARTA DO RIO DOCE, 2017, p.1). Muitas mulheres estão sendo
cadastradas como lavadeiras, apesar de estarem inseridas na cadeia de pesca e portanto,
denunciam o fato do trabalho delas ser considerado assessório ou complementar ao do
marido. Existem ainda as próprias lavadeiras, barraqueiras, cozinheiras e outras
categorias que têm tido seu trabalho afetado, mas que não são reconhecidas. Outra
atingida argumentou que “a maioria das pessoas cadastradas para receber indenização é
homem, que as mulheres não são ouvidas, quando reconhecida é em um valor menor nas
indenizações” (MAB, 2017, p.1). Vale ressaltar que estamos tratando de mulheres que
não estavam organizadas em processos de luta: a identidade coletiva passa a ser
redefinida a partir de uma mobilização continuada pela garantia de direitos como
atingidas pelo crime ambiental (ALMEIDA, 2004).
Um dos exemplos da desigualdade no tratamento das mulheres atingidas pelo
rompimento da barragem é o cartão com a verba de manutenção que é entregue pela
empresa para cada família (e não por trabalhador/trabalhadora) para que se sustentem até
retomarem suas condições anteriores de trabalho e renda. Na maioria dos casos o titular
do cartão é um homem, sendo a mulher, assim como os filhos e filhas, registradas como
dependentes. A própria Fundação Renova, em evento realizado no Espírito Santo,
demonstrou que 68,51% dos cartões são distribuídos para os homens, e 31,49% para as
mulheres. Assim, “várias mulheres relatam que trabalhavam tanto quanto o marido ou até
mais e acreditam que o cartão deveria ser para quem trabalhava, e não só uma pessoa na
casa”. O efeito desta escolha é amplo: “além da clara injustiça, sabemos o quanto isso é
simbólico e perpetua a relação imposta de dependência da mulher sob o homem, reforça
essa relação, em que o homem decide, o homem que manda, o homem que é o provedor”
(representante do MAB, entrevista em 21 de junho, 2018).
Dois anos após o desastre, atingidos e atingidas do Rio Doce pela barragem de
rejeitos da Samarco, reunidas com organizações, movimentos sociais e pesquisadores em
Seminário de Balanço de 2 anos do rompimento da barragem do Fundão, afirmaram que
20

as políticas de reparação e compensação não têm garantido a responsabilização das


empresas, e que o desastre continua produzindo violações de direitos, a criminalização
das organizações sociais e a intensificação dos conflitos (CARTA DO RIO DOCE, 2017).
Entre as pautas de luta, está a simples demanda de serem consideradas, em especial as
mulheres, como atingidas. A pescadora Regiane Soares expressa a sua indignação pela
impunidade do crime e o “preconceito que a empresa tem em relação às mulheres”: “sou
mulher, sou atingida e a Samarco não vai me calar. A gente cria os filhos hoje para o
capital porque eles não poderão seguir o mesmo modo de vida que os pais tiveram
porque essas mineradoras acabaram com o rio que era nosso sustento” (MAB, 2017, p.1).
No caso da TKCSA, em dezembro de 2016, os pescadores de Santa Cruz deram
um importante passo na garantia de justiça por terem sido impedidos de trabalhar por
causa de uma barragem construída no Canal de São Francisco em 2015. A ação foi
movida contra a Associação de Empresas do Distrito Industrial de Santa Cruz (Aedin), da
qual faz parte a siderúrgica TKCSA, pela Defensoria Pública do Estado e resultou na
determinação por parte do juiz da 15ª Vara da Fazenda Pública do pagamento de pensão
aos pescadores no valor de um salário-mínimo mensal e a realização de perícia na obra
da soleira submersa construída no Canal, para mensurar os danos produzidos a partir da
instalação da barragem. Dos 65 pescadores beneficiados, apenas 3 eram mulheres (PACS,
2016).
Também identificamos casos onde homens, lideranças na luta contra grande
projetos, ameaçados, são inseridos mo Programa de Proteção aos Defensores de Direitos
Humanos, ao mesmo tempo em que suas companheiras, também ameaçadas e também
lideranças, não recebem o mesmo tratamento como a escolta policial, e não contam com
apoio psicológico (FAUSTINO; FURTADO, 2013).
Vale ressaltar que o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (atual
Conselho Nacional de Direitos Humanos) reconheceu em um relatório produzido em
2010, após quatro anos de análise, a necessidade de políticas de reparação que
considerem as especificidades de grupos, famílias e indivíduos, como mulheres, idosos,
crianças e adolescentes. Além disso, é comprovado que, dentre as comunidades afetadas,
a desigualdade de gênero aumenta, “com as mulheres sofrendo uma parcela
desproporcional dos custos sociais e, via de regra, sendo discriminadas na partilha dos
21

benefícios” (CMB, 2000, p. 20).

4. Considerações Finais

No contexto do desenvolvimento capitalista, as históricas condições de injustiças,


permeadas pelo racismo, sexismo e pelas desigualdades geracionais, embora não sejam
desconhecidas da sociedade brasileira, nem tampouco das autoridades públicas e
empresas privadas, são ocultadas, negadas e/ou apropriadas para manutenção destas
estruturas. Este processo ocorre tanto em relação ao conhecimento dominante branco,
masculino, ocidental e heterossexual, quanto aos impactos diferenciados enfrentados
pelas mulheres. Assim, neste artigo buscamos refletir, a partir da leitura sobre conflitos
ambientais e da análise dos efeitos territoriais de projetos específicos de
desenvolvimento, em especial aqueles relacionados à indústria extrativa como o desastre
da Samarco na Bacia do Rio Doce, a siderúrgica TKCSA no Rio de Janeiro, e o projeto
Grande Carajás da Vale no Pará e Maranhão, sobre como a questão de gênero se expressa
neste processo.
Tentamos demonstrar como a existência de conflitos ambientais, ou seja, conflitos
relacionados ao acesso, ao uso e à apropriação material e simbólica do ambiente, gera um
processo de expropriação de territórios e de alteração negativa de modos de vida de
populações negras, tradicionais e indígenas, com implicações diferenciadas para as
mulheres. A sobrecarga de trabalhos domésticos e com os cuidados das famílias, vizinhos
e da comunidade em decorrência do agravamento da saúde por causa dos projetos de
desenvolvimento, a perda de autonomia financeira, a violação e a exploração dos corpos
de mulheres e meninas e a negação das mulheres como sujeitos políticos e de direitos
demonstram como as desigualdades de gênero alimentam e são alimentadas pelo
desenvolvimento capitalista.
A forma como as mulheres, na sua ampla diversidade e desigualdade, percebem e
atuam em relação aos conflitos ambientais e à exploração indevida do ambiente e dos
seus territórios por parte de corporações e do Estado, que se diferencia da visão dos
homens, é resultado de múltiplos processos como: a divisão sexual e racial do trabalho no
capitalismo; as representações sobre a sexualidade das mulheres, fortemente demarcada
por uma cultura misógina em que o abuso e a exploração sexual são expressos na cultura
22

do estupro; a naturalização da violência como instrumento de dominação; e, no não


reconhecimento das mulheres como seres políticos ou sujeitos de direitos, inclusive de
acesso, uso e apropriação do mundo material. Em decorrência destas mesmas relações,
no entanto, o efetivo papel das mulheres na determinação dos problemas relacionados aos
conflitos e na forma de enfrentá-los não é considerado ou visibilizado, inclusive em
muitos processos de resistência.
O papel que as mulheres assumem no manejo dos ecossistemas, da
biodiversidade, do território, sua centralidade na gestão doméstica e a importância do seu
trabalho para o suprimento de alimentos, água e cuidados com a saúde e na luta é negado
pelos atores dominantes. Não se aborda o sofrimento que recai sobre as mulheres quando
ocorre a perda do território, nem as violências contra elas, seus companheiros e
companheiras, filhos e filhas. Também é pouco considerada a ação política das mulheres
na defesa do território e, por isso, as suas necessidades de proteção e segurança são
negligenciadas. Isso afeta o reconhecimento das mulheres como atingidas e a sua
legitimidade nos raros momentos, também para os homens, de reparação.
Por outro lado, os programas de responsabilidade social e ambiental e a própria
lógica da conservação estão baseados na ideia dominante de que o ambiente é
instrumental e deve ser controlado e administrado, como fonte de abastecimento para a
produção capitalista. O mesmo ocorre com as mulheres, que devem ser excluídas e
dominadas, ao mesmo tempo em que a questão de gênero é apropriada, tornando-se
instrumental para a lógica da conservação do ambiente ou do ‘uso eficiente’ dos ‘recursos
naturais’.
Cabe ressaltar que existem conflitos em que as mulheres iniciam, lideram e
organizam as resistências; em outros, elas dividem as responsabilidades com os homens;
podem ainda discordar dos homens sobre como enfrentar determinado conflito; e podem
estar ‘por trás’ das lutas aparentemente lideradas por homens. A participação das
mulheres nas lutas em conflitos ambientais, seja liderando, organizando ou participando
das tomadas de decisão, apesar dos riscos e das ameaças, permite que elas assumam
atividades de organização e tomada de decisão e questionem as relações de gênero dentro
das suas próprias culturas de forma mais coletiva e pública. É uma forma de redefinir sua
posição social dentro da própria comunidade, suas identidades, como também de desafiar
23

as estruturas de dominação na sociedade como um todo.

Para finalizar, é importante considerar que nos casos analisados, apesar de não
haver um processo de luta de auto-organização das mulheres em torno do que poderia ser
caracterizado como de feminismo territorial e/ou comunitário, as mulheres atingidas têm
um protagonismo nas lutas: participam das reuniões ativamente, ocupando os espaços de
fala que historicamente são relegados aos homens, assumem posição de liderança; são
importantes agentes mobilizadores das atingidas e atingidos na luta pelos seus territórios
e busca pela efetivação de seus direitos coordenando grupos de base e organizando e
participando em espaços de formação. Ao mesmo tempo, movimentos como o
Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), contam com um plano nacional e
trabalho específico com as mulheres atingidas. Além disso, em setembro de 2017 no
Maranhão, ocorreu o primeiro encontro de mulheres impactadas por grandes projetos,
reunindo cerca de 60 atingidas por pela mineração e siderurgia, barragens, o agronegócio
e outros grandes projetos. Buscou-se identificar elementos comuns de compreensão da
realidade das atingidas e construir aliança e estratégias de luta. Processo este que nos
interesse acompanhar.
24

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