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CAPÍTULO III

MOÇAMBIQUE CHORA E AS MULHERES JÁ NÃO DORMEM


OS MEGA-PROJECTOS EXTRACTIVISTAS E A VIDA DAS MULHERES
Teresa Cunha e Isabel Casimiro1

In: Agy, Aleia Rachide (coordenação) 2022 Género, Cidadania e Desenvolvimeno em Moçambique. OMR,
Escolar Editora, Maputo, pp. 63-103. ISBN 978-989-670-585-0

Aqui ninguém dorme, só de pensar em abandonar as machambas e as árvores de fruta


para ir a um novo lugar onde vamos queimar com o Sol, porque não há nem sequer
sombras. A nossa situação é muito complicada. Quando os nossos maridos saem para
fora da Ilha, à procura de meios de subsistência, ficamos sempre em pânico. Porque
não sabemos se vão regressar sãos e salvos. (Velasco, 2018)
Introdução
Moçambique vive, no presente, um ciclo de capitalismo financeiro-extractivista baseado em mega-
projectos. Por outras palavras a sua economia está baseada na extracção de recursos minerais,
energéticos e na exploração intensiva dos recursos piscatórios, silvícolas, agrícolas e fundiários que
determina o seu lugar na economia política da divisão internacional do trabalho e da produção. Várias
pesquisas têm colocado em evidência que tem havido uma transferência maciça dos benefícios
gerados pelas actividades extractivas para as corporações internacionais causando a subida da
desigualdade, a emergência de conflitos violentos, a erosão da democracia, a deslocação forçada de
muitas pessoas e o desrespeito sistemático pelas condições de vida, materiais e espirituais, das
populações e o saque dos territórios. Neste panorama, a condição de vida das mulheres2 e das meninas
tem sofrido sérios revezes. O nosso objectivo principal é discutir, através dos dados reunidos, que a
vida da maioria das mulheres em Moçambique não só não tem melhorado nas últimas duas décadas
como, em muitos aspectos, revelam a dimensão dos impactos violentos de uma economia porosa e
baseada na exploração intensiva dos recursos naturais do país.
O nosso lugar de enunciação é o da África austral oriental, mais concretamente na costa do Oceano
Índico que banha Moçambique. É a partir daí que enfrentamos e pensamos os problemas, os temas e
as potenciais alternativas que são tecidos neste texto. As nossas personagens principais são aquelas
que desafiam a hegemonia de um país povoado por homens de farda, de soldados ou de
administradores, com as quais querem disciplinar o pensamento e os corpos das mulheres e
mistificam as enormes dificuldades com que elas se debatem todos os dias.
Em termos metodológicos este trabalho recorre a duas fontes principais de informação. A primeira é
uma revisão da literatura disponível para a caracterização do contexto. Optámos por uma abordagem
abrangente pesquisando tanto os artigos de carácter mais académico quanto relatórios de organizações
da sociedade civil e ainda agências internacionais. A segunda apoia-se numa investigação empírica a
qual se centrou no resgate de narrativas das mulheres sobre si, sobre o país e sobre as condições de

1
Cunha, Teresa e Casimiro, Isabel. ´Moçambique chora e as mulheres já não dormem; os mega-projectos e os seus
impactos na vida das mulheres`. Aleia Rachide Agy (Coordenação), Género, Cidadania e Desenvolvimento.
Observatório do Meio Rural, OMR. Escolar Editora. Páginas, 63-103. ISBN 978-989-670-585- Depósito legal
501 821/22.
2
Como não é objectivo do nosso texto não desenvolvemos a discussão em torno do potencial colonial e heteronormativo
do conceito de ‘mulher’, pensado como um universal. Este assunto tem sido tratado na literatura por autoras como Ifi
Amadiume (1998), Catarina Martins, (2016), Teresa Cunha (2014; 2015), Chandra Talpade Mohanty (1991), Linda Carty
e Chandra Talpade Mohanty (2015), María Lugones (2010), Karina Bidaseca e Vanesa Laba (2011), Sílvia Cusicanquí
(2010), Judith Butler (2004), Oyewùmí Oyèrónké (2005), Casimiro 2014b; 2015), entre muitas outras. No entanto,
assinalamos aqui, não apenas o debate, como a nossa atenção a ele e a nossa partilha das críticas levadas a cabo por estas
e outras feministas.
vida que estão a enfrentar. Estas narrativas de mulheres provêm tanto das entrevistas e conversas
levadas a cabo no âmbito do trabalho de campo como daquelas que estão publicadas em jornais,
boletins ou relatórios sobre os territórios onde ocorrem actividades extractivas de alta intensidade,
nomeadamente em Cabo Delgado. Como nos ensina Donna Haraway (2016: 131), narrar as suas
estórias torna presente o que estava ausente activando conhecimentos e a expressão de emoções e
contextos que lhes são estruturantes. Neste sentido, as narrativas, a nosso ver, são em termos teóricos,
subjectividades em acção, conhecimentos incorporados que extrapolam o nível das representações
sociais já que são racionalidades experienciais (Arias, 2010). Assumimos, pois, que este capítulo
recorre a um processo de co-autoria onde intervêm, não apenas as que escrevem, mas todas aquelas
cujas sabedorias estão presentes e são o alicerce das palavras grafadas, pretas no branco das folhas
de papel. Este dispositivo metodológico fundamenta-se numa das ideias seminais do feminismo: o
que é pessoal, é político. Assim, a nossa metodologia é uma ferramenta de investigação que expressa
um horizonte epistemológico e político: o da emancipação humana em geral e o da emancipação das
mulheres, em especial. Aprendemos, há muito, que a emancipação é plurilógica, pluriversa e pensa-
se e diz-se polifonicamente. E isso é o que nos repetem as muitas mulheres, vivas, sábias, desafiadoras
e que resistem a ser objectos tanto de velhas como de novas ordens que connosco têm feito este
caminho.
Neste capítulo propomo-nos realizar uma análise, a partir de uma abordagem feminista, que se
desdobra da seguinte maneira. Em primeiro lugar temos como objectivo contextualizar e examinar
alguns aspectos da economia política onde se insere Moçambique e as suas escolhas político-
económicas das últimas décadas. Em seguida, apresentamos dados sobre a situação vivida pelas
mulheres no país argumentado sobre a incapacidade deste modelo de desenvolvimento em prover
justiça redistributiva e de género. Terminamos com uma reflexão sobre as lições aprendidas a partir
do trabalho empírico realizado no âmbito do projecto internacional de investigação Territórios em
Conflito (2017 – 2019) nomeadamente na província de Cabo-Delgado.3

1- O monstro à solta: a economia extractivista em Moçambique


Como Zo Randriamaro (2018: 2) afirma, o actual modelo de desenvolvimento global tem vindo a
impor ao continente africano a extracção intensiva e violenta de todo o tipo de recursos: minerais, de
pesca, madeiras, energéticos, trabalho, agricultura, e até de arte. Isto tem significado, nas últimas
décadas, mais guerras, mais empobrecimento das populações e territórios e uma transferência maciça
de riqueza para os países ricos do norte global. Este modelo além de provocar desequilíbrios sociais
extremos tem vindo a gerar a degradação irreparável da biodiversidade, a acentuar a emergência de

3
Territórios em Conflito: acompanhamento de processos e consolidação de narrativas sobre sustentabilidade de
vida, é um projecto executado pelo consórcio Gernika Gogoratuz e Gernikatik Mundura, financiado pela Agência Basca
de Cooperação para o Desenvolvimento (AVCD), que visa promover um processo de pesquisa, formação, acção e
advocacia em relação ao impacto que o modelo hegemónico neoliberal e patriarcal, e seus principais agentes, as empresas
transnacionais, têm nos territórios. Desde 2018 um grupo de investigação internacional constituído por docentes da
Universidade do País Basco (EHU), Grupo de Estudos Africanos (GEA) da Universidade Autónoma de Madrid, Centro
de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, Universidade de Tolima (Colômbia) e o Centro de Estudos
Africanos da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique), realizaram um estudo comparativo de três casos
(Cajamarca / Tolima - Colômbia; Cabo Delgado - Moçambique; e Urdaibai - Euskal Herria), a partir das abordagens de
Desenvolvimento Humano Sustentável (DHS) e Desenvolvimento Humano Local (DHL), estudando quatro eixos
específicos de impacto: acesso à terra, desigualdades de género, sustentabilidade ambiental e identidade cultural. Com o
objectivo de extrair lições fundamentais, colectadas em materiais de alto valor pedagógico e em processo de formação,
além de outras actividades de socialização e advocacia, que nos permitem, desde uma abordagem feminista interseccional
local-global e da diversidade, fortalecer capacidades colectivas, as resistências e alternativas de vida das comunidades
frente a esta acção transnacional. A I Fase decorreu entre 2018-2019 e a II Fase em 2020-2021, com a participação
também da cidade de Maputo. Ver aqui: https://territoriolab.org/proyecto/. As autoras fazem parte do projecto.
catástrofes naturais e humanitárias4 e, com tudo isso, coloca em risco de desaparecimento muitos
modos de vida, conhecimentos e tecnologias que têm mantido a vida de muitas maneiras e nas mais
variadas formas. Podemos então afirmar que estamos perante um outro tipo de colonialismo que
perpetua aquele que, no século XV, iniciou a expropriação com base na divisão ontológica do mundo:
os seres e os não-seres para utilizar os termos de Franz Fanon (2008). Agora, como dantes, podemos
distinguir que, de um lado, estão as novas metrópoles para onde são canalizadas as riquezas e a
acumulação de capital; e, do outro lado, estão as novas-velhas colónias, fornecedoras de corpos
subjugados pelo empobrecimento e pela máxima exploração do seu trabalho. Consideramos, pois,
que a economia contemporânea dominante, baseada no extracção intensiva de recusos naturais e na
financeirização à qual a África austral oriental e, em particular Moçambique, não escapam, são as
faces concretas de um sistema abissal comandado e controlado pela violência e a máxima exploração
que não deixa ninguém, em particular, as mulheres, viverem em paz e com dignidade.
Reflectindo a partir do nosso lugar de enunciação que é Moçambique, que se insere na sub-região da
SADC – Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, propomo-nos analisar algumas das
formas concretas desta economia política marcada pela articulação do hetero-patriarcado, o
colonialismo e o capitalismo contemporâneos.

Desde a secular ocupação colonial de Moçambique, sobretudo na fase levada a cabo pelo regime
ditatorial português do Estado Novo, a exploração e a extracção dos recursos naturais foi a base do
seu modelo económico (Castel-Branco, 2010). Este carácter extractivista da economia tem vindo a
provocar e a alimentar terríveis desigualdades sociais, económicas e políticas que a população negra
do país experienciou tanto no passado como continua a viver no presente.

De acordo com Bidaurratzaga e Colom (2019) a prospecção com vista à exploração do gás natural
começou nos anos 60 ainda durante a ocupação colonial do país. O mesmo se passou com o carvão
que tem sido extraído, dantes de forma artesanal para consumo doméstico e em parte para exportação,
na região do noroeste da província de Tete5. Contudo, foi a partir de 2004 que tudo começou a mudar
drasticamente com a chegada da empresa Brasileira Vale que ganhou a concessão de Moatize e a
SASOL Sul-africana iniciou a extracção de gás em Pande e Temane na província de Inhambane. Em
2008 várias corporações transnacionais mineiras começam a fazer grandes investimentos em Tete.
Em 2010 um outro acontecimento reforçou esta tendência com a estimativa de reservas de gás na
bacia do Rovuma, na província de Cabo Delgado, na ordem de triliões de metros cúbicos. O aumento
súbito e exponencial das actividades extractivas em Moçambique faz parte de um processo global de
expansão do capitalismo extractivista6 na África ao sul do Sahara, particularmente na África oriental.
Na República do Congo, no Uganda, no Quénia ou na Tanzânia as experiências de mineração
intensiva e dos seus impactos nos territórios e suas populações é similar.

4
Lembramo-nos, em particular, do ciclone Idai que afectou de forma tremenda as províncias de Sofala, Manica, Tete e
Zambézia no centro de Moçambique, o Malawi e o Zimbabué em 15 de Março de 2019; e o ciclone Kenneth que afectou
tremendamente a província de Cabo Delgado no norte de Moçambique e o sul da Tanzania em 25 de Abril de 2019. Estes
ciclones foram altamente destrutivos e seguiram-se a um período de chuvas intensas e cheias que já haviam provocado
danos irreparáveis nesses países. Mostram como são as populações mais empobrecidas do mundo que são as que estão
mais vulneráveis a estes problemas sem, contudo, terem sido elas a contribuir para os desequilíbrios e os danos provocados
por um modelo de desenvolvimento baseado no crescimento e na extracção.
5
O carvão de Moatize, localizado na vila sede do referido distrito, começou a ser explorado a partir da 2ª década do
século XX, por uma empresa de origem belga. Em 1978 e, depois de ter passado por donos portugueses e sul-africanos o
estado moçambicano nacionalizou a empresa criando a Empresa Estatal CARBOMOC. Entre outros estudos ver: Macie,
Aniceto E. A. (2015), ‘Mineração de carvão na bacia carbonífera de Moatize, província de Tete – Noroeste de
Moçambique: Uma análise socioambiental’, Dissertação de mestrado, Instituto de Geociências, Universidade de S. Paulo;
Manharage, Mateus João M. F. (2014), ‘Carvão de Moatize (Tete): De Recurso Mineral ao Ambiente’, Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto e Universidade de Aveiro.
6
Adjectivamos o capitalismo de extractivista pois defendemos a ideia de que esta forma contemporânea de capitalismo
se baseia e se alimenta da extracção maciça e intensiva de recursos naturais da mais variada ordem sem critérios de
sustentabilidade ambiental e social. O lucro pela acumulação derivado destas actividades é o seu próprio ADN.
Apesar das promessas de resolução da pobreza e do sub-desenvolvimento que estas riquezas
poderiam trazer a todos estes países, na verdade, não assistimos a uma redução significativa da
pobreza. Pelo contrário, os níveis de desigualdade social e económica são alarmantes.

Os dados do último Censo (2017) levado a cabo em Moçambique revelam que a população total está
estimada em 27.909.798 pessoas das quais 14.561.325 (52%) são mulheres e 13.348.446 (48%) são
homens e oferecem a seguinte imagem do país (INE, 2019):

Quadro 1- Factos sobre Mozambique contemporâneo


Taxa de crescimento da população 2,8%

Taxa de natalidade (por cada 1000) 37.9%

Produto Interno Bruto per capita em USD (2017) 466,18

População abaixo de 25anos de idade 66%

Taxa da população com a cesso a telefones 26,4%


móveis
Taxa da população a viver nas zonas rurais 66%

Taxa de pobreza 46,1%

Taxa de acesso a electricidade 24,2%

Taxa da população com escolaridade primária 46,4%


completa
Fonte: INE, 2017

Em termos da vida económica do país a Trading Economics (2019) refere que:


Industry constitutes 27 percent (sector of Mozambican economy) with mining and quarrying
representing 11 percent as the country has large mineral deposits (marble, bentonite, coal,
gold, bauxite, granite and gemstones) with aluminum being the most important exported
product.7
A análise destes dados, em linha com os do UNDP Moçambique (2021) mostra que a pobreza
continua a ser uma realidade transversal e que os indicadores de bem-estar estão abaixo da média da
região da SADC apesar dos grandes investimentos feitos na mineração realizados nas duas últimas
décadas.
Neste país riquíssimo em culturas, línguas, história, recursos minerais energéticos, fauna, flora,
memórias, conhecimentos, a larga maioria das pessoas é pobre e demasiadas são miseráveis. Ao
mesmo tempo que se observa a construção de cada vez maiores e mais luxuosos condomínios
privados para habitação ou turismo, hotéis sumptuosos na cidade capital, mais pessoas são forçadas
a sair dos seus bairros e vêem destruídas as suas condições de vida. Catadoras e catadores de restos
para comer percorrem as ruas sem que se vislumbrem quaisquer políticas públicas para o bem-estar
e redistribuição das riquezas. Apesar de toda a vitalidade social da economia popular – que em grande
medida pode ser considerada como o último recurso para a sobrevivência diária - com base em
pequenas produções e negócios e onde as associações de mulheres são a maioria, vivem-se tempos
7
A indústria constitui 27% (do sector económico de Moçambique) sendo que, destes, a mineração e a extracção
representam 11% uma vez que o país possui grandes depósitos minerais (mármore, bentonite, carvão, ouro, bauxite,
granito e pedras preciosas). Contudo, o alumínio é o mais importante produto de exportação. Tradução das autoras.
cada vez mais difíceis e as famílias e as comunidades territoriais debatem-se para subsistir num
ambiente político onde a privatização dos recursos públicos fecha o futuro para a maioria das pessoas
do país. Apesar do regime ser, formalmente, democrático o medo subsiste e as diferenças de opinião
e de estilo de vida são marcas de sofrimento e discriminação que continuam a assombrar os dias e a
cidadania no país. Segundo Nuno Castel-Branco (2010: 29),
O modo de acumulação em Moçambique é dominantemente extractivo, e esta característica
foi adquirida historicamente, foi desenvolvida em torno de interesses específicos do
capitalismo internacional e contribuiu, ao longo do tempo, para gerar e consolidar uma
aliança entre o capital nacional e o capital internacional.

A presença de corporações que lideram projectos de extracção em Moçambique mostra bem a


atracção que os recursos do país exercem sobre o capital transnacional. Segundo Bidaurratzaga e
Colom (2019) ao longo dos últimos anos foram identificadas as seguintes que desenvolvem os
chamados mega-projectos no país:

• na área da extracção do carvão em Tete: Anglo American, África do Sul, Eurasian Natural
Resources Corporation do Kazaquistão, POSCO Group da Coreia do Sul, Jindal Steel & Power y
Midwest Africa Ltd. (MAL) da Índia, Nippon Steel & Sumitomo Metal Corporation do Japão,
Talbot Group Investments da Austrália, Ncondezi Coal Mining y Beacon Hill Resources (BHR)
do Reino Unido;
• na área do gás e dos hidrocarbonetos em Cabo Delgado: a Anadarko que possui 26.5% do projecto
na Área 1 com a participação de sócios como, Mitsui E & P Moçambique do Japão com 20%;
ONGC Videsh da Índia, 16%; Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) de Moçambique,
15%; Bharat PetroResources da Índia, 10%; PTT Exploration & Production da Tailândia, 8.5%;
e Oil India 4%. Na área estão a ENI East Africa com uma participação de 35.7%; American
ExxonMobil com 35.7% y China National Petroleum Corp. com 28.6%. A participação nas áreas
restantes é distribuída entre a Korea Gas Corporation (10%), Galp Energia de Portugal (10%) e
ENH de Mozambique (10%).
Ainda podem ser identificadas outras empresas estrangeiras a trabalhar na bacia do Rovuma como a
norueguesa Statoil, a japonesa INPEX y a britânica Tullow Oil (áreas offshore 2 e 5), assim como a
francesa Total e a malaia Petronas (áreas offshore 3 e 6).
A análise de Bidaurratzaga e Colom sobre os mega-projectos8 em Moçambique (Ibid.) permite
identificar algumas das características da realidade sócio-económica do país. Os autores argumentam
que uma economia baseada em mega-projectos extractivistas e de exploração intensiva, limita
severamente, a existência e o desenvolvimento de outras cadeias produtivas com base em economias
de maior proximidade e de média e pequena dimensão criadoras de emprego e rendimento. Assim, a
diversidade económica e as redes produtivas endógenas são drasticamente penalizadas se não,
destruídas.
Por outro lado, o capital financeiro-extractivista realiza actividades muito intensas em termos de
capital, mas não tem capacidade de criação de emprego para a maioria da população onde os seus
projectos se inserem. Uma das razões principais é porque estes negócios requerem mão-de-obra
especializada o que, na maioria das vezes, não é possível satisfazer a nível local e a curto prazo. Neste
aspecto, são as mulheres as mais penalizadas pois são aquelas que menos qualificações apresentam
para o desempenho das funções que estão disponíveis. Com base nos dados publicados pelo
UNCTAD (2012) estes autores afirmam que se estima que, os mega-projectos que foram
desenvolvidos em Moçambique entre 1992 e 2010, representaram apenas 5% do emprego total

8
Os autores referem-se aos seguintes mega-projectos desenvolvidos em Moçambique e que estão intimamente
relacionados com a economia extractiva: exploração do carvão na província de Tete; exploração do gás natural em
Inhambane e Cabo Delgado; exploração dos hidrocarbonetos na bacia do Rovuma em Cabo Delgado e a produção de
alumínio da fábrica Mozal em Maputo.
disponível enquanto acumularam 70% do capital gerado. O relatório publicado por Feijó, Souto e
Maquenzi em Fevereiro de 2020 mostra que esta tendência se mantém, ou seja, que a situação
económica da população de Cabo Delgado, apesar de todos os investimentos realizados nas atividades
extractivas relativas aos hidrocarbonetos, rubis e outras, não alteraram estruturalmente a situação de
pobreza da população da província. No que se refere à pobreza multidimensional 9 a taxa evoluiu de
83% para 64% entre 2008 e 2014 (Feijó, Souto e Maquenzi, 2020: 32) muito embora continue a
mostrar o empobrecimento maciço da população. Já no que se refere à taxa de pobreza de consumo
esta subiu de 39% em 2008 para 44.8% em 2014 (Ibid. : 31).
Outras das consequências apontadas é o sobre-endividamento do país já que este tipo de modelo de
desenvolvimento económico obriga à requalificação ou à construção permanente de infra-estruturas
(estradas, caminhos de ferro, portos, aeroportos) que estão ao serviço dessas mesmas empresas e da
sua produção, mas que pouco beneficiam os territórios e as suas populações e a participação estatal
nessas empresas. Segundo o Banco Mundial (WB, 2017) o serviço da dívida de Moçambique
aumentou de 0,34% do PIB em 2007 para 4,54% em 2016 e a dívida bruta cresceu de 37,5% do PIB
em 2011 para 120%, cinco anos depois. Bidaurratzaga e Colom (2019) e Mosca e Selemane (2012)
apontam ainda que esta situação se agrava com a falta de transparência na prestação de contas sobre
estes gastos governamentais.
Outro risco causado pela injecção maciça de divisas estrangeiras na economia, tem como efeito aquilo
a que economistas chamam de ‘doença holandesa’ e que se refere à valorização excessiva ou
desregulada da moeda nacional prejudicando a competitividade das empresas nacionais que têm uma
produção orientada para a exportação (Bidaurratzaga; Colom, 2019). A ‘doença holandesa’ é mais
um factor que contribui para a destruição e/ou enfraquecimento do tecido produtivo nacional.
Por outro lado, os incentivos fiscais atribuídos a estas empresas e corporações transnacionais, a
operarem no país, mostram que os benefícios esperados, ou seja, os investimentos directos na
economia e na sociedade moçambicanas, não estão a acontecer. Antes pelo contrário; o que se tem
verificado é uma desarticulação entre a presença maciça de capital estrangeiro e os recursos
financeiros do estado para políticas públicas com impacto positivo na vida das pessoas e dos seus
territórios (Cruz e Silva, Mendes de Araújo, Neves de Souto, 2015: 195). Neste sentido, é possível
compreender como é que a riqueza produzida no país, e que deveria constituir a base para aumentar
uma justa redistribuição entre todos e todas as moçambicanas, se esvai deixando o país e as pessoas
à mercê do seu progressivo empobrecimento e dos conflitos que são gerados e alimentados por todo
o tipo de escassez e dos sentimentos de abandono e injustiça.
Ainda que o sector extractivo da economia moçambicana seja responsável por apenas 4% do PIB,
este cresceu 11% em 2016 e está a ser considerado o principal motor do crescimento económico do
país (AfDB/OCDE/PNUD, 2017; Bidaurratzaga; Colom, 2019). Contudo, o economista
moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco há uma década que demonstrava que, no período entre
2003 e 2008, o PIB do país cresceu cerca de 55%, mas ‘a percentagem da população vivendo abaixo
da linha de pobreza diminuiu apenas 7% ou menos tendo aumentado nas zonas urbanas e em algumas
zonas rurais’ (2010: 21).
Ainda que o crescimento económico tenha desacelerado a partir de 2014 e 2016 devido à conjuntura
da queda dos preços das commodities e também pelo escândalo da dívida ilegal10 (Langa; Nkonjera,
2018: 238) ele ainda é considerado notável e acima dos países de alto rendimento. Apesar do
crescimento económico ter alcançado 7,2% na primeira metade de 2014, segundo os dados do Banco
Mundial (WB, 2014), em 2015, 46% das e dos moçambicanas/os eram pobres, do ponto de vista do

9
Utilizando-se os seguintes indicadores: pelo menos uma pessoa da família tem a escolaridade primária concluída; acesso
a água potável; acesso a saneamento; cobertura da casa com materiais convencionais; acesso a electricidade; possui bens
duráveis.
10
Sobre este assunto ver, entre outros, Deloitte, 2016, e Mosca e Aiuba, 2017.
consumo, o que equivalia a, pelo menos, 12 milhões de pessoas. Também o PNUD considera que
Moçambique continua a ser um dos países mais pobres do mundo. Segundo este anuário, em 2020 o
país estava na posição 181 dos 189 países analisados no que se refere ao Índice de Desenvolvimento
Humano que era de 0,456 (UNDP, 2020: 243) sendo estimado por esta agência que 46.1% da sua
população vive abaixo da sua linha de pobreza e que só 24.2% da população tem acesso a
electricidade11. De facto, hoje em dia, as/os moçambicanas/os têm uma percepção aguda de que
vivem num país muito rico em recursos naturais apesar da sua miséria concreta e quotidiana.
Segundo a mesma fonte, o sector informal da economia cresceu e as políticas públicas de educação,
saúde e segurança social têm sofrido cortes orçamentais severos (WB, 2014: 2 - 4). Esta
desarticulação entre crescimento económico e melhoria das condições de vida, é entre outras, uma
das razões a ter em consideração para compreender a turbulência social e até a violência que se vive
no país, em particular nas províncias do Norte, onde os índices de pobreza são ainda mais acentuados
(Brito et al, 2017; Weimer & Carrilho, 2017). Vários cientistas sociais em Moçambique têm vindo a
discutir estes assuntos e têm trazido para a discussão evidências de que o país atravessa um período
de capitalismo neo-liberal extractivista com muitos impactos na economia, na vida social e política
(Cruz e Silva, Mendes de Araújo, Neves de Souto, 2015; Brito et al, 2017; Osório; Silva, 2018; 2017).
Para além disso, como demonstra o relatório Africa Sustainable Development Report: Towards a
transformed and resilient continent (African Union et al, 2018), Moçambique continua na cauda dos
países africanos praticamente em todos os indicadores de bem-estar, redução do risco de pobreza e
insustentabilidade ambiental e social.12

2- Moçambique chora e as mulheres já não dormem


As pesquisas realizadas nos últimos dez anos por associações diversas – Women and Law in Southern
Africa Research and Education Trust, Moçambique (WLSA Moçambique), Centro Terra Viva
(CTV), Centro de Integridade Pública (CIP), Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE),
SEKELEKANI – Comunicação para o Desenvolvimento - KUWUKA JDA, Justiça Ambiental (JA),
Cruzeiro do Sul – e as actividades de monitoria conduzidas pela Iniciativa de Transparência na
Indústria Extractiva em Moçambique (ITIEM) e pela Coligação Cívica sobre Indústria Extractiva13,
apontam que o modelo baseado em mega-projectos e o extrativismo intensivo seguido por
Moçambique tem provocado a degradação das condições de vida nas regiões de exploração. Todos
os dados que apresentamos demonstram a desarticulação fundamental entre as promessas anunciadas
de desenvolvimento e justiça económica para todas/os e a realidade em que vivem, especialmente as
mulheres e as raparigas, no país.
A deterioração das condições de vida no que se refere, por exemplo, à habitação, trabalho e bem-
estar, tem envolvido o afastamento dos seus meios de actividades e sustento, a deslocação forçada e

11
Fonte: https://www.mz.undp.org/content/mozambique/en/home/countryinfo/. A mesma fonte refere ainda que
apesar de se ter verificado uma redução da taxa de pobreza o número de pessoas pobres permanece idêntico desde o início
deste século. Consultado em 3 de Junho de 2021.
12
Poderá haver relatórios ou estudos publicados mais recentemente. Porém os dados aqui apresentados não estão tão
desactualizados pois a situação do país é muito próxima desta. Além disso, se se verificarem as fontes utilizadas por esses
estudos elas são referentes a este período ou mesmo anteriores. Não existem estudos longitudinais que estejam
fundamentados em novas recolhas de dados suficientemente aprofundados e extensos. O que se quer mostrar nesta
contextualização fica evidenciado através deste conjunto de dados: Moçambique é rico e miserável ao mesmo tempo e
não tem havido lugar a políticas estatais e internacionais de alteração da rota do empobrecimento da população e da
dependência económica e, portanto, do seu lugar na divisão internacional do trabalho e da riqueza.
13
A Coligação Cívica sobre Indústria Extractiva (CCIE) realizou, de 8 a 12 de Julho 2018, uma missão de monitoria às
actividades extractivas de rubi nas minas de Namanhumbir, no distrito de Montepuez, em Cabo Delgado. A CCIE é uma
plataforma de coordenação de estratégias e de actividades, fundada e integrada pelas organizações Centro de Integridade
Pública (CIP), Centro Terra Viva – Advocacia Ambiental (CTV); Conselho Cristão de Moçambique (CCM), KUWUKA
– JDA Desenvolvimento e Advocacia Ambiental e SEKELEKANI- Comunicação para o Desenvolvimento. Informação
prestada pela página da Coligação, Maputo, 06 de Julho.
o reassentamento com atribuição de novas terras não férteis e afastadas do acesso à água, mercados,
poluição do solo, do ar, da água, aumento da violência de género, abandono da escola por parte das
meninas, prostituição, doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente o HIV/SIDA. Acresce
que a externalização dos custos sociais se transforma numa responsabilidade cada vez mais pesada
para os serviços públicos14 debilitando, ainda mais, as condições que o Estado tem para garantir a
protecção e uma justa redistribuição da riqueza e do bem-estar. Todos estes factores permitem-nos
argumentar que isto configura um novo tipo de colonialismo que, não estando baseado na ocupação
política, opera através da imposição de relações económicas, culturais e também políticas de
subjugação e de exploração protagonizadas por elites internacionais – com a cumplicidade activa das
nacionais - através das suas empresas e corporações transnacionais.
Estas pesquisas e as evidências consagradas nelas fazem notar que, de facto, tem havido uma
transferência maciça dos benefícios gerados pelas actividades extractivas para as corporações
internacionais gerando a subida da desigualdade, a emergência de conflitos violentos, a erosão da
democracia, a deslocação forçada de muitas pessoas e o desrespeito sistemático pelas condições de
vida materiais e espirituais das populações e a espoliação dos territórios (Wise, 2018). Neste
panorama, a condição de vida das mulheres e das meninas é de grande vulnerabilidade.
Acumulando várias situações e constrangimentos ao exercício da sua liberdade e da realização dos
seus desejos pela via de um senso comum culturalista, marcadamente machista e sexista, as mulheres
e as meninas moçambicanas estão a enfrentar muitas violências. Não sendo totalmente novas, elas
estão a adquirir novas facetas e contornos. Neste trabalho queremos dar atenção especial a alguns dos
problemas suscitados pela presente situação económica prevalente do capital extractivo e os conflitos
que estão a ser gerados e reforçados no seu quadro e que desenvolvemos, ainda que sucintamente, a
seguir.
2.1- A violência contra as mulheres e raparigas
Apesar dos notáveis avanços alcançados pelas mulheres em Moçambique, como a sua representação
política ao mais alto nível (41,2% de mulheres parlamentares)15, a percepção mais comum é que a
violência contra as mulheres e as meninas é uma realidade transversal e trágica, aliás, como o é na
maioria dos países do mundo. Numa obra sobre a avaliação da implementação da Lei contra a
Violência Doméstica no período entre 2009 e 2015, podemos ler, com base nos dados do INE –
Instituto Nacional de Estatística, que 24,9% das mulheres entre os 15 e os 49 anos afirmavam já ter
sofrido violência física. Na mesma faixa de idade, 37,2% delas denunciavam que já tinham sido
vítimas de violência física e sexual (Osório; Silva, 2016: 154). Na mesma obra, as autoras, mostram
que esta violência física e sexual é exercida por familiares directos, especialmente os maridos (70%),
no caso das mulheres se encontrarem numa relação marital (Ibid.: 152). Esta situação está bastante
bem estudada em Moçambique e os movimentos feministas e de mulheres têm estado muito atentas
e activas na luta pela sua erradicação. Um dos argumentos principais para justificar este estado de
coisas é a ideia de que nas culturas africanas as mulheres são naturalizadas como inferiores e educadas
para serem submissas (Osório; Silva, 2016; 2017; 2018; Casimiro, 2014b). Esta condição cultural,
muitas vezes pensada como impenetrável e desejada como imutável pelos homens, tem sido invocada
para explicar vários fenómenos de violência persistentes e que demonstram a subalternidade existente
e construída das mulheres moçambicanas.
2.2- Educação

14
Ver: h t t p : / / w o m i n . o r g . z a / w h o - w e - a r e / w h a t - i s - w o m i n . h t m l
15
“Mulheres ao poder nos PALOP”. In: ttps://www.dw.com/pt-002/mulheres-ao-poder-nos-palop/a-52677550,
acesso a 28/05/2021/. Moçambique é o país com maior percentagem, feminina entre Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau
e São Tomé e Príncipe.
Segundo os dados obtidos apenas 1,4% das mulheres tem escolaridade de nível secundário e em meio
rural 71,6% são analfabetas. Em contraposição os homens com o ensino secundário completo são
6,2% e constituem apenas 39,1% das pessoas analfabetas que vivem no campo (Osório; Silva, 2018:
177). Os dados estatísticos disponíveis mostram que as raparigas são a maioria no início da vida
escolar, ou seja, nos primeiros anos da escola primária. No entanto, na transição entre a escola
primária e a escola secundária a taxa de frequência desce. Segundo os dados do UNDP publicados
no relatório referido em cima, apenas 14% da população feminina em Moçambique completou uma
parte do ensino secundário (UNDP, 2020: 363). Esta evidência mostra que um número muito
significativo de raparigas com menos de 18 anos abandona o sistema escolar e de formação o que
claramente contribui para que o Índice de Desigualdade de Género seja 0,523 posicionando o país, a
este respeito, no lugar 181 em 189 países analisados16. As causas apontadas são complexas e
múltiplas, mas vários estudos publicados ressaltam, entre outras: a necessidade de trabalharem na
agricultura ou comércio informal para apoiar o sustento das suas famílias; os casamentos forçados
e/ou precoces; gravidezes e abandono por parte dos companheiros. Percebe-se também, a partir dos
dados do PNUD (2015), que as mulheres menos escolarizadas têm o dobro de filhas e filhos e
engravidam muito mais cedo o que pode ajudar a explicar o abandono escolar. Na realidade, Osório
e Silva (2018: 182) avançam que, segundo várias fontes, se pode estimar que 10% das meninas
moçambicanas têm a primeira gravidez, seguida de um nascimento de uma criança que ficará a seu
cargo, com apenas 15 anos de idade.
2.3- Casamentos Precoces/Casamentos forçados
Também os casamentos em idade precoce que podemos considerar, em muitos casos de uniões
forçadas, são mais uma das razões identificadas na literatura feminista produzida no país, para
explicar a extraordinária violência e vulnerabilidade vivida pelas meninas em Moçambique. Segundo
a Estratégia Nacional de Prevenção e Combate aos Casamentos Prematuros em Moçambique (2016
– 2019) citada por Osório e Silva (2018: 184), em 2015, 14% das meninas entre os 20 e os 24 anos
tinha casado antes dos 15 anos de idade e 48% casaram antes dos 18 anos. Isto mostra que
Moçambique é um dos 10 países do mundo onde a taxa de ocorrência desta realidade é mais alta.
Embora este seja um assunto de uma enorme complexidade, estes dados mostram que estas meninas
estão imersas numa atmosfera cultural e identitária que facilita, ou até promove, um certo controlo
sobre os seus corpos e os seus desejos a que muitas não podem, outras não quererão, escapar.
2.4- Acesso e uso da terra
O acesso à terra e ao usufruto dos rendimentos e dos produtos da terra também é um campo onde se
manifestam profundas desigualdades entre mulheres e homens. Segundo o Perfil de Género publicado
pelo Ministério do Género, Criança e Acção Social (MGCAS, 2016), em 2015 apenas 25% delas
tinham o título que garante o direito de uso e aproveitamento da terra – DUAT. Mostra ainda que
59% do trabalho agrícola não qualificado é realizado pelas mulheres. Isto significa que 88% do
trabalho desenvolvido pelas mulheres em Moçambique é agrícola e sem qualquer qualificação
escolar. Isto revela que o poder para tomar decisões no âmbito das comunidades familiares e seus
territórios tende a ser diminuto. Já o estudo publicado pelo Fórum Mulher Direitos das Mulheres à
Terra no Contexto da Pluralidade de Direitos: o Caso de Moçambique refere que segundo o Cadastro
Nacional de Terras até 2015 as mulheres moçambicanas eram detentoras de apenas 20% de títulos,
contrariamente aos homens que detêm 80% de títulos de terra. Cenário similar consta-se em relação
ao número de funcionários envolvidos na administração fundiária, onde 25,8% são mulheres e 74,2%
são homens (2018: 6). Embora os números não sejam coincidentes os dados mostram que há fortes
evidências de uma desigualdade de género muito acentuada a este respeito.

16
Interessante notar como o Índice de Desenvolvimento Humano e o Índice Ajustado ao Género colocam Moçambique
na mesma posição em termos globais. A correlação entre os dois fica assim claramente demonstrada.
A Lei de Terras, aprovada a 19 de Outubro de 1997, estipula que a terra pertence ao Estado que a
distribuiu a quem nela trabalha, estabelecendo que os direitos de uso podem ser por ocupação das
pessoas ou comunidades locais de acordo com as normas e as práticas costumeiras. A Lei assegura
vantagens para o sector familiar, particularmente para as mulheres que, como cidadãs, têm direitos
para usar a terra como um recurso. Todavia muitas destas normas discriminam as mulheres que não
são consideradas chefes do agregado familiar, mesmo que o sejam na prática. Outras das razões que
levam a que muitas mulheres não beneficiem das garantias estabelecidas pela Lei de Terras são o
desconhecimento por parte de muitas dos seus direitos, assim como práticas administrativas e
judiciais que estão ainda longe de incorporar as normas e as dinâmicas que esta Lei procura encorajar.
Um outro grande constrangimento está relacionado com a existência dum mercado informal de terras,
envolvendo pessoas em posições de poder a todos os níveis, entre eles os líderes comunitários. Assim,
a pobreza de muitas/os camponesas/es que têm direitos sobre pequenas parcelas de terra,
transaccionam-nas perdendo o único recurso de que dispõem (Casimiro, 2014 a e b; 2018a e b).

O Programa Terra Segura - uma iniciativa do Governo, concretizada através do Ministério da Terra,
e Segurança Alimentar e com o apoio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável (FNDS)
– prevê a delimitação de terras e registo no Sistema de Informação e Gestão de Terras (SIGIT) (Jornal
Notícias, 2016; Governo de Moçambique e FNDS, 2016) e a emissão de milhões de títulos do Direito
de Uso e Aproveitamento da Terra (DUATs), entre outras iniciativas, a serem entregues de forma
maciça até o final desse ano. Apesar de todas essas medidas em curso e a preocupação com a emissão
de DUATs em nome das mulheres, que são as principais trabalhadoras da terra, muitas continuam a
queixar-se de discriminação na atribuição de terras17.

2.5- Direitos sexuais e reprodutivos e HIV/SIDA

Para além dos problemas relacionados com o acesso à terra, as diversas pesquisas realizadas em
Moçambique dão conta de que os direitos sexuais e reprodutivos são uma outra área onde ocorrem
muitas violações dos direitos humanos das mulheres (Osório; Silva, 2018). Em Moçambique a
infecção pelo HIV/SIDA atinge 3 vezes mais mulheres do que homens na sua idade reprodutiva
(MGCAS, Perfil 2016). No que respeita à sero prevalência no país dados divulgados em Março de
201718 revelam que a prevalência de HIV aumentou de 11,5% em 2009 para 13,2 em 2015. Isto
significa que pelo menos 13,2% dos homens e mulheres entre os 15 e os 49 anos de idade são
seropositivas/os (IMASIDA, 2017). Porém, é de notar que a prevalência de infecção por HIV
estimada em 2015 é maior nas mulheres (15,4%) em comparação com os homens (10,1%). Em ambos
sexos o número de pessoas doentes ou vivendo com o HIV é maior na área urbana (20,5% para as
mulheres e 12,3% para os homens) do que na área rural (12,6% para as mulheres e 8,6% para os
homens). Nas cidades, que incluem as suas periferias empobrecidas e vulneráveis, entre 2009 e 2015,
a prevalência para homens e mulheres aumentou de 15,9% em 2009 para 16,8%. Alarmante é também
o facto de 8,1% das/os jovens residentes nas zonas urbanas fazerem parte das estatísticas de pessoas
infectadas. Nas áreas rurais a situação parece ser um pouco menos catastrófica, mas ainda assim, os
estudos revelam que se passou de 9,2% em 2009 para 11,0% em 2015 de população afectada
(IMASIDA, 2015: 8) e entre as/os jovens elas/es são já 6,1% (IMASIDA, 2017). Como se percebe
pelos dados, em todos os casos, são as mulheres que mais riscos de saúde correm no que respeita a
esta doença com todas as consequências que ela acarreta para elas e suas famílias e comunidades.

17
De acordo com dados processados pelo SiGIT, até Março de 2020 havia 1.375.586 DUAT’s individuais, dos quais 56%
em nome de mulheres; 826 comunidades delimitadas. É necessário, entretanto, considerar a diferença entre RDUAT
(regularização) e DUAT (autorização). Dados do Programa Terra Segura referentes a Março de 2021 (ainda não
publicados) dão conta de 51,94% de homens, 45,45% de mulheres e 2,61% de registo em regime de co-titularidade do
total de parcelas registadas.
18
O IMASIDA é um inquérito conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde e pelo Instituto Nacional de Estatística de
Moçambique.
A este estado de coisas não é indiferente que no contexto de forte feminização da pobreza, como
aquele que está a ocorrer em Moçambique, muitas mulheres e meninas recorram à prostituição como
forma de sobrevivência. Empurradas pelas condições de vida, elas prostituem-se nas zonas mineiras
e onde há grande concentração de camionistas que circulam com matérias-primas ou manufacturadas
aumentando, exponencialmente, o risco de gravidezes indesejadas, de violência sexualmente
motivada e à contracção de doenças sexualmente transmissíveis, em especial o HIV/SIDA. Este
conjunto de factores dão conta de um problema de complexa e enorme dimensão que as
moçambicanas estão a enfrentar e para o qual as actividades extractivas e conexas têm, certamente
muito contribuído.
2.6- Perdemos tudo, até a nossa vida
Em Moçambique a experiência da deslocação forçada é infelizmente recorrente. Sob o poder colonial
português as populações foram sendo empurradas e expulsas dos seus locais de vida e colocadas em
aldeamentos construídos para o efeito para permitir a exploração agrícola dos colonos e também a
mobilidade das e dos nativos que eram considerados necessárias/os ao regime económico colonial.
Sabemos que isso teve impactos fortes nas estruturas da sociedade e reduziu à pobreza a maioria da
população (Cunha, 2014). As guerras, tanto a de libertação quanto a dos 16 anos, que se seguiram à
independência, e os anos de conflito político-militar desta década, no centro do país, foram
responsáveis por enormes fluxos migratórios de pessoas em fuga ou obrigadas a abandonar as suas
machambas, os seus rios, os cemitérios, as casas, as suas árvores, os seus ancestrais, com todos os
traumas e perdas que isso implica (Cunha, 2014; ASF, 2019; Casimiro, 2008; Nordstrom, 1992;
Alexander, 1994; Chingono, 1994; Muianga, 1995).
No contexto actual do recrudescimento das actividades extractivas, podemos observar que estas têm
implicado sempre o despojo de territórios e a deslocação de enormes faixas populacionais. Este
fenómeno, que se tem vindo a chamar de reassentamento, está regulado por um aparato jurídico do
qual se destacam a Lei de Ordenamento do Território, Lei nº 19/2007 e o Decreto nº 13/2012 mas
que a maior parte das explorações não respeita nem aplica. Os conteúdos destes diplomas, a sua
aplicação, limites e lacunas têm sido estudados aprofundadamente em vários trabalhos publicados
dos quais destacamos os de João Carlos Trindade, Lucinda Cruz e André José, (2015) e Conceição
Osório e Teresa Cruz e Silva (2017; 2018). Para a nossa análise, importa-nos realçar a importância
política do uso e naturalização da expressão ‘reassentamento’ em detrimento de ‘deslocações
forçadas’ que tem vindo a ser feito na sociedade. Em primeiro lugar o reassentamento induz a pensar
que se trata de uma busca bem-sucedida de novos locais de vida para as populações que foram
expulsas e/ou indemnizadas parcamente pelos seus bens e terras. Ao contrário, através dos sucessivos
relatórios e estudos efectuados nos últimos anos (Sekelekani, 2015; Tankar et al, 2018; CCIE, 2018
a e b; 2019; WLSA Moçambique, 2018), isto não parece confirmar-se. Por outro lado, a palavra
reassentamento esconde o carácter extremamente violento e coercivo inscrito nesta experiência de ter
que, compulsoriamente abandonar o seu território, vizinhança e modos de vida (Cruz e Silva, Mendes
de Araújo, Neves de Souto, 2015) ocultando a economia política que está no seu centro. Por último
corre o risco de despolitizar, no âmbito dos debates públicos tanto a nível local, quanto regional ou
nacional, o que afinal aconteceu e está a acontecer nas zonas de alto impacto das economias com base
na extracção maciça, nomeadamente em Inhambane, Zambézia, Tete, Nampula e Cabo Delgado.
Neste sentido, nós propomos recuperar e usar o termo ‘deslocações forçadas’ ao invés de
reassentamentos para dar conta destes problemas e fornecer uma indicação analítica do alcance das
tragédias, ao nível político, económico e cultural que elas suscitam. Não existem estudos sistemáticos
e completos sobre esta questão pelas dificuldades de acesso aos locais e aos dados, mas as várias
fontes, jornalísticas e académicas, indicam que várias centenas de milhar de pessoas têm sido
afectadas por deslocações e reassentamentos forçados no país. A maioria destas pessoas são mulheres
e raparigas.
Com as deslocações forçadas vem a destruição dos modos de vida das pessoas e, portanto, do acesso
a recursos vitais e de garantia da dignidade. O estudo de Teresa Cruz e Silva, Manuel Araújo e Amélia
Neves de Souto (2015) Comunidades costeiras: perspectivas e realidades é muito eloquente a este
respeito. As e os autores dos vários capítulos analisam e demonstram como as populações estão a ser
afectadas e como os seus modos de vida atacados ou mesmo destruídos. Seja isso na orla marítima,
ribeirinha ou no interior, a análise apoiada tanto na observação cuidadosa do terreno, diplomas legais,
contexto histórico e cultural, quanto nas narrativas próprias das pessoas que são o alvo deste
fenómeno, revela e comprova o carácter destrutivo destas dinâmicas. Outros estudos, como os de
Conceição Osório e Teresa Cruz e Silva (2017, 2018), percorrem essas mesmas realidades com um
enfoque deliberadamente feminista mostrando o quanto as mulheres, em especial, são atingidas. Elas
perdem as suas machambas, os campos onde colhem as plantas com que fazem medicamentos, elas
perdem as suas casas e as suas redes de apoio e vizinhança, elas perdem a sua autoridade construída
e legitimada nas suas comunidades através dos seus conhecimentos ou estatuto construídos à custa
da sua idade, da sua posição e função nas famílias. Desenraizadas e despossuídas de muitos dos seus
recursos materiais e simbólicos elas sentem, particularmente, o peso da perda da sua dignidade e dos
seus modos de se representarem enquanto mulheres. Afastadas dos seus territórios e das tecnologias
que dominam para produzir alimentos ou resolver conflitos, elas ficam numa posição de extrema
vulnerabilidade. Mesmo em sociedades de tradição matrilinear, como as sociedades Emakua do Norte
do país, a desestruturação tem atingido drasticamente o poder das mulheres. Cada vez mais elas estão
sub-representadas ou mesmo ausentes da tomada de decisão no que respeita à expropriação da terra
e das condições de indemnização (Osório; Silva, 2018: 227). Para gerar algum rendimento, elas são
empurradas para actividades informais arriscadas como a mineração artesanal que substitui a
produção agrícola que costumava ser a sua forma de organizar a sua vida e a vida da família. A
dificuldade de acesso a água limpa ou potável ou a terras aráveis por efeito das desapropriações e
deslocação dos seus territórios de origem para outros com condições mais severas também contribui
para o empobrecimento e para a degradação da sua posição no seio das suas comunidades familiares.
Associado a isto está o aumento dos riscos de ataques de carácter sexual por terem de percorrer
caminhos afastados das suas habitações e que mal conhecem.
Osório e Silva (2018: 230) trazem para o debate uma outra questão também muito sensível para a
vida das mulheres e das meninas no norte do país e que diz respeito à radicalização étnico-religiosa.
A incidência de pais que proíbem as meninas de frequentarem as escolas públicas, a obrigação de
passarem por ritos de iniciação, assim como os casamentos de crianças e adolescentes parece ter
aumentado. Ora, estes factores parecem ter um impacto directo na sua formação enquanto cidadãs
assim como nas suas subjectividades e na forma de pensar o seu presente e futuro. É significativa a
análise que reitera que:
[A] vigilância das lideranças religiosas (leia-se masculinas) sobre os discursos sobre direitos
mostra à vez um elemento de auto-vigilância tanto mais forte quanto os contextos sociais são
mais complexos e inexplicáveis como se vive hoje em Cabo Delgado’ (Ibid.: 241).
Este elemento cultural-religioso apresenta-se como uma das facetas, por um lado, da desestruturação
provocada pela recomposição económica e os impactos associados a ela e; por outro, como estratégia
de enfrentamento, resistência e preservação de uma certa ideia de identidade que tem, no homem
como medida de todas as coisas, a sua pedra angular.

3- Não é esta terra nossa? Não somos nós moçambicanas, senhoras da nossa própria terra?
Queremos notar que neste contexto se torna também muito visível a contradição capital-natureza
assim como os efeitos nefastos, tanto para a vida humana como para a vida não-humana. A extracção
de minerais é normalmente acompanhada de conflitos, roubo de terra e água e destruição ambiental
o que contribui para mudanças climáticas descontroladas com impactos significativos para as suas
populações de baixos rendimentos. Nas zonas de extracção de recursos há, cada vez mais, problemas
de saúde, insegurança alimentar, desvio do abastecimento de água para as necessidades da indústria,
poluição dos rios, das terras e do ar, secas prolongadas, cheias intempestivas, perda de biodiversidade
e também a destruição de plantas e animais utilizados no fabrico de medicamentos de que muitas
mulheres são responsáveis. São múltiplos os estudos e os alertas produzidos em Moçambique, por
activistas e cientistas de várias disciplinas nacionais e estrangeiros sobre este assunto (Wise, 2018,
Silva; Araújo; Souto, 2015).
Os impactos recaem desproporcionalmente sobre as mulheres camponesas responsáveis por 60% a
80% da produção de alimentos na África ao sul do Sahara a quem competem também as actividades
quotidianas da economia do cuidado, da casa, família e comunidade. O trabalho diário das
camponesas acontece em solos, fontes de água e ar cada vez mais poluídos tendo isso muitos efeitos
negativos na sua saúde e na saúde das crianças que estão a seu cargo. As mulheres, tanto as
camponesas como as operárias são assim, as que carregam os principais custos e fardo deste modelo
de desenvolvimento extractivista na medida em que são as principais produtoras e fornecedoras de
comida, são as que buscam e carregam a água e colectam material combustível; são as cuidadoras
dos mineiros e mineiras e de trabalhadoras/es que operam nas indústrias relacionadas, cabendo-lhes
de acordo com a divisão de trabalho, cuidar dos membros doentes da família e comunidade. Em
condições de vida precárias, com todos estes trabalhos que desempenham diária e ininterruptamente,
as mulheres estão a subsidiar as empresas multinacionais e a libertar o Estado das suas obrigações de
cuidar das/dos suas/seus cidadãs/ãos. Ora, o capitalismo extractivista contemporâneo sabe o quanto
todo este panorama de trabalho não pago e de vulnerabilidade das mulheres, é uma das condições da
sua capacidade de acumulação e concentração de riqueza (OXFAM, 2020).
O conjunto de impactos e problemas gerados pelo capital extractivista é de uma grande complexidade
resultando em tragédias pessoais e colectivas de enorme amplitude, incluindo a guerra. Segundo a
análise de uma das nossas entrevistadas19, a senhora Awa, o que se passa é o seguinte:
Chamam pessoas de Maputo para ser pedreiros, chamam pessoas de Maputo para varrer,
então há este sentimento de que nós os donos não estamos a beneficiar daquilo que são os
nossos recursos. Então penso que isso também pode ter influenciado a revolta popular para
que eles facilmente aderissem a este movimento, até que alguns dos áudios que foram
circulando já faziam isso nós estamos a defender o que é nosso. Não sei se falaria um pouco
de algo que tem a ver a com a mão externa porque não tenho muita informação a respeito,
mas não duvido que efectivamente isso também possa influenciar. Nós sabemos que estamos
a falar de um negócio que dentro desse negócio também existem outros países que tem o
mesmo negócio, pode ser uma ameaça também e é possível que de alguma forma eles possa
apoiar ou financiar essa guerra para desestabilizar o país.
As mulheres têm sido duplamente afectadas nas regiões onde estas operações de mineração de larga
escala ocorrem. São locais dominados pela mão-de-obra masculina e verifica-se a desconsideração
por práticas informais e de menor escala realizadas por mulheres e crianças.
De acordo com a nossa pesquisa e a literatura disponível (Sitoe; Bila; Velasco, 2017; Feijó, 2021) as
evidências mostram que os impactos na vida de mulheres e raparigas decorrentes da economia
extractiva e da guerra que a acompanha, se traduzem nos seguintes problemas organizados por nós
em sete categorias principais:

19
Todas as mulheres entrevistadas e com quem conversámos autorizaram as gravações, mas não autorizaram que
fossem usados os seus nomes verdadeiros por temerem algum tipo de retaliação ou violência. Os nomes que são usados
neste texto são, pois, pseudónimos atribuídos pelas autoras.
Aumento da Relações do Militarização e
Terra e Desigualdade com violência sobre as Identidades estado
Insustentabilidades conflitos
acesso à terra base no género mulheres e as culturais
com a sociedade violentos
raparigas
Usurpação de - Divórcios, separações e - Raptos, estupros e - Comércio dominado - Aumento de práticas - Secretismo dos - A progressiva
terras e casamentos prematuros escravidão sexual de por homens culturais que não contratos e as militarização das
deslocação meninas respeitam os direitos dificuldades no zonas das indústrias
forçada de - Aumento da carga de - Responsabilidade humanos das acesso à informação mineiras
populações; trabalho das mulheres e - Prostituição forçada social das empresas raparigas
meninas de mulheres para ter não respeitada - Legislação não - Ataques violentos
acesso a meios de vida respeitada (Decreto por grupos de
- Propagação do HIV e - Impacto de eventos nº. 31/2012, de 8 de insurgentes
SIDA - Estupros e abusos extremos, por exemplo, Agosto) e (Diploma
corporais sobre as secas e tempestades Ministerial nº.
- Mulheres e homens, mulheres e raparigas 156/2014 de 19 de
mas sobretudo mulheres, que fogem dos Setembro)
não envolvidas nas conflitos violentos e
consultas comunitárias e guerra - Censura dos meios
em processos de tomada de comunicação
de decisão social no que se
refere à guerra e à
- Pouca participação das situação das
mulheres em iniciativas populações
produtivas nas
actividades extractivas

- Legislação sobre
indústria mineira
insensível aos problemas
específicos das mulheres
Nesta secção analisaremos alguns destes impactos a partir das análises e conhecimentos das
mulheres que lemos, que entrevistamos e com conversámos e que se pronunciam sobre cada
um destes assuntos20.
- O aumento da carga de trabalho das mulheres e das meninas
A acentuação de uma divisão sexual de trabalho, que atribui um papel subalterno às mulheres,
e que as sobrecarrega de trabalho e preocupações além de colocar em evidência a falta de
recursos básicos para levar adiante uma vida digna, é descrita assim pela senhora Fatema:
Primeiro recebi 38 pessoas, 8 pessoas foram a Pemba e outras pessoas foram a
Nampula. Havíamos ficado 10 pessoas e hoje recebi mais 15 pessoas no total somos 25
pessoas, mas algumas dizem que estão de passagem vão a Nampula por isso não ficam
no acampamento. Eu estou a receber tantas as pessoas devido a guerra, alguns são
meus familiares, outros conhecidos dos meus familiares e não têm onde ficar por isso
estou a receber, e estavam a sofrer lá no mato.
Das pessoas que chegaram 10 são meus familiares e as outras pessoas conhecidas do
meu falecido pai. Aqui em casa recebi 3 homens, 4 rapazes, o resto são as meninas
adolescentes e senhoras que são a maioria e uma idosa que é a minha mãe.
Com a chegada das pessoas a minha vida mudou, sinto muita diferença e dificuldade
para alimentar essas pessoas, não há lugar para dormir também. Tenho ido a cidade
no parque duas ou três vezes por dia receber essas pessoas sem transporte que é muito
difícil para mim, e as pessoas estão sofrer muito por causa desta guerra.
Depois de resolver o assunto de água vou a procura de comida, e para comer tenho
feito grupos de homens, crianças, e mulheres assim sirvo em bandejas e comem. Mas
sofremos bastante com a falta de água, aqui na minha casa não sai água, lá onde
compramos tenho que madrugar as 4 horas porque fica muito cheio. Para dormir a
minha casa tem 3 quartos, então damos prioridade as crianças a dormir dentro e o
resto das pessoas, os adultos dormem na varanda, algumas pessoas trouxeram
colchões consigo.
Por dia são duas refeições, a primeira tem sido as 11 horas e a segunda e a última
refeição tem sido as 16 horas.
Antes de ontem eu tinha 40 pessoas aqui em casa e 13 pessoas passaram para o distrito
Chiúre, mas se parassem aqui em casa eu estaria muito mal. Assim a farinha de 25 kg
que levei já acabou, por isso o que nós mais pedimos é acabar a guerra, o apoio que
nos dão não acaba a guerra. Tem que acabar a guerra para as pessoas pegarem na
enxada ir trabalhar e ajudar as suas famílias.
A este respeito a senhora Lizete acrescenta:
Com chegada dessas pessoas o meu dia tem sido muito agitado e corrido, logo que
acordo vou buscar água que está a venda, 20 litros custa dois meticais e cinquenta
centavos e por dia tenho gastado 80 meticais. Por exemplo hoje de manhã comprei
água de 40 meticais e esta tarde recebi mais pessoas devo ir comprar mais água. Mas

20
É importante referir que o que aqui se traz neste capítulo é uma pequena parte da pesquisa empírica realizada
ao longo dos últimos 4 anos e que será analisada com maior profundidade em publicação posterior.
sofremos bastante com a falta de água, aqui na minha casa não sai água, lá onde
compramos tenho que madrugar as 4 horas porque fica muito cheio.
- O aumento da violência contra as mulheres e as raparigas
Por outro lado, a guerra que acontece no território nomeadamente nos distritos onde as
actividades extractivas têm tido uma maior dimensão, agudiza a experiência da violência que
lhes é dirigida e que elas identificam claramente. A senhora Mariama analisa a situação da
seguinte forma:
Falam como se esta guerra não afectasse as mulheres e tentam transparecer a ideia de
que elas estão mais protegidas porque elas são as que saem das zonas de conflito e
conseguem chegar até as zonas mais seguras para pedir assistência. Dizem-nos que
quem efectivamente está a ser afectado em grande parte por esta guerra é o homem
porque nós nem sabemos onde ficam e onde estão. Então eu penso que a mulher
também é muito afectada, estamos a falar também não só dessa questão das violações,
mas da própria renda, daquela família toda que depois tem que ficar na
responsabilidade dela, penso que é um processo muito duro que a mulher está exposta
dentro desta guerra.
A guerra atinge as mulheres de uma forma diferente e duplamente. Normalmente não
se fala muito como é que as mulheres estão a ser atingidas, como estão a ser afectadas
pela guerra ao nível de Cabo Delgado. Apesar de se dizer que elas não são vítimas
directas porque não sofrem as decapitações, as mulheres sofrem duplamente nesta
guerra. Sofrem na mão dos insurgentes e sofrem também na mão das próprias forças
porque existem relatos de que as mulheres são abusadas sexualmente tanto pelos
militares quanto pelos insurgentes e não só as mulheres acima dos 18 para cimas, mas
as próprias raparigas também são abusadas. E quando são questionados, os militares
dizem:
- Nós deixamos as nossas famílias, as nossas esposas para vir defender a vocês e como
é que vocês pensam que nós vamos nos satisfazer?
Então eu penso que há aqui uma vulnerabilidade adicional da própria mulher dentro
deste processo de guerra. Elas não têm onde recorrer nem a quem prestar assistência.
Elas estão expostas a sofrer abusos diante dessas pessoas.
- Falta de acesso à terra
A nossa pesquisa mostra ainda que novos problemas sobrevêm quando depois de perderem as
suas terras quer pela venda às empresas extractivas, pelas expropriações ou pela guerra, elas se
encontram totalmente vulneráveis à inexistência de políticas efectivas e justas de
reassentamento e acesso à terra como explica a senhora Muassani:
Penso que faz muita diferença, estamos a dizer que perdemos a única fonte de que dava
autonomia. Então eu penso que aqui surge uma exposição acrescida dessa própria
mulher diante aquelas pessoas que deveriam ter respeito por ela. Então penso que é
algo que vai expor mais as mulheres ao risco, eu até conversava outro dia com primo,
não sei agora como é que está ser feito, mas ele dizia que a primeira ideia de reassentar
aquelas que estão nos centros, era darem um espaço de terra de 10m por 15m ou 15m
por 15m. Então como é que vocês estão a dar espaços de 10m por 15m para pessoas
cuja fonte de renda é agricultura? O que é que vocês acham que estão a fazer com
essas pessoas? Eu disse desculpa, eu não estou aí, mas você falou disso e eu me ocorreu
na cabeça que não estamos a fazer nada, porque não vamos conseguir resolver o
problema dessas senhoras, não vamos conseguir resolver o problema das mulheres
porque elas são obrigadas a ter que se desligar. Para além de ter a terra como o seu
rendimento, mas é um meio lhe viu crescer e muitas dessas pessoas nunca saíram,
nasceram e cresceram naquelas terras, então eles obrigatoriamente têm que se desligar
daquele meio para poder ir iniciar a vida num outro lugar.
- As insustentabilidades geradas pelo extractivismo e a guerra que o acompanha
A jornalista Palmira Velasco tem vindo a interessar-se pelo que se passa nesses territórios,
nomeadamente sobre a situação das mulheres. Ela tem publicado vários artigos e participado
em pesquisas e redacção de relatórios que importam notar já que são parcas as vozes de
mulheres que escrevem sobre este assunto. No âmbito de uma pesquisa em que participou com
a Sekelekani em Namanhumbir, nas minas de rubis distrito de Montepuez, província de Cabo
Delgado, ela descreve como já eram visíveis, há vários anos, muitos problemas que se têm
vindo a agravar cada vez mais. Ela escreveu o seguinte (2017: 11):
O comércio é dominado por homens. São eles que vão às cidades de Montepuez ou de
Pemba, adquirir produtos para revender no mercado local. As poucas mulheres que se
envolvem no negócio vendem sobretudo água para os mineiros artesanais, vulgarmente
conhecidos por garimpeiros.
(…) uma localidade pobre do norte de Moçambique, em cinco anos transformada num
destino procurado por legiões de cidadãos e cidadãs das mais diferentes
nacionalidades e que, perante a circulação de quantias relativamente elevadas de
dinheiro "vivo", desestabilizam socialmente a comunidade local, destruindo famílias,
provocando divórcios, casamentos prematuros e prostituição, e agravando os níveis de
propagação de infecções de transmissão sexual.
A senhora Isabel analisa a actual situação relembrando o que aconteceu em Montepuez em
2017 e como as consequências tendem a perdurar e a tornar ainda mais complexa a situação:
Ela afirma o seguinte:
No mesmo ano em 2017, na altura a governadora em coordenação com o ministério da
defesa desencadeou uma campanha para retirada de todas as pessoas que praticavam
a mineração ilegal a nível de Montepuez, e neste processo aquelas pessoas eram
repatriadas, mas o que se fazia ia-se até a fronteira entre a Tanzânia, a partir de Mueda
fazemos fronteira com Tanzânia mas parece que fazemos também a partir de Palma.
Mas como é que o processo acontecia, eram levadas aquelas pessoas e eram deixadas
ali na margem, dali as pessoas tinham que virar-se para poder sair, mas você já tinha
sido expulso aqui do nosso território. Então, primeiro, não temos certeza se
efectivamente aquelas pessoas saíam, segundo porque aquelas pessoas também podem
ter desencadeado um sentimento de revolta porque foram-lhes arrancados muitos bens,
outros tinham carros, outros tinham mesmo lojas, barracas que já tinham conquistado
a nível do distrito de Montepuez e aquilo era-lhes retirado assim sem mais e nem
menos, tens 24 horas para sair daqui, vire-se para ver o que é que você faz com os seus
bens, mas você sai daqui.
Tendo ficado sem acesso às suas terras, o que coloca em risco a sua segurança e soberania
alimentares, algumas mulheres de Namanhumbir viram-se obrigadas a participar em
actividades complementares ao garimpo, como a venda de água e a confecção de alimentos.
Sabe-se, contudo, que o distrito de Montepuez é das regiões mais férteis de Moçambique. Com
uma temperatura moderada, a região tem como actividade principal a agricultura, produzindo
milho, feijões, gergelim, tubérculos, mapira e arroz, sendo por isso considerado o celeiro da
província. Também possui produção com rendimento mercantil que consiste em algodão e
castanha de caju. Este modelo de sustento, que tem as mulheres no seu centro legitimando
poderes e autoridade para elas, tem estado sob risco permanente como se pode verificar pelo
depoimento que se segue (Ibid: 13):
As mulheres de Namanhumbir dizem que não têm acesso a trabalho remunerado na
empresa Montepuez Ruby Mining. Elas tinham a esperança de melhorarem as suas
vidas com a oportunidade de emprego, propalado durante as consultas comunitárias.
A maioria das mulheres até agora contratadas pela MRM são oriundas de Nampula e
de Montepuez e estão maioritariamente afectas a trabalhos de cozinha, primeiros
socorros e serviços de segurança.
- As cada vez mais complicadas relações entre o estado e a sociedade
Apesar dos relatos publicados por Palmira Velasco datarem de 2017 sabe-se que a situação não
conheceu uma evolução positiva. Pelo contrário, as mulheres entrevistadas no final de 2020
mostram que, não só como os problemas subsistem, como se agravaram em muitos casos. A
falta de alimentação e a corrupção são alguns deles como fica claro na fala da senhora Isabel:
A vida em Montepuez está um pouco cara por causa das populações que estão a sair
de ela e eles não tem dinheiro, não tem onde dormir, a situação não está tao boa. Os
problemas específicos que estão a enfrentar as famílias que as recebem, estão enfrentar
grande problema porque há organizações que tiram comida para eles mas aquela
comida, os chefes não fazem chegar a vítima. Também há situação de violação sexual
de raparigas, as mulheres, por que há chefes que não dão até eles dormirem com elas,
desculpe pela expressão. São os chefes dos quarteirões, chefes dos bairros, chefes de
10 casas.
Às vezes elas falam, só que quando falam aquilo elas sempre têm medo, não falam
assim abertamente, mas falam com uma pessoa parente ou activistas, fala com elas e
explica.
Mulheres e homens veem-se desapossados da sua terra e deslocados para locais com terras
geralmente inférteis, onde falta água, transporte, mercado, levando à separação das famílias,
reforçando a solidão feminina, o aumento das obrigações familiares assumidas por elas e,
permitindo, que a violência exercida sobre as mulheres, se torne cada vez mais impune (Osório;
Silva, 2017: 153-160). Além disso as pessoas sentem-se abandonadas e desoladas com as
condições que estão a encontrar. A senhora Awa explica:
Estão a tornar difícil primeiro como eu digo levam entre eles e depois além de levar
entre eles, és dita que naquele terreno não pode semear qualquer árvore porque
estamos ali é provisório. Mas nós vamos ser provisórios até quando? Há mesmo
garantia de voltarmos para casa? E o governo quando te dá aquele espaço, não te dá
nenhum apoio de construção só te dá aquela parte e te deixou. Onde é que você vai
apanhar chapas de zinco? Você pode cortar uns bambus pequenos, pauzinhos e vais
vendando.
Não dá. Se você tem condições vai comprar com alguém machamba para você fazer
mas te darem um espaço para fazer machamba não. Eu até que limpei no meu telefone
estive lá onde é dito Nanjua, tem um espaço de 1075 talhos, 1057 a quem cabe? Aquilo
aí por exemplo para Mocímboa é só um bairro, agora veja ali 1075 talhos para dois
distritos Mocímboa e Macomia é insuficiente. Eu fui lá não consegui e voltei, não culpei
a ninguém só vi que não hei-de conseguir neste sítio não dá.
O clima de intimidação está patente também nos depoimentos sobre o modo como os processos
de consulta têm sido conduzidos junto das populações. As consultas comunitárias, obrigatórias
de acordo com a lei, não se realizam a maior parte das vezes nos termos definidos na lei levando
as comunidades a sentirem-se abandonadas e hostilizadas pelo próprio Estado. Aqui mais uma
vez os depoimentos publicados por Palmira Velasco são contundentes (2018: 6):
Segundo relatos da comunidade, jamais houve consulta comunitária; há apenas uma
imposição, para a população sair de Olinda. Depois do incidente ocorrido em que a
polícia abriu fogo contra a população, representantes do governo e da empresa chinesa
voltaram à Ilha, com pretexto de fazerem consulta à comunidade. “Só depois da Polícia
nos bater é que o governo pretendeu consultar-nos”, dizem residentes de Olinda. Nesse
encontro o governo questionou quais eram os problemas que a comunidade tinha e o
que é que a população queria ver resolvido. Mas nesse encontro ninguém da
comunidade falou ou comentou qualquer coisa. Todos ficamos calados. Por fim a
comunidade abandonou a reunião, conta a entrevistada que acrescentou: Nós estamos
muito tristes com o que estamos a viver aqui em Olinda.
As decisões já estão tomadas de cima. Às vezes nem as administrações sabem. O acordo
entre o governo e a Vale é no âmbito militar ou de exploração mineira? Como
comunidade não podemos reagir, sempre há uma força que nos amedronta, que põe-
nos a limitar.
Nos poucos encontros realizados pelas autoridades distritais ou de localidade com as
comunidades afectadas por algum projecto, o que normalmente é dito às populações por algum
responsável do governo ou das empresas é que, “vão ter escola, posto de saúde, trabalho”. Ou
então: “Vão ser mais ricos, vão criar barrigas grandes” como testemunhou um cidadão da
aldeia de Quitupo, Milamba, distrito de Palma, província de Cabo Delgado que participou no
‘Primeiro Congresso de Comunidades Reassentadas e Afectadas pela Indústria Extractiva’ que
teve lugar em Maputo em 13 e 14 de Janeiro de 2019. A criação de expectativas de bem-estar
aumenta ainda mais o sentimento de impotência perante a impunidade de promessas não
cumpridas e da violência com que os processos são acompanhados.
A senhora Tuairiki reforça através da sua análise da actual situação, esta ideia de injustiça, de
abandono e de consciência de que as riquezas do país, extraídas da sua terra, florestas e águas
beneficiam alguns mas não a população que continua viver na miséria:
Olhando um pouco para essa questão da própria insatisfação. Chamam pessoas de
Maputo para ser pedreiros, chamam pessoas de Maputo para varrer, então há este
sentimento de que nós os donos não estamos a beneficiar daquilo que são os nossos
recursos. Então penso que isso também pode ter influenciado a revolta popular para
que eles facilmente aderissem a este movimento, até que alguns dos áudios que foram
circulando já faziam isso nós estamos a defender o que é nosso.
A senhora Rosa avança com uma explicação que envolve dois dos mais importantes líderes de
Moçambique contemporâneo mostrando que as disputas se fazem sobretudo entre as elites
políticas. Do seu depoimento infere-se que, segundo ela, os problemas que a maioria das
mulheres e homens vivem têm que começar a fazer parte das preocupações dos magistrados da
Nação ao invés dos interesses pessoais inscritos nos contratos e concessões para a extracção
das riquezas:
Na minha opinião essa guerra não é só por causa de recursos minerais. Essa guerra
tem a ver com poder, até principalmente eu poderia dizer o camarada Nyusi se fosse
meu familiar dizia pode renunciar para ver se a população podemos respirar um pouco.
É uma questão de poder. (...) Houve aquela briga por isso que muitos de nós acusamos
o Guebuza que ele sabe deste assunto, até houve um contrato do Guebuza com
Anadarko, um contrato de 50 anos em que o Nyusi anulou aquele contrato. Esse
contrato de 50 anos qual é a receita que podia ter? Não podíamos ter nenhuma receita
porque normalmente o contrato é de 5 em 5 anos, então 50 anos impossível. E que
aquele mesmo dinheiro nem parou no cofre do governo. Nyusi anulou, então depois
anular aquele contrato já surge esse conflito porque era por causa desses recursos
minerais que é do gás. Por isso estamos a dizer o Nyusi depois de anular aquele
contrato houve esse conflito, foram-lhe fechar a boca.
Na mesma linha, a senhora Awa teoriza sobre o poder e os perigos que a democracia
moçambicana enfrenta se se persistir na actual condução do país:
Sabemos o que acontece quando estamos em tempos de campanha eleitoral em que se
manipula as pessoas em troca de uma camisete, em troca de um prato de comida, em
troca de capulana, então sempre usou-se essa questão de baixa capacidade
discernimento da própria população para poder manipular. Então eu olho para a
situação que acontece hoje a nível de Cabo Delgado como algo se calhar é benéfico
deixar a população analfabeta porque nós podemos manipular à vontade, como algo
que hoje está virar-se contra o próprio Estado, contra o próprio governo. Hoje se
efectivamente o que está a acontecer em Cabo Delgado é fruto de alguém que vem de
fora e que usa fragilidade desta população para poder manipular, é fruto daquilo que
nós sempre deixamos passar e fomos usando isso ao nosso favor e hoje efectivamente
está virar-se contra.
- A crescente militarização dos territórios e o aumento da insegurança e violência
Além de todas as tragédias que se abatem sobre elas, existe uma característica que a actual
situação criada pelo capital extractivista e as suas indústrias a que devemos dar uma especial
atenção: a militarização crescente dos territórios e o policiamento agressivo. Isto significa,
entre outras coisas, a presença de militares e de uma cultura de resolução de conflitos baseada
na extrema violência a qual resulta em permanentes ameaças, o medo, a impossibilidade de
falar, de denunciar, sob pena de se ser considerada/o contra o desenvolvimento, inimigo do
governo, ou, até, terrorista. Como se pode entender na fala da senhora Salomé, este é um
assunto de enorme importância:
Na cidade há policiais, mas nos arredores, sempre que sais um pouquinho da cidade,
há muito reforço militar, policial, há muitos postos de controlo com muito pessoal
mesmo. Quando vou a Metuge tenho que passar por posto de controlo, todos os carros
são registados e passam por dois controlos, só para chegar ao distrito onde eu vou
passar por dois controlos.
São policiais especiais, então notas um pequeno contingente todo um aparato nesses
postos de controlo. E para fazer um controlo vês, de vez em quando, alguns carros
militares a circularem pela cidade, e a virem para cidade vejo alguns carros militares,
alguns tanques. Aqui perto, na expansão, tem um quartel e acho que na cidade também
tem então costumas a ver carros de tanques a entrarem, os aviões militares às vezes a
saírem.
Uma das outras consequências é militarização da vida das mulheres que se sabe também
participam em ataques e outros episódios de violência extrema. Recorremos às palavras de uma
militar, senhora Andrelice, das Forças de Defesa e Segurança para compreender como esta
situação é vivida e compreendida por ela:
Estive no teatro das operações de CD em 2019 onde fui ferida em combate. Servi no
(...)21. A guerra parece uma palhaçada, o que se está a passar em CD e a acção das
FAM. O governo não respeita os homens e as mulheres que estão lá a defender o seu
país.
Para nós que estamos a combater é uma guerra é de trincheiras com recurso a
trincheiras circulares com o comando no meio. Estão mulheres e homens nas
trincheiras e para combater dão-nos uma AK com 3 carregadores que dão para uma
hora no máximo enquanto que os combates costumam decorrer entre as 22h e as 04h
o que coloca os soldados em situação insustentável e altamente perigosa. entre xs
militares se diz que o governo xs está-nos a mandar para o abatedouro.
(...) Também nós as mulheres militares sofremos muito. Há muito assédio sexual contra
as mulheres militares pelos seus camaradas homens. Há chantagem: se não queres ir
combater hás-de ter que te deitar comigo.
Também há muitas mulheres que são obrigadas pelos insurgentes a prostituírem-se e
a denunciarem os soldados das FAM que as procuram para os seus serviços. Muitas
baixas entre as FAM são resultado dessas denúncias.
É importante sublinhar que há notícias e denúncias sobre a estratégia dos grupos de insurgentes
a actuar na província de cabo Delgado para envolver mulheres nos combates ou na linha de
fogo. A senhora Amina contou-nos:
Numa vila que estava a ser atacada viu-se uma motorizada que levava atrás uma
mulher carregando obuses com os quais ia municiando o homem que se sentava no
meio e que disparava enquanto outro conduzia o motociclo em plena batalha.
Outra senhora, a senhora Renaita, relata-nos o envolvimento de mulheres nos combates e na
retaguarda da guerra. Neste testemunho percebe-se que a sua autora acredita que elas são
usadas para lançar feitiços a partir dos conhecimentos botânicos que elas e eles têm:
Mulheres na verdade, muitas mulheres em Mocímboa forma convencidas. Estavam lá
muitas mulheres, mas aquelas mulheres principalmente estavam ali na defesa. Como
dizem: mulher é remédio. É normal mulher você ver uma mulher nua só com missangas.
Aquilo é só droga para distrair as pessoas e aqueles quando entram basta ouvir Allahu
Akbar que nem a população e nem a polícia não dispara mesmo, perde força a nas
articulações. Elas são postas à frente e usam algumas drogas mesmo, tradicionais
mesmo, botânicas. É com essas drogas em que as pessoas não conseguem reagir.
Não se sabe quantas mulheres estão envolvidas na violência e participam em que termos. Não
se têm muitos conhecimentos sobre as que são forçadas a fazê-lo e como são envolvidas e as

21
Esta informação foi omitida para evitar qualquer possibilidade de identificação da autora desta informação tão
vital.
que o fazem por estarem persuadidas que estão do lado certo do conflito. O único estudo
publicado até agora que tem alguns elementos sobre este assunto é o de João Feijó (2021) mas
que como o autor indica necessita de aprofundamento. Porém, ouvindo com atenção os vários
testemunhos e a recorrência de alguns detalhes percebe-se que este é um assunto quase tabu e
ao qual a maioria das investigações têm dado pouca atenção.

Notas finais
Apesar das violências que caracterizam a exploração de recursos, das deslocações, do
desrespeito pelos direitos humanos consagrados constitucionalmente, da solidão experienciada
pelas mulheres, da violência contra os seus corpos, da corrupção e do agravamento das
condições de vida das pessoas afectadas, há hoje maior conhecimento e partilha de informação
entre as e os actoras/es envolvidas/os, maior exigência de transparência nos contratos e na sua
aplicação.
Consideramos estar em condições de afirmar que as mulheres e as meninas em Moçambique
têm vindo a ser, recorrentemente, vitimizadas tanto pelos impactos da economia política global
quanto pela ausência progressiva de políticas públicas estatais de protecção e de segurança
social. No nosso entendimento, pode-se mesmo dizer que as mulheres moçambicanas, como
também muitos homens, têm vindo a sofrer um processo de objectificação como se fossem
também elas e eles, recursos naturais a serem explorados sem fim, através do seu trabalho, do
abuso e de novas e velhas formas de despojo da sua humanidade e riquezas. As mulheres e as
meninas são violentadas de formas específicas e costumam ser lançadas na informalidade e na
pobreza como uma massa (sub)humana indiscernível e sujeita a todos os tipos de violências
(Kabeer, 2008; Wilska, 2008; Osório; Silva, 2017; 2018). Apesar deste contexto extremamente
hostil e de todas as dificuldades, as mulheres e as meninas moçambicanas têm vindo a construir
reflexões e pedaços de alternativas que podem ensinar-nos como imaginar uma sociedade que
garanta a sua dignidade humana e um futuro para si e para as suas filhas e filhos (Cunha, 2014;
2015; 2018; Casimiro, 2014a e b, 2015; Casimiro; Trindade, 2019). Elas sublinham o que para
nós é a grande lição aprendida com este trabalho: é preciso não ficarmos sozinhas e divididas.
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