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FOTOS: SERGIO SILVA
FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO RUA FRANCISCO CRUZ, 234 VILA MARIANA 04117-091 SÃO PAULO/SP WWW.FPABRAMO.ORG.BR
EDITORIAL
pouca presença das mu- Lei alcança mulheres que e coordenadora da Or-
lheres na política é preci- estejam em atividades ganização das Mulheres
so mudar essa divisão do formais, deixando de Indígenas do Acre-Sitoa-
trabalho, baseada no sexo fora milhões de outras kore. Nedina afirma que a
das pessoas. Homens e que estão na informali- participação das indígenas
mulheres devem ter de- dade, caso da maioria das vem crescendo, pois pas-
veres igualmente cobra- moradoras das periferias. sam a ocupar cargos de
dos, e o Estado também Contudo, a existência de liderança em suas aldeias
precisa participar, ga- iniciativas como essa, por e territórios, que antes
rantindo equipamentos parte do governo Lula, eram apenas destinados
públicos que permitam mostra disponibilidade aos homens, tornando-se
o compartilhamento dos em avançar nessa pauta, protagonistas de um novo
trabalhos de cuidados, o que é bastante positivo processo de democratiza-
tais como creches, hospi- e necessário. ção da política indígena e
tais, lavanderias públicas não indígena.
e restaurantes coletivos. Na pauta da violên-
cia sexista, os números A entrevista do mês é
No âmbito do mundo do seguem evidenciando com a secretária Muni-
trabalho, tais iniciativas uma tragédia: nosso país cipal de Mulheres do PT
também são fundamen- mata mulheres e meni- em São Paulo, Pagu Ro-
tais para se alcançar mais nas diariamente, fazendo drigues. Mulher indígena
igualdade. Atualmente, uma vítima a cada 4 fulni-ô, socióloga forma-
as mulheres ganham, em horas, segundo dados da da pela Universidade de
média, 21% a menos Rede de Observatórios São Paulo e estudante de
do que os homens - o da Segurança. E não é só Direito, Pagu é também
equivalente a R$ 2.305 à violência física que as membra da Comissão
para elas e a R$ 2.909 mulheres e meninas preci- de Povos Indígenas da
para eles, segundo dados sam sobreviver, a violên- OAB. Na entrevista, ela
da Pesquisa Nacional por cia psicológica e virtual fala sobre a perspectiva
Amostra de Domicílios tem ganhado espaço nos integracionista do Esta-
(Pnad) divulgados pelo do brasileiro em relação
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últimos períodos.
Departamento Inter- à população indígena,
sindical de Estatística e Para dar visibilidade
RREVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
seus filhos, para que elas muito incomodadas com Revista contribua para
possam trabalhar e os os processos de femi- fortalecer essa tão almeja-
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
NEDINA/XIU YAWANAWA
Homens são provedores É PROFESSORA INDÍGENA
E ASSESSORA PEDAGÓGICA
de alimentos, educação NA SECRETARIA DE
dos filhos homens e EDUCAÇÃO DO ESTADO
DO ACRE, PÓS-GRADUADA
trabalhos mais pesados, EM GESTÃO ESCOLAR
E COORDENAÇÃO
como a construção de PEDAGÓGICA,
casas e derrubada de CORDENADORA DA
ORGANIZAÇÃO DAS
roçados. Os que lideram e MULHERES INDIGENAS DO
tomam decisões nos espa- ACRE-SITOAKORE
Já as mulheres, mesmo
sem destaque de lideran-
ças, desempenham papéis
ACERVO DA SITOAKORE POR RAMON AQUINO
importantes na família
e organização social da
O presente artigo tem por objetivo dar aldeia que podem ser
visibilidade ao processo de luta e resistência das observados ao longo do
mulheres indígenas na democracia do Brasil. processo de participação
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comunitária.
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
F
PESSOAL
ilha de pai e mãe in- lá, dos mais distantes aos movimento de moradia,
dígenas, foi criada na mais próximos. E eu pre- já em contato com o PT,
cultura do seu povo, in- cisava retomar um pouco pois várias pessoas da sua
clusive nas dimensões da essa perspectiva de poder família, originária de um
religiosidade e da língua, fazer parte. Diria até que território em Pernambu-
mas como nasceu fora da de conseguir construir co, já dialogavam com
aldeia, precisou passar por essa luta a partir do meu partido. Desde o início
um período de recone- povo, porque a gente tem de sua militância par-
xão com seus familiares. o âmbito geral da luta, ticipa dos movimentos
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ça indígena nos espaços, vivemos uma nova cíficos, que vão desde
mas também, e eu diria época. Por onde o novo demarcação de terras,
que sobremaneira, das governo deveria começar passando por questões de
mulheres indígenas, é para recuperar o que foi saúde, de educação, de
reconhecer a população perdido? enfrentamento à violên-
indígena a partir da sua Penso que existem cia contra mulheres, até
plurinacionalidade. So- algumas perspectivas a perspectiva econômica
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lheres indígenas,
expropriação de terras in- no Nordeste é demarcada
dígenas e aprofundando
é reconhecer a
praticamente. A minha
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
essa política, esse modelo aldeia, por exemplo, não população indí-
extrativista que pretende tem a terra demarcada, o gena a partir da
acabar com tudo o que processo está paralisado sua plurinacio-
temos em prol do lucro desde 2010. A gente só nalidade. Somos
e do capital. Então, acho tem um reconhecimento mais de 350 et-
que essas são as discus- enquanto reserva indíge- nias no Brasil”.
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depois para fora, além da mulheres e do movimen- para que elas possam tra-
ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
nado lugar e acaba cum-
“O Estado conhece muito pouco prindo muito mais horas
nossa diversidade. Por exemplo, de trabalho, recebendo
36% da população indígena do Bra- muito menos do que um
sil vivem em contexto urbano, e homem naquela mesma
uma parte pequena, que é 3%, vive posição. Outro ponto
é que a maior parte das
de fato em território demarcado.
pessoas que ocupam o
Essa perspectiva não reconhece a
trabalho informal com a
presença indígena em espaço ne- renda mais precarizada
nhum, nem nossos direitos especí- são mulheres negras. E
ficos, que vão desde demarcação de a gente precisa enfrentar
terras, passando por questões de esse debate. Nós estamos
saúde, de educação, de enfrenta- saindo de uma pandemia
mento à violência contra mulheres, que só agravou ainda
até a perspectiva econômica mes- mais toda esta dinâmica
de gênero no Brasil e que
balhar e os filhos tenham assumir um cargo de não conseguimos dar
o direito a educação de chefia. Para além da po- conta, porque sequer
qualidade. Precisa criar lítica, do machismo, da conseguimos, por exem-
restaurantes coletivos, estrutura do patriarcado, plo, implementar a renda
lavanderias coletivas, o elas já saem de pronto básica. Não enfrenta-
atrás de qualquer homem mos a violência contra
que representa a distri-
a mulher, sobretudo a
buição do trabalho de branco, por exemplo.
violência doméstica,
cuidados, que hoje está A média geral é que os
que teve picos altíssimos
na mão das mulheres no homens recebem mais do
durante o período. Então
âmbito privado, em suas que as mulheres. Então
a gente precisa conseguir
casas. Muitas vezes essa é tempo de aprofundar o
aprofundar isso, não só
divisão sexual/racial do debate sobre as políticas
reaver direitos perdidos
trabalho impossibilita de cuidado, a divisão de
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no governo Bolsonaro,
que as mulheres tenham tarefas organizada pelo
mas avançar.
o grau de estudo neces- Estado, uma discussão
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política pública.
não vai conseguir che- uma espécie de crimina-
gar a isso se não passar Do ponto de vista da lização da discussão do
pela discussão de cotas. opinião pública, hoje a feminismo. Então, muita
Temos cota de saída pauta do feminismo está gente achava que as femi-
e garantimos 30% de mais ligada às liberdades nistas são anti-homem.
mulheres inscritas e suas individuais do que aos E toda a estrutura do
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perspectiva da estrutura
do Estado. Então o que
começou a acontecer?
Esse debate começou a
ser apropriado por um
certa pauta liberal. Ter-
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mos como o “empodera- GRAVAÇÃO PRO PROJETO AULA LIVRE - "MINHA ÁFRICA BRASILEIRA E POVOS INDIGENAS"
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
termos de sororidade e para as ruas enquanto relação a isso? E a
empoderamento. E assim movimento feminista e sociedade, pode fazer
continua, na verdade, recoloca as bandeiras, alguma coisa?
jogando na mão das mu- porque nós estamos O feminicídio é o pro-
lheres a responsabilidade falando de um processo jeto de genocídio em
sobre as transformações, coletivo. O feminismo
relação às mulheres. En-
dizendo que podem ser não é a supremacia da
tão, primeira coisa é que
feitas de maneira indivi- mulher em relação aos
estamos saindo de um
dual. Então não se discu- homens. O feminismo é
período em que o gover-
te igualdade coletiva, não um projeto de igualdade
no foi incentivador desse
se discute qual é a res- entre mulheres e homens
tipo de violência, desse
ponsabilidade do Estado e, portanto, para ele exis-
tipo de prática contra as
no enfrentamento das tir tem de haver direitos
mulheres, e por isso eu
estruturas do patriarcado. e garantias de direitos
diria que o feminicídio
Não se discute igualdade para as mulheres, que
se ampliou muito nesses
a partir da estrutura eco- estão sobretudo supri-
últimos anos. A pande-
nômica. Não se discute, midas dentro dessa base.
por exemplo, a necessi- mia tem uma responsabi-
É uma revisão profunda
dade de que a gente tem lidade nisso? Tem. Mas a
do sistema e o fim do pa-
que rever o sistema de gente sabe que a respon-
triarcado. Não é suficien-
divisão sexual, racial, do sabilidade maior vinha
te que uma mulher seja
trabalho no Brasil. Então dos incentivos de um
CEO de uma empresa
não tem problema, você discurso misógino feito
sem a discussão de que
é uma empreendedora, pelo então presidente da
o filho dela precisa ter
você trabalha 16 horas, República, o Bolsonaro,
creche pública.
você continua dando né? Foi o que realmente
conta do seu filho, o Sobre o aumento do fez estourarem os índi-
marido não, e não vai feminicídio durante a ces de violência contra
pagar pensão, porque, pandemia, da violência a mulher no Brasil. Na
afinal de contas, você é contra a mulher e a contrapartida, não havia
uma mulher empoderada normalização que nenhuma política pú-
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que ganha dinheiro, não acontece no dia-a-dia. blica atuante para fazer
precisa do homem pra Todo dia uma mulher frente a esse índice de
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N ascida no Recônca- pela gestão comunitária cas públicas. Ao mesmo FOTO: ACERVO DO
COLETIVO GINGA
vo, Claudia Isabele e o cuidado coletivo. As tempo, mulheres que
Pinho vive no Subúrbio mulheres que atuam nas atuavam na gestão co-
Ferroviário, em Salvador, associações de bairro, munitária das periferias
desde os 2 anos de idade e mesmo que muitas vezes deram um passo à frente
é mãe de uma menina de sejam chefiadas por ho- no processo de politiza-
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4 anos. “Minha apro- mens, provêm o suporte ção dessa gestão comu-
ximação com o Ginga a outras mulheres na nitária. Começaram a se
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lecimento do controle
social nas políticas públi-
cas, que atendia ao desejo
coletivo de participar na
construção das soluções,
de fiscalizar como essas
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Recentemente a presiden-
ta Gleisi falou que “o PT
é guardião do projeto que
ganhou a eleição”. E isso
se aplica a todas as áreas e
setores, a Cultura muito
fortemente inclusa. Cabe FOTO: ARQUIVO PESSOAL
será tratada como um tomar forma. A Secreta- toda a luta valha a pena.
bem de primeira necessi- ria Nacional de Cultura
do PT seguirá como Quais os seus planos para
dade, porque ela alimenta
quando fez a campanha, o mandato de secretária
nossas almas. Precisamos
toda a linha foi no sen- nacional de Cultura? Qual
de música, cinema, teatro,
tido desenvolvimentista a prioridade número 1?
dança, artes plásticas.
Precisamos de mais livros do Estado. Com êxito Os planos são vários, mas
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REDES SOCIAIS:
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Instagram: @anuby.messias
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Diálogos temporais
A importância do trabalho culinário de
mulheres negras desde o período da
escravidão e as condições de trabalho
de cozinheiras negras nos dias atuais -
com Taís Machado
Data: 24/03 às 19h
Onde: acesse aqui
de problemas, inovação,
empreendedorismo e como
conseguir parceiros.
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