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Nº 43 - MARÇO 2023


FOTOS: SERGIO SILVA

Vivas e com igualdade


de direitos
Pagu Rodrigues Vivi Martins: Por que
fala sobre a luta inimigos da democracia
das mulheres têm medo da Cultura

AGENDA DE LUTAS MARÇO DE 2023


EDITORIAL
Vivas e com igualdade de direitos

FOTO: MARCELO CAMARGO/AG BRASIL

N o mês de lutas das


mulheres, destaca-
mos a contribuição delas
as protagonistas dos mo-
vimentos de periferias, à
frente das ações sociais de
essa representação. Parte
delas é a imposição às
mulheres do trabalho de
para a democracia bra- combate à fome, de luta cuidados com crianças,
sileira. A democracia só por moradia, por melho- idosos e pessoas defi-
existe porque as mulheres res condições de saúde, cientes ou doentes. São
também lutaram. Ainda de proteção de crianças inúmeras horas do dia,
que cerceadas de diversas e adolescentes e das da semana, do mês, que
maneiras, ao longo de
associações de bairros. as mulheres precisam de-
toda história, as mulheres
Contraditoriamente, não dicar-se prioritariamente
se fizeram presentes com
são a maioria das pessoas a essas tarefas, em vez de
suas reivindicações por
MARÇO 2023

que participam institu- livremente usufruir do


transformações profundas
cionalmente da política, seu tempo.
na sociedade.
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

porque há barreiras es-


Hoje, no Brasil, elas são truturais erguidas contra Para derrubar o limite da
PROJETO RECONEXÃO PERIFERIAS DIRETOR RESPONSÁVEL ARTUR HENRIQUE DA SILVA SANTOS COORDENADOR DO
PROJETO PAULO CÉSAR RAMOS EQUIPE ISAÍAS DALLE, LÉA MARQUES, MATHEUS TANCREDO TOLEDO, RUAN BERNARDO, SOFIA
TOLEDO, VICTORIA LUSTOSA BRAGA, VILMA BOKANY COLABORADORES SOLANGE GONÇALVES LUCIANO, THIAGO SILVEIRA,
WEBER LOPES GÓES EDIÇÃO LÉA MARQUES E ROSE SILVA REVISÃO ROSE SILVA PRODUÇÃO EDITORIAL CAMILA
ROMA PROJETO GRÁFICO CACO BISOL DIRETORIA EXECUTIVA DA FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO PAULO OKAMOTO
(PRESIDENTE), VÍVIAN FARIAS (VICE-PRESIDENTA), DIRETORES: ALBERTO CANTALICE, ARTUR HENRIQUE, CARLOS HENRIQUE ÁRABE,
ELEN COUTINHO, JORGE BITTAR, LUIZ CAETANO, NAIARA TORRES E VIRGÍLIO GUIMARÃES.
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FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO RUA FRANCISCO CRUZ, 234 VILA MARIANA 04117-091 SÃO PAULO/SP WWW.FPABRAMO.ORG.BR
EDITORIAL
pouca presença das mu- Lei alcança mulheres que e coordenadora da Or-
lheres na política é preci- estejam em atividades ganização das Mulheres
so mudar essa divisão do formais, deixando de Indígenas do Acre-Sitoa-
trabalho, baseada no sexo fora milhões de outras kore. Nedina afirma que a
das pessoas. Homens e que estão na informali- participação das indígenas
mulheres devem ter de- dade, caso da maioria das vem crescendo, pois pas-
veres igualmente cobra- moradoras das periferias. sam a ocupar cargos de
dos, e o Estado também Contudo, a existência de liderança em suas aldeias
precisa participar, ga- iniciativas como essa, por e territórios, que antes
rantindo equipamentos parte do governo Lula, eram apenas destinados
públicos que permitam mostra disponibilidade aos homens, tornando-se
o compartilhamento dos em avançar nessa pauta, protagonistas de um novo
trabalhos de cuidados, o que é bastante positivo processo de democratiza-
tais como creches, hospi- e necessário. ção da política indígena e
tais, lavanderias públicas não indígena.
e restaurantes coletivos. Na pauta da violên-
cia sexista, os números A entrevista do mês é
No âmbito do mundo do seguem evidenciando com a secretária Muni-
trabalho, tais iniciativas uma tragédia: nosso país cipal de Mulheres do PT
também são fundamen- mata mulheres e meni- em São Paulo, Pagu Ro-
tais para se alcançar mais nas diariamente, fazendo drigues. Mulher indígena
igualdade. Atualmente, uma vítima a cada 4 fulni-ô, socióloga forma-
as mulheres ganham, em horas, segundo dados da da pela Universidade de
média, 21% a menos Rede de Observatórios São Paulo e estudante de
do que os homens - o da Segurança. E não é só Direito, Pagu é também
equivalente a R$ 2.305 à violência física que as membra da Comissão
para elas e a R$ 2.909 mulheres e meninas preci- de Povos Indígenas da
para eles, segundo dados sam sobreviver, a violên- OAB. Na entrevista, ela
da Pesquisa Nacional por cia psicológica e virtual fala sobre a perspectiva
Amostra de Domicílios tem ganhado espaço nos integracionista do Esta-
(Pnad) divulgados pelo do brasileiro em relação
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últimos períodos.
Departamento Inter- à população indígena,
sindical de Estatística e Para dar visibilidade
RREVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

que ignora sua diversi-


Estudos Sócioeconômi- ao processo de luta e dade. “Cerca de 36% da
cos (Dieese). A transfor- resistência das mulhe- população indígena do
mação dessa realidade é res indígenas diante da Brasil vivem em contex-
prevista, em parte, com a democracia no Brasil, to urbano e apenas 3%
Lei da Igualdade Salarial, apresentamos o artigo dessa população vive de
sancionada no 8 de maço de Nedina/Xiu Yawana- fato em território demar-
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desse ano. Contudo, tal wa, professora indígena cado”, afirma.


EDITORIAL
Pagu aborda também os surgiu com o objetivo de vas personagens entram
desafios do novo governo realizar atividades para em cena”, apresentamos
para garantir a supera- proteção e atendimento Vivi Martins, a nova
ção das desigualdades de às mulheres vítimas de secretária Nacional de
gênero no mercado de violência, além de pro- Cultura do Partido dos
trabalho brasileiro, que mover sua autonomia Trabalhadores. Vivi afir-
é estruturante na socie- financeira e psicológica. ma, entre outros pontos,
dade patriarcal. “Uma O grupo realiza reuniões, que a Cultura é uma boa
das questões muito oficinas, cursos para a porta de entrada para
históricas do movimento formação e conscientiza- despertar a juventude
de mulheres e do movi- ção das mulheres da pe- para a política, porque
mento feminista, que é riferia de Salvador sobre
têm ideias de liberdade
a igualdade salarial, está seus direitos. O núcleo
muito fortes, e que “tal-
pautada na igualdade de gestor do coletivo reúne
vez por isso os inimigos
oportunidades e de di- em torno de 15 mulhe-
reitos. Enquanto a gente da democracia têm tanto
res, cujas atividades são
não tiver políticas que medo da Cultura”.
mantidas por contribui-
garantam a autonomia ções próprias, de mora- Construir um país
econômica das mulheres, dores da comunidade e melhor para meninos e
não haverá avanços na de parceiros. meninas, homens e mu-
discussão da igualdade
salarial. O que eu quero Uma de suas integrantes, lheres, passa, necessaria-
dizer com isso? O Esta- Claudia Isabele Pinho, mente, por enfrentar as
do realmente precisa se conta que a Ginga foi desigualdades de gênero.
incumbir das política dos também um encontro ge- Nessa luta, sabemos que
cuidados, com amplia- racional. Suas fundadoras as mulheres são as prota-
ção de creches, inclusive foram estavam principal- gonistas, mas esperamos
noturnas, e um sistema mente na faixa dos 40, a solidariedade e empatia
de educação que compa- 50 anos e tinham cami- de todos, todas e todes.
tibilize realmente a rotina nhadas mais extensas na Esperamos que o con-
das mães em relação aos comunidade. “Estavam teúdo dessa edição da
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seus filhos, para que elas muito incomodadas com Revista contribua para
possam trabalhar e os os processos de femi- fortalecer essa tão almeja-
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

filhos tenham o direito à nização da pobreza, de da igualdade de direitos..


educação de qualidade”, pauperização das mulhe-
diz. res, de estigmatização e Boa leitura! Boas lutas!
da necessidade de acesso
O Perfil desta edição é do Léa Marques - Editora
à universidade.”, afirma.
Movimento de Mulheres da Revista Reconexão
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do Subúrbio Ginga, que Na sessão “Quando no- Periferias


ARTIGO
O processo de resistência, as perspectivas das lutas
das mulheres indígenas e a democracia no Brasil
NEDINA/XIU YAWANAWA

NEDINA/XIU YAWANAWA
Homens são provedores É PROFESSORA INDÍGENA
E ASSESSORA PEDAGÓGICA
de alimentos, educação NA SECRETARIA DE
dos filhos homens e EDUCAÇÃO DO ESTADO
DO ACRE, PÓS-GRADUADA
trabalhos mais pesados, EM GESTÃO ESCOLAR
E COORDENAÇÃO
como a construção de PEDAGÓGICA,
casas e derrubada de CORDENADORA DA
ORGANIZAÇÃO DAS
roçados. Os que lideram e MULHERES INDIGENAS DO
tomam decisões nos espa- ACRE-SITOAKORE

ços de assembleias em que


se concentram as famílias
das comunidades para
tratar de assuntos gerais
do povo como resolução
de conflitos, escolhas dos
responsáveis das áreas na
saúde, educação, agentes
agroflorestais.

Já as mulheres, mesmo
sem destaque de lideran-
ças, desempenham papéis
ACERVO DA SITOAKORE POR RAMON AQUINO
importantes na família
e organização social da
O presente artigo tem por objetivo dar aldeia que podem ser
visibilidade ao processo de luta e resistência das observados ao longo do
mulheres indígenas na democracia do Brasil. processo de participação
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comunitária.
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Antes do movimento cado, isto é, as decisões São responsáveis por tra-


indígena são tomadas exclusiva- balhos domésticos como
mente pelos homens. lavar roupas, fazer as
Assim como na socie- Dentro das aldeias, os comidas, fazer terreiros ao
dade não-indígena, os papéis entre homens e redor da casa, cultivos dos
povos indígenas também mulheres são definidos e roçados, plantar, limpar,
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seguem a linha do patriar- vivenciados no cotidiano. fazer a colheita e cuidar


ARTIGO
das crianças, principal- de juntar as demais para Cura e Terapia Yawanawa,
mente a educação das organizar os alimentos, os uma escola, um centro de
filhas. espaços de reuniões e estar aprendizado da espiritua-
à frente das rodas de mari- lidade Yawanawa, o qual
Na convivência diária com ris (danças em roda), além é comandado pelo Paulo
os filhos, ensinam a língua de atuar como conselheira Matsini e o Tata Txanu,
materna, repassando o e mediadora de conflitos que é o pajé mais antigo e
respeito às tradições sobre entre as famílias. sábio de nosso povo. Tam-
o comportamento com bém a Mariazinha, líder
a família e a produção “(...) Criamos também o que também faz dietas, a
de artesanato para forta- “Mariri Yawanawa”. Foi pajé Hushahu também, que
lecimento da identidade feito o primeiro no final foram as primeiras mulheres
e cultura do povo, uma de 2008 e 2009, voltado Yawanawa... Isso é a nossa
forma de perpetuar os co- a ser uma alternativa para cultura que também, não
nhecimentos tradicionais favorecer as comunidades... é estática, vai mudando...
para as novas gerações. O Mariri continua acon- Criamos uma política de
tecendo todo mês de Julho. valorização das mulheres,
Além das atribuições do- Agora nesse ano aconteceu dos mais velhos, das crian-
mésticas é possível notar a o quarto. Então reúnem-se ças” Trecho de Plano de
participação das mulheres todas as aldeias, com poucas Vida Yawanawa. Dis-
na organização e limpeza pessoas de fora para visitar ponível aqui. Acesso em
dos shuhu (kupixaus) ou os Yawanawa e conviver 06/03/2023
da própria casa do caci- com a gente...” Trecho de
que da aldeia, produção Plano de Vida Yawanawa. Disponível aqui, acesso
da alimentação para seus Disponível aqui. Acesso em 06/03/2023.
maridos, cuidado com em 06/03/2023
os filhos para não faze-
rem barulho e ficar como O momento em que se Após o movimento
ouvinte desde jovens até percebe uma participação indígena
mais velhas nas grandes mais relevante das mulhe-
reuniões da aldeia. res indígenas é como par- A partir do surgimento da
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teiras, ajudantes do pajé União das Nações Indíge-


Porém, há uma presença e conhecedoras de plan- nas do Acre-UNI/AC, or-
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feminina que se destaca tas medicinais, quando ganização que representava


entre as demais, a esposa solicitadas pelas famílias todos os povos indígenas
do cacique. Ela tem um da comunidade para curar do Acre Sul do Amazonas
papel importante de lide- determinadas doenças. e Noroeste de Rondônia,
rança nos trabalhos coleti- o Movimento indígena
vos e sociais da aldeia, pois “Nesse processo criamos do Acre, que teve grande
é sua a responsabilidade o Centro Cerimonial de destaque nos anos 1990 a
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ARTIGO
2000, deu início a outro necessidade de levar suas Mulheres Indígenas, mais
momento da participação posições e contribuições um espaço de organização
das mulheres indígenas. com um ângulo feminino do movimento, convertido
das questões. em importante ação para
A UNI/AC passou a ser denúncia e enfrentamento
referência nacional de Emoção e força: mulheres das pressões antiindígenas
movimento indígena por indígenas compartilham que ganhavam espaço no
sua atuação em defesa suas vivências e projetam Congresso e no Executivo
dos direitos dos povos aldear a política. Dispo- nacional. Desde então, a
indígenas aliado a outros nível aqui. Acesso em marcha acontece a cada 2
movimentos de outras 06/03/2021. anos em Brasília, organiza-
regiões do Brasil. Com essa da com apoio da ANMI-
“As mulheres sempre esti-
crescente movimentação, GA (Associação Nacional
veram presentes nas orga-
os caciques passaram a ter das Mulheres Indígenas
nizações e espaços de luta
com mais frequências os Guerreiras da Ancestrali-
do movimento indígena,
encontros de liderança, dade) e da APIB, e traz
porém, nos últimos anos,
como assembleias para elei- como principal bandeira
sua atuação tem se transfor-
ção da coordenação geral, a luta pelo território e
mado e mulheres de diversos
seminários e oficinas que defesa das demarcações.”
povos passaram a assumir
eram realizados em terras (Mulheres indígenas e a
posição de liderança. Como
indígenas ou na capital. reconstrução da política
demonstra o levantamento
do Instituto Socioambiental indigenista no Brasil).
Nessa ocasião, eles passa-
(ISA), cresceu o número de Disponível aqui. Acesso
ram a trazer suas mulhe-
organizações de mulheres em 06/03/2021.
res, irmãs ou filhas para
ajudá-los em questões indígenas, alcançando, em
pessoais como lavar suas 2020, o total de 92 organi-
Criação do Grupo de
roupas, servi-los nos inter- zações mapeadas, a maior
Mulheres Indígenas do
valos de alimentação. Uma parte delas criadas a partir
Acre - GMI-UNI/AC
figura ajudadora, porém, dos anos 2000. Ainda que
1997
foi nesse contexto que tenham estado em todas as
MARÇO 2023

as mulheres passaram a edições do Acampamento A participação das mulhe-


também compartilhar suas Terra Livre, organizado res indígenas nas reuniões
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vivências e trocas de infor- pelo movimento indígena tomou maior proporção


mações sobre a vida em desde 2004 em Brasília, nas discussões e abriu
comunidade e a expressar apenas em 2016 as mulhe- outros debates nas progra-
entre elas suas opiniões res realizaram sua a pri- mações dos eventos em
sobre as temáticas debati- meira plenária neste espaço. meados de 1997. Então,
das nas rodas masculinas, Em 2019, foi inaugurada passaram a reivindicar
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gerando o interesse e a a Marcha Nacional das um espaço específico de


ARTIGO
presença na organização as temáticas de cunho sem referência, pois esta-
da UNI. Dessa forma, feminino são presentes em vam ligadas diretamente à
em consenso da maioria debates e surgem os proje- UNI/AC. Mas, em 2005,
das lideranças, criaram o tos pioneiros de cuidados decidiram se organizar e,
Departamento de Mu- preventivos de saúde para de forma independente,
lheres, juntamente com o a mulher indígena e valo- realizaram uma assem-
Departamento de Jovens rização das parteiras, que bleia, criando a Organiza-
Indígenas. têm papel importante nas ção de Mulheres Indígenas
comunidades. do Acre Sul do Amazonas
Neste contexto, enfatizam e Noroeste de Rondônia
as temáticas mais associa- A UNI/AC, alinhada aos
– Sitoakore, palavra na
das às necessidades femini- movimentos indígenas
língua do povo Apurinã
nas, notando que os temas da Amazônia e Nacional,
que significa “ mulheres
ligados à saúde, educação, assumiu o convênio de
trabalhando juntas”.
cuidado familiar, criação saúde UNI/FUNASA/
dos filhos, tudo que girava AC, deixando de fazer o A organização de mulheres
em torno do universo fe- controle social para a ser a indígenas passou atuar em
minino, não era falado por ONG executora das ações defesa dos direitos indíge-
lideranças, que concentra- de saúde. Nesse processo nas e seus territórios e teve
vam todas as atenções ao de administração, enfren- seus trabalhos reconhe-
que o universo masculino tou muitos problemas e cidos pelas comunidades
considerava como priori- desafios, o que impossi- indígenas do Acre e pelas
dade, fazendo notar a au- bilitou a finalização do Instituições governamen-
sência do papel feminino projeto. Por orientações tais e não-governamentais,
na ordem social e cultural jurídicas, teve de decretar pois desenvolve atividades
dos povos indígenas. falência da organização, como segurança alimen-
paralisando todas as ações, tar, medicina tradicional,
No final do ano de 2002, inclusive as atividades das autonomia indígena, entre
pela primeira vez uma mulheres indígenas. outros temas que estão
mulher indígena foi indi- relacionados com transfor-
cada e eleita pela maioria mações mundiais.
MARÇO 2023

dos votos das lideranças Criação da Sitoakore


para compor a coordena- A presença feminina em
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ção geral da UNI/AC e Após a falência da UNI/ espaços de discussões é


outras como conselheiras AC em 2004, as lideranças mais frequente e enrique-
fiscais, um marco impor- retomaram suas orga- cida por saberes ancestrais
tante da participação das nizações e buscaram se que só elas dominam. As
mulheres indígenas em fortalecer em suas regiões temáticas defendidas são
espaço de tomadas de e comunidades. Já as mu- alinhadas a discussões
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decisões. A partir disso, lheres indígenas ficaram das organizações mais


ARTIGO
abrangente como a União Desde a aldeia, quando Neste aspecto, passam
de Mulheres Indígenas passam a ocupar cargos de a desempenhar outros
da Amazônia Brasileira caciques, lideranças espiri- papéis além dos trabalhos
(Umiab) e a Articulação tuais e coordenadoras das domésticos, tornando-se
dos Povos Indígenas do
organizações de grandes assim, protagonistas de
Brasil (Apib).
representatividades, que um novo processo de
A participação das mulhe- outrora, foram ocupados democratização da política
res indígenas é crescente. apenas por homens. indígena e não indígena.

PAUTA DAS MULHERES INDÍGENAS DO BRASIL


1. Violação dos direitos das mulheres indígenas (incluindo o fim da violência contra
as mulheres, mas não limitado a este tópico)
2. Empoderamento político e participação política das mulheres indígenas
3. Direito à terra e processos de retomada
4. Direito à saúde, educação e segurança
5. Direito à tradição, cultura e diálogos inter-geracionais
6. Direitos econômicos das mulheres indígenas
7. Comunicação e processos de conhecimento
8. Processos de resistência
9. Sustentabilidade e financiamento
10. Formulação de uma estratégia de incidência política nacional e internacional
para os direitos dos povos indígenas liderada pelas mulheres indígenas.
MARÇO 2023

“Voz das mulheres indígenas” Disponível aqui. Acesso em 06/03/2023.


RREVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
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ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
"Precisamos garantir que 50% das mulheres
mais votadas ocupem cargos nos legislativos"
ROSE SILVA

Nascida e criada em São Paulo, Pagu


Rodrigues é indígena fulni-ô, único grupo
do Nordeste que conseguiu manter viva e
ativa sua própria língua - o ia-tê. Formou-se
socióloga pela Universidade de São Paulo
(USP) e atualmente é estudante de Direito.
Integra a Comissão de Povos Indígenas da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e
também é secretária Municipal de Mulheres
do PT em São Paulo.
FOTO: ARQUIVO

F
PESSOAL
ilha de pai e mãe in- lá, dos mais distantes aos movimento de moradia,
dígenas, foi criada na mais próximos. E eu pre- já em contato com o PT,
cultura do seu povo, in- cisava retomar um pouco pois várias pessoas da sua
clusive nas dimensões da essa perspectiva de poder família, originária de um
religiosidade e da língua, fazer parte. Diria até que território em Pernambu-
mas como nasceu fora da de conseguir construir co, já dialogavam com
aldeia, precisou passar por essa luta a partir do meu partido. Desde o início
um período de recone- povo, porque a gente tem de sua militância par-
xão com seus familiares. o âmbito geral da luta, ticipa dos movimentos
MARÇO 2023

“Não havia uma dificul- do movimento indígena. indígena e feminista, dos


Mas quando pertence a quais tornou-se liderança
dade nesse reconhecimen-
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um grupo étnico, tem na capital paulista.


to, porque eu já sabia falar
de assumir o compro-
a língua, já tinha todo um Nessa entrevista, ela fala
misso primeiro com ele”,
processo cultural mesmo sobre o desafio da re-
afirma.
ali presente, e eu tinha fa- tomada de direitos que
mília viva na aldeia, como Hoje com 37 anos, Pagu foram usurpados das
tenho até hoje. Eu tenho começou sua luta política mulheres e dos povos
10

todos os meus familiares aos dez anos de idade, no originários durante o


ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
A primeira, quando a
gente pensa a presença
indígena no Brasil, é a
questão racial. O Estado
brasileiro ainda é bastan-
te racista e muito se fala
sobre isso em relação à
questão negra, mas há
pouca formulação do que
é o racismo em relação a
populações indígenas. O
Estado tem como con-
cepção a perspectiva inte-
gracionista da população
indígena e conhece mui-
to pouco nossa diversida-
DIÁLOGO SOBRE TERRITÓRIOS E RETOMADA INDÍGENA QUE ACONTECEU NO CCA BRASILANDIA de. Por exemplo, a gente
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
tem 36% da população
governo genocida de no Brasil”, afirma. indígena do Brasil que
Bolsonaro e sobre os vivem em contexto urba-
caminhos que devem ser Reconexão Periferias no, e uma parte pequena,
percorridos pela socieda- - Passamos por uma que é 3%, vive de fato
de neste novo momento situação terrível depois em território demarcado.
do golpe de 2016 , que Essa perspectiva integra-
da história do Brasil.
retirou muitos direitos cionista não reconhece
Ela destaca que é preciso das mulheres no geral e a presença indígena em
superar a visão romântica das negras e indígenas espaço nenhum, então
de que as pessoas indí- em especial. Depois, o indígena passa a ser
genas vivem em aldeias: com Bolsonaro, vivemos colocado no que a gente
“o que eu acho que é uma política de morte, chama de não-lugar desse
MARÇO 2023

importante, que ajuda a de extermínio de todos debate. Não reconhecem


reforçar não só a presen- esses grupos. A agora, nossos direitos espe-
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ça indígena nos espaços, vivemos uma nova cíficos, que vão desde
mas também, e eu diria época. Por onde o novo demarcação de terras,
que sobremaneira, das governo deveria começar passando por questões de
mulheres indígenas, é para recuperar o que foi saúde, de educação, de
reconhecer a população perdido? enfrentamento à violên-
indígena a partir da sua Penso que existem cia contra mulheres, até
plurinacionalidade. So- algumas perspectivas a perspectiva econômica
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mos mais de 350 etnias que caminham juntas. mesmo. É um Estado


ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
que se formou violando fundo. Agora existe um tica em quase todos os
os nossos direitos, né? A avanço muito grande estados do Brasil, tirando
primeira grande viola- com o novo governo a região Norte do país,
ção foi contra os povos Lula, que é o Ministério a Amazônia, que é onde
indígenas, a partir de dos Povos Indígenas, estão a maioria das terras
uma afirmação, inclusive, pela primeira vez na indígenas demarcadas,
da cultura do estupro. história de constituição tudo o mais está para
Aquela história que todo desse Estado, e temos ser feito. O que significa
mundo tem, “minha avó uma indígena presidin- concretamente que é pre-
foi pega a laço”, reforça do a Funai. Sabemos ciso comprar uma briga
no imaginário a cultura que a chance de avançar com o latifúndio, com
do estupro. Acham que nessas pautas é muito o agronegócio e abrir
era bonito caçar indíge- grande, mas não é uma profundamente uma dis-
nas na mata e aprisionar, briga simples. Temos cussão de modelo econô-
estuprar, casar e fazer um enfrentamento a ser mico e modelo ambiental
virar trabalhadora do- feito com o modelo do que a gente quer para o
méstica. Por que éramos capital e vamos depender próximo período. Penso
considerados bichos. E a de todas as frentes do que esses são desafios
outra vertente econômica governo para que essa
é que foi em cima dos discussão realmente seja “O que eu acho
nossos territórios que se aprofundada.
que é importan-
consolidou uma estrutu-
Como você vê o processo te, que ajuda a
ra de Estado extrativista
pautada no garimpo, no de demarcação de terras reforçar não só
agronegócio, na mo- indígenas daqui por a presença indí-
nocultura, na grande diante? gena nos espa-
lavoura, no latifúndio, Tenho de fato a expecta- ços, mas tam-
na pecuária extensiva. tiva de que seja possível bém, e eu diria
Começou com o extra- ter as terras indígenas que sobrema-
tivismo de pau brasil, demarcadas, pois quase neira, das mu-
foi adentrando para a nenhuma terra indígena
MARÇO 2023

lheres indígenas,
expropriação de terras in- no Nordeste é demarcada
dígenas e aprofundando
é reconhecer a
praticamente. A minha
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essa política, esse modelo aldeia, por exemplo, não população indí-
extrativista que pretende tem a terra demarcada, o gena a partir da
acabar com tudo o que processo está paralisado sua plurinacio-
temos em prol do lucro desde 2010. A gente só nalidade. Somos
e do capital. Então, acho tem um reconhecimento mais de 350 et-
que essas são as discus- enquanto reserva indíge- nias no Brasil”.
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sões estruturantes e de na. Essa condição é idên-


ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
diante dos avanços que participação grandiosa
a gente conseguiu agora que têm em vários movi-
com o governo Lula. mentos sociais feminis-
tas. Importante destacar
Uma das grandes isso, e a gente sabe que
desigualdades estruturais o PT tem muito ainda
de nossa sociedade é a a contribuir com essa
desigualdade de gênero pauta, porque, apesar dos
no mundo do trabalho. avanços, eu sempre digo
Mesmo com governos que a gente está aquém
mais progressistas e do desejado. Mas quando
democráticos, avançamos temos uma perspectiva
pouco nessa questão. de um governo democrá-
Você apontaria quais tico popular, novamente
questões precisam algumas discussões são
ser enfrentadas possíveis para fazer com
COM JANJA LULA.
to feminista ainda não FOTO: ARQUIVO
nessa temática para que a pauta avance. A
PESSOAL
conseguimos concretizar,
avançarmos? Vê o PT primeira delas é o que se como a igualdade salarial.
focando essas questões? chama de interseccionali- Ela está pautada numa
Historicamente o PT é dade da política pública. igualdade de oportuni-
o primeiro partido que, Não se pode ignorar que dades e de direitos, o que
na verdade, enquanto a diferença no mercado significa que enquanto
organização política de trabalho em relação às não houver políticas que
institucional, abre essa mulheres atinge, sobre- garantam a autonomia
discussão em relação ao tudo, as mulheres negras econômica das mulheres,
Estado e até em relação periféricas e as indíge- não vai haver avanço na
às suas próprias estrutu- nas, que estão ali na base discussão da igualdade
ras internas, o que for- da pirâmide ou nem salarial.
çou, inclusive, o debate sequer são lembradas.
sobre cotas de gênero Penso que essa é uma O que eu quero dizer
nas eleições, sobre cotas questão a ser interseccio- com isso? O Estado
MARÇO 2023

nos espaços de direção nal, com todos os minis- realmente precisa se


do PT. Ele realmente térios envolvidos. incumbir da política de
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é o partido precursor cuidados, com amplia-


da discussão de gênero, Como avançar na defesa ção de creches, inclusive
porque as mulheres do da renda igual para noturnas, um sistema de
PT, que são as feministas, trabalho igual? educação que compatibi-
foram para cima dentro Questões muito histó- liza a rotina das mães em
das fileiras internas e ricas do movimento de relação aos seus filhos,
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depois para fora, além da mulheres e do movimen- para que elas possam tra-
ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
nado lugar e acaba cum-
“O Estado conhece muito pouco prindo muito mais horas
nossa diversidade. Por exemplo, de trabalho, recebendo
36% da população indígena do Bra- muito menos do que um
sil vivem em contexto urbano, e homem naquela mesma
uma parte pequena, que é 3%, vive posição. Outro ponto
é que a maior parte das
de fato em território demarcado.
pessoas que ocupam o
Essa perspectiva não reconhece a
trabalho informal com a
presença indígena em espaço ne- renda mais precarizada
nhum, nem nossos direitos especí- são mulheres negras. E
ficos, que vão desde demarcação de a gente precisa enfrentar
terras, passando por questões de esse debate. Nós estamos
saúde, de educação, de enfrenta- saindo de uma pandemia
mento à violência contra mulheres, que só agravou ainda
até a perspectiva econômica mes- mais toda esta dinâmica
de gênero no Brasil e que
balhar e os filhos tenham assumir um cargo de não conseguimos dar
o direito a educação de chefia. Para além da po- conta, porque sequer
qualidade. Precisa criar lítica, do machismo, da conseguimos, por exem-
restaurantes coletivos, estrutura do patriarcado, plo, implementar a renda
lavanderias coletivas, o elas já saem de pronto básica. Não enfrenta-
atrás de qualquer homem mos a violência contra
que representa a distri-
a mulher, sobretudo a
buição do trabalho de branco, por exemplo.
violência doméstica,
cuidados, que hoje está A média geral é que os
que teve picos altíssimos
na mão das mulheres no homens recebem mais do
durante o período. Então
âmbito privado, em suas que as mulheres. Então
a gente precisa conseguir
casas. Muitas vezes essa é tempo de aprofundar o
aprofundar isso, não só
divisão sexual/racial do debate sobre as políticas
reaver direitos perdidos
trabalho impossibilita de cuidado, a divisão de
MARÇO 2023

no governo Bolsonaro,
que as mulheres tenham tarefas organizada pelo
mas avançar.
o grau de estudo neces- Estado, uma discussão
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

sário para o mercado de política essencial para As mulheres de


trabalho, e, quando têm, garantir igualdade salarial modo geral são sub-
muitas vezes até mais do entre homens e mulheres representadas no
que os homens, ainda as- que ocupam inclusive os Parlamento, mas quando
sim elas não conseguem mesmos cargos. Porque falamos das indígenas é
compatibilização numa muitas vezes a mulher ainda maior a ausência
14

estrutura de Estado para trabalha em um determi- delas nos partidos


ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
foi no passado. Penso que
as pautas como igualdade
salarial, direito a creche,
divisão do trabalho
doméstico e do cuidado
com crianças e idosos
têm menos visibilidade.
Você concorda que seja
assim? Como vê essa
mudança?
Existe um movimento
histórico que possibilitou
isso num primeiro perío-
do todo da discussão do
feminismo aqui no Bra-
POSSE COMO SECRETÁRIA MUNICIPAL DE MULHERES DO PT. FOTO: ARQUIVO PESSOAL
sil, que se deu sobretudo
nas décadas de 1960
políticos, nas assembleias que sejam eleitas. Precisa- e 1970, até por conta
legislativas, no Congresso mos discutir no mínimo de uma conjuntura de
Nacional e nas câmaras 50% na cota de chegada. enfrentamento à ditadura
municipais. O que os Então a gente vai ter que militar. E havia uma um
partidos podem fazer começar a discutir lista processo de organização
para aumentar essa paritária, mudança na muito contundente das
representação? legislação eleitoral que mulheres em torno de to-
garanta que 50% das das essas pautas históricas
Já está mais do que no
mulheres mais votadas
tempo de haver mais das mulheres, sobretudo
estejam de fato ocupan-
mulheres eleitas para as mais pobres, da classe
do esses espaços, cargos
discutir autonomia sobre trabalhadora. E o que
nos legislativos do Brasil,
o corpo, legalização do começou a acontecer no
para que realmente tam-
aborto, trabalho, renda e momento em que esse
MARÇO 2023

bém possamos avançar


enfrentamento à fome e movimento se levantou
em uma discussão sobre
à miséria. Só que a gente no Brasil é que houve
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

política pública.
não vai conseguir che- uma espécie de crimina-
gar a isso se não passar Do ponto de vista da lização da discussão do
pela discussão de cotas. opinião pública, hoje a feminismo. Então, muita
Temos cota de saída pauta do feminismo está gente achava que as femi-
e garantimos 30% de mais ligada às liberdades nistas são anti-homem.
mulheres inscritas e suas individuais do que aos E toda a estrutura do
15

candidaturas, mas não direitos coletivos, como patriarcado se levantou


ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
contra os movimentos mento” são um exemplo que ela chegue ali, no
feministas, houve uma bem típico disso. A gente espaço de poder. Todo
criminalização mesmo, estava discutindo igual- o resto a gente não está
a um ponto de que dade de direitos, redu- discutindo, com quais
durante muito tempo o ção de carga horária de condições aquela mulher
feminismo não era uma trabalho, distribuição do chega ali, se vai sofrer
discussão popularizada, trabalho, de cuidados e o assédio sexual, se vai
embora houvesse uma que o liberalismo estava sofrer violência domésti-
plena compreensão dos fazendo? Pegando essas ca, se vai ter alguém que
trabalhadores em relação bandeiras feministas de divida esse trabalho de
à necessidade de atender esquerda e dizendo “Ah, cuidados com ela dentro
e garantir os direitos empoderamento!” Que- de casa ou se o Estado
das mulheres trabalha- remos então uma CEO vai combater essa opres-
doras. Mas ainda assim, de uma empresa que são. É o que a gente tem
da perspectiva da pauta ganhe 30 mil reais, não visto acontecer cada vez
do aborto, de política importa se ela vai traba- mais: o liberalismo está
institucional, a gente lhar dezesseis horas por se apropriando dessas
caminhava muito lenta- dia, se vai dar conta dos pautas. Então, a gente
mente. A discussão sobre trabalhos de cuidado da sempre discutiu as coisas
o voto, a participação família e dos cuidados de em termos de solidarie-
feminina, que mesmo si mesma, o que importa dade. O liberalismo, em
na Constituição Federal
de 1988 ainda não ficou
exatamente estruturada.
Com o passar dos anos e
a pressão do movimento
social feminista que de
fato era muito grande
garantimos o avanço de
inúmeras pautas de di-
reitos das trabalhadoras,
MARÇO 2023

de discussões que antes


não eram encaradas na
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

perspectiva da estrutura
do Estado. Então o que
começou a acontecer?
Esse debate começou a
ser apropriado por um
certa pauta liberal. Ter-
16

mos como o “empodera- GRAVAÇÃO PRO PROJETO AULA LIVRE - "MINHA ÁFRICA BRASILEIRA E POVOS INDIGENAS"
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
termos de sororidade e para as ruas enquanto relação a isso? E a
empoderamento. E assim movimento feminista e sociedade, pode fazer
continua, na verdade, recoloca as bandeiras, alguma coisa?
jogando na mão das mu- porque nós estamos O feminicídio é o pro-
lheres a responsabilidade falando de um processo jeto de genocídio em
sobre as transformações, coletivo. O feminismo
relação às mulheres. En-
dizendo que podem ser não é a supremacia da
tão, primeira coisa é que
feitas de maneira indivi- mulher em relação aos
estamos saindo de um
dual. Então não se discu- homens. O feminismo é
período em que o gover-
te igualdade coletiva, não um projeto de igualdade
no foi incentivador desse
se discute qual é a res- entre mulheres e homens
tipo de violência, desse
ponsabilidade do Estado e, portanto, para ele exis-
tipo de prática contra as
no enfrentamento das tir tem de haver direitos
mulheres, e por isso eu
estruturas do patriarcado. e garantias de direitos
diria que o feminicídio
Não se discute igualdade para as mulheres, que
se ampliou muito nesses
a partir da estrutura eco- estão sobretudo supri-
últimos anos. A pande-
nômica. Não se discute, midas dentro dessa base.
por exemplo, a necessi- mia tem uma responsabi-
É uma revisão profunda
dade de que a gente tem lidade nisso? Tem. Mas a
do sistema e o fim do pa-
que rever o sistema de gente sabe que a respon-
triarcado. Não é suficien-
divisão sexual, racial, do sabilidade maior vinha
te que uma mulher seja
trabalho no Brasil. Então dos incentivos de um
CEO de uma empresa
não tem problema, você discurso misógino feito
sem a discussão de que
é uma empreendedora, pelo então presidente da
o filho dela precisa ter
você trabalha 16 horas, República, o Bolsonaro,
creche pública.
você continua dando né? Foi o que realmente
conta do seu filho, o Sobre o aumento do fez estourarem os índi-
marido não, e não vai feminicídio durante a ces de violência contra
pagar pensão, porque, pandemia, da violência a mulher no Brasil. Na
afinal de contas, você é contra a mulher e a contrapartida, não havia
uma mulher empoderada normalização que nenhuma política pú-
MARÇO 2023

que ganha dinheiro, não acontece no dia-a-dia. blica atuante para fazer
precisa do homem pra Todo dia uma mulher frente a esse índice de
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

nada. Só que a gente não é morta, as pessoas feminicídio e de vio-


está discutindo o quê? têm contato com essa lência doméstica. Já era
A responsabilidade da informação, a vizinha sabido, a partir do que
igualdade dos papéis. E espancada é levada para estava sendo indicado na
esse é o discurso atual. E o hospital e ninguém China, que esse período
é por isso que é impor- faz nada. Quais políticas de quarentena no Brasil
17

tante quando a gente vai públicas existem em ia acontecer, então, al-


ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
gumas medidas possíveis freram um corte de mais atender mulheres vítimas
que não foram tomadas. de 50% de orçamento. E de violência e os equipa-
Todos os investimentos aí tudo o que que a gente mentos e organismos de
destinados para a saúde chama de casas de acolhi- política para as mulhe-
que constavam como da, os abrigos e as casas res deixaram de existir.
emergência humanitária de passagem que recebem Então, a gente vai ter de
não tinham nenhum a mulher vítima de vio- estruturar tudo isso, essa
tipo de protocolo, por lência não funcionavam. é a verdade. E junto com
exemplo, específico para E o sistema de denúncia isso, precisamos fazer
atender mulheres vítimas foi desligado durante um debate com a socie-
de violência doméstica o governo Bolsonaro, dade, pois as pessoas não
ou de ou qualquer outro então, nem sequer temos se envolvem. Ainda existe
tipo de violência, sexual com precisão quais eram na cabeça aquela frase em
e outras. Estamos em um esses dados de violência briga de marido e mulher
período em que teremos contra as mulheres, por a gente não mete a co-
de retomar muito todas que o 180 simplesmente lher. Ou, quando a pes-
as políticas públicas que não funcionou. Outras soa mete a colher, mui-
foram desmontadas. frentes, como a própria tas vezes não sabe qual o
Antes a gente tinha pro- saúde, que não tinha caminho a ser feito, por
gramas como o Patrulha mais protocolo para exemplo, que se pode ir
Maria da Penha, que
garantia às mulheres que
estavam sob medida pro-
“É o que a gente tem visto acon-
tetiva acionar o serviço tecer cada vez mais: o liberalismo
público na hora em que está se apropriando dessas pautas.
o agressor se aproxi- Então, a gente sempre discutiu as
masse. Agora, a mulher coisas em termos de solidariedade.
tem medida protetiva, O liberalismo, em termos de soro-
o agressor se aproxima, ridade e empoderamento. E assim
comete o feminicídio e
continua, na verdade, jogando na
nada acontece. Ou pura
MARÇO 2023

mão das mulheres a responsabi-


e simplesmente a mulher
nem consegue a medi- lidade sobre as transformações,
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

da protetiva. Para além dizendo que podem ser feitas de


dos serviços que a gente maneira individual. Então não se
chama de rede de enfren- discute igualdade coletiva, não se
tamento à violência con- discute qual é a responsabilidade
tra as mulheres, foram do Estado no enfrentamento das
desmontados durante o estruturas do patriarcado.”
18

governo Bolsonaro e so-


ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
fazer corpo de delito sem visibilidade dessa discus- as bandeiras específicas
necessariamente ter que são, porque os não indí- das mulheres indígenas,
ter registrado boletim de genas têm uma percep- e por isso organizamos
ocorrência. ção muito equivocada de a primeira e a segunda
que, dentro dos nossos Marcha Nacional das
Existe uma leitura de que territórios e dos nossos Mulheres Indígenas. Em-
nos últimos anos cresceu espaços, as mulheres não bora a liderança das mu-
muito a organização são lideranças. É como se lheres indígenas já exista
das mulheres indígenas, as indígenas sempre obe- no movimento há muitos
porque ela se tornou decessem aos homens. anos, o que eu acho que
visível para a sociedade. E, na verdade, na maior é importante, que aju-
Qual é a sua sua visão, parte das dinâmicas das da a reforçar não só a
cresceu mesmo? etnias que a gente tem no presença indígena nos es-
Na verdade, a gente Brasil, as mulheres são paços, mas também, e eu
diria que sobremaneira,
sempre esteve presente sempre parte muito forte
das mulheres, é crucial
em quase todas essas nos processos de decisões
começar a reconhecer
lutas, tanto dentro dos políticas internas. Pen-
a população indígena a
nossos territórios, quanto sando que se trata de um
partir da sua plurinacio-
da perspectiva nacional. Estado fundamentado
nalidade. Somos mais
Mesmo quem está lá em no patriarcado, se ele de
de 350 etnias, cada uma
Brasília, na política de maneira geral não atende
tem a sua especificidade,
demarcação de terras, aos interesses gerais das
a sua dinâmica cultural,
na reivindicação sobre mulheres, atende menos interna, política,Algumas
saúde, sobre educação, a ainda aos interesses das são mais relacionadas a
gente sempre esteve pre- mulheres indígenas. A um sistema de organiza-
sente. O que eu acho que gente tinha a necessidade ção patriarcal, mas temos
faltava muito era uma também de dialogar com etnias que originalmente
não são patriarcais, são
ilhas de organização
matriarcal. Embora não
MARÇO 2023

se possa negar que no


processo de colonização
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

dado, até a violência


com que ele adentrou
os territórios indígenas
deixou um legado do
patriarcado para uma
grande parte dos povos
19

FOTO: ARQUIVO PESSOAL indígenas, e isso também


ENTREVISTA COM PAGU RODRIGUES
está em discussão inter- demandas das mulhe- resistência que a gente
namente em cada terri- res indígenas e reforçar faz há 523 anos é a prova
tório. Mas da perspectiva necessidade de que agora, de que é possível pensar
da política do Estado, dia 8 de março, temos outra lógica produtiva,
precisa começar a haver um ato das mulheres outra lógica de mundo,
ter um diálogo mais para justamente levar às para garantir uma mí-
ampliado. Em relação às ruas todas essas deman- nima continuidade de to-
mulheres indígenas que das, bandeiras, pressionar dos os direitos da nature-
sofrem violência, é dez o governo para que a za e de todo mundo.
vezes mais difícil você ter gente consiga avançar
equipamento e forma- nos nossos direitos e falar
lizar uma denúncia. da importância que a
Ela leva cinco dias para população indígena tem
conseguir chegar. Há in- e de maneira estratégica,
dígenas que nem sequer para repensar o modelo
conseguem sair do seu do capital. A nossa luta
território ou compreen- realmente é ponta de
der o que elas precisam lança na revisão desse
acionar para terem uma sistema produtivo, que
rede de apoio. Quando é uma política de morte
eu penso no agronegócio, mesmo para a população
por exemplo, há vários de maneira geral. E aí a
territórios indígenas
onde posseiros, grileiros,
latifundiários sequestram
mulheres indígenas, estu-
pram mulheres indígenas
e usam isso, inclusive,
como moeda de troca,
como forma de fazer, por
exemplo, com que aquela
MARÇO 2023

etnia se retire daquele


território.
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

Como você vê a luta


indígena no Brasil hoje?
Estamos em um processo
muito importante no
Brasil de garantir a visibi-
20

lidade dessa pauta, dessas FOTO: @RICARDOSTUCKERT


PERFIL
Ginga promove autonomia das mulheres no
Subúrbio Ferroviário de Salvador
ROSE SILVA

O Movimento de Mulheres do Subúrbio


Ginga surgiu em 2010, com o objetivo
de realizar atividades para proteção e
atendimento às mulheres vítimas de
violência, além de promover sua autonomia
financeira e psicológica. O grupo realiza
reuniões, oficinas, cursos para a formação e
conscientização das mulheres da periferia
de Salvador sobre seus direitos. O núcleo
gestor do coletivo reúne em torno de 15
integrantes, que realizam atividades
mantidas por contribuições próprias, de
moradores da comunidade e de parceiros.
CLAUDIA ISABELE PINHO

N ascida no Recônca- pela gestão comunitária cas públicas. Ao mesmo FOTO: ACERVO DO
COLETIVO GINGA
vo, Claudia Isabele e o cuidado coletivo. As tempo, mulheres que
Pinho vive no Subúrbio mulheres que atuam nas atuavam na gestão co-
Ferroviário, em Salvador, associações de bairro, munitária das periferias
desde os 2 anos de idade e mesmo que muitas vezes deram um passo à frente
é mãe de uma menina de sejam chefiadas por ho- no processo de politiza-
MARÇO 2023

4 anos. “Minha apro- mens, provêm o suporte ção dessa gestão comu-
ximação com o Ginga a outras mulheres na nitária. Começaram a se
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

foi em um momento de maternagem e na aten-


organizar em coletivos, a
ção com os mais velhos”,
confluência e efervescên- assumir CNPJs, a dispu-
lembra ela.
cia de várias mulheres. tar editais públicos do
Nós temos uma tradição Cláudia relata que nos Estado e de fundos pri-
das negras no Brasil, em anos de 2010 e 2011 ha- vados que pensavam os
particular na periferia de via uma reconfiguração direitos das mulheres e os
21

Salvador, que se define e incremento das políti- direitos humanos. Havia


PERFIL
Desenvolvimento da
Comunidade Negra. Em
2013, promoveu uma
“Blitz Social” para fazer
uma uma atualização
de como a notificação
compulsória de violên-
cia contra as mulheres
(LeiI 10778/2003) estava
ANTIGA SEDE DO COLETIVO, NO SUBÚRBIO FERROVIÁRIO, SALVADOR (BA) acontecendo nas unida-
FOTO: ACERVO DO COLETIVO GINGA
des de saúde do Subúrbio
também a luta pelo aces- operadas. E promoveu Ferroviário. A ação se de-
so ao ensino superior. uma formação chamada senvolveu com as partici-
Águias Negras, para mu- pantes batendo de porta
“A Ginga surgiu nessa lheres negras, cujo foco em porta das unidades de
convergência, que foi
era exercer o controle so- saúde para saber como
também um encontro ge- como os profissionais
cial do orçamento públi-
racional. Suas fundadoras lidavam com a notifica-
co, das ações, do discurso,
foram mulheres, princi- ção compulsória. Desde
do gap gerado entre o
palmente na faixa dos 40, então, as integrantes do
discurso e a prática.
50 anos, que tinham a coletivo atuam em coa-
caminhada mais extensa Hoje o coletivo atua em lizão na gestão Instituto
na comunidade e estavam várias frentes, entre elas Renascer Mulher e outras
muito incomodadas com a presença nos conselhos outras organizações para
os processos de feminiza- de Direito da Mulher e entender a documenta-
ção da pobreza, de pau- no Conselho Estadual ção, como propor um
perização das mulheres,
de estigmatização e da
necessidade de acesso à
universidade”, afirma.
MARÇO 2023

Em 2012, a Ginga for-


mou a Rede pelo forta-
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

lecimento do controle
social nas políticas públi-
cas, que atendia ao desejo
coletivo de participar na
construção das soluções,
de fiscalizar como essas
22

ATIVIDADE NA ATUAL SEDE DA GINGA (CEDIDA PELO ESTADO).


soluções estavam sendo FOTO: ACERVO DO COLETIVO GINGA
edital ou uma ação para
mulheres.

Cláudia destaca que apesar


da conjuntura pós-golpe
de 2016, que se desdobrou
no governo Bolsonaro, um
golpe ainda mais assertivo
de ataque à democracia e
a todo o ecossistema que a AMULHERES ATUANDO NA RUA. FOTO: ACERVO DO COLETIVO GINGA

sustenta, os coletivos acaba-


ram sendo também espaço vivemos na pandemia, quem acessou alguns
de encontro, de resistência, e a retirada de direitos espaços, projetou vozes e
inclusive no âmbito pessoal também”. isso foi algo que acalen-
e comunitário. tou os corações. ”A gente
“Nós, da Ginga, esti- precisa investir em pro-
A Ginga precisou se vemos em processos de duzir memória, em trazer
engajar para receber resistência e de sofrimen- mulheres cada vez mais
produtos de higiene, de to. Atrasou nossa pro- jovens para a produção
alimentação e distribuir fissionalização da gestão dessa memória coletiva
na comunidade. “Foi para ocupar mais espaço, de práticas, inclusive de
um baque significativo, porque a gente precisava vanguardistas, porque isso
inclusive na autonomia lidar com o tiroteio da é um movimento pelos
dessas organizações, madrugada e a mana que direitos humanos e direito
tinha uma parenta que das mulheres no Brasil.
porque nosso coletivo,
perdeu a fonte de renda A produção de práticas
por exemplo, se mantém
durante a pandemia, vanguardistas é que vai
do que a gente produz
pensar que a comunida- pressionar o Estado a re-
enquanto trabalhadora.
de tinha suas questões conhecer e munir as mu-
Então tivemos dificul-
também. Foi um um lheres periféricas de mais
dade de manter as ações.
banzo coletivo, por assim
MARÇO 2023

Muitas organizações ao mecanismos para acesso a


dizer. Um abalo do qual, direitos”, conclui.
nosso redor, de mulhe-
espero, a gente comece
RREVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

res, que a gente conhece,


a se recuperar com mais
descontinuaram suas ini-
fôlego agora. Mas resisti-
ciativas, porque estavam
mos”, comemora.
precisando simplesmente
cuidar de suas crianças, Ela aponta como demar-
de seus idosos, viver o cador dessa resistência
luto pessoal, comunitá- que havia uma autoes-
23

rio, coletivo, que todas tima não esquecida, de


Quando novas personagens entram em cena
VIVI MARTINS, SECRETÁRIA NACIONAL DE CULTURA DO PT

“Para a esquerda, a Cultura é uma boa porta


de entrada para despertar a juventude para a
política, porque tem ideias de liberdade muito
fortes. Talvez por isso os inimigos da democracia
têm tanto medo da Cultura.” Vivi Martins, a
nova secretária Nacional de Cultura do Partido
dos Trabalhadores, aposta que quem apoiar e
compartilhar expressões culturais vai ter mais
chances na disputa de valores por um país mais
justo e solidário.

será de forma momentâ- lado de ativista na defesa


nea”, diz Vivi. da economia criativa e a
defesa dos trabalhadores
Acompanhe a entrevista: da Cultura no Legislativo.
Estou Secretária Nacional
Quem é você? Conte um
de Cultura do PT.
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
pouco sua história.
É uma das perguntas Quais são as atribuições
Mas quais expressões, mais difíceis da vida. Ao da Secretaria Nacional
quais manifestações cul- mesmo tempo me coloca de Cultura do PT? O que
turais? A diferença entre no tempo e na história pode fazer além daquilo
a atração que pode ser que é responsabilidade
MARÇO 2023

do lado certo que deve-


exercida pelos valores da ria estar, que é o PT e a dos governos?
direita e da esquerda pode
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

defesa da democracia. A Secretaria Nacional de


se dar justamente naquilo Meu nome é Vivi Mar- Cultura (SNCULT) é a
que cada um dos lados tins, mulher, designer, instância partidária de
preconiza para o futuro: gorda, gestora cultural, debate e formulação de
“Qualquer instrumento carioca, especialista em políticas públicas de cultu-
de violência para atrair a moda sustentável. Duran- ra, atuando com a socie-
juventude para a política te a construção da vida dade civil na ação e defesa
24

pode surtir efeito, mas profissional, destaco meu de projetos de desenvolvi-


mento por meio da cida-
dania cultural. A Secre-
taria apoia parlamentares
em pautas no Congresso
Nacional, auxilia gestores
na busca de soluções que
contribuam para o avanço
das regiões e cria espaço
de debates nas câmaras e
assembleias pelo país.

Recentemente a presiden-
ta Gleisi falou que “o PT
é guardião do projeto que
ganhou a eleição”. E isso
se aplica a todas as áreas e
setores, a Cultura muito
fortemente inclusa. Cabe FOTO: ARQUIVO PESSOAL

à Secretaria, junto com


recriar o Ministério da O Ministério da Cultura
todo o campo democráti-
Cultura. Vamos criar está no Planalto e a Se-
co na sociedade civil, ser a
comitês culturais em cada cretaria seguirá o mesmo
guardiã do projeto desen-
capital desse país para que na planície. Lado a lado,
volvimentista da cultura
a cultura seja reconhecida pois tem muito do nosso
na centralidade da pauta
como fonte de geração de pensar ali e muito dali
política que venceu as
renda e emprego”. aqui, a cultura em prol da
eleições em 2022. Duran-
democracia é exatamente
te a campanha o presi-
Lula cumpriu sua pro- esse entendimento que
dente Lula disse: “Vamos
messa, uma vez que o habita o renascer do olhar
cuidar com carinho de
Ministério da Cultura cuidadoso por um Brasil
um dos maiores patrimô-
MARÇO 2023

foi criado e os comitês profundo que nos mareja


nios do povo brasileiro,
que é a cultura. A cultura de cultura começam a os olhos e faz com que
RREVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

será tratada como um tomar forma. A Secreta- toda a luta valha a pena.
bem de primeira necessi- ria Nacional de Cultura
do PT seguirá como Quais os seus planos para
dade, porque ela alimenta
quando fez a campanha, o mandato de secretária
nossas almas. Precisamos
toda a linha foi no sen- nacional de Cultura? Qual
de música, cinema, teatro,
tido desenvolvimentista a prioridade número 1?
dança, artes plásticas.
Precisamos de mais livros do Estado. Com êxito Os planos são vários, mas
25

e menos armas. Vamos publicamente logrado. a Cultura é no plural,


somos um coletivo. jeto político que ganhou Estado democrático de
Primeiro, conversar com a eleição como enrique- direito na Cultura seja
os gestores da cultura das ceremos o debate públi- plena. Intra e extrapar-
diversas instâncias e saber co, para que a visão do tidária, é sistêmica. Um
o que somos no ponto de mercado não seja a única projeto claro é o debate
vista da execução da polí- apresentada à sociedade. da SNCULT sobretudo
tica pública do setor hoje A Secretaria tem a missão na América Latina e nos
e como construiremos o de consolidar e ampliar outros países do cone
legado e/ou podemos aju- a base orgânica. Somos sul. O chamado debate
dar no Executivo. Assim artivistas e esse termo south-south.
como no Legislativo. Em deve ser exaltado porque Como foi que você
paralelo abrir o escritório para além de fazedores, o despertou para a
da Cultura PT para que PT colocará a discussão militância política?
seja um apoio aos nos- sempre na mesa de/para/
sos secretários estaduais, Sou filha adotiva, esse
com a Cultura e o povo
membros do Coletivo foi meu primeiro "baque
brasileiro. O planejamen-
Nacional e demais qua- social". Nasci e cresci
to estratégico apontará
dros do setor. Abrir diálo- na zona sul do Rio de
caminhos. Então estou
Janeiro, tive acesso, mas
go onde for possível e/ou falando como secretária, era pobre. Filha do pro-
continuar o diálogo, ouvir mas a reunião do Cole- letariado, mãe manicure/
e atuar na sociedade. Ter tivo e o planejamento vendedora de roupa/
troca contínua com gesto- complementarão a fala. fazedora de quentinha
res de todas as esferas, até
e pai confeiteiro/vende-
para entender, disseminar A palavra de ordem da
dor de doce. Meu pai
e ampliar a voz. Não só SNCULT é cooperação
faleceu cedo. Estudava
somos guardiões do pro- para que a retomada do
em colégio de freira, era
uma mensalidade que fui
vendo como esmagava
a nossa renda. Essa foi a
segunda percepção. Me
MARÇO 2023

despertou lutar por um


estudo de qualidade com
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

acesso amplo, mas não


tinha o entendimento
naquela idade como falo
aqui, era intuitivo. Tinha
13 para 14 anos quando
fui para o movimento
26

FOTO: ARQUIVO PESSOAL


estudantil, comecei a tra-
balhar com 14. Para não Nós precisamos estar de violência para atrair a
deixar de militar, me filiei atentos aos sinais dos juventude para a política
aos 17 anos por ocasião tempos. O movimento pode surtir efeito, mas
da venda da antiga Vale Hip Hop e o funk falam será de forma momentâ-
do Rio Doce. Enveredei muito. Moda, design e nea. Minha formação é
no movimento estudantil arte digital cada vez mais Moda e observo sempre
universitário e a Cultura criam jovens artistas, o o comportamento da
foi um caminho natural mundo dos games é a cul- juventude na linha de
de formação e luta. São tura sobretudo do meta- frente das lutas. Pen-
24 anos no PT e não verso. Designers, chefs de so que esquerda como
vou dizer que eu era uma cozinha, artesãos. E sim, a libertadora deve colocar
garota, pois a minha alma cultura clássica vem com a Cultura a serviço dessa
jovem assim segue. força nessa geração. A ju- conquista. Dá match!
ventude que experimenta,
Há uma disputa política
se permite, mescla.
muito intensa no país.
Como conquistar mais Na retomada do carnaval
jovens para os ideais de vimos diversos blocos
esquerda? com jovens misturando
A juventude atual é mais variados ritmos musicais
pragmática e pós-polí- e instrumentos. Ao mes-
tica do que a da minha mo tempo a juventude
geração. Não penso ser se interessa pela cultura
ruim, são guiados por popular como festa juni-
seu instinto e criativida- na, folia de reis, fanfarra
de. Muitos criam o pró- e outras várias expressões
prio negócio, começam como a arte circense.
do zero. Se expressam
culturalmente de diver- Para a esquerda a Cul-
sas formas, seja como tura é uma boa porta de
MARÇO 2023

consumidores dos bens entrada para despertar a


culturais ou como cria- juventude para a políti-
RREVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

dores das suas próprias ca, porque têm ideias de


expressões, com o intuito liberdade muito fortes.
de mostrar à sociedade e Talvez por isso os inimi-
ao mundo a importância gos da democracia têm
dos seus valores e da sua tanto medo da Cultura.
cultura no processo de A juventude desconhece
transformação da realida- o medo, por exemplo.
27

de vigente. Qualquer instrumento


ARTE
Anuby Messias

A nuby Messias é uma mulher trans,


multiartista, de 21 anos, que nasceu na
Vila Prudente, em São Paulo, e foi criada no
município de Guarulhos. É rapper, poeta,
performer e cineasta, formada em direção de
arte pelo Instituto Criar de TV, Cinema e
Novas Mídias. Foi diretora, roteirista e pro-
dutora do curta-metragem “Entre os Len-
çóis”(2020), selecionado no projeto Curta em
Casa e disponível na Globo Play. Autora dos
singles "Avançada", “No Haters”, “Eu mere-
ço”, "Incrível demais" e "Rio Nilo", apresen-
tou-se com shows no mês do hip hop nos anos
de 2020, 2021 e 2022 e em outros espaços
culturais das periferias do estado de São Paulo.
Também trabalhou como assessora de apoio
parlamentar da vereadora Erika Hilton, a mais
bem votada em São Paulo, na Câmara Muni-
cipal paulistana, acompanhada de uma equipe
FOTO: @DANISOUZAFOTO
chamada House of Hilton.

"Eles me encontram em bares e me compram na avenida, eu sou incrível demais,


mas não pra ser sua mina"

Composição Autoral: Incrível demais.

REDES SOCIAIS:
MARÇO 2023

Instagram: @anuby.messias
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

Facebook: Anuby Messias


Youtube: https://www.youtube.com/@anubymessias1980
28
AGENDA DE MARÇO DE 2023

Programa Quinzenal Reconexão


Periferias Terça- feira, às 17h (horário
de Brasília). No canal da Fundação
Perseu Abramo: www.youtube.com/
FundacaoPerseuAbramo

Programa Voz da Mulher


produzido pela Associação Mulheres
na Comunicação - Rádio Web
Mulheres na Comunicação
www.mulheresnacomunicacao.com/
Aos sábados, às 8h, retransmitido de
segunda a sexta-feira: 6h, 13h, 19h
e 23h. O programa está disponível
no Spotify, Google Podcasts,
Jonas: Dentro do Grande Peixe
Apple Podcasts e Anchor, no canal
“Mulheres na Comunicação” Data: 16/03, 17/03, às 15h, e 18/03, 23/03,
24/03, 25/03, 30/03 e 31/03, às 19h
Exposição Coletiva com artistas Onde: Teatro Sesc Senac Pelourinho
visuais locais - Largo do Pelourinho, 19 - Pelourinho -
O Sesc convidou 8 mulheres artistas Salvador, BA.
que representam a força, criatividade, Ingressos: dias 16/03 e 17/03 têm entrada
empreendedorismo e cultura de nossa gratuita e exclusiva para escolas públicas,
região, a expor coletivamente suas obras. ongs e projetos sociais. Nos demais dias,
Data: 13 a 17/03, das 8h às 12h e das 14h ingressos a partir de R$ 10
às 18h
Onde: Sesc Centro - Avenida Pres. Dutra, CCJ – BATALHA DA JUVENTUDE
2765 - Centro - Porto Velho, RO. Data: 20/03/2023 às 19h
Onde: Centro Cultural da Juventude
Fórum Amazônia e Carbono Neutro Ruth Cardoso - Foyer do Anfiteatro Av.
Data: 14/03, às 8h30, a 15/03 às 18h Dep. Emílio Carlos, 3641 - Vila Nova
Onde: Centro de Convenções do Cachoeirinha - São Paulo, SP.
Amazonas Vasco Vasques - Avenida
Constantino Nery, 5001 Flores - Manaus, Palestra Educação Clássica e
MARÇO 2023

AM. Ingressos: 2 KG de alimentos não Astronomia


perecíveis. Para mais informações aqui Palestra Educação Clássica e Astronomia
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

Data: 21/03 às 17h


Exposição Nova Geração do Cordel Onde: Instituto de Geográfico e
Data: Até 16/03 Histórico da Bahia - Avenida Joana
Onde: Centro Cultural da Juventude Angélica, 43, Em frente ao Shopping
Ruth Cardoso - Foyer do Anfiteatro Av. Center Lapa , Nazaré Salvador, BA
Dep. Emílio Carlos, 3641 - Vila Nova Ingresso: Gratuito
Cachoeirinha - São Paulo, SP. Para mais informações
29
AGENDA DE MARÇO DE 2023
O território dos Quilombos Dona Bonecos de Todo Mundo - Alício
Bilina, Cafundá Astrogilda e Amaral convida Mundu Rodá e
Camorim. Um olhar...(Prof@. Luz Mestre Sapopemba (SP) - Show
Stella) Musical
Data: 23/03 às 19h Data: 25/03 às 21h
Onde: Online, com link divulgado a partir Onde: Sesi Taguatinga - St. F Norte QNF
da inscrição. Mais informações 24 - Brasília, DF
Ingressos gratuitos disponíveis aqui
Editora Diálogos INsubmissos
realiza evento promocional à Slam da Guilhermina - Lançamento
Formação para Docentes Negres do do livro “Vinho retinto”
Nordeste Data: 31/03 às 19h
Data: 24/03 às 19h Onde: Local: Praça anexa à Estação
Onde: Restaurante Roma Negra - Guilhermina Esperança - São Paulo, SP
Largo do Cruzeiro de São Francisco,
7 - Primeiro andar - Pelourinho -
Salvador, BA.
Ingresso: A taxa solidária para
acesso ao evento são pacotes de
absorventes, que serão doados a
organizações que atuam no combate
à pobreza menstrual

Diálogos temporais
A importância do trabalho culinário de
mulheres negras desde o período da
escravidão e as condições de trabalho
de cozinheiras negras nos dias atuais -
com Taís Machado
Data: 24/03 às 19h
Onde: acesse aqui

Café, Prosa e Mulher - 5° Edição


Data: 25/03, das 8h30 às 18h
MARÇO 2023

Onde: Avenida Deputado Jamel


Cecílio, 2690, Jardim Goiás - Goiânia,
GO. Mais informações
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
30
OPORTUNIDADES

Edital Foco Prazo Link


Edital para Os proponentes selecionados Até 15 de março https://prosas.com.
Ocupação do irão ocupar com atividades de 2023 br/editais/13057-e-
Museu Julio de e ações o Museu Julio de dital-para-ocupa-
Castilhos Castilhos com apoio de sua cao-do-museu-ju-
secretaria. Sendo que as lio-de-castilhos
propostas para ações no Museu
devem se relacionar com
história, sociologia, museologia
e antropologia do Rio Grande
do Sul ou do Brasil

Concurso Cultural O Edital tem como objetivo Até 15 de março https://prosas.


'Contos RJ' realizar um concurso de de 2023 com.br/editais/
contos, a fim de promover a 12966-concurso-
literatura brasileira e promover -cultural-contos-rj
escritores no Estado do Rio de
Janeiro. Sendo patrocinado
pela Secretaria de Estado de
Cultura e Economia Criativa
(SECEC-RJ).

4º Prêmio Hermilo O Edital tem como objetivo Até 17 de março https://prosas.com.


Borba Filho de premiar obras literárias de 2023 br/editais/12741-4o-
Literatura de pessoas escritoras de -premio-hermilo-
Pernambuco, a fim de valorizar -borba-filho-de-lite-
e incentivar a produção ratura
literária de cada macrorregião
do Estado, envolvendo o
Agreste, Região Metropolitana,
Sertão e Zona da Mata. Sendo
patrocinado pela Secretaria de
Cultura de Pernambuco.

Edital de Projetos O Edital tem como objetivo De 20 de março https://prosas.com.


Arena da Cultura e selecionar propostas de de 2023 até 23 de br/editais/13019-e-
Integrarte Organizações da Sociedade Março de 2023 dital-de-projetos-a-
Civil (OSCs) a fim de rena-da-cultura-e-
desenvolver e realizar ações -integrarte
formativas de projetos Arena
da Cultura e Integrarte.
MARÇO 2023
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
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OPORTUNIDADES

Prêmio de Nova Estão abertas as candidaturas Até 31 de março https://www.


Dramaturgia de para a 3a edição do Prémio de 2023 cepatorta.org/
Autoria Feminina Nova Dramaturgia de Autoria premio-literario
Feminina, do festim Esta
noite grita-se / Companhia
Cepa Torta, em parceria com
a editora Douda Correria.
Este prémio pretende
promover, reconhecer e
divulgar a dramaturgia de
autoria feminina em língua
portuguesa. O concurso está
aberto a todas as pessoas
singulares, maiores de idade,
que se identifiquem com
o gênero feminino, sejam
cisgénero ou transgênero, e
que queiram propor uma obra
dramatúrgica inédita e nunca
representada.

I Primeiro Prêmio de Criar um poema em áudio é Até 15 de maio https://myclappy.


Poesias Áudiobook muito fácil e rápido, o próprio de 2023 com/edital/8194/i-
Windows tem um gravador prEmio-de-Audio-
de voz em todas versões, este
prêmio além de ajudar na
acessibilidade para deficientes
visuais, gerará um audiobook
de poesias e videobook, com
seu poema e sua voz, contando
e lendo o poema e gravando
em mp3 ou mp4. Esperamos
seu poema contado com as
vozes do Brasil, em uma edição
onde é inédita no Brasil, um
prêmio de áudio de poesias,
participe e verá que sua voz
vale tanto como sua escrita.
Produção Revista Editais
Culturais e seus parceiros
editoriais de áudio book.
MARÇO 2023
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
32
OPORTUNIDADES

Chamada Semeia A iniciativa visa identificar, Até 20 de março https://capta.org.


Fundação Cargill estimular o desenvolvimento de 2023 br/oportunidades/
e apoiar iniciativas chamada-semeia-
socioambientais realizadas -fundacao-cargill/
por cooperativas, negócios
de impacto e organizações
da sociedade civil (OSC). Para
participar da chamada, é
necessário que as iniciativas
estejam alinhadas com
a missão da Fundação
Cargill, que é de promover
a prosperidade das
comunidades fortalecendo
sistemas alimentares seguros,
sustentáveis e acessíveis.

4º Festival de Cur- O Edital tem como objetivo a Até 29 de março https://prosas.com.


tas-Metragens de realização de uma premiação de 2023 br/editais/13016-4o-
Jundiaí 2023 de curtas-metragens, a fim -festival-de-curtas-
de incentivar a produção -metragens-de-jun-
audiovisual e divulgar o diai-2023
cinema nacional.

Grande Prêmio EX- O Grande Prêmio Exponectar Até 25 de março https://capta-


PONECTAR III 2023 3 é uma plataforma voltada de 2023 caoprojetosculturais.
à publicação do trabalho sesisp.org.br/
de fotógrafos brasileiros e
estrangeiros, com premiações
anuais. A proposta do
Grande Prêmio Exponectar
é dar visibilidade às mais
variadas formas de expressão
fotográfica, sem restrição de
temática ou de abordagem e
sempre buscando a excelência
na forma e no conteúdo.

II Prêmio de Poesias A Revista Natureza do Verso Até 15 de março https://revista-na-


"Arte de Tecer junto a seus parceiros de apoio, de 2023 tureza-do-verso.
Conhecimento divulgação e produção tem webnode.page/ii-
MARÇO 2023

como objetivo colaborar com -premio-de-poesias/


a Arte e Cultura, brasileira,
incentivando a escrita literária,
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS

de escritores de todo Brasil. O


concurso destina-se a escritores
de língua portuguesa, sendo
livre para escritores iniciantes
ou para autores que já foram
publicados anteriormente. Os
escritores podem ser residentes
de qualquer país, desde que
maiores de 16 anos.
33
OPORTUNIDADES

Elas Avançam: Am- Buscamos projetos que Inscrições contí- https://prosas.com.


bientes Prósperos promovam atividades, nuas br/editais/9048-elas-
para o Protagonis- ações de capacitação e -avancam-ambien-
mo Feminino formação profissional, tes-prosperos-para-
qualificação em tecnologia -o-protagonismo-fe-
e/ou desenvolvimento de minino
habilidades e competências
que fortaleçam as mulheres
e promovam a equidade
de gênero. Projetos que
contribuam, de forma direta
ou indireta, para a construção
de um ambiente fértil para
o protagonismo feminino
por meio de ações como
o desenvolvimento de
lideranças, o combate ao
machismo, atividades no
contraturno escolar para
crianças, a promoção da saúde
e bem-estar, o combate à
discriminação e violência de
gênero, etc.

Programa de A Phomenta, aceleradora de Inscrições contí- https://prosas.com.


Aceleração de ONGs, está com a pré-inscrição nuas br/editais/6486-
ONGs aberta para os seus programas programa-de-
de aceleração. Organizações aceleracao-de-ongs
da Sociedade Civil de qualquer
parte do país podem se
inscrever e receber em primeira
mão as informações quando
cada programa abrir inscrições.
Os programas de aceleração
visam transformar a gestão
da organização em um curto
espaço de tempo, entre 5 e
7 meses, com ferramentas
práticas e conteúdos
dinâmicos. São apresentados
temas diversos como captação
de recursos, priorização,
identificação e resolução
MARÇO 2023

de problemas, inovação,
empreendedorismo e como
conseguir parceiros.
REVISTA RECONEXÃO PERIFERIAS
34
WWW.FPABRAMO.ORG.BR

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