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CONTEMPORÂNEA
Introdução
Pode-se dizer que o movimento feminista e o movimento
LGBTQIA+ adquiriram grandes proporções nos últimos anos. As
mulheres vêm conquistando direitos e cargos que antes
eram ocupados majoritariamente por homens. Já o movimento
LGBTQIA+ vem a cada dia lutando por mais representatividade, assim
como por direitos civis e contra a violência e a homofobia. Nesse
contexto, algumas teóricas se dedicaram a estudar os problemas
que cercam esses movimentos e a verificar o que sociedade
heteronormativa pensa deles.
Neste capítulo, você vai compreender as demandas pelas quais
as mulheres lutaram no século XX. Também vai ver que atualmente
há uma reelaboração do feminismo, que se alia à questão de gênero, o
que permite pensar a pluralidade dentro das próprias pautas do
movimento. Por fim, você vai conhecer as problematizações e as
pautas atuais dos movimentos feminista e LGBTQIA+.
auvoir (1908–1986), mais conhecida como Simone de Beauvoir, foi uma das
grandes teóricas do movimento, principalmente na França. Atualmente, sua
obra é referência mundial sobre a temática. Seu texto mais famoso, O segundo
sexo (1949), é tido como um marco do movimento feminista. A trajetória
que Beauvoir percorreu até a publicação desse livro demonstra o lugar que
foi ocupando socialmente e os obstáculos que se apresentaram a ela por ser
uma mulher.
Assim, vale ressaltar que Beauvoir é proveniente de uma família tradi-
cional francesa e estudou em um colégio interno católico até os 17 anos.
Posteriormente, se dedicou, por um período, ao estudo da matemática e de
línguas, até que, por fim, começou a estudar na Universidade de Paris. Lá,
conheceu Jean-Paul Sartre, com quem manteve um relacionamento amoroso
nada convencional por toda a sua vida. Em meio ao universo acadêmico francês
e, antes, no seio de uma família tradicional, Beauvoir percebeu a opressão que
sofria quando fazia escolhas que eram consideradas inadequadas às mulheres
da época. Pode-se dizer que essa experiência a levou à reflexão crítica de sua
condição feminina na sociedade.
Em O segundo sexo, Beauvoir (1980) argumenta, fundamentando suas
ideias historicamente, que desde a Antiguidade a cultura estabeleceu uma
concepção de mulher. Nesse sentido, vários foram os fundamentos para uma
desqualificação do sexo feminino: biológico, psicológico/psicanalítico, político
e mesmo filosófico. Nesse contexto, Beauvoir avalia que à mulher sempre resta
o lugar de outro. Ou seja, as mulheres foram narradas a partir da perspectiva
masculina ao longo da história. Beauvoir afirma que este é o drama próprio
da mulher: ter as necessidades afirmativas de um sujeito essencial a si, mas
se compreender a partir de um lugar inessencial. Dito de outro modo: a ideia
que se faz do que é ser mulher foi concebida por outros sujeitos que não a
própria mulher.
Para Beauvoir, o que se entende como mulher é inautêntico. O que é ser
mulher? Como um humano pode se compreender sendo mulher? Nesse sen-
tido, Beauvoir aponta para a dificuldade das mulheres de se desvencilhar da
servidão. Se o lugar que sempre foi reservado para o sexo feminino foi o do
outro, determinado por uma visão que não é própria, mas do sexo oposto,
haveria uma dificuldade em romper com essa negativização de si. Ou seja,
trata-se da constituição feminina determinada por uma sociedade culturalmente
comandada por homens.
Algumas teóricas feministas enxergam, em O segundo sexo, o projeto de
Beauvoir para a reeducação da cultura ocidental em uma perspectiva feminista.
Ou seja, elas veem o desejo de construir uma forma de pensar por meio da
Questões de gênero 3
[...] grande parte do trabalho doméstico pode ser realizado por uma menina
muito criança; habitualmente dele os meninos são dispensados; mas permite-
-se, pede-se mesmo à irmã, que varra, tire o pó, limpe os legumes, lave um
recém-nascido, tome conta da sopa (BEAUVOIR, 1980, p. 27).
“São Tomás será fiel a essa tradição ao declarar que a mulher é um ser
“ocasional” e incompleto, uma espécie de homem falhado. “O homem é a
cabeça da mulher, assim como Cristo é a cabeça do homem”, escreve.”
“Ninguém pensa em reclamar para elas um papel social diferente do que lhes
é concedido. Trata-se, antes, de confrontar a vida do clérigo com a instituição
do casamento, isto é, de um problema masculino suscitado pela atitude
ambígua da Igreja em relação ao casamento. A esse conflito é que Lutero dará
solução recusando o celibato dos padres.”
(BEAUVOIR, 2007).
No link a seguir, confira um vídeo em que a filósofa Judith Butler explica o ponto
fundamental de sua teoria sobre gênero.
https://goo.gl/hLBnVZ
Leituras recomendadas
FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal,
1977.
TV BOITEMPO. Judith Butler no Brasil: quem tem medo de falar sobre gênero? Youtube,
nov. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=cozmjJpMakM>. Acesso em: 2 jan. 2018.
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