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M EM DIREITO:
ESTADO E REGULAÇÃO
SESSÃO I
Organizadores
Assistente de pesquisa: MAIA, Cristiana.
Professor: FRAGATA, Octávio.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
SUMÁRIO
ROTEIRO DE ESTUDO....................................................................................... 5
1 Aspectos Gerais da Lei de Arbitragem ............................................................. 5
1.1 Arbitragem ....................................................................................................... 5
1.2 Importância da Lei nº 9.307/1996 ................................................................... 6
1.3 Vantagens da arbitragem ................................................................................ 8
1.3.1 Celeridade ...................................................................................................... 8
1.3.2 Customização do Processo ........................................................................... 8
1.3.3 Confidencialidade ......................................................................................... 8
1.3.4 Escolha do árbitro ......................................................................................... 9
1.3.4.1 Imparcialidade, Independência e Confidencialidade ........................... 11
1.3.4.2 Impugnação de Árbitro ........................................................................... 14
1.3.4.3 Ação de Nulidade e Produção de Provas ............................................... 15
1.3.5 Efeitos da Cláusula Compromissória ........................................................ 15
1.3.5.1Efeitos Positivos e Negativos da Cláusula Compromissória ................. 17
1.4 Arbitrabilidade............................................................................................... 17
1.4.1 Arbitrabilidade Objetiva ............................................................................ 17
1.4.2 Arbitrabilidade Subjetiva .......................................................................... 18
1.5 Homologação de Sentença Arbitral.............................................................. 18
1.5.1 Execução da Sentença Arbitral ................................................................. 21
2 Aspectos Polêmicos da Lei de Arbitragem ..................................................... 21
2.1 Princípios da Arbitragem.............................................................................. 22
2.2 Relatividade do Princípio da Kompetenz-Kompetenz ............................... 23
2.3 Arbitrabilidade: Três setores que merecem destaque ................................ 23
2.4 Arbitragem e a Administração Pública ....................................................... 24
2.5 Arbitragem e direito societário ..................................................................... 27
2.6 Arbitragem e direito trabalhista .................................................................. 31
2.7Arbitragem e Procedimentos Judiciais ......................................................... 32
2.7.1 Medidas de urgência e preparatórias........................................................ 33
QUESTÕES DE AUTOMONITORAMENTO ................................................. 38
SUGESTÃO DE CASO GERADOR.................................................................. 38
SUGESTÃO DE CASO GERADOR.................................................................. 39
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 40
Bibliográficas ........................................................................................................ 40
1 Utilizadas ........................................................................................................... 40
2 Complementares ............................................................................................... 45
Eletrônicas ............................................................................................................ 47
Jurisprudenciais ................................................................................................... 48
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
ROTEIRO DE ESTUDO
1 Aspectos Gerais da Lei de Arbitragem
1.1 Arbitragem
A arbitragem é um meio de resolução de controvérsias na qual as partes
submetem as suas controvérsias relacionadas a direitos patrimoniais disponíveis a
um terceiro independente e imparcial que resolve a questão e cuja sentença é
equiparada à sentença judicial. Na arbitragem, conforme Jacob Dolinger e Carmen
Tiburcio,1 as partes submetem a questão a um terceiro que deverá decidir a
questão e impor sua decisão, ao contrário do que ocorre na mediação e na
conciliação cuja resolução da controvérsia depende da assinatura de um contrato.
A decisão proferida pelo árbitro ou Tribunal Arbitral é obrigatória para as partes e
irrecorrível quanto ao mérito, somente sendo admitido pedido com vistas a que se
esclareça ou corrija erro material (art. 30 da Lei nº 9.307/1996). De acordo com os
autores,2 a arbitragem é o meio alternativo mais utilizado pelos litigantes.
Conforme previsto na Lei de Arbitragem, para a submissão do litígio à
arbitragem, é necessária a convenção de arbitragem3 (cláusula compromissória e o
compromisso arbitral). A própria Lei de Arbitragem define a cláusula
compromissória como “a convenção através da qual as partes em um contrato
comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,
relativamente a tal contrato”4 e o compromisso arbitral como “a convenção
através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais
pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial”.5
a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.
§ 1º A cláusula compromissória deve ser estipulada por escrito, podendo estar inserta no próprio contrato ou
em documento apartado que a ele se refira.
§ 2º Nos contratos de adesão, a cláusula compromissória só terá eficácia se o aderente tomar a iniciativa de
instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituição, desde que por escrito em
documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa cláusula.
5
Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à arbitragem de
uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial. § 1º O compromisso arbitral judicial celebrar-se-á
por termo nos autos, perante o juízo ou tribunal, onde tem curso a demanda. § 2º O compromisso arbitral
extrajudicial será celebrado por escrito particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento público.
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1.2 Importância da Lei nº 9.307/1996
A Lei da Arbitragem trouxe três importantes modificações para o instituto
da arbitragem, mas somente após a declaração de sua constitucionalidade6 é que
de fato houve a propagação do instituto. A Lei de Arbitragem inovou em três
aspectos: (i) Força obrigatória e vinculante para cláusula arbitral, (ii) Equiparação
da sentença arbitral à sentença judicial e (iii) Supressão da necessidade de dupla
homologação e citação por carta rogatória da parte domiciliada no Brasil.
Antes da edição da Lei de Arbitragem, existia no direito interno a distinção
entre cláusula compromissória e compromisso arbitral, uma vez que, conforme
destacam Jacob Dolinger e Carmen Tiburcio,7 a cláusula compromissória
prevendo a submissão do litígio à arbitragem não configurava garantia da
instauração do juízo arbitral. Era necessário, para tanto, realização do
compromisso arbitral, após o surgimento do litígio, reafirmando a intenção das
partes pela resolução do conflito pela arbitragem. A exigência de assinatura
posterior do instrumento enfraquecia o instituto, pois a arbitragem somente
poderia ser instaurada após a assinatura do compromisso arbitral facilmente
afastada por qualquer das partes.
Após a publicação da Lei nº 9.307/1996,8 a convenção de arbitragem
(cláusula compromissória ou compromisso arbitral) adquiriu força e obriga às
partes a utilizar a arbitragem para resolver o conflito.
Para Pedro Batista Martins,9 o instituto da arbitragem não se desenvolveu
até o advento da Lei nº 9.307/1996 porque o Decreto nº 3.900/1867, que regulava
o juízo arbitral facultativo, transformara a cláusula compromissória em num caput
mortum ao exigir para a eficácia da arbitragem a assinatura, posteriormente, do
compromisso arbitral.
A sentença arbitral foi equiparada à sentença judicial e tem força de título
executivo judicial (art. 475-N, IV do Código de Processo Civil). Se a parte
vencida não cumprir a sentença arbitral, a parte vencedora a executará no Poder
10
Art. 267, VII do Código de Processo Civil.
11
DOLINGER, Jacob. TIBURCIO, Carmen. op. cit., p. 25.
12
DOLINGER. Jacob. TIBURCIO, Carmen. op. cit., p. 40.
13
Affidavit – s declaração jurada; depoimento juramentado; atestado. GOYOS JÚNIOR, Durval
de Noronha. Noronha’s Legal Dictionary = Noronha Dicionário Jurídico: English-Portuguese,
English = Inglês – Português, Português – Inglês/ by Durval de Noronha Goyos Jr. = 5rd Ed – São
Paulo: Observador Legal Editora Ltda., 2003. p. 33
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1.3 Vantagens da arbitragem
Dentre várias vantagens da utilização da arbitragem, temos:
1.3.1 Celeridade
Na arbitragem não há necessidade de publicação dos atos, com isso, a
movimentação do processo e a obtenção do resultado é mais célere. Às partes é
conferido o direito de se expressar, muitas vezes, de forma oral para agilizar e
facilitar o processo.
Outro fator que contribui para a celeridade do processo é a possibilidade
de recusa do convite feito ao árbitro se, por exemplo, estiver participando de
muitos processos naquele momento e vislumbrar a possibilidade de atrasar/
atrapalhar o curso do processo de arbitragem por falta de disponibilidade. Outra
característica importante é a falta de recursos para reexame do mérito, por força
do Princípio da Irrecorribilidade da Sentença Arbitral.
1.3.3 Confidencialidade
Embora não haja norma expressa estatuindo a confidencialidade da
arbitragem, salvo com relação aos árbitros, que, pelo art. 33 da Lei de Arbitragem,
deverão proceder com discrição, a privacidade das discussões travados é
decorrente da própria natureza do instituto, sendo, por muito, considerado
princípio implícito da arbitragem.
Em assim sendo, a arbitragem, na sua essência, é confidencial às partes e
àqueles envolvidos. Caberá às partes decidir sobre a publicidade do processo. De
acordo com o § 6º do art. 13 da Lei de Arbitragem: “No desempenho de sua
função, o árbitro deverá proceder com imparcialidade, independência,
competência, diligência e discrição.”
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Jacob Dolinger e Carmen Tiburcio14 chamam atenção para a questão
relativa à confidencialidade retratando a decisão da Suprema Corte australiana, no
caso Esso Australia Resources v. Plowman, no sentido de ser impossível a
confidencialidade absoluta em uma arbitragem em virtude de vários fatores,
dentre eles: a inexistência do dever de confidencialidade das testemunhas; e a
necessidade de prestar informações aos acionistas. Por outro lado, trazem decisões
inglesas e francesas a favor da confidencialidade absoluta.
Na arbitragem não há a obrigatoriedade de transformar os atos em
públicos, como nos atos processuais judiciais. A divulgação depende de
autorização das partes envolvidas. A confidencialidade é um dos princípios da
arbitragem e uma garantia oferecida às partes de que aquele litígio somente será
de conhecimento de terceiros se elas assim decidirem. Ao árbitro (ou Tribunal
Arbitral) é proibida a divulgação de qualquer fato/ informação do processo.
Note, porém, que quando a arbitragem envolver a Administração Pública
haverá uma mitigação deste princípio, pois o processo arbitral deverá respeitar o
Princípio da Publicidade, conforme prevê o artigo 35 da Lei de Arbitragem.
15
As situações de impedimento são: Art. 14 da Lei de Arbitragem e arts. 133 a 136 e 138 do
Código de Processo Civil.
16
The IBA Guidelines on Conflicts of Interest in International Arbitration pode ser obtido no site
www.ibanet.org/Document/Default.aspx?DocumentUid=e2fe5e72-eb14-4bba-b10d-d33dafee8918
iba guidelines on conflicts of interest.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Dispõe o art. 18 da Lei de Arbitragem: “Art. 18. O árbitro é juiz de fato e
de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação
pelo Poder Judiciário”. Cabe ao árbitro (ou Tribunal Arbitral) proferir uma
sentença exequível para, se houver necessidade, a parte poder exercer o seu direito
de executar no Poder Judiciário.
O árbitro, na condução da arbitragem, deve observar, dentre outros, os
princípios trazidos pelo § 2º, art. 26 da Lei de Arbitragem. São eles: contraditório,
igualdade das partes, imparcialidade do árbitro e livre convencimento.
Assim como o juiz de direito, o árbitro poderá declarar-se suspeito para o
julgamento da questão por motivo de foro íntimo.
A conduta do árbitro que violar as regras e mandamentos legais poderá
gerar nulidade da sentença arbitral.
Conforme disposto no art. 20: “A parte que pretender arguir questões
relativas à competência, suspeição ou impedimento do árbitro ou dos árbitros,
bem como nulidade, invalidade ou ineficácia da convenção de arbitragem, deverá
fazê-lo na primeira oportunidade que tiver de se manifestar, após a instituição da
arbitragem”.
17
FOUCHARD, P. Prologue, Thomas Clay, L’Arbitre, Dalloz, 2001.
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afirma com propriedade que “a independência é da essência da função
jurisdicional”,18 seja ela privada ou pública.
Quase todas as legislações que regulam a arbitragem mundo afora contêm
exigência acerca da imparcialidade e independência do julgador e atribuem à sua
ausência causa de impugnação do árbitro e quase sempre fonte de anulação da
sentença que vier a ser proferida por aquele árbitro. O artigo 12 da Lei Modelo da
Uncitral, por exemplo, dispõe que “an arbitrator may be challenged only if
circumstances exist that give rise to justifiable doubts as to his independence and
impartiality”.
Apesar disso, poucas leis nacionais definem exatamente o conceito de
independência e imparcialidade.
Enquanto os juízes estatais encontram-se blindados das tradicionais
pressões do mercado de trabalho, eis que a sua posição não está vinculada
diretamente ao seu desempenho ou à quantidade de processos que é capaz de
gerir. A posição exercida pelos juízes privados (árbitros, por exemplo) depende
necessariamente da sua capacidade de atrair novos negócios, de modo que se
encontram expostos às mesmas pressões de qualquer prestador de serviço.
Tendo em vista que a indicação do julgador público independeria de
qualquer participação das partes, existiria uma maior liberdade para que ele tome
uma decisão que possa, porventura, vir a prejudicar uma delas. Além disso, o
julgador público tem a consciência de que o julgamento que está prestes a emitir
poderá ser utilizado para balizar casos futuros, seja pela publicidade de seu ato,
seja pela força que a jurisprudência tem na ciência jurídica; fato este que não
ocorre com o julgador privado, em que o processo que preside é habitualmente
confidencial e os efeitos da sua sentença restringem-se às partes nele envolvidas e,
em regra, mantêm-se assim. Segundo Robert Cooper:
18
CLAY, T. El Árbitro. Bogotá: Grupo Editorial Ibañez, 2012. p. 37.
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demand from pairs of disputants, each with opposed interests and veto
power over choice of a judge?19
19
COOTER, R. The objectives of private and public judges. In: Public Choises. The Netherlands:
Martinus Nijhoff Publishers, 1983. p. 108.
20
“The equilibrium is Bayesian in the sense that everyone chooses the bargaining strategy which
maximizes his expected utility. The equilibrium is Nash in the sense that everyone knows the
distribution of strategies pursued by others, although not the exact identity of each potential
opponent”. – COOTER, R. Op. Cit. p. 115.
21
COOTER, R. Op. Cit. p. 125.
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mesmo a condenação de um réu, a heurística do raciocínio é extremamente
prejudicial à efetividade e legitimação de todo o processo.
Heurística nada mais é do que um procedimento que, diante de questões
difíceis, busca substituí-las por outras mais fáceis a fim de encontrar respostas
viáveis, ainda que imperfeitas, tal qual a intuição.22
O problema com a intuição e o processo decisório que se pauta nela
encontra-se, portanto, justamente nesse ponto. O julgador que se deixa
inconscientemente induzir pela intuição muitas vezes não julga o caso presente,
mas algum caso mais simples ou anterior ao qual tenha sido exposto. Em outros
dizeres, julgam mediante um atalho que muitas vezes se mostram equivocados e,
pior, ocorrem sem que o julgador se dê conta.
Em geral, o exemplo mais conhecido é o de um indivíduo que se deixa
levar pelo estereótipo do grupo ao qual pertence, o que normalmente resulta em
erros sistemáticos.23 Por ser automática e inconsciente, é muito difícil, mesmo
para profissionais experientes, monitorar e até evitar a sua ocorrência.
Outro aspecto importante da atuação do Arbitro está ligado ao princípio da
Confidencialidade.
22
Heurística tem origem no termo grego εὑρίσκω, que significa “encontrar” ou “descobrir”. Tem a
mesma origem da palavra eureca (εὕρηκα), que significa “encontrei”.
23
LEWICKI, R. J.; SAUNDERS, D. M.; MINTON, J. W. Fundamentos da Negociação. Nova
Iorque: McGraw-Hill, 2001. p. 148.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
1.3.4.3 Ação de Nulidade e Produção de Provas
As hipóteses para anulação da sentença arbitral encontram-se previstas no
art. 32 da Lei 9.307/1996 e exigem a demonstração, por meio de provas
contundentes, da violação de um dos pilares do procedimento arbitral, quais
sejam: a independência e imparcialidade do árbitro, sendo fundamental
demonstrar que a não revelação de determinado fato afetou tais pilares influindo
na sentença arbitral, não sendo possível pleitear a anulação por meros indícios ou
achismos, uma vez que, caso isso fosse permitido, afetaria a segurança jurídica
dos procedimentos arbitrais.
24
LEMES, Selma Ferreira Arbitragem e direito de consumo. Disponível em:
http://www.selmalemes.com.br/artigos/artigo_juri19.pdf. Acessado em 05 jan. 2017.
25
MARTINS, Pedro Batista. Disponível em: <http://www.abdf.com.br/tema6.htm>. Acessado em
05 de jan. de 2017.
26
MARTINS, Pedro Batista. Disponível em: http://www.abdf.com.br/tema6.htm, Acessado em 04
de jan. de 2017.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
contratos.27 Esse tipo de contrato é típico dos serviços concedidos ou produtos
monopolizados ou prestados por um grupo tão reduzido de prestadores que a
escolha dos consumidores fica muito limitada.
1.4 Arbitrabilidade
Dispõe o artigo 1º da Lei nº 9.307/96: “Art. 1º As pessoas capazes de
contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos
patrimoniais disponíveis”.
João Bosco Lee,28 citando Bénédicte Fauvarque-Cosson, explica que “a
arbitrabilidade é a aptidão de um litígio ser o objeto de uma arbitragem.”
Complementa, ainda, que arbitrabilidade pode ser qualificada em subjetiva ou
objetiva, dependendo do elemento do estudo. A primeira, refere-se à possibilidade
de uma pessoa (física ou jurídica) de firmar uma convenção de arbitragem e a
segunda diz respeito ao objeto do litígio.29
27
GOMES, Orlando. Contratos. Atualiz. Humberto Theodoro Júnior. 21ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2000. p. 109.
28
LEE, João Bosco. Arbitragem Comercial Internacional nos Países do MERCOSUL. 4. tir.
Curitiba: Juruá, 2005. p. 51.
29
LEE, João Bosco. Arbitragem Comercial Internacional nos Países do MERCOSUL. 4. tir.
Curitiba: Juruá, 2005. p. 51.
30
LIMA, Cláudio Vianna de. A Lei de Arbitragem e o artigo 23, XV, da lei de Concessões. In:
Revista de Direito Administrativo-209, jul./set. 1997, p. 92.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Disponíveis são os direitos que se referem a bens apropriáveis, alienáveis, que se
encontram no comércio jurídico”.
Desta forma, as controvérsias decorrentes de direitos indisponíveis não
podem ser objeto da arbitragem, como por exemplo, divórcio e guarda de filhos.
Ainda que as partes firmem uma convenção de arbitragem, esta questão não
poderá ser submetida à arbitragem por falta de arbitrabilidade objetiva.
Conforme previsto no art. 25 da Lei nº 9.307/1996: “Sobrevindo no curso
da arbitragem controvérsia acerca de direitos indisponíveis e verificando-se que
de sua existência, ou não, dependerá o julgamento, o árbitro ou o tribunal arbitral
remeterá as partes à autoridade competente do Poder Judiciário, suspendendo o
procedimento arbitral.”
O juízo arbitral é incompetente para determinar se se trata de direito
indisponível.
31
MARTINS, Pedro Batista. A recepção nacional às sentenças arbitrais prolatadas no exterior. In:
MARTINS, Pedro Batista; LEMOS, Selma; CARMONA, Carlos Alberto (Coords.). Aspectos
fundamentais da lei de arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 440.
32
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao código de processo civil. 11. ed. vol. V.
Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 85.
33
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Sentença Estrangeira Contestada n. 760. Relator:
Ministro Felix Fischer. Corte Especial, 19 de junho de 2006. In: DJ, de 28 de agosto de 2006.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
I - O controle judicial da sentença arbitral estrangeira está limitado a
aspectos de ordem formal, não podendo ser apreciado o mérito do
arbitramento. Precedentes.
II - Impõe-se a homologação da sentença arbitral estrangeira quando
atendidos todos os requisitos indispensáveis ao pedido, bem como
constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública
e aos bons costumes. Homologação deferida.
34
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Sentença Estrangeira Contestada n. 3.035. Relator:
Ministro Fernando Gonçalves. França, 19 de agosto de 2009. In: DJe, de 31 de agosto de 2009.
35
“Art. 282 - A petição inicial indicará: I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida; II - os nomes,
prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu; III - o fato e os
fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido, com as suas especificações; V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - o
requerimento para a citação do réu”.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
STJ mandará emendar a inicial, o que “não se trata da faculdade, mas sim de
determinação legal, que tem em mira a salvação do processo”.36
36
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.394.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
especializado uma simetria de informações que assegura que a solução da
controvérsia venha a se efetivar da forma esperada”.37
Além disso, pode-se destacar que, devido ao menor grau de litigiosidade
entre as partes, que caracteriza a arbitragem, as parcerias comerciais podem ser
mantidas, ou seja, não se perde o parceiro para os competidores. Outro ponto
importante é a confidencialidade da arbitragem, que evita o vazamento de
informações acerca da controvérsia para a concorrência.38
37
PINTO, José Emílio Nunes. A Arbitragem na Recuperação de Empresas. In: Revista de
Arbitragem e Mediação. São Paulo, ano 2, n. 7, p. 80, out./dez. 2005. Sobre o tema, o autor afirma
que “a questão da especialização do árbitro assume contornos bastante relevantes quando da
escolha da arbitragem como meio de solução de controvérsias. Deve-se ter em mente que os
contratos complexos, por sua própria natureza, são tidos como contratos incompletos. A
completude de um contrato, quando de sua elaboração, acarreta um aumento significativo dos
custos de transação, razão pela qual as partes preferem deixar lacunas e omissões em seu texto
para que sejam supridas quando da interpretação das cláusulas contratuais relativas à controvérsia
que venha a surgir no curso de sua vigência. Nesses casos, a forma de interpretação mais adequada
é a contextual em oposição à interpretação literal. [...] Nesse sentido, deve-se valorizar a
especialização do árbitro na matéria objeto da controvérsia que, por deter o mesmo grau de
informação das partes, poderá suprir adequadamente as lacunas e omissões contidas nos contratos
incompletos.[...] Portanto, no que tange aos direitos patrimoniais disponíveis, quando da escolha
entre o recurso ao Poder Judiciário e à arbitragem, deverão as partes analisar a importância do
papel que possa vir a ser desempenhado pelo árbitro especialista”.
38
BATISTA MARTINS, Pedro A. Arbitragem e o Setor de Telecomunicações no Brasil.
Disponível em: <http://www.batistamartins.com>. Acesso em: 26 dez. 2014. “Entretanto, ficamos,
no caso concreto, com os benefícios da especialidade e da disponibilidade dos árbitros, como
elementos primariamente determinantes do mecanismo da arbitragem como meio de solução das
disputas no setor de telefonia”.
_______________________________________________________________ 22
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
a controvérsia, enquanto o compromisso, é futuro, condicional e genérico,
objetivando resolver uma divergência ainda não definida. Assim, pelo aspecto de
permanência, a cláusula dura o mesmo que o contrato em que está inserida,
enquanto o compromisso persiste com o litígio a ser solucionado.
O princípio da autonomia da convenção de arbitragem significa que a
validade da cláusula compromissória deve ser apreciada isoladamente em relação
ao contrato principal no qual está inserida.
Esses princípios que em muito se entrelaçam servem para outorgar eficácia
à arbitragem, ao ter como consequência a definição de que o árbitro é competente,
quer para decidir sobre a sua própria competência, quer para apreciar a existência
ou a validade do contrato.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
2.4 Arbitragem e a Administração Pública
Apesar de sua ampla utilização, a arbitragem em contratos envolvendo a
administração pública, direta ou indireta, ainda encontra sombras de resistência.
Foi justamente em função disso que a comissão de advogados e professores,
presidida pelo ministro Luis Felipe Salomão, após uma discussão ampla e
democrática, manteve a estrutura e a substância da lei vigente e propôs alteração
aos artigos 1 e 2 da Lei de Arbitragem.
Buscando endereçar os princípios jurídicos que regulam a administração
pública, como o da legalidade e publicidade, que haviam sido objeto de críticas
quando da discussão acerca da possibilidade de a administração pública direta e
indireta se submeter à arbitragem, a Comissão propôs a inclusão ao artigo 1° da
Lei de Arbitragem o seguinte parágrafo: “A Administração Pública direta e
indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos
patrimoniais disponíveis”. De igual maneira, propôs que se incluísse no artigo 2o
parágrafo 3, que endereça especificamente o princípio da publicidade, a saber: §
3o As arbitragens que envolvam a Administração Pública serão sempre de direito
e respeitarão o princípio da publicidade.”
Outra grande dúvida acerca da arbitrabilidade dessas questões seria a
capacidade do agente da administração pública para assinar uma convenção de
arbitragem, tendo esse ponto justificado a inclusão do §2° no artigo 1 para dizer:
“A autoridade ou o órgão competente da Administração Pública direta para a
celebração de convenção de arbitragem é a mesma para a realização de acordos ou
transações.”
Embora boa parte da doutrina e jurisprudência já entendia estar
amplamente autorizada, a arbitragem envolvendo tais entes, mesmo em respeito
aos princípios que sobre eles se aplicam, ainda encontrava-se resistência por parte
de alguns setores, notadamente dos respectivos Tribunais de Contas. Com as
inclusões aos artigos 1 e 2 da Lei de Arbitragem, a Comissão buscou endereçar
tais resistências e extinguir as dúvidas.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Em dois casos recentes analisados pelo Superior Tribunal de Justiça, em
que envolviam sociedades de economia mista houve o entendimento de que estas
tinham o dever de honrar a cláusula compromissória assinada.39
Jacob Dolinger e Carmen Tiburcio40 defendem o uso da arbitragem pela
Administração Pública, desde que o Princípio da Legalidade (Constituição Federal
art. 37, caput) seja observado, como ocorreu no caso Lage.41 Para os autores,
ainda não há essa previsão legal. Por outro lado, os coautores da Lei nº
39
REsp 612439-RS - 2003/0212460-3 – Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA –
Julg. 25/10/2005 PROCESSO CIVIL. JUÍZO ARBITRAL. CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA.
EXTINÇÃO DO PROCESSO. ART. 267, VII, DO CPC. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.
DIREITOS DISPONÍVEIS. EXTINÇÃO DA AÇÃO CAUTELAR PREPARATÓRIA POR
INOBSERVÂNCIA DO PRAZO LEGAL PARA A PROPOSIÇÃO DA AÇÃO PRINCIPAL.
1. Cláusula compromissória é o ato por meio do qual as partes contratantes formalizam seu desejo
de submeter à arbitragem eventuais divergências ou litígios passíveis de ocorrer ao longo da
execução da avença. Efetuado o ajuste, que só pode ocorrer em hipóteses envolvendo direitos
disponíveis, ficam os contratantes vinculados à solução extrajudicial da pendência.
2. A eleição da cláusula compromissória é causa de extinção do processo sem julgamento do
mérito, nos termos do art. 267, inciso VII, do Código de Processo Civil.
3. São válidos e eficazes os contratos firmados pelas sociedades de economia mista exploradoras
de atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços (CF,
art. 173, § 1º) que estipulem cláusula compromissória submetendo à arbitragem eventuais litígios
decorrentes do ajuste.
4. Recurso especial parcialmente provido.
MS 11308-DF - MANDADO DE SEGURANÇA - 2005/0212763-0 – Rel. LUIZ FUX – Julg.
09/04/2008 ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PERMISSÃO DE ÁREA
PORTUÁRIA. CELEBRAÇÃO DE CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA. JUÍZO ARBITRAL.
SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. POSSIBILIDADE. ATENTADO.
1. A sociedade de economia mista, quando engendra vínculo de natureza disponível, encartado no
mesmo cláusula compromissória de submissão do litígio ao Juízo Arbitral, não pode pretender
exercer poderes de supremacia contratual previsto na Lei 8.666/93.
2. A decisão judicial que confere eficácia à cláusula compromissória e julga extinto o processo
pelo "compromisso arbitral", se desrespeitada pela edição de Portaria que eclipsa a medida
afastada pelo ato jurisdicional, caracteriza a figura do "atentado" (art. 880 do CPC).
3. O atentado, como manifestação consistente na alteração do estado fático da lide influente para o
desate da causa, pode ocorrer em qualquer processo. Impõe-se, contudo, esclarecer que, quando a
ação é proposta, as partes não se imobilizam em relação ao bem sobre o qual gravita a lide. Nesse
sentido, não se vislumbra na fruição normal da coisa ou na continuação de atos anteriores à lide
(qui continuat non attentan). Assim, v.g., 'em ação de usucapião, como posse justificada, o
usucapiente pode construir no imóvel; ao revés, há inovação no estado de fato e portanto comete
atentado o réu que em ação reivindicatória procura valorizar o imóvel erigindo benfeitorias úteis
no bem, ou o demandado que violando liminar deferida aumenta em extensão a sua infringência à
posse alheia. De toda sorte, é imperioso assentar-se que só há atentado quando a inovação é
prejudicial à apuração da verdade. O atentado pode ocorrer a qualquer tempo, inclusive, após a
condenação e na relação de execução. (Luiz Fux, in, Curso de Direito Processual Civil, 3ª edição,
Editora Forense, páginas 1637/1638)(...)
40
DOLINGER, Jacob. TIBURCIO, Carmen. Direito Internacional Privado – Arbitragem
Comercial Internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 415.
41
Esse é o exemplo mais clássico do uso da arbitragem pela Administração Pública (AI 52181-
GB. Relator: Min. Bilac Pinto. Julg.: 14.11.73. Publ.: DJ data 15.02.74).
_______________________________________________________________ 25
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
9.307/1996, Selma Lemes,42 Pedro Batista Martins43 e Carlos Alberto Carmona44
defendem que o art. 1º da Lei de Arbitragem, ao estabelecer que as pessoas
capazes de contratar podem participar de arbitragem, conferiu, de forma genérica,
a autorização para a Administração Pública, atendendo ao Princípio da
Legalidade.
Para Caio Tácito45 o Princípio da Legalidade está sendo observado. Para o
autor, a Lei nº 8.987/1995 (Concessão de Serviços Públicos) no seu art. 25, XV,
ao autorizar o uso de meio amigável de solução de controvérsias, concedeu
autorização para todos os contratos administrativos e não só para aqueles cujo
objeto seja a concessão de serviços públicos. Para Adilson Abreu Dallari,46 a
autorização decorre do art. 5447 da Lei nº 8.666/1993 (Normas para licitações e
contratos administrativos).
Luís Roberto Barroso defende o uso da arbitragem, desde que haja lei
específica, visto que é uma exceção ao princípio constitucional da jurisdição
estatal e da inafastabilidade do controle jurisdicional.48 Para o autor, as referidas
leis não produziram a necessária autorização uma vez que (a) a aplicação do
direito privado nos contratos administrativos, de forma supletiva, seria uma burla
à própria Lei nº 8.666/1993; (b) para usar a autorização da Lei nº 8.987/95 em
todos os contratos administrativos deveria ter ocorrido a revogação do art. 55 § 2º
(previsão de eleição de foro) da Lei nº 8.666/1993. No caso das empresas estatais,
para o autor, o art. 173 § 1º da Constituição Federal não tem aplicação imediata,
ou seja, enquanto não for criada a lei específica dispondo sobre o regime próprio
destas empresas, elas devem seguir as normas de direito público, inclusive para os
casos de licitação.
42
LEMES, Selma M Ferreira. Arbitragem na Concessão de Serviços Públicos - Arbitrabilidade
Objetiva. Confidencialidade ou Publicidade Processual? Revista de Direito Bancário, de Mercado
de Capital e de Arbitragem-21, p. 395.
43
Conforme manifestação demonstrada na Palestra “Debate sobre a Lei de Arbitragem com os 3
Co-autores da Lei”, realizada na Câmara Nacional do Comércio – CNC, em 13 de abril de 2004.
44
Conforme manifestação demonstrada na Palestra “Debate sobre a Lei de Arbitragem com os 3
Co-autores da Lei”, realizada na Câmara Nacional do Comércio – CNC, em 13 de abril de 2004.
45
TÁCITO, Caio. Arbitragem nos Litígios Administrativos. Revista de Direito Administrativo-
210, 1997, p. 114.
46
DALLARI, Adilson Abreu. Arbitragem na concessão de serviços públicos. Revista Trimestral
de Direito Público-13, 1996, p. 7.
47
O art. 54 autoriza a aplicação, de forma supletiva, nos contratos administrativos dos princípios
da teoria geral dos contratos e as disposições de direito privado.
48
Constituição Federal art. 5º, XXXV.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Outro suposto conflito para os que defendem a impossibilidade do uso da
arbitragem seria o Princípio da Confidencialidade da Arbitragem, tendo em vista o
Princípio da Publicidade da Administração Pública (CRFB, art. 37)49. Neste caso,
o Princípio da Confidencialidade precisa ser mitigado e é preciso dar publicidade
aos atos.
A Lei nº 11.079/2004, que institui normas gerais para a licitação e
contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública,
admite o uso de meios alternativos de solução de controvérsias, inclusive a
arbitragem, para dirimir conflitos decorrentes ou relacionados ao contrato. No
entanto, a arbitragem deverá ser realizada no Brasil e em língua portuguesa.
49
TJ/RJ - 0005615-64.2003.8.19.0000 (2003.002.07839) - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª
Ementa - DES. ADEMIR PIMENTEL - Julgamento: 29/10/2003 - DECIMA TERCEIRA
CAMARA CÍVEL PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTAL. RECURSO AO
QUAL SE NEGOU SEGUIMENTO COM BASE NO ART. 557, DO CPC, C/C 31, VIII, DO
RITJ. AGRAVO INTERNO. CONTRATO ADMINISTRATIVO. PLANO PLURIANUAL.
LEGISLAÇÃO ESTRANGEIRA. SUBMISSÃO DO MUNICÍPIO, ENTE OU COMPONENTE
DA FEDERAÇÃO, À ARBITRAGEM IMPOSSIBILIDADE INEXISTÊNCIA DE DECISÃO
TERATOLÓGICA OU ATENTATÓRIA À LEI QUE MEREÇA SER MODIFICADA.
IMPROVIMENTO DO AGRAVO. I - Revela-se atentatório aos princípios orçamentários a
assinatura de contrato que cria obrigações financeiras para o Município durante, no mínimo, 10
anos, isto é, muito além do exercício fiscal do ano de 2003 e além do mandato da atual
administração municipal; II - Dispõe o art. 52, V, que é da competência do Senado Federal
autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios. Se o Município se compromete a pagar à Fundação
Guggenheim a importância liquida de US$ 28.650. 000, 00 (vinte e oito milhões, seiscentos e
cinqüenta mil dólares), da qual US$ 9.550. 000, 00 dentro de 30 dias da "data efetiva ", US$ 9.550.
000, 00 um ano da celebração do primeiro contrato para a recuperação do píer da Praça Mauá, mas
nunca após 31/12/2004, e US$ 9.550. 000, 00 após a segunda parcela, mas nunca após 31/12/2005,
evidente que estamos diante de operação externa de natureza financeira e que comprometendo um
componente da Federação, não pode ser assumida sem o crivo do Senado Federal; III - Revela-se
atentatório aos preceitos constitucionais o estabelecimento de cláusula na qual se exige o sigilo na
arbitragem, não podendo o Município a ela se submeter ante a indisponibilidade do direito em
discussão, traduzindo um atentado à soberania quedar-se o componente da Federação, genuflexo,
às leis alienígenas; IV - Agravo a que se nega provimento.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
uma convenção de arbitragem, aí entendida a cláusula compromissória, quando
antes do surgimento do conflito, ou o compromisso, quando a posteriori.
Antes da edição da Lei, distinguia-se, no Brasil, a cláusula compromissória
do compromisso, sendo que a primeira não passava de mera intenção, sem efeito
vinculante. A previsão de uma cláusula compromissória não ensejava a
compulsoriedade da arbitragem, como hoje está prevista no artigo 7º, mas, diante
da relutância de umas das partes em firmar o compromisso quando do surgimento
do litígio, perfazia mera promessa, cujo descumprimento obrigava a parte lesada a
pleitear eventuais perdas e danos.
Contemplado por lei específica, que outorgou ao instituto da arbitragem
competência substitutiva à jurisdição estatal quanto aos direitos disponíveis das
partes que contratualmente a instituem, a arbitragem é hoje corriqueiramente
adotada nos contratos sociais de sociedades limitadas dentre as cláusulas previstas
pelo artigo 997 do Código Civil (c/c art. 1054). Tal previsão encontrou ainda
maior respaldo quando do acréscimo, pela Lei no. 10.303/01, do § 3º do artigo 109
da Lei 6.404/76, que previu expressamente a possibilidade de o estatuto das
sociedades por ações estabelecer que as divergências entre os acionistas e a
companhia ou entre os acionistas controladores e os acionistas minoritários,
poderão ser solucionados, mediante arbitragem, nos termos em que especificar.
A inovação veio ao encontro da necessidade de maior eficiência na
solução dos conflitos, expressada principalmente pelo conhecimento específico
por parte dos julgadores e pela ausência de recursos, que permitem que
determinada divergência entre os acionistas seja não submetida à comarca local
(por vezes no interior de determinada cidade, a depender do local de onde se
desenvolverá o projeto), mas a especialistas na matéria, com tempo e
conhecimento técnico específico para resolver a demanda. No âmbito das
sociedades, há, ainda, o fator confidencial da arbitragem (princípio implícito) que
preserva sua imagem.
Ressalte-se que, uma vez inserida a cláusula compromissória no contrato
social, a instauração do procedimento arbitral para solucionar as disputas por ela
abrangidas é obrigatória, sendo o juízo arbitral o único competente para dirimir os
conflitos que venham a surgir no âmbito da sociedade.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
A arbitragem, neste aspecto, está acessível tanto nas relações internas da
sociedade como nas externas, isto é, o recurso à arbitragem é suscetível, também,
de intervir na relação de pessoas (jurídicas ou naturais) que, de alguma maneira,
participam da vida interna da companhia.50
Muito embora não existam dúvidas acerca da admissibilidade da
arbitragem como mecanismo hábil de solucionar os conflitos sociais, divergências
surgem quanto ao alcance subjetivo da cláusula compromissória e sua forma de
previsão no contrato social.
Discute-se, nesse sentido, a possibilidade de o acionista controlador impor
ao acionista minoritário a reforma do contrato social para o fim de incluir cláusula
compromissória que estabeleça que os conflitos entre os quotistas e destes com a
sociedade e os administradores, decorrente das relações societárias, passem a ser
dirimidos por arbitragem, com a consequente renúncia pelas partes do direito de
se socorrer ao Poder Judiciário para definitivamente resolver determinado litígio.
A questão é polêmica entre os doutrinadores. Há os que defendem (i) que a
cláusula de arbitragem somente pode resultar do acordo de vontades expresso
daqueles que irão a ela se submeter;51 e, também, (ii) aqueles defensores do
princípio da maioria que admitem a validade da cláusula eleita pela maioria do
capital social, mesmo quando o acionista minoritário tenha sido omisso ou contra
a inclusão.52
50
A arbitragem não é estranha às companhias no Brasil. A própria Lei das Sociedades por Ações
(Lei No. 6.404/96) a prevê em seu artigo 109, §3º: “Nem o estatuto social nem a assembléia geral
poderão privar o acionista dos direitos de: ... §3º O estatuto da sociedade pode estabelecer que as
divergências entre os acionistas e a companhia, ou entre os acionistas controladores e os
acionistas minoritários, poderão ser solucionadas mediante arbitragem, nos termos em que
especificar."
51
Dentre estes, destacam-se: CARVALHOSA, Modesto de Souza Barros. “Cláusula
compromissória estatutária e juízo arbitral (§3º do art. 109). In: Reforma da Lei das Sociedades
Anônimas Coord. Jorge Lobo. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 321-344; CARVALHOSA,
Modesto de Souza Barros e EIZIRIK, Nelson. A Nova Lei das SAs. São Paulo: Saraiva, 2002;
CANTIDIANO, Luiz Leonardo. Reforma da lei das S.A. comentada. Rio de Janeiro: Renovar,
2002; TIMM, Luciano Benetti. Arbitragem nos contratos empresariais, internacionais e
governamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009;
52
Dentre estes, destacam-se: MARTINS, Pedro A. Batista. “A Arbitragem nas sociedades de
responsabilidade limitada”. In: Reflexões sobre arbitragem: in memoriam do desembargador
Cláudio Vianna de Lima. Coord. Pedro A. Batista Martins; José Maria Rossani Garcez. São Paulo:
LTr, 2002; TOLEDO, Paulo Fernandes Campos Salles de “A arbitragem na Lei das Sociedades
Anônimas”, In: Sociedades Anônima, 30 anos da lei No. 6.404/76. São Paulo: IDA – Quartier
Latin, 2007; GARCEZ, José Maria Rossani, Arbitragem Nacional e Internacional. Belo Horizonte:
Del Rey, 2007; VILELA, Marcelo Dias Gonçalves, Arbitragem no Direito Societário. Belo
Horizonte: Mandamentos editora; FLAKS, Luis Loria. “A Arbitragem na Reforma da Lei das
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
A primeira corrente defende que a cláusula compromissória inserida em
contrato social é válida apenas àqueles que votaram a favor da sua inclusão. Esse
entendimento embasa-se na ideia de que o consentimento é indispensável para que
se possa validamente suprimir o conflito da apreciação da jurisdição estatal e
submetê-lo à jurisdição arbitral. Luciano Benetti Timm expõe esta posição de
maneira clara: “os acionistas que não compareceram à assembleia, abstiveram-se
de votar ou votaram contra a inclusão da cláusula arbitral não teriam
manifestado expressamente e inequivocamente a sua vontade de renunciar ao
direito de acesso ao Poder Judiciário, não estando, portanto, vinculados à
cláusula arbitral estatutária”.53
Por outro lado, há os que aderem ao princípio da maioria no sentido de que
cumprido o quorum exigido pelos sócios para alteração do contrato social, ela será
válida e aplicável a todos os sócios, independentemente se um ou outro
dissentiram ou se abtiveram de votar. Não há qualquer dúvida entre doutrinadores
(inclusive aqueles que se aderem à primeira corrente) ou em precedentes judiciais
que a norma incluída no contrato social (ou no estatuto das sociedades por ações)
vincula não só a sociedade, mas também todos os acionistas. E J. X. Carvalho de
Mendonça é claro ao afirmar que “[o] contrato de sociedade é bilateral, porque,
desde o momento da sua formação, obriga reciprocamente os contratantes, uns
para com os outros e a todos para com a sociedade”.54
Dessa forma, validamente deliberada a inserção de cláusula compromissória
pelo quorum necessário para modificação do contrato social (que, segundo o
artigo 1.076, é estabelecido em três quartos do capital social, salvo quorum
especial designado pelas partes), a cláusula compromissória é válida e aplicável a
todos os demais sócios, inclusive àqueles que dissentirem ou se abstiveram de
votar. É esta a regra aplicável a deliberações muito mais relevantes para o
acionista da sociedade como a mudança de seu objeto ou alteração da política de
dividendo.
S/A” In: Revista De Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, Ano XLII, jul.-set.,
2003, No. 131, pp. 100 e ss.; e BARBOSA MOREIRA, Daniela Bessone. “A Convenção Arbitral
em Estatutos e Contratos Sociais”, In: Arbitragem interna e internacional: (questões de doutrina e
da prática). Ricardo Ramalho Almeida Rio de Janeiro: Renovar, 2003.
53
TIMM, Luciano Benetti. Arbitragem nos contratos empresariais, internacionais e
governamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 67.
54
MENDONÇA, José Xavier Carvalho, Tratado de Direito Comercial Brasileiro, Volume II,
Tomo II, Livro II, Campinas: Bookseller, 2001, p. 23.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Mesmo diante da dissidência do acionista, a cláusula compromissória é
válida e a ele aplicável, do mesmo modo que é aplicável ao novo sócio que
adquire ações da sociedade sem aderir expressamente e especificamente à cláusula
compromissória. Ao ingressar em determinada sociedade, o sócio-quotista adquire
os direitos e obrigações previstos no contrato social, com seus ônus e bônus.
Dentre eles a obrigatoriedade de se arbitrar os eventuais litígios que surgirem no
âmbito da sociedade.
Por fim, uma última questão diz respeito aos conflitos externos da
sociedade. Diante do caráter institucional das sociedades limitadas, vimos que o
contrato social pode estabelecer e obrigar os sócios a se resolverem suas
controvérsias relacionadas aos aspectos de direito societário à arbitragem.
Entretanto, a previsão de cláusula compromissória no contrato social significa ser
a sociedade obrigada a arbitrar suas controvérsias com terceiros, pois para tanto
há a necessidade de haver a concordância expressa da outra parte.55
Em suas tratativas com terceiros, a previsão de cláusula compromissória
vincula a sociedade. Algumas discussões podem surgir quanto à extensão dessa
cláusula compromissória aos sócios quando (i) não for prevista cláusula
compromissória do contrato social; e (ii) o terceiro alega a desconsideração da
personalidade jurídica para derrubar a limitação da responsabilidade e, assim, ter
acesso aos bens dos sócios e administradores, nos termos do artigo 50 do Código
Civil.
55
WALD, Arnoldo. “O Direito Societário e a Arbitragem”, In: Arbitragem Doméstica e
Internacional: estudos em homenagem ao prof. Theóphilo de Azeredo Santos. Coord. Rafaella
Ferraz, Joaquim de Paiva Muniz. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 47.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
teorias. A primeira admite a arbitragem instituída ou aceita pelo
empregado; já a segunda não a admite de forma alguma.56
56
Caderno de Arbitragem do escritório Luís Roberto Barroso & Associados – publicação especial
comemorativa dos 10 anos da Lei nº 9.307/96, p. 4.
57
BRASIL. STJ, REsp 635.354/BH, Rel. Ministro Castro Meira, DJ 22.ago.05.
58
RO 03580-2003-244-01-00-3 – 2ª Turma – Tribunal Regional do Trabalho – 1ª Região.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
mediante ação judicial do artigo 7º.59 Além da referida ação, a Lei de Arbitragem
igualmente previu a participação do Poder Judiciário na condução de uma
testemunha faltosa (art. 22, §2º) aos árbitros como sinal da ampla eficácia da
jurisdição arbitral, bem como admitiu que os árbitros concedessem medidas
coercitivas ou cautelares e solicitassem ao Poder Judiciário a sua implementação.
Percebe-se, daí, que a eficiência da arbitragem, muito embora não seja
refém, depende, essencialmente, (i) da executoriedade da convenção de
arbitragem (respeitando a autonomia da vontade das partes) e (ii) da cooperação
do Judiciário, seja assistindo ao Tribunal Arbitral ou assegurando a
executoriedade da sentença arbitral.
De fato, a existência de um eficiente e confiável Poder Judiciário é uma
condição necessária para o bom andamento do procedimento arbitral. Ainda que
seja um mecanismo eficaz de resolução de controvérsias, a arbitragem não pode
ser vista como um sucedâneo do processo judicial. Ambos devem se
complementar e não concorrer. No exercício desse papel, o Poder Judiciário deve
atentar a dois aspectos naturais do procedimento arbitral, quais sejam, sua origem
contratual (a intervenção judicial deve ser no sentido de assegurar a vontade das
partes) e sua característica jurisdicional (que autoriza os árbitros a decidir o mérito
da controvérsia, não cabendo ao judiciário revê-lo).
59
Alguns autores, como os Professores Arnoldo Wald e Theophilo de Azeredo Santos (a
propósito, respectivamente, Dez Anos da Lei de Arbitragem, in Arbitragem no Brasil – Aspectos
Jurídicos Relevantes, Eduardo Jobim e Rafael Bicca Machado (orgs.), São Paulo, Quartier Latin,
2008, p.21/23; e Dez Anos da Lei de Arbitragem, Revista de Arbitragem e Mediação, Ano 4, n.12,
jan-mar 2007, São Paulo, RT, p.18 et seq.), sustentam que o desenvolvimento da arbitragem no
Brasil se deveu à mudança de posição do Supremo Tribunal Federal que, no julgamento da SEC
5206, passou a admitir a execução específica da cláusula compromissória.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
principalmente quando a sua atuação é necessária para a própria instauração da
arbitragem.
Esse é o caso da ação do artigo 7º, que, diante da existência de uma
convenção de arbitragem – desde que não se possa interpretá-la como cláusula
“cheia” – e da relutância da parte contrária em instituir a arbitragem, o interessado
poderá recorrer ao Poder Judiciário para compelir a outra parte a celebrar o
compromisso. É importante frisar que a ação do artigo 7º é regra de exceção,
invocada apenas para regular a instituição da arbitragem fundada em “cláusula
vazia” ou em “cláusula patológica”.60
Sem embargo, a cooperação entre o Poder Judiciário e a arbitragem não se
resume aos casos previstos na Lei de Arbitragem ou para suprir, eventualmente,
uma manifestação de vontade de uma parte recalcitrante (no caso da cláusula
vazia). Ela entra em ação, também, nos momentos em que seja impossível a
atuação do árbitro.
Um desses casos é o da tutela jurisdicional relacionada às medidas de
urgência pré-arbitral ou ao poder de coerção das medidas determinada pelos
árbitros, característica ausente da jurisdição dos árbitros.
Até o advento da reforma da Lei de Arbitragem de 2015, a Lei de
Arbitragem era omissa no que diz respeito às medidas de urgência, pré-arbitrais,
regulando apenas a análise cautelar pelos próprios árbitros:
60
Como ensina José Emílio Nunes Pinto, “esse dispositivo [do art. 7º] foi criado para regular
situações excepcionais ou anômalas, sendo dever dos operadores do direito zelar para que a
incidência de cláusulas dessa natureza seja cada vez menor.”, publicado sob o título “A Cláusula
Compromissória à Luz o Código Civil” in Revista Brasileira de Arbitragem e Mediação, Ano 2 –
n.º 4, janeiro-março de 2005, págs. 34/47.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
ao Poder Judiciário, antes de constituído o Tribunal Arbitral. A título de exemplo,
veja-se, o Regulamento do Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem
(“CBMA”):
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
“As medidas cautelares prévias à instauração do juízo arbitral, que
encontram fundamento no princípio da efetividade da tutela
jurisdicional, são, hoje, aceitas pela doutrina nacional e estrangeira e
pela jurisprudência, sendo, ainda, expressamente previstas nas regras
da UNCITRAL, eleitas pelas partes na cláusula compromissória
constante do acordo de quotistas. Têm elas o objetivo precípuo de
garantir a eficácia da futura arbitragem a ser instaurada.”61
61
ARNOLDO WALD. Cabimento de medida cautelar preparatória perante o Poder Judiciário
antes de instaurado o juízo arbitral in Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, n. 27,
ano 8, São Paulo, jan-mar/2005, pp. 160 e 163
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
preocupação decorre do fato de que, de acordo com o regulamento das principais
câmaras de arbitragem utilizadas no Brasil, é praticamente inviável a aceitação da
nomeação dos árbitros (art. 19 da Lei de Arbitragem) no prazo de 30 dias do art.
308 do NCPC.
Quanto ao destino da medida cautelar requerida ao Poder Judiciário após a
instauração do juízo arbitral, as posições da doutrina são as mais variadas
possíveis, coincidindo a maioria, pelo menos, no ponto mais importante:
instaurada a arbitragem, caberá ao tribunal arbitral analisar a medida cautelar
solicitada ao Poder Judiciário.
São diferentes os tipos de medidas coercitivas que se pode ter.
Primeiramente, é importante que dos árbitros não se retire os poderes de decidir
quanto à produção das provas necessárias ao seu livre convencimento. Daí,
portanto, o artigo 22 da Lei de Arbitragem que dispõe que o árbitro poderá “tomar
depoimento das partes, ouvir testemunhas e determinar a realização de perícias
ou provas que julgar necessárias, mediante requerimento das partes ou de
ofício”.
Entretanto, a Lei não poderia conferir tal competência aos árbitros sem que
lhes fosse possível, efetivamente, implementar tais decisões. Como o árbitro não
detém o poder de coerção, por faltar à jurisdição arbitral tal característica da
jurisdição estatal, caberá a ele utilizar da função cooperativa do Poder Judiciário
para determinar a condução da testemunha (art. 22, §2º, da Lei de Arbitragem e
art. 412 do Código de Processo Civil).
Note, porém, que tais discussões, hoje, encontram-se endereçadas, em sua
maioria, com a inclusão dos artigos 22-A a 22-C na Lei de Arbitragem. Dispõe
tais artigos que:
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Art. 22-C. O árbitro ou o tribunal arbitral poderá expedir carta arbitral
para que o órgão jurisdicional nacional pratique ou determine o
cumprimento, na área de sua competência territorial, de ato solicitado
pelo árbitro.
Parágrafo único. No cumprimento da carta arbitral será observado o
segredo de justiça, desde que comprovada a confidencialidade
estipulada na arbitragem.
QUESTÕES DE AUTOMONITORAMENTO
1. Após ler a apostila, você é capaz de resumir o caso gerador, identificando as
partes envolvidas, os problemas atinentes e as possíveis soluções cabíveis?
2. Quais as principais barreiras vistas pela doutrina e jurisprudência para se
admitir a arbitrabilidade nos contratos administrativos?
3. As entidades da Administração Pública precisam de autorização legislativa para
serem parte do procedimento arbitral? Se sim, essa autorização já existe? Cite o(s)
dispositivo(s) legal(is).
4. Como saber se o litígio envolve direitos indisponíveis no âmbito dos contratos
administrativos?
5. O método de solução de controvérsias que ocorre no seio da agência reguladora
pode ser considerado uma arbitragem legítima, regida pela Lei n° 9.307/1996? Por
quê?
6. Qual seria a interpretação adequada do art. 43, X, da Lei n° 9.478/1997?
7. Pense e descreva, mentalmente, outras alternativas para a solução do caso
gerador.
62
O caso foi fundamentado na seguinte notícia:
<http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI245259,11049-
STJ+decide+conflito+de+competencia+envolvendo+recuperacao+judicial+da>. Acessado em: 04
jan. 2017.
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No caso, a empresa credora J requereu ao conselho de administração da
empresa Alpha a realização de assembleia geral extraordinária para que fosse
permitida aos acionistas a destituição de parte dos atuais membros do órgão gestor
e a realização de nova eleição para substituí-los, mas o pedido foi indeferido pela
administração. Por esse motivo a empresa J formulou pedido de tutela de urgência
à câmara de arbitragem postulando a realização da assembleia, no qual o juízo
arbitral reconheceu sua competência para resolver a disputa e autorizou a
assembleia.
Ao mesmo tempo, o grupo acionário ZETA questionou em juízo de Direito
a decisão da arbitragem, tendo o magistrado da vara empresarial da recuperação
judicial suspendido a realização da reunião.
Uma semana depois, o juízo arbitral reafirmou sua competência exigindo
que o juízo de direito se abstivesse de praticar atos que impeçam a referida
assembleia.
Diante de tal narrativa responda:
1) Confronte os posicionamentos das partes acerca do Princípio da
Competência-Competência e do interesse público?
2) Na sua opinião, qual juízo está agiu corretamente?
3) Se coubesse a você julgar o caso relatado, qual seria sua decisão?
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O caso foi fundamentado na seguinte notícia:
<http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI245259,11049-
STJ+decide+conflito+de+competencia+envolvendo+recuperacao+judicial+da>. Acessado em: 04
jan. 2017.
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administração. Por esse motivo a empresa J formulou pedido de tutela de urgência
à câmara de arbitragem postulando a realização da assembleia, no qual o juízo
arbitral reconheceu sua competência para resolver a disputa e autorizou a
assembleia.
Ao mesmo tempo, o grupo acionário ZETA questionou em juízo de Direito
a decisão da arbitragem, tendo o magistrado da vara empresarial da recuperação
judicial suspendido a realização da reunião.
Uma semana depois, o juízo arbitral reafirmou sua competência exigindo
que o juízo de direito se abstivesse de praticar atos que impeçam a referida
assembleia.
Diante de tal narrativa responda:
1) Confronte os posicionamentos das partes acerca do Princípio da
Competência-Competência e do interesse público?
2) Na sua opinião, qual juízo está agiu corretamente?
3) Se coubesse a você julgar o caso relatado, qual seria sua decisão?
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