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M EM DIREITO:
ESTADO E REGULAÇÃO
SESSÃO VI
Organizadores
Assistentes de pesquisa: CARNEIRO, Cristiane;
LOBATO, Cristina; MAIA, Cristiana; PINTO,
Danielle.
Professores: ALMEIDA, Tânia; ASSED,
Alexandre; FRAGATA, Otávio; FÜRST, Olívia.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
SUMÁRIO
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Sessão VI – Mediação de conflitos: conceito, modalidades e objetivos.
Princípios norteadores. Papel do Mediador. Processo de Mediação
ROTEIRO DE ESTUDO
1 Negociação: O princípio de tudo
A negociação é uma atividade cotidiana que o ser humano pratica desde a
era pré-histórica. Muitas vezes não percebemos quantas vezes negociamos durante
nosso dia, seja com nossa família, com vizinhos ou com parceiros de trabalho.
A partir desse conceito, compreende-se que o objetivo de constituir a
mútua satisfação é o que torna o processo de negociação tão interessante (e
também tão difícil). Não é suficiente “vencer” o outro lado, ambos têm que
“vencer” e ambos devem chegar à posição de acordo ao mesmo tempo.
Ou seja, a ideia de um bolo fictício de tamanho fixo a ser repartido
prejudica a negociação, ao conduzir a uma disputa pela maior fatia. Assim, cabe
ao mediador auxiliar os negociadores a vislumbrar a possibilidade de, mediante
um acordo, aumentar os ganhos para ambos, isso é, conduzi-los a uma negociação
cooperativa, superando a convencional negociação competitiva, facilmente
observada em audiências judiciais.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
desvantagens. Tal situação reflete o dilema no qual todo negociador se encontra e
deve ser trabalhado.
Na Negociação Cooperativa, deve-se trabalhar com os conceitos de
Valor de Reserva (VR) - que constitui o máximo de concessões que cada parte
pode ofertar – e de Zona de Possível Acordo (ZOPA) - que constitui o conjunto
de alternativas possíveis no intervalo entre os Valores de Reserva de cada parte.
No entanto, para que se determine o Valor de Reserva, deve-se levar em
consideração a consequência de não se conseguir compor o acordo, sendo essa
possibilidade chamada de Best Alternative To a Negotiated Agreement
(BATNA). A definição de tais valores é fundamental em qualquer negociação
complexa. Veja o gráfico abaixo, no qual N1 e N2 representam os negociadores:
N1 VR1
VR2 N2
ZOPA
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Assume-se uma posição maleável de O debate mostra-se como uma queda
barganha de braço
Oferecem-se trocas Conquista-se sem fazer concessões
2 Mediação de Conflitos
Os meios consensuais de solução de controvérsias são buscados pelas
partes principalmente em virtude da descrença e da morosidade do Poder
Judiciário,1,2 bem como da privacidade3 que tais métodos permitem conferir à
solução do conflito. Não há, afinal, a obrigatoriedade de tornar público o processo
de mediação, ao contrário do que ocorre com os processos judiciais.4
Dessa feita, é imprescindível que as partes, após frustrada a negociação
direta,5,6 tenham confiança naqueles que escolheram para auxiliá-los a chegar ao
fim da controvérsia.
1
CUNHA, J. S. Fagundes. Da mediação e da arbitragem endoprocessual. In: Revista dos Juizados
Especiais. São Paulo: Editora Fiuza, v. 4, n. 14, out./dez. 1999, p. 16, aponta este motivo como o
propulsor para levar a Argentina à reflexão da instituição da mediação. Assim, foi criado o
Programa Nacional de Mediação, cujo objetivo declarado e central era o desenvolvimento da
mediação não somente anexa, conectada ou relacionada com o Poder Judiciário (tribunal), senão a
instalação de centros de mediação comunitária, a criação de centros de mediação institucionais –
dentro de organismos não governamentais -, tais como colégios profissionais, fundações,
associações civis, que em tal caráter poderiam administrar, monitorar e avaliar os programas, a
qualidade do serviço e o nível de satisfação dos usuários, levando em conta, também os programas
de mediação escolar, tanto a nível primário como secundário.
2
LOUREIRO, Luiz Guilherme de Andrade Vieira. A mediação como forma alternativa de solução
de conflitos. In: Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 87, n. 751, mai. 1998, p. 100, defende que a
mediação não deve ser vista como uma forma de remediar o crescimento exponencial do
contencioso judicial, pois o seu principal benefício não é a redução de processos, mas sim o
aperfeiçoamento na qualidade da prestação jurisdicional, permitindo melhorar a imagem da
Justiça.
3
Somente é possível divulgar qualquer informação sobre a questão se houver autorização expressa
das partes envolvidas. O sigilo nos meios alternativos é regra; nos atos processuais é exceção.
4
Código de Processo Civil (Lei nº 5.869/1973) art. 155.
5
Para LIMA, Claudio Vianna de. Observações da prática da mediação e da arbitragem. In: Revista
Doutrinária, Niterói, v. 4, n. 4, mai. 2001, p. 82, o ponto de partida está na solução espontânea das
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
2.1 Métodos de solução de conflitos: distinções
próprias partes. Na sua visão, a negociação direta, pessoal, das partes se distingueda chamada
negociação profissional (técnica, ciência ou arte de conduzir os entendimentos, com o uso de uma
série de princípios e práticas objeto de estudos e textos de profissionais, que se vinculam até ao
livro do general chinês SUN TSU, autor do livro “A Arte da Guerra”).
6
OLIVEIRA, Regis Fernandes de. Mediação (instrumento da pacificação social). In: Revista dos
Tribunais, São Paulo, v. 91, n. 799, mai. 2002, p. 90, esclarece que a negociação pode ocorrer
entre particulares, entre particulares e entes públicos e, também no nível internacional, em que
pessoas físicas e jurídicas de alguns países controvertem sobre algo.
7
Outros meios são: Mini-Trial, Avaliação Neutra de Terceiro, Review Boards, Sistema de Manejo
de Conflitos (SMC) e Med-Arb. Para estudo desses meios, recomenda-se o artigo de Tania
Almeida denominado Século XXI – A Mediação de Conflitos e Outros Métodos Não adversariais
de Resolução de Controvérsias em Anais de Palestras proferidas em 2002. Rio de Janeiro:
Secretaria Pro Tempore do Conselho de Câmaras de Comércio do Mercosul, pp. 10-11.
8
GARCEZ, Jose Maria Rossani. Negociação, ADRS, Mediação, Conciliação e Arbitragem. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2004. p.54.
9
Ibidem. p. 27.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
árbitro, resolve o conflito, impondo uma solução,10 como esclarece Jacob
Dolinger e Carmen Tiburcio.11
Assim, podemos elaborar o seguinte quadro comparativo entre os métodos:
Conciliação Mediação Arbitragem
O Conciliador possui mais Na mediação o terceiro, Na Arbitragem, o
autonomia, isso é, pode denominado mediador, atua terceiro, denominado
intervir mais. O conciliador como um “potencializador árbitro, resolve o conflito.
deve aparar as arestas das sugestões trazidas pelas
existentes para que os próprias partes para a
litigantes, de forma solução de controvérsia.”
consensual, cheguem a uma
solução.12
10
A decisão proferida pelo(s) árbitro(s) é obrigatória para as partes e inapelável, sendo somente
admitido recurso visando o esclarecimento ou correção de erro material (art. 30 da Lei de
Arbitragem).
11
DOLINGER, Jacob; TIBURCIO, Carmen. Direito Internacional Privado – Arbitragem
Comercial Internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 19.
12
RICHE, Cristina Ayoub. Lei de Arbitragem nº 9.307/96 – Uma solução alternativa para os
conflitos de ordem jurídica. Rio de Janeiro: UniverCidade, 2001. p. 26.
13
LIMA, Claudio Vianna de. Observações da prática da mediação e da arbitragem. In: Revista
Doutrinária, Niterói, v. 4, n. 4, mai. 2001, p. 84.
14
O emprego da expressão “meios alternativos” é objeto de crítica por parte de alguns autores,
uma vez que demonstraria existir uma hierarquia entre um meio principal (superior) e os
alternativos (inferiores). O critério para a eleição de um meio/método de resolução de conflitos, no
entanto, é a adequação, e não uma posição nessa suposta escala hierárquica. Por essa razão, muitos
preferem se referir, simplesmente, a “meios consensuais de resolução de controvérsias”.
15
CARPENTER, Susan; L. KENNEDY, W. J. D. Managing Public Disputes – A Practical Guide
for Government, Business, and Citizens’ Groups. San Francisco: Jossey-Bass, 2001. p. 3.
Tradução livre - Many disputes are predictable; others catch us by surprise.
16
Na Lei de Arbitragem, este princípio é encontrado logo no art. 1º.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
disponível17 ou, conforme prevê o artigo 3º da Lei de Mediação, direitos
indisponíveis passíveis de transação.
O artigo 3º da lei de mediação veio reforçar a ideia defendida na doutrina
por Luiz Guilherme de Andrade Vieira Loureiro,18 dentre outros, que enfatizava
ser possível o uso da mediação em conflitos envolvendo o direito público e em
casos relativos ao direito privado.
17
Segundo LIMA, Cláudio Vianna de. A Lei de Arbitragem e o artigo 23, XV, da lei de
Concessões. In: Revista de Direito Administrativo-209. jul./set. 1997, p. 92: “são patrimoniais os
direitos relativos a bens que podem ser apreciados economicamente, quantificados em moeda.
Disponíveis são os direitos que se referem a bens apropriáveis, alienáveis, que se encontram no
comércio jurídico”.
18
LOUREIRO, Luiz Guilherme de Andrade Vieira. A mediação como forma alternativa de
solução de conflitos. In: Revista dos Tribunais. São Paulo, v. 87, n. 751, mai. 1998, p. 95.
19
SERPA, Maria de Nazareth. Teoria e Prática da Mediação de Conflitos. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 1999. p. 154.
20
Ibidem.
21
O art. 8º do Substitutivo ao Projeto de Lei para instituição da mediação (PL nº 4.827/1998, de
autoria da Deputada Zulaiê Cobra Ribeiro) prevê a sua transformação em título executivo judicial
quando, a pedido das partes, homologada pelo juiz.
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2.2.3 Princípio da neutralidade e imparcialidade da intervenção
A neutralidade22 e imparcialidade são fundamentais na mediação uma vez
que são as próprias partes que chegam a um denominador comum. Assim, a
imparcialidade deve ser entendida como23 a ausência de favoritismo ou
preconceito com relação a palavras, ações ou aparências. Imparcialidade implica
um compromisso de ajuda a todas as partes, em oposição a uma parte
individualmente, na movimentação em direção a um acordo.
Se por algum motivo o mediador achar que sua atitude não está sendo
imparcial, deve-se retirar para evitar prejuízo para uma ou ambas as partes. Jorge
Pereira Raggi e Angelina Maria Lanna Moraes24 reforçam que o mediador deve
“conduzir a mediação de maneira imparcial, estar e parecer imparcial”.
22
O termo “neutro” gera controvérsia, pois o mediador, assim como o juiz, deve ser imparcial,
mas isso não significa que ele consiga ser absolutamente neutro.
23
Regra 10.070 do Capítulo 44.1011 dos Estatutos da Flórida.
24
RAGGI, Jorge Pereira; MORAES, Angelina Maria Lanna. Perícias Ambientais: controvérsias e
estudo de casos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. p. 120.
25
SERPA, Maria de Nazareth. Teoria e Prática da Mediação de Conflitos. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 1999. p. 156.
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2.2.5 Princípios da flexibilidade e informalidade do processo
Em virtude dos princípios da flexibilidade e informalidade do processo,
cabe às partes determinar a estrutura da mediação, sendo desnecessária, ao
contrário do que ocorre em sede judicial, a aplicação de normas genéricas e pré-
estabelecidas de condução do processo. Em regra, no entanto, a mediação
apresenta as seguintes etapas:
1. Pré-Mediação – oferecimento de informações sobre o processo de
mediação, avaliação da situação e eleição do mediador;
2. Discurso de Abertura – negociação, estabelecimento de procedimentos,
assinatura do Acordo de Participação e do Termo de Independência;26
3. Relato das Histórias – as partes relatam a controvérsia em entrevistas
conjuntas e / ou privadas, e são utilizadas, primordialmente, técnicas de
comunicação;
4. Construção, Ampliação e Negociação de Alternativas – a agenda com
as questões que carecem de solução é construída, alternativas de resolução
são elaboradas e opções de solução pautadas no benefício mútuo são
eleitas; as técnicas de negociação são utilizadas;
5. Fechamento do Processo de Mediação – redação das conclusões finais e
encaminhamento para as partes ou para homologação judicial.
26
Termo assinado pelo mediador se comprometendo com esta mediação e atestando não ter
interesses conflituosos.
27
O acordo originado a partir do processo de mediação, quando não homologado, tem força de
título executivo extrajudicial; quando homologado, de título executivo judicial. Assim sendo,
embora o mediador de conflitos não tenha a atribuição de exigir o cumprimento do que vier a ser
acordado, as partes podem, para tanto, recorrer ao Poder Judiciário. Naturalmente, o propósito
desse meio consensual de solução de controvérsias é que o cumprimento se dê de maneira
voluntária.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Esclarece Maria de Nazareth Serpa:28 “a vontade das partes se manifesta
de maneira autônoma e soberana, e os direitos podem fazer parte do arsenal de
valores das partes, mas as decisões só as vinculam na medida do seu
entendimento, conscientização e aceitação de suas premissas”.
28
SERPA, Maria de Nazareth. Teoria e Prática da Mediação de Conflitos. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 1999. p. 157.
29
RAGGI, Jorge Pereira; MORAES, Angelina Maria Lanna. Perícias Ambientais: controvérsias e
estudo de casos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. p. 121.
30
Vide a Íntegra da legislação no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13140.htm Acessado em 16 de jan. de 2017.
31
Vide a integra da legislação no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13129.htm Acessado em: 16 de jan. de 2017.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
deixar claro a possibilidade de a Administração Pública adotar a arbitragem para
resolver seus litígios, entre seus órgãos ou entre esta e os particulares.
A Lei n.° 13.140/2015 forneceu um conceito legal para mediação e passa
a permitir a existência da mediação judicial ou extrajudicial:
Art. 1º [...]
Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida
por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito
pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver
soluções consensuais para a controvérsia.
Esse novo conceito permite que seja aplicada a mediação tanto para
litígios envolvendo direitos disponíveis ou indisponíveis, desde que estes últimos
admitam transações, e venham a ser homologados em juízo.
Outrossim, a Lei de Mediação prevê a possibilidade da Advocacia Pública
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios instaurarem, de
ofício ou mediante provocação, procedimento para mediação coletiva de conflitos
relacionados à prestação de serviços públicos.
O novo CPC também veio no sentido de valorizar a mediação e as
soluções alternativas de conflito, ao prever no §8º do art. 334 do CPC 2015 que o
não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de
conciliação/mediação deve ser considerado ato atentatório à dignidade da justiça,
que poderá ser sancionado com multa de até 2% da vantagem econômica
pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.
A Lei n.° 13.140/2015 autoriza e incentiva que a Administração Pública
preveja e resolva seus conflitos por meio da conciliação e mediação (art. 32),
como já era defendido pela doutrina antes da modificação da lei de arbitragem
instituída pela Lei 13.129/2015, que alterou o art. 1º, § 1º da Lei n.°9.307/96 para
prever que a administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da
ARBITRAGEM para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais
disponíveis:
Art. 1º [...]
§ 1º A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da
arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais
disponíveis.
§ 2º A autoridade ou o órgão competente da administração pública
direta para a celebração de convenção de arbitragem é a mesma para a
realização de acordos ou transações.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Essa previsão legal trouxe uma autorização genérica para a utilização da
arbitragem pela Administração Pública no caso de conflitos que envolvam direitos
patrimoniais disponíveis.
Segundo a nova redação da Lei 13.129/2015,32 a arbitragem poderá ser de
duas espécies: de direito ou de equidade, a critério das partes.
A arbitragem de direito é aquela em que os árbitros decidirão a
controvérsia com base em regras de direito, já a arbitragem de equidade é
aquela em que os árbitros decidirão a controvérsia não com base necessariamente
no ordenamento jurídico, mas sim de acordo com aquilo que lhes parecer mais
justo, razoável e equânime.
Como a Administração Pública é pautada pelo princípio da legalidade (art.
37, da CF/88), a Lei n.° 13.129/2015 vetou o uso da arbitragem por equidade
quando esta for aplicada a Administração Pública:
Art. 2º [...]
§ 3º A arbitragem que envolva a administração pública será sempre de
direito e respeitará o princípio da publicidade.
Uma antiga polêmica solucionada pela Lei n.° 13.129/2015 foi a afirmação
da possibilidade de controle judicial formal das decisões arbitrais, uma vez que a
Lei nº 13.129/2015 ao acrescentar o §4º ao art. 33 trouxe a possibilidade de a
parte ajuizar ação exigindo que os peritos complementem a sentença arbitral caso
esta tenha sido proferida de maneira parcial, sendo omissa quanto a algum pedido:
Art. 33 [...]
§ 4º A parte interessada poderá ingressar em juízo para requerer a
prolação de sentença arbitral complementar, se o árbitro não decidir
todos os pedidos submetidos à arbitragem.
32
Vide o art. 2º da Lei n 9.307/96.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Um ponto polêmico trazido por essa ampla inovação legislativa encontra-
se entre o artigo 168 do novo CPC/2015 e a Lei de Mediação (Lei nº
13.140/2015), uma vez que pela redação do novo CPC haveria autorização legal
para que as partes pudessem escolher o mediador judicial livremente, sem a
necessidade de qualquer cadastro perante o tribunal de justiça:
3 Tribunais Multiportas
Deve-se ter em mente que na mediação cada disputa tem uma anatomia e
para cada perfil de disputa há uma maneira mais adequada de solução. Diante
dessa variedade de processamentos possíveis para um conflito, o professor Frank
Sander, da Harvard Law School, desenvolveu o conceito de Tribunal
Multiportas, um modelo participativo de solução de conflitos por meio do qual
os casos são direcionados para os métodos mais adequados à natureza da
controvérsia.
Nos Estados Unidos, o Tribunal Multiportas promove a triagem das
demandas originárias do sistema judiciário com objetivo de auxiliar as partes a
escolherem o método de resolução de conflito mais apropriado para a controvérsia
em questão. Permite-se, assim, alcançar uma solução
mais efetiva, porque as partes são direcionadas ao
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
método mais adequado, bem como favorecer a satisfação com o resultado e a sua
implementação, em razão da significativa participação dos envolvidos.
Para Mariana Hernandez Crespo,
33
Ibdem, p. 81.
34
ALMEIDA, Tania. Tribunal Multiportas: Investindo no capital social para maximizar o sistema
de solução de conflitos no Brasil. FGV, 2012.
35
A pesquisa teve início em 2006 e os resultados foram apresentados em 2008 em um seminário
internacional organizado na Universidade de Saint Thomas, em Mineápolis, EUA, os quais foram
sistematizados no livro “Tribunal Multiportas: investindo no capital social para maximizar o
sistema de solução de conflitos no Brasil”, organizado por Rafael Alves de Almeida, Tania
Almeida e Mariana Hernandez Crespo e publicado pela Editora FGV em 2012.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
• Preservação de uma maior informalidade entre os
envolvidos. Os prazos são negociáveis;
• Possibilita o reconhecimento do outro, de seus
interesses e necessidades.
• Possibilita soluções mais criativas, desenvolvidas e
empreendidas pelas próprias partes, o que gera maior grau
de aceitação, implementação e cumprimento voluntário,
afastando a chamada “litigiosidade contida;
• Possibilita a transformação e redimensionamento do
conflito;
• Viabiliza uma solução mais célere, a um custo
financeiro significativamente menor.
Por sua vez, no âmbito contratual, para que sejam alcançados esses
benefícios é fundamental o cuidado na redação de cláusulas que prevejam o
recurso a métodos alternativos de solução de conflitos. As cláusulas denominadas
escalonadas, também conhecidas por cláusulas Med-Arb, são aquelas que
preveem a solução do conflito, inicialmente, por mecanismo autocompositivo,
36
Cartilha de Mediação da OAB-RJ. Disponível em:
http://administrativo.oabrj.org.br//arquivos/files/-Comissao/cartilha_mediacao.pdf. Acesso em: 16
jan. 2017.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
qual seja a mediação e, não chegando as partes à solução por consenso,
estabelecem o encaminhamento da questão a um terceiro, o árbitro, que decidirá o
caso em definitivo, substituindo-as.
Os termos em que for redigida a cláusula Med-Arb indicarão com maior
precisão se as partes previram ou não a obrigatoriedade da fase de mediação.
Contudo, a recusa de uma das partes em comparecer para a mediação, depois de
convidada, encerra essa fase, tendo em vista o caráter voluntário da mediação e a
possibilidade sempre presente de qualquer das partes ou do mediador encerrar a
mediação, em qualquer fase do procedimento. Alguns aspectos merecem ser
considerados na sua redação, para que produza resultados positivos:
37
Principais aspectos relacionados à chamada Cláusula Escalonada, também conhecida por
Cláusula Med-Arb, no que toca o mecanismo da mediação – Grupo de Estudos de Mediação
Empresarial Privada do Comitê Brasileiro de Arbitragem – Cbar. Disponível em:
http://www.cbar.org.br/PDF/Artigo_1_Clausula_Escalonada_out-2012.pdf. Acesso em: 16 jan.
2017.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Com o objetivo de escolher o meio de resolução de conflitos mais
adequado ao caso existente, a GE Foundation criou a ferramenta Olé! Online
Dispute Analysis38 para auxiliar na análise e avaliação de disputas.
4 Ferramentas do mediador
O desafio do mediador, portanto, é fazer com que as partes identifiquem a
posição em que o acordo é possível. A mediação é exitosa se o mediador, além de
apresentar qualidade técnica, também adota a abordagem adequada ao contexto do
conflito.
O mediador como facilitador deve proporcionar um ambiente construtivo
para as partes, auxiliando-as na avaliação das propostas apresentadas pelo outro
lado. A participação, assim, é passiva, com objetivo de entender os interesses das
partes, na tentativa de aproximá-las, sem analisar o mérito da controvérsia.
O mediador ativo,39 em contrapartida, estuda as posições das partes, mas
não tem medo de apresentá-las a um choque de realidade no mérito, atuando com
neutralidade e apoiando-se na credibilidade conquistada. Nesse sentido, há
mediação como negociação, em que o mediador atua como agente das partes,
sempre respeitando a vontade delas quanto à confidencialidade e propostas
condicionadas.
A mediação de conflitos é, em termos de propósitos, o instrumento mais
próximo da negociação direta colaborativa - por objetivar reproduzi-la na
presença de um terceiro – o mediador -, que coordena o diálogo entre os
mediandos de forma a mantê-los como autores não somente das soluções
propostas, mas também de todos os aspectos regidos pela autonomia da vontade.
A mediação sofreu a influência dos princípios do método de negociação
de Harvard:40 (i) Discriminação entre as questões a serem negociadas e a relação
existente entre os envolvidos no desacordo; (ii) Negociação de interesses e não de
posições; (iii) Criação de Soluções de benefício mútuo; (iv) Estabelecimento de
critérios objetivos para obter o consenso. Vejamos cada um deles:
38
Ferramenta do International Mediation Institute (IMI) utilizada para analisar disputas.
Disponível em: http://imimediation.org/ole. Acesso em 16 jan. 2017.
39
Esta espécie de mediação é também conhecida como avaliadora/avaliativa.
40
William Ury e Roger Fisher apresentam os princípios que desenvolveram no Harvard
Negotiation Project no segundo capítulo – “Método” - do livro Getting to yes. Essa obra, que
teve sua primeira publicação em 1981, tornou-se um clássico do mundo das negociações.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
(i) No dissenso não se negocia apenas a matéria, a substância, mas
também, a forma de tratamento interpessoal. Pautados nessa premissa,
mediadores constroem, com a anuência dos mediandos, uma pauta objetiva
(relativa à matéria) e uma pauta subjetiva de negociação (relativa à relação) e as
trabalham em paralelo. Essa discriminação é feita durante a oitiva das partes. Na
pauta objetiva, a matéria ganha evidência; na subjetiva, destacam-se,
especialmente, os sentimentos traduzidos em preocupações futuras41 ou em
necessidade de reconhecimento, assim como valores feridos na convivência.
(ii) Os mediadores devem reconhecer que as posições são escudos rígidos
o suficiente para defender interesses e importantes necessidades, ocultos em um
primeiro momento. A Mediação integra o pacote das negociações baseadas em
interesses – um recente norteador de construção de consenso. A imagem que tem
traduzido a preciosa diferença entre posições e interesses é a do iceberg, que
mostra emersa a menor parte de sua estrutura – posição – e tem submersa sua
maior massa de gelo – interesses, necessidades e valores. É preciso submergir nas
posições, por meio de perguntas, para alcançar os interesses e valores
salvaguardados. Em uma negociação baseada em interesses e valores, como a
mediação, são estes que irão compor a pauta de negociação, e não as posições.
(iii) Cabe ao mediador auxiliar os mediandos a pensarem, a formatarem e
a oferecerem soluções que contemplem a todos os envolvidos; os mediadores os
estimulam, indiretamente, a exercitar a cooperação e a cuidar do restauro da
relação social entre todos. Criar soluções de benefício mútuo é um convite difícil
de ser aceito, pois não é prática em nossa cultura sentarmos à mesa de
negociações nos colocando no lugar do outro para identificar suas necessidades e
interesses, visando a incluí-los na solução a ser proposta. Estamos habituados a
buscar e a oferecer soluções que nos atendam, sem considerar, por vezes, o custo
para o outro ou as possibilidades objetivas ou subjetivas desse outro para atendê-
las. Essa é uma mudança paradigmática proposta por esse instituto, que demanda,
por vezes, tempo de assimilação e concretização.
41
As críticas feitas a propósito deste primeiro princípio – separar a questão da relação – inspiraram
Roger Fisher e Daniel Shapiro a escreverem Beyond reason: using emotions as you negotiate –
uma obra dedicada a cuidar, especialmente, das relações entre as pessoas em desacordo,
traduzindo em preocupações os sentimentos trazidos à mesa de negociação.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
(iv) O mediador deve incentivar a adoção de critérios objetivos capazes de
operacionalizar o acordo firmado. Assim, se a venda de parte da sociedade
comercial é consenso, critérios objetivos podem ajudar a operacionalizá-la; se a
convivência com o(s) filho(s) será definida por comum acordo, critérios
objetivos podem auxiliar a efetivá-la; se um grupo decide, após longas
negociações, comemorar um evento com um jantar, critérios objetivos (uso
de cartão, existência de estacionamento, comida contemporânea com pratos
vegetarianos, inclusive) podem facilitar a escolha do restaurante.
Em torno dessa dinâmica, o processo de Mediação se instala: ouvindo e
legitimando os pontos de vista dos mediandos, auxiliando-os a negociar as pautas
objetiva e subjetiva, incentivando-os à autoria e à busca de soluções de benefício
mútuo, responsáveis diretos pelo comprometimento na execução do acordado.
Entre as diversas ferramentas utilizadas pelo mediador, vale destacar a
chamada Escuta Ativa; o Caucus; o Reframing; o Teste de Realidade e a
Exploração de Opções. Vejamo-las:
4.1Escuta ativa
A escuta ativa é aquela que extrapola a atividade mecânica de assimilar o
que é revelado, tendo como objetivo compreender o conteúdo das mensagens.
Segundo Buitoni,
a chamada escuta ativa significa, de modo genérico, uma escuta onde
o mediador não faz um simples registro do que é dito pelo mediando,
mas faz perguntas, interage com o mediando, deixando que o
mediando se expresse livremente, sem interpretar, apenas facilitando a
expressão da fala do mediando. Agindo assim, o mediando vai
fazendo sua narrativa do modo que achar melhor e o mediador vai
captando seus conteúdos, sentimentos e emoções. De um lado, temos
o mediador que escuta ativamente, de outro lado o mediando que fala
com liberdade, sem que o mediador direcione sua fala.42,43
4.2 Caucus
É a reunião privada. A caucus é um recurso relevante na desconstrução de
impasses e no acolhimento de diferenças, construindo espaço para que os
interessados, separadamente, acompanhados ou não de advogado, sejam
42
BUITONI, Ademir. A Mediação de Conflitos e a Escuta Criativa. In: Revista de Arbitragem e
Mediação. v.31 – out/dez,2011. p.174.
43
Ibidem. p.187. Neste trecho, Buitoni vai ainda além e propõe a chamada escuta criativa.
_______________________________________________________________ 22
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
indagados sobre questões que eventualmente não seriam expostas nas reuniões
conjuntas.
Segundo Tânia Almeida, a utilização de reuniões privadas deve ser usada
com cautela, pois é necessário manter a confiança dos mediados no mediador.
Assim, a professora destaca que:
Ou seja, esse instrumento deve ser usado pelo mediador com cautela,
devendo ele garantir a sua imparcialidade, isto é, garantir igualdade de
oportunidades e tempo de duração equivalente da reunião, consultando com as
partes, ainda, a extensão do sigilo dos temas abordados na sessão privada
4.3 Reframing
O reframing, ou reenquadramento, é uma técnica de recontextualização,
através da qual o mediador estimula as partes a perceberem determinado contexto
fático por outra perspectiva. Por meio do reframing, “se estimula a parte a
considerar ou entender uma questão, um interesse, um comportamento ou uma
situação de forma mais positiva – para que assim as partes possam extrair
soluções também positivas.”45
44
ALMEIDA, Tânia. Caixa de Ferramentas em Mediação: Técnicas e Procedimentos,
Operacionalização das Intervenções e Impactos Esperados. Disponível em:
http://www.mediare.com.br/08artigos_15caixadeferramentas.html. Acesso em: 16 jan. 2017.
45
AZEVEDO, André Gomma (org.). Manual de Mediação Judicial. 4ed. Brasília/DF: Ministério
da Justiça e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD), 2013. p. 196.
_______________________________________________________________ 23
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
mundo interno ou percepção característica decorrente do contexto fático e anímico
que se encontram”. 46
É recomendado, todavia, que a parte seja avisada sobre a utilização dessa
técnica, bem como se aplique prioritariamente em sessões privadas (causus).
46
Ibdem, p. 204.
47
Idem, Ibdem, p. 69.
48
Mediação corporativa ganha espaço no mercado. Disponível em:
http://www.conjur.com.br/2012-ago-26/mediacao-corporativa-solucionar-conflito-ganha-espaco-
mercado. Acesso em: 16 jan. 2017.
_______________________________________________________________ 24
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
mediadores, institucionalizando-os e prevendo os princípios informadores da
conciliação e da mediação:
Seção VI
Dos conciliadores e mediadores judiciais
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução
consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e
audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de
programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a
autocomposição. [...]
49
Disponível em: http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-
presidencia/resolucoespresidencia/12243-resolucao-no-125-de-29-de-novembro-de-2010.Acessado
em: 16 jan. 2017.
50
Apple e Samsung tentarão mediação antes de julgamento de patentes - Executivos se reuniram
para 'discutir oportunidades de acordo'. Gigantes da tecnologia se encontrarão nos tribunais em
_______________________________________________________________ 25
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Outra área relevante de aplicação é no âmbito das ouvidorias, tendo em vista que
“trata-se de um canal aberto para que o cidadão apresente as suas demandas para a
apreciação do poder público, dentro da ótica de um locus de mediação entre o governo e a
sociedade” 51.
Todos esses exemplos traduzem a viabilidade da mediação como eficiente
ferramenta a ser amplamente utilizada em prol da adequada solução do conflito,
de acordo com suas peculiaridades.
54
APPIO, Eduardo. Controle Judicial das Políticas Públicas no Brasil. 5. reimpressão. Curitiba:
Juruá Editora, 2008. p. 163.
55
APPIO, Eduardo. Controle Judicial das Políticas Públicas no Brasil. 5. reimpressão. Curitiba:
Juruá Editora, 2008. p. 167.
56
Fundación Cambio Democrático. Manual Construcción de Consenso: Los Procesos
Colaborativos. Buenos Aires, 2006, p. 17.
57
Fundación Cambio Democrático. Manual Construcción de Consenso: Los Procesos
Colaborativos. Buenos Aires, 2006, p. 8. Tradução livre - Los Procesos Colaborativos son aquellos
que convocan a individuos y grupos con diferentes perspectivas e intereses sobre un problema para
trabajar juntos con la ayuda de un tercero (facilitador o mediador) en el desarrollo de un programa
de acción, utilizando un enfoque basado en el consenso.
_______________________________________________________________ 27
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Na Segunda Geração estão os processos que abordam a resolução de
conflitos e os que visam à transformação social. Neste quadro encontram-se temas
mais complexos e com multiplicidade de partes, como, por exemplo, temas
públicos. Utiliza-se: (a) avaliação e análise do problema; (b) identificação de
preocupações e interesses das partes; (c) redefinição do problema; (d)
identificação de valores e denominadores em comum; (e) criação de opções; e (f)
construção de acordos. Para tanto é necessário que as partes estejam
comprometidas e se sintam responsáveis pela sua participação e condução do
processo.
A Terceira Geração se refere, não ao desenho de processo, mas ao
mapeamento de sistemas de grandes estruturas, como empresas, comunidades,
para tentar promover mecanismos distintos para prevenção, contenção e manejo
de crises. Esses sistemas podem ser a mediação, arbitragem, assistência jurídica
etc.
58
CARPENTER, Susan; L. KENNEDY, W. J. D. Managing Public Disputes – A Practical Guide
for Government, Business, and Citizens’ Groups. San Francisco: Jossey-Bass, 2001. p. 71.
59
Ibidem., p. 74. Texto original - Often people assume that if they understand the substantive
issues they will be able to find a reasonable solution to their problem, but conflicts are a mixture of
people, procedures, and substance.
60
Essa coleta pode ser feita de maneira presencial ou eletronicamente.
61
MITCHELL, Christopher; RODRÍGUEZ, Alberto Barrueco; OBER, Giselle Huamani. Manual
de La Resolución de Conflictos Intratables. [S.l.]: George Mason University, [s.d.]. 2000. p. 29.
62
MITCHELL, Christopher; RODRÍGUEZ, Alberto Barrueco; OBER, Giselle Huamani. Manual
de La Resolución de Conflictos Intratables. [S.l.]: George Mason University, [s.d.]. 2000., p. 31.
_______________________________________________________________ 29
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Kennedy,64 as informações sobre um conflito são obtidas pelo somatório de três
elementos: (a) observação direta; (b) fontes secundárias; e (c) entrevistas pessoais.
Pela observação direta é possível identificar a percepção que cada pessoa
tem sobre os temas e as outras pessoas.
Fonte secundária é todo meio pelo qual seja possível a obtenção de
alguma informação, principalmente a cronologia dos fatos, pertinente ao conflito,
como, por exemplo, um memorando, notícias no jornal, etc, devendo essas fontes
ser consultadas antes das entrevistas pessoais65.
Dos três elementos, a entrevista pessoal é a que oferece a maior
oportunidade para coleta de informações detalhadas. Na visão dos autores,66 se o
entrevistado confia no entrevistador, ele fornece informações preciosas e torna
possível o confrontamento e a articulação de dados.
O contexto histórico é muito importante e deve ser observado. "A história
da situação pode guiar futuras ações das partes em disputa e de uma terceira parte
também", advertem Christopher Mitchell, Alberto Barrueco Rodríguez e Giselle
Huamani Ober.67
64
CARPENTER, Susan; L. KENNEDY, W. J. D. Managing Public Disputes – A Practical Guide
for Government, Business, and Citizens’ Groups. San Francisco: Jossey-Bass, 2001. p.75.
65
CARPENTER, Susan; L. KENNEDY, W. J. D. Managing Public Disputes – A Practical Guide
for Government, Business, and Citizens’ Groups. San Francisco: Jossey-Bass, 2001., p. 76.
66
Ibidem.. - Texto original - If people being interviewed trust the interviewer, they are likely to
give more varied perspectives and a greater sense of the subtleties of the issue than can be obtained
through direct observation or from secundary sources. Personal interviews are a means for cross-
checking other people’s perspectives and for sorting out differences.
67
MITCHELL, Christopher; RODRÍGUEZ, Alberto Barrueco; OBER, Giselle Huamani. Manual
de La Resolución de Conflictos Intratables. [S.l.]: George Mason University, [s.d.]. 2000. p. 38.
Texto original - La historia de la situación puede guiar futuras acciones de las partes en disputa y
de la tercera parte.
_______________________________________________________________ 30
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
formal de decisões; (iv) convocação, estrutura da participação e definição dos
papéis; (v) formatos das reuniões; e (vi) regras a serem seguidas.
(d) monitoramento
68
Fundación Cambio Democrático. Manual Construcción de Consenso: Los Procesos
Colaborativos. Buenos Aires, 2006. p. 39.
_______________________________________________________________ 31
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
• projetos em políticas públicas;
• desenho de políticas públicas; e regulamentações negociadas.
69
ZARTMAN, I. W. A Skeptic´s View. Apud AVRUCH, Kevin. Culture & Conflict Resolution.
Washington: United States Institute of Peace Press, 2002. p. 42 - Texto original - Culture is indeed
relevant to the understanding of the negotiation process, every bit as relevant as [the] breakfast
[the negotiators ate], and to much the same extent.
_______________________________________________________________ 32
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
compartilha desse entendimento e destaca que não só a cultura, mas também a
história das partes pode influenciar no conflito. David Augsburger71 completa, ao
afirmar que "o estudo do conflito é o estudo dos contrastes", pois cada cultura
desenvolve um método único para a solução dos seus conflitos.
7 Construção de Consenso72
7.1 Histórico, conceito e características
Construção do consenso é um caminho para que um grupo ou
organização chegue a um entendimento e consiga, com sucesso, colocá-lo em
prática.73
A construção de consenso, como método factível, participativo e inclusivo,
articula-se diretamente com os ideais democráticos74, ao possibilitar a criação de
espaços de deliberação participativa no interior dos processos de tomada de
decisão. Quando este procedimento é adotado, torna-se possível perceber que
resultados consensuais são possíveis tanto para a gestão e a tomada de decisões
como para a administração de conflitos, na esfera pública e privada.
Segundo definição do The Consensus Building Handbook,75 construção de
consenso é o processo pelo qual se busca a concordância de todos os envolvidos
70
AVRUCH, Kevin. Culture & Conflict Resolution. Washington: United States Institute of Peace
Press, 2002. p. 58 - Texto original - Notice that culture appears as a sort of optical or perceptual
illusion here: although always presence, it can best be seen when thrown into relief by the quality
of difference.
71
AUGSBURGER, David. W. Conflict mediation across cultures: pathways and patterns.
Louisville, Kentucky: Westminster/ John Knos Press, 1992. p.22. - Texto original - From culture
to culture, each has developed its unique patterns of managing differences and resolving disputes.
Each constructs its repertoire of conflict behaviors, its hierarchy of values, its code of laws. The
study of conflict patterns is the study of contrasts. Out of the same basic needs, fears, and hopes,
humans have crated ways of dealing with competition, frustration, and aggression tat reverse and
reflect each other and that would, if brought together, complete each other.
72
ALMEIDA, Tania. "Construção de Consenso: Um instrumento contemporâneo e democrático
para formatação de políticas públicas." Curso Anual de Mediação de Conflitos - Mediare, 2014,
p. 126- 143.
73
Ibidem., p. 3. Tradução livre. Consensus building is a way for a group or organization to reach a
nearly unanimous agreement, and then implement that agreement successfully.
74
UGARTE, Pedro Salazar. Que participação para qual Democracia? In. COELHO, Vera Schattan
P.; NOBRE, Marcos (orgs.). Participação e Deliberação. Teoria Democrática e Experiências
Institucionais no Brasil Contemporâneo. São Paulo: Editora 34, 2004, p. 95: “[...] democracia e
participação são conceitos entrelaçados”.
75
SUSSKIND, Lawrence; MCKEARNAN; SARAH; THOMAS-LARMER & JENNIFER. The
consensus building handbook: A comprehensive guide to reaching agreement. London: SAGE
Publications, 1999, p. 6. Tradução livre. Consensus building is a process of seeking unanimous
agreement. It involves a good-faith effort to meet the interests of all stakeholders. Consensus has
been reached when everyone agrees they can live with whatever is proposed after every effort has
_______________________________________________________________ 33
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
para celebrar um acordo que satisfaça a todos, preservando as suas diferenças.
Nesse contexto, Tania Almeida76 destaca que:
been made to meet the interests of all stakeholding parties. Thus, consensus building requires that
someone frame a proposal after listening carefully to everyone's concerns. Participants in a
consensus building process have both the right to expect that no one will ask them to undermine
their interests and the responsibility to propose solutions that will meet everyone else's interests as
well as their own.
76
ALMEIDA, Tania. "Construção de Consenso: Um instrumento contemporâneo e democrático
para formatação de políticas públicas." Curso Anual de Mediação de Conflitos - Mediare, 2014,
p. 126
77
SUSSKIND, Lawrence E., CRUIKSHANK, Jeffrey L. Breaking the Impasse. Consensual
Approaches to Resolving Public Disputes. USA: Basic Books, 1987, p. 10: Though our
representative democracy – with its separate levels and branches of government – is the foundation
of our political system, we need to improve the ways in which we use it to resolve public disputes.
We must achieve better results at lower cost. In particular, we need to find ways of dealing with
differences that will restore public confidence in government, and improve relationship among the
various segments of our society.”
_______________________________________________________________ 34
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Segundo Lawrence Susskind e Jeffrey Cruikshank,78 há seis requisitos de
suma importância que devem ser cumpridos:
78
SUSSKIND, Lawrence; CRUIKSHANK, Jeffrey. Breaking Robert's Rules. The New Way to
Run Your Meeting, build consensus, and Get Results. Oxford: University Press, 2006. pp. 20-22.
_______________________________________________________________ 35
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Os grupos de construção de consenso devem tentar antecipar os obstáculos
para o cumprimento do acordado. É importante que o acordo seja elaborado de
forma "flexível e forte" para superar esses obstáculos. Preparar-se para o
inesperado é crucial porque (i) é certo que acontecerá e (ii) é difícil o grupo se
reunir novamente para modificar o acordo depois que ele foi celebrado.
A oportunidade de participação igualitária no processo de construção de
consenso coaduna com os anseios de uma sociedade democrática79Semelhante à
mediação interpartes, o facilitador deve ser uma pessoa neutra quanto ao conteúdo
examinado (content neutrality). É seu dever também identificar, conforme o caso,
a necessidade de encaminhar as partes para a consulta a pareceres técnicos sobre
determinados temas, de forma a zelar por decisões qualificadas, ou seja, bem
informadas.
79
UGARTE, Pedro Salazar. Op. Cit., p. 98-99: [...] Como se sabe, existem diferentes versões e
definições de “democracia deliberativa”, mas todas compartilham dois elementos fundamentais: 1)
a ideia de que na tomada de decisões coletivas devem participar todos os potenciais destinatários
das mesmas ou, em sua falta, seus representantes; 2) a ideia de que a tomada das decisões deve ser
o resultado de um intercâmbio de argumentos entre os participantes que, durante a discussão,
devem respeitar os critérios de imparcialidade e de racionalidade. A primeira ideia constitui o
elemento democrático da teoria, e a segunda representa seu elemento propriamente deliberativo.
São muitos os representantes desta atrativa e relativamente recente teoria, mas, sem dúvida, o
expoente mais destacado é Jürgen Habermas. Para ele “o elemento central do processo
democrático é o procedimento da política deliberativa”. [...] Para os deliberativistas, [...] os
cidadãos estão inspirados por um espírito cooperativo, atuam com razoabilidade [...] e se respeitam
mutuamente. [...] a teoria deliberativa [...] sustenta que a capacidade da democracia para produzir
verdades morais (decisões justas e corretas) depende da participação ativa e refletida dos cidadãos
durante o processo deliberativo e na tomada das decisões. A participação é a fonte de legitimidade
e de justificação moral da democracia e, por isso mesmo, representa o valor político de maior
grau.” SUSSKIND, Lawrence E., CRUIKSHANK, Jeffrey L. op. cit., p. 158: “[…] Consensus
building is a way of shaping democratic involvement and making it more efficient.”
80
SUSSKIND, Lawrence; CRUIKSHANK, Jeffrey. Breaking Robert's Rules. The New Way to
Run Your Meeting, build consensus, and Get Results. Oxford: University Press, 2006. pp. 30-32.
_______________________________________________________________ 36
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
propositura de sugestões para alterações desta proposta pode ser vista como uma
atitude hostil à proposta inicial (ou ao proponente) e o proponente pode negar a
sugestão sem, da mesma forma, motivar. E, apesar de haver calorosos debates, o
processo se resume à votação da proposta inicial (com ou sem emendas). Não há
apresentação de novas propostas.
No processo por maioria não se incentiva apresentação de ideias que
possam ter o percentual "mágico" de 51%.
Por outro lado, no processo de construção do consenso, a proposta (i) pode
ser fragmentada pela pessoa responsável por ajudar o grupo a celebrar o acordo, e
(ii) é formulada de forma a permitir que várias pessoas possam contribuir para seu
desenvolvimento. O facilitador, após ouvir as discussões, apresenta nova proposta
ou um conjunto de ideias que reflete o que foi debatido pelo grupo e as
preocupações dos envolvidos.
Outra grande diferença entre estes dois processos é a votação. No processo
por maioria, a votação não precisa ser justificada e, praticamente, se baseia no
"sim" ou "não" à proposta inicial. Já no processo de construção de consenso,
quase nunca ocorre votação, pois há diálogo e deliberações que favorecem a
apresentação de propostas pelo facilitador ou pelo líder do grupo. O ponto
principal é: você pode viver com esta proposta? Em caso negativo, o que é
necessário mudar? Por quê?
A terceira grande diferença é que os envolvidos no processo de construção
do consenso têm a obrigação de melhorar a proposta inicialmente apresentada se
eles não concordam. A pessoa que está de má-fé, ou que não está comprometida,
não pode simplesmente não concordar por capricho. Ela deve apresentar
modificações e justificar.
No processo de construção do consenso, há, de fato, a apresentação de
ideias e interesses dos envolvidos. O que, inevitavelmente, gera mais ideias. No
processo de maioria, basicamente, se discute a ideia inicial com acréscimos ou
supressões.
_______________________________________________________________ 37
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
7.3 As fases da construção do consenso
Lawrence Susskind e Jeffrey Cruikshank81 identificam cinco passos para a
construção do consenso. Esclarecem, ainda, que há semelhanças entre os
requisitos e estes passos. São eles:
É preciso definir (i) quais serão as regras que regerão este processo, (ii)
quais as responsabilidades que cada um está disposto a aceitar.
Estas regras são importantes para a própria condução do processo,
principalmente se há um grande número de envolvidos. Para tanto, os autores
apresentam algumas regras que podem ser utilizadas durante o processo. Dentre
elas:
b.1) não pode haver interrupções enquanto uma pessoa fala;
b.2) cada pessoa define, no seu entendimento, o que seriam os seus interesses e os
de seu grupo;
b.3) cada pessoa dará o seu ponto de vista e a sua interpretação. Não falará pelos
demais;
81
SUSSKIND, Lawrence; CRUIKSHANK, Jeffrey. Breaking Robert's Rules. The New Way to
Run Your Meeting, build consensus, and Get Results. Oxford: University Press, 2006. pp. 22-30.
_______________________________________________________________ 38
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
b.4) não haverá ataques pessoais. A troca de ideias é encorajada, mas sem ofensas
pessoais;
b.5) seguir a agenda. Evitar desviar dos assuntos e não fazer rodeios.
É importante, também, estabelecer tempo para cada fase. Mesmo que os
envolvidos não tenham estabelecidos, o representante deve fazê-lo para a
condução do processo.
d) celebração do acordo
e) manutenção do compromisso
82
ALMEIDA, Tania. "Construção de Consenso- um instrumento contemporâneo e democrático
para formatação de políticas públicas".In:NETO, Adolfo (org.). "Aspectos Atuais sobre a
mediação e outros métodos extra e judiciais de resolução de conflitos". GZ editora,2012. p.314-
330. A autora é Consultora, Docente e Supervisora em Mediação de Conflitos. Sócia Fundadora e
Diretora-Presidente do MEDIARE – Diálogos e Processos Decisórios. Integrante do Comitê de
Ética e da Vice-Presidência do CONIMA – Conselho Nacional das Instituições de Mediação e
Arbitragem.
83
MOESSA, Luciane. "Mediação de Conflitos Coletivos: A aplicação dos meios consensuais à
solução de controvérsias que envolvem políticas públicas de concretização de direitos
fundamentais.". Fórum, Belo Horizonte, 2012. p. 42-44.
84
SOUTO, Marcos Juruena Villela Souto. Direito Administrativo em Debate. Rio de Janeiro:
Lumen Júris, 2007. p. 23.
85
MOESSA, Luciane. "Resolução Consensual de Conflitos Coletivos envolvendo Políticas
Públicas". FUB, Brasília-DF, 2014, p. 61-68.
_______________________________________________________________ 41
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
• "O princípio do acesso à justiça (art. 5º, XXXV da CRFB), que
exige a disponibilização de métodos adequados (sob os aspectos
temporal, econômico e de resultados) de resolução de conflitos,
não se subsumindo a uma simples garantia de acesso formal ao
sistema judicial - princípio do qual decorre o também positivado
princípio da razoabilidade na duração do processo administrativo e
judicial (art. 5º LXXIV CRFB);
• O princípio da eficiência (art. 37, caput CRFB), que demanda
sejam os conflitos resolvidos da forma que apresente a melhor
relação entre custo e benefício, ou seja, menores custos, menos
tempo, menos desgaste para a relação entre as partes e melhores
resultados para ambas;
• O princípio democrático, (art.1º CRFB), que decorre de o Estado
não ser um fim em si mesmo e reclama, portanto, que, quando o
Poder Público se veja envolvido em conflito com particulares, ele
se disponha, em primeiro lugar, a dialogar, com estes para
encontrar uma solução adequada para o problema."
86
MOESSA, Luciane. "Resolução Consensual de Conflitos Coletivos envolvendo Políticas
Públicas". FUB, Brasília-DF, 2014, p. 63.
_______________________________________________________________ 42
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
ordenamento jurídico não deixa margem para negociação no momento da
aplicação da lei. Tal afirmação está equivocada, uma vez que é fato notório a
presença de lacunas e contradições no ordenamento jurídico, sendo que a própria
lei permite a aplicação de tais métodos consensuais para a Administração Pública.
Assim, apesar de limitador, o princípio da legalidade não impede a aplicação dos
métodos consensuais na Administração Pública.
Quanto ao princípio da isonomia, este se destaca pois, quando o Poder
Público firma um acordo, ele estabelece um precedente para futuros conflitos,
tendo limitada a sua atuação futura. Por fim, a terceira peculiaridade é a aplicação
do princípio da publicidade, que deverá ser respeitado mesmo quando da
aplicação de soluções consensuais de controvérsia, mitigando a privacidade
existente, em regra, nos métodos alternativos de solução de conflitos, ou seja, o
processo de mediação, quando envolver ente público, deverá se pautar na
publicidade e não na privacidade.
Outro argumento muito usado, contrário à aplicação de mecanismos
consensuais de solução de controvérsia quando está envolvido o Poder Público, é
a desigualdade entre as partes. Porém, tal argumento cai ao lembrarmos que um
dos deveres elementares do mediador é buscar amenizar a eventual desigualdade
existente entre os envolvidos no conflito.
Quanto ao argumento da indisponibilidade e supremacia do interesse
público, deve-se lembrar que estas características apenas se aplicam ao interesse
primário. Assim, quando se trata de interesse público secundário, meramente
patrimonial, não existe indisponibilidade nem supremacia a ser aplicada.
Outrossim, deve-se destacar que "a maior causa de aumento do
contencioso administrativo se dá pela completa ausência de proximidade entre a
Administração e os cidadãos, além da falta de meios para concretização da
pacificação dos conflitos em âmbito interno87". Portanto, a utilização de meios
consensuais de solução de conflitos no âmbito administrativo permitiria uma
diminuição dos processos judiciais e, conseguintemente, dos gastos públicos.
87
MOESSA, Luciane. "Meios Consensuais de solução de conflitos envolvendo entes públicos:
Negociação, Mediação e Conciliação na Esfera Administrativa e Judicial". Fórum, Belo Horizonte,
2012. p.229
_______________________________________________________________ 43
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
8 Advocacia Colaborativa (Collaborative Law)
As Práticas Colaborativas consistem numa abordagem multidisciplinar,
não adversarial e extrajudicial de resolução de controvérsias. Através da
manutenção da autonomia, fomenta-se o diálogo produtivo e respeitoso, pautado
no espírito colaborativo e na boa-fé, buscando acordos sustentáveis com os quais
todos possam conviver.
8.1 Histórico
A chamada Advocacia Colaborativa foi inicialmente idealizada por Stuart
Webb, um renomado advogado de família norte-americano que, mesmo nos casos
em que obtinha êxito nas causas de seus clientes, percebia os efeitos desastrosos
dos processos judiciais para o sistema familiar, em especial quando havia filhos
envolvidos. Assim, observava que seus clientes nunca ficavam realmente felizes,
pois logo percebiam que nos processos litigiosos de natureza familiar não existem
vencedores – todos perdem.
Diante dessas constatações, Webb reformulou sua prática de maneira
simples e revolucionária: continuava a atuar como advogado, empenhando-se na
defesa dos reais interesses de seus clientes, passando, porém, a focar
exclusivamente na construção de acordos, renunciando assim à opção pelo litígio.
A partir de então, essa condição passou a constar, de forma transparente,
de seus contratos de representação e dos termos da procuração. Quando acordos
não se mostravam possíveis, o cliente era instruído a procurar outro advogado que
o representasse em Juízo.
Outros advogados de família logo aderiram à ideia, ficando rapidamente
evidenciado que esse compromisso de não litigância era a chave mestra para que
se obtivesse um ambiente efetivamente colaborativo. Os advogados, impedidos de
ajuizarem demandas naqueles casos específicos, deixaram de representar ameaça
mútua e passaram a atuar em conjunto, trazendo informações e exibindo
documentos importantes, sempre que necessário, assessorando seus clientes na
busca de ajustes viáveis, criativos e de benefício mútuo. Estes, por sua vez,
mantiveram-se detentores das decisões sobre suas vidas, crianças foram
preservadas da vivência de batalhas judiciais, reduziram-se drasticamente os
custos financeiros e amenizou-se significativamente o desgaste emocional.
_______________________________________________________________ 44
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Anos mais tarde, a psicóloga Peggy Thompson – numa concepção que
acabou por se constituir em uma nova revolução, catapultando
extraordinariamente os resultados positivos – agregou uma importante inovação à
prática, nela incluindo profissionais de outras áreas, possibilitando assim um
trabalho em equipe com um enfoque multidisciplinar.
A moderna teoria do conflito esclarece que os conflitos são inerentes à
condição humana e que não são em si negativos; o que vai detonar o potencial
destrutivo de um conflito é a sua gestão inadequada. Outro aspecto relevante dos
conflitos interpessoais é a sua característica multifatorial, ou seja, suas facetas de
natureza jurídica, psicológica, emocional e financeira, de modo que, como
percebeu Thompson, qualquer abordagem monodisciplinar seria sempre
incompleta ou parcial.
Surgiu, então, como resultado das concepções de Webb e Thompson, a
ideia de uma prática que vai ao encontro deste novo olhar sobre o conflito, na
medida em que propõe (i) uma abordagem multidisciplinar, e (ii) a sua
administração adequada, encarando-o como uma fase de transição, não
necessariamente marcada pela adversarialidade, que pode ter – a despeito de todas
as dificuldades – um efeito construtivo para as pessoas envolvidas, ao possibilitar
a transição de uma situação disfuncional para outra mais funcional, com a qual as
pessoas possam efetivamente conviver.
Assim, advogados, profissionais de saúde e consultores financeiros passaram a
trabalhar em parceria e complementaridade na gestão dos conflitos familiares,
dando início, ainda na década de 1990, às chamadas Práticas Colaborativas.
_______________________________________________________________ 45
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
com Peggy Thompson88 - visando uma atuação multidisciplinar não adversarial,
com o intuito de trazer eficiência aos acordos firmados no âmbito do divórcio.
No cenário em que as relações de parentesco e as relações de trabalho
convivem diuturnamente, inclusive nos momentos sociais e de lazer, e em que a
continuidade das relações não é uma opção, as abordagens multidisciplinares que
cuidam dos distintos aspectos do desentendimento, ou do conflito, são uma
necessidade. Nesse contexto, Pauline Tesler89, uma das pioneiras da Advocacia
Colaborativa, faz reflexões sobre o porquê da prática colaborativa, e aborda seus
estágios, ferramentas, protocolos, documentos, e até mesmo marketing.
Dessa forma, pode-se dizer que as práticas colaborativas oferecem análise
e abordagem das situações problemáticas; que favorecem não somente a
composição das diferenças interpessoais daqueles que integram esses contextos,
mas, especialmente, uma ampliação de habilidades para os diálogos futuros.
88
THOMPSON, Peggy. “Collaborative Divorce – the revolutionary new way to reconstructe your
family, resolve legal issues, and move on with your live”. Harper Collins, New York, 2007. -
Escrito por uma advogada e por uma psicóloga, este livro contrasta a forma antiga e a forma
recente de trabalhar determinadas situações-tema. Discorre sobre o Divórcio Colaborativo no seu
passo a passo, e descreve o exato papel dos advogados, dos coaches, e dos especialistas em
crianças.
89
TESLER, Pauline H. “Collaborative Law – achieving effective resolution in divorce without
litigation”. American Bar Association, Chicago, 2008.
_______________________________________________________________ 46
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Da mesma forma como ocorre no direito de família, diante de determinada
controvérsia de natureza cível ou empresarial, advogados colaborativos e outros
profissionais que detenham o conhecimento específico de temas que envolvem a
questão podem formar uma equipe multidisciplinar que trabalhará em conjunto e
parceria no desenho de uma solução otimizada. Para que haja um ambiente
protegido e, portanto, profícuo na busca de soluções criativas e inovadoras, é
fundamental que os advogados afastem a possibilidade – no caso específico – de
recorrer ao litígio judicial, definindo sua atuação como colaborativa. Para tanto,
assinam um termo de não litigância e, com todos os demais participantes do
procedimento, um termo de confidencialidade.
Sherrie Abney90 inovou ao trazer a aplicação de práticas colaborativas para
o Direito Civil. A autora desenvolve cinco passos que devem ser seguidos para
garantir às partes a melhor oportunidade para a solução da disputa envolvida.
Esses passos consistem em (i) determinar os interesses envolvidos, (ii) colher o
máximo de informação possível, (iii) desenvolver oportunidades, (iv) avaliar a
viabilidade e aceitabilidade de cada opção e (v) negociar as bases da solução
levando em consideração as opções e as informações levantadas (livre tradução).
Os advogados não estão acostumados com essa abordagem extrajudicial de
negociação de conflitos, porém Julie MacFarlane91 demonstra - após anos de
pesquisa junto a inúmeros advogados e seus clientes - que o séc. XXI exige um
“novo advogado” e um novo sistema de justiça. Ela afirma, entre outras reflexões,
que o alto percentual de acordos obtidos por mediação, conciliação, e outras
práticas colaborativas começam a alterar dramaticamente o papel do advogado.
Nesse sentido, Tania Almeida92 ressalta que os advogados colaborativos
trabalham um com o outro e não um contra o outro, atuando de forma mais ampla
que o mero assessoramento legal.
90
ABNEY, Sherrie. "Civil Collaborative Law: the road less travelled".Trafford, 2011. p. 125145.
91
MACFARLANE, Julie. “The New Lawyer – How settlement is transforming the practice of
Law”. UBC Press, Vancouver, 2008.
92
ALMEIDA, Tania. "Princípios e Padrões Éticos". IBPC. 15/05/2014.
_______________________________________________________________ 47
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
• Trabalham cordialmente com os outros membros da equipe e com
os outros advogados;
• Ajudam a encontrar soluções criativas, compreensivas e de
benefício mútuo;
• Colocam os clientes participando ativamente de todas as fases das
negociações;
• Nunca tratam a outra parte como um adversário.
95
Texto retirado e resumido de: FALECK, Diego. "Introdução ao Design de Sistemas de Disputas:
Câmara de Indenização". Curso Anual de Mediação de Conflitos - Mediare, 2014 p.171-202.
96
O conceito foi apresentado pela primeira vez na década de 80 por William Ury, Jeanne Brett, e
Steven Goldberg, na obra: URY, William L.; BRETT, Jeanne M.; GOLDBERG, Stephen B..
“Getting Disputes Resolved: Designing Systems to Cut the Costs of Conflict”. Cambridge, PON
Books, 1993.
97
Por “sistema” pode-se entender um conjunto coordenado de procedimentos ou mecanismos que
interagem uns com os outros para prevenir, gerenciar ou resolver disputas. Por “design” temos a
deliberada e intencional organização de recursos, processos e capacidades, para atingir um
conjunto de objetivos específicos (BORDONE, Robert C., HNLR 2008 Symposium, Harvard Law
School, março de 2008).
98
Exemplos: (i) “Vaccine Injury Compensation Program” (VICP), estabelecido em 1988 para
compensar vítimas de danos em virtude de problemas com vacinação nos Estados Unidos; (ii)
“MDL 926 Silicon Gel Breast Implant Settlement”, programa de indenização criado para disputas
_______________________________________________________________ 49
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
aproximadamente 9 bilhões de dólares a mais de 7.000 vítimas e beneficiários de
vítimas do evento terrorista99. A prática do DSD engloba uma miríade de cenários,
que variam desde o design para lidar com disputas recorrentes entre duas
corporações100, passando pela criação de sistemas integrados de gerenciamento de
conflitos internos a instituições101 e chegando à criação de sistemas de
distribuição equilibrados e eficientes por órgãos governamentais102.
O Brasil, surpreendentemente, antecipando-se à maioria das nações
desenvolvidas, apesar do relativamente tímido desenvolvimento no campo de
ADR, teve um leading-case de DSD, com o exemplo recente da criação da
Câmara de Indenização 3054 (CI 3054), concebida para implementar um meio
eficiente e justo de indenizar os beneficiários das vítimas do terrível acidente de
17 de julho de 2007, com o voo TAM 3054, em que 199 pessoas perderam as
vidas.
Naquele instante, sob a perspectiva da responsabilidade civil, centenas de
potenciais ações judiciais se criaram, como um meio para os familiares e
beneficiários das vítimas exercerem o direito de indenização pelos danos materiais
e morais que surgiram. Sob a perspectiva do DSD, todavia, o caso poderia ser
resolvido por meio do esforço analítico e criativo para a construção de um sistema
extrajudicial capaz de lidar com os desafios específicos da disputa coletiva e
103
Como exemplificado, existem diversas modalidades de sistemas de resolução de disputas. Para
melhor compreensão do leitor da exata dimensão do tema, é necessário esclarecer que, ainda que o
artigo traga os princípios e regras gerais de DSD, a utilização do exemplo da CI 3054 como pano
de fundo faz com que a demonstração concreta seja sensivelmente direcionada à modalidade
claims resolution facility, ou câmara de indenização.
104
URY, William L.; BRETT, Jeanne M.; GOLDBERG, Stephen B. “Getting Disputes
Resolved: Designing Systems to Cut the Costs of Conflict”. Cambridge, PON Books, 1993, p.20.
105
CONSTANTINO, Cathy A.; SICKLES-MERCHANT, Christina, “Designing Conflict
Management Systems: A Guide to Creating Productive and Healthy Organizations”, 1995, p.
121.
106
Vide: MCGOVERN, Francis, “The What and Why of Claims Resolution Facilities”, Stanford
Law Review, 2005, p. 1372. Um exemplo disso é o caso da criação de um programa de
distribuição de indenização, supervisionado por um juiz, em que o Special Master Francis
McGovern foi nomeado para design e implementação. No caso, o valor da indenização foi
relativamente baixo, em virtude da divisão entre os interessados e afetados de um valor fixo (fundo
com teto), em virtude de decisão judicial de condenação da entidade poluidora. O sistema criado
permitiu que os próprios beneficiários categorizassem as situações (levando em conta a diferença
de idade dos contaminados, a destinação residencial ou comercial do imóvel afetado, entre outros
aspectos) e pontuavam a sua gravidade, criando indicadores para o cálculo e divisão do montante
que caberia a cada beneficiário. Os indicadores e fórmulas de cálculo foram criados e aprovados
pelas próprias partes previamente à determinação dos valores finais e individuais. No final das
contas, os valores foram relativamente baixos, mas a satisfação geral dos beneficiários foi alta, na
medida em que estes participaram da confecção do acordo e do enfrentamento dos desafios em
_______________________________________________________________ 51
Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
A questão reputacional é também um fator importante em casos de
acidente. É de inegável interesse das empresas, e também de suas seguradoras,
demonstrar à sociedade sua sensibilidade à indesejada situação ocorrida e seus
ilimitados esforços para proporcionar o maior alívio possível aos beneficiários das
vítimas no momento crítico que estes estão atravessando. A atenção da mídia e da
opinião pública é intensa em casos de acidentes coletivos. Ainda que os danos à
imagem advindos do próprio evento sejam inexoráveis, o meio pelo qual as
empresas lidam com o conflito pode atenuar ou mesmo evitar a extensão de tais
danos.
A conclusão, então, é inexorável: o sistema em uso, negociação individual
seguida de litígio, é altamente custoso e, na maioria dos casos, incapaz de gerar
um grau aceitável de satisfação para as partes envolvidas. Não nos esqueçamos do
alto custo de transação para o Estado ao absorver o impacto de mais centenas de
ações indenizatórias, com as quais o já abarrotado sistema judicial teria que
lidar107.
torno da satisfação dos seus interesses. Vide a esse respeito: Asbestos Personal Injury Settlement
Trust Distribution Procedures, Disponível em: http://www.wastrust.org/pdf/trust_
distribution_procedures.pdf. Acessado em: 160 jan. 2017.
107
As ações, em tese, também podem ser ajuizadas no exterior, se houver algum elemento de
conexão que o permita (como, por exemplo, a responsabilidade concorrente de empresa sediada no
exterior). Normalmente tais ações são tentadas nos Estados Unidos da América, cujos tribunais
costumam determinar indenizações em virtude dos chamados “danos punitivos”, mais favoráveis
aos demandantes. Ocorre, todavia, como verificado no acidente da Gol de 2006, que os juízos
norte-americanos estão cada vez menos coniventes com essa estratégia, O juízo da United States
District Court, Estearn District of New York (07 MD 1844 BMC JO) concedeu a moção de foro
não conveniente aos litigantes internacionais, após cerca de 2 anos de trâmite da ação. Como
consequência, as ações foram ajuizadas novamente na jurisdição brasileira, o que não evitou o
custo dobrado aos demandantes nem os custos para o Poder Judiciário brasileiro.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
democrático que leva em consideração a perspectiva de todas as partes envolvidas
e aumenta substancialmente as chances de sucesso. A aceitação depende de um
processo baseado em valores como participação, dignidade, igualdade, autonomia,
eficiência e satisfação. Se o processo de criação é justo, o resultado deve ser justo.
108
URY, William L.; BRETT, Jeanne M.; GOLDBERG, Stephen B.. “Getting Disputes Resolved:
Designing Systems to Cut the Costs of Conflict”. Cambridge, PON Books., 1993, p. 3.
109
FISHER, Roger e URY, Willian. “Como chegar ao sim”, Rio de Janeiro: Imago, 1994., cap.3.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Note que nem todas as negociações se focam em reconciliar interesses.
Muitas vezes, as negociações se focam em determinar quem está certo, como, por
exemplo, nos corriqueiros casos em que advogados discutem sobre qual dos lados
do caso tem maior mérito. Outras negociações se focam em poder, como, por
exemplo, quando as partes trocam ameaças. Negociações que se focam em
reconciliar interesses são as que nos referimos como negociação baseada em
interesses (interest-based negotiation) ou negociação solução de problemas
(problem-solving negotiation). O enfoque reside no tratamento da controvérsia
pelas partes como um problema mútuo.
Na verdade, os três aspectos (interesses, direitos e poder) convivem e estão
a um só tempo presentes em todas as disputas. Focar a atenção em um deles não
elimina a existência do outro. Na resolução de uma disputa, o enfoque pode se
deslocar de um aspecto para o outro e, normalmente, é isso que acontece.
110
GOLDBERG, Stephen; SANDER, Frank et. al. “Dispute Resolution: Negotiation, Mediation,
and Other Processes”, Nova Iorque, NY: Ed. Aspen Law & Business, 2ª ed. 1992, cap. 5, p. 301,
“Combining and Applying the Basic Processes”.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
árbitro, que deverá apenas escolher uma das propostas, sem
modificá-la. O raciocínio por trás de tal procedimento é o incentivo
criado para que as partes sejam mais razoáveis em suas propostas,
na espera de que ela seja escolhida;
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Em outras palavras, o grande desafio do designer de sistemas é inverter a
lógica intuitiva de se partir para determinar poder e direitos primeiro e organizar
um sistema em sequência que priorize interesses e prenda a atenção das partes na
negociação com base em interesses (loop-backs to negotiation), colocando em
segundo lugar direitos e em terceiro poder, com procedimentos organizados da
forma menos para a mais custosa.
A análise do designer, então, deve determinar, com um grão de sal, de
acordo com rigidez das barreiras em termos de discordâncias em relação a
alternativas ou questões técnicas, a medida exata de procedimentos que se
adequem à disputa que se procura resolver.
Para o arquiteto de sistemas de disputa, o design é só o começo. A
implementação do sistema requer um constante processo de persuasão e educação.
Além disso, a avaliação contínua do sistema, adaptando-o de forma a permitir o
aprendizado com a experiência, é vital para o cumprimento dos objetivos a que
este se propõe. O sistema deve ser construído com a devida flexibilidade e
possibilidade de adaptação para lidar, virtualmente, com todas as necessidades e
situações inesperadas que possam surgir.
Hoje em dia, indivíduos, instituições, organizações e nações têm a
crescente percepção dos custos crescentes para a resolução de disputas, de ordem
econômica, humana e relacional. O problema ainda é agravado no Brasil, que
enfrenta a atual “Crise da Justiça”, com o abarrotamento do Poder Judiciário e a
demora de mais de uma década, em média, para o julgamento de uma ação. Tal
situação, sem qualquer dúvida, demanda soluções que transcendam aos
mecanismos e modelos convencionais de ação e de pensamento normalmente
praticados no país.
Nesse contexto, o DSD se destaca como alternativa ao judiciário, capaz de
resolver disputas complexas por meio da mudança do enfoque pelo qual se pensa
e pratica o Direito.
QUESTÕES DE AUTOMONITORAMENTO
1. Após ler a apostila, você é capaz de resumir os casos geradores, identificando
as partes envolvidas, os problemas atinentes e as possíveis soluções cabíveis?
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
2. Resuma em poucas palavras a expressão que melhor define o conceito de
negociação e de mediação de conflitos.
3. Quais os meios alternativos de solução de conflitos mais comuns em nossa
cultura? Qual a diferença entre eles?
4. Como escolher o melhor meio alternativo de solução para o conflito para uma
situação determinada?
5. A opção por um meio alternativo de solução de conflitos fere o princípio
emanado no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal - o acesso ao Poder
Judiciário? Por quê?
6. Qual é o princípio fundamental da mediação? Quais as suas principais
características? Que outros princípios norteiam a mediação?
7. Reflita sobre o papel do advogado na mediação e elenque situações hipotéticas
em que sua atuação é recomendada.
8. Quais as etapas da mediação e suas finalidades?
9. O que são processos colaborativos? Quais são suas abordagens?
Explique as etapas dos processos colaborativos.
10. Quais são as principais áreas nas quais os processos colaborativos são
utilizados?
11. Qual a finalidade do processo colaborativo?
12. Quais as vantagens do processo colaborativo?
13. De forma resumida, descreva a dinâmica do processo colaborativo.
14. Em que medida as diferentes definições / entendimentos sobre políticas
públicas contribuem para os processos de tomada de decisão?
15. Quais os principais elementos para análise do conflito?
16. Qual a importância da coleta de informações para a análise do conflito?
17. A questão cultural dos envolvidos pode interferir no conflito? Por quê?
18. Defina construção do consenso.
19. Quais os requisitos do processo de construção do consenso?
20. Quais as fases do processo de construção do consenso?
21. A presença de um facilitador em um processo de construção de consenso é
obrigatória? Por quê?
22. Qual a importância do estabelecimento de regras no processo de construção de
consenso? Cite algumas.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
23. Há vantagens na solução do problema em grupo?
111
Vide ALMEIDA, Tania. “Barrio Cerrado – Mineras”. In: Mediadores en Red L@ Revista.
Banco Interamericano de Desarrollo. Buenos Aires, 2004, pp.75-90.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Diante do conflito apresentado, as partes envolvidas aceitaram se submeter
a um método de resolução de conflito, tendo sido contratado um perito pelas
empresas mineradoras, visando fortalecer o processo de diálogo entre estas e a
comunidade local.
Esse processo de Facilitação de diálogos com Múltiplas Partes resultou
na assinatura de um acordo entre as empresas e a comunidade, no qual as
primeiras se comprometeram a recuperar a área degradada, além de efetuar obras
de segurança (construção de rede de tratamento de água potável, p.e.) e construir
escolas na localidade, como forma de indenizar a população atingida.
A satisfação gerada pelos resultados imediatos com o cumprimento do
acordo firmado viabilizou que a atividade extrativista ocorresse naquela região de
maneira sustentável.
Caso 2
O Programa de Indenização do Voo 447112
Exemplo brasileiro de Design de Sistema de Resolução de Disputas, o
Programa de Indenização do Voo 447 (PI 447) consistiu em uma câmara de
liquidação extrajudicial dos danos morais e materiais sofridos pelos familiares das
vítimas do desastre aéreo com o voo 447 da Air France (2009, Rio de Janeiro-
Paris). O programa envolveu autoridades públicas (Ministério da Justiça,
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro e PROCON do Estado do Rio de
Janeiro), empresas e familiares, tendo conduzido mediações exitosas para
indenização de cerca de 80 beneficiários de vítimas do acidente. Tratou-se de uma
via opcional, não excludente de e não vinculante a outras vias, tanto no Brasil
quanto no exterior.
112
Vide FALECK, Diego. “Introdução ao Design de Sistemas de Disputas: Câmara de
Indenização 3054”, in “Revista Brasileira de Arbitragem”, ano V, no 23, Julho/Setembro de 2009,
Porto Alegre: Síntese; Curitiba: CBAr. Pág. 7/32. - O Autor foi o idealizador do PI 447. Em seu
artigo, Faleck descreve o processo de elaboração de um sistema de resolução de disputas,
traçando um paralelo com a experiência concreta da Câmara de Indenização do Voo 3054 da
TAM (2007), que foi o primeiro sistema nestes moldes implementado no Brasil. Vide também:
ARAUJO, Nadia; FURST, Olivia. “Um exemplo brasileiro do uso da mediação em eventos de
grande impacto: o programa de indenização do voo 447”. in: MUNIZ, Joaquim (Org.). No prelo.
Previsão de publicação: Ed. Forense, outubro de 2012. - As autoras descrevem o programa, sua
estrutura, seus princípios, procedimentos e, por fim, fazem um balanço da experiência.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Perguntas dinamizadoras
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
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