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M EM DIREITO:
ESTADO E REGULAÇÃO
SESSÃO III
PROCESSO ARBITRAL
Organizadores
Assistente de pesquisa: LOBATO, Cristina;
MAIA, Cristiana.
Professora: CARNEIRO, Cristiane; VERÇOSA,
Fabiane.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
SUMÁRIO
ROTEIRO DE ESTUDO....................................................................................... 4
1 Jurisdição e arbitragem...................................................................................... 4
2 Convenção de arbitragem .................................................................................. 6
2.1 Cláusula cheia e cláusula vazia ....................................................................... 7
2.2 Termo de Arbitragem ...................................................................................... 8
3 Procedimento na Lei de Arbitragem ................................................................. 9
3.1 O Árbitro ........................................................................................................ 11
3.1.1 Impedimento e suspeição............................................................................ 13
3.2 Revelia ............................................................................................................. 14
3.3 Sentença arbitral ............................................................................................ 16
3.3.1 Homologação de sentença arbitral estrangeira ........................................ 17
4 Princípios do CPC e a arbitragem................................................................... 18
5 Regulamento de instituições arbitrais ............................................................. 20
QUESTÕES DE AUTOMONITORAMENTO ................................................. 22
SUGESTÃO DE CASO GERADOR.................................................................. 22
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 23
Bibliográficas ........................................................................................................ 23
Utilizadas .............................................................................................................. 23
Eletrônicas ............................................................................................................ 24
Jurisprudenciais ................................................................................................... 24
Legislativas ........................................................................................................... 25
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
ROTEIRO DE ESTUDO
1 Jurisdição e arbitragem
Fredie Didier Jr. conceitua jurisdição como a função atribuída a terceiro
imparcial de “realizar o Direito de modo imperativo e criativo,
reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas,
em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se
indiscutível”.1
Considerando o conceito acima referido, o autor afirma:
A decisão arbitral fica imutável pela coisa julgada material. Poderá ser
invalidada a decisão, mas, ultrapassado o prazo nonagesimal, a coisa
julgada torna-se soberana. É por conta dessa circunstância que se pode
afirmar que a arbitragem, no Brasil, não é equivalente jurisdicional: é
propriamente jurisdição, exercida por particulares, com autorização do
Estado e como consequência do exercício do direito fundamental de
autorregramento (autonomia privada).2
1
DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 15. ed. Salvador: Juspodivm, 2013.p.105.
2
Ibidem. p. 120-124
3
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Arbitragem na Teoria Geral do Processo. São Paulo:
Malheiros, 2013. p.47.
4
MARINONI, Luiz Guilherme. Teoria Geral do Processo. São Paulo: RT, 2006. p.147.
5
MITIDIERO, Daniel Francisco. Elementos para uma Teoria Contemporânea do Processo Civil
Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 88.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Todavia, é majoritária a doutrina que reputa jurisdicional a arbitragem,
pautando-se na combinação dos seguintes dispositivos legais: art. 31 e art. 33,
§1º,6 da Lei de Arbitragem (Lei nº. 9.307/96).
Nesse sentido, é imperioso citar o julgamento de Conflito de Competência
nº 113.260/SP, no qual os Ministros ponderaram que apesar de não ser possível
negar o caráter jurisdicional da atividade das cortes arbitrais, trazer à apreciação
do STJ um conflito entre duas delas implicaria ampliar indevidamente o rol
constitucional de atribuições desse Tribunal.
Já no julgamento do Conflito de Competência nº 111.230/DF, foi
reconhecida a existência de conflito de competência entre uma câmara arbitral e
um órgão jurisdicional do Estado, conforme se verifica na ementa abaixo:
6
Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da
sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título
executivo.
Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a decretação
da nulidade da sentença arbitral, nos casos previstos nesta Lei.
§ 1º A demanda para a decretação de nulidade da sentença arbitral seguirá o procedimento comum,
previsto no Código de Processo Civil, e deverá ser proposta no prazo de até noventa dias após o
recebimento da notificação da sentença arbitral ou de seu aditamento.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
Nesse mesmo sentido, a decisão monocrática no Conflito de Competência
nº 139.519 – RJ, de 09 de abril de 2015, por meio da qual foi concedida a liminar
pleiteada, atribuindo, provisoriamente, competência ao Tribunal Arbitral até o
julgamento definitivo do conflito de competência.7
2 Convenção de arbitragem
A convenção de arbitragem é negócio jurídico pactuado entre dois ou mais
sujeitos com o objetivo de reger por meio da arbitragem pretensões advindas de
litígio atuais ou futuros (art. 3º, da Lei nº. 9.307/968). Nesse sentido, constituem
espécies do gênero convenção de arbitragem o compromisso arbitral (litígio atual)
e a cláusula compromissória (litígio futuro).
O compromisso arbitral é o acordo de vontades mediante o qual as partes
submetem à arbitragem a controvérsia já existente (art. 9º, da Lei 9.307/19969 c/c
art. 851 do CC/200210).
A cláusula arbitral ou compromissória, por sua vez, é a convenção
inserida em um contrato, mediante a qual as partes comprometem-se a resolver
futuros litígios derivados desse negócio jurídico à arbitragem (art. 4º, da Lei
9.307/199611 c/c art. 853 do CC/200212).
Em decorrência da convenção de arbitragem, opera-se efeito da exclusão
da jurisdição estatal (efeito negativo) em benefício da arbitral para a atribuição da
causa aos árbitros (efeito positivo):
7
Autos conclusos para decisão ao Ministro Relator Napoleão Nunes Maia Filho em 07 de
dezembro de 2015.
8
Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral
mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o compromisso
arbitral.
9
Art. 9º O compromisso arbitral é a convenção através da qual as partes submetem um litígio à
arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial.
10
Art. 851. É admitido compromisso, judicial ou extrajudicial, para resolver litígios entre pessoas
que podem contratar.
11
Art. 4º A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato
comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir, relativamente a tal
contrato.
12
Art. 853. Admite-se nos contratos a cláusula compromissória, para resolver divergências
mediante juízo arbitral, na forma estabelecida em lei especial.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
O processo instaurado em juízo será extinto em caso de haver uma
convenção de arbitragem válida e eficaz desde que o réu, em
contestação, suscite uma preliminar de arbitragem e ela seja acolhida
pelo juiz (CPC, art. 267, inc. VII, c/c art. 301, inc. IX – infra, n. 27).13
13
DINAMARCO, Cândido Rangel. A arbitragem na teoria geral do processo. Ed. Malheiros, São
Paulo: 2013. p.74.
14
Art. 5º Reportando-se as partes, na cláusula compromissória, às regras de algum órgão arbitral
institucional ou entidade especializada, a arbitragem será instituída e processada de acordo com
tais regras, podendo, igualmente, as partes estabelecerem na própria cláusula, ou em outro
documento, a forma convencionada para a instituição da arbitragem.
15
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2.ed. São
Paulo: Atlas, 2004. p. 35.
16
Art. 6º Não havendo acordo prévio sobre a forma de instituir a arbitragem, a parte interessada
manifestará à outra parte sua intenção de dar início à arbitragem, por via postal ou por outro meio
qualquer de comunicação, mediante comprovação de recebimento, convocando-a para, em dia,
hora e local certos, firmar o compromisso arbitral.
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Na hipótese da cláusula vazia, qualquer das partes terá o direito de exigir
que seja respeitada a obrigação de submeter controvérsia à arbitragem, sendo
necessário para tanto a celebração de um compromisso arbitral. Caso haja
resistência, poderá a parte interessada requerer a citação da outra para comparecer
em juízo a fim de lavrar-se o compromisso, designando o juiz audiência especial
para tal fim, nos moldes do art. 7º, da Lei de Arbitragem.
17
TALAMINI, Eduardo. Arguição de Convenção Arbitral no Projeto de Novo Código de Processo
civil (Exceção de Arbitragem). In: Doutrinas Essenciais Arbitragem e Mediação, v. 2, set/2014,
p.145.
18
Art. 19. § 1º Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou o tribunal arbitral que há
necessidade de explicitar questão disposta na convenção de arbitragem, será elaborado, juntamente
com as partes, adendo firmado por todos, que passará a fazer parte integrante da convenção de
arbitragem.
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Outra função do Termo de Arbitragem é delimitar a controvérsia,
estabilizando a demanda.
Ademais, no Termo de Arbitragem as partes têm a oportunidade de alterar
alguma disposição que consta da convenção de arbitragem que havia sido
pactuada entre as partes.
Assim, o Termo de Arbitragem é um importante instrumento processual
organizador da arbitragem que visa a fornecer às partes e aos árbitros as regras
que deverão ser seguidas para a solução da celeuma apresentada.
Portanto, apesar de ser a Convenção de Arbitragem o instrumento
originário da arbitragem, tem-se o Termo de Arbitragem como limitador da
controvérsia e definidor da missão dos árbitros diante da lide apresentada,
devendo os árbitros ater-se à sua missão, a fim de evitar a anulação da sentença
arbitral.
19
O autor Pedro Antonio Batista Martins na obra “As três fases da arbitragem” utiliza as seguintes
expressões: fase pré-arbitral, arbitral e pós-arbitral.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
inclusive mediante a convocação das partes a melhor especificar
“alguma questão disposta na convenção de arbitragem” (art. 19, par.),
mas a demanda que rompe a inércia do juiz e vincula o futuro
julgamento aos seus três elementos constitutivos (partes, causa de
pedir e pedido) ainda é um fato futuro.
c) Depois disso, quando deduzida perante o árbitro ou árbitros a
demanda com todas as suas especificações, o que se faz mediante as
alegações iniciais, nesse momento haverá um processo ou uma
relação processual arbitral. Essa será a fase processual da arbitragem.
A partir daí o árbitro será efetivamente um judex e atuará como tal,
recebendo as alegações iniciais, mandando notificar o réu,
comandando todo o procedimento, instrução inclusive, e, no fim,
sentenciando e com sua sentença vinculando as partes. Estará então
investido de todos os poderes-deveres não constritivos que tem o juiz
togado no processo de conhecimento, especialmente os de instruir o
processo e julgar a causa. E as partes, como sujeitos dessa relação
processual, terão todas as faculdades, deveres e ônus inerentes ao
contraditório que têm em todo e qualquer processo.20
20
DINAMARCO, Cândido Rangel. A arbitragem na teoria geral do processo. Ed. Malheiros, São
Paulo: 2013. p.110-111.
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cumprimento de ato solicitado pelo árbitro (art. 22-C), conforme o previsto para
as cartas precatórias e as rogatórias (§ 3º, art. 260, NCPC21).
Ainda, nos termos do parágrafo único, do art. 22-C, “no cumprimento da
carta arbitral será observado o segredo de justiça, desde que comprovada a
confidencialidade estipulada na arbitragem”.
De mesmo modo, o inciso IV, do art. 189, do Novo Código de Processo
Civil, prevê que tramitarão em segredo de justiça os processos “que versem sobre
arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo”.
Outro importante dispositivo introduzido pela Lei nº 13.129/15 foi o § 2º
do art. 19, regrando que “a instituição da arbitragem interrompe a prescrição,
retroagindo à data do requerimento de sua instauração, ainda que extinta a
arbitragem por ausência de jurisdição”, conferindo maior segurança jurídica ao
instituto.
3.1 O Árbitro
Conforme disciplina o art. 18, da Lei nº 9.307/96, o “árbitro é juiz de fato e
de direito”, bem como é explicitamente equiparado a servidor público para efeitos
penais.22
Nas palavras de Selma Lemes “a flexibilidade é uma característica
indispensável a um bom árbitro. Ele deve ter a iniciativa, a habilidade e o objetivo
21
Art. 260. São requisitos das cartas de ordem, precatória e rogatória:
I - a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato;
II - o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instrumento do mandato conferido ao
advogado;
III - a menção do ato processual que lhe constitui o objeto;
IV - o encerramento com a assinatura do juiz.
§ 1o O juiz mandará trasladar para a carta quaisquer outras peças, bem como instruí-la com mapa,
desenho ou gráfico, sempre que esses documentos devam ser examinados, na diligência, pelas
partes, pelos peritos ou pelas testemunhas.
§ 2o Quando o objeto da carta for exame pericial sobre documento, este será remetido em original,
ficando nos autos reprodução fotográfica.
§ 3o A carta arbitral atenderá, no que couber, aos requisitos a que se refere o caput e será instruída
com a convenção de arbitragem e com as provas da nomeação do árbitro e de sua aceitação da
função.
22
Art. 17. Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, ficam equiparados
aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal.
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de seguir uma linha, estabelecer o ritmo do procedimento. A flexibilidade do
procedimento e a diligência do árbitro caminham juntas.”23 Assim:
23
LEMES, Selma M. Ferreira. O Papel do Árbitro. Disponível em:
http://ccbc.org.br/download/o_papel_do_arbitro_selma_lemes.pdf. Acesso em: 19 de dezembro de
2016.
24
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Arbitragem na Teoria Geral do Processo. São Paulo:
Malheiros, 2013. p.49.
25
WALD, Aroldo. Conflito de competência entre o Poder Judiciário e o Tribunal Arbitral.
Cabimento. Competência constitucional (art. 105, I, D, Do CPC) e legal (art.115, I, do CPC) do
STJ para resolvê-lo. Decisão majoritária que consolida a jurisprudência na matéria. In: Revista de
Arbitragem e Mediação, ano 11, v.40, jan-mar, 2014, p. 372.
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3.1.1 Impedimento e suspeição
O art. 13 da Lei nº. 9.307/96 declara que “pode ser árbitro qualquer pessoa
capaz e que tenha a confiança das partes” e no dispositivo seguinte expõe que:
26
LEMES, Selma M. Ferreira. O Papel do Árbitro. Disponível em:
http://ccbc.org.br/download/o_papel_do_arbitro_selma_lemes.pdf. Acesso em: 10 de janeiro de
2017.
27
Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo:
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do
Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;
II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;
III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério
Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
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3.2 Revelia
A revelia, de acordo com art. 344 do Novo Código de Processo Civil, resta
configurada quando o réu devidamente citado a contestar demanda contra si
ajuizada permanece inerte, reputando-se verdadeiros os fatos afirmados pelo
autor.
Na Lei de Arbitragem, todavia, afirma-se apenas que a “revelia da parte
não impedirá que seja proferida a sentença arbitral” (§ 3º, art. 22). Sendo assim,
entende-se que aquele que não oferecer defesa em relação à demanda não
suportará o efeito da revelia, qual seja: presunção relativa de veracidade das
alegações de fato, sendo indispensável a fase instrutória.
Nesse sentido, segue trecho de decisão prolatada em sede de agravo de
instrumento de decisão proferida nos autos de impugnação ao cumprimento de
sentença arbitral:
IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no
processo;
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou
decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo
que patrocinado por advogado de outro escritório;
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
§ 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o
advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade
judicante do juiz.
§ 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz.
§ 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a
membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente
ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo.
Art. 145. Há suspeição do juiz:
I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o
processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios
para atender às despesas do litígio;
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou
de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.
§ 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas
razões.
§ 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I - houver sido provocada por quem a alega;
II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido.
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Em que pese o art. 22, § 3º, da Lei nº 9.307/96, fazer menção à revelia
da parte, os efeitos jurídicos dessa contumácia, no procedimento
arbitral, não são idênticos àqueles previstos na lei processual. Por isso,
caberia ao árbitro designar audiência para a produção de provas,
podendo se valer da contumácia dos agravantes para, em conjunto
com outros elementos de prova, afirmar o seu convencimento, mas
não como único fundamento da decisão arbitral.28
Carlos Alberto Carmona, por outro lado, propõe uma leitura diversa desse
dispositivo, defendendo que:
O legislador utilizou o conceito de revelia para apontar situação
diferente daquela vislumbrada no processo judicial: trata-se aqui de
identificar a hipótese de um dos contendentes simplesmente não
praticar ato algum durante o juízo arbitral (não comparece audiências,
não formula pedido, não apresenta defesa, não produz provas).30
28
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Agravo de Instrumento
nº2014.012189-5. Relator: Luiz Zanelato. Jaraguá do Sul, julgado em 28 de maio de 2014.
29
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Arbitragem na Teoria Geral do Processo. São Paulo:
Malheiros, 2013. p.155
30
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2.ed. São
Paulo: Atlas, 2004, nota 8 ao art. 22, pp-332-333.
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3.3 Sentença arbitral
A sentença arbitral tem eficácia própria, equivalente à sentença de juiz
togado, conforme art. 31, Lei nº 9.307/96:
31
Ver: FICHTNER, José Antonio; MONTEIRO, André Luís. Sentença parcial de mérito na
arbitragem. In: Temas de arbitragem: primeira série. Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
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3.3.1 Homologação de sentença arbitral estrangeira
A sentença arbitral estrangeira, assim como a sentença judicial estrangeira,
para produzir seus efeitos no Brasil deve ser homologada pelo Superior Tribunal
de Justiça (art. 35, Lei de Arbitragem).
Nos termos do art. 34 da Lei nº 9.307/96 “a sentença arbitral estrangeira
será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados
internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência,
estritamente de acordo com os termos desta Lei”. Esse artigo evidencia a
prevalência do direito internacional no reconhecimento da sentença arbitral
estrangeira, visto que há aplicação subsidiária da Lei de Arbitragem. Conclui-se,
conforme argumenta Pedro Batista Martins que “impera na arbitragem a doutrina
monista radical que advogada a efetiva e constante supremacia do direito
internacional”.32
Enquanto a homologação tem como objeto atribuir à decisão arbitral a
mesma eficácia de uma sentença proferida pelo Estado que examina o pedido, o
objeto da execução é o exercício de um direito concreto. Carlos Alberto Carmona
aponta que
32
MARTINS, Pedro Batista. A recepção nacional às sentenças arbitrais prolatadas no exterior. In:
CARMONA, Carlos Alberto; LEMES, Selma; MARTINS, Pedro Batista. Aspectos fundamentais
da lei de arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 440.
33
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei 9.307/96. 2.ed. São
Paulo: Atlas, 2004. p. 349.
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José Antonio Fichtner e André Luís Monteiro ensinam que a prolação de
sentença arbitral estrangeira “confere um direito de natureza processual ao
interessado consistente na possibilidade de, demonstrado o interesse processual,
requerer o seu reconhecimento em outros sistemas jurídicos”.34
Em julgamento realizado em 24 maio de 2011 (REsp nº 1.231.554-RJ, Rel.
Min. Nancy Andrighi), a Terceira Turma do STJ corroborou o previsto no
supracitado artigo 34, parágrafo único da Lei de Arbitragem, ao reconhecer como
brasileira uma sentença prolatada no Brasil ao cabo de uma arbitragem
administrada pela Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio
Internacional (CCI), a qual é sediada em Paris. O STJ reformou a decisão da
Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,35 que
considerou que a referida sentença era estrangeira apenas pelo fato de a câmara
arbitral (no caso, a CCI) ter sede em Paris.
O Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça foi alterado em 2014,
pela Emenda Regimental nº 18, inserindo o Título VII-A, dos Processos Oriundos
de Estados Estrangeiros, disciplinando o tema.
34
FICHTNER, José Antonio; MONTEIRO, André Luís. Aspectos processuais da ação de
homologação de sentença arbitral estrangeira no Brasil. In: Temas de arbitragem: primeira série.
Rio de Janeiro: Renovar, 2010. p. 249.
35
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Agravo de Instrumento nº 0062827-
33.2009.8.19.0000. Relator: Des. Antonio Iloizio B. Bastos. Julgado em 23 de fevereiro de 2010.
36
SILVA, Rinaldo Mouzalas de Souza e. Processo Civil. Salvador: Juspodivm, 2011. p. 30.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
inafastabilidade do controle judicial; h) princípio da celeridade processual e
duração razoável do processo; i) princípio do duplo grau de jurisdição; j) princípio
da boa-fé e lealdade processual.
Eduardo Arruda Alvim e André Ribeiro Dantas ao discorrerem sobre o
Direito Processual Arbitral afirmam que:
37
ALVIM, Eduardo Arruda; DANTAS, André Ribeiro. Direito Processual Arbitral: natureza
processual da relação jurídica arbitral e incidência do Direito Constitucional Processual. In:
Revista de Processo, v. 234/2014, ago, 2014, p. 370.
38
DINAMARCO, Cândido Rangel. A Arbitragem na Teoria Geral do Processo. São Paulo:
Malheiros, 2013. p.17.
39
LEMES, Selma M. Ferreira. Os princípios jurídicos da Lei de Arbitragem. In: CARMONA,
Carlos Alberto; LEMES, Selma; MARTINS, Pedro Batista. Aspectos Fundamentais da Lei de
Arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 89.
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Para tanto, os sujeitos interessados têm direito de participar do processo,
tanto no aspecto formal, que é o processo devido em contraditório, mas também
na dimensão substancial do contraditório, em que é preciso que essa participação
formalmente garantida seja apta a poder influenciar a decisão, assegurando a
ampla defesa.
O princípio da igualdade processual ou isonomia evidencia o tratamento
igualitário que deve ser proporcionado às partes, para que tenham as mesmas
oportunidades de fazer valer as suas razões no âmbito da arbitragem.
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Soluções Alternativas de Controvérsias no Setor Público
A inserção desse dispositivo representa ampliação da autonomia privada
das partes, permitindo que no campo de suas escolhas seja assegurada a decisão
consensual sobre como conduzir a arbitragem.
A remuneração do árbitro – ou dos árbitros quando for constituído um
Tribunal Arbitral – é fruto de uma negociação entre estes e as partes, dispondo a
instituição de parâmetros remuneratórios a serem observados.
Após a edição da Lei de Arbitragem várias entidades administradoras de
procedimentos arbitrais iniciaram suas atividades no país, dentre estas a Câmara
FGV de Conciliação e Arbitragem, que em seu regulamento prevê o seguinte
procedimento arbitral:
QUESTÕES DE AUTOMONITORAMENTO
1. Após ler a apostila, você é capaz de resumir o caso gerador, identificando as
partes envolvidas, os problemas atinentes e as possíveis soluções cabíveis?
2. É possível o STJ reconhecer a existência de conflito de competência entre uma
câmara arbitral e um órgão jurisdicional do Estado?
3. E o conflito de competência entre duas câmaras arbitrais?
4. O que é cláusula cheia e a cláusula vazia?
5. Os princípios do CPC são aplicáveis ao processo arbitral?
6. Pense e descreva, mentalmente, outras alternativas para a solução do caso
gerador.
REFERÊNCIAS
Bibliográficas
Utilizadas
ALVIM, Eduardo Arruda; DANTAS, André Ribeiro. Direito Processual Arbitral:
natureza processual da relação jurídica arbitral e incidência do Direito
Constitucional Processual. In: Revista de Processo, v. 234/2014, ago, 2014.
CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo: um comentário à Lei
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